Freguesia de Real
História e Património Ficha Técnica: Textos e Fotografias: Pedro Pina Nóbrega (excepto quando assinalado) Organização: Freguesia de Real www.real-pct.net
Impressão: Desigm Cedência de fotografias: José Gouveia (ACCPA), Liberto Carvalho e José Fernando Duarte.
Financiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural 2007-2013, no âmbito do Projecto “Viver Mais e Receber Melhor, com Identidade e Memória” Janeiro 2013
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Freguesia de Real: História e Património
Enquadramento Geográfico
Administrativamente pertence ao concelho de Penalva do Castelo, distrito de Viseu, NUT II de Dão Lafões. Confina a Norte e Este com a freguesia de Castelo de Penalva, a Sul com as freguesias de Freixiosa e de Quintela de Azurara, do concelho de Mangualde e a Oeste com a freguesia de Germil e a dita de Quintela de Azurara. Eclesiasticamente pertence ao arciprestado de Penalva do Castelo, zona pastoral do Alto Dão e diocese de Viseu. A sua área estende-se por 4,7 Km2 e é marcada pelo vale do rio Ludares a Sul e pela Serra de Vila Mendo, mais conhecida por Serra de Real, a Norte. A altitude média da freguesia é de 475 metros acima do nível do mar, sendo o ponto mais baixo na Lameira, Ribeira, junto do Rio Lodares, com 440 metros, e o ponto mais alto junto ao alto da Serra de Real com 690 metros. A aldeia da Ribeira está a uma cota de cerca 450 metros, estando a sede de freguesia um pouco mais elevada, a 530 metros. O estrato geológico da freguesia divide-se entre os xistos e os granitos. A Nordeste e Este da aldeia de Real predominam os xistos biotitico-moscoviticos e metagrauvaques com intercalações de quartzitos finos e alguns filões de aplito-pegmatito. A restante área da freguesia é marcada pela existência de granitos porfiroides de grão grosseiro. Nalgumas zonas encontram-se filões de feldspato que ainda é explorado. Limites administrativos da freguesia
No vale do Ludares encontramos os aluviões e depósitos de fundo de vale formados durante o Holocénico.
Vista aérea sobre a Ribeira
Vista aérea sobre Real
A ocupação humana até à Idade Média
A presença humana mais antiga do nosso concelho data do Neolítico final (3000 a.C. – 3500 a.C.), que é a Anta1 do Penedo do Com, em Esmolfe, que tem associado um abrigo na rocha. Da Idade do Bronze Final e Ferro (1400 – 200 a.C.) existem outros vestígios, como sejam o Castro2 da Paramuna, em Esmolfe, e o Castelo de Penalva, este último com ocupação comprovada até à Idade Média. Do período romano (séc.s I/IV d.C.) proliferam no nosso concelho diversos sítios de habitate e epígrafes3 achadas isoladamente, sendo o sítio mais importante a Murqueira, que se localizava entre a vila de Penalva do Castelo e Fundo de Vila. Aqui se localizaria um vicus4. Na nossa freguesia não são conhecidos vestígios da ocupação humana antes da Idade Média (séc. XI/XII). No entanto, a localização da nossa freguesia conjugada com os solos férteis do vale do Ludares leva-nos a pensar que durante o domínio romano (séc. I a IV d.C.) se tenham aqui fixado populações, cujos vestígios não foram ainda detectados.
Anta do Penedo do Com, Esmolfe 1
monumento funerário da pré-história. área de habitação situada em local elevado e defendida por muralhas. 3 Inscrições em pedras dedicadas aos mortos ou aos deuses. 4 Pequeno aglomerado habitacional que poderíamos comparar às nossas pequenas vilas actuais. 2
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Se a primeira metade do primeiro milénio depois de Cristo foi marcada pela instalação dos romanos na Península Ibérica, a segunda metade foi-o, por sua vez, pela conquista islâmica, que se iniciou em 711. Sabemos que os árabes dominaram o Castelo de Penalva, reconquistado por Fernando Magno cerca de 1058, no entanto, e mais uma vez, a falta de vestígios e de documentos não nos permite afirmar que os árabes se tenham instalado na nossa freguesia. Provavelmente, aqui continuaram a viver cristãos, mesmo que sob a jurisdição dos islâmicos, instalados em Castelo de Penalva, pois este povo invasor escolhia locais estratégicos para se instalar, sendo, por isso, o seu povoamento em menor escala do que no Sul de Portugal. Nas ruínas do Castelo de Penalva foi encontrado um cabo de faca em osso semelhante a outros encontrados em Mértola e datáveis do séc. XII-
Castelo de Penalva
XIII, altura em esta cidade ainda era dominada pelos islâmicos. Foto: José Gouveia
Freguesia de Real: História e Património
Período Alto-Medieval (séc. VIII a X)
Um pouco por todo o concelho existem sepulturas escavadas na rocha que são popularmente denominados de campas, campas dos mouros, túmulos entre outras denominações. Algumas sepulturas apresentam a demarcação da cabeça e dos ombros, outras também dos pés, e por isso são chamadas de antropomórficas, outras mais Cabo de Faca em osso
simples são rectangulares ou ovaladas. A maioria destas sepulturas surge-nos isoladas, sendo em menor número as que se encontram aos pares ou em grupos de três. As necrópoles, onde o número de sepulturas é elevado, são escassas, estando relacionadas com templos de fundação medieval, é o caso de Pindo e de Castelo de Penalva. Estes túmulos eram escavados na rocha e posteriormente cobertos por tampa de pedra ou por terra. A cabeceira da sepultura era normalmente orientada a Oeste. Uma das explicações apontada para esta orientação é a crença cristã de que Deus apareceria a Oriente no dia do Juízo Final. Na nossa freguesia as sepulturas de que temos conhecimento deverão datar dos séc.’s XI/XIII.
Sepultura ao S. Marcos
Na nossa freguesia existe ainda uma sepultura visível atrás da capela de S. Marcos num afloramento granítico. Apresenta uma forma humana com cabeceira rectangular. Está orientada a Noroeste. Na Quinta da Aveleira existem soterradas duas sepulturas escavadas na rocha de forma antropomórfica. Na Nogueira também existiam duas sepulturas que hoje estão soterradas.
Após a “reconquista” cristã (XI-XV)
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Entre 1055, data da conquista do castelo de Seia, e 1068, data da conquista do Castelo de Coimbra, Fernando Magno fixa a linha de fronteira no rio Mondego. Começará agora o repovoamento de toda a região de Viseu pelos Cristãos, através de presúrias1, da concessão de forais2 a várias terras e de propriedades a nobres e ordens religiosas. A mais antiga referência documental onde surge o topónimo Real é no foral de Zurara (1109-1112), parte do
Título especial a que eram concedidas aos nobres certas terras por eles conquistadas aos infiéis, durante a reconquista cristã e a formação territorial de Portugal. 2 Documento emanado do monarca, pelo qual se constituía o concelho, se regulava a sua administração, e se indicavam os seus limites e privilégios.
actual concelho de Mangualde. Neste documento surge o Rio Ryal, actual Ludares, que fazia fronteira, grosso modo, entre as terras de Zurara e de Penalva. Sendo o rio Ludares a fronteira, terá a Ribeira nesta altura pertencido ao concelho de Zurara? Não cremos. Os limites que constam do foral são muito genéricos e nas Inquirições de 1258 surge a Ribeira em terras de Penalva, sem qualquer referência às terras de Zurara.
No século XIII os reis desenvolveram um plano de repressão contra as usurpações dos senhores das terras. O sistema das confirmações3 de D. Afonso II foi acompanhado e seguido de sucessivas inquirições4, que duraram até aos finais do séc. XIV, alcançando o auge com D. Dinis. As inquirições régias serviram para a administração cen-
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Aprovação por D. Afonso II de privilégios atribuídos pelos reis anteriores. 4 Inquéritos sobre a posse da terra e direitos de apresentação dos párocos nas igrejas paroquiais.
tral ter um cadastro rigoroso de grande parte do País. Assim, o rei estabelecia com firmeza a sua autoridade, impedindo abusos e periodicamente interferindo a bem de uma justiça centralizada e de um sistema financeiro planificado. Em 1258, altura em que D. Afonso III ordenou a elaboração de Inquirições, a actual freguesia de Real tinha cerca 5
de 6 fogos e 30 habitantes. Existiam em Real três propriedades de vilãos e na Ribeira uma propriedade.
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Pessoas que não eram nobres.
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Freguesia de Real: História e Património
Após a “reconquista” cristã (XI-XV) (cont.)
A propriedade da Ribeira estava isenta de pagar foro6 ao rei através de uma estratégia comum à época, o amádigo7. Assim aconteceu com um filho de Soeiro Amarelo que foi entregue, no reinado de D. Sancho II, a Maria do Salvador, da Ribeira, para ser criado, ficando o Soeiro Amarelo com a parte que pertencia a Maria do Salvador e comprando a outra parte da fogueira8 que tinha sido de outro proprietário. Entretanto, Soeiro Amarelo tinha deixado em testamento metade aos seus filhos e outra metade ao Mosteiro de Maceira Dão. O Mosteiro de Maceira Dão manteve propriedades na Ribeira até à sua extinção em 1834. Uma das propriedades de Real era uma herdade9, foreira ao Rei, comprada por Martinho Gonçalves, cavaleiro, no reinado de D. Sancho II e que pertencia à fogueira que tinha sido de Gentilia. Esta propriedade tinha sido “confiscada” para o Rei pelo seu porteiro, o oficial da administração financeira e judiciária da época, sendo entregue a Estêvão Pires de Tavares que recebia dela ração de pão, ou seja a renda paga em cereal. Este Estêvão Pires era o Senhor das Terras de Tavares (parte Nordeste do actual concelho de Mangualde). Existia ainda um casal10 que tinha sido de Maria Garcia que o deixou em testamento à Igreja de Castelo de Penalva, cujo pároco o deu depois a Fernando Remondes, escudeiro. No século XV, a 20 de Agosto de 1433, o Cabido da Sé de Viseu recebeu um casal e moinhos por doação de Fer-
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Renda paga em dinheiro ou em géneros. 7 O amádigo consistia na entrega de um filho segundo de um nobre a uma ama para esta o criar. Muitas vezes eram os agricultores que pediam para criar filhos de fidalgos para que as suas terras ficassem isentas de encargos e sobre a protecção do Senhor. Era uma forma de os pequenos agricultores sobreviverem aos pesados encargos e de os Fidalgos irem aumentando as suas propriedades e influência. 8 Casa de habitação. Corresponde aos actuais fogos. 9 Uma herdade na idade média não tinha o mesmo significado que tem hoje. Herdade era o conjunto de bens que se herdavam, podiam ser parcelas de terreno pegadas e contínuas, ou parcelas de terreno dispersas. 10 Um casal era uma exploração agrícola familiar. Era constituída por terrenos aptos para a agricultura e pomares e por terrenos incultos, ou apenas pelos primeiros; assim como, pela morada do camponês e por vários anexos para o gado e para a arrecadação dos produtos e alfaias agrícolas .
nando Anes e sua mulher Branca Afonso. Fizeram a doação por os pais de Fernando Anes terem tido obrigações para com o Cabido e assim desobrigarem as suas almas. O Cabido tomou posse destas propriedades a 1 de Setembro seguinte, data em que foram declaradas as propriedades pelo respectivo caseiro. Pela descrição do caseiro podemos localizar as diversas propriedades junto ao rio Ludares. Este documento dá-nos informações importantes sobre a freguesia: a existência de uma ponte na Baralha e de diversos caminhos, o cultivo do linho, a existência de moinhos, a disposição das casas da aldeia numa rua e não de forma dispersa.
Trazlado do inztrumento de declaraçao das fazendas atrás doadas feitas pelo cazeiro Gonçalo Annes no mesmo anno. Saibam quantos este inztrumento virem, como dezanove dias do mez de Setembro, Era do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil quatrocentos e trinta e tres annos, em Real, do julgado de Pennalva, em prezença de mim Vazco Lourenço, tabelliam pelo infante Dom Henrique em a dita terra, e das testemunhas que ao diante som ezcriptas, estando hi Rodrigo Annes conigo de Vizeu, abbade de Santiago Torre de Mem Corvo. Logo o dito Rodrigo Annes deo juramento dos Santos Evangelhos a Gonçalo Annes, morador no dito logo de Real, cazeiro de um cazal que hora da o cabido da cidade de Viseu, bem e direitamente e sem nenhum mal dicia que fosse dicesse e declarasse todalas couzas que o dito cazal ha no dito logo de Real e seo termo, convem a saber cazas e vinhas e herdades para o dito cabido poder haver seo direito e se as ditas herdades nom poderem alhear nem lapidar. E o dito Gonçalo Annes por o juramento que feito havia assim prometeo de dizer e declarar todo o que dello souber e por qualquer guiza que fosse de todalas couzas que ao dito cazal pertencem. Item primeiramente dice o dito Gonçalo Annes que estas eram as herdades que elle sabia que o dito cazal havia no dito logo de Real e seo termo que se ao diante seguem. Item huma lavoira do cham a de preiros que parte de hum cabo com Pedro Diz e da outra parte para o rio e da outra com Joam Pirez. Item huma leira que jaz a de pereiros de fonte para fundo dalem do rio e daquem que parte de duas partes com Valentim de Almeida e com Maria Annes do cazal. Item outra leira que jaz a ponte da do baralha e parte com Joam Pirez e da outra parte com Gonçalo Rodriguez, o loiro. Item outra leira que jaz a carreira que parte com Gonçalo Gonçalvez dos Abegoens e por caminho publico. Item outra leira ao fojo que parte com Joam Pirez e da outra parte com herdade que foi de Pedro Affonso clerigo e com caminho publico. Item uma leira jaz pedraz do ribeiro que parte com herdade que foi de Martim Affonso e de outra parte com Vasco Fernandes. Item outra leira a várzea a mouta do espadanal que parte com Martim Pirez e da outra parte com herdade que foi de Joam Dominguez e de Lourenço Dominguez. Item huma leira que jaz no dito logo da várzea que parte com Pedro Diz e com o rio e da outra parte com herdade que foi do Joam Dominguez e Lourenço Dominguez. Item outra belga de cham ao valle de Pero Monteiro que parte com herdade com Gonçalo Martins de Valdigem e da outra parte com Joam da Fonte. Item outra leira as Pedras de Elvira Dominguez que parte com herdade que foi de Pedro Affonso clerigo. Item outra leira ao carvalhal que foi de Luiz Pirez e parte com o dito Gonçalo Annes e da outra parte com Estevam Gonçalvez e com Lourenço Martins. Item huma belga de lameira parte com o dito Gonçalo Annes e com o linhar que foi de Lourenço Dominguez. Item o lameiro da lagea com a horta que parte com eyrós de Joam Vazques. Item huma belga de cham aos Linhares do santo que parte de duas partes com Joam Pirez e da outra parte com Maria Lourenço. Item outra leira a lameira da roda que parte com eyrós de João Gonçalvez e da outra por caminho publico. Item outra leira no valle a pedra da sertaa que parte com Joam Annes da Ribeira de todalas partes. Item outra leira a de Pedro Moiro que parte com o dito Joam Annes e da outra com o dicto Gonçalo Annes. Item mais duas belgas de cham ao dito logo de Pero Moiro que parte de duas partes com o dito Gonçalo Annes. Item outra leira em riba de Pero Moiro que parte com o dito Joam Annes e com herdade do mosteiro de Villa Nova e vai ata porta do moinho. Item outra leira ao ribeiro do valle que parte com Vicente Annes da Fonte e com o dito ribeiro. Item mais duas leiras ao carvalhal da leira longa que parte com o dito Gonçalo Annes e com herdade de Pero Diz. Item maiz hum pardieiro que jaz ao dito logo de Real que parte com Gonçalo Martins de Valdigem e com a rua da dita aldeã. Item uma vinha velha que jaz no ervedal que parte com Joam Pirez de duas partes e com o caminho publico e vai inteztar em vinhas de Vasco Fernandes e de Clara Affonso. Item outra vinha no dito lugar do ervedal que parte com Vazco Leal e da outra parte com Rodrigo Airez. Item um bacelo ao outeiro que parte com Gonçalo Martins de Valdigem com o caminho puvico. Item outra belga no dito logo do ervedal que parte com Martim Pirez e da outra com Gonçalo Rodriguez. Item mais huns moinhos que o dito cazal há a de Pedro Moiro. A qual declaraçam e demarcacao assim feita por o dito Gonçalo Annes como sobredito he, o dito Rodrigo Annes conigo da dita Se em nome do dito cabido pedio assim dello ezte instrumento que foi feito no dito logo do Real, dezanove dias do mez de Setembro, da sobre dita era. Testemunhas que prezentes forom Gonçalo Lourenço do Real, Affonso Pirez porteiro do dito cabido e Fernando Annes de Valdigem e o dito Gonçalo Annes. E eu, Vazco Lourenço, sobredito taballiam, por o dito senhor infante em o dito julgado de Pennalva que este inztrumento ezcrevi e meu signal aqui fiz que tal he [em lugar de signal publico]. E nam continha o dito instrumento mais do que fiz trasladar do proprio que fica no Archivo dezta Cathedral pertencente a Meza Capitullar aonde em tudo e por tudo a elle me reporto com o qual conferi e consertei ezte treslado e comigo hum official de Justiza abaixo assignado em Vizeu aos dias do mez de de 1703. [assinatura Jeronimo Costa]. [assinatura Official de Justiça].
Locais referidos no documento:
Pereiros Ponte da Baralha Carreira Fojo Pedras do Ribeiro Várzea e Moita do Espadanal Vale Pedras Lagea Linhares do Santo Roda e Eirós Pedro Moiro Moinho e Ribeiro do Vale Real Ervedal Outeiro Moinhos e Pedro Moiro 1433, 19 de Setembro, em Real, Penalva do Castelo – Declaração e demarcação dos bens do casal pertencente ao cabido da Sé de Viseu situado em Real (Penalva do Castelo), feita por Gonçalo Annes, seu caseiro, perante Rodrigo Annes, cónego da Sé de Viseu e abade da Igreja de Santiago da Torre de Moncorvo.
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Estão identificadas na nossa freguesia algumas pedras que apresentam gravadas diversas figuras, cujo significado não está claramente explícito. Algumas destas figuras em forma de cruz, os cruciformes, são comuns na nosFoto: Liberto Carvalho
sa região e são normalmente atribuídos aos cristãos-novos, ou seja a judeus convertidos, que as usavam para manifestar a sua nova fé. No Largo da Fonte encontram-se hoje duas pedras com gravuras. Estas pedras encontravam-se numa parede da casa que foi demolida para se proceder à construção da “Casa de Apoio Social” na Tv. João de Castilho. A abreviatura IHS não constitui qualquer dúvida de interpretação, visto tratar-se de uma abreviatura cristã que ainda hoje se usa e que corresponde às três primeiras letras de “Jesus” em grego. O símbolo que levanta mais dúvidas é a forma triangular ou de meia-lua encimada por uma cruz. Há autores que defendem que o triângulo representa o monte Horeb onde Moisés recebeu as tábuas da Lei. Cremos que Foto: Liberto Carvalho
poderá significar, igualmente, o Calvário onde Jesus foi crucificado e não estar apenas relacionado com a presença de cristãos-novos. Ainda recentemente se desenhava estes símbolos nas cangas dos bois, nas portas das adegas e lojas. Nas ombreiras da porta do n.º 5 da Rua Prof. Dr. Aguiar e Silva encontram-se três cruciformes de diversas for-
Gravuras da Tv. João de Castilho
mas. Numa casa na R. Cónego Jaime, n.º 9, encontra-se uma pedra que tem gravada uma cruz sobre um meio circulo. Sobre a cruz uma meia elipse raiada e por baixo dois “olhos”. Na Ribeira, junto ao fontenário encontra-se uma gravura cuja interpretação ainda é duvidosa. Interpretamos esta gravura de quatro formas distintas: um carro de bois, um orante (figura humana com os braços erguidos em oração), um candelabro ou um cruciforme, dependendo da posição original que se desconhece. Fotos: Liberto Carvalho
Freguesia de Real: História e Património
Cruciformes e Gravuras rupestres
Em Penamacor foi identificada uma gravura semelhante na posição vertical que se assemelha a um cruciforme. na Serra da Alvoaça, Seia e Covilhã, foi identificada uma gravura idêntica mas na posição horizontal que foi identificada como um carro de bois. Mais gravuras haverá na nossa freguesia...
Gravuras na R. Prof. Dr. Aguiar e Silva, 5
O Primeiro Censo
Gravura na R. Cón. Jaime, 9
Em 1527 realiza-se o primeiro censo da população de Portugal, denominado “Cadastro da População do Reino”. Segundo este Cadastro o concelho de Penalva, ainda, tinha duas sedes: a do Castelo onde estava a Igreja e um Paço do Concelho onde se faziam as audiências e a de Castendo onde estava outro Paço do Concelho e se faziam as audiências de permeio. A freguesia de Real era a 7ª mais populosa. No lugar da Ribeira viviam 7 moradores e em Real 33, o que perfazia um total de 40 moradores. O termo moradores corresponde a chefes de família e não a habitantes.
Gravura junto à Fonte da Ribeira
Das sedes de freguesia, a aldeia de Real era a terceira mais populosa a par das Antas, só ultrapassadas por Esmolfe, com 40 moradores, e Sezures, com 51 moradores. Real tinha mais moradores que Castendo, apenas com 29 moradores, e a Ribeira mais moradores que Castelo de Penalva, que apenas tinha 5. Comcelho de penallua No dito comcelho de penalua vivem moradores.............. 764 Este comcelho he todo terra chaam e tem duas cabeças huma se chama o castello em que esta a Igreja em huum paço do Comcelho em que se ffazem as audiencias e outra cabeça do comcelho he o lugar de castemdo em que se esta outro paço do comcelho no qual outro sy se ffazem as audiencias de permeyo e ha nele os lugares e moradores seguimtes Item primeiramente o lugar de castemdo em que viuem.. Castello que he a outra cabeça vivem.............................. o lugar de emcuberta........................................................ o lugar de coreja2............................................................. o lugar de prindo de cima................................................. o lugar de rorunz............................................................... o lugar de pimdo de fumdo................................................ o lugar doliueyra............................................................... o lugar de casalldrey3....................................................... o lugar de vila garcia........................................................ o lugar de samta ovaya...................................................... losymde.............................................................................. losymdinho......................................................................... gomdomar.......................................................................... a Jmsoa............................................................................. o lugar desperoens............................................................. nas qujmtans da mouta e lamosa4..................................... em lysey.............................................................................. em sam gymill.................................................................... nas quymtas de golges5...................................................... em fumdo de villa..............................................................
29 5 10 20 12 15 13 10 20 6 7 24 14 7 30 8 8 5 9 6 13
em esmolfe......................................................................... sezures.............................................................................. em a ponte.......................................................................... em germill......................................................................... nas pouoaçoens do lamegall6............................................ no lugar da rybeyra........................................................... em tramquoselhe7.............................................................. em tramcoselo................................................................... no vale e laigeas e mosteyro............................................. em sandiaens..................................................................... no casall e tybaies............................................................. em ryall.............................................................................. no lugar depejes............................................................... nos paços viuem................................................................ nas pouoaçoens8................................................................ em quedernelas................................................................. no lugar das quymtas........................................................ em souto devyde e aldea.................................................... no lugar de vila coua......................................................... no lugar de marlio9............................................................ na matela nova e velha...................................................... na meosela......................................................................... nas amtas........................................................................... em pousadas......................................................................
40 51 6 19 13 7 8 14 29 13 16 33 21 4 7 16 11 27 36 32 17 16 33 18
que todos ffazem a dita soma.................................................... Este comcelho tem de termo em comprido tres legoas e de larguo duas legoas parte e comfromta com o comcelho de pouolide e com o comcelho de tauares e com ho comcelho de zurara e com o comcelho dalgodres e com ho comcelho da matança e com o comcelho da pena verde e com o comcelho de gulfar e com ho comcelho de ryo de mujnhos e com ho comcelho do ladeyro.
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Corga Casal Diz (?) 4 Desconhece-se o local 5 Goje 6 deve incluir Coucinheiro e Abegões 7 Trancoselinhos 8 Pousadas 9 Mareco (?) 3
1527 - Cadastro da População do Reino
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Freguesia de Real: História e Património
A Acção da Inquisição na Freguesia
Em 1536 é instituída definitivamente pelo Papa Paulo III a Inquisição em Portugal, que teve a sua primeira sede em Évora, onde estava a Corte, transferindo-se depois para Lisboa. Ao longo dos anos foram criados Tribunais em diversas cidades do Reino para uma melhor acção inquisitorial, como o de Coimbra, cuja área de jurisdição abrangia a freguesia de Real. A Inquisição só viria a ser extinta formalmente em Portugal no ano de 1821.
Da nossa freguesia foram julgados pela Inquisição quatro indivíduos em 1719 e 1725. Nestes anos o Abade e o Cura de Castelo de Penalva e o Cura de Real, que era apresentado por aquele, mais treze habitantes de Real, Casal das Donas, Vales, Tibães, Pousadas, Vilar do Dão viram-se envolvidos num caso de Molinosismo1. Os três clérigos não resistiam às tentações da carne e envolveram-se com diversas moças das suas paróquias, duas delas foram as irmãs Branca e Maria da Costa, de Real. Os processos elaborados pela Inquisição descrevem com algum
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doutrina mística, que levava ao envolvimento carnal entre sacerdotes e mulheres que eram por eles dirigidas espiritualmente. Diziam que as más acções feitas com o coração em Deus não eram pecaminosas.
pormenor este envolvimento.
O primeiro a ser apresentado à Inquisição foi o pároco de Real em 17 de Abril de 1719. António de Matos era filho de António de Matos e Maria da Costa e natural da freguesia de Real. Foi preso a 02 de Maio do mesmo 2
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ano não se sabendo quando foi proferida a sentença. Foram-lhe passados termos de segredo em 17 de Junho seguinte e termos de ida e penitências3 a 22 do mesmo mês. Na capa do processo há informações de que mais
Compromisso por parte dos réus de que nada revelariam do que se tinha passado desde que tinham sido presos até à data de soltura. 3
tarde teve o degredo comutado para o bispado de Elvas, mas continuaria a não poder entrar no bispado de
Documento que estipulava a saída do réu e as penas que tinha de cumprir.
Viseu (03-12-1725).
As duas irmãs, Branca e Maria da Costa eram filhas de António da Costa e Eufémia Rodrigues e ambas solteiras. 4
Foram presas a 4 de Maio de 1720 e foi-lhes lida a sentença e presentes a Auto de Fé , que se realizou no Terreiro de S. Miguel, em Coimbra, a 7 de Julho do mesmo ano, sendo inquisidor-geral o cardeal D. Nuno da Cunha de Ataíde e Melo, e pregador o Pe. Dr. Francisco de Torres. No dia seguinte foi-lhes passado termo de soltura e
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Cerimónia na qual se fazia a demonstração pública da Fé, se apresentavam como exemplo as pessoas que, tendo andado transviadas dos verdadeiros caminhos da Fé, se haviam convertido, publicamente renunciavam os seus erros e, solenemente, eram readmitidas no seio da Igreja.
segredo e no dia 18 do mesmo mês termo de ida e penitência.
Um outro processo diz respeito a João de Figueiredo natural da freguesia de Quintela de Azurara, filho de António Manuel, moleiro, e de Maria de Figueiredo, era cristão-velho5. Residia na freguesia de Real onde era moleiro e estava casado com Domingas Nunes. Foi preso a 26 de Outubro de 1724 acusado de blasfémia, proposições
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pessoa que sempre foi cristã, em contraposição aos cristãos-novos, que eram judeus convertidos ao cristianismo. 6
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Ideias contra a fé católica.
heréticas , superstição e feitiçaria. Foi-lhe lida a sentença e presente a Auto de Fé a 10 de Junho do ano seguinte. Os termos de soltura e segredo foram passados no dia seguinte e os termos de ida e penitência no dia 22 do mesmo mês.
A Primeira Descrição da Freguesia
Em 1758 o Pe. Luiz Cardoso levou a cabo a elaboração de um Dicionário Geográfico, tendo enviado a todos os párocos um extenso questionário7. Trata-se da mais antiga descrição da freguesia que se conhece. Nesta data a freguesia pertencia ao arciprestado de Penaverde e ao concelho de Penalva de que era donatário8 o Marquês de Penalva. Real tinha 66 fogos e 162 pessoas, e a Ribeira 22 fogos e 54 pessoas, perfazendo um total
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As respostas dos párocos encontram-se hoje na Torre do Tombo compiladas no fundo chamado Dicionário Geográfico, mais conhecido por Memórias Paroquiais 8 Donatário era o administrador do concelho em nome do Rei, recebendo por isso as rendas que caberiam ao Rei.
de 88 fogos e 216 pessoas. Existia a Irmandade das Almas agregada ao Santíssimo Sacramento, que estava erecta na Igreja Paroquial. Na 9
Ribeira havia a capela de N.ª Sr.ª da Ouvida , que pertencia aos moradores. O pároco era apresentado pelo aba-
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Na antiga capela ainda existia um ex-voto à N.ª Sr.ª da Ouvida.
de do Castelo de Penalva, que lhe pagava a renda de seis mil reis. Na freguesia se cultivava principalmente milho, mas também centeio, trigo, cevada, vinha, oliveiras, castanheiros e árvores de fruto. Tinha vários moinhos e um lagar de azeite. Servia-se do correio da cidade da Guarda que passava por Quintela a caminho de Viseu. 10
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O pároco refere duas serras, a de São Domingos e a do Fial, que em algumas partes eram cultivadas, sendo o
Actual Serra de Vila Mendo ou de Real.
fruto mais abundante o centeio. Havia nelas criação de gado que recolhia ao povo e caça de coelhos e perdizes. 11
Sobre o Rio Ludares diz que nascia em Furtado , no actual concelho de Fornos de Algodres, e que criava ruivacos e bordalos em pouca abundância que só se pescavam entre Abril e Junho. Nas suas margens apenas se cultivava milho e algum trigo por estas serem pouco fertilizadas com as águas do rio; tinham alguns amieiros e sal12
gueiros. Na nossa freguesia existiam duas pontes de pau, a da Baralha e uma na Ribeira.
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O rio Ludares passa na freguesia de Furtado, onde é conhecido por Ribeira de S. Domingos, mas nasce um pouco mais a montante na zona de Alagoas, já na freguesia de Cortiçô. 12
Substituída em 1866 pela actual de pedra.
Freguesia de Real: História e Património
A Primeira descrição da Freguesia (cont.) O que se procura saber dessa terra é o seguinte: venha tudo escrito em letra legível, e sem breves Ryspostas pertencentes ao lugar, e freguesia de Sam Paulo de Real anexa de Sam Pedro da Vila do Castelo de Penalva, segundo a ordem dos interrogatórios expedidos pela secretaria de estado de Sua Magestade Fidelissima. 1. Em que província fica? A que bispado, comarca, termo, e freguesia pertence? Fica este lugar de Real na província da Beyra Alta, e pertence ao Bisppado e comarca da cidade de Vizeu; tem termo chamado concelho de Penalva. 2. Se é d’el rei, ou de donatário, e quem o he ao presente? Hé donatário: o qual de prezente hé, e de todo o concelho, o Marquês de Penalva. 3. Quantos vizinhos tem, o numero das pessoas? Tem este lugar sesenta e seis fogos e cento e sesenta e duas pessoas. 4. Se está situada em campina, vale, ou monte; e que povoações se descobrem d’ela, e quanto dista? Está situado este povo nas abas de huma serra chamada de Sam Domingos, da parte do Sul digo da parte do Norte, os lugares que se descobrem, da parte do sul, e poente sam Quintela, Cunha alta, e Freixiosa, que distam meya legoa. 5. Se tem termo seu: que lugares, ou aldeias comprehende: como se chamão: e quantos vizinhos tem? Tem termo do concelho de Penalva comprehende só o lugar da Ribeyra, tem vinte e dous vesinhos, e por todos sam: outenta e outo vezinhos: e dusentos e desaseis pessoas de sacramento, de que se compõem esta freguesia. 6. Se a paróquia está fora do lugar, ou d’entro d’ele? E quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia; e todas pelos seus nomes? A paróquia está quasi mista ao mesmo lugar de Real e só tem mais o lugar da Ribeyra. 7. Qual é o seu = orago = quantos altares tem, e de que sanctos: quantas naves tem: se tem irmandades: quantas, e de que santos? O seu orago hé o Apóstolo Sam Paulo, tem três altares, no mor está o mesmo Apóstolo, e dois coletrais, em hum dos quais está a imagem de Nossa Senhora do Rozário, e em outro a imagem de Sam Sebastiam: tem huma Irmandade das Almas agregada ao Santíssimo Sacramento. 8. Se o pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação he, e que renda tem? Tem Párocho anual aprezentado pelo Abbade do Castelo de Penalva. Rende seis mil réis, que dá o mesmo Abbade, e o mais hé o que os fregueses querem dar. 9. Se tem beneficiados: que renda tem: e quem as apresenta? 10. Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas; e quais são os seus padroeiros? 11. Se tem hospital: quem administra; e que renda tem? 12. Se tem casa da misericórdia; e qual foi a sua origem, e que renda tem? E o que houver de notável em qualquer destas coisas? [Não declarou nada sobre as perguntas 9 a 12] 13. Se tem algumas ermidas, e de que sanctos; e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem? Tem huma capela de Nossa Senhora da Ouvida, no lugar da Ribeyra da mesma freguezia, pertencente ao mesmo lugar e moradores, e nam acode a ela romagem alguma. 14. Se acodem a elas romagem sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes? E a esta capela nam acode romagem alguma. 15. Quais são os fructos da terra, que os moradores recolhem em maior abundância? Produz a terra senteyo, milho, trigo, e sevada, vinho, e azeite, e castanhas, e frutas, e os frutos que os moradores recolhem, em mayor abundancia he milho. 16. Se tem juiz ordinário da câmara; ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta? Tem doas sessões ordinarias e camera, e ouvidor de Donatario; e o Corregedor da Comarca de Vizeu, tem neles, e no concelho, a jurisdiçam, que elas lhes faculta. 17. Se he couto, cabeça de concelho, honra ou behetria? 18. Se ha memoria de que florescessem ou dela sahissem alguns homens insignes por virtude, letras ou armas? 19. Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, e se é franca ou captiva? [Não declarou nada sobre as perguntas 17 a 19] 20. Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte, e se o não tem de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega? Nam tem correyo servesse do correyo da cidade da Goarda que passa por Quintela distancia de hum quarto de legoa para a cidade de Viseu, e torna para a Goarda. 21. Quanto dista da cidade capital do bispado; e quanto de Lisboa capital do reino? A cidade de Vizeu, capital do Bisppado dista deste logar de Real tres legoas, e meya, e da de Lisboa capital do Reyno, dista sincoenta e huma e meya. 22. Se tem alguns privilegios, antiguidades; ou outras coisas dignas de memoria? 23. Se ha na terra, ou perto d’ela alguma fonte, ou lagoa celebre; e se as suas aguas tem alguma especial virtude? 24. Se for porto de mar, descreva-se o sítio, que tem por arte, ou por natureza; as embarcações, que o frequentam, e que pode admitir? 25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros se for praça de armas descreva-se a fortificação; se ha n’ela ou no seu districto algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente? 26. Se padeceu ruína no terramoto 1755, e em que: e se esta ja reparada? 27. E tudo mais, que houver digno de memoria, de que não faça menção o presente Interrogatório. [Não declarou nada sobre as perguntas 22 a 27] Serra O que se procura saber d’essa serra é o seguinte: 1. Como se chama? Tem huma da parte do Norte, que se chama de Sam Domingos, tem de comprimento huma legoa, e de largura meya: e da parte do Sul outra serra chamada monte do Fial. 2. Quantas leguas tem de comprimento, e quantas de largura; aonde principia, e acaba? Este tem de comprimento legoa e meya e de largura meya. 3. Os nomes dos principais braços d’ela? 4. Que rios nascem d’entro do seu sítio; e algumas propriedades mais notáveis d’eles:
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as partes para onde correm; e onde fenecem? [Não declarou nada sobre as perguntas 2 a 4] 5. Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo d’ela? Ao longo da primeyra; está o lugar de Casal das Donas, este de Real, e ao longo da segunda chamdo monte do Fial esta o lugar de Sandias para a parte do nascente, e para a parte do Sul o lugar da Corvaceira. 6. Se ha no seu districto algumas fontes ou propriedades raras? 7. Se ha na serra minas de metaes, ou canteiras de pedras ou de outros materiais de estimação? [Não declarou nada sobre as perguntas 6 a 7] 8. De que plantas, ou hervas medicinais he a serra povoada e se cultiva em algumas partes; e de que genero de fructos he mais abundante? Cultivamsse algumas partes, e os seus frutos da mayor abundancia he centeyo. 9. Se ha na serra alguns mosteiros, igrejas de romajem, ou imagens milagrosas? [Não declarou nada sobre a pergunta 9] 10. A qualidade de seu temperamento? He ordinario. 11. Se ha n’elas creações de gados, ou de outros animais, ou caça? Há nelas creaçoes de gados, que se recolhem aos povos, e caça de coelhos e perdizes. 12. Se tem alguma lagoa, ou fojos notaveis? 13. E tudo o mais, que houver digno de memoria. [Não declarou nada sobre as perguntas 12 a 13] Rio O que se procura saber do rio dessa terra é o seguinte. 1. Como se chama assim o Rio, como o sítio onde nasce? Por esta freguesia passa hum Rio, que nasce pobre aonde he o limite de Furtado da vila de Algodres deste Bysppado de Viseu, distante duas legoas. 2. Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano? Nasce pobre, e nam corre alguns meses. 3. Que outros rios entrão nele, e em que Sítio? [Não declarou nada sobre a pergunta 3] 4. Se he navegavel, e de que embarcações he capás? Nam he navegavel. 5. Se he de curso arrebatado, ou quieto em toda a sua distancia, ou em alguma parte d’ela? He de curso quieto. 6. Se corre de norte a sul; se de poente a nascente: se de sul ao norte, ou se nascente a poente? Corre do nascente para o pente. 7. Se cria peixes; e de que especie são os que trás em maior abundância? Cria peyxes, ruivacos, e bordalos, em pouca abundancia. 8. Se ha nele pescarias; e em que tempo do ano? Nam há nela outras piscarias: e as dos ditos peyxes, hé só do mês de Abril até o de Junho. 9. Se as pescarias são livres, ou algum senhor particular em todo o rio, ou em alguma parte dele? Sam livres. 10. Se se cultivão as suas margens; e se tem muito arvoredo de fructo, ou silvestre? As suas margens cultivadas dam pam, milho, e algum trigo, mas pouco fertelisadas com as agoas dele. Tem algumas arvores sylvestres, como amieyros e salgueyros. 11. Se tem alguma virtude particular as suas aguas? [Não declarou nada sobre a pergunta 11] 12. Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes; e como se chamão estas; ou se ha memoria, de que, em outro tempo, tivesse outro nome? Até aqui só nome rio, daqui para o poente chamasse, o rio de Lodares, e entre Quintela e o lugar e freguesia de Germil, no qual se mete no rio Dam. 13. Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sítio em que entra nele? Morre no Rio Dam na freguesia de Germil. 14. Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes, que lhe embarassem o ser navegável? [Não declarou nada sobre a pergunta 14] 15. Se tem pontes de cantaria, ou de pau; quantas e em que sítio? Tem ponte de pao na freguesia de Sam Joam e outra tambem de pao ao pe de Travana e tres de pao na freguesia do Castelo de Penalva, huma chamada de Donaro [?] e outra nesta mesma freguesia tambem de pao chamada de Baralha e outra tambem de pao no lugar da Ribeyra, e os mays te que o dito rio, ou ribeyra tem, até que se entre no rio Dam dara conta o padre cura de Germil. 16. Se tem moinhos, lagares de azeite, pizões, noras, ou outro algum engenho? Tem moinhos, e hum lagar de azeyte, esta freguesia. 17. Se em algum tempo, ou no presente se tirou, ou tira ouro das suas areas? 18. Se os povos usam livremente as suas aguas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão? [Não declarou nada sobre as perguntas 17 a 18] 19. Quantas leguas tem o rio; e as povoações por onde passa desde o seu nascimento ate onde acaba? 19. Tem duas legoas e meya des que nasce the que morre. 20. E qualquer outra coisa notável, que não vá neste interrogatório. [Não declarou nada sobre as perguntas 20] Eu o padre Joam de Amaral cura actual na igreja de Sam Paulo do lugar de Real concelho de Penalva, arciprestado de Penaverde Bispado de Viseu por ciencia particular e informações que tomei com pessoas fidedignas mandei escrever tudo o que acima vai lavrado em resposta aos sobre ditos interrogatórios; em firmesa do que me asignei: Real de Maio vinte e nove de setecentos e cincoenta e oito annos. (Assinado:) O Cura, JOAM D’AMARAL
1758, 29 de Maio, em Real. Memória Paroquial de Real (Para melhor compreensão transcrevemos antes de cada resposta a respectiva pergunta)
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A fundação da paróquia de Real deverá datar do séc. XV ou XVI altura em que a população do país cresceu e forçosamente teve que haver uma reorganização das paróquias. Antes pertencia à paróquia de S. Pedro de Castelo de Penalva, à qual ficou anexa depois da sua criação. Em 1675 a paróquia de Real pertencia ao arciprestado de Penaverde e surge descrita na relação que o bispo D. João de Melo remeteu a Roma da seguinte forma: Igreja do Real, invocação de S. Paulo, curado anual, filial da Igreja do Castelo. Tem sacrário, dois colaterais, invocações de Nossa Senhora e de S. Sebastião. Pessoas maiores duzentas e setenta, menores quarenta, Ermida uma. Estava falta de ornamentos de que se mandou prover em Visitação. Autor desconhecido
Em 1758 mantinha os mesmos altares e respectivas invocações. Ainda hoje se conservam na Igreja, não nos altares colaterais mas em duas peanhas, uma imagem de S. Sebastião e outra de N.ª Sr.ª do Rosário. Em 1856 o Pe. Francisco Pina erigiu em acto de gratidão um altar em honra de N.ª Sr.ª da Conceição, que se encontra na parede lateral esquerda, conforme placa com a seguinte inscrição: "P. FRANCISCUS N / APINAINSIGNUM / GRATIO HOC SUIS / EREXIT EXPENSIS = A = 18L6" (Padre Francisco N. A. Pina em acção de graças erigiu isto a expensas suas. Ano de 1856). Em 1866 a fábrica da igreja era proprietária de duas casas de forno em muito mau estado e de duas terras (um rossio, chamado da Senhora, no sitio da Pé Redonda, uma belga ao Vale das Peras) e de 21 oliveiras, a maioria insignificantes, algumas das quais ainda hoje se conservam. Em 1912 existiam as imagens de N.ª Sr.ª da Conceição, S. Paulo, Santa Ana, Menino Jesus e S. Sebastião, bem como dois cálices de prata e respectivas patenas, e um cálice de prata que servia de custódia. A N.ª Sr.ª da Con-
Autor desconhecido
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Igreja Paroquial de S. Paulo
ceição possuía um manto azul de seda, um colar de ouro e uma coroa de prata. O S. Sebastião tinha um nicho móvel, assim como um resplendor de prata. À N.ª Sr.ª do Rosário pertencia uma medalha de abrir, um fio de contas e um par de arrecadas tudo em ouro, que lhe deveriam ter sido ofertados por devotos. Nas laterais do
Fachada da Igreja Paroquial
Sacrário estavam duas pequenas imagens, uma de S. Paulo e outra de S. Pedro. A imagem de N.ª Sr.ª de Fátima foi oferecida por D. Clotilde da Fonseca, tendo se efectuado a entronização da imagem a 5 de Agosto de 1928, proferindo uma alocução João Maria Domingos, aluno de teologia. Na sequência da Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português, em 1944 foram devolvidas à fábrica da igreja o edificio da igreja paroquial com o seu torreão, sino e adro e dezoito oliveiras situadas em diversos lugares de Real conhecidas por oliveiras do Santíssimo. Igreja de planta longitudinal composta por nave, capela-mor, sacristia no lado esquerdo e torre sineira no direito, com coberturas interiores diferenciadas, em falsa abóbada de berço com caixotões na capela-mor, iluminada por janelas rectilíneas rasgadas na fachada lateral direita, a da capela-mor em capialço, e pelo janelão do coro. Fachada principal em empena recortada e com os vãos rasados em eixo composto por portal e janelão em arco
Altar de N.ª Sr.ª da Conceição
abatido, com molduras salientes. Fachada lateral direita com porta travessa de verga recta. Interior com coroalto, púlpito no lado do Evangelho, arco triunfal de volta perfeita, flanqueado por retábulos colaterais. Retábulo -mor de talha dourada, do estilo barroco nacional. Retábulo-mor de talha dourada e pintada de verde e vermelho, de planta recta e três eixos definidos por quatro colunas coríntias, surgindo elementos fitomórficos nas estrias e tendo o terço inferior decorado por acantos, assentes em bases paralelepipédicas, duas de cada lado, e encimadas por friso de acantos e cornija, flanqueado por apainelados de volumosos acantos, que se prolongam em três arquivoltas, a interna torsa, e ornada por elementos fitomórficos, constituindo o remate. Ao centro, tribuna em arco de volta perfeita, com a boca rendilhada, interior com cobertura em caixotões de madeira pintada de azul e o fundo pintado com elementos fitomór-
Altar-mor
ficos; possui trono expositivo de dois degraus, na base do qual se situa o sacrário, parcialmente embutido, com colunas torsas nos ângulos, que enquadram pequenos nichos nas ilhargas, sendo a porta ornada por um Cristo Redentor, rematada por frontão triangular. Os eixos laterais possuem apainelados rectangulares, pintados com São Pedro no lado do Evangelho e Santo António no oposto. A festa anual do padroeiro é celebrada a 25 de Janeiro, dia em que se celebra a Conversão de S. Paulo. Nesta igreja encontra-se erecta a Irmandade das Almas que já em 1758 é referida pelo pároco.
Procissão de S. Paulo
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Capela da Ribeira
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Desconhecemos a data de fundação de uma capela na Ribeira, a referência mais antiga é de 1675, data da Relação de D. João de Melo já referida. Na Memória Paroquial surge com a invocação de N.ª Sr.ª da Ouvida e a responsabilidade pelo culto e conservação pertencia aos moradores. Não sabemos quando passou a ser designada por capela de St.ª Luzia, mas pelo menos há mais de 70 anos. A 16 de Janeiro de 1944 foram arrolados os seguintes pertences: a capela com seu sino e adro onde estavam três oliveiras; paramento completo branco e vermelho; cálice de metal dourado; campainha em cobre; duas oliveiras no baldio da Lameira; uma oliveira no caminho da fonte. Todos estes bens foram devolvidos à Fábrica da Igreja em 11 de Fevereiro de 1944. No final do séc. XX, a 6 de Fevereiro de 1999, devido à exiguidade e ao estado de degradação do edifício, decidiu-se a construção de uma nova capela no cimo da aldeia. Faziam parte da Comissão da Capela os Sr.s José Carlos Almeida, Inácio Saraiva Bernardo e Augusto Almeida. Foi benzida a 22 de Agosto de 2001, por D. António Monteiro, bispo de Viseu, sendo pároco o Pe. Delfim Dias Cardoso, e fazendo parte da Comissão da Capela os Sr.s Joaquim Domingos Salvador, António Silva Ferreira, João Fonseca e Rui Salvador. Na nova capela foi incorporada, apenas, a antiga cruz de granito do remate da fachada e a imagem de N.ª Sr.ª dos Remédios. Em 2008 foi adquirido um relógio, colocado na fachada, com mecanismo mecânico ligado a altifalantes. No interior simples encontram-se em peanhas as imagens de N.ª Sr.ª de Fátima, S. José, N.ª Sr.ª dos Remédios e de St.ª Luzia. Não tem retábulo, possuindo apenas um moderno sacrário raiado. Tem festa anual em honra de N.ª Srª dos Remédios em Agosto e em honra de St.ª Luzia a 13 de Dezembro. Fachada e altar da antiga capela
A antiga Capela era de planta longitudinal simples e cobertura em telhado de duas águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por faixa pintada de cinza, rematadas em beirada. Fachada principal voltada a Oeste, em empena com cruz latina no vértice, surgindo, sobre o cunhal direito, sineira de cantaria, em arco de volta perfeita e rematada por cruz. Interior com paredes rebocadas e pintadas de branco, com pavimentos em cimento e cobertura interior em falsa abóbada de berço de madeira. Na parede testeira, retábulo-mor de talha pintada de bege, branco e dourado, de planta recta e um eixo definido por duas colunas jónicas, assentes em plintos paralelepipédicos, com as faces pintadas, ostentando elementos geométricos, que suportavam fragmentos de friso e cornija, encimados por urnas floridas. Ao centro, nicho de perfil contracurvado, com o fundo pintado de azul e contendo mísula, flanqueado por dois painéis pintados, na base dos quais surgem mísulas onde estavam as imagens, protegidas por baldaquinos; a predela está pintada por dois santos em meio-corpo. Remate em espaldar curvo, com albarrada pintada e altar paralelepipédico, pintado de bege, com moldura dourada. No interior existia um ex-voto de Nossa Senhora da Ouvida, primitivo orago da Capela, em forma de quadro que se encontrava pendurado numa das paredes. Este quadro narrava a graça recebida por um devoto. No retábulo existia, igualmente, uma imagem de um Menino Jesus. No local da antiga capela foi erigido um pequeno monumento com uma maquineta onde foi colocada a antiga imagem de Santa Luzia.
Imagens de N.ª Sr.ª dos Remédios e Santa Luzia antes do restauro
Fachada da actual capela Antiga imagem de St.ª Luzia em nicho no adro da antiga capela
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Alminhas, Nichos e Cruzeiros
O culto popular das Alminhas tem as suas raízes na crença cristã da existência do Purgatório. Com a definição do dogma da existência do Purgatório no Concílio de Trento em 1563, esta devoção ganhou ainda mais força junto do povo cristão. A manifestação desta devoção materializou-se de diversas formas, quer através da criação de Irmandades das Almas erectas em Igrejas e Capelas, quer através da erecção de pequenos monumentos como as Alminhas, quer, ainda, através da Encomendação ou Amamentação das Almas na Quaresma, entre outras manifestações. As Alminhas assumem diversas formas, tanto podem ser simples blocos graníticos com uma cruz esculpida, ou um pouco mais trabalhadas com um nicho e uma inscrição em azulejo ou com uma caixinha de esmolas.
Cruzes no antigo caminho da Ribeira ao Cemitério de Real
Entre a Ribeira e o cemitério em Real existiam ao longo do caminho várias cruzes onde os cortejos fúnebres paravam para se rezar as orações. Ainda hoje se conserva duas dessas cruzes: Uma junto ao entroncamento da estrada dos Abogões em cima de um muro, e outra na estrada municipal, ao Carvalhal. Na década de 90 do século XX a Irmandade das Almas de Real decidiu reconstituir o caminho dos mortórios colocando cruzes à beira da actual estrada municipal 615 entre a Ribeira e o cemitério da freguesia.
As únicas alminhas que existem dentro da povoação, localizam-se ao “João Gomes”, junto do actual edifício sede da Freguesia. É uma estela de remate semi-circular na parte superior. Numa das faces tem esculpidos em baixo relevo os contornos de uma cruz trifoliada. Num entroncamento junto ao Maninho, no caminho que sai do cemitério para a Fontedeira existem outras alminhas. Estas alminhas são mais trabalhadas apresentando uma cruz trilobada sobre um nicho, ambos em alto relevo. Por baixo uma cartela que talvez teria a inscrição P.N. A.M. (Pater Nostro et Ave Maria) ou uma data.
Alminhas ao “João Gomes” e ao “Maninho”
Na Travessa do Santo António, encrustado numa parede está um nicho com a imagem do santo casamenteiro em madeira. O nicho tem a forma de uma concha, muito semelhante a outro existente em Quintela de Zurara dedicado ao mesmo santo. Na mesma parede, ao lado, encontra-se uma lápide com a data “1726”, que poderá estar relacionada com o nicho.
Os cruzeiros são elementos que atestam a crença na religião cristã, símbolo das gentes e da maioria dos povos ocidentais, são testemunho da fé dos portugueses.
Nicho ao Santo António
Localizados em algumas praças, caminhos, no meio de povoações, nos cruzamentos de caminhos, ou nos planaltos, apresentam as mais variadas formas em distintos materiais regionais e com diferentes tipos. Na nossa freguesia existem dois cruzeiros, um em cada povoação, e um terceiro, mais recente de que se falará mais à frente, todos eles em granito.
Cruzeiro de Real Localizado no centro da aldeia está assente em plataforma quadrangular de dois degraus escalonados, o superior com focinho saliente, onde assenta soco paralelepipédico, tendo na face principal, virada a Este, uma data inscrita "D. 1766". Sobre este, surge um plinto galbado, ornado nas faces Este e Oeste, com uma vieira limitada por duas meias canas que formam duas volutas na parte superior, rematado por tabuleiro saliente, onde surge a coluna de fuste estriado, encimado por anel e capitel sub-esférico, decorado por quatro vieiras inseridas em volutas; sobre
Cruzeiro de Real
este, surge uma cruz latina monolítica, de hastes cilíndricas e remates fuselados.
Cruzeiro da Ribeira Assente em plataforma quadrangular, onde surge um dado de faces lisas, encimado por plinto galbado, onde assenta uma cruz latina. O dado apresenta na face Norte um recorte onde estaria uma figura, talvez, alusiva às almas do purgatório. Recentemente, no âmbito das obras do Parque da Lameira, foi delimitado por um círculo de pedras de média dimensão. Localizado fora da aldeia, na Lameira junto ao caminho que seguia antigamente para Real.
Cruzeiro da Ribeira
O mais antigo possuidor da Casa que conhecemos é Micaela de Melo Coutinho, que casou com José Pinto de Almeida, sem ter tido descendentes, nos inícios do séc. XVIII. Foi seu herdeiro o sobrinho-neto de seu marido José Carlos da Silva Pinto. Com vários proprietários ligados por laços matrimoniais a diversas famílias da Beira, chega à posse de João Castilho de Morais Sarmento, que foi da Câmara Municipal de Penalva do Castelo, tendo casado com Maria Teresa Niel de Almeida Morais Sarmento, cujos herdeiros possuem hoje a casa. A casa, provavelmente do séc. XVIII, apresenta uma planta em L, composta por dois corpos rectangulares, formando entre os dois corpos um pátio interno, protegido por alto muro, rasgado por portal de aparato, de decoração tardo-barroca. Evolui em dois pisos e é muito simples, rasgado, na fachada principal por vãos em arco abatido e emoldurados a cantaria, sendo, nas demais, rectilíneos. Encontra-se muito adulterada por amputações na fachada lateral esquerda, que levaram ao desaparecimento do lagar, hoje inserido no largo público e transformado em fonte luminosa. Do conjunto, distingue-se a fachada principal, marcada por portão de aparato, de acesso ao pátio, em arco abatido e moldura recortada, com várias volutas e concheados; o pano de muro que o ladeia está rematado por
Portal de acesso e chaminé com brasão
moldura de perfil ondulado, interrompida por volutas. O corpo virado ao exterior, apresenta janelas em arco abatido e molduras salientes, rematadas, inferiormente, sobre avental. Sobre o corpo principal, surge ampla chaminé, feita, provavelmente, no início do séc. 20, ostentando uma pedra de armas. Foto: Liberto Carvalho
Em frente à fachada principal possui um frondoso jardim de buxo. As armas são as dos Castilho e dos Sarmento. As armas dos Castilho são um castelo rematado por uma flor-delis e ladeado por dois galgos coleirados levantados, afrontados e presos por cadeias às ameias do castelo. As armas dos Sarmento são treze besantes de ouro, postos 3,3,3,3 e 1. O timbre do brasão é uma águia em chefe com um bastão suspenso sobre o escudo.
Ponte da Baralha
Sobre o Rio Ludares encontra-se uma ponte em cantaria construída em 1866. Esta ponte substituiu uma outra
Foto: Liberto Carvalho
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Casa da Quinta da Aveleira
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Pátio e Jardim de buxo (anos 80 séc. XX)
de pau que é referida nas Memórias Paroquiais. Até há poucos anos era visível em ambos os lados da ponte um lageado da antiga carreira, já referidas em documento do séc. XV. Era por aqui o acesso das terras de Penalva à Estrada Real que vindo de Viseu se dirigia à Guarda, passando por Fagilde, Canedo, Passos, Quintela de Azurara, Corvaceira, Chãs de Tavares... Uma via importante que remonta à Idade Média, ou talvez à época romana.
Reforma Administrativa do Território Antigo lagar transformado em fonte luminosa
A partir de 1832 é iniciada a reforma da divisão administrativa do reino, com a extinção, fusão e criação de concelhos e freguesias. Esta situação irá arrastar-se por dezenas de anos, durante os quais são feitos vários inquéritos e consultas aos concelhos e freguesias sobre propostas de alterações a fazer. Apenas conhecemos uma proposta de alteração relacionada com a nossa freguesia e elaborada pelo administrador do concelho de Mangualde em 1837: Ribeirinha, aldeia de 25 fogos, pertencente à freg.ª de Real, conc.º de Penalva do Castelo, a 5/4 de legua ao N.E. de Mang.de, está situada dentro do limite natural deste conc.º na margem esquerda do rio Lamegal: pede a razão e justiça que seja incorporada neste conc.º de Mangualde, reunindo-se à freguesia de Quintela, donde dista meio quarto de légua, visto estar dentro do limite deste concelho, que é o rio Lamegal.
Em 1867 uma lei, que não chegou a ser aplicada, extinguia o concelho de Penalva do Castelo integrando as suas freguesias nos concelhos vizinhos. e criando grandes freguesia. Real ficou como sede de uma freguesia que agregou os territórios das freguesias de Germil, Freixiosa, Trancoselos, Travanca de Tavares, Várzea de Tavares e Quintela de Azurara.
Ponte da Baralha
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Capela de S. Marcos ou de N.ª Sr.ª de Montesserrate
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Esta capela foi construída em 1881 por José Oliveira, continuando na posse da família que anualmente promove a festa no dia de S. Marcos, 25 de Abril. Fachada principal em empena com cruz latina com hastes florenciadas, assentes em plinto parcialmente curvo, no vértice. Apresenta na fachada uma lápide com inscrição: "CAPELA DE JOZE R.O. 1881". Interior com paredes em alvenaria de granito aparente, com as juntas preenchidas a cimento, com tecto de madeira em masseira, formando apainelados simples, com florões dourados nos ângulos, com pavimento em calçada irregular, formando elementos geométricos. Na parede testeira, o retábulo-mor, assente em sotobanco de alvenaria de granito, ladeado por dois armários de apoio, também sobre base de alvenaria; é de talha pintada de branco e marmoreados fingidos, definido por duas colunas de fuste liso e capitéis coríntios, rematadas por urnas floridas. Ao centro, nicho de perfil contracurvado, com o fundo pintado de azul e moldura dourada, contendo mísula; está flanqueado por duas mísulas de madeira, encimadas por baldaquinos. A estrutura remata em cornija e espaldar de perfil curvo, ornado por enrolamentos de acantos, uma coroa e com um resplendor no topo. No nicho central encontra-se a imagem de N.ª Sr.ª de Montesserrate e nas mísulas laterais uma imagem de S. Pedro e outra de S. Marcos. Estas duas últimas imagens são de fabrico popular apresentando formas desproporcionadas, principalmente nas enormes mãos. Curiosamente a imagem de S. Marcos tem vestes clericais e como atributo o Touro, que é atributo de outro evangelista, S. Lucas, e não o leão, próprio deste santo.
Antiga Escola Primária
Arquitectura educativa, do séc. 20. Escola do Plano dos Centenários, de duas salas de aula gémeas. Edifício de planta rectangular simples, com duas salas de aula rectangulares, viradas a Este, rasgadas por três amplos vãos, tendo, nos topos, vestíbulos, que acedem aos sanitários na fachada posterior, onde surgem os alpendres, suportados por pilares de granito. No interior, a sala de aula conserva o arranjo frontal, com iluminação dominante unilateral da esquerda e
Fachada e altar da capela
impossibilidade de visualizar o exterior em posição sentada, com quadro no topo e lareira para aquecimento. A escola entrou em funcionamento no ano de 1948 e deixou de funcionar no ano lectivo 2006/2007.
Cruzeiro do Alto da Serra Está assente num afloramento granítico, consolidado com cimento, onde assenta uma cruz latina, formada por
Antiga escola primária
três elementos de cantaria, que criam as hastes da cruz, sem qualquer decoração. A história deste cruzeiro é-nos narrada pela correspondente de Real no jornal "O Penalvense" no n.º 109, Abr./ Mai. de 1991: Todos vêem no alto da serra um cruzeiro mas talvez poucos saibam a sua história. Foi talvez há perto de 50 anos que lá foi colocado e custou a módica quantia de 400$00. José Violante, natural do Real onde viveu muitos anos sofria de doença crónica das vias urinárias, pelo que tinha de andar sempre algaliado. Como era caçador andava sempre por essas serras fora, um dia, esqueceu-se da algália e teve uma crise com dores muito fortes e sentiu-se tão mal que aflito e sem se pode arrastar, pediu a Deus que o aliviasse e o ajudasse a voltar para casa, em sinal de agradecimento ali naquele mesmo sítio colocaria um cruzeiro, e cumpriu a promessa. E lá está um sítio de onde se avista uma paisagem deslumbrante.
Heráldica Brasão: escudo de verde, coroa real fechada de ouro, forrada de vermelho, entre dois pinheiros de ouro, arran-
Cruzeiro do Alto da Serra
cados do mesmo e frutados de prata; campanha ondada de prata e azul. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «REAL PENALVA do CASTELO». Bandeira: amarela. Cordão e borlas de ouro e verde. Haste e lança de ouro.
Brazão e Bandeira