CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA: A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
JEFFERSON CAMPOS LOPES
SANTOS 2002
JEFFERSON CAMPOS LOPES
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA: A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de PósGraduação da Unimonte, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Anselmi Melis Paulillo.
Santos 2002
TERMO DE APROVAÇÃO
JEFFERSON CAMPOS LOPES
EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA: A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS NA DISCUSSÃO DOS PILARES DA EDUCAÇÃO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unimonte, pela Banca Examinadora formada pelos seguintes professores doutores:
_________________________________________________ Orientadora: VERA LÚCIA ANSELMI MELIS PAULILLO (Presidente) Centro Universitário Monte Serrat
_________________________________________________ 1.º Examinador: ROBERTO RODRIGUES PAES Universidade de Campinas
_________________________________________________ 2.º Examinador: CLAUDETE MARQUES MACHADO Universidade Presbliteriana Mackenzie Santos, 2 de março de 2002
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, José e Neide, por me propiciarem, sempre, a base da sustentação moral e os subsídios financeiros para ser o que sou. Agradeço às minhas irmãs, pelo constante amor dedicado ao irmão caçula e único irmão da família. Agradeço à minha esposa, que sempre esteve a meu lado, quer nos momentos de derrotas ou de sucessos da minha vida. Agradeço à Professora Doutora Vera Lúcia Anselmi Melis Paulillo, minha orientadora e amiga, pela condução segura e competente da Dissertação e, principalmente, por acreditar na realização desta pesquisa. Agradeço aos alunos do ensino infantil, médio, fundamental e universitário, por vivenciarem esta proposta, contribuindo, assim, para o meu crescimento profissional. Agradeço ao Fábio Otuzzi Brotto, por ter sido minha fonte de inspiração, iluminando o meu caminho para os Jogos Cooperativos. Agradeço ao meu Anjo da Guarda e a Deus pelos momentos difíceis que passei na vida e pelos momentos magníficos de alegria que estou passando hoje. Agradeço aos verdadeiros e grandes amigos por estarem sempre por perto, pois a amizade é algo maravilhoso.
MEMORIAL
S
ou brasileiro, nascido em Brasília-DF, filho de pai militar e mãe carinhosa, sendo o único filho homem desta família, que é composta por mais duas irmãs.
Tive a oportunidade de morar em várias cidades do Brasil e por dois anos na Europa, pois meu pai era constantemente transferido para outras bases navais. Fixei-me na cidade de Santos, por volta dos 14 anos, junto com minha família, onde terminei meu ensino médio e ingressei na Universidade. Paralelamente aos estudos, sempre pratiquei esportes, principalmente o Caratê, que proporcionou-me a oportunidade de viajar para vários lugares, obter bolsas de estudos integrais, salários e o prestígio de chegar ao topo da carreira de um atleta – ser da seleção brasileira. Resolvi ingressar em Administração de Empresas, pois tinha jeito com negócios. Infelizmente, porém, por uma reviravolta do destino, fui transferido para outro Estado e resolvi pedir demissão. Sendo assim, resolvi unir o útil ao prazeroso e ingressei na Educação Física. Logo, eu estava ministrando aulas em colégios e academias. Com a chegada do último ano, eu já tinha certeza que não poderia parar e resolvi então fazer o Mestrado em Educação. No final do segundo ano do Mestrado, organizei e aproveitei a chance de realizar uma Pós-Graduação em Jogos Cooperativos, que daria grande base de fundamentação para minha Dissertação. Os Jogos Cooperativos entraram na minha vida com um convite de meu professor para um festival que seria realizado em uma outra cidade.
Chegando lá, encontrei várias pessoas de diferentes cidades e senti-me como se estivesse com uma grande família. Percebi que esta proposta – a dos Jogos Cooperativos –, que não visavam realizar atividades de jogar uma contra a outra, mas sim, com todas juntas, poderia ser um meio facilitador de ensino/aprendizagem, pelo qual, pelas vivências, reflexões, no mínimo diferentes das pessoas, poderia aproximar a convivência entre elas. Atualmente, sou professor de Educação Física em escolas particulares, coordenador, técnico e professor de Caratê na Prefeitura Municipal de Santos, além de realizar workshops por diversas cidades do Brasil.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Lista de Tabelas Tabela 1: Encontros com educadores e educandos em 1999................................... 7 Tabela 2: Encontros com educadores e educandos em 2000................................... 8 Tabela 3: Encontros com educadores e educandos em 2001................................... 8 Tabela 4: Jogos competitivos e jogos cooperativos ..................................................47 Tabela 5: Padrões de percepção/ação ......................................................................49
Lista de Figuras Figura 1: Jogo da transformação ...............................................................................15
RESUMO A vida que vivemos e com a qual convivemos tem enfatizado valores excessivamente materialistas e de resultados permeados por regras, condutas e formas restritas que inibem o comportamento inovador, as propostas ousadas, a coletividade e as relações interpessoais. Nesse sentido, esta dissertação busca mostrar a importância dos Jogos Cooperativos no processo educacional na relação com os Pilares da Educação, como uma educação voltada para a convivência da aprendizagem de valores humanos e de um novo estilo de jogar, de forma a ver e viver a vida numa “jogada” que faça cada um reencontrar o seu EU. No âmbito desta pesquisa, foi adotada uma metodologia de estudo descritiva e exploratória, associada a uma proposta que apresenta um relato dessas atividades cooperativas. Inicialmente, reflete-se sobre as formas que se pode educar, por meio dos valores humanos, que não visem somente informações mas também contribuições para que esta educação seja um tesouro a ser descoberto por todos. Seguindo nesse caminho, buscou-se, nos Pilares da Educação, quatro maneiras para que este desenvolvimento e aperfeiçoamento possam estar sendo realizados na intenção da melhoria de qualidade de vida. Também encontrou-se, por meio da Educação Física e do Jogo, uma visão de que a educação física pode exercer uma influência neste contexto com a ajuda de uma ferramenta poderosa e maravilhosa: o jogo. Nesta jornada de informações, pode-se chegar aos Jogos Cooperativos, em que se pretende mostrar o papel que estes exercem como fonte inesgotável de alternativas que visam como resultado o desenvolvimento de formas de cooperação e de convivência que são essenciais e vitais para a construção de um mundo melhor para toda a coletividade. Concluindo este estudo, propõe-se um relato que vem sendo utilizado há vários anos e que, por certo, contribuirá com o processo de ensino-aprendizagem, dando oportunidade às pessoas de terem um material para que possam continuar esta jornada sem medo de errar ou tentar, sendo, porém, mais felizes, amorosas e prazerosas pela convivência e, a partir de então, jogando umas com as outras e não umas contra as outras.
ABSTRACT Our daily life as we kwon it has worked its way out to stress extremely material values permeated with restrictive rules, behaviors and attitudes that end up inhibiting any possible innovating behavior, bold propositions the whole community and interpersonal relations. Bearing that assertion as a starting point, this paper tries to show the importance of Cooperative Games in the educational process and in its relation to the Pillars of Education, as a form of education oriented to the learning of human values and a new style of playing. That aims at seeing and leading life in a “move� that makes each one of us find back his or her real ME. As to what this research is concerned, a descriptive and exploratory study approach and methodology was adopted, associated to a proposal that presents a report on these cooperative activities. At first, there is a reflection on the way one can educate, through human values, that do not aim only at information, but also at contributions to have such education working as a treasure to be discovered by everyone. Along this path, the said Pillars of Education provided four different ways to carry out this development always targeting the improvement in quality of life. In addition to that, one is expected to notice that Physical Education and Game teaching may influence this context working with a powerful and wonderful tool: the playing itself. Sailing through this array of information, one gets to the Cooperative Games, where the paper intends to show the role they play as inexorable source of alternatives, all of them targeting the development of way to cooperate and live together, essential and critical to he construction of a better world for each and every one of us. Closing this study, a report is proposed, one that has been used for years now and that for sure will contribute to the teaching-learning process, giving people the opportunity to continue treading on this path not afraid of failing or even trying but rather, finding themselves happier, more loving and pleased with their living together experience and, from that moment on, playing with each other instead of against.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12 1 Justificativa ........................................................................................................ 16 2 Metodologia ....................................................................................................... 16 2.1 Objetivo geral .............................................................................................. 16 2.2 Objetivos específicos........................................................................................... 16 2.3 Método ........................................................................................................ 17 2.4 Participantes do estudo ............................................................................... 18 CAPÍTULO 1: EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA ................................................................ 20 CAPÍTULO 2: PILARES DA EDUCAÇÃO ............................................................................ 24 2.1 Valores humanos......................................................................................... 28 2.1.1 O que são e quais os valores humanos ............................................. 28 CAPÍTULO 3: EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGO ....................................................................... 33 3.1 Histórico da Educação Física no Brasil ....................................................... 33 3.1.1 Educação física nos dias de hoje ....................................................... 36 3.2 O jogo .......................................................................................................... 38 3.2.1 O jogo: elemento educacional ............................................................ 42 CAPÍTULO 4: JOGOS COOPERATIVOS ............................................................................ 47 4.1 Origem e Evolução ...................................................................................... 48 4.2 Retrospectiva histórica ................................................................................ 50 4.3 Jogos cooperativos no mundo ocidental ..................................................... 51 4.4 Jogos cooperativos no Brasil ....................................................................... 52 4.5 Conceito e características ........................................................................... 56 4.6 Atitudes dos jogos cooperativos .................................................................. 59 4.7 Categorias dos jogos cooperativos.............................................................. 61 CAPÍTULO 5: RELATO DA EXPERIÊNCIA ......................................................................... 65
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................82 ANEXO........................................................................................................................88 Anexo 1: Comentários dos professores que participaram das Oficinas .............88 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................92
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INTRODUÇÃO
Para voltar a abrir o coração é preciso enxergar como uma nova visão. (Parafraseado de trecho de música de Almir Sater)
O
tema como assunto gerador desta dissertação foi escolhido na possibilidade de intervenção na aprendizagem das pessoas, como uma nova alternativa no processo, de conviver juntas, lado a lado, seja na
família, escola, profissão ou na sociedade. Ao focalizar este estudo, podemos observar ações muito significativas pelo mundo e no Brasil, onde, embora seja um pouco mais conhecido, ainda é muito recente na investigação acadêmica. Dada à natureza da experiência do pesquisador em atividades, estaremos entrelaçando os Jogos Cooperativos na discussão dos Pilares da Educação para o século XXI. Dessa relação, pretendemos mostrar que a vivência, por meio do jogo, pode oferecer caminhos para um educar voltado em capacidades gerar uma verdadeira autonomia. Para tal, a convivência é uma condição importante da vida cotidiana, relação essa que, na medida em que buscamos a melhoria da qualidade interpessoal e intrapessoal, podemos desenvolver e aperfeiçoar competências na perspectiva de viver juntos. A nosso ver, existem dois grandes desafios para o sucesso dessa convivência. Um deles é resgatar, cultivar e aperfeiçoar o prazer do jogo na sua melhor forma, que é o de brincar, unindo corpo e mente como um só. O outro é revermos nossos processos de ensino/aprendizagem voltados para o tecnicismo 1 para transmitir conhecimentos, conteúdos e teorias.
1
Utilização fundamentada com uso de técnicas.
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Segundo Imbernón (2000, p.79), “nosso meio educativo foi sendo construído num discurso, mais simbólico do que real, já que a realidade proporcionou um aumento do tecnicismo”. Nesse sentido, reconhecemos que a educação para o século XXI deva ser fundamentada em uma pedagogia transdisciplinar (apontada no relatório para a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e integrada com os Pilares da Educação, que são baseados em quatro princípios (Delours, 1999, p.90): Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a ser; Aprender a viver juntos, a viver com os outros. Nessa educação, a aprendizagem não está baseada sobre o objeto a ser conhecido, nem no resultado apenas, mas sim sobre a possibilidade de desenvolvimento do ser crítico e consciente num processo de descoberta e transformação de experiências vividas. Desta visão, inserimos no contexto o jogo, como abordagem capaz de promover oportunidades, em que o prazer de brincar possa contribuir com o processo de ensino/aprendizagem. Buscaremos este envolvimento por meio de uma visão um pouco diferente da que estamos acostumados a ver quando o jogo é realizado, de maneira que possamos expressar autêntica e espontaneamente a importância essencial de ser o que somos e valorizarmos o que fazemos. Dessa forma, podemos mostrar o valor do jogo e da convivência na oportunidade de transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, e para aperfeiçoarmos nossas vidas em comunidade, promovendo o encontro ao invés do confronto. O principal objetivo deste estudo foi propor o desenvolvimento dos Jogos Cooperativos integrado aos Pilares da Educação, objetivando ampliar o desenvolvimento do
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exercício da convivência e possibilitar uma aprendizagem voltada aos valores humanos, na intenção de promover uma autonomia de cada ser. Existem outros propósitos que também foram analisados neste trabalho, tais como:
Resgatar o jogo como instrumento educacional;
Desenvolver atitudes e comportamentos mais cooperativos;
Contribuir e incentivar práticas para melhoria da vida.
O problema que motivou a pesquisa foi a necessidade de discutir, por meio de vivências, ações, atitudes e comportamentos, que existem novas alternativas para contribuir com os processos educacionais no exercício da convivência, convivência esta que habitualmente acaba gerando uma grande competitividade, pois todas acabam sendo condicionadas pela sociedade a serem as primeiras e, se não bastasse, as melhores. A intenção, portanto, é de que haja harmonia nesta convivência. Portanto, o desafio que continua ainda existindo é o de, mesmo que uma pessoa tenha vivenciado uma atividade cooperativa, é o de continuar livremente o exercício da convivência e da cooperação no dia-a-dia junto com outras pessoas. A metodologia empregada nesta dissertação foi baseada na pesquisa teórica, realizada por meio do estudo descritivo e exploratório, tendo como instrumento básico, uma abordagem qualitativa, associada a uma experiência observacional de pessoas, grupos e instituições. Visando o desenvolvimento do trabalho, estabelecemos, segundo Paes 2, um plano de redação, prevendo cinco capítulos, precedidos da Introdução. No Capítulo 1 – Educação para Convivência, apresentamos material para uma análise sobre as alternativas que podem recuperar e modificar as ações educativas para melhoria da educação, com propostas voltadas ao aprender, em que a educação acaba tornando-se um tesouro a ser descoberto e difundido no ensino a serviço de uma qualidade que contribua para o crescimento mundial de uma cultura de paz.
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No Capítulo 2 – Pilares da Educação, apresentamos os dados baseados nos quatros princípios que podemos utilizar como forma de ensino/aprendizagem, em que a educação deixa de ser um mero instrumento de armazenamento de informações, passando a buscar no aprender a exploração do potencial criativo dentro de cada um de nós, juntamente com os valores humanos que ampliam a capacidade de percepção do ser com uma consciência voltada ao pensamento e aos sentimentos da condição humana. No Capítulo 3 – Educação Física e Jogo, trazemos para a discussão a Educação Física do passado e dos dias de hoje e o seu desenvolvimento na aprendizagem do jogo, procurando abordar de forma bem simples sua etimologia, demonstrando que ela é um instrumento para a educação. No Capítulo 4 – Jogos Cooperativos, discorremos, numa ordem cronológica, sobre a sua origem no mundo e no Brasil, seus conceitos por diversos autores, suas fascinantes atitudes no jeito de jogar e suas categorias e como podemos começar a utilizar o jogo de forma cooperativa. No Capítulo 5 – Relato de Experiência, demonstramos como utilizamos, numa seqüência, algumas atividades desenvolvidas com diversos grupos com os quais compartilhamos, que chamamos de capacitações ou workshops, com muitos parceiros, pessoas e instituições, por meio do exercício dos Jogos Cooperativos na escola, na comunidade, em empresas e nos processos de capacitações.
2
PAES, Roberto Rodrigues, Professor Doutor: Diretor da Educação Física da UNICAMP.
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1
JUSTIFICATIVA
Neste estudo, procuraremos apresentar uma provocante e instigante contribuição dos Jogos Cooperativos como discussão dentro das abordagens dos Pilares da Educação. Neste contexto do aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos, destacamos a contribuição dos Jogos Cooperativos, na possibilidade de propor um caminho e promover o exercício da convivência e da cooperação por meio de jogos, os quais facilitadores no processo de construção de atitudes e comportamentos dos envolvidos. A relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação tem, como intenção, no nosso ponto de análise, desenvolver o ser humano na capacidade de ter autonomia para expressar seus conhecimentos e unificar essas informações a serviço da prática e da teoria, em que a aprendizagem da convivência possa expressar e construir uma identidade para que cada um possa viver no meio em que compartilha com os outros.
2
METODOLOGIA
2.1 Objetivo Geral Discutir a relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação na perspectiva da convivência.
2.2 Objetivos Específicos 2.2.1 Comentar sobre a Educação Física e o perfil do jogo; 2.2.2 Estabelecer a relação entre os Jogos Cooperativos e os Pilares da Educação; 2.2.3 Apresentar um relato de experiência com os Jogos Cooperativos.
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2.3 Método Utilizou-se nesta pesquisa, para tratar o tema desta dissertação, a pesquisa teórica, realizada por meio do estudo descritivo e exploratório. Esta abordagem qualitativa está associada a uma experiência observacional de pessoas e instituições na vivência dos Jogos Cooperativos. Segundo Triviños (1987), quando se realiza uma pesquisa teórica na área educacional o investigador apóia-se num conjunto de conceitos, que de alguma maneira estará iluminando uma parte da realidade para arriscar-se e poder errar para apresentar uma nova visão.
Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, de acordo com a visão de Bogdan e Biklen, apresentada em dois estudos: Lüdke & André (1986) e Triviños (1997). Esta visão consta de cinco características básicas para a configuração de um estudo qualitativo, não importando a ordem como elas são colocadas, que são: 1. Ter o ambiente natural como ordem direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; 2. Ser descritiva; 3. Ter como preocupação essencial o sentido que as pessoas dão às coisas e à sua vida; 4. Utilizar o enfoque indutivo na investigação de seus dados; 5. Preocupar-se com o processo e não unicamente com os efeitos e resultados. Para sua caracterização, esta pesquisa é do tipo exploratória, pelo fato de ter como principal finalidade desenvolver, esclarecer e alterar conceitos, idéias, regras, para formulação de abordagens mais condizentes com o desenvolvimento de estudos posteriores. É também descritiva no instante em que o pesquisador procura explorar a realidade como ela é, sem se preocupar em modificá-la. Procura descobrir, com a precisão possível, a sua relação e conexão com os aspectos do comportamento humano, tanto no indivíduo tomado isoladamente como em grupos e comunidades.
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Ela desenvolve-se numa abordagem das ciências humanas, em que aqueles dados e problemas merecem ser estudados e cujo registro não consta em documentos.
2.4 Participantes do Estudo Para o relato desta experiência, realizamos as oficinas que dinamizamos durante três anos de encontros com educadores e educandos, totalizando 2.480 diretores, coordenadores e professores do ensino infantil, ensino médio e ensino fundamental de escolas particulares e públicas, identificadas no Estado de São Paulo e em outras (cidades do país) localidades dentre eles 250 professores de Educação Física, além de 702 estudantes dos terceiros e quartos anos dos cursos de Pedagogia, Turismo e Educação Física de universidades particulares. As tabelas a seguir demonstram esse estudo:
Tabela 1
ANO 1999 NÚMERO LOCAL
DE
QUEM SÃO
PESSOAS Universidade Mackenzie São Paulo (SP)
112
Estudantes de Pedagogia
Universidade Metropolitana de Santos (SP)
80
Estudantes de Educação Física
Universidade Monte Serrat (SP)
60
Estudantes de Pedagogia
Faculdades Santana São Paulo (SP)
100
Estudantes de Educação Física
150
Estudantes de Educação Física
100
Professores de Ensino Infantil
Faculdade de Educação Física de Santo André (SP) Prefeitura Municipal de Praia Grande (SP)
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Tabela 2
ANO 2000 NÚMERO LOCAL
DE PESSOAS
QUEM SÃO
Universidade Monte Serrat (SP)
100
Estudantes de Turismo
Universidade de Ribeirão Preto (SP)
100
Estudantes de Pedagogia
200
Professores do Ensino Infantil e Fundamental
Prefeitura Municipal Juquetibá (SP)
150
Professores do Ensino Médio e Fundamental
Prefeitura Municipal de Amparo (SP)
150
Professores do Ensino Infantil
Prefeitura Municipal de Araraquara (SP)
250
Professores do Ensino Médio e Fundamental
Prefeitura Municipal de Santos (SP)
100
Professores de Educação Física
Fundação Orsa / Porto Seguro (BA)
150
Professores do Ensino Infantil
Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes (SP)
Tabela 3
ANO 2001 NÚMERO LOCAL
DE PESSOAS
QUEM SÃO Diretores, Coordenadores e Professores do
Prefeitura Municipal de Caraguatatuba (SP)
800
Prefeitura Municipal de Leme (SP)
150
Professores de Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Piedade (SP)
100
Professores de Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Capão Bonito (SP)
150
Professores de Educação Física
Prefeitura Municipal de Maceió (AL)
100
Professores do Ensino Médio
Prefeitura Municipal de Quipapá (PE)
80
Professores do Ensino Médio
Ensino Infantil, Médio e Fundamental
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CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA
A missão da educação é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver juntos, e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre. (Edgar Morin, 2001)
N
este momento em que iniciamos o século XXI, devemos parar e fazer uma reflexão sobre os meios educativos, assim como sobre a educação do futuro.
Estamos vivendo em uma constante contradição: assumimos como princípios universais à igualdade entre as pessoas, a cooperação entre os povos, a construção de um mundo de paz e solidariedade e a convivência pacífica de todos, mas na verdade participamos de uma sociedade em que o ter está sendo convertido no argumento para globalizar tudo, sobre todas as coisas. Este efeito pode estar sendo causado pela falta de visão clara nesta globalização acelerada, conjugada com a consciência cada vez maior das diferenças existentes no mundo e das múltiplas tensões que resultam entre o local e o global. Então chegamos a uma grande pergunta: como aprender a viver juntos nesta “aldeia global” se não somos capazes de viver nas comunidades a que pertencemos – nação, região, cidade, grupo? Segundo o relatório da Comissão Internacional da para a UNESCO (Delours, 1999), existem fatos que podem contribuir para um melhor desenvolvimento da compreensão mútua entre os povos:
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Tensão entre o global e o local: tornar-se pouco a pouco, cidadão do mundo sem perder suas raízes, participando na vida de seu país e das comunidades de base; Tensão entre o universal e o singular: com o crescimento da mundialização da cultura, cada indivíduo tem vocação e destino para realizar todas as suas potencialidades, mantendo sua riqueza em suas tradições. Tensão entre a tradição e a modernidade: construir a sua autonomia com liberdade e com a evolução das novas tecnologias da informação, adaptando, sem negar a si mesmo. Tensão entre as soluções a curto e longo prazo: num contexto, em que o excesso de informações leva a resultados imediatos, as respostas e soluções geram problemas certos quando necessitam de uma estratégia paciente. Tensão entre a competição e a igualdade de oportunidades: a pressão da competição faz com que muitos esqueçam a missão de dar a cada ser humano os meios de poder realizar e atualizar o conceito de educação de modo que a competição estimule um processo sadio, a cooperação reforce as pessoas e a solidariedade una todos. Para que estas modificações tradicionais da existência humana se concretizem, ressalte-se o dever de compreender melhor o outro, de compreender melhor o mundo. Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo conhecimento acerca dos outros, da sua história, tradições e espiritualidade. Sem dúvida, esta aprendizagem representa, hoje em dia, um dos maiores desafios da educação. Esta tarefa é árdua porque, muito naturalmente, os seres humanos têm a tendência de supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. Nossa sociedade, segundo Orlick (1989, p.13), “vem produzindo um tipo de ambiente com um senso de valores distorcidos, onde os potenciais para a destruição humana e para a corrupção são fortalecidos e os valores humanos perdidos”. Nesse sentido é que devemos reformular valores e comportamentos, podendo aprender a ser mais humanos, mais justos, mais honestos.
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Para nós, adultos, que vivemos construindo fronteiras – reforço do ego, do ter, do poder –, necessitamos de um tempo de passagem, passagem esta de uma fase do viver abrindo-se para um novo poder – o poder da coragem da falar em cooperação, de agir de forma solidária e de ensinar a compartilhar e compreender nossas necessidades. Para tal, a educação tem por missão propiciar a descoberta do outro na diversidade da espécie humana, levando as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos. Uma nova forma para identificação nasce dos projetos que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças, transformando, por meio da experiência e do prazer do esforço comum, a cooperação e a solidariedade. Segundo Alarcão (2001), para uma profunda mudança ideológica, cultural, social e profissional, aponta-se a educação como o cerne do desenvolvimento da pessoa humana e da sua vivência na sociedade. Dessa afirmação, acreditamos que novos ventos soprem em nós, acordando-nos para a necessidade de viver e sentir coletivamente, aprendendo a compartilhar experiências e afetividades, a reformular valores, pontos de vista e a forma de abordar questões essenciais. A experiência do compartilhar leva à consciência de que somos interligados uns aos outros, às outras espécies e a todo universo, e é pelos laços invisíveis do afeto vivenciado na simplicidade do cotidiano que somos capazes de reinventar o viver, abrindo uma dimensão coletiva, verdadeira e unificada. Nessa aprendizagem, a educação tem a função de preparar na autoformação do cidadão; não pode ficar pensando apenas com o tempo de preparação para a vida. Segundo Morin (2001), o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo de uma
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espécie de polaridade de espírito por toda a vida, mostrando que ensinar é viver em transformação consigo próprio e com os outros. Portanto, para existir esse eu em cada indivíduo, é necessário que se conheça a si próprio, convivendo no meio com outras pessoas, para que possa questionar a si mesmo, sendo capaz de aprender, de recusar e de obter a autonomia. Para termos alegria, espontaneidade, liberdade de expressão e prazer de brincar, necessitamos reconstruir e recriar nossas atitudes e comportamentos. Gostaríamos, pois, de propor alguns meios e modos para atingir essas condições: Incentivar o espírito de cooperação como uma nova alternativa de ser e estar com ou outros; Conduzir ao caminho do autoconhecimento mediante a indagação de quem sou eu nesse mundo de nós; Facilitar uma aprendizagem em valores humanos para a convivência de uma fascinante aventura unificada pela celebração de todos nós; Vivenciar o compartilhar como pilar de sustentação da valorização da vida; Despertar a consciência para encontrar o desconhecido no outro; Desenvolver e resgatar o tocar do interior de cada um, construindo formas de convivência interpessoal. A construção dessa educação, na verdade, está presente no interior de todos nós; o que precisamos é despertar nossas mentes para serem mais flexíveis, tornarmos nossas emoções mais favoráveis para que não haja impedimentos na nossa prática profissional e vida pessoal. Essas transformações iniciadas por nós e depois com outros nunca mais cessam. São comportas de fonte da vida, onde viver passa a ser a grande busca. Isto é religar o ser à sua essência. Pensamos que a educação, fundamentada na convivência, seja capaz de manifestar uma fonte interior que partilhe nossos pensamentos, nossas ações e atitudes numa força mais poderosa do universo – aquela que mantém a estrutura do conviver em cooperação.
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CAPÍTULO 2 PILARES DA EDUCAÇÃO
Quando tentamos fomentar o conhecimento e a inteligência humana, sempre sentimos a resistência da época, como a de um peso que temos de levantar e que fica preso no chão, opondo-se a qualquer alteração. Então, devemos consolar-nos com a certeza de termos a verdade conosco, e que, assim que seu aliado, o tempo, se juntar a ela, esta estará totalmente segura da vitória, se não hoje, como certeza amanhã. (Arthur Schopenhauer)
O
conceito de educação ao longo de toda a vida aparece como uma das chaves de acesso ao século XXI. Ultrapassa a distinção tradicional entre educação inicial e educação permanente.
Para tal, a educação deve, antes de tudo, fazer com que as pessoas pensem, sintam, vivam, ajam e interajam, colaborando entre si. Segundo Alarcão (2001, p.41), “é preciso desenvolver uma educação mais reflexiva e humana, que realmente possibilite a aquisição e a construção de uma mentalidade baseada em valores do espírito, do conhecimento, da informação e da vivência”. De fato, acreditamos que o primordial é que estejamos constantemente refletindo sobre as situações de ensino presentes na prática, para que possamos refletir e estabelecer novos caminhos, recriando novas alternativas. Nesse sentido, atuar em educação é, antes de tudo, uma jornada ao longo de um conjunto de respostas com suas missões organizadas em torno dos quatro Pilares da Educação, apontadas pelo relatório para a UNESCO (Delours, 1999), no sentido de mostrar
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como o jogo pode se transformar em instrumento que facilite a implementação dos Pilares da Educação. Discutiremos neste trabalho a ação dos Jogos Cooperativos como contribuição para a concretização desses pilares: Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda vida. Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. Aprender a viver juntos, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências, realizando projetos e preparando-se para gerir conflitos e no respeito pelos valores humanos, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. (Delours, 1999, p.101-2) Perrenoud (2001), na sua profissionalização de educador que domina as habilidades do ofício, revela a competência prática no âmbito do ensino por um processo de racionalização dos conhecimentos apresentados e por práticas eficazes em determinadas situações, onde sua prática é contextualizada e esses conhecimentos passam a ser processados por todos. A seguir, como análise, procuraremos mostrar uma visão das competências em relação aos Pilares da Educação:
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Aprender a conhecer: é preciso interagir para construir e confrontar elementos de transferência sobre a prática e a vivência. Aprender a fazer: é enfrentar progressivamente a complexidade dos gestos do ofício, conduzindo o aprendizado para uma reflexão sobre as práticas e suas vivências. Aprender a viver juntos: é trabalhar em equipe, unindo competências a convicções de que a cooperação é um valor necessário para uma ampla autonomia. Aprender a ser: desenvolver seu eu profissional, tomando consciência de seu estilo pessoal, dinamizando a reflexão. Como podemos verificar, a educação, por meio de seus educadores, também precisa mudar para acompanhar tal evolução e cumprir sua missão de forma eficaz, em que cada vez mais saberes sejam bases das competências do futuro. A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes, pois, saber fazer melhor, adaptado ao momento atual do tempo, é a base da competência do futuro. Diferenciar o ensino é fazer com que cada aprendiz vivencie, tão freqüentemente quanto possível, situações fecundas de aprendizagem (Perrenoud, 2001). Gostaríamos de apresentar um esquema em que mostramos uma comparação entre os Pilares da Educação e os caminhos essenciais do ser humano, nos quais propomos o Jogo da Transformação:
Figura 1: Jogo da Transformação Caminho do coração (eu sinto)
aprender a ser
Caminho dos mistérios (eu busco)
aprender a conhecer
Caminho dos prazeres (eu desejo)
aprender a fazer
Caminho dos desafios (eu luto)
aprender a viver juntos
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Posicionaríamos os Jogos Cooperativos junto com o esquema anterior, na relação do “Jogo da Transformação”, em que, para “VENSER” (VIR A SER), precisamos buscar no sentimento o desenvolvimento total da pessoa em seu espírito e corpo, dando liberdade, autonomia e criatividade para torná-la dona do seu próprio destino. Aprender a conhecer supõe, antes de tudo, aprender a aprender, exercitando os diferentes saberes sobre diversos aspectos, favorecendo o despertar intelectual e estimulando o sentido crítico que gera a capacidade de discernir. O aprender a fazer representa o desejo quanto à questão da formação profissional de como ensinar e pôr em prática os seus conhecimentos, não pelo simples fato de transmissão, mas sim como construção do conhecimento. Por último, lutar contra seus demônios internos numa educação capaz de evitar os conflitos ou de resolvê-los de maneira pacífica e compartilhando o “viver juntos” com todos os indivíduos que se encontram no seu trabalho, na sua família e com seus amigos. [...] O homem limitado e restrito do século XX e que gloriosamente substituímos pela ciência do nascer do século XXI, para um novo homem, múltiplo, holístico, ilimitado na capacidade de expansão do seu cérebro, alguém que, se quiser, tem muito pouco a perder e todo um futuro a ganhar. (Antunes, 1998, p.36-7)
A educação ao longo de toda a vida é uma construção contínua de pessoa humana, do seu saber e das suas aptidões e também da sua capacidade de discernir e agir. Deve levá-la a tomar consciência de si própria e do meio que a envolve e a desempenhar o papel social que lhe cabe no mundo. O saber, o saber-fazer, o saber conviver juntos e o saber-ser constituem quatro aspectos, intimamente ligados, de uma realidade de experiência vivida e assinalada por momentos de compreensão e criação pessoal. Junta-se o conhecimento não formal ao conhecimento formal, o desenvolvimento de aptidões inatas à aquisição de novas competências para educarmos e formamos cidadãos capazes, autônomos e críticos, trazendo para eles o benefício de uma formação concebida para
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satisfazer suas necessidades fundamentais para o conviver, bem como adquirindo e assimilando os valores que proporcionarão esta condição. Tais necessidades compreendem tanto os instrumentos de aprendizagem essenciais (leitura, escrita, cálculo, expressão oral e resolução de problemas) como conteúdos educativos (atitudes, conceitos e valores) dos quais o ser humano tem necessidade para viver em sociedade, trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorando a qualidade de sua existência, tomando decisões de forma esclarecida e continuar aprendendo.
2.1 Valores Humanos
Valoração é assumir uma vida e um processo de vivência imbuídos de valores humanos que levam a refletir sobre as contradições existenciais e a buscar abordagens para superá-las, podendo assim conscientizar e praticar uma concepção harmônica de vida. A idéia aqui representada é viver valores universais por meio de uma atitude humana que provém do coração.
2.1.1 O que são e quais são os Valores Humanos Valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores que estão em nosso ser profundo, ainda que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva moral e espiritual reconhecida da condição humana para conviver no dia-a-dia. Os valores promovem a verdadeira prosperidade do homem, da nação e do mundo.
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Sathya Sai Baba, o mais importante líder espiritual da Índia, ao criar um programa de valores humanos com integração criteriosa de filosofia e técnicas educacionais, dividiu-os em valores humanos absolutos e aspectos da personalidade.
Verdade – Aspecto Intelectual A verdade é o princípio da vida. É também eterna e imutável; o que muda é a nossa condição e capacidade de nos aproximar dela e experimentá-la. A verdade é um valor humano porque só a espécie humana pode encontrá-la e vivenciá-la; ela dirige a conduta do homem autêntico; é o que dá significado e dignidade à vida. Ser verdadeiro é uma conquista da mente pela reta intenção de auto-realização. A verdade relativa é aquela que se percebe por meio dos sentidos físicos, e é representada pelo que se vê, se sente e sobre o qual se emite julgamento. Portanto, ela é variável de acordo com as experiências vividas por cada indivíduo.
Ação Correta – Aspecto Físico O aspecto físico é o veículo da ação que permite a manifestação concreta da consciência. A nossa personalidade assume papéis, e assim enfrenta forças opostas e conflitantes ao viver a natureza sensorial. A ação correta surge do aprimoramento do caráter pela contínua busca em si mesmo. Na ação correta, está a conexão com a consciência, a sintonia cósmica e a vitória. Agir corretamente é ouvir a voz interna que contribui para o crescimento da criatividade e do talento em busca do autoconhecimento e do bem-comum. É um valor humano, porque só o homem pode moldar e escolher o próprio comportamento.
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Amor – Aspecto Psíquico O amor é a energia de unidade e transformação. Vivemos num universo, o qual, entre os pares de opostos, é a relatividade; o amor é o impulso de integração. O amor é a energia que abastece a psique, a alma, e essa plenitude reflete-se nos nossos pensamentos, nas palavras e ações. É privilégio e conquista da condição humana a faculdade de amar incondicionalmente. Podemos transpor a autopreservação e o sentido de posse, bem como vencer os limites de aversões e preferências pelo exercício do amor. Unir as centelhas para formar uma enorme fonte de luz, tornando-se feliz e fazendo felizes seus semelhantes e viver em sintonia com o cosmos são tarefas inerentes ao homem. O amor revela nosso ser profundo, sagrado, transcendental e sublime.
Paz – Aspecto Mental A paz é a base da felicidade humana. Na experiência da paz é que se processam as transformações profundas da nossa personalidade. A interiorização gera a alquimia que modifica a vibração energética e aprimora a consciência. Na mente, nascem as idéias, os pensamentos tomam forma e os desejos tornam-se emoções. O repouso mental é tão importante quanto o repouso físico; a meditação tem por finalidade permitir que nossa mente obedeça a nossa vontade para esvaziar o falso ego. A paz é um valor humano, porque só a espécie humana pode domar as paixões e tendências inferiores, redirecionar sua vida e adquirir eqüanimidade e bem-aventurança.
Não-Violência – Aspecto Espiritual É a mais elevada conquista da personalidade humana. O ser humano que conquistou a si mesmo é manso de coração, capaz de ferir algo ou alguém, por pensamentos, palavras ou
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atitudes. Respeitar as leis naturais, os seres e coisas com humildade e sabedoria é vivenciar a não-violência como valor absoluto. É a finalidade, a meta do desenvolvimento da consciência, a perfeição humana. A vitória do espírito sem a natureza inferior é refletida na não-violência. A seguir, as metas a serem alcançadas em valores humanos: Conduzir ao caminho do autoconhecimento e auto-realização por meio do desenvolvimento integral da personalidade e da espiritualidade; Fomentar o espírito de equipe, a criatividade, a convivência e o amor pelos homens e pela natureza; Cultivar os valores humanos e espirituais, a compreensão do homem como ser cósmico; Despertar a consciência de que as lideranças corretas serão os moldes da sociedade futura; Vivenciar o amor como pilar da fraternidade humana e a paz como valorização da vida. O nosso bem-estar e a nossa prosperidade estão ligados ao bem-estar e prosperidade de todos. Somos parte de um todo, de uma comunidade que precisa estar em harmonia e cooperar. Assim, é importante respeitar o espaço comum, o conviver, o saber desenvolver os valores para melhoria da qualidade de vida. Quando nós melhorarmos tudo o que fazemos, isso adquire dimensões mais elevadas. Devemos parar de investir apenas no comportamento técnico, pois isto afasta o homem da alegria de viver, de criar e, por isso, emperra a percepção de poder do ser. Se quisermos um mundo melhor, temos de nos tornar melhores; se melhorarmos nossos sentimentos e atitudes, estaremos mais dispostos a cooperar. Partimos do princípio que precisamos acreditar e experimentar uma nova aprendizagem, em que nós, educadores, sejamos capazes de transmitir mais do que somente conhecimentos de cada disciplina, aproximando o professor, aluno, família, amigo uns dos
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outros, formando uma grande corrente de amor, para que possamos assim buscar, segundo Brotto (1999, p.16), Na diversidade, a unidade; Na divergência, a convergência; No caos, o cosmos; A parte no todo; No adversário, o solidário; Ser no interser; O impossível no possível. É nesta relação entre o jogo, valores e pilares que propomos discutir um trabalho de transdisciplinaridade entre preceito e prática (fazer), conhecimento e ação (conhecer), valores e virtudes (ser) e a entrar no território de outra pessoa (conviver), por meio dos Jogos Cooperativos. Acreditamos que, ao aproximarmos os valores humanos ao cotidiano da aprendizagem real, poderemos desenvolver novas habilidades, e com a prática dos Jogos Cooperativos, adquirir vivências que fortaleçam o desenvolvimento e aperfeiçoamento do ser humano e, com esta transição natural, poderemos discutir os verdadeiros componentes que estão sendo sugeridos pela UNESCO por meio dos Pilares da Educação.
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CAPÍTULO 3 EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGO
Existem três tipos de pessoas: as que fazem as coisas acontecerem; as que assistem as coisas acontecerem e as que nem querem saber o que está acontecendo. Em qual dessas pessoas você se encaixa? (Autor Anônimo)
E
ste capítulo tem por finalidade estabelecer uma relação entre a Educação Física e o Jogo e mostrar que ambos têm íntima relação e são considerados elementos educacionais que têm como responsabilidade a formação
cultural, social e psicológica do indivíduo.
3.1 Histórico da Educação Física no Brasil
Faremos um breve histórico da Educação Física no Brasil, na tentativa de compreender o seu desenvolvimento. Recorreremos a alguns autores como Soares (1994), Castellani (1991) e Barbosa3 (citado por Soares, 1994) para apoiar este relato. Antes da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em vários momentos a história da Educação Física se confunde com as instituições médicas e militares que se fixavam no estigma da mecanização e adestramento do corpo, em os modelos de corpo sadio-higienizado e soldado-militarizado prevaleciam ao longo desta história.
3
BARBOSA, Rui. Obras completas. 1942, v.9, t.1.
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Como veremos, a Educação Física tinha como dever primário contribuir para a existência humana de um indivíduo forte, robusto, saudável e disciplinado que, por meio da ginástica, pudesse gerar hábitos capazes de promover o exercício de músculos e do caráter do indivíduo. Para melhorar esta visão, Barbosa4 (citado por Soares, 1994) observa que “através da ginástica, além de ser o regime fundamental para a reconstituição de um povo, é ao mesmo tempo um exercício eminentemente moralizador, um gérmen de ordem e um vigoroso alimento da liberdade”. A história da Educação Física Brasileira tem seu início na época imperial. A partir daí, foram realizadas as primeiras incursões no campo da metodologia. Nesse período (séc. XIX), quando a Educação Física começou a ser implementada nas escolas, encontramos duas práticas, na época, consideradas como métodos: a ginástica de quarto e a ginástica alemã. A “ginástica de quarto”, muito difundida na Europa, possuía as seguintes características: utilizava exercícios simplificados e de efeitos localizados, preocupava-se com a saúde, não privilegiava a hipertrofia muscular; o corpo era o próprio aparelho para execução e necessitava de pouco espaço para sua prática. Achou boa acolhida nos ambientes escolares, pois vivíamos um tempo em que os professores de Educação Física usavam paletó e gravata e ministravam suas aulas dentro das salas. O império registra uma segunda influência, agora de origem especificamente alemã. Trata-se da chamada “ginástica alemã”, com suas raízes no trabalho de Jahn. Repercutiu nas escolas civis, por meio das Forças Armadas após a sua adoção oficial (1860) pelo Exército Brasileiro. Essa ginástica tinha um fundamento patriótico social e havia ficado resumida a movimentos acrobáticos. Foi largamente utilizada na região sul por causa da colonização germânica.
4
id., ibid., p.174.
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O início do nosso século marca a afirmação, em nosso país, da ginástica criada por Ling. Era chamada “ginástica sueca”. Extremamente nacional e científica, apoiava-se nos conhecimentos profundos de anatomia. Adotava movimentos com uma estrutura analítica e com aspecto de ordem e disciplina extremamente autoritárias. Este modelo popularizou-se bastante por todo país. A segunda década do século XX assinala a introdução do método francês, que foi a maior influência sofrida pela Educação Física Brasileira. Originário da escola de Joinville-lePont, foi trazido por militares franceses que vieram servir em missão militar enviada em nosso país. Adotado nas Forças Armadas, a sua obrigatoriedade foi estendida ao meio escolar civil. As maiores características são de ordem fisiológica. A aula tinha que ser dividida em três partes: sessão preparatória, sessão propriamente dita e volta à calma. A calistenia, citada por Rui Barbosa em fins do século XIX, deu-se a partir de 1947. Atendia prioritariamente a aspectos anatômicos e fisiológicos e o seu modelo dividia a aula em determinados segmentos do corpo. Apesar de ainda continuarmos insensíveis ao estudo de autênticas metodologias, a década de 50 representou um magnífico avanço da Educação Física escolar nacional. Isto se deveu, entre outras razões, à visita que recebemos de três professores estrangeiros pela ordem: Auguste Listello, Margareth Froelich e Gerhard Schimidt. Listello trouxe-nos a “educação física desportiva generalizada”, Froelich apresentounos a “ginástica moderna” conhecida como “ginástica feminina” e Schmidt trouxe a denominada “ginástica natural austríaca”. Nos anos 70, ocorreu o movimento conhecido como “ESPORTE PARA TODOS”, divulgando assim o futebol brasileiro que havia sido tri-campeão mundial . O período da década de 80 a 90 caracterizou-se por uma crise no setor educacional e por uma radical mudança de discursos e de referências conceituais na Educação Física.
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3.1.1 Educação Física nos Dias de Hoje Sabemos que existe atualmente um grande potencial educativo na atividade física, ainda desconhecido por alguns educadores, mas supomos que, assim como nós, muitos professores de Educação Física já ultrapassam a finalidade de executar apenas exercícios físicos, momentos de recreação e formar treinadores de equipes de competição, passando a ter como função as relações interpessoais e intrapessoais para integrar o indivíduo como um todo. As dimensões educativas realizadas por meio das aulas de Educação Física vão além da ênfase na aptidão física, para incluir também elementos culturais, sociais, políticos e afetivos. Dessa forma, a Educação Física passa a ter uma função pedagógico-social na realidade de cada aluno, fazendo com que este passe a deixar de pensar somente no corpo, integrando-o, agora, à mente. Nesse sentido, Santim5 (citado por Paes, 1996, p.34) comenta que “a Educação Física tornou-se uma atividade polivalente em função do atual momento vivido pela área em busca de sua própria identidade”. Acreditamos nesta enorme variedade de caminhos, e, portanto, o profissional de Educação Física poderá buscar novas alternativas para o seu desenvolvimento profissional e repensar na sua maneira de contribuir nesta nova fase por que passa a Educação Física. Nos dias de hoje, o Brasil passa por um momento especial na educação. Os Parâmetros Curriculares criados pelo MEC (Ministério da Educação e do Desporto), com a intenção de orientar os professores a terem em suas mãos um instrumento útil no apoio às discussões pedagógicas em sua escola, na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas, na reflexão sobre a prática e na análise do material didático, contribui para sua atualização profissional, posicionando um tratamento que condiz com sua real utilização no meio educacional.
5
SANTIM, S. Educação física: ética, estética, saúde. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1995.
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A Educação Física não se resume a um processo acumulativo de informações. Tais conhecimentos supõem vivências que instrumentalizem os cidadãos para usufruir a corporeidade no cotidiano, corporeidade esta que procura unir corpo e mente num só sistema. A tarefa principal do professor de Educação Física é proporcionar o instrumental necessário para aquisição de uma cultura corporal, não somente do ponto de vista biológico e da aptidão física, mas também pelo relacionamento com o âmbito lúdico da existência e cooperação de uma sociabilidade positiva. Para a consecução dessa tarefa, existe o professor de Educação Física, reconhecido e regulamentado pelo Conselho Federal de Educação Física – Lei n.º 9.696, de 1.º de setembro de 1998 (Brasil, 2001a), que ainda tem a prerrogativa de também ser um profissional de Saúde – Resolução 218, do Ministério da Saúde, de 6 de março de 1997 (Brasil, 2001b). O MEC passou a coordenar a construção e a implementação de uma nova política educacional com a finalidade de atender diretamente aos anseios e desejos da população. Com a ajuda dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e da nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), a Educação Física passa a ser uma educação comprometida com a cidadania e com a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Vale lembrar que nosso mundo está em constante e veloz transformação, e que a aprendizagem é um processo contínuo e inacabado, em que as competências e saberes devem ser transitórios e não guardados como um segredo único que deverá ser entregue a alguém especial. Cabe aos profissionais de hoje identificar, planejar, orientar, executar, avaliar, criar, transformar, divulgar características e necessidades das pessoas que estarão sendo seus alunos no desenvolvimento de sua profissão. Acima de tudo, deve-se buscar unir corpo e mente num só organismo, fortalecendo a cooperação e a convivência entre todos, gerando assim pessoas com autonomia para discernir
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e escolher qual o seu melhor caminho a seguir. Veremos no próximo item como o jogo tem sido utilizado pelos professores de Educação Física como uma ferramenta no processo de aprendizagem.
3.2 O Jogo
Gostaríamos de comentar sobre este tema – o jogo – tão complexo e extenso, que tem tanta importância e relevância e que exerce função lúdica, de aprendizado e tem, ainda, a possibilidade de ser um meio de construção do viver do indivíduo – jogando junto com outros, onde toda vida é um jogo da alma com as possibilidades de sua natureza. É neste contexto que hoje a maioria dos filósofos, sociólogos, etnólogos e antropólogos concordam em compreender o jogo como uma atividade que contém em si mesmo o objetivo de decifrar os enigmas da vida e de construir um momento de entusiasmo e prazer na vida. Segundo Antunes (1998,pg. 36), “o jogo ajuda a construir novas descobertas, desenvolve e enriquece a personalidade e simboliza a condição da aprendizagem”. Dentro desta vasta jornada, apoiamo-nos em autores como Huizinga (1996), Ruiz (1996), Brotto (1997), Friedmann (1996) e Antunes (1998) para entender melhor sobre o jogo. As atividades lúdicas, desde muitos séculos, integraram-se ao quotidiano das pessoas sob várias formas, sejam elas individuais, sejam coletivas, sempre obedecendo ao espírito e à necessidade cultural da época. E assim podemos evidenciar que, dentro das atividades de lazer vivenciadas pelo homem, o jogo toma um aspecto muito significativo no momento em que ele se desvincula de ser meio para atingir um fim qualquer.
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Segundo Huizinga (1996, p.3), “o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana na iniciação da atividade lúdica”. Podemos ainda dizer que o jogo ultrapassa os limites das atividades físicas e biológicas, transcendendo as necessidades imediatas da vida, conferindo sentido à ação. Desde muito cedo, o jogo entra na vida do ser humano, pois quando ele brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, por meio de esforços físicos e mentais, começa a ter sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz, dando assim real valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante. Ao jogar, apresentamos características de um ser completamente livre, motivado por uma necessidade intrínseca de realização pessoal, mas toda a finalidade que procuramos no momento em que brincamos está além de si mesma. Não se deve utilizar o jogo como meio de alcançar uma determinada satisfação, e sim, como conseqüência de sua interação com o próprio ato de jogar. Huizinga (1996, p.33), em sua obra Homo Ludens, expressa a noção do jogo como “uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana”. Vale comentar que a alegria é a finalidade do jogo. Quando esta finalidade é realmente atingida, em jogo alegre, e a estrutura do tempo no universo do jogo assume uma qualidade muito específica, ele torna-se eterno. Os jogos mudaram muito desde o começo dos tempos até os dias de hoje nos diferentes países e contextos sociais. Tomando como base os 24 estudos de Ruiz (1997, p.7), que centralizam a atividade lúdica, podemos considerar e definir que
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jogo é fonte de alegria e prazer; jogo constitui um fim em si mesmo; jogo é espontâneo e voluntário, livremente escolhido; jogo propicia aprendizagem; jogo é uma forma de expressão; jogo implica em participação ativa; jogo produz pontos de encontro; jogo constitui um mundo à parte. Concordamos com Ruiz (1996), mas gostaríamos de acrescentar, na seqüência anteriormente descrita, que o jogo, na maioria das vezes, integra vivências de alegria, prazer e êxtase emocional, assumindo assim as metas desejadas. Também é uma atividade que gera uma visão utilitária para cada um que o desfruta do seu modo. Nesse sentido, cada integrante joga sem imposições, caracterizando a possibilidade de alcançar a autonomia pessoal e social. Sua aprendizagem está presente na sua realização desde seus primeiros anos de vida, nos aspectos que desenvolvem o cognitivo e a motricidade, com a aquisição de atitudes e comportamentos sociais que o ajudarão na exploração social e afetiva. Sua forma de expressão deverá ser valorizada por meio da representação simbólica de sentimentos, preocupações e experiências que servem para estabelecer relações de construção do eu de cada um e os nós de todos. Sua participação transforma a pessoa que joga em um ator que, no aspecto social, gera uma interação como forma de alternativa para sair da rotina do sedentarismo. Além disso, jogando podemos constituir um modo de enfrentamos a realidade na participação dos modos que implicam na totalidade de trocas de vivências e experiências no processo de cada um. Com esta magia que é a atividade lúdica, o jogo perde-se num espaço de tempo que cada um desfruta em seus instantes, criando uma realidade diferente da “seriedade” da vida cotidiana.
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Como podemos verificar, o jogo é muito importante, não só porque ficamos alegres ou nos dá prazer, mas quando estamos vivendo-o, direta e profundamente, estamos indo além da sua representação simbólica de vida. Sustentamos, por isso, a idéia da aproximação do jogo à vida. Segundo Brotto (1999, p.16), “eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo”, ambos representando o reflexo um do outro. Acrescentamos a este complexo e extenso assunto do qual nos propusemos falar, a possibilidade de focalizar outras projeções do jogo, em suas diferentes dimensões, que, segundo Friedmann (1996, p.11) são: SOCIOLÓGICO: influência do contexto social no qual os diferentes grupos de crianças brincam. EDUCACIONAL: contribuição do jogo para a educação: no desenvolvimento da aprendizagem da criança. PSICOLÓGICO: o jogo como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos. ANTROPOLÓGICO:
a maneira como o jogo reflete, em cada sociedade, os
costumes e a história das diferentes culturas. FOLCLÓRICO: analisando o jogo como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, bem como as tradições e costumes através dos tempos nele refletidos. Como podemos ver, o jogo assume vários papéis no desenvolvimento da aprendizagem como forma de incentivo ao educar com valores humanos. Outro enfoque, ainda, é o das inteligências múltiplas. Gardner (1994) afirma que “as possibilidades contidas em cada tipo de inteligência não são apenas conteúdos a serem processados como outra informação qualquer, e sim, devem ser interagidos de forma integral, desenvolvendo cada uma delas nas situações existentes na vida”. Ao trabalhar com todas as inteligências, poderemos gerar um universo bem mais amplo e diversificado, principalmente se as integrarmos com outros enfoques apontados,
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resultando disso estímulos constantes e infinitos para cada pessoa. A seguir o jogo será enfatizado como forma de utilização no meio educacional.
3.2.1 O Jogo: Elemento Educacional Não são poucos os que utilizam a idéia de que o jogo pode ser um excelente recurso para a educação. Por meio do jogo, podemos adquirir um espaço para educar o indivíduo na sua totalidade, ou seja, utilizar os quatro Pilares da Educação para o século XXI como uma educação que possa interagir com o gosto pelo conhecimento, a competência para pôr em prática esse conhecimento, a capacidade de desenvolver seus talentos e potencialidades e a possibilidade de conviver em harmonia com todos. Para pensar o jogo como meio educacional, devemos situá-lo, a nosso ver, em dois eixos: qual o papel do jogo na educação e quem pode usá-lo da melhor forma? Dentro da escola, o jogo é um elemento de lazer e alegria do indivíduo; sua função é contribuir, junto com outras instâncias da vida social, para que estas interligações se efetivem. Nesse sentido, propomos ver algumas considerações sobre a escola como um contexto para a aprendizagem e sobre o jogo como um elemento pedagógico. Friedmann (1996, p.66) diz o que a escola deve poder fazer: Considerar as crianças como seres sociais e construtivos; Reconhecer as diferenças entre os mesmos; Propiciar às crianças um desenvolvimento integral e dinâmico; Instrumentalizar para que as crianças possam construir sua autonomia; Valorizar e considerar suas experiências anteriores. Como Friedmann (1996), acreditamos que a escola deva dar realmente caminhos para cada indivíduo que a freqüenta, de maneira a ver cada um, o seu passado, bem como considerar o que ela é atualmente. Não basta apenas teorizar as formas; precisamos colocar
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em prática as soluções ou quem sabe novas tentativas para podermos, por meio do jogo, chegar à formação e plenitude mental e corporal dos novos indivíduos. A aprendizagem, numa perspectiva de construção, mostra a intenção do jogo como instrumento educativo na formação pessoal entendida de maneira geral e que, segundo Ruiz (1997, p.7), tem seus aspectos voltados ao ensinar, respeitando quatro pontos sintetizados: Cada pessoa nasce dotada de algumas capacidades que lhe permite estabelecer uma interação com o meio; Para evoluir, o ser humano passa por um processo adaptativo de suas capacidades; A partir dessa adaptação o indivíduo assimila e acomoda-se; A aquisição dos conhecimentos será alcançada através de um processo ativo da construção pessoal com a interação que o rodeia. Partindo dessas considerações, podemos dizer que a aprendizagem é um processo ativo, e que, tomando como base as capacidades e aprendizagens do indivíduo, ajudam tanto o professor e seus amigos a construírem de forma progressiva a competência de serem autônomos. Para se atingir tal resultado, devemos antes de tudo avaliar constantemente a evolução do que está sendo proposto, com um cuidado no planejamento das atividades, pois o que interessa não é somente a quantidade de jogos mas também a qualidade feita pela execução de um tripé que, a nosso ver são: as formas de vivências dentro do jogo, suas paradas para que todos possam refletir e as mudanças que cada um queira fazer. Como vimos, por meio do jogo são estabelecidas possibilidades muito variadas para incentivar o desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões. Vejamos como Friedmann (1996), baseando-se nos estudos de Piaget6, apresenta algumas delas:
6
PIAJET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo, sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
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Desenvolvimento da linguagem: até adquirir a facilidade da linguagem, o jogo é o canal através do qual os pensamentos e sentimentos são comunicados pela criança. Desenvolvimento moral: é um processo de construção onde as regras do exterior são adotadas de forma voluntária, sem pressões. Construi-se a moral numa relação de confiança e respeito onde a cooperação leva à autonomia. Para chegar a esta forma, o fator essencial é o trabalho em grupo. Desenvolvimento cognitivo: o jogo dá acesso a um maior número de informações, onde ao jogar a criança consolida habilidades já adquiridas e as pode praticar, de modo diferente, diante de novas situações. Desenvolvimento afetivo: o jogo é uma janela da vida emocional das crianças. A oportunidade de a criança expressar seus afetos e emoções através do jogo só é possível num ambiente e espaço que facilitem a expressão. Desenvolvimento físico-motor: a exploração do corpo e do espaço leva a criança a se desenvolver. Piaget considera a ação psicomotora como a percussora do pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo, e afirma que a interação da criança em ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu meio é essencial para o desenvolvimento integral. Sendo assim, ao aceitarmos o jogo como uma atividade de desenvolvimento humano, assumimos o compromisso de recriá-lo constantemente, visando o exercício crítico e consciente, permitindo àquele que participa do jogo conhecer e experimentar, tanto já o existente, como o que ainda está para existir. Pensamos que na busca do fazer pedagógico, temos o jogo como peça para contextualizar as necessidades individuais de cada um, no qual esta aprendizagem deve ser processada num trabalho adaptativo para que esta aquisição de conhecimento deva servir na construção autônoma do cidadão. Acreditamos que as pessoas que mais usam o jogo são os professores de educação física nas diversas formas para sua utilização, utilização essa que chamamos de “ação educativa”, que será empregada no decorrer da vida de um indivíduo e no uso do
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conhecimento e controle de seu próprio corpo, descobrindo suas habilidades de maneiras distintas nas situações lúdicas da vida cotidiana. Ao se enquadrar a atividade lúdica no contexto educacional, o educador tem que ter seus objetivos bem claros, saber o comportamento do grupo e de cada um, qual o estágio de desenvolvimento, conhecer os valores, interesses e necessidades, bem como os conflitos e problemas. Friedmann (1996) considera como função do educador, levando em conta os objetivos definidos, as seguintes propostas: Fomentar o aspecto emocional no deslocamento da autonomia; Criar responsabilidade no cumprimento das regras, motivando soluções; Possibilitar a troca de informações com intuito de descentralizar e coordenar novos pontos de vista; Permitir julgar qual regra deverá ser aplicada; Propor regras e leis, sem impô-las onde os alunos exercitam valores morais, discutindo em grupos; Desenvolver ações físicas na motivação mental ativa das crianças. Partindo dessas propostas, a autora vê a atuação do educador em duas formas e atitudes a serem tomadas. Num jogo que seja espontâneo, que é livre pelo simples prazer de brincar, o educador é um mero observador atuando como mediador. No jogo dirigido, o educador adquire a função de orientador, intervindo e propondo desafios progressivos e promovendo o desenvolvimento da aprendizagem. Nesta última, professor e aluno vão construindo uma estrada de mão dupla entre o aprender e o fazer, em que, segundo Freire, João Batista (1997, p.117), “o jogo não representa apenas o vivido, também prepara o devir”. Contudo, acreditamos que o vivido deva ser respeitado pelo vir a ser com aspectos que integrem um modelo de aprendizagem que respeite a individualidade, o tempo da explicação cognitiva, motriz, afetiva e social, sendo que para esta forma o educador tenha condições e
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conhecimentos prévios, considerando e moldando a elaboração pessoal de cada um como um centro ativo do processo que gere oportunidades de valores em grupo, em que a atenção esteja voltada para a convivência.
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CAPÍTULO 4 JOGOS COOPERATIVOS
UM SÓ TIME Há alguns anos atrás, nas Olimpíadas Especiais de Seattle, nove participantes, todos com comprometimento mental ou físico, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse: “Pronto, agora vai sarar”. Todos os noves competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. (Relato de Flo Johnasen, jornalista esportivo do Wolf News, na cobertura das Olimpíadas Especiais. In: Informativo, 1999)
O
tema Jogos Cooperativos será desenvolvido numa experiência de vivência, na qual a aprendizagem do indivíduo será explorada de forma que possamos nos aproximar do jogo interior, aquele que jogamos com a
gente mesmo, num lugar sem definições, de um ponto onde, a partir da convivência e do lúdico, haja uma possibilidade de diferenciar a competição excessiva e condicionada como único e melhor caminho existente. Browmn (1994, p.27/39) cita os pensamentos de dois autores que complementam o nosso: “Agora me dou conta de que estamos falando de algo que é muito maior do que simples jogos.” (Alexis Miquelena). “Não há saber sem busca inquieta, sem aventura do risco de criar.” (Raúl Leis).
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4.1 Origem e Evolução
Nos noticiários das grandes Tvs (CNN, Globo, SBT, Bandeirantes), as notícias diárias são exposições aterradoras da desumanidade do homem com o próprio homem. Quase diariamente vemos guerras, bombas, assassinatos, seqüestros, raptos, matanças, assaltos, estupros e inúmeras outras crueldades. Com esse tipo de ambiente, produz-se um senso de valores distorcidos, em que a atrocidade cada vez mais é fortalecida junto com o aumento da corrupção nos vários segmentos da sociedade. Orlick (1989) estima que mais de 59 milhões de pessoas foram mortas em guerras ou crimes generalizados. No mundo inteiro, gasta-se mais de 7.800 dólares para treinar e equipar um soldado, mas somente 250 dólares são aplicados na Educação. Para tentar combater a cultura da violência, a falta das relações interpessoais, a valorização do indivíduo e a competição exageradas, que dão origem a comportamentos e atitudes que não visam o conviver e o compartilhar, propomos vivenciar um processo antigo: Os povos da idade da pedra, que sobreviviam em cantos remotos do mundo, geralmente eram seres humanos que viviam juntos, colhendo frutas e caçando, caracterizando-se pelo mínimo de agressividade e o máximo de cooperação e partilha dos seus bens. Orlick (1989, p.9)
Quando as pessoas se desenvolvem em meio a uma cooperação genuína, passam a gostar, a apreciar e a partilhar com as outras, sabendo que cada um tem um papel importante a desempenhar. No decorrer de nossos ensinamentos, temos sido preparados e condicionados aos resultados que podemos alcançar no placar da vida, resultado que coloca cada um de nós numa constante competição para ganhar sempre. A competição é geralmente considerada natural, hereditária, um instinto primitivo, essencial para a sobrevivência humana. Para apoiar estas falas, as pessoas freqüentemente se referem à sobrevivência do mais apto.
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Este conceito de sobrevivência do mais apto tem sido usado com abuso para justificar o princípio de que a força está no mais apto, forte ou melhor. Charles Darwin, em suas teorias da seleção natural, as quais foram mal interpretadas e deturpadas, afirma que “para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e na cooperação social e não na competição”. Quando as pessoas se desenvolvem em meio a uma cooperação genuína, passam a gostar, a apreciar e a partilhar com as outras, sabendo que cada um tem um papel importante a desempenhar. Segundo Brotto7 (1999, p.54), “às vezes imaginamos que ocupar o nosso lugar no mundo implica em tirar o lugar do outro e vice-versa. Mas, como no grande jardim da vida há espaço para todos, podemos nos divertir, trocando de lugar uns com os outros”. Sabemos que a maioria das pessoas, por desconhecimento, receio, preconceito ou até medo de tentar, apenas tentam conquistar seu lugar no jogo, cujo resultado esperado é apenas ganhar, eliminando o trocar de ritmo e ações pela alegria do estar junto. Pensando neste contexto, propomos vivenciar uma aprendizagem onde haja um processo permanente de revisão de valores e transformação de atitudes capazes de recuperar pessoas para viver em uma sociedade num exercício de “com-vivência”. Orlick (1989, p.17) comenta que “a maneira como se joga pode tornar o jogo mais importante do que imaginamos, pois significa nada menos que a maneira como estamos no mundo”. Este é o momento em que podemos aprender a ser e a conviver, em cuja proposta de aprendizagem possamos dar novos subsídios aos professores para mudarem seu comportamento e resgatar atitudes esquecidas na sua vida diária.
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Mestre pela UNICAMP, é um dos grandes divulgadores dos Jogos Cooperativos no Brasil.
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Dessa forma, os Jogos Cooperativos resultarão num envolvimento total, em sentimentos e ações para que resgatem a alegria, o prazer e a vontade, além de dar novamente ao educador a verdadeira função, que é a de ajudar seu educando a desenvolver sua autonomia altamente competente.
4.2 Retrospectiva Histórica
Define Orlick (1989, p.4) que os Jogos Cooperativos não são novidade e tampouco alternativa apenas para os que não conseguem ganhar ou são inaptos, mas “começaram há milhares de anos atrás, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida”. Investigando profundamente o assunto nessa perspectiva filogenética8, podemos observar que alguns povos ancestrais como os Inuit (Alasca), Aborígenes (Austrália), Tasaday (África), Ampesa (Nova Guiné) e os índios norte-americanos, entre outros, ainda praticam a vida cooperativa por meio da dança, do jogo e rituais. Contudo, dada à delimitação deste estudo, reconheceremos a evolução dos Jogos Cooperativos, tendo como referências básicas algumas pesquisas, publicações e experiências realizadas a partir da década de 50 no mundo e no Brasil, a partir dos anos 80.
8
Estudo da escrita das leis de transmissão dos caracteres hereditários nos indivíduos.
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4.3 Jogos Cooperativos no Mundo Ocidental
Destacamos, nesta perspectiva, o Dr. Terry Orlick 9 pela publicação de diversos livros, nos quais registra riqueza de informações e fontes de inspiração para a compreensão dos Jogos Cooperativos e para produção de novas pesquisas e trabalhos. Nesta retrospectiva, apresentamos nesta área alguns outros autores que tiveram resultados em suas investigações: 1950 – Ted Lentz: não apenas atuou na linha de frente do movimento de pesquisa para paz, em meados da década de 50, como foi também pioneiro na área dos Jogos Cooperativos. Ele e Ruth Cornelius apresentaram algumas importantes estruturas de Jogos Cooperativos, descritos num manual intitulado “All Together”. 1972 – Jim Deacove (de Perth, Ontário/Canadá): inventou Jogos Cooperativos realmente inovadores. Para ele, os jogos não precisavam ser de conflito e podem envolver valores positivos e atitudes de ajuda aos outros. Os jogos de salão ou de tabuleiro podem também ser reformulados para incentivar a cooperação e o espírito da ajuda. A abordagem básica de todos os jogos de Deacove é completamente diferente da dos outros jogos encontrados no comércio. Estimulam o espírito de cooperação e a idéia de vencer em conjunto. 1973 – Fundação para os Novos Jogos, sediada em São Francisco. É outro grupo pioneiro que se dedica à conquista do prazer de jogar. O primeiro Torneio de Novos Jogos foi realizado na Califórnia em 1973. 1974 – Davis Earl Platts, Mary Inglis, Joy Drake e Alexis Edwards: membros do Departamento de Educação, da Findhorn Foundation, criada em 1972, na Escócia, desenvolveram um método para promover a confiança pessoal e grupal, totalmente baseado
9
Phd em filosofia e autor de vários livros internacionalmente conhecidos.
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em jogos. Esse método foi chamado de “Descoberta Grupal” e influenciou os estudos e trabalhos de muitas pessoas do mundo inteiro, particularmente os de Terry Orlick, Andrew Fluegelman e Dale LeFevre, que difundiram a idéia. 1975 – Jack Coberly: professor de percepção motora da South Bay School, Eureka, Califórnia/EUA. Seu programa era baseado no sucesso: “onde as crianças têm a chance de ter sucesso em cada tarefa que recebem”. 1975 – Dan Davis: diretor de recreação e desenvolvimento de coordenação motora lenta da Benhaven School, New Haven, Connecticut. Ele usava atividades cooperativas com crianças que tinham problemas especiais. 1976 – Marta Harrison e os membros do Comitê Amigos da Paz e também outras pessoas que contribuíram para o livreto “for the fun of it”: todos criaram excelentes Jogos Cooperativos. 1976 – Andrew Fluegelman: escreveu o livro de Novos Jogos, registrando uma série de Jogos Cooperativos e Competitivos realizados durante os três primeiros Torneios de Novos Jogos. 1987 – Guilhermo Brown: educador popular venezuelano, publicou o primeiro livro de Jogos Cooperativos na América Latina intitulado Que tal si jugamos?.
4.4 Jogos Cooperativos no Brasil
Impulsionados pelo movimento mundial, a partir dos anos 80, algumas ações começam a integrar os Jogos Cooperativos no Brasil. Um dos seus precursores foi Fábio Otuzzi Brotto que, depois de graduado em Educação Física na UNESP, começou a desenvolver inúmeros projetos, ações e programa
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com a finalidade de divulgar os Jogos Cooperativos. Brotto teve vários contatos com Orlick e outras profissionais internacionais que já desenvolviam trabalhos. No Estado de São Paulo, em Atobaia, existe o Centro de Convivências em Nazaré, onde são oferecidas vivências e estadas de até um ano para que se possa imergir nesta concepção. Brotto é um dos fundadores e também freqüentadores ativos dos cursos, proferindo palestras e realizando anualmente seu retiro espiritual. A proposta dos Jogos Cooperativos encontra-se num processo em andamento por todo país, alcançando novos segmentos da sociedade, como na formação de educadores do ensino básico, assim como nas empresas, nas comunidades e setores organizacionais. Um dos indicadores da presença dos Jogos Cooperativos no cenário nacional está nos programas de graduação e pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB), desde 1998, e da Universidade Monte Serrat (UNIMONTE), desde 2000. Neste contexto, tem aumentado o número de pessoas interessadas em pesquisar e produzir algo sobre Jogos Cooperativos. Existe uma história, uma cronologia que foi percorrida até os dias de hoje, a qual optamos por resumi-la, baseando-nos em Brotto (1999): 1980 – A Escola das Nações é fundada em Brasília tem como filosofia “Educação para Paz” e, como um dos seus principais pressupostos pedagógicos, os Jogos Cooperativos e a Aprendizagem Cooperativa. 1989 – Publicada a primeira obra sobre Jogos Cooperativos em São Paulo, pela editora Círculo do Livro, Vencendo a competição, de Terry Orlick. 1990 – Fábio Otuzzi Brotto apresenta, no III Simpósio Internacional de Psicologia do Esporte (Belo Horizonte/MG), o tema Competir ou cooperar, qual a melhor jogada?, iniciando um diálogo que mais tarde resultou na produção de outras publicações e realizações de programas em Jogos Cooperativos.
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1991 – O professor Jofre Cabral de Menezes e Fábio Otuzzi Brotto oferecem, no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), um programa semestral de Jogos Cooperativos aberto à comunidade universitária. 1992 – Gisela Sartori Franco e Fábio Otuzzi Brotto criam o Projeto Cooperação – Comunidade de Serviços, uma organização plenamente dedicada aos Jogos Cooperativos e à Ética de Cooperação, por meio de oficinas, palestras, eventos, publicações e produção de materiais didáticos. 1993 – No IV Congresso Holístico Brasileiro, realizado em Salvador/BA, acontece a primeira realização de uma Oficina de Jogos Cooperativos em um evento nacional. 1994 – Publicação do segundo livro no Brasil, Jogos Cooperativos: teoria e prática, de Guilhermo Brown, em São Leopoldo/RS, pela editora Sinodal. 1995 – Com o propósito de reunir estudos e experiências realizadas no Brasil, é promovida pelo CEPEUSP a I Clínica de Jogos Cooperativos, e simultaneamente é lançada a Rede de Jogos Cooperativos, que atualmente conta com aproximadamente 5.000 pessoas conectadas. 1995 – O Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Esporte (INDESP) lança o Programa Esporte Educacional, tendo os Jogos Cooperativos como uma de suas pedagogias. O livro de Fábio Otuzzi Brotto sobre Jogos Cooperativos é indicado como referência teórica do Programa, entre outras. 1996 – Gisela Sartori Franco, psicóloga do Esporte, aplica os Jogos Cooperativos na preparação psicológica da equipe de vôlei feminino da BCN/Guarujá, vice-campeã brasileira e base da Seleção Olímpica daquele ano. 1998 – É constituída a “Cooperando: Consultoria em Dinâmicas Cooperativas”, segunda organização dedicada ao desenvolvimento de programas e serviços para promoção da Cooperação e Jogos Cooperativos.
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1998 – O livro de Brotto, Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar, é adotado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, como bibliografia básica no Concurso Público para Professores de Educação Básica II, na disciplina de Educação Física. 1999 – É realizado o II Festival de Jogos Cooperativos realizado na cidade de Taubaté/SP, no SESC, com a presença de 700 pessoas. 2000 – A Universidade Monte Serrat – UNIMONTE, adota o lato sensu em Jogos Cooperativos, sendo a universidade pioneira, nesta área, no país. 2001 – Com o sucesso da 1.ª Turma em Jogos Cooperativos a se formar no país, a UNIMONTE supera seus números para a 2.ª turma, num total de 45 pessoas. 2001 – Acontece o III Festival de Jogos Cooperativos, realizado na cidade de Taubaté/SP, com iniciativa do SESC, sendo que todos os cursos foram realizados gratuitamente para prestigiar o Ano Internacional do Voluntariado. 2001 – É lançado o segundo livro de Fábio Otuzzi Brotto, Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Como podemos verificar, os Jogos Cooperativos têm seu caminho implementado em vários tipos de ações, projetos, programas, congresso, livros, oficinas, que apontam para o processo de que possivelmente mais e mais pessoas terão a oportunidade de experimentar esses jogos.
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4.5 Conceito e Características
Os Jogos Cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa, em que os participantes jogam uns com os outros, ao invés de uns contra os outros. Neles, o importante não é vencer, e sim procurar valores essenciais para vida. A par disso, gostaríamos de falar um pouco mais sobre “jogar com” e “jogar contra”. Na maioria das vezes, os jogos, baseados na competitividade, são realizados por pessoas ou times nos quais seus sentimentos e resultados de sucesso são baseados na vitória, que, às vezes, é obtida a qualquer custo. No caso dos jogos cooperativos, aprende-se a considerar o outro como um parceiro, um solidário, em vez de tê-lo como adversário. O resultado é conseguido com a união de todos de modo saudável e positivo, sem pensar somente no resultado final. A esse respeito, Orlick (1989) afirma que é possível observar os eventos atuais e pensar o que o futuro nos reserva e em todos os grandes problemas que confrontam o homem, incluindo a violência, a destrutividade, a guerra, a pobreza, a poluição, o crime, a corrupção, a exploração do homem e a competição sem controle. Em nossa sociedade, há somente a valorização da vitória, em que se almeja pelo resultado de sempre ser o primeiro, o melhor, o máximo, o único. Para se obter esse sucesso, o ganhar é cada vez mais incorporado como regra, conduta e fórmula para se obter o êxito. Esta contabilização, ao longo dos anos, parece não ter mais limites, gerando assim conflitos, escassez, frustração e competição. Orlick (1989, p.84) argumenta que “se estivermos realmente interessados numa qualidade melhor de vida, devemos nos afastar da competição cruel e começarmos e enfatizar a cooperação”.
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Não bastam apenas boas intenções; é necessário que sejam correspondidas em boas ações, as quais devem ser desenvolvidas e aplicadas no dia-a-dia, e em cada segmento da sociedade. Segundo Brotto (1997), os Jogos Cooperativos vêm com a intenção de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e sucesso em si mesmo. Eles reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, e todos podem participar autenticamente e ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Este conceito procura nos ensinar a aprender rever nossas experiências e reciclar pensamentos, sentimentos, intenções e emoções, reconhecer e valorizar nosso próprio jeito de jogar e respeitar os dos outros, em seus diferentes modos de ver. E mais, descobrir que jogando com os outros podemos buscar o crescimento do eu dentro de cada um de nós. A comparação que Walker 10 (citado por Brotto, 1999) faz sobre a prática da competição e da cooperação, traz uma aproximação, na realidade muito pequena, entre jogar competitivamente e jogar cooperativamente. Para visualizarmos as formas dentro de um jogo ao qual estamos condicionados e de um novo jogo que podemos aprender, devemos observar a tabela a seguir:
10
WALKER, Zlmarian J. Educando para a paz. Brasília: Escola para a paz, 1987.
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Tabela 4 Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos JOGOS COMPETITIVOS
JOGOS COOPERATIVOS
São divertidos apenas para alguns. Divisão por categorias: meninos X meninas, criando barreiras entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão. Os perdedores ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores.
São divertidos para todos. Há mistura de grupos que brincam juntos criando alto nível de aceitação mútua.
Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa de “ruim” acontece aos outros. Os jogadores são desunidos.
Os jogadores estão envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades. Aprende-se a se solidarizar com os sentimentos dos outros e desejam também o seu sucesso. Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade. Desenvolvem a autoconfiança porque todos são bem aceitos.
Os jogadores perdem a confiança em si mesmo quando eles são rejeitados ou quando perdem. Pouca tolerância à derrota desenvolve em A habilidade de perseverar em face das alguns jogadores um sentimento de dificuldades é fortalecida. desistência, em face das dificuldades. Poucos se tornam bem-sucedidos. Todos encontram um caminho para crescer e desenvolver. Fonte: Brotto, 1999, p.75
A intenção dessa tabela de comparação não é demonstrar qual é a melhor forma para se jogar; ao contrário, numa primeira visão, é mostrar algumas percepções que não vemos no campo do jogo como ele é jogado; em segundo, é que podemos jogar de uma outra forma além da que já vivenciamos e que consideram como a única, a melhor maneira de jogar e viver. Para Orlick (1989), a principal diferença entre o Jogo Cooperativo e o Competitivo é que no primeiro todos cooperam e ganham, eliminando-se o medo do fracasso e aumentandose a auto-estima e a confiança em si mesmos. Ao passo que no segundo, a valorização e reforço são deixados ao acaso ou concedidos apenas ao vencedor, o que gera frustração, medo e insegurança.
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Portanto, o modo como encaramos o jogo e como jogamos é o que irá determinar e garantir o resultado final ou inicial de uma sociedade altamente competente sem ser extremamente competitiva.
4.6 Atitudes dos Jogos Cooperativos
Cada indivíduo tem uma experiência de vida, da qual procura tirar alguma conclusão para seu aperfeiçoamento físico, mental e espiritual. Como podemos melhorar nossas vidas se não praticamos as ações em busca da felicidade? O caminho para construir esta realidade é por meio de ações e percepções do convívio diário com as pessoas. De certo modo, tanto no jogo como na vida, estamos permanentemente sendo testados a solucionar problemas, harmonizar conflitos e a realizar objetivos. Sabemos que ninguém joga ou vive sozinho, bem como ninguém joga ou vive tão bem, em oposição e competição contra os outros, como se jogasse ou vivesse em sinergia e cooperação com todos. Sendo assim, os Jogos Cooperativos propõem ampliar a realidade refletida do jogo com a consciência dos diferentes estilos disponíveis em cada momento. A seguir, uma síntese promovida pela “percepção/ação” (Brotto, 1997), que temos em cada situação:
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Tabela 5 PADRÕES DE PERCEPÇÃO/AÇÃO PERCEPÇÃO/AÇÃO
OMISSÃO (INDIVIDUALISMO)
Visão do Jogo
Insuficiência
Suficiência
É impossível
Possível para todos
Objetivo
Separação Ganhar sozinho... “tanto faz”
Inclusão Ganhar... juntos
O outro Relação
“Quem?” Independência Cada um na sua
Parceiro, amigo Interdependência Parceria e confiança
Ação
Jogar sozinho Não jogar “Ser jogado”
Clima do jogo
Monótono
Resultado Conseqüência
Motivação Sentimentos
Símbolo
Denso Ilusão de vitória individual Alienação, conformismo e indiferença Isolamento Solidão Opressão
Muralha
COOPERAÇÃO (ENCONTRO)
COMPETIÇÃO (CONFRONTO)
Abundância x escassez Parece possível só para um Exclusão Ganhar... do outro
Adversário, inimigo Dependência, Rivalidade e desconfiança Jogar com Jogar contra Troca e criatividade Ataque e defesa Habilidades de Habilidades de relacionamento rendimento Ativação, atenção e Tensão, estresse e descontração contração Leve Pesado Sucesso Vitória às custas dos compartilhado outros Vontade de continuar Acabar logo com o jogando jogo Amor Alegria (p/ muitos) Comunhão (entre todos) Satisfação, cumplicidade e harmonia Ponte
Medo Diversão (p/ alguns) Realização (para poucos) Insegurança, raiva, e frustração Obstáculo
Fonte: Brotto, 1997
O propósito deste quadro é demonstrar que toda e qualquer experiência humana tem diferentes possibilidades de optar entre várias alternativas para viver uma mesma situação. Com esta visão, podemos despertar e aperfeiçoar o exercício da escolha pessoal, com responsabilidade universal, por meio das atitudes adquiridas nos Jogos Cooperativos.
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Segundo Weinstein & Goodman (1993), até o momento, a maioria das pessoas têm sentido que nunca tiveram escolha sobre o próprio jeito de viver suas vidas. Elas têm tido somente uma alternativa – ir e vencer, e quanto mais pessoas perderem, melhor. Jogando de forma cooperativa, ampliamos o foco e passamos a percebê-lo não apenas como um campo para o aperfeiçoamento das ações, mas como meio para o desenvolvimento da qualidade de relacionamento, como: Assumir co-responsabilidade pelo processo e resultados; Desenvolver a autonomia; Exercitar uma visão compartilhada; Despertar e potencializar talentos e dons pessoais; Distribuir lideranças; Aumentar o grau de respeito e confiança mútua; Focar e construir objetivos comuns; Manter a alegria e o prazer; Favorecer a comunicação aberta.
4.7 Categorias dos Jogos Cooperativos
Buscando uma maior diversidade nas situações a serem desenvolvidas no processo de ensinamento dos Jogos Cooperativos, Orlick (1989) formulou várias categorias para atender a integração de todos no contexto. Embora apresentadas em separado, elas se relacionam na forma de integrar o interdependente, tornando-as como um caminho de etapas nas situações vividas por quem quer aplicá-las.
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Jogos Cooperativos sem Perdedores Nesta categoria, todos os participantes formam um único grande time. Poderíamos considerar que estes são jogos plenamente cooperativos, em que todos jogam juntos para superar um desafio comum e, principalmente, jogam pelo prazer de continuar juntos.
Jogos de Resultados Coletivos São atividades que permitem a existência de duas ou mais equipes. Há um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e entre as equipes. A motivação principal está em realizar metas comuns, que necessitam de esforço coletivo para serem alcançadas.
Jogos de Inversão Enfatizam a noção de interdependência, por meio da aproximação e troca de jogadores que começam em times diferentes. Conforme os jogos se desenvolvem, os jogadores vão mudando de lado, literalmente, colocando-se uns no lugar dos outros. Desse modo, podem perceber com nitidez que são essencialmente todos membros de um mesmo time. Os tipos de inversão são: Rodízio: os jogadores mudam de lado de acordo com as situações preestabelecidas; Inversão do goleador: o jogador que marca o ponto muda para o outro time; Inversão de placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time; Inversão total: é a combinação das duas inversões anteriores – tanto o jogador que fez ponto, como o ponto conseguido, passam para o outro time.
Jogos Semi-Cooperativos São indicados para iniciar a aprendizagem esportiva em grupos de adolescentes. A estrutura favorece o aumento da cooperação entre os membros do time e oferece aos participantes a oportunidade de jogar em diferentes posições:
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Todos jogam: todos que querem jogar recebem o mesmo tempo de jogo. Times pequenos facilitam a participação de todos; Todos tocam / todos passam: a bola deve ser passada por entre todos os jogadores do time, para que o ponto seja validado; Todos marcam ponto: para que um time vença, é preciso que todos os jogadores tenham feito pelo menos a tentativa considerada como resultado o que mais se aproximar do objetivo; Todas as posições: todos os jogadores passam pelas diferentes posições do jogo; Passe misto: a bola deve ser passada alternativamente, entre meninos e meninas; Resultado misto: os pontos são convertidos, ora por uma menina, ora por um menino. Apoiados nessas categorias, podemos desenvolver várias atividades para estimular o processo de uma alternativa de aprendizagem e convivência baseada na cooperação, em que crianças, jovens e adultos possam estar mudando suas visões e ações, bem como atitudes de comportamento. Os jogos são reflexos do modo que vivemos, mas também servem para criar o que é refletido. Muitos valores, atitudes e comportamentos são aprendidos neste processo que podemos desenvolver nas categorias citadas por Orlick (1989). Acreditamos que a melhor lição a ser aprendida dessas experiências é que podemos criar e modificar os jogos para realizar objetivos em comunidade. Segundo Robert Kennedy (citado por Orlick, 1989, p.15) “para que as forças do mal dominem o mundo, é necessário apenas que um número suficiente de homens bons não faça nada”. Como ele, resolvemos acreditar que podemos mudar a orientação de nossa própria vida assim como a de nossos jogos. “Posso ser um sonhador, mas quando um homem sonha sozinho, é apenas um sonho, quando muitos homens sonham juntos, é o início de uma nova realidade” (de uma carta
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entregue por uma participante (Professora Cristiane Ziane) em uma das oficinas realizadas em Leme, SP, em 2001). Quem sabe precisamos de mais sonhadores, para que juntos possamos transformar não só palavras escritas, mas ações, atitudes de compartilhar o conviver. Dentro desta perspectiva, podemos visualizar os Jogos Cooperativos como uma forma de integrar os valores humanos que os indivíduos desenvolvem no transcorrer da aprendizagem da forma de jogar com os outros, gerando, sem dúvida alguma, os valores referentes à cooperação e à convivência. Seguindo este caminho, também podemos verificar que os Pilares da Educação para o século XXI estão integrados com as atividades sugeridas pelos jogos na intenção do aprender a ser, conhecer, fazer e conviver juntos, solucionando, no nosso ponto de vista, várias questões para os problemas relacionados com a convivência humana.
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CAPÍTULO 5 RELATO DA EXPERIÊNCIA
A obra de arte que o artista cria, e o espectador desfruta, é necessariamente individual, um objetivo único. Porém, só é de fato uma obra de arte quando há em seu pano de fundo alguma coisa que indica contextos maiores. Desse modo, a arte nos confronta com coisas que, em geral, não podemos avistar, mas cujas últimas profundezas não são acessíveis ao nosso saber. (Friedrich Hegel)
A
partir deste momento, passaremos a relatar a experiência que temos tido nestes três anos, quando desenvolvemos atividades envolvendo vivências e dinâmicas, utilizando jogos cooperativos. Estas atividades e
por vezes oficinas foram desenvolvidas com grupos de localidades diferentes, entre eles professores do ensino infantil, médio e fundamental; universitários dos cursos de Educação Física, Pedagogia, Turismo; Projetos como a Universidade Solidária. Tem-se como idéia principal nesta proposta trabalhar a convivência entre os participantes, a ludicidade dentro de cada um, as novas alternativas de atividades realmente voltadas para o compartilhar de experiências e sensações no decorrer do dia-a-dia. Todas as atividades, que seguem uma ordem seqüencial, são utilizadas para buscar os resultados esperados, que são o aperfeiçoamento do aprender a ser, a conhecer, a fazer e a viver juntos. A seguir, descrevemos a ordem de 17 atividades que normalmente realizamos em uma vivência de 8 horas com um número aproximado de 250 pessoas num grupo só. Para este trabalho, apresentaremos o jogo, a descrição e a relação que estamos fazendo com os Pilares
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da Educação. Identificaremos o nome de cada atividade, o material utilizado, a descrição do desenvolvimento da atividade, a relação com os Pilares da Educação e outras características que podem contribuir na sua aplicação, uma observação do pesquisador e alguns comentários que foram feitos pelos participantes.
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1
NOME: TOCOU, COLOU. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Reunir todo o grupo ao centro e a partir da fala do focalizador cada
participante deve elevar o braço direito estendido para cima e depois tocar em alguma parte do corpo da pessoa que estiver ao seu lado, sendo que a regra é que uma vez tocado, não pode retirar mais. Isto deverá acontecer com o braço esquerdo, com a perna direita e termina com a cabeça. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver junto / integração do grupo e a percepção no ser. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi adaptada de uma outra que se chamava “todos grudados”, em que existia um contato entre as pessoas que ficavam coladas e com isso aproximava-se uma pessoa da outra ao seu lado. Dessa forma, aprendemos a tocar e a conhecer esta nova pessoa. O resultado final é uma integração alegre entre todos os participantes e também serve como um excelente quebra-gelo. COMENTÁRIOS: “divertida, promoveu a integração e aumentou minha percepção” (Roseli Nogueira, Leme-SP, 2001).
2
NOME: REGRAS INVISÍVEIS. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo no centro, onde o focalizador dirá para tentarmos
encostar a ponta dos dedos das mãos na ponta dos pés. Esta tentativa deverá ser feita mais umas 4 ou 5 vezes, só que de maneira diferente. Depois dessas tentativas, pergunta-se se alguém pensou em tocar no pé do seu vizinho ou de outra pessoa. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a conhecer – reflexão ao condicionamento do que fazemos sempre do mesmo jeito, unindo novas possibilidades de enxergar.
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OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada numa vivência pelo Brotto em que estávamos presentes e a utilizamos constantemente em nossas atividades como forma de mostrar o quanto somos condicionados, às vezes por puro reflexo, a fazer sempre do mesmo jeito. A maior jogada dessa atividade é poder ver que no final das tentativas todas as pessoas começam a perceber que podemos tentar fazer de uma outra maneira e de poder utilizar a pessoa que está ao seu lado. COMENTÁRIOS: “perceber como tomamos atitudes de forma condicionada” ( Kátia Joest Moraghi, Quipapá, 2001).
3
NOME: CONFRATERNIZAÇÃO DOS BICHOS. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Num círculo, após ter sido feita uma eleição de alguns bichos
(cachorro, gato, galinha, boi), enumerar na ordem em que se encontra no círculo, dando uma característica a cada pessoa. Numa outra fase, todos os participantes andarão de olhos fechados pelo local, imitando os sons dos animais enumerados por cada grupo. A finalidade é que todos possam reconhecer os sons e agrupem-se até que todos os participantes se reúnam . RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – aumentando seus sentidos de intuição. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada no I Festival de Jogos Cooperativos onde estávamos presentes e percebemos que seria uma forma de podermos desenvolver melhor o nosso ouvir e por que não o ouvir dos outros também. É uma maneira agradável de poder realizar divisões de grupos, sem formar as famosas “panelinhas” e de ainda brincar um pouco. O mais interessante é como as pessoas procuram caracterizar-se com o animal proposto e de tentar achar outra pessoa de seu grupo, e em um determinado momento todos fazem o mesmo som para poder achar as que faltam.
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COMENTÁRIOS: “sentir o acolhimento do grupo, aprendendo a ouvir melhor o outro igual a mim” (Virginia Guadagnini Piratelli, Fefisa, 1999).
4
NOME: ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO VISUAL. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Esta atividade é realizada em 3 fases: a primeira em duplas, em que a
outra pessoa tenta imitá-los; depois, é feita a troca. Na segunda, formam-se trios, em que acontecem os mesmos movimentos da fase anterior e uma das pessoas estará ao lado da dupla mostrando com as mãos na frente da pessoa números em que a que está imitando deverá somá-los ao final, pedindo-se para dar o total dos números colocados. Na última fase, formam-se quartetos e seguem-se as duas fases anteriores, só que a quarta pessoa se colocará em frente da que está colocando os números e fará diversas perguntas (ex.: o que você tomou no café da manhã, como é seu filho?). Então, a pessoa inicial deverá imitar os gestos, contar os números e ainda responder todas as perguntas. Para que todos vivenciem estas situações, os participantes devem passar por todas as posições. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – aumentar a sensibilidade para uma nova forma de ser. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi retirada de uma vivência feita pelo focalizador Eduardo Carmelo em sua oficina que se chama “a estratégia do guerreiro Jedai”, que utilizamos num processo de desafios que vai aumentando o grau de dificuldade a cada fase. No começo, a visão de cada participante é que no final não se poderá realizar o que foi pedido, mas a idéia não é de acertar tudo e sim de acreditar que podemos tentar e ir até o fim mesmo errando. Existem pessoas que nunca fizeram 3 ou 4 coisas ao mesmo tempo e ficam deslumbradas com o resultado que foi alcançado.
70
COMENTÁRIOS: “aprende-se a ver, ouvir de formas que talvez nunca fizemos ou acreditaríamos que poderíamos” (Ângela Margedan Colodeete, Piedade, 2001).
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NOME: ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO TATUAL. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Formam-se trios, nas quais uma pessoa faz o papel de uma estátua
numa posição que ela escolher; a outra será a massa parecendo uma forma inicial, ou seja, sem forma nenhuma e a última, o escultor. A idéia é que a pessoa faça uma pose e fique completamente imóvel, e o escultor deverá tocar a estátua de olhos fechados e depois irá em direção à outra pessoa que será a massa e tentará esculpir do mesmo jeito que sentiu com as mãos. Todos devem passar pelas três posições da atividade. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – desenvolver a busca no sentido corporal criando mais uma forma de ser. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Retirada idem à anterior, que utilizamos para que possamos aprender a tocar as pessoas e a sentir o outro em suas formas. Realmente, as pessoas, no início, ficam meio envergonhadas de tocar a outra, mas esta ação acaba se transformando numa reação de carinho, respeito, amor e criatividade de ambas as partes. COMENTÁRIOS: “no começo, a gente fica meio sem graça de ficar tocando a outra pessoa, mas depois você entra na idéia de reproduzir ou até cria uma estátua”. (Raquel Ali Freitas, PMS, 2000).
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NOME: ATIVIDADES DE INTUIÇÃO. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: É feito um grande círculo, onde os participantes estarão de mãos dadas,
formando uma corrente de proteção; no meio do circulo, estarão duas pessoas de olhos
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fechados, onde uma será o caçador e a outra a caça; ambas devem ficar de olhos fechados e as pessoas ao redor devem permanecer em silêncio. Ao sinal do focalizador, o caçador tentará pegar a caça; caso isto aconteça logo, invertem-se as posições. Se o caçador não conseguir pegar a caça, o focalizador tentará buscar dentro do caçador a sua intuição com frases positivas. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser – desenvolver a intuição como forma de uma aptidão que poucas pessoas utilizam, ou seja, sentir e acreditar não somente na razão mas também na intuição. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Retirada idem à anterior, onde as pessoas no círculo procuram resgatar ou desenvolver sua intuição de sentir e ouvir o outro e quem sabe até o mundo. A atividade, em determinado momento, para quem está de fora, dá a idéia que os participantes estão de olhos abertos, vendo tudo. Vale lembrar também que o papel das pessoas no círculo torna-se de importância para a segurança dos que estão dentro, pois estes protegem os de dentro para não saírem e machucar-se. COMENTÁRIOS: “é interessante, pois, às vezes, um passa ao lado do outro e não acontece nada e às vezes um está numa ponta oposta e ele vai direto em sua direção como se estivesse de olhos abertos” (Eliane de Queiroz Leandro, Capão Bonito, 2001).
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NOME: DINÂMICA DAS MÃOZINHAS NA ÁRVORE. MATERIAL: Folhas de sulfite, tesouras, colas, canetas hidrocor e cartolinas de cor
parda e som com CD. DESCRIÇÃO: Formam-se duplas sentadas, uma de frente para a outra, em que cada um terá uma folha de papel sulfite e uma caneta. Cada pessoa colocará sua mão direita na folha da outra pessoa e com a mão esquerda, ambas ao mesmo tempo, desenharão a forma da mão na folha. Depois, deve-se escrever na parte interna dos cincos dedos atitudes para
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melhorar sua vida ou as das pessoas ao seu redor. Após isto, recorta-se com a tesoura a sua mão desenhada da folha. Agora será colocada uma música suave para as pessoas poderem dançar e passar as suas mãozinhas recortadas em várias partes do corpo de outra pessoa, transmitindo assim essas vibrações positivas. Para finalizar, cada mãozinha será colada num suposto tronco de árvore desenhado numa cartolina parda para que formem uma copa de árvore e assim prevaleça a idéia de que todas as mãozinhas nesta árvore possam, num futuro próximo, gerar grandes frutos. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – procura buscar a compreensão das relações interpessoais e da paz. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi recriada das aulas de artes que freqüentávamos na adolescência. Trabalha-se com coordenação motora fina, dança-se e brinca-se com as mãozinhas cortadas pelo corpo dos participantes. O mais importante é evidenciar o que se quer de bom para nós e para os outros e assim construirmos uma árvore com um tronco sólido que, além de gerar sombra, possa dar frutos e da qual deveremos continuar cuidando, pois a cooperação não deve ser feita apenas agora, mas sim pelo resto de nossas vidas. O visual da árvore é construído por todos os participantes. COMENTÁRIOS: “é interessante desenvolver a compreensão pelo outro” (Terezinha de Parizolto Barbosa, Amparo, 2000).
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NOME: DANÇAS SAGRADAS CIRCULARES (ISSOS/SHETLAND). MATERIAL: Som com CD. DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo de mãos dadas onde estas danças são realizadas,
cujo formato escolhido tem por finalidade que todos possam sempre estar se visualizando e espalhar energia para todos os lados.
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ISSOS: Dança portuguesa que tem por objetivo mostrar que a vida parece uma roda, que tudo tem um começo, meio e um fim. SHETLAND: Dança escocesa que promove a alegria de estarmos festejando o prazer de estarmos juntos. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a conhecer – possibilita o aprendizado de novos tipos de ritmo e respeito as oportunidades que aparecerão no decorrer da dança. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada em uma oficina de danças circulares sagradas feita por uma focalizadora11, em que tivemos enorme prazer em poder realizar. Em primeiro lugar, dançar é maravilhoso, gostoso e prazeroso. As danças circulares sagradas são chamadas assim porque buscam algo mais do que somente dançar; são feitas em círculo porque existe uma energia no meio que é emanada para todos e onde todos podem estar se vendo. É sagrada porque têm suas tradições e cada um pode acreditar em algo que tem fé. Estas danças têm sua origem da Europa, Ásia e África. Gostamos de utilizar essas danças (ISSOS e SHETLAND), pois podemos trabalhar com o ritmo da roda e também com o ritmo da vida e da alegria de estarmos juntos tentando. Por serem danças com passos predeterminados, algumas pessoas pensam que não vão conseguir, mas o mais interessante é que todos acabam dançando sem saber, vão na onda. Em relação ao respeito pela dificuldade de cada um, é que no final podemos ver um grupo de 250 pessoas dançando todas juntas, em que cada um respeita o ritmo do outro dentro da roda. COMENTÁRIOS: “é fantástico, pois são músicas diferentes”; “no começo é difícil, mas depois todos acabam dançando mesmo não sabendo”; “aprendemos que cada um tem seu ritmo no círculo e que devemos respeitá-lo” (Renata Alves Santarosa, Unimes, 1999).
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Renata Ramos, que desenvolve trabalhos na TRIOM.
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NOME: SALVE-SE COM UM ABRAÇO. MATERIAL: Balões de gás. DESCRIÇÃO:
É um pega-pega, em que os pegadores terão de correr atrás das
pessoas e tocar com uma bola de gás no seu peito para pegá-las. Quando for pega, esta virará pegadora. Para qualquer pessoa poder salvar-se, deverá abraçar uma outra pessoa por um tempo de 5 segundos e neste momento ambas não poderão ser pegas. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – para poder gerar novas competências. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi adaptada de vários pegaspegas que conhecemos, em que procuramos utilizar as pessoas como um lugar para se salvar e poder abraçar outras pessoas. Aprende-se que não precisamos ter uma habilidade específica que é a de correr muito e sim de vermos um jeito gostoso de brincar de uma nova maneira. COMENTÁRIOS: “é muito difícil as vezes enfrentar sozinho o que as vezes tem mais habilidades que nós” (Ana Tereza Lucchiari Marchi, Araraquara, 2000).
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NOME: NUNCA TRÊS. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: É um pega-pega em que haverá duplas correndo ou andando de mãos
dadas, havendo um pegador e uma pessoa a ser pega. Quando a pessoa que estiver fugindo do pegador entrar numa das pontas existentes da dupla, a outra saíra correndo e o pegador irá atrás dessa nova pessoa. Caso o pegador consiga pegar a pessoa antiga ou a nova, esta passa a ser a pegadora e o pegador vira a pessoa a ser pega. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – reflexo nas decisões a tomar. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi recriada pelo Brotto, em que o pega-pega torna-se um jogo que aprimora nosso reflexo, nossa percepção, e trabalha com
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outras pessoas. O resultado é que pela primeira vez podemos fazer o pegador de bobo, tornando a atividade sem limite para terminar. COMENTÁRIOS: “é a única vez que podemos igualar a habilidade do pegador, se ele for rápido e de até fazer ele de bobo” (Marta de Lucca Airt, Juquetibá, 2000).
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NOME: COELHO SAI DA TOCA. MATERIAL: Nenhum. DESCRIÇÃO: Formam-se trios onde duas pessoas se darão as mãos, formando uma
toca e a outra será o coelho no meio desta. Ao sinal, deve-se trocar os coelhos de tocas e depois as tocas também. Para tornar mais agitado, coloca-se uma ou mais pessoas no meio do círculo, formando ou não tocas sem coelho para, ao sinal, tentarem entrar nas tocas ou formar uma toca para um coelho. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – com possibilidade de gerir novos espaços. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é tradicional e é utilizada como forma de resgatar o lúdico e ainda de incluir alguns desafios a mais para que as pessoas tenham algumas variações. Esta atividade vai sendo construída na intenção de que em cada fase o desafio seja maior e as pessoas procurem pensar e agir mais rápido. COMENTÁRIOS: “é muito interessante, pois parece fácil e com o decorrer da atividade o complicado fica envolvente ao invés de desmotivante” (Ana Lúcia de Arruda Campos, Unimonte, 2000).
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NOME: ESCRAVO DE JÓ. MATERIAL: Mesmo número de bambolês que dos participantes ou giz para fazer
círculo no chão.
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DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo onde haverá duplas de mãos dadas dentro de cada bambolê. Ao sinal, todos devem cantar a música “Escravo de Jó” e passarão para o próximo bambolê à sua frente junto com seu parceiro até o final da música. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a fazer – ritmo, respeito e coordenação. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é tradicional, porém foi adaptada por João Batista Freire em uma oficina da qual participamos. A maioria das pessoas já participaram dessa atividade, cantado ou brincando, então pode ficar um pouco mais fácil sua execução; mas, na maioria das vezes acontece que cada pessoa tem seu ritmo de cantar e movimentar-se na roda. Daí surgem os problemas relacionados com coordenação motora e ritmo. Além dessa coordenação e ritmo, a grande jogada é que as pessoas acabam ensinando as outras de várias formas até conseguirem executar o ritmo da roda e da música. COMENTÁRIOS: “fica claro para eu e quase todas as pessoas, que existem vários ritmos na vida e que devemos aprender a conviver com eles junto com os outros” (Marli Batyista Stroccini, Mogi das Cruzes, 2000).
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NOME: NO JARDIM. MATERIAL: Mesmo número de cadeiras sem braço, vendas. Para os olhos, cordas,
fita crepe. DESCRIÇÃO: Forma-se um círculo, onde todos devem estar sentados em cadeiras que não tenham os braços para apoiar. Existirá em jogo uma ou mais cadeiras vazias posicionadas no círculo onde estas estarão em disputa. A primeira pessoa que sentar na cadeira vazia falará “eu sentei”, a pessoa que estava ao seu lado passa para a próxima cadeira vazia que a primeira pessoa estava e dirá “no jardim” e uma terceira também fará o mesmo processo e dirá “com meu (minha) colega... fulano(a)”.
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Esta pessoa que foi chamada deverá levantar-se e sentar-se ao lado da pessoa que falou o seu nome e novamente estará em disputa o lugar que ela saiu. Para gerar novos desafios, escolhe-se aleatoriamente uma pessoa para vendá-la, outras duas para amarrar as pernas ou braços e em outra se coloca uma fita crepe na sua boca. Estas deverão brincar do mesmo jeito que as demais. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – inclusão, interação, liberdade, motivação, comunicação, confiança e ajuda mútua. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi-nos apresentada no segundo ano da graduação de Educação Física por um professor de Educação Infantil. Por mais que pareça um jogo de disputa, está longe de se ter um vencedor único. Em primeiro lugar, existe um sadio jogar de abundância (jogamos literalmente com os bumbuns); em segundo lugar, não é monótono em momento algum, pois a atenção fica mais redobrada; e em terceiro, existe a total inclusão de qualquer pessoa que queira jogar. Os desafios mostram que podemos jogar com qualquer pessoa, bastando apenas que as pessoas do grupo tenham a intenção de ajudar umas às outras. COMENTÁRIOS: “é uma brincadeira onde torna-se um caos, porém ninguém fica de fora e aprendemos a ajudar que necessita” (Aline Martinho, Capão Bonito, 2001).
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NOME: DANÇA DAS CADEIRAS COOPERATIVAS. MATERIAL: Mesmo número de cadeiras e som. DESCRIÇÃO: Colocam-se as cadeiras uma de costas para as outras numa fileira. Dá-
se início ao som de uma música em que todos que estavam sentados devem levantar e dançar ao redor das cadeiras. Quanto a música pára, todos devem sentar na cadeira vazia. Retira-se um número de cadeiras desejado e voltam a dançar e ao parar a música todos devem sentar, incluindo os que ficaram sem cadeira. A atividade irá terminar quando restar apenas uma
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cadeira e todos estiverem sentados nela. Para um desafio final, deve-se propor ao grupo que se sentem todos sem cadeira. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – inclusão, solidariedade, contato pessoal e respeito. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta é uma atividade tradicional, em que, ao invés de irmos eliminando as pessoas, eliminamos as cadeiras. Mesmo sabendo que ninguém ficará de fora, existem pessoas que disputam a cadeira e seguem a mesma seqüência de andar bem perto das cadeiras vazias. Quando resta uma cadeira ou nenhuma, é que as pessoas entendem que o que precisamos é trabalhar juntos uns com os outros ao invés de contra. COMENTÁRIOS: “mesmo sabendo que todos irão sentar, continuamos disputando as cadeiras” (Maria Oliveira da Silva, Maceió, 2001).
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NOME: TRAVESSIA DE BARCOS. MATERIAL: Cadeiras sem braço com o mesmo número de participantes e som. DESCRIÇÃO: Divide-se o grupo em quatro equipes (navios) que formarão barcos e
ficarão dispostas em quatro fileiras em um grande quadrado. Cada pessoa deverá começar o jogo sentada na sua cadeira. Cada navio deverá chegar ao outro lado correspondente que está à sua frente. Porém, para isso deverá chegar com todas as outras cadeiras e seus participantes. Nenhum tripulante poderá colocar qualquer parte do corpo no chão nem arrastar as cadeiras. Quando todos conseguirem alcançar seus lados opostos, o desfecho será vencido por todos. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – respeito, liderança compartilhada, comunicação, confiança mútua, criatividade, senso de unidade, superação de dificuldades. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada em uma das oficinas de transformação realizadas pelo Brotto da qual participamos.
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A nosso ver, esta atividade envolve tantos itens que a torna mais que uma simples atividade. Mesmo assim, existe ainda o sentimento de chegar primeiro, de ser o melhor, de ser o único líder e de não se comunicar com os outros do seu grupo. Mas também se mostra presente o respeito e a confiança mútua, a criatividade e a superação do grupo no chegar ao outro lado. Na hora da reflexão, é importante ver como as pessoas apontam os pontos positivos e negativos delas mesmas e do grupo. COMENTÁRIOS: “foi a coisa mais incrível que eu e os outros fizemos juntos”; “agora entendo a frase que você falou: só é possível quando é impossível para todos, foi fantástico” (Vasti Silveira Siqueira, Ribeirão Preto, 2000).
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NOME: TRAVESSIA DA PONTE DE CORDAS. MATERIAL: Corda trançada de uns 20 metros. DESCRIÇÃO: Haverá uma corda trançada em nós para a realização de uma travessia
passando por cima da corda, simbolizando uma ponte. Haverá pessoas que estarão segurando a corda pelas alças a uma altura de um metro do chão. Uma pessoa estará andando por cima até chegar no final. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a viver juntos – confiança, superação, respeito, transformação e desafio. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade foi realizada num Festival de Jogos Cooperativos pelo venezuelano Guilhermo Browmn. Consideramos como um desafio final e uma descoberta de todos os participantes, pois a maioria já passou por diversas atividades envolvendo a cooperação. Mesmo assim, existe o medo de andar sobre cordas trançadas a uma altura de um metro do chão. Nesta hora, vale a pena ver se o que você está vivenciado é realmente verdadeiro ou, mais ainda, se você acredita no que lhe foi dito.
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Haverá pessoas que passarão devagar ou rapidamente pelo fato de confiar naquelas pessoas que ficaram o dia todo juntas. A pessoa que não acreditar, dificilmente irá deixar sua passagem pelas cordas na mão de qualquer pessoa. É interessante as várias visões da travessia; algumas delas é ver homens de 120 kg sendo segurados por duas mulheres que chegam a um total de 80 kg, pessoas que têm pavor de altura ou medo de cair passarem bem devagar mas indo até o final, pois acreditam nas pessoas que estão segurando a corda. Não é superação individual só, é um trabalho em grupo em que todos juntos fazem a diferença. COMENTÁRIOS: “é a hora da verdade, ou você acredita em tudo que vivenciou até agora e vai em frente ou volta e fica parado na desconfiança, no medo e na vontade de querer mudar algum dia” (Ana Maria Gimenez, Caraquatatuba, 2001).
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NOME: LOVE BACK. MATERIAL: Cartolinas brancas, microfone, lápis coloridos, canetas. DESCRIÇÃO: Refletir num círculo tudo o que aconteceu e transcrever o relato em
forma de fala ou escrita com manifestações voluntárias pessoais ou em grupo. RELAÇÃO COM OS PILARES: Aprender a ser, fazer, conhecer e viver juntos – libera momentos de agradecimentos, críticas e posicionamentos. OBSERVAÇÃO DO PESQUISADOR: Esta atividade é realizada em quase todos os momentos que se envolve a cooperação. Foi criada por Brotto em suas descobertas mágicas. Não tem hora certa para realizá-la, mas preferimos fazê-la no final de tudo, pois é a hora que todos podem falar o que quiserem sobre o que foi vivenciado durante as atividades. Além disso, é a hora de dizer ou escrever o que se está sentindo de forma construtiva e autêntica, é uma troca de sentimentos inigualável que nunca se repete, em que o amor de cada um acaba florindo junto com todos.
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COMENTÁRIOS: “é a hora de dizer o que aconteceu com você no dia de hoje”; “você fala com uma energia muito positiva, dá vontade de não parar mais e de querer abraçar todo mundo” (Roberto Jesus do Nascimento, Faculdades Santana, 1999).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gostaríamos agora de compartilhar um pouco desta fala que vimos utilizando em todas esta dissertação, tendo a certeza, no entanto, de que o final desta conversa estará longe de ter um fim, pois quando pensamos que chega no final, recomeça com tanta força que não conseguimos parar de falar em cooperação e convivência. Sendo assim, procuraremos reunir as atividades apresentadas no relato de experiência em quatro grupos, organizados sob uma conexão com os Pilares da Educação. Logo a seguir, alguns comentários sobre estes grupos e depois compartilharemos com todos uma fala aberta e de muita esperança na cooperação.
APRENDER A CONHECER REGRAS INVISÍVEIS DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS LOVE BACK APRENDER A FAZER SALVE-SE COM UM ABRAÇO NUNCA TRÊS COELHO SAI DA TOCA ESCRAVO DE JÓ LOVE BACK APRENDER A VIVER JUNTOS DANÇA DAS CADEIRAS COOPERATIVAS TRAVESSIA DE BARCOS NO JARDIM TRAVESSIA DA PONTE DE CORDAS DINÂMICA DAS ARVORES TOCOU COLOU LOVE BACK
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APRENDER A SER ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO ATIVIDADES DE CONTATO ATIVIDADES DE INTUIÇÃO CONFRATERNIZAÇÃO DOS BICHOS LOVE BACK
No aprender a conhecer, distribuímos estas atividades como formas de vermos e começarmos a entender que fazemos as mesmas atitudes do mesmo jeito há muito tempo. Tem como objetivo descobrir novas alternativas para fazê-las e de usarmos a música como outra forma e de conhecer a resgatar o nosso potencial existente dentro de cada um, fortalecendo o todo. No aprender a fazer, partimos para o brincar lúdico por meio da ajuda mútua, relembrando nosso passado como criança, com uma atenção especial para não ser mais habilidoso e sim o mais solidário e cooperativo. Aprender a viver juntos: parece fácil de falar, mas cada um tem um jeito de ser e estar nesse mundo. Atividades voltadas para desafios pessoais e grupais, em que não basta falar; temos que dividir, confiar, respeitar, devendo a comunicação tornar-se a tônica de superar juntos qualquer dificuldade. Aprender a ser: conhecer e aperfeiçoar o nosso eu para depois procurarmos o outro que está ao nosso lado. Descobrir o que eu sou e o que eu faço de melhor neste mundo. Como o amigo Fábio Otuzzi Brotto diz, os Jogos Cooperativos são uma busca do “VENSER”, VIR A SER O QUE VOCÊ REALMENTE É E NÃO O QUE OS OUTROS QUEREM QUE VOCÊ SEJA. No decorrer deste estudo, procuramos evidenciar uma proposta de ensino e aprendizagem focalizada nos Jogos Cooperativos como um caminho para o desenvolvimento de pessoas e grupos em que, dentro das perspectivas de uma educação para o século XXI, já
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se propõem os seus exercícios dentro dos Pilares da Educação: aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos. Observamos que nós, seres humanos, estamos diante da rara oportunidade de recuperarmos e aperfeiçoamos a consciência da interdependência de nossas ações, atitudes e comportamentos diante do viver em comunidade. É preciso nutrir e sustentar permanentemente o processo da convivência, reconhecendo em cada um de nós um estilo de vida, em que o desenvolvimento da cooperação seja um exercício das relações humanas em todas as suas dimensões e contextos. Acreditamos que, para a realização desse processo, a Educação seja um dos caminhos para se obter um melhor resultado, uma educação fundamentada nos Pilares da Educação como forma de indicar uma discussão sobre a convivência do ser humano no interesse pelo bem do outro como fonte de motivação e compromisso com a vida existente neste planeta. Precisamos pensar que, para “salvar o mundo”, temos que começar a mudar dentro da gente; depois, perto da gente, para depois ir em direção do mundo todo. Não será um caminho, jornada ou viagem fácil para quem quiser realizá-la; será um constante aperfeiçoamento do conviver com os outros, tecendo novas redes, valorizando as pequenas conquistas, superando os novos desafios e conquistando para junto de nós uma vida melhor para todos. Quando começamos a escrever, pesquisar e experimentar esta proposta, tivemos muita dificuldade, pois tudo o que vivemos era muita emoção transformando o nosso ser, mas tivemos a ajuda de várias pessoas para transcrever tudo isto de uma forma acadêmica para que outras pessoas pudessem ler. Os Jogos Cooperativos não são mais vistos como um modismo que apareceu, pois a cada dia que passa mais e mais pessoas estão descobrindo-os e percebendo que podem utilizálos como ferramenta na vida em todas as suas formas de aprendizagem, convivência e
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transformação, reaprendendo a amar e a jogar cada partida da nossa vida diária como se fosse a primeira, a única e a mais essencial de todas. Ainda podemos dizer que somos muito melhor compreendidos quando nos permitimos traduzir na ou pela outra parte ou no todo que somos cada um em todos nós. O mais interessante é que nada nos Jogos Cooperativos tem um começo ou fim, não têm seguidores mas sim participantes que colaboram para o seu sucesso. Nossas preocupações, se podemos dizer assim, ficam voltadas para o fato de que, para realizarmos esta contínua convivência, necessitamos reconhecer a importância de estarmos constantemente abrindo nossas mentes e corações para as diversas formas de conviver com os outros. Não basta apenas invertemos as estruturas de como jogar e de aplicar o que foi mostrado, se não aceitarmos a considerar o outro não como adversário e sim como parceiro num jogo em que o mais importante é ver no indivíduo o ser; no conhecimento, a manifestação do saber; na realização, o fazer de cada um na sociedade; e no espírito, a busca do conviver. Desse efeito, vemos o outro e nós mesmos numa busca da verdade interior como sentido de vida, numa experiência da conexão com a teia da vida que poderá gerar uma unidade coletiva com anúncio da igualdade e fraternidade para todos. Dessa forma, precisamos melhorar e aperfeiçoar a nossa respiração nos constantes movimentos da vida, pois ela vai manter-se devagar ou muita rápida em alguns momentos, gerando um pouco de agitação, mas tudo isso será normal, pois, assim como na dança, na vida também existe um ritmo que devemos acompanhar. Também devemos relacionar com qualidade de vida a nossa saúde numa constante procura pelo equilíbrio do corpo, da mente e do espírito, tendo agora como possibilidade uma
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visão de que na vida a maioria das pessoas precisam estar e ficar juntas, tornando a sabedoria de cada um num compartilhar das idéias de todos nós. Gostaríamos de encaminhar esta dissertação a todos os professores, educadores, alunos, pais, amigos e a qualquer pessoa que venha a se interessar pelo assunto aqui proposto. Sua utilização poderá ser feita nas escolas, nas empresas, nas comunidades, na família e principalmente no aspecto pessoal de cada um, em que, para sua implementação, não precisamos de muitos recursos, somente de vontade pessoal em primeiro lugar e depois coletiva. Por meio dessas informações, desenvolveremos nossa vocação para o exercício de convivência e cooperação, em que sua prática será viabilizada num projeto em que todos nós realizemos uma visão de tarefa das ações que venham a nutrir nossos movimentos para despertar e acreditar que todos nós podemos desenvolver nosso potencial de compartilhar a cooperação. Certamente, as mudanças que virão a ocorrer só nos trarão o bem interior e depois o do exterior junto com outros. Acreditar que nos próximos milésimos de segundos, segundos, minutos, horas, dias e no resto de nossas vidas poderemos conviver melhor com o nosso trabalho, com a família, com a sociedade, estaremos gerando novas motivações, novas atitudes, novos valores e capacidades. Quando nos recordamos da nossa própria história, consideramo-nos felizes por ter tido a oportunidade de vivenciar a cooperação e a confiança em compartilhar a vida com outras pessoas. Essa necessidade sincera de relação com o outro é essencial que advenha de situações cooperativas e de vital importância para uma alta qualidade de vida. Nos próximos anos da nossa existência aqui na terra ou quem sabe em outro planeta, tentaremos ao máximo procurar alcançar todos os ideais humanos ou quem sabe extraterrestres, mas continuando com um caminho a perseguir, onde, junto com outros,
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busquemos a direção do resignar-se, dizendo que existem outros formas e caminhos que possamos seguir.
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ANEXO
1. Comentários dos professores que participaram das Oficinas.
Cristiane Ziani, Leme Foi válida, descontraída e, à medida que foi se desenvolvendo, demonstrou a real importância das atitudes de união, confiança, inclusão e prazer. Modificou a minha experiência, de maneira sutil – estava apenas reforçando a competitividade por mais que eu quisesse variar as brincadeiras. Penso que esta mudança de proposta vai reverter a agressividade presente nos alunos, tornando-os mais felizes e amigos, além de adquirir outros conceitos.
Elídia Raha Dopp, Leme Gostei muito, senti que há muito sentimento bom em todos, muito calor humano, e quando surgem essas oportunidades, a gente nota que é isso que todos desejam e essa hora é para colocar isso para fora e perceber que eu posso mudar para melhor e vou mudar.
Maísa Francisco Tavanilli, Amparo Eu achei ótimo, pois não existe competição, mas sim cooperação entre as pessoas; traz o resgate do companheirismo, cooperação, integração e até mesmo nas nossas vidas nem sempre podemos viver sozinhas e precisamos de outras ou muitas pessoas para atingir nossos objetivos e sermos muito mais felizes.
Carolina Gomes da Silva Dantas, Capão Bonito Muito interessante, pois não são simples brincadeiras. Nós, como professores, devemos aproveitar esta ferramenta como forma de aprendizagem.
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Ana Lúcia S. Mello, São Paulo No início, não querIa participar. Entretanto, através das atividades propostas, integrei-me ao grupo. Acredito que seja o objetivo desses jogos a integração.
Aparecida Maira Grezzoni Barbosa, Araraquara Acredito que tenha feito com que o professor pudesse entender um pouco do que é capaz e do que a ludicidade dentro de sua aula pode fazer. Não bastam apenas as brincadeiras. Você tem que vivenciá-las para poder discutir com seus alunos. Graças a Deus que aparecem novas propostas modernas de aprendizagem em que podemos não só ensinar as crianças como a nós também.
Edileine Alves de Oliveira Milanezes, Juquetiba Excelente. Através de atividades simples, nos levou a refletir sobre nossas atitudes diante das pessoas e nos encorajou a sermos melhores professores, promovendo, assim, mudanças no ensino.
Conceição Figatti, Mogi das Cruzes Foi ótimo, porque resgatou o espírito do coleguismo, respeito, solidariedade e momentos de lazer, levantando a auto-estima dos professores que atualmente sentem-se sufocados com a grande responsabilidade de formar cidadãos críticos, competentes, responsáveis, solidários e realizados profissionalmente.
Edir Jerra Micali, Piedade
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Interessante, motivadora. Veio acrescentar maiores oportunidades para refletir e propiciar sugestões para mudanças. Daniella Santos Fernandes, Guarujá Achei muito motivante por trazer a idéia da cooperação e atitudes que, para quem educa, são valiosas. Estar junto ao aluno e não acima dele ou contra também nos traz a forma de uma aprendizagem gostosa, produtiva, em que, muitas vezes, não acontece nas nossas aulas. É a segunda vez que participo de atividades como essa e acho que poderiam ocorrer com mais freqüência nas escolas. Esses momentos geram uma criatividade fantástica e prazerosa de fazer e estar juntos.
Adriana Dinapóli, Praia Grande Muito dinâmica, divertida, com muito prazer, dando uma visão nova na relação aluno/bagunça/professor/escola.
Cláudia Ferreira Prata, Quipapá Muitas vezes, por trabalhar em várias escolas, não pude participar de muitas oficinas, mas a de hoje, em especial, achei muito interessante, descontraída e criativa. Parabéns ao capacitador por mostrar a força que cada um de nós tem dentro de si. E acredito que após essa proposta, eu, junto com os outros, possamos nos comunicar mais para melhorar juntos o nosso meio e quem está ao nosso lado.
Maria Helena Alves, Maceió Eu gostei muito. Aprendi muitas coisas e resgatei algumas coisas que estavam mortas ou esquecidas no meu passado.
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Maria Elisa de Almeida Silva, Capão Bonito Muito boa. Trouxe para mim algo novo que é a cooperação, embora já saibamos o que seja, mas não colocamos em nosso dia-a-dia e principalmente em prática.
Aline Martinho, Caraguatatuba Nossa vida sempre foi marcada por uma luta, isto em todos os seus aspectos. Portanto, muitos se esquecem que todos somos iguais, vamos todos para o mesmo lugar. O curso pode resgatar a importância de cooperar uns com os outros.
Eliane de Queiroz Leandro, Porto Seguro Para mim, a oficina foi ótima em todos os sentidos, pois estou começando na Educação e nunca tive aulas parecidas assim na Faculdade. Essa oficina trouxe não só para mim como para quase todos os outros novas formas e idéias de como podemos ensinar melhor e com prazer.
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BIBLIOGRAFIA
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