Escola Superior de Educação de Coimbra
Medo da exposição ao falar em frente às câmaras Catarina Serrano, Joana Antunes Sociologia dos Media
Objeto de análise A nossa proposta para este trabalho trata-se de analisarmos uma amostra de um grupo de pessoas para tentarmos compreender se existe relação entre os hábitos diários de gravação de vídeos e a autoimagem que possuem. Visto que hoje em dia é cada vez mais importante a produção de conteúdos online para nos destacarmos e conseguirmos diversas oportunidades de trabalho em várias áreas, é por esse motivo que pretendemos verificar se existe relação entre a autoestima, o nível de importância que é atribuído à opinião dos outros, o tipo de personalidade e o quão confortáveis se sentem a gravar vídeos.
Enquadramento teórico Realizámos inquéritos anónimos online para recolher dados acerca do que pretendíamos entender sobre as variáveis explicadas na secção anterior e obtivemos diversos resultados que podemos explicar através da teoria da espiral do silêncio. A espiral do silêncio relata que a opinião pública é o resultado de valores sociais, da informação partilhada pelos media e do que os outros pensam. A maior parte dos indivíduos tenta evitar o isolamento e, em termos discursivos, procura integrar-se nas correntes de pensamento maioritárias. Como tal, quando alguém pertence, ou julga pertencer, a um movimento de opinião maioritário, tem tendência para não exprimir o seu pensamento, por medo de serem censurados e pelo medo de serem excluídos do grupo em que pensam inserir-se. Como consequência, as pessoas têm mais tendência a exprimir publicamente as suas opiniões quando pressentem que a maioria está, e estará, do seu lado. Por outro lado, têm tendência serem mais cuidadosas e a não exporem as suas opiniões quando pressentem que estão, ou estarão, do lado de uma minoria. Concluindo, as pessoas que julgam ter uma opinião minoritária acabam por não expor a sua opinião ou conformam-se com a opinião da maioria e adquirem-na para eles mesmos. Sendo assim, as opiniões maioritárias são empoderadas e as minoritárias perdem adesão, tornando-se numa espiral.
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Introdução Começámos por realizar inquéritos online anónimos, nos quais questionámos os inquiridos acerca da sua idade, profissão, frequência com que costumam gravar vídeos, como se sentem quando gravam vídeos, se pensam muito acerca do conteúdo que gravam, como se sentem ao ver o seu vídeo, como consideram a sua personalidade, a importância da opinião dos outros para si, se sofrem de problemas de ansiedade, se têm uma boa imagem de si, o tipo de pensamentos que costumam ter acerca do conteúdo que gravam, se a ansiedade já alguma vez os impediu de atingir os seus objetivos e como lidam com isso e, por fim, se já recorreram a ajuda psicológica. Utilizámos o Google Forms para concretizar o inquérito, fizemos oito perguntas de escala linear, com seis opções de resposta, duas perguntas de “sim” ou “não”, duas perguntas de respostas curtas e duas questões de resposta aberta. Obtivemos 187 respostas aos inquéritos. No entanto, apenas aceitámos 182, pois cinco foram considerados inadequados para uso num trabalho académico. Obtivemos várias conclusões que serão clarificadas adiante.
Resultados Em relação à primeira questão de escala linear, relativa à frequência com que os inquiridos gravam vídeos, 23.6% nunca gravam vídeos, 36.8% raramente o fazem, 22% de vez em quando, 12.6% algumas vezes, 3.3% muitas vezes e 1.6% todos os dias.
A segunda pergunta de escala linear, diz respeito ao sentimento obtido quando os inquiridos gravam vídeos. 10.4% sente-se péssimo, 26.4% sente-se desconfortável, 17.6% sente-se ansioso, 25.8% sente-se satisfeito, 14.8% sente-se entusiasmado, 4.9% sente-se excelente
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A terceira pergunta de escala linear, pretendia averiguar o tempo despendido a pensar sobre o conteúdo a gravar. 24.2% não despende tempo a pensar sobre o conteúdo a gravar, 15.4% não despende tempo quase nenhum, 20.9% despende pouco tempo, 20.3% despende algum tempo, 11% despende bastante tempo, 8.2% pensa constantemente sobre isso.
A quarta pergunta de escala linear, pretende medir a sensação de conforto de cada individuo ao ver o seu vídeo. 9.3% sente-se orgulhoso, 10.4% sente-se realizado, 39.6% sente-se confortável, 28% sente-se desconfortável, 6% sente-se stressado, 6.6% sente-se humilhado.
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A quinta pergunta de escala linear, tem como objetivo apreender que tipo de personalidade consideram possuir os inquiridos. 7.1% consideram-se muito tímidos, 21.4% consideram-se tímidos, 22.5% consideram-se introvertidos, 20.9% consideram-se ambivertidos, 22% consideram-se extrovertidos e 6% consideram-se muito extrovertidos.
A sexta pergunta de escala linear, questionou os sujeitos sobre a relevância que a opinião alheia tem para eles. 22.5% considera irrelevante a opinião alheia, 23.6% considera pouco relevante, 23.1% considera algo relevante, 14.8% considera que tem relativa importância, 11% considera importante e 4.9% considera importantíssima.
A sétima pergunta de escala linear perguntou aos inquiridos se sofrem de problemas de ansiedade. 17% diz nunca sofrer, 23.6% diz sofrer raramente, 27.5% diz sofrer por vezes, 17.6% diz sofrer frequentemente, 7.7% diz sofrer quase sempre e 6.6% diz sofrer sempre.
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A oitava pergunta de escala linear interrogou os indivíduos acerca da imagem que têm deles próprios. 4.9% afirma ter uma excelente autoimagem, 18.7% afirma ter uma autoimagem muito boa, 34.1% afirma ter uma autoimagem boa, 29.7% afirma ter uma autoimagem razoável, 7.1% afirma ter uma autoimagem desfavorável e 5.5% afirma ter uma péssima autoimagem.
Na primeira questão de resposta aberta, sobre o tipo de pensamentos que têm sobre o conteúdo que gravam, muita gente mostra-se preocupada com o facto de o vídeo ficar engraçado, o que os outros pensarão dele, se interpretarão bem a mensagem, se o resultado final será bom e se serão aceites através do resultado final do conteúdo produzido. Algumas pessoas tinham, inclusivamente, pensamentos negativos acerca do que iriam gravar e até mesmo sobre si próprios. Na primeira pergunta de “sim” ou “não”, na qual apenas respondia quem já tivesse sofrido de ansiedade, obtivemos 174 respostas sobre se a ansiedade alguma vez os impediu de realizar algo. 43.1% responderam “sim” e 56.9% responderam “não”.
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Na segunda pergunta de resposta aberta, apenas respondia quem tivesse dito “sim” na questão anterior. 75 pessoas responderam “sim”, no entanto, apenas 66 responderam a esta pergunta sobre os mecanismos que têm para lidar com a ansiedade. A maioria diz meditar, exercitar-se, ter pensamentos positivos, fazer exercícios de respiração, alguns dizem não ter mecanismos, outros dizem fumar substâncias ilícitas e outros ainda dizem recorrer ao apoio psicológico. Na segunda pergunta de “sim” ou “não”, procurámos saber se os inquiridos já tinham recorrido a apoio psicológico. 38.5% diz já ter recorrido, 61.5% afirma nunca ter recorrido.
Conclusões Decidimos não colocar os dados das idades e profissões dos inquiridos, pois em nada influenciavam as conclusões quanto ao objeto de análise. A maioria dos inquiridos raramente grava vídeos, uma grande parte nunca grava vídeos ou faz isso apenas de vez em quando, a minoria grava todos os dias ou muitas vezes, ao analisar os dados, inferimos que essa minoria se sente excelente depois de gravar vídeos, dos restantes, ¼ sente-se satisfeito e ¼ sente-se desconfortável quando grava vídeos. Concluímos que quem grava muitos vídeos se sente melhor a vê-los do que quem grava vídeos com menor frequência.
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A maioria dos sujeitos não pensa muito acerca do que vai gravar e uma minoria pensa constantemente nisso, sendo essa mesma minoria aquela que grava os vídeos com maior frequência. A maioria das pessoas sente-se confortável ao ver os vídeos que grava, os que se sentem stressados são a minoria e todos os que se sentem dessa forma pertencem ao grupo de pessoas que grava com menor regularidade. Por outro lado, a maior parte dos que se sentem melhor após a gravação de vídeos são os que o fazem com maior frequência. Há um equilíbrio entre as personalidades introvertidas, ambivertidas, extrovertidas e tímidas, sendo que os extremos são minorias. A minoria dos inquiridos considera a opinião dos outros importantíssima e, em relação aos restantes, há um equilíbrio entre a irrelevância da opinião alheia, pouca relevância e alguma relevância. Relativamente à comparação da personalidade com a importância da opinião dos outros, supostamente, pessoas tímidas preocupam-se com essa opinião, pois o significado de tímido é isso mesmo: alguém que é inibido, com vergonha de se expor. Caso contrário, não sentiria essa vergonha e ansiedade social. Podemos, portanto, concluir que não são apenas as pessoas tímidas que dão grande importância à opinião alheia, como seria expectável, havendo também pessoas extrovertidas com essa preocupação. No entanto, obtivemos resultados de pessoas que se consideravam tímidas, todavia não se preocupavam com a opinião alheia, o que é contraditório ao expectável. Com a pergunta que fizemos acerca do género de pensamentos que costumam ter acerca do conteúdo que vão gravar, pudemos concluir que se contradiziam relativamente à preocupação com a opinião dos outros, porque mostram ter pensamentos negativos em relação a si próprios. Este facto de haver pessoas tímidas que dizem não se preocupar com a opinião alheia pode ser explicado através da teoria da espiral do silêncio, pois os indivíduos omitem a sua opinião quando ela é conflituante com aquela que percebem ser a opinião dominante, ou seja, neste caso, a não preocupação com a opinião dos outros, mesmo num inquérito anónimo. Quanto à pergunta sobre a autoimagem, a maioria tem uma boa imagem de si, uma grande parte tem uma imagem razoável e os extremos, ou seja, pessoas com uma excelente ou péssima imagem de si, são minorias e estão equilibrados. Comparámos os dados obtidos em relação à opinião dos outros com a autoimagem e concluímos que quanto maior a importância que os inquiridos dão à opinião alheia, pior a imagem que têm de si próprios. Em relação à questão da ansiedade, a maioria por vezes sofre desse estado mental, grande parte sofre raramente e a minoria sofre sempre. Mais uma vez demos conta da possível relação entre a teoria da espiral do silêncio e a pergunta sobre a ansiedade. 7
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Sendo que a ansiedade tem como uma das causas a preocupação excessiva com o que os outros pensam sobre si, muitos dos inquiridos que responderam não se preocupar com a opinião dos outros diziam também sofrer de ansiedade, o que é uma contradição.
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