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ANTHONY SHERIDAN E OS ZOOS Anthony Sheridan Da electrotécinca a consultor de Zoos

Com um percurso profissional desenvolvido na indústria eletrotécnica, da qual se reformou em 2008, Anthony Sheridan assume-se hoje como consultor voluntário de zoos europeus.

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Apenas treze anos separam o início da sua “atividade zoológica” e a atualidade, no entanto já leva na mala mais de novecentas visitas distribuídas por cento e quarenta zoos europeus, num total de vinte e nove países distintos. Quando, em 2008, assumiu este projeto pelo qual é hoje amplamente reconhecido no meio zoológico, Sheridan começou por definir os fatores principais a considerar na avaliação de cada zoo. Esses parâmetros são individualmente avaliados e cotados, resultando num ranking dos melhores zoos europeus. Em 2009, esses dados deram origem ao primeiro livro de Anthony Sheridan, que conheceu novas atualizações a cada dois/três anos. Ao todo já foram vendidas mais de dez mil unidades, revertendo o valor para projetos de conservação in situ. Sheridan dedicou os seus esforços à conservação dos gibões, uma ideia que surgiu em 2011, na sequência da campanha “S.O.S. Primatas”, desenvolvida pela EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários). A campanha tinha como objetivo sensibilizar para a conservação dos primatas do sudeste asiático, entre eles gibões e orangotangos, mas com um flagrante destaque atribuído aos orangotangos. Atualmente, apoia um projeto de conservação do Gibão-de-bochecha-polida-do-norte (Nomascus annamensis), no Parque Nacional Kon Ka Kinh que, segundo o autor, é o maior projeto de conservação de gibões no Vietname. Classificado como ‘Em Perigo’ pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a espécie apresenta uma tendência geral de decréscimo populacional, no entanto, nos últimos dois anos, a população residente no Parque Nacional Kon Ka Kinh tem registado tendências de crescimento que Sheridan atribui ao trabalho realizado. As ações do projeto envolvem o treino de guardas florestais, visitas e apoio às escolas, e trabalho em conjunto com chefes das aldeias locais, com o objetivo de gradualmente eliminar a caça furtiva desses primatas altamente ameaçados e prevenir a destruição do seu habitat. Hoje, e após tantos anos de contactos com zoos de todo o mundo, Anthony Sheridan acredita que os “bons zoos” têm um papel cada vez mais importante na sociedade. Segundo o autor, numa altura em que se verifica uma explosão populacional de “quase oito biliões de pessoas e com elevadas expectativas e padrões de vida que exigem cada vez mais das terras, colocando em causa a biodiversidade”, a missão de sensibilização destas instituições é crucial.

Anthony D. Sheridan tentou fazer papel com fezes de elefante. 2016 ©petrhamerník

| Publicação |

Zooming in on Europe’s Zoos

No mais recente livro publicado, o Jardim Zoológico aparece como o segundo melhor zoo do sul da Europa. Segundo o autor, trata-se de “um Jardim Zoológico de grande qualidade situado num local atrativo, com uma excelente coleção de animais, uma forte presença na educação e conservação, apoiada por uma força de trabalho profissional e dedicada”.

O FASCÍNIO PELA BIODIVERSIDADE Martina Panisi Uma conservacionista com “C” grande

Nasceu em Itália e desde cedo, foi assaltada por uma grande sensibilidade para a natureza. Na vila onde nasceu, os habitats sucumbiram à evolução das populações e deram origem a espaços estéreis de pastagem ou a campos de cultivo intensivo, onde não resta muito espaço para a biodiversidade.

No entanto, na casa dos seus pais havia um pequeno jardim, onde Martina passava a maior parte do seu tempo, em grandes expedições debaixo dos arbustos, enquanto se deixava fascinar por toda a vida que pulsava debaixo de cada pedra. Caracóis, coleópteros, aranhas, minhocas, lesmas, bichos da conta, um sem-número de animais, e uma pequena amostra de biodiversidade, que aos poucos moldavam os sonhos de uma criança que faria de tudo para dar voz a estes pequenos-gigantes. Enquanto crescia, Martina tinha cada vez mais certeza que queria estar envolvida no mundo natural. Assim, escolheu a única escola que tinha disciplinas de ecologia, na sua terra natal. Foi aqui que percebeu que os pequenos seres que sempre a fascinaram não eram apenas magníficos nas suas cores, formas ou hábitos, eles tinham o papel importante de manter os ecossistemas saudáveis. Invertebrados, era a sua designação científica e representavam mais de 97% de todas as espécies animais. Martina queria saber e dar a conhecer mais sobre eles e, por isso começou a estudá-los em detalhe. Enquanto os amigos tinham cães e gatos como animais de estimação, a pequena exploradora começou a criar coleópteros, milípedes, fasmídeos e caracóis. Diz que são “carismáticos” e que, apesar de não suscitarem empatia imediata, podem ser alvo de curiosidade, e essa sim, poderá ser a sua arma contra a extinção. O ensino secundário terminou, e apesar de no seio familiar não haver tradição em cursos superiores, cientes dos sonhos da filha, os pais deram-lhe essa oportunidade. Escolheu biologia. Acabou por chamar a atenção dos professores que partilhavam dos seus interesses e, assim, foi-lhe proposto aquilo que seria o seu primeiro grande passo na conservação: estudar os efeitos da degradação do habitat na diversidade de formas e tamanhos dos coleópteros.

Esta missão completou-a com distinção, mas ambicionou mais. Mas para isso, Martina sabia que tinha de sair de Itália.

PORTUGAL, UMA BOA OPÇÃO Sabia que este pequeno país, à beira mar plantado, tinha boas relações com lugares com uma biodiversidade única. África e Brasil tornaram-se rapidamente a sua nova ambição. Assim, em 2014, fez as malas e partiu. Em Portugal, aprendeu a língua, apaixonou-se pela terra e escolheu ficar. Fez o mestrado em biologia da conservação e pela primeira vez no seu percurso académico, sentiu que estava no sítio certo. Com o final do mestrado e a obrigação de desenvolver uma tese final, surgiu mais uma oportunidade de fazer o que sempre tinha ambicionado. Ricardo Lima e Jorge Palmeirim foram os orientadores que lhe ofereceram as molas e, sem qualquer hesitação, Martina catapultou-se para São Tomé e Príncipe para conhecer melhor os caracóis gigantes. Logo no início do projeto começaram a delinear-se algumas dificuldades no seu horizonte. Fazer conservação não era fácil, sobretudo em contextos tropicais onde parecia impossível encontrar a espécie que tinha de estudar. Para além disso, este era um país com regras e costumes muito diferentes. Também o facto de ser mulher ditou algum preconceito que procurou suplantar através do respeito. Mas as adversidades apenas lhe deram mais força para continuar. Passou noites na floresta. O teto desta sua casa eram as copas das árvores e no limite, o céu. Houve noites de muita chuva. Martina percebeu que ser conservacionista no terreno não era para todos. Gabriel Oquiongo, o guia de campo que a acompanhava nas suas expedições, teve muitas vezes de ser a voz da esperança que não a deixava esmorecer, quando a sensação de impotência lhe atacava o corpo. Apesar de tudo, define São Tomé e Príncipe como “o conceito mais simples, puro e direto de ‘vida’”, e afirma que desde o primeiro minuto que chegou, sentiu-se em casa. O Buzio-d’Obô (Archachatina bicarinata) foi o seu “primeiro amor” e, a partir desse momento, a história de vida de Martina fundiu-se com a história deste pequeno gigante. Classificada com “Vulnerável” pela UICN (União Internacional da Conservação da Natureza), esta espécie sofreu uma acentuada redução populacional desde meados do século XX. Um declínio atribuído à introdução do Búzio-vermelho (Archachatina marginata), uma invasora voraz que rapidamente se espalhou por toda a ilha. Esta introdução teve como objetivo oferecer uma nova fonte de proteína à população das ilhas. Uma fonte cujo valor proteico é amplamente reconhecido na áfrica continental. Estudos indicam que a população rural depende deste alimento, que representa 45,7% da fonte proteica total consumida. Na teoria, o consumo acabaria por controlar a incidência da espécie invasora, no entanto, a incapacidade da população em distinguir as espécies, resultou no consumo de ambas.

A rápida disseminação da espécie invasora, associada à apanha intensiva do Búzio-d’Obô e à destruição da floresta para agricultura, acabaram por resultar no declínio da espécie endémica. Este caracol gigante é uma lenda na ilha. Enquanto os mais velhos contavam a Martina, com saudosismo, como o apanhavam atrás de casa quando eram pequenos, as crianças de hoje nem sabiam da sua existência. Foi das interações com a população local que surgiu a ideia que viria a dar forma ao seu novo projeto. O conhecimento sobre a espécie e as soluções sobre a conservação, estavam dependentes de uma

| Projeto | Baseado na comunidade com medidas desenvolvidas em comunidade

A mudança de comportamentos é possivelmente o ponto mais complicado de qualquer projeto de conservação. A sensibilização para a adoção de medidas diferentes no dia-a-dia de cada individuo, depende do grau de empenho de cada um perante a conservação. No entanto, de forma a suplantar este problema, o projeto Giant Forest criou a perfeita solução: não é o projeto que dita as novas medidas a implementar, estas são estabelecidas pelas próprias comunidades. Como? Através de debates e brainstorming. Nestas sessões é identificado o problema, e a população é conduzida de forma a chegar a conclusões próprias sobre as medidas a adotar. É para todos ponto assente que a perda da espécie resultaria numa enorme perda global. Através desta estratégia, foi estimulado o senso de apropriação por estas espécies fazendo deste projeto um “bebé” de todos. forte componente social e tinham de ser implementadas o quanto antes. No entanto, com o término da tese de mestrado, chegou igualmente ao fim o tempo de Martina na ilha. O desconforto era grande. Tinha identificado a educação ambiental como uma possível solução para a espécie e via-se obrigada a abandonar o país. Tinha de regressar, tinha de agir. O tempo deste grande caracol estava a esgotar-se e com ele, avançava também a enorme biodiversidade das ilhas. No interregno das suas atividades de campo, e enquanto pensava em como ia conseguir regressar para São Tomé e Príncipe, Martina viveu em Portugal e escolheu o Jardim Zoológico como segunda casa. No Zoo desenvolveu diversas atividades de educação ambiental, que serviram de teste para o grande projeto que ansiava executar. Neste tempo, em conjunto com os colegas Vasco Pissarro e Gabriel Oquiogo, delineou o Projeto Forest Giants, que após ter sido apresentado à National Geographic, recebeu o seu primeiro financiamento. Esta vitória inspirou os três mosqueteiros, que desenvolveram ainda várias candidaturas apresentadas a entidades como a ONG italiana Alisei Onlus e a Universidade de Lisboa, através das quais conseguiram apoios para a implementação do projeto. Nos últimos 3 anos, Martina viveu entre Portugal e São Tomé, passando atualmente mais tempo em Portugal, a fim de terminar a análise dos dados recolhidos. Ao mesmo tempo, dedica-se à tese de doutoramento na Universidade de Lisboa, cujo objeto de estudo são as atividades de investigação e educação desenvolvidas no âmbito da conservação do Búzio-D’Obô. No meio de uma agenda atribulada, Martina vai encontrando espaço para ir visitar os familiares em Itália. A São Tomé vai sempre que é essencial e fica com o Vasco junto das comunidades, onde vivem os outros dois membros principais do projeto, o Gabriel e o Ineias. Uma vez que o projeto se desenvolve em torno da sensibilização das comunidades, muito tem sido feito pela disseminação de informação. Workshops, redes sociais, web site, revistas científicas, conferências, apresentações e a produção de um livro infantil sobre a história do Gigante da floresta, são algumas das ações desenvolvidas, também elas afetadas pela pandemia. As ilhas de São Tomé e Príncipe são de uma riqueza estonteante. Na sua jornada, Martina conseguiu ainda identificar artrópodes, cuja existência desconhecia, e recolher informações que vão contribuir para que a União Internacional para a Conservação da Natureza atribua estatuto a outras espécies endémicas que não estavam avaliadas. Hoje, Martina é detentora das mesmas ambições que tinha enquanto exploradora no jardim de casa dos pais. Trabalhar na conservação, dar voz aos pequenos-gigantes e sensibilizar o mundo para a perda da biodiversidade. A conservacionista assume que tem muitas ideias para desenvolver, num futuro, que apesar de incerto, terá de concreto os muitos desafios a que Martina já se acostumou. O Búzio-D’Obô, assim como os outros invertebrados, são muito diferentes da nossa espécie, mas não só a sua conservação depende de nós como nós dependemos da sua conservação, pois o seu desaparecimento terá consequências nefastas no equilíbrio e salubridade dos ecossistemas.

O Jardim Zoológico agradece a todas as empresas que o apoiam.

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