Olhar Potiguar Ed. 1

Page 1

Ano I | Edição 01 | Junho de 2015

LHAR

Caminhos do Sertão Fotojornalista Ney Douglas percorre a pé 270 km, de Macaíba a Campo Grande, descobrindo paisagens e personagens do nosso sertão Newborn

Perl

Novos Olhares

Retrato de profissionalismo e delicadeza em um segmento fotográfico

Canindé Soares revela trabalho, sonhos e militância na fotografia

Projeto propõe diálogo sobre fotografia em escolas de Natal


EDITORIAL

Caro leitor(a)

A

revista Olhar Potiguar é experimental, mas vem sendo gestada há muito tempo nos cursos de Radialismo e Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Significa que esperamos entregar a você, um pouco do que aprendemos enquanto alunas e, sobretudo, como apreciadoras da fotografia. Ela é um resultado, de estudos e trabalhos, produzido por duas jornalistas iniciantes, que abraçaram o desafio de descortinar o universo fotográfico potiguar, tendo como intenção informar e entreter os interessados neste universo, seja você profissional, amador ou estudante. Mas, não basta apenas ser fruto de dois olhares. São os nossos olhares reunidos, construídos e somados, que aperfeiçoarão e alimentarão a nossa revista, seja por meio de colaboração, sugestões ou críticas. Para isso, convidamos você a apreciar nossa primeiríssima edição. Confira o ensaio inédito sobre um sertão de paisagens, personagens, tradição e perigos registrados pelo fotojornalista Ney Douglas, que caminhou 270 km de Macaíba à Campo Grande. Mas se isso não for suficiente para encher seus olhos, você mesmo poderá aprender a fotografar a lua, com as nossas dicas na seção Técnica. De olho no mercado de trabalho, trazemos perspectivas do segmento Newborn, lembrando que fotografar recém-nascidos não é um modismo, exige profissionalismo, paciência e delicadeza em um mesmo nicho fotográfico. Por falar em profissionalismo, no destaque da editoria Cenário, apresentamos o espaço Duas Estúdio, capitaneado pelas fotógrafas e jornalistas Elisa Elsie e Mariana do Vale. O espaço é um misto de Escola de Fotografia, Galeria de Arte, Estúdio Comercial e Produtora Cultura... Ufa! Traçamos também um perfil revelador do fotógrafo Canindé Soares. E na entrevista, Itamar Nobre, o professor e pesquisador das áreas de imagem e fotografia da UFRN, nos brinda, entre outros assuntos, com uma conversa esclarecedora sobre o papel do fotojornalista nos dias de hoje. Tem crítica e dicas culturais, colaboradores nas seções Foto&Grafia 1 e 2 e Amadorismo. Tem ainda a matéria do projeto Construindo Novos Olhares, idealizado pelo fotógrafo e educador Pablo Pinheiro, que ensinou e refletiu o papel da fotografia em três escolas públicas de Natal. Muita coisa ainda por vir... Leia-nos, olhe-nos e, principalmente, identifique-se, afinal, o interesse na fotografia já é nosso ponto em comum. Boa Leitura! Arianne Maia e Suellen Gurgel

02 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

EXPEDIENTE Edição nº 1 | junho 2015 Direção e edição Dayana Oliveira Produção Arianne Maia Suellen Gurgel Reportagem Arianne Maia Suellen Gurgel Revisão Dayana Oliveira Projeto Gráfico Arianne Maia Jeferson Rocha Diagramação Jeferson Rocha Impressão Casa da Cópia Capa Arianne Maia Suellen Gurgel Foto de capa Ney Douglas Fale conosco olharpotiguar@yahoo.com.br (84) 98809-0124 | 98837-2357 Olhar Potiguar @olharpotiguar Esta é a nossa primeira edição, mas você pode participar da próxima. Envie seu comentário e/ou sugestão para o email olharpotiguar@yahoo.com.br. A seção Impressões reunirá as notas que os leitores escreveram sobre a revista e seus temas. Os textos poderão ser editados em razão do seu tamanho ou facilidade de compreensão.


ENTREVISTA

Itamar Nobre

Quando a paixão delineia a profissão Itamar Nobre fala do seu compromisso com a fotografia, impulso para o conhecimento, e as transformações que o avanço tecnológico trouxe para o mercado e os profissionais Por Arianne Maia

S

eu interesse pela fotografia o fez entrar em sociedade com um amigo para a aquisição de sua primeira máquina fotográfica. O prazer em registrar o levou a elegê-la como o ponto chave de sua vida e profissão. Itamar Nobre é docente-pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), possui Doutorado e Mestrado em Ciências Sociais, na área de Cultura e Representações, especialização em Antropologia Social e Graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Seus estudos e pesquisas têm ênfase na fotografia, mas permeiam também outros temas como imagem, fotojornalismo, cultura e sociedade, narrativa visual, meio ambiente, educomunicação e folkcomunicação. Antes de enveredar no campo da fotografia, formou-se técnico em Geologia e afirma que o olhar desenvolvido nos trabalhos de campo em geologia e topografia ajudou a ver os detalhes dos espaços e a significá-los. Dono de uma linguagem simples, direta, sem retoques ou truques – sequer usa flash ou filtros –, o pesquisador diz fotografar apenas como alimento poético, para satisfazer o seu olhar, não para atender a critérios técnicos ou alguém. Têm como referência a sensibilidade apaixonante dos renomados fotógrafos Sebastião Salgado e Evandro Teixeira.“O que me atrai é a possibilidade de exercitar na fotografia o aspecto humanista, cartográfico, simbólico, de aproximação, contato e vivência, o que difere da fotografia de imprensa”, comenta acerca da área que mais se identifica, o documentarismo fotográfico. Mas, foi com foco em outra vertente, também tema de suas pesquisas, que a Olhar Potiguar travou uma conversa com o estudioso. Atualmente, Itamar está concluindo pós-doutoramento, com pesquisa sendo desenvolvida no Núcleo de estudos sobre Ciência, economia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, em Portugal. Por email, ele comentou um pouco sobre a escolha da fotografia como objeto de estudo, impressões do fotojornalismo no estado e as mudanças que o segmento e os profissionais enfrentam diante da era digital, sendo enfático ao afirmar: “Nenhum avanço tecnológico substitui a competência e a sensibilidade de um fotógrafo”. Olhar Potiguar: Como foi seu primeiro contato com a fotografia? Itamar Nobre - Minhas primeiras aproximações com a fotografia foram no contexto da diversão com amigos, do final da década 70 para o início da de 80. Eram diversões salutares, especialmente na prática de esportes nas praias de Natal, em visitas praticamente constantes, nos finais de semana. Eu sempre fui aquele que estava disponível e mais interessado em fotografar. O meu interesse

aumentou, ainda nessa época, quando comprei a minha primeira máquina fotográfica, uma analógica antiga, a Olympus Trip 35. Na época, éramos estudantes e nossos recursos eram tão escassos que para comprar esse equipamento eu fiz uma sociedade com um amigo. Pagamos partes iguais e dividíamos o uso periodicamente. Depois, ele se desinteressou por fotografia e eu comprei a sua parte na sociedade. Com isso me empenhei em estudar de forma mais definitiva. JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 03


Por incrível que pareça o meu primeiro curso foi à distância, pelo Instituto Universal Brasileiro (IUB), e, como consequência, aumentei o meu desejo de fotografar. Entrei pra Universidade em 1990 e me tornei quase um “morador” do laboratório de fotografia, quando o meu professor de fotojornalismo, Joanilo Rêgo, me incentivava demais e me deixava bem à vontade para usar o espaço. Depois fiz um curso de fotografia quando morei em Fortaleza, no início de 1990, na Fundação Casa Amarela Euzélio Oliveira, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Depois, segui com muito estudo e participações em cursos diversos.

fo t o g r a fi a s f e i t a s p o r a m a d o r e s s e m o s conhecimentos citados, e sem pretensões editoriais, em um contexto doméstico. Essas fotografias podem se tornar jornalístcas, por passarem a ser referencial de informação e notícia.

OP - Como você enxerga todas as transformações que a fotografia e por consequência o fotojornalismo vêm atravessando nos últimos anos diante da popularização da fotografia? Itamar - A prática da fotografia tem caminhado para o campo da democratização, isso é uma transformação. Embora não seja tão democrático no campo do acesso a equipamentos de alta qualidade, por seus valores elevados. E também OP - O que te levou a escolher a fotografia como pelo fato de forçadamente os empresários da objeto de estudo? tecnologia digital estarem minando a sobreviItamar - Na minha prática, qualquer referencial de vência da fotografia analógica, o que tem estudos e pesquisas deve estar dificultado o acesso mesmo para diretamente relacionado com o prapráticas não comerciais. Em tempos zer, a satisfação, com as probleHá mudança também na ampliação de mudanças, a máticas da vida prática, política e das divulgações de fotografia, tanto social, além da intelectual, lógico. quanto da produção e aproveifotografia chega Aliado ao envolvimento militante, tamento delas nos veículos noticiosos. com mais rapidez participativo e colaborativo, no Qualquer pessoa fotografa hoje para ser publicada sentido de elevar a importância de porque tem à sua disposição um e o fotógrafo passa dado campo cultural, grupo social ou equipamento fotográfico, especialpolítico. A fotografia me impulsiona m e n t e o s d i s p o s i t ivo s m ó ve i s : a ser um editor das a isso: a contribuir com a visibicelulares e tablets. Essas fotos suas próprias lização de idéias, de valores, de circulam com facilidade pela Internet fotografias. Hoje é práticas sociais, de contextos sociais, e também são usadas pelas empresas culturais e políticos; a entender os jornalísticas. Proliferam-se nos blogs e preciso formar o modos de vida, o cotidiano e as outras redes sociais virtuais, cujo profissional for mas de relações sociais das principal conteúdo é a fotografia. multimídia. pessoas. Mas antes de tudo isso o que É preciso repensar o papel do repórter me levou a essa escolha, foi, sem fotográfico no cenário das comunicadúvidas, a paixão pela fotografia, o que me ções virtuais e do avanço tecnológico. Na minha alimenta, excita. Vejo fotografia em tudo o que opinião, o diferencial estará na formação, na olho, está interiorizada em mim. aquisição de conhecimentos técnicos e teóricos, reflexivos, no seu potencial intelectual. Não basta OP - Pode-nos dar uma definição de fotojorser um técnico. nalismo? Em tempos de mudanças, a fotografia chega Itamar - Acredito que seja um ofício, uma com mais rapidez para ser publicada e o fotógrafo atividade profissional ou mesmo amadora, passa a ser um editor das suas próprias fotografias. realizada por alguém detentor de conhecimento Hoje é preciso formar o profissional multimídia. teorico-técnico previamente determinado a conceber a fotografia como registro de fatos, que OP - Existe receita para a formação de um bom fopossam ser publicados e vistos como notícias e tógrafo? A formação acadêmica é fundamental informações visuais, no contexto da imprensa, no para ser um bom repórter fotográfico ou só o campo da divulgação da notícia. instinto e a técnica são suficientes? Mas penso também nos desvios, como o Itamar - Não saberia definir o que significa um aproveitamento pelos veículos noticiosos, de bom fotógrafo, especialmente em uma época em

04 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


características de informações e dados, no espaço que há uma facilidade de “publicização” muito geográfico a ser percorrido, riscos, acesso a grande de trabalhos. Facilidade de acesso a equipamentos... Nada disso é negativo, torna-o programas de manipulação e tratamento de diferente. Considero nossos repórteres fotográficos imagens, cujos produtos finais se distanciam bem qualificados que atendem muito bem aos consideravelmente do original. Um profissional requisitos de qualquer lugar, aptos a fazerem o com conhecimentos no tratamento de imagem mesmo trabalho que outros fazem com a mesma pode ser confundido com um excelente fotógrafo. qualidade. Acredito no profissional qualificado Mas acho que ainda é um mercado pouco atrativo, tecnicamente, eticamente e intelectualmente. O cujas empresas jornalísticas não dão o devido valor fato de alguém passar pela academia não significa aos profissionais. Vejo o profissional como que será assim e que será “melhor” do que quem lá desvalorizado em relação ao repórter de texto nas não esteve. A qualidade pode estar em cada um, de empresas onde trabalham. Na Universidade, noto acordo com suas práticas. Mas penso que a um desinteresse geral, quase total nos estudantes formação acadêmica pode auxiliar na melhor para serem fotojornalistas. Muitos só revelam qualificação, pelo fato de encontrarmos na gosto profissional pela fotografia, depois que saem Universidade um berço da geração e disseminação da Universidade e vão trabalhar. O que não quer de um conhecimento que não se encontrará em dizer que seja no mercado fotojornalístico, digo no escolas comuns e livres. mercado da fotografia, como freeNão acredito em instinto, mas é lancer. Alguns acumulam trabalhos preciso ter a poética da fotografia no Acho que paralelamente ao exercido nos jornais, campo do sensível aproximada com a definir um bom porque o mercado da fotografia de técnica, a ética (como disse) e o fotógrafo significaria imprensa (em empresas jornalísticas) compromisso social. Acho que definir é insuficiente financeiramente para ser um bom fotógrafo significaria criar um criar um parâmetro uma atividade única. De certa forma parâmetro que poderia desqualificar que poderia torna-se uma atividade que não outros. Isso é muito capital, muito desqualificar outros. oferece condições financeiras para um colonial e excludente. Isso é muito capital, profissional obter em curto tempo um equipamento de elevada qualidade, OP - Você acha que o fotojornalismo muito colonial e por serem caros e as empresas pagarem pode perder a sua credibilidade quando excludente. muito pouco. Ganha-se melhor sendo falamos em “manipulação digital”? free-lancer do que trabalhando para as Itamar - O fotojornalismo é uma empresas. atividade resultante de uma ação de seres humanos. Não deve ser afetado na sua OP - Em 2011, você lançou seu primeiro livro credibilidade. Quem perde a credibilidade são os “Revelando os modos de vida da Ponta do profisionais e os veículos de informação. O ser Tubarão”, como resultado da sua pesquisa de humano possui uma capacidade imensurável de doutorado, nas Ciências Sociais. Vem mais enganar, outros de descobrir esse engano. O lançamentos por aí? fotojornalismo, assim como outros ofícios, é o Itamar - Tenho vários projetos de publicação: a campo desse embate. Ele é um meio. Adoro o transformação da minha Dissertação em livro, um fotojornalismo e tenho cuidado com alguns livro de fotografias especialmente sobre Venha Ver fotógrafos e empresas jornalísticas. e Diogo Lopes (Macau), outro de fotografias sobre a minha incursão pela África, em 2013, uma OP - Qual sua impressão sobre o fotojornalismo no coletânia fotográfica sobre o meu acervo antigo e Rio Grande do Norte? desconhecido, cheio de diversidades; um livro sobre Itamar - Cada espaço geográfico, de acordo com os resultados dos projetos de extensão; outro sobre suas práticas culturais e sociais oferece um o teatro de rua e um documentário fotográfico repositório de informações que caracterizarão o sobre idosos que estou desenvolvendo agora. Acho fotojornalismo no seu âmbito. No RN é diferente que está chegando a hora das pessoas verem o que de qualquer outra parte e vice-versa, não tenho feito em minha vida toda e está guardado. necessariamente tecnicamente, na forma, estética e conteúdo, mas na dinâmica, no volume e

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 05


SUMÁRIO

03ENTREVISTA

1 1 CENÁRIO

Itamar Nobre

Escola de Fotografia, Galeria de Arte, Estúdio Fotográfico e Produtora Cultural: a pluralidade do Espaço Duas

Professor da UFRN fala sobre pesquisa da fotografia e fotojornalismo no RN

MATÉRIA DE CAPA Ensaio

Retratos do Sertão

18

Conheça ensaio inédito do fotojornalista Ney Douglas que revelou imagens do sertão norte-riograndense

06 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


14 PERFIL

16 PERSPECTIVA

Dedicação, persistência e paixão pela fotografia: a história do fotojornalista

Profissionalismo e delicadeza se misturam no segmento

Canindé Soares

Newborn

30 FOTO & SOCIEDADE

Projeto Construindo Novos Olhares, de Pablo Pinheiro, ofereceu a alunos e professores discussões sobre fotografia e alfabetização visual

SEÇÕES 08 FILTRO 10 FOTO & GRAFIA 1 28 AMADORISMO 29 TÉCNICA 32 FOTOCULT 34 FOTO & GRAFIA 2 35 FOTOGRAMAS JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 07


Divulgação

A

partir do mês de maio, a câmera ONN começou a ser comercializada no Brasil a preços mais acessíveis que a sua famosa concorrente GoPro. Assim como já é comum entre as câmeras de ação, ela possibilita tanto gravar vídeos como fotos. A câmera ONN é apresentada em dois modelos que diferem quanto à suas qualidades técnicas. O modelo mais caro filma em Full HD (1080p, H.264) e registra fotos a 12 MP; já o outro modelo produz vídeo em HD (720p) e fotos a 5 megapixels. Ambas possuem entrada para cartão de memória tipo Micro SD de até 32GB.

[Exposição]

Marcos Cavalcanti

O fotógrafo e poeta santacruzense Marcos Cavalcanti está expondo seu projeto “Ninhos de Pedra”, no Memorial Câmara Cascudo, em Natal (RN), até o dia 20 de junho. A exposição é resultado de uma viagem pela Europa, em 2012, onde o fotógrafo registrou monumentos e jardins, revelando a simbiose entre arte (esculturas) e natureza (aves). A exposição tem entrada gratuita e visitação de terça a sábado, das 8h às 17 horas.

08 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

Concursos

FILTRO

Câmera ONN começa a ser vendida no Brasil

Prêmio Foto em Pauta 2015 Estão abertas as inscrições para a primeira edição do Prêmio Foto em Pauta para Livro de Fotografia. O projeto, que comemora os cinco anos d o Fe s t iva l d e Fo t o g r a fi a d e Tiradentes (MG), premiará o vencedor com a publicação de um livro de pequeno formato, sem restrição de tema, com o objetivo de incentivar e difundir a produção fotográfica de trabalhos inéditos de artistas brasileiros. Como contrapartida, o autor contemplado receberá 200 livros de uma tiragem de mil exemplares. As inscrições podem ser feitas até o dia 19 de agosto. Para mais informações, acesse: www.fotoempauta.com.br/festival2015

Seleção para bolsa de fotografia O Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, está com inscrições abertas até o dia 19 de junho para a 3ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS. A iniciativa concederá duas bolsas no valor de R$ 65 mil reais para os autores contemplados desenvolverem seus projetos. O edital e o formulário de inscrição estão disponíveis no site da Revista ZUM e no do IMS: www.ims.com.br.

3º Prêmio de Jornalismo do MPRN A terceira edição do Prêmio de Jornalismo do Ministério Público do Rio Grande do Norte foi lançada no dia 1º de junho, dia da imprensa no Brasil. Entre as novidades do concurso está a inclusão da categoria de fotojornalismo e a participação de estagiários. Os três primeiros colocados em cada categoria serão premiados em dinheiro, com valores de R$ 3,5 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil. As inscrições deverão ocorrer de 09/09 a 09/10/2015, por meio do portal da instituição: www.mprn.mp.br


Nikon cria câmera fotográfica para cachorros

Ver o mundo do ponto de vista de um cão é a ideia do novo projeto “Hear tog raphy”, criado pela empresa japonesa Nikon. O cão veste um colete que tem uma câmera fotográfica e um monitor de batimentos cardíacos que, por meio de Bluetooth, faz com que a câmera dispare o clique quando o coração do animal acelere, indicando excitação. Cabem aos donos dos cães programarem a frequência cardíaca média dos seus bichos de estimação. Mas, os amantes dos pets devem ter paciência. A Nikon a i n d a n ã o d iv u l go u d at a d e lançamento e preço para o novo produto.

Exposição O gera polêmica Curso Prático de fotografia De 19 a 21 de junho, o Espaço Duas, em Natal (RN), oferecerá o curso prático “O cotidiano fotografado”, ministrado pela fotógrafa Lara Ovídio. Podem participar fotógrafos amadores e profissionais. As aulas acontecerão nos dias 19, 20 e 21 de junho. As vagas são limitadas e as inscrições já estão abertas. Mais informações: www.duasestudio.com.br.

fotógrafo e pintor Richard Prince tem atraído muitas críticas na internet por vender fotos de sua exposição New Portraits por US$ 90 mil cada (quase R$ 283 mil). Mas as críticas consistem no fato de que as imagens comercializadas terem sido tiradas diretamente do Instagram, e não pelo fotógrafo. A exposição existe desde 2014 e Prince nunca pediu autorização aos donos das fotos para utilizá-las. A repercussão só apareceu recentemente, quando, de fato, as obras começaram a ser vendidas. A dona de uma das fotos afirmou no Instagram que não pretende processar o artista, pois considera apenas uma reprodução (não uma pintura) da sua publicação original. O controverso artista expõe além das fotos, uma das polêmicas do universo da fotografia: os direitos autorais sobre imagens publicadas na internet.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 09


Alexandre Santos

FOTO & GRAFIA 1

O momento mágico do click fotográfico

N

ão faz muito tempo que para fotografar era necessário expor, por breves instantes, um filme fotográfico e depois submeter esse mesmo filme a um rigoroso processo químico para que a imagem pudesse ser revelada em um papel fotográfico. Embora esse processo ainda continue a ser feito por uma pequena parcela dos fotógrafos amantes das técnicas antigas, é impossível negar que os avanços tecnológicos que trouxe a fotografia digital para nosso cotidiano, também proporcionam facilidade de manuseio e controle das câmeras que estão cada vez mais presentes em nossas vidas. Assim, os equipamentos que antes eram restritos a um pequeno grupo de artistas, atualmente podem ser adquiridos por valores cada vez mais acessíveis para boa parte da população. Se antes a fotografia democratizou a possibilidade de produção da arte, hoje ela vive o auge da popularização como linguagem e meio de expressão artística. É bem verdade que a maioria da população vê na fotografia apenas uma forma de registro do cotidiano familiar e social, e muitas vezes é essa a porta de entrada para o fascinante mundo da produção de imagens. Mas quais são os requisitos básicos para se tornar um bom fotógrafo? Possuir uma técnica apurada? Equipamento moderno e boas lentes? Esses são fatores a considerar, mas certamente não seriam determinantes. Um bom fotógrafo é antes de tudo criativo e observador. Ver fotograficamente é olhar com os olhos da câmera mesmo sem dispor do equipamento no momento, isso porque a sensibilidade pertence ao fotógrafo, não à máquina. A câmera vê diferente do olho humano, ela enquadra um assunto e congela o instante. Muito além da técnica está um elemento essencial para quem trabalha ou pretende trabalhar com imagens: a sensibilidade. É bom conhecer as regras de enquadramento e composição e exercitar todas essas regras até que elas façam parte do seu repertório técnico. É como dirigir um carro, primeiro aprendemos as regras de trânsito, depois dominamos os comandos do veículo e por fim 10 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

dirigimos confiantes e pre parados para as eventualidades do trânsito. O domínio técnico é importante, mas lembre-se ele sozinho não garante o poder de uma imagem. Capturar a essência de um acontecimento numa fotografia é como parar o tempo naquele exato momento e reunir em uma única composição todas as informações necessárias para contar uma história. Pense quantas fotografias você já viu em que o instante do disparo foi determinante para a importância da imagem, agora imagine se essas fotos não tivessem sido feitas, que outras imagens poderiam substituí-las? O momento mágico é aquele em que o equipamento, o olho e o coração do fotógrafo parecem ser um só e estar em harmonia com o que acontece. Às vezes a limitação técnica de nosso equipamento não permite registrar um fato tal qual gostaríamos. Acreditamos que nesse momento devemos colocar em prática nossa criatividade e agilidade para garantir o registro, mesmo que este pareça precário. Pense em quantas fotos foram publicadas cuja qualidade técnica não era das melhores e nem por isso essas imagens perderam sua importância. Todo acontecimento tem um ponto alto, procure identificá-lo e faça um registro que possa transmitir as informações ou emoções necessárias. Ao fotografar seja paciente e procure se posicionar em um local que lhe dê uma boa visão da cena a ser fotografada. Mantenha-se atento do início ao fim das atividades e garanta algumas imagens que contem a história que você está presenciando. Certa vez eu estava fotografando em uma noite chuvosa na Avenida Paulista em São Paulo, fotografava as pessoas ao atravessar a avenida em meio ao temporal. Observei um jovem casal que aguardava a abertura do sinal de trânsito para atravessar, me posicionei e aguardei o momento exato para fotografar, vi que o movimento dos carros provocava um rastro de movimento na fotografia e não tive dúvidas, fotografei o casal no exato momento em que um ônibus passava. O resultado você pode conferir na imagem que ilustra este artigo. Sempre existirão momentos mágicos, mas eles não se repetirão. Um olhar, um gesto, um movimento e...click! Você poderá ter feito uma imagem que será lembrada por muito tempo. A propósito, “Tempo” foi o nome que escolhi para a imagem do casal na Avenida. Por Alexandre Santos Fotógrafo, Jornalista, especialista em Artes Visuais (SENAC) e mestre em Estudos da Mídia (UFRN). É autor do livro de fotografias Expressões de Fé (2015). alexandreradialista@hotmail.com


CENÁRIO

Espaço Duas Textos e Imagens: Arianne Maia Quando pensamos em estúdio fotográfico, logo vem à cabeça um espaço cheio de luzes, equipamentos sofisticados, modelos, concentração e, claro, muitos cliques. No Espaço Duas, localizado no bairro de Ponta Negra, em Natal (RN), a ideia vai além. Explorado pela sua singularidade de ser, até então, um espaço único na cidade, ao mesmo tempo em que é valorizado pela sua pluralidade artística, o local reúne em um único cenário a Escola de Fotografia, Galeria de Arte especializada em fotografia, Biblioteca, Estúdio Fotográfico e Produtora Cultural, tudo idealizado e conduzido pelas fotógrafas Elisa Elsie e Mariana do Vale. Elisa Elsie e Mariana do Vale, idealizadoras do Espaço Duas.

A

migas de longas datas, Elisa Elsie e Mariana do Vale começaram há cerca de dez anos, ainda na época da faculdade - ambas são graduadas em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - e logo se profissionalizaram. Após estudos nos EUA e Europa, as profissionais transformaram a experiência e conhecimento adquiridos em catalisadores criativos. Deram início ao fomento da fotografia em Natal, sempre preocupadas em aliar linguagem à técnica fotográfica. Estrearam em outro local, no ano de 2011, de apenas um cômodo, no qual se desdobravam para dar aulas e trabalhar com o estúdio comercial, o Duas Estúdio. Logo, a oportunidade de uma casa maior chegou e com ela os planos ganharam mais espaço. “Chegamos aqui em novembro de 2012 e, então, o Duas juntou várias coisas. Passamos a desenvolver além da Escola e do Estúdio, a Produtora Cultural, a Galeria de

Arte e uma Biblioteca, especializadas em fotografia. Além disso, a nossa proposta é coparticipativa, pois o espaço é dividido ainda com uma escola de canto e um coletivo de design, o que é do nosso interesse reunir essa pluralidade artística”, explica Elisa. A Escola de Fotografia, atualmente, oferece cinco tipos de cursos: Fotografia Básica, Fotografia como Expressão Artística, Residência Fotográfica, Photoshop e Introdução ao Estúdio. E em seus quase quatro anos de funcionamento já formou, ao todo, cerca de 400 pessoas, entre interessados, fotógrafos amadores e profissionais. “Somos uma Escola, porque oferecemos mais de um curso e tanto eu como Elisa somos professoras, além de convidar frequentemente outros professores para ministrar cursos”, destaca Mariana do Vale. Lembra ainda que os cursos são pensados de acordo com a demanda do público de Natal (RN), antenados aos movimentos da JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 11


fotografia nacional e internacional. O Estúdio é comercial e atende ensaios, eventos institucionais ou particulares, publicidade, gastronomia e demais segmentos. Para as visionárias, cada proposta é um desafio, e traz em si o estilo próprio do estúdio mesclado ao desejo do cliente, como define Mariana: “A gente tenta fazer um ensaio que vá além da satisfação do cliente. Cada projeto é pensado individualmente. E estudamos muito, até porque somos professoras, então temos muita influência do que é produzido hoje na contemporaneidade o que, consequentemente, aliamos ao nosso trabalho comercial”. Além disso, o fôlego continua para as atividades da Produtora Cultural, a qual dedica par te do tempo a promover e apoiar eventos de fotografia no estado. Vários eventos já foram organizados, como seminários, fóruns e exposições. Um dos destaques é o Bazar independente, uma realização do Duas com os Jovens Escribas editora potiguar. A proposta multicultural tem acesso gratuito e ocorre todos os meses, reunindo, no Espaço Duas, foto, literatura, música, gastro-

Cômodos são diferenciados por sinalização criativa. 12 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

Biblioteca reúne acervo fotográfico para consultas nas aulas e visitas.

nomia e moda. Conta com a participação aproximada de 20 parceiros da economia criativa local e já trouxe personalidades como Xico Sá, Gregório Duvivier, Chacal e Chico Mattoso. “A parceria teve início ano passado e a cada nova edição tem ganhado novas feições” enfatiza Elisa. Desenvolvendo-se como referência cultural na cidade, o espaço dispõe também de uma biblioteca, com acervo fotográfico para consultas, e uma Galeria de Arte, com exposições periódicas, que está em sua sétima edição com a expo “@nfíbios” do fotógrafo baiano Tito Casal.“Estamos sempre em contato com artistas que queiram expor, nós não cobramos nem pagamos, mas tentamos manter uma parceria e atender os interesses das duas partes”, alega a fotógrafa. As profissionais comentam que as fotografias expostas geralmente ficam à venda, no entanto, Natal ainda é uma cidade incipiente de um público específico para o consumo no mercado fotográfico, da fotografia como arte. Como exemplo, Mariana cita um fato casual: “Certa vez, provoquei uma reflexão em uma loja de móveis e decorações, aqui da cidade. Eu estava na fila e


Exposição de Tito Casal na Galeria de Arte Duas.

Durante produção da matéria, acompanhamos o trabalho das fotógrafas fazendo ensaio com um grupo musical.

uma mulher pediu minha opinião, perguntando se eu achava bonito um quadro com uma foto de Nova York. Respondi que sim, mas questionei o porquê dela não comprar um com fotógrafos daqui. É quando começa essa ignorância, não no sentido pejorativo, mas no sentido de não saber aonde ir para comprar, desconhecer os fotógrafos e por aí vai”. No entanto, sob iniciativas das jovens fotógrafas empreendedoras, que uniram seu prazer em clicar com fascínio pela arte, o Espaço Duas cumpre seu papel de promover e divulgar gradativamente a arte da fotografia, na medida em que expõe os trabalhos de artistas e formam pessoas com novos olhares.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 13


PERFIL

Somos todos

Canindés Por Suellen Gurgel

Elias Medeiros

F

rancisco Canindé Soares de Lima é nome de batismo, segundo o próprio, em homenagem aos santos e a cultura do povo do interior. Embora seja filho ilustre de São Bento do Trairí, uma cidadezinha com menos de cinco mil habitantes, Canindé Soares, como ficou conhecido em terras potiguares, fez e faz história na capital do Rio Grande do Norte. A sua trajetória até se tornar um dos principais fotógrafos do Estado se confunde com a de muitos brasileiros. No final dos anos 60, a família Soares possuía uma pequena casa na roça e vivia da agricultura de subsistência.

14 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

A trajetória do fotojornalista Canindé Soares, revela o menino retirante, o fotógrafo de álbum de família, o fotojornalista, o paraquedista, o militante...

A seca feroz, a falta de incentivo governamental e de educação de qualidade, empurraram a família para Natal em busca de uma vida melhor. No final dos anos 70, quando a TV e o cinema já reinavam coloridas e a foto ainda era preto e branco, Canindé, aos 17 anos, começa a trabalhar como entregador no extinto estúdio fotográfico Blow UP. Nesses caminhos, vislumbra a oportunidade de se tornar fotógrafo para se manter, ter uma profissão. Do começo atribulado, destaca: “Não conhecia os caminhos das pedras. Imagina a dificuldade, morava na periferia. Comecei tirando fotos de aniversário, casamentos, batizados, pessoas humildes; colocava no álbum, mostrava aos amigos.” Passou a primeira década de profissão fazendo um trabalho que ele classifica de "doméstico", "simplório", "nada relevante". Contudo, o contato com os artigos e os ensaios de fotógrafos consagrados da revista brasileira ÍrisFoto – o periódico mensal circulou entre 1947 a 1999 – o fez perceber que o escopo da fotog rafia era amplo. “Essa revista foi um grande espelho, me ensinou a encontrar o que eu gostaria de fazer. Sabia por meio d e l a o q u e c o n t e m p l ava o s seguimentos do mercado fotográfico”, revela. No início da década de 90, surgem as oportunidades no jornalismo impresso. A primeira experiência foi no A Ponte, jornal que repercutia notícias da Zona Norte da cidade. Em seguida, no Gazeta de Praias Belas. Depois trabalha concomitantemente para o tabloide


Dois Pontos e o RN Econômico. Encerra este ciclo no jornal Tribuna do Norte, onde no final dos anos 90, também assume a editoria de fotografia. Os anos 2000 anunciam um Canindé Soares mais independente. Já consolidado no meio fotojornalístico, pede demissão da Tribuna e começa a trabalhar como freelancer. O fluxo de trabalho aumenta e diariamente é procurado por publicações nacionais e até internacionais, que buscam registros do RN. Após tantos anos de profissão e do reconhecimento, Canindé se mostra humilde. Confidencia que o hábito de ser constantemente lembrado como o melhor repórter fotográfico do Estado, não o envaidece. Diz ter consciência de que o seu trabalho não é o melhor. Muito embora, para e pondera: “Gosto muito das minhas fotos, e elas agradam a quase todos os natalenses que as conhecem. É simples, mas traduz a minha experiência, de saber aproveitar essa luz bonita, nossas paisagens.” Atualmente, escolhe seus projetos e só trabalha no que acredita, principalmente, no que considera o documento do RN. Talvez daí uma das pistas do seu fascínio por fotografias aéreas. Pois registrar as minúcias e as mudanças do nosso cotidiano são objetivos de sua fotografia. Mas os voos de Canindé não se limitam a vida de fotógrafo. Se a fotografia é sua primeira paixão, o paraquedismo se tornou a segunda. Fez curso, já deu o primeiro salto e pensa até em se profissionalizar na área. No momento, batalha para ser efetivada uma área de salto no Estado. De sonho em sonho realizado, enfatiza que ver seus livros publicados são suas maiores conquistas. Em 2010, lançou o Vem Viver Natal; 2011, Natal por Canindé Soares. Em 2013, a segunda edição de Natal por Canindé Soares. E já em 2014, Natal em Fotos, cobertura sobre Natal como sede da Copa do Mundo de Futebol. Só a questão dos direitos autorais, consegue azedar a conversa com o fotógrafo. Aí a figura do militante entra em cena: cita

leis; a sua campanha diária para que se divulgue o nome dos autores de fotografias publicadas. Todavia, seus protestos não clamam por reserva de mercado, mas por reconhecimento da fotog rafia como profissão. Miguel Weber

Para ele, uma das principiais dificuldades para quem se aventura na área, ainda é a desvalorização profissional, pois paga-se pouco por um trabalho que exige um alto investimento em equipamentos, que logo se tornam obsoletos. Mesmo assim, recomenda àqueles que gostam da profissão persistirem. Canindé acredita, no alto de sua trajetória de menino humilde a fotógrafo de renomado, que o que se faz com entusiasmo, com sede de conhecimento e dedicação, um dia tem seu retorno. E finaliza dizendo que é assim com a fotografia ou com qualquer outra escolha profissional que se faz na vida: “Primeiro goste, vá a luta e respeite as pessoas”. Parece que Canindé Soares seguiu os seus próprios conselhos.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 15


PERSPECTIVA

Fotogra a

Newborn Segmento exige estudos específicos, sensibilidade, investimento financeiro e comprometimento com os clientes

Por Arianne Maia e Suellen Gurgel

Luciana Brasil

A

16 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

na China, 34 anos, formada em Serviço Social, trabalhou vários anos como assistente social até se tornar fotógrafa profissional em 2013. Luciana Brasil, 29 anos, jornalista, atuou como fotojornalista em alguns jornais impressos de Natal (RN), agora trabalha como fotógrafa comercial. Priscila Amorim, 33 anos, arquiteta, trabalha exclusivamente com fotografia desde 2012. O ponto em comum entre essas três jovens mulheres, além do trabalho recente ou não na fotografia e possuírem origens e profissões diversas, é que elas fazem parte de um promissor segmento fotográfico: o Newborn norte-riograndese. Cada uma à sua maneira tem experimentado as delícias e os cuidados exigidos no setor. Pois, fotografar bebês em seus primeiros dias de vida – com apenas cinco ou até 15 dias – em posições bem fofas não é simples, como pode parecer, à primeira vista, em uma busca rápida feita em sites como o Google, por exemplo. Entretanto, quem se dedica ao nicho garante que é preciosismo nos detalhes, paciência e muito estudo para se ter um bom resultado de fotografias com recém-nascidos. Entre as habilidades exigidas, Luciana Brasil lista algumas. “É preciso conhecimento específico na área, não apenas do lado da fotog rafia, mas, principalmente, nos cuidados com os bebês. Como segurá-lo, a temperatura ideal do ambiente, quais p o s e s e c o m o p o s i c i o n á - l o ” , e x p l i c a . Pa r a complementar, Priscila Amorim comenta que os cuidados são muitos, desde a higiene pessoal, do local e de tudo que vai ser usado, equipamentos e acessórios, até o controle do stress. “Os bebês são sensíveis a tudo e todo o estresse dos pais e acompanhantes passa


imediatamente para os pequenos”, destaca a fotógrafa. As duas são categóricas ao afirmar que são necessárias pesquisas detalhadas, ou mesmo cursos, abrangendo desde fisiologia do bebê até as técnicas de acalmar e mantê-lo dormindo o tempo necessário da sessão. O newbor n é um segmento for mado expressivamente por mulheres, por serem historicamente mais sensíveis à questão da maternidade e ao cuidado com crianças. Ana China, por exemplo, garante que ter sido mãe a coloca mais próxima na relação de ajuda e cumplicidade com as mães dos bebês. “Acho que ajudou mais a lidar com as clientes, porque sei 'na pele' o que é a ansiedade, insegurança e outros sentimentos que existem na cabeça dessas mamães”, detalha. Priscila Amorim, porém, confidencia que o fato de ser mãe ajudou apenas na maneira de lidar com o bebê, já que

Luciana Brasil: acessórios temáticos contextualizam ensaio.

mesmo, mais especificamente, no exterior. Foi o caso das fotógrafas Priscila Amorim e Luciana Brasil, que, há mais tempo nessa perspectiva, conhecerem o segmento nos Estados Unidos e especializaram-se nesse país e em São Paulo, respectivamente. Atualmente, como já conquistou muitos profissionais, e continua a encantar milhares de papais e mamães, há workshops, cursos e congressos específicos distribuídos por todo o país, além do formato online. O nicho também vem ganhando espaço no mercado potiguar. Para Ana China, há ensaios newborns para todos os tipos de gostos e “bolsos” – o preço de um ensaio pode ir de R$ 400 até R$ 2 mil reais –, o que contribui para uma parceria satisfatória entre o fotógrafo e os pais do bebê. “Isso é muito bom para o cliente, pois pode escolher sem perder a qualidade do serviço, e também para nós, que podemos

no começo não tinha técnica para posicioná-los e isso a frustrava. Foi a partir dessas tentativas que percebeu a importância do aprofundamento na área, e lembra: “Não bastou ter vontade, precisei estudar muito”. A dedicação não é apenas profissional, também requer investimento financeiro. Isso porque, o newborn surgiu e ficou popular primeiramente em outros países – as primeiras grandes referências do movimento surgiram na Austrália, no final da década de 80 com ensaios de Anne Guedes, que os realizava sem pretensão de torná-los um nicho fotográfico, e, a partir de 2004, nos Estados Unidos, com as gêmeas Kelley Ryden e Tracy Rave, responsáveis pelo formato que o estilo tomou. No Brasil, ganhou evidência a partir de 2010 e, durante esse início de popularização, a maioria dos cursos era oferecida apenas em outros estados ou até

Cuidado e delicadeza na fotografia de Ana China.

trabalhar da forma que mais nos identificamos”, declara. A fotógrafa ainda completa, que mesmo de olho no valor do ensaio, o cliente jamais deve esquecer que preço não é o mais importante nesse ramo, afinal é a segurança do bebê que está em jogo. E, claro, a fotografia newborn não é barata, pois cada ensaio exige disponibilização de tempo variável e considerável, já que se trabalha com o funcionamento fisiológico do bebê. Necessita também de higienização constante de materiais e renovação de acessórios e roupas, como já ditos entre os cuidados. A soma de tudo isso, aliado a arte da fotografia em si (produção e pós-produção) gera um valor justo. Portanto, Priscila Amorim, ressalta: “É preciso que os profissionais tenham consciência da necessidade de investir e não apenas entrar nesse campo porque é uma tendência, visando apenas o lucro, sem antes se capacitar”.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 17


ENSAIO

Caminhos do Sert達o 18 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


O ano de 2014 foi catalisador de algumas mudanças na vida do fotojornalista Ney Douglas: questões pessoais e um curso de Fotografia como Expressão Artística, levaram-no a rever sua fotografia e a necessidade de sair à procura de respostas internas. Dessa busca pessoal e profissional, nasceu o projeto Caminhos do Sertão, com a intenção de fotografar e percorrer a pé 270km, saindo de Macaíba (RN) com destino à cidade berço de seus pais, Campo Grande (RN). O resultado dessa empreitada, iniciada em 14 de maio de 2015 e terminada em 24 do mesmo mês: Serenidade, 10kg a menos e três mil fotografias, ou seja, três mil histórias para contar. Com exclusividade, o fotojornalista dá uma pequena amostra daquilo que viu e registrou com seu olhar.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 19


Caminhos Perigosos: caminhoneiros não respeitam as leis de trânsito e fazem ultrapassagens na BR-304.

Tragédia Familiar: de Macaíba à Campo Grande, centenas de túmulos foram registrados, cada cruz representa uma vida. Este especificamente representa quatro pessoas de uma mesma família, mortas em acidente na BR-304.

20 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


PÁG 21

Andarilho: José de Paula, 63 anos, sem filhos e sem profissão. Saiu de Fortaleza há quatro meses e anda sem destino. Assú-RN. JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 21


Travessia: José Neto, 52 anos, agricultor, conduz o gado em meio a Caatinga. Campo Grande-RN.

Trabalho ao Sol: olaria às margens da BR-304. Assú-RN. 22 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


Diante da Cancela: nuvem de chuva se aproxima da cidade de Angicos-RN.

Ilhada no Sertão: dona Maria Alice, 78 anos, mora com o filho mais velho, a 6 km da cidade de Caiçara do Rio do Vento e 20 km da cidade de Lajes. JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 23


Nascer do Sol Visto do Alto: evangélicos da cidade de Assú, descem o Pico do Cabugi após noite de vigília.

Emoldurado pela Caatinga: pôr do sol na subida do pico do Cabugi. 24 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


Despertar: seu Tinga, 54 anos, toma café antes de trabalhar. Mora na fazenda Palestina com a esposa e um filho adolescente, no km 206, da BR-304.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 25


26 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015


Sertão Estrelado: Pico do Cabugi à noite, na BR-304.

Projeto Caminhos do Sertão Fotos: Ney Douglas

Ney Douglas Marques, 37 anos, atua no fotojornalismo há 12 anos, mas se considera fotógrafo há 16 anos. Atualmente, divide seu tempo e sua fotografia como fotojornalista do Novo Jornal (Natal-RN), correspondente da Agência de Notícias Efe (Espanha) e trabalhos de free-lancer. Possui 15 prêmios como fotojornalista, entre os quais, o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 27


AMADORISMO

Faz porque ama! Raquel Galvão, 31 anos Profissão: Arquiteta e Urbanista Onde mora: Natalense que mora na cidade do Porto, Portugal. O que mais te encanta na fotografia: A possibilidade do registro e da lembrança. O fato da fotografia ser uma arte e sempre despertar sentimentos, deixando gravado momentos muitas vezes marcados somente na memória de quem efetivamente os viveu. O que mais gosta de fotografar: Adoro fotografar paisagens (Edificadas ou não), manifestações populares e, especialmente, texturas. Gosto dos detalhes, de um recanto ou canto e das diversas possibilidades imaginárias que elas nos proporcionam. Algo que você gostaria de registrar: A aurora Boreal. Uma foto que mais te marcou: Não foi somente uma. As fotos tiradas em festejos populares são normalmente as mais

Vista do Porto. Porto (PT). Janeiro/2015.

coloridas e emocionantes, porque retratam uma subjetividade que vai além daquilo que vemos. Fotografar é... Se deixar levar pela sensibilidade, beleza e leveza dos nossos olhos e do coração. É ver com a alma e a lente aquilo que muitas vezes não dizemos com palavras, mas com o olhar.

Marcelo Oliveira, 29 anos

cancabur Lua e o Vulcão Li O namoro entre a ia lív Bo na na Verde Sudoeste da Lagu . 15 Maio/20 lular *Foto feita pelo ce

28 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

Profissão: Administrador e Supervisor de Atendimento Onde mora: Natal (RN) O que mais te encanta na fotografia: A possibilidade de mostrar aos outros uma cena que só eu posso ver daquela maneira, algo tão singular para mim. É a forma de expor meu modo de enxergar as coisas. O que mais gosta de fotografar: Natal, de maneira geral, é uma das minhas paixões. Gosto de descobrir novos ângulos para fotografar suas paisagens. Algo que você gostaria de registrar: Lugares que ainda quero visitar como as pirâmides do Egito e Machu Picchu, por exemplo. Uma foto que mais te marcou: Uma tirada em 2014, na Cordilheira dos Andes. Fiquei muito emocionado com o l u g a r. I n a c r e d i t á ve l c o m o s u p e r o u m i n h a s expectativas, foi realmente sublime registrar as Cordilheiras! Fotografar é... um vício. Hoje não me vejo sem a fotografia. Se houver um momento e não puder fotografá-lo, sinto como se faltasse algo dentro de mim, devido a sensação de não poder re gistrar e compartilhar o meu modo de ver aquela cena.


TÉCNICA

Você já fotografou a lua? Que o nascer ou o pôr do sol é o cenário preferido dos amantes da fotografia, não há como negar! Mas e a lua? Também não há como resistir. Cedo ou tarde, todo mundo tentará fotografá-la. Aqui, reunimos 10 sugestões que o site fotografiaprofissional.org publicou e que poderão ajudar a fazer fotos incríveis da lua. Em relação a qual câmera usar, as DSLRs darão melhores resultados pelo fato de poder ser utilizadas lentes teleobjetivas, mas já há câmeras compactas com ótimas opções de zoom disponíveis no mercado. Então, é só preparar o clique! Confira 10 dicas para fotografar melhor a lua:

1 2 3

#Inspire-se

4 5

Use um tripé – Por mais que você já tenha visto pessoas fotografando a lua sem usar o acessório, ele é o diferencial entre uma foto boa e uma espetacular! Ative o disparador remoto ou timer - E se for fotografar a Lua com uma DSLR, deixe o “Live View” da câmera ligado. Assim, você não corre o risco de sua câmera tremer durante o disparo. Aumente a velocidade de disparo – Use uma relativamente alta (1/125 ou mais). Apesar de não percebermos a olho nu, a lua se move rapidamente pelo céu e se usar velocidades baixas, as imagens poderão ser borradas. Além disso, a lua é muito clara, então você vai acabar precisando captura muito menos luz do que imagina. Busque a abertura ideal – O objetivo deste tipo de foto é capturar o máximo de detalhes possíveis. Para isso, feche um pouco o diafragma, tente f/9, f/11 ou até mesmo f/16. Mantenha o ISO baixo – Isso garantirá uma foto com pouco ruído. Comece com ISO 100, depois vá aumentando conforme necessário. Laurent Lavender, fotógrafo francês, criou uma série de fotos chamadas “Moon Game”. Nela, o fotógrafo utiliza toda sua criatividade para fazer imagens super divertidas com pessoas brincando com a lua. A coleção está sendo vendida na França em forma de livro e de calendário.

6 7 8 9 10

Mude o medidor de luz da câmera para “spot metering” – Dessa forma, a câmera vai ajustar a exposição somente para a lua e não para toda a imagem. Use foco manual – Ele proporciona imagens realmente nítidas. Não confie no foco automático. Se necessário, ligue o “live view” e dê um zoom na imagem para garantir um bom foco ao fotografar a lua. Quanto mais longa for a lente, melhor – É meio óbvio, mas vale a pena mencionar. Qualquer objetiva acima de 200mm já apresentará ótimos resultados. O melhor horário para fotografar é assim que a lua nasce, quando ela está no horizonte – É o momento em que a atmosfera produz uma ilusão de ótica que faz com que pareça maior do que realmente é. E, por ela estar mais “perto do chão”, as possibilidades de composição são bem maiores.

Quebre as regras – Às vezes as fotografias mais interessantes não foram criadas seguindo as regras, mas sim usando a criatividade. Portanto, crie.

#VcSabia?

Que a primeira foto da lua foi tirada em dois de janeiro de 1939, pelo Francês Louis Daguerre? Para o feito, o autor da imagem lunar utilizou um daguerreótipo, equipamento que permitia um processo fotográfico a partir da criação de uma imagem, de grande nitidez, sem uma imagem negativa. Daguerre foi o responsável pela primeira patente desse equipamento fotográfico, considerado o marco inicial da fotografia. JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 29


FOTO & SOCIEDADE

Novos Olhares na Educação Projeto Construindo Novos Olhares estimulou alfabetização visual utilizando a fotografia como ferramenta para mudanças e reflexões em escolas públicas de Natal

Fotografia se aprende brincando.

Texto: Suellen Gurgel Fotos: Pablo Pinheiro

“P

articipar das oficinas do projeto foi sem dúvidas a melhor experiência que tive até aqui. É até emocionante falar sobre isso, algo realmente interessante e mágico de se fazer. O despertar do meu amor pela fotografia. A sensação mais penetrante e prazerosa é quando acontece algo ou nos deparamos com algo e logo vem em nossa mente: isso daria uma bela fotografia". Foi com esta fala que, a estudante Sterffany Andrade, 15 anos, definiu sua experiência no projeto Construindo Novos Olhares, idealizado e desenvolvido pelo fotógrafo e educador Pablo Pinheiro.

Em sala de aula, grupo constrói narrativa visual.

30 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

Pablo Pinheiro é envolvido há alguns anos com grupos que pesquisam e elaboram ações para o uso da fotog rafia na educação, percebendo-a como uma potente forma de mediação na alfabetização visual, possibilitando a construção de uma nova habilidade de compreender e se expressar, tanto individual como coletiva, por meio de um sistema de representação. Em 2013, o projeto saiu do papel e pôde ser efetivado mediante patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura – FIC/Natal. Com dinheiro em caixa e a vontade de compartilhar suas vivências imagéticas em um ambiente escolar, o idealizador, entre junho e dezembro de 2014, realizou oficinas práticas e teóricas de introdução à linguagem fotográfica em três escolas municipais de Natal, a E. M. Celestino Pimentel, no bairro Cidade da Esperança, a E. M. Luiz Maranhão Filho, no bairro de Cidade Nova e a E. M. Professora Terezinha Paulino de Lima, situada no bairro Parque dos Coqueiros. O projeto foi responsável pelas oficinas e todos os custos operacionais, deixando a cargo de cada instituição ceder o espaço para as aulas, a escolha dos professores e os alunos. Ao todo, nove professores e 67 estudantes foram contemplados com 126 horas de trocas de experiências e atividades desenvolvidas em duas frentes: no primeiro momento, 36 horas em encontros de formação com os educadores e, posteriormente,


aulas aos alunos, com carga horária de 30 horas para cada escola. De acordo com a coordenadora pedagógica da E. M. Profª Terezinha Paulino de Lima, Antônia Salete, a importância de um projeto como esse nas escolas “se dá a partir do entendimento que trabalhamos com linguagem, e no mundo contemporâneo a imagem tem representado uma importante forma de comunicar”. Além disso, ela enfatiza que a iniciativa reformula a própria dinâmica do ensino clássico e interação escolar nos grupos envolvidos, pois promove o acesso a alternativas pedagógicas, a novas possibilidades de interação e reelaboração de formas de convivência, o estímulo e a credibilidade em si e no outro. As observações da coordenadora vão de encontro com as da estudante Sterffany Andrade, que em 2014 cursava o 9º ano na escola E. M. Terezinha Paulino de Lima. Para a aluna, o projeto “foi benéfico a todos seus participantes, principalmente em sala de aula. Aprendemos a trabalhar em grupo, conviver melhor com as diferenças e

nos tornamos mais atenciosos.” Quanto aos desafios de introduzir prática e discussões sobre imagem e fotografia nas escolas, o coordenador do projeto é categórico ao afirmar: “É fácil falar de imagem. Abrimos os olhos e vemos o mundo. A dificuldade se dá na forma como as processamos”. Por isso, segundo ele, é justamente aí que reside a importância de ações como o Construindo Novos Olhares, pois buscar e criar estratégias de treinar e sensibilizar os olhares de nossas crianças e jovens é uma forma de ampliar suas potencialidades de leituras e criticidade do mundo para além do seu entorno social. Até o momento, os resultados desse processo podem ser conferidos no livro digital “Construindo Novos Olhares – quando a imagem fala e representa”, que é narrado do ponto de vista do idealizador, dos alunos, por meio de suas narrativas visuais, e dos depoimentos dos professores participantes. Nada mais salutar do que instituir diversas vozes numa ação que se propõe pluralizar o olhar.

Alunos aguçam olhares em atividade prática.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 31


FOTOCULT CRÍTICA

Documentário: O Sal da Terra Por Suellen Gurgel

O

Sal da Terra (Le Sel De La Terre) indicado ao Oscar 2015, conta a história do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Nos últimos 40 anos, o fotógrafo tem viajado o mundo, testemunhando alguns dos principais eventos de nossa época: as guerras, a fome e o êxodo. O documentário é dirigido por meio dos olhares do consagrado cineasta alemão Wim Wenders e do filho mais velho de Sebastião, Juliano Salgado. Nesta parceira, humanidade, dor e esperança se misturam ao trazer à tona a vida e obra do fotógrafo cronologicamente, mas sem didatismo, pois apresenta uma linha do tempo não linear que vai e volta ao passado para explicar os acontecimentos. A infância em Minas Gerais, os estudos no Espírito Santo, a formação em economia, o exílio em Paris na época da ditadura militar, a primeira câmera comprada pela esposa, o descobrimento da fotografia e suas tentativas em outros nichos fotográficos até encontrar a sua verdadeira vocação como fotógrafo social, tudo é detalhado. Muito embora, quem espera assistir uma cinebiografia clássica, talvez, se decepcione, já quem espera ver o desvelamento de um artista a partir de sua arte, não se arrependerá. Wenders abre a película confessando a admiração pelo fotógrafo. O filho confessa ter sido coparticipante na vida do pai - a figura do aventureiro paterno 32 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

que via regressar, ano após ano, de lugares fascinantes e distantes. De antemão, portanto, estamos diante de uma obra cheia de afetos e desconhecimentos. Juliano almejando conhecer o pai e Wenders conhecer o homem que o impacta diariamente. É na narração destes três personagens que a obra se ancora, mas sem dúvida é nos comentários de Sebastião – espécies de textos-legendas anexadas as suas fotografias – imbuídos de emoção e memória, que o documentário ganha força. Acompanhar as imagens e seus relatos de Trabalhadores (1996), Outras Américas (1999), Êxodo (2000), África (2007) e Gênesis (2013), dentre outros trabalhos, e de como realizou algumas dessas fotografias e as sequelas deixadas na sua alma a cada novo trabalho, vide a sua experiência na guerra civil de Ruanda (1994), que ele mesmo define como um “inferno na terra”, são, sobremaneira, depoimentos pedagógicos ao desmitificar a sua estigma de “estetizador da miséria.” Trata-se em essência de uma belo documento em homenagem a fotografia social que Sebastião Salgado legou à humanidade. Como também assistir O Sal da Terra, é um exercício de tentar compreender, na prática, a famosa citação de outro célebre fotógrafo, o Henri Cartier-Bresson: “Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração”.

Em documentário franco brasileiro, o fotógrafo Sebastião Salgado encanta e desmistifica sua obra

Juliano Salgado, Sebastião Salgado e Wim Wenders

Fotografia do projeto Gênesis (2013), mais recente trabalho fotográfico realizado por Salgado.

A primeira câmera usada pelo fotógrafo foi comprada por sua esposa Lélia.


Veja e leia também

Sobre fotografia De Susan Sontag (Companhia das Letras; 2004) esta obra, breve e de fôlego, é um clássico no âmbito dos estudos da imagem. Aliando linguagem simples e sofisticada, técnica e estética fotográfica, a romancista e filósofa Susan Sontag, reúne seis ensaios escritos no final dos anos 60, que analisam a fotografia do ponto de vista sociológico, filosófico, estético como fenômeno da civilização moderna desde o seu nascimento no século XIX. Os avanços tecnológicos nas fabricações das câmaras, segundo Sontag, apenas cumpriram uma promessa inerente à fotografia: “democratizar todas as experiências ao traduzi-las em imagens”. Se fosse viva, o que a filósofa diria dessa nova simbiose entre a fotografia (digital) e realidade? Pela lucidez e atualidade dos seus relatos, Sontag não ficaria nada surpresa. Pecker – O Preço da Fama De John Waters. 1998. Com Edward Furlong, Christina Ricci. Habitual criador de polêmicas, o diretor americano JohnWaters, discute o culto à imagem e os mecanismos perversos do mercado de arte, a partir da história de Pecker (Edward Furlong), um fotógrafo amador que trabalha numa lanchonete na cidade de Baltimore. Nas horas vagas, ou não, Pecker tem o hábito de fotografar compulsivamente seus amigos, clientes, tipos excêntricos, cenas do cotidiano e sua família. Apesar da discutível qualidade das fotos, o jovem é descoberto por uma dona de galeria de artes de Nova York, Rorey Wheeler (Lili Taylor). Da noite para o dia, Pecker se transforma na sensação artística de Nova York e com isso precisará arcar com o ônus da fama. Embora lançado há quase duas décadas, o filme permanece atual, discutindo o mercado de arte fotográfica, o culto as celebridades instantâneas e a obsessão pelo ato de ver e ser visto, tão caros ao nosso século.

Natal em Fotos Canindé Soares. 2014. No quarto livro publicado pelo fotojornalista potiguar Canindé Soares, além das inconfundíveis paisagens do Rio Grande do Norte, o leitor encontra, principalmente, a história recente de Natal como cidade sede da Copa do Mundo 2014. O fotojornalista documentou o evento minuciosamente, desde a indicação da capital, o anúncio da conquista do direito de ser sede, demolição do Machadão, as etapas da construção e inauguração da Arena das Dunas. Com legendas – português, inglês, francês – organização, textos e apresentação do jornalista Jean Valério, além de participações especiais dos jornalistas Paulo Araújo e Rubens Lemos, Natal em Fotos é uma obra que demonstra mais uma vez o trabalho ambicioso e de formiguinha que o potiguar Canindé Soares vem dedicando sua vida: narrar a história do Estado do Rio Grande do Norte por meio de fotografias.

1

The Bang Bang Club De Steven Silver. 2010. Drama baseado em fatos reais sobre “clube” formado por quatro fotojornalistas, durante as primeiras eleições livres na África do Sul.

2

3

Visual Acoustics: Modernism of Julius Shulman. De Eric Bricker. 2008. Narrado pelo ator Dustin Hoffman, documentário conta a vida e a obra de Julius Shulman, um dos mestres da fotografia de arquitetura.

4

Nascidos nos Bordéis De Ross Kauffman, Zana Briski. 2006. Cotidiano do Distrito da Luz Vermelha de Calcutá, retratado sob a perspectiva das câmaras de oito filhos de prostitutas nascidos lá.

5

Fotógrafo de Guerra De Christian Frey. 2001. Documentário acompanha o fotógrafo de guerra James Nachtwey em ação, explorando suas motivações, seus medos e seu cotidiano.

6

Fotografia Newborn De Robin Long. 2014. A obra, ricamente ilustrada, explica o passo a passo de uma sessão newborn e todo o processo para se iniciar um negócio neste segmento.

Histórias de um Fotógrafo Viajante De Otávio Rodrigues. 2006. Paisagens brasileiras e seus personagens, servem de ilustrações para as histórias narradas pelo jornalista Otávio Rodrigues a partir dos relatos e imagens do fotógrafo de natureza Araquém Alcântara.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 33


FOTO & GRAFIA 2

Wallace Moura

Fotografia e Direitos Autorais O fazer fotográfico: Acari-RN, 2011.

A

Internet é uma fonte gigantesca de informações, mas também de fotografias de todos os tipos. Quem nunca buscou uma imagem para ilustrar um trabalho para escola, ou mesmo para representar uma notícia em seu blog ou perfil no Facebook? O que muitos não sabem é que não é pelo simples fato de estar na internet que a foto ou desenho não tem dono. Quem utiliza uma imagem de terceiros sem sua autorização está cometendo um crime passível de multa (e não é barata). A fotografia é considerada como obra intelectual, e como tal está protegida pelo art. 7º, inc. VII da Lei nº 9.610/98. Portanto, é importante que você tenha por escrito a autorização de uso da imagem, tanto do fotógrafo, como dos modelos que aparecem na fotografia, se for o caso. Se possível a autorização deve deixar claro onde, como e por quanto tempo a imagem poderá ser utilizada. Fotografias que retratam o ambiente, e não as pessoas individualmente, não necessitam de autorização dessas pessoas. Por exemplo, a fotografia de uma praia lotada ou de uma festa na rua. Não é difícil conseguir autorização para utilizar boas fotografias. Grande parte dos fotógrafos concedem o direito de uso da imagem sem custo, desde que os devidos créditos sejam publicados, seja seu nome 34 OLHAR POTIGUAR | JUNHO 2015

completo, ou pseudônimo, como ele assim desejar. Por isso, não vale a pena se arriscar a usar uma imagem indevidamente e encarar um processo na justiça caso seja descoberto. Para uso comercial, há na internet diversos bancos de imagens, que as vendem em alta resolução para impressão em revistas, jornais, banners, etc. Em geral, os valores dependem do tamanho da imagem (medidas em pixels), mas o preço também pode variar de acordo com a finalidade de uso. Como exemplo de bancos de imagens, há o site Getty Images (www.gettyimages.com) pelo qual fui convidado a vender minhas fotos em seu banco de imagens, fechei contrato e atualmente já tenho dezenas de fotos à venda. Por Wallace Moura Fotógrafo e idealizador do site Gosto de Ler. Carioca, radicado potiguar desde seus 13 anos de idade. Atualmente, reside em Tennessee (EUA), onde, entre outras atividades, desenvolve um projeto voluntário, junto à jovens em comunidades mais desfavorecidas socioeconomicamente, de iniciação à fotografia como profissão. www.wallacemoura.com.br


É

fotografia. Mas há cerca de 200 anos, era impossível que as pessoas registrassem de forma tão fidedigna o mundo ao seu redor. De lá para cá, muita coisa mudou e um acúmulo de avanços ao longo dos anos, por parte de muitas pessoas, trabalhando juntas ou em paralelo, fez com que chegássemos à fotografia moderna, tal como a conhecemos hoje. É certo que a tecnologia

Ant

igui

dade

tem inovado em ritmo acelerado. Mas, para compreender o presente, nada melhor do que rever o passado e conhecer o processo de evolução. Pensando nisso, a Olhar Potiguar trará a cada edição, no Fotogramas, um recorte da história da fotografia e possibilitará a você, leitor, relembrar e colecionar cada uma das etapas que construiu essa arte, a de escrever com a luz.

A Câmara Escura O processo fotográfico remete à origem da Câmara Escura: equipamento formado por quatro paredes, estanque à luz. Em uma de suas paredes havia um orifício. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado externo do compartimento, a sua imagem era projetada invertida sobre a parede oposta.

(A.C

.) Algu n Câm s histo r a a . C ra Escu iadores ., o atrib ra ao u Aris u tóte t r o s i n chinês em o p rinc Mo T les ( para dica íp 3 z faze r obs 84-322 m o fi u no séc io da lóso a.C . u erva ), f o g lo V ções re go astr que a onôm u icas tilizava .

Séc. XI Haitham Ibn AL- âmara e b a r á O c ência à fez refer ção de também iliar na observa x rte de como au pse solar, na Co la. li c tinop um e Constan

m a utilizava Artistas e pinturas. s desenho u sobre o ção de ve u e d r o c r s p e r na sava, ia u il seu livro x a u a e s agen em não foi como inci qu im a V e ic d n a c a d r té as o 1545 tu Leonar d canismo de cap e os espelhos, m r b me o s . de notas blicado até 1797 Prime pu ira ilu straçã Câmar O físic o da a o obra d Escura na Girola italiano 1558 e Rein mo Ca er Fris físico e rdano desenv ius, matem O o cientis lveu o holanático mecan dês. Della P ta napolitan is o Giov o lentes mo de uso d ann detalh rta publicou e ut ada so u ma des i Baptista lente b ilizando um bre a c usos no crição a iconve âmer li xa. Sive de vro Magia N a e seus a M Natura iraculis Re turalis rum lium. 1550

Séc. XIV

1646 1685

Johan Z ah utilizaçã n descreve a o de um espelho, para red ire ao plano cionar a imagem h facilitan orizontal, do assim o nas câm aras por desenho táteis.

FOTOGRAMAS

Da Câmara Escura às imagens digitais: o início de tudo difícil imaginar o mundo hoje sem a

1724

Johan H ein experiên rich Schulze, fa cias com zendo ác prata e g esso, det ido nítrico, er prata ha lógena, c minou que a onvertid prata m a em etá escurecim lica, provocava ento.

er, anasius Kirch O jesuíta Ath a, om R de r so erudito profes a ar m strou uma Câ a descreveu e ilu st ti ar ao ssibilitava Escura, que po em vários locais, desenhar eira. como uma lit sp tran ortada

1620

O astrônomo ler Johannes Kep a um u zo utili a ur sc E a ar Câm os nh para dese topográficos.

A Heliog ra Joseph N fia – A primeira fo ic placa de éphore Niépce fe tografia impress a do mu estanho z a prim nd polido, c e Judéia, om peltr ira impressão em o... após oit o horas e revestid uma vista nu de exp as d bla pelo fran da do pátio de s osição, cuja im e betume da agem er ua casa. cês de h a eliografi O proce sso foi b uma a, gravu atizado ra com lu z solar. 1826

Imagem do quintal da casa de Niépce, obtida após exposição de sua câmera escura por aproximadamente 8 horas.

JUNHO 2015 | OLHAR POTIGUAR 35


LHAR


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.