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CAPA

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POESIA CINCO POEMAS DE IVAN BICHARA SOBREIRA

Desencanto

O Sabiá Ouço, no fim da tarde, pontualmente, um sabiá cantando. Parece uma canção de amor: há certa vacilação no gorjeio mavioso, como se o cantor estivesse indeciso, inseguro, perdendo seu tempo. São seis horas da tarde. O poente mistura o dia e a noite: o azul, o cinza, o vermelho e o negro. Mesmo assim, o sabiá ainda canta; canta por dever de cantar, convencido de que está só e de que seu canto não tem destinatário. Não há esperança, não há alegria no dia que se fecha, mas é preciso cantar, É seu ofício

Juntos e distantes, Caminhamos lentamente. Nossas mãos unidas, Na crispação da surpresa, Procuram entender-se. Mistério do sentimento desigual; Tua doce ilusão E minha alongada indecisão. Voltamos pelos caminhos conhecidos. As flores de tantas cores parecem ajudar tua felicidade. Mas não conseguem disfarçar a minha inquietude. Entendemo-nos? Ou não? Porque o desencontro? Não dizes “pelos olhos” que me amas? Não sabes que te quero? Por que parece tão frágil Nossa pobre indecisão Dizemos: até breve! Tu, iluminada e terna, Eu, desajeitado e triste. Pobres amantes que nunca seremos.

Jorge Luís Borges Na última capa Da nova Antologia de Jorge Luís Borges, As letras soltas podem formar O nome de Jesus, Que ele escondeu Na profundidade de sua alma, Disfarçado em lendas, mitologias, terras: China, Índia, Judeia, Grécia, Roma, E as avenidas por elas abertas – Itália, França, Inglaterra, Alemanha. Não havia segredo nas letras mortas e nas línguas vivas. E o ouvido adivinhava o que não percebiam as retinas cansadas. Pelo milagre da expressão, Arrancou o mundo que se perdera No labirinto do tempo. Deus lhe apagou, lento, o brilho dos olhos, Para ele, assim, cantar melhor.

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O Último Dia Para Maria Lavínia Os golpes na árvore longa Enchiam de rumor a tarde que morria. As aves, assustadas, volteavam, inquietas, Espantadas com o som do machado implacável. Tentavam voar em torno dos ninhos oscilantes, Mas os golpes, sinistros, persistiam. Como alimentar as crias, se a noite vinha chegando? Que fazer? A árvore oscilava, inquieta, E os passarinhos, aninhados, sabiam que era o fim. Era preciso tentar alguma coisa, pois a noite descia, implacável. E os golpes persistiam. Viam, com desespero, os ninhos balançando. E a tarde morria com todas as esperanças, como se aquele fosse o último dia do mundo.

Destino Dos pássaros, o olhar inquieto, a vigília permanente que o escuro disfarça na noite silenciosa. Da onda sorrateira, a fome, a caça permanente como forma de vida, a morte como jeito de não morrer. Da cobra rasteira, o veneno escondido, o meio de sobreviver, a rapidez do golpe, o desespero frio, a geometria precisa do bote. Da noite, a sombra protetora, a solidão feita de pavores, de suores frios do medo das almas, do remorso remoendo, resistente. O sol é o inimigo, O olho velhaco do diabo Que lhe queima os pés de fendas abertas Como as da terra seca. O sol revela seus passos, Seu rifle de papo amarelo, seu espelho e, no final, Os dentes arreganhados Pela mordida traiçoeira da infeliz.... De Deus, dos Santos, das Virgens, do Arcanjo, quer a Proteção que não pode pedir Para o destino, de que não pode fugir, Que não quer, mas que é o seu, Mais forte que ele, Mais fortes que as rezas que não chegam até Nosso Senhor. Da morte, quer fugir. Da desgraçada que se oculta nas dobras dos caminhos, Quer distância e lonjura; Mas ela não o deixa, Não o larga, Como mulher davida embeiçada pelo macho.


CARTA AO LEITOR

SUMÁRIO

IVAN BICHARA SOBREIRA, a cuja passagem do centenário de nascimento a revista GENIUS jamais poderia ficar alheia, foi, sem dúvida, uma das mais sólidas constituições morais de homem público da Paraíba. Deputado Constituinte de seu Estado, Deputado Estadual, em seguida, Deputado Federal em duas legislaturas, exercente de cargos públicos diversos, inclusive Diretor, em nível nacional, da Caixa Econômica Federal, em todos essas funções deu mostras de sua capacidade legislativa e administrativa, que o fariam merecedor de indicação para Governador da Paraíba, por eleição da Assembleia Legislativa, conforme determinava a legislação da época. No exercício do elevado múnus governamental se houve Ivan Bichara com descortino, transparência, serenidade, honestidade e aprumo, construindo uma obra administrativa de relevo, além de empenhar-se no objetivo político maior, na ocasião, que era a pacificação do partido oficial. No campo cultural, desdobrou-se Ivan Bichara em múltiplas atividades, sobretudo de escritor, destacando-se, sobremaneira, como ensaísta e romancista. No ensaio, revelou-se o analista arguto das obras e dos autores a que se dedicou, com destaque para José Lins do Rego [O romancista José Lins do Rego] e José Vieira [José Vieira e os caminhos do seu romance] aquele, o autor de Menino de engenho, bastante conhecido, nacionalmente, com quem Ivan Bichara contribuiu para dar aos seus leitores uma melhor ideia do fazer literário perseguido pelo romancista de Pilar; este, escritor mais ou menos desconhecido em sua terra, com o qual também contribuiu Ivan Bichara para torná-lo mais próximo de seus conterrâneos. Conhecedor dos meandros da crítica literária, não foi surpresa que Ivan Bichara Sobreira surgisse, posteriormente, como romancista, fazendo-o com aplausos de quantos o leram. Carcará, Tempo de servidão e Joana dos Santos são os romances de autoria de Ivan Bichara. A vida pública e a obra literária do ex-Governador paraibano estão repassadas, por diferentes autores, nas páginas desta edição que GENIUS, orgulhosamente, apresenta.

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Ivan Bichara Ernani Sátyro

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Ivan Bichara, além do seu Tempo... Evaldo Gonçalves

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IVAN BICHARA E O JORNAL O NORTE Evandro da Nóbrega

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JOANA DOS SANTOS OU UMA HISTÓRIA DE AMOR Flávio Sátiro Fernandes

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OS ESCONDIDOS DO DR. IVAN Luiz Gonzaga Rodrigues

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Ivan Bichara, indubitavelmente, um romancista de vocação Hildeberto Barbosa Filho

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Venho para servir e não para ser servido Ivan Bichara Sobreira

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QUERO GOVERNAR À LUZ DO SOL, SEM MISTÉRIOS, SEM SUBTERFÚGIOS E SEM SOMBRAS Ivan Bichara Sobreira

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A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE IVAN BICHARA José Octávio de Arruda Mello

Muito obrigado e boa leitura.

Maio/Junho/2018 - Ano VI Nº 31 Uma publicação de LAN Edição e Comercio de periódicos ltda. Diretor e Editor: Flávio Sátiro Fernandes (SRTE-PB 0001980/PB) Diagramação e arte: João Damasceno (DRT-3902) Tiragem: 1.000 exemplares Redação: Av. Epitácio Pessoa, 1251- Sala 807 – 8º andar Bairro dos Estados - João Pessoa-PB - CEP: 58.030-001 Telefones: (83) 99981.2335 E-mail: flaviosatiro@uol.com.br Impresso nas oficinas gráficas de A União Superintendência de Imprensa e Editora CARTAS E LIVROS para o endereço OU E-MAIL acima

Capa: Equipe GENIUS ISSN: 2357-833

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colaboram neste número: 4

ERNANI SÁTYRO (In Memoriam) [Ivan Bichara] (Patos, 1911 – Brasília, 1986) Escritor, ensaísta, romancista, poeta, político, Deputado Estadual, Deputado Federal, Ministro do Superior Tribunal Militar, Governador do Estado da Paraíba, membro da Academia Paraibana de Letras e da Academia Brasiliense de Letras.

GONZAGA RODRIGUES (LUIZ) [Os escondidos de Dr. Ivan] Jornalista e escritor. É considerado o cronista maior de nossa imprensa. Segundo os que com ele convivem, a modéstia é a amarra que lhe impede maiores voos. É membro da Academia Paraibana de Letras.

EVALDO GONÇALVES DE QUEIROZ [Um contemporâneo da história] Escritor, articulista, historiador, membro da Academia Paraibana de Letras, da Academia de Letras de Campina Grande e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Político, exerceu os cargos de Deputado Estadual e Deputado Federal. Presidiu a Assembleia Legislativa da Paraíba.

HILDEBERTO BARBOSA FILHO [Ivan Bichara: indubitavelmente, um romancista de vocação] Jornalista, escritor, ensaísta, professor universitário, autor de vários livros na área da literatura, pertence à Academia Paraibana de Letras, em que ingressou para ocupar a Cadeira vaga com o falecimento de Ivan Bichara.

EVANDRO DA NÓBREGA [Ivan Bichara e o jornal O Norte] Jornalista, escritor, pesquisador, historiador, poliglota. Publisher consagrado, responsável pela editoração de importantes obras da bibliografia paraibana, é membro do IHGP. FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES [Joana dos Santos ou Uma história de amor] Professor da UFPB e Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, aposentado. Escritor, jornalista, ensaísta, romancista, poeta, membro da Academia Paraibana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Fundador, Diretor e Editor da Revista GENIUS.

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IVAN BICHARA SOBREIRA (In Memoriam) (Cajazeiras, 1918 – Rio de Janeiro, 1998) [Quero governar à luz do sol] [Venho para servir e não pra ser servido] [Cinco poemas] Escritor, ensaísta, romancista e político. Exerceu os cargos de Deputado Estadual, Deputado Federal e Governador da Paraíba. Constitui o homenageado da presente edição de GENIUS. JOSÉ OCTÁVIO DE ARRUDA MELLO [A trajetória política de Ivan Bichara] - Historiador de ofício, com doutorado em História Social pela USP, em 1992. Integrante dos IHGB, IHGP, APL, API e Centro Internacional Celso Furtado, como professor aposentado das UFPB, UEPB e UNIPÊ. Autor de várias obras que abordam a história da Paraíba


RETRATO DE UM HOMEM PÚBLICO Ivan Bichara Ernani Sátyro

(Brasília, 25, pelo telefone) Para decepção de meus inimigos ou adversários, de dentro ou de fora do Partido, como queiram, sou um homem sereno. Até mesmo quando uso a emoção ou a energia, uso-as com moderação. Sempre procurei distinguir entre a força e a violência. A força pode ser legítima. A violência, não. Pois é com essa serenidade que venho hoje falar sobre Ivan Bichara Sobreira. Conheço-o de longos anos. Era eu Deputado Estadual Constituinte, em 1935, quando comecei a ler, em jornais da Capital, artigos ou correspondências de um jovem colegial de Cajazeiras. Comentei, com Celso Matos, também deputado, o talento do moço cajazeirense, que defendia a tese da eleição de representantes sertanejos para a Câmara Federal. Depois, Milton Vieira, colega de Ivan no famoso colégio Padre Rolim, me dizia: - Ernani, preste atenção a Ivan. É um dos moços de maior futuro da Paraíba. Os tempos correram. Vieram as lutas políticas, Ivan revelou-se um bravo na campanha da reconstitucionalização, em 1945. Foi, muito jovem, um dos fundadores da gloriosa UDN. A partir de então é que nos aproximamos, numa amizade e confiança que perdura até hoje. Mesmo na grande luta de 1950, quando eu defendia a candidatura de Argemiro de Figueiredo e ele a de José Américo de Almeida, jamais as nossas relações pessoais sofreram qualquer abalo. É que as campanhas anteriores tinham criado relações tão fortes, que uma divergência eventual, mesmo no caldeirão de uma batalha de ferro e fogo, não conseguia destruir. Passaram-se os tempos. Fomos candidatos a deputado federal na mesma chapa,

o que, de certo modo, é pior do que ser candidato em partidos diferentes. É como briga de foice, em quarto escuro, com as portas fechadas. Tínhamos amigos comuns, que se inclinavam, ora por mim, ora por ele. Foi aí que se consolidou, definitivamente, a nossa amizade. Sempre que ia ao sertão, Ivan se hospedava no velho solar que foi a residência senhorial de Miguel Sátyro, em Patos. Uma das vezes chegou de madrugada, com alguns companheiros. Dona Capitulina o recebia como uma pessoa da família. Ele não era o competidor de seu filho, era antes de tudo o amigo de seu filho. E fomos ambos eleitos. De uma das vezes Ivan não conseguiu a reeleição. Coisa que acontece a qualquer homem público, grande ou pequeno. Epítácio Pessoa perdeu para Gama e Melo, em 1896, a eleição de presidente do Estado.

Perdeu também a eleição para deputado federal. E chegou à presidência da República. José Américo perdeu uma eleição para senador. Um golpe de Estado não permitiu que fosse presidente da República. Rui Barbosa, o maior de todos, perdeu duas eleições para presidente da República. Por que Ivan não podia também perder? Um dia, convidando-me para almoçar no Palácio Alvorada, como fazia quase todas as semanas, o Grande Presidente Castelo Branco me disse: - Estou precisando de um homem de confiança para o Conselho Superior da Caixa Econômica Federal. O senhor tem alguma ideia? - Tenho – respondi sem titubear. - Quem é? - É Ivan Bichara Sobreira, uma dos paraibanos mais capacitados, que infelizmente não conseguiu reeleger-se para a Câmara ISSN: 2357-833

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dos Deputados. - Pois mande chamá-lo – concluiu Castelo. Tenho missão especial para ele lá na Caixa. Do que foi a atuação de Ivan Bichara na Caixa Econômica, bem podem dar atestado quantos passaram por ela, a começar por Oswaldo Pieruceti. Agora mesmo, a propósito da sucessão governamental da Paraíba, o deputado Célio Borja, líder do Governo e da Arena, antigo diretor daquele estabelecimento de crédito e poupança, teve oportunidade de prestar o seu depoimento. Disse ele, a quem de direito, que Ivan Bichara foi um dos homens mais esclarecidos e capazes que passaram pelo Conselho da Caixa. E a sua atuação não se cingiu ao trabalho de um parecerista. Ele foi, acima de tudo, um executivo, principalmente no que se refere aos problemas da habitação popular. A todo instante a opinião de Ivan era solicitada pelo Presidente da Caixa. E foram-lhe atribuídas, diversas vezes, funções administrativas. Na Câmara dos Deputados, não foi um frequentador demagógico da tribuna. Quando aparecia, era um com um estudo de profundidade. Sua ação voltou-se, de preferência, para as Comissões, onde sempre se impunha com um parecer seguro e lúcido. Moramos juntos, numa época em que a vida em Brasília era uma aventura. Poeira, se fazia sol. Lama, se chovia. Enormes caminhadas, em busca de um restaurante. Estávamos sozinhos. Não havia condi-

ções para trazermos as famílias. Ivan, Raul de Goes e eu vivíamos como irmãos. Do mesmo modo como ainda vivemos, com o acréscimo de Fernando Nóbrega e Hiaty Leal. Quando, porém, mais se estreitaram as nossas relações e mais profundamente conheci as suas virtudes e a sua capacidade de decisão, foi numa viagem que fizemos ao Oriente Médio e à Europa. Ivan, Mirtes, Antonietta e eu éramos inseparáveis. Juntos vimos tudo quanto têm a mostrar os descendentes dos Fenícios. As belezas do Líbano, com Beirute à frente, com todas as características de cidade ocidental, o mercado de ouro de Damasco, na Síria. Andamos de camelo. Subimos e descemos as escadas íngremes e perigosas das pirâmides do Egito. Conversamos com os Faraós. Depois voamos para Atenas, onde passamos uma manhã inteira procurando desvendar mistérios das colunas imortais da Acrópole. Paris, Roma, Suíça, Alemanha, Espanha, Portugal, este foi o nosso roteiro. Como sabem todos os turistas, dessas excursões em comum, ou se volta mais amigo ou se regressa inimigo. Nós voltamos mais amigos. Divergências de gosto, conflito de interesses, implicância das mulheres, tudo pode contribuir para mal-entendidos. Conosco tudo foi entendimento e compreensão. Quando surgia uma dificuldade, ele tinha sempre uma palavra de serena e eficiente decisão. Visitamos os mesmos museus. Percorremos as mesmas livrarias. Fomos às mesmas diversões. E

nunca mais nos separamos. Somos até, Antonietta e eu, para honra nossa, padrinhos de casamento de uma de suas filhas. Não foi só isso, no entanto, que me levou, desde o primeiro instante, a apoiar o nome de Ivan Bichara como candidato a governador do Estado. Foi principalmente o conhecimento do homem público que ele é, competente, sereno, enérgico, capaz de continuar e renovar para melhor, com as características de sua personalidade, uma obra de governo que não é minha, porque é, acima de tudo, da Paraíba. Jamais pensei em ter um sucessor que fosse a minha cópia, do mesmo modo que não sou a cópia de ninguém. Seja no campo administrativo, seja no campo político, ninguém é dono da Paraíba. Ivan há de realizar, se Deus quiser, o seu próprio governo. Vai pacificar a Arena paraibana, A sua escolha não representa a vitória de uma facção, e sim uma elevada inspiração de trabalho. Ivan é também um escritor brilhante, autor de um dos melhores estudos que já foram feitos sobre a obra de José Lins do Rego. O seu discurso, recebendo-me na Academia Paraibana de Letras, é também uma obra prima, em que pese o exagero e a generosidade nos conceitos. Que Deus o proteja, como me tem assistido até hoje. Grande é a vida. A UNIÃO – 26/05/74

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ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA FLÁVIO SÁTIRO FERNANDES OAB Nº. 17.131/PB

Fone: (83) 99981-2335

Conselheiro Aposentado do Tribunal de Contas do Estado Professor Aposentado da Universidade Federal da Paraíba Especialista em Direito Administrativo 6

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UM CONTEMPORÂNEO DA HISTÓRIA Ivan Bichara, além do seu Tempo...

Evaldo Gonçalves

Ângela Bezerra de Castro, em Prefácio ao livro editado em homenagem a Ivan Bichara, lançado dentro das comemorações do centenário de seu nascimento, o definiu como detentor das condições necessárias para ter sido, e ser, um contemporâneo da História. Aquele paraibano, chamado para servir como Governador do seu Estado, realizou uma administração discreta, porém, eficiente, beneficiando os paraibanos sem perder o rumo do Futuro. Estávamos vivendo uma difícil quadra da vida nacional, o que não o fez se empolgar com o cargo, impondo seu jeito de administrar que o consagrou como contemporâneo do Futuro. Ivan Bichara, sempre, sem perder seu jeito próprio de conviver os fatos, soube atender às necessidades básicas dos seus governados, sem quaisquer discriminações, atendendo sobretudo os interesses superio-

res da Paraíba e do Brasil, quando das várias missões para que foi convocado. Ressalta Ângela Bezerra que Ivan Bichara tinha plena consciência do ofício do Escritor, reconhecendo o valor da Crítica Literária, que é, indiscutivelmente, uma nobre manifestação da inteligência humana, concluindo que o eminente paraibano exercera sua vida de Escritor absolutamente consciente das responsabilidades culturais para com o Futuro. Daí o julgamento feito pela Acadêmica Ângela Bezerra de que, agora e sempre, nas comemorações do centenário de nascimento do ex-governador, e brilhante Escritor, hoje, ou amanhã, ele será sempre definido como um Contemporâneo da História Política e Literária da Paraíba, o que significa dizer, em síntese, que Ivan Bichara foi e é um paraibano, além do seu Tempo. Tanto do ponto de vista político quanto

literário o eminente ex-Governador da Paraíba soube conviver magistralmente bem, com a Técnica e o Humanismo, vertentes poderosas do conhecimento, de que se tem servido a Política e a Administração Pública para a construção de um Mundo melhor. Não há quem possa desmerecer os valores da tecnologia no processo de desenvolvimento da civilização, na construtiva caminhada do Homem em busca do Melhor e do mais Seguro, visando à realização dos Bens da Vida, respeitados os cânones sagrados da Ética e da Moral, sem os quais não faremos jus aos ditames do Humanismo. Ivan Bichara, foi consciente de que: rindo ou fazendo rir; no Poder ou fora dele; governando o seu Estado, ou exercendo seu dever de Eleitor; e consolando ou não seus deputados, somos e seremos todos uns eternos caminhantes da Vida. Sobretudo, pela certeza de que ela é sobremodo breve... g

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IVAN, O JORNALISTA E O POLÍTICO IVAN BICHARA E O JORNAL O NORTE

Evandro da Nóbrega

Não deixa de ser irônico: o político, escritor, crítico literário e ensaísta Ivan Bichara Sobreira, que fora Diretor de O NORTE na década de 1950, veio a ser derrotado na eleição de 1978 para o Senado Federal em grande parte por causa de uma manchete deliberadamente prejudicial à sua campanha - manchete essa publicada exatamente no fatídico dia do pleito. A manchete de O NORTE não era a rigor esta, mas tinha rigorosamente este sentido: o candidato oficial do Governo é Ivan Bichara, mas, hoje, o povo escolhe o seu senador... Nesse tempo, O NORTE era o jornal de maior circulação no Estado e conhecido pelos leitores como um órgão independente, crítico, capaz de derrubar secretários de Estado e até de eleger (ou não) governadores, deputados, senadores...

Com Tarcísio de Miranda Burity, Wilson Braga e Antônio Mariz

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Ocorre que Ivan Bichara, ainda como governador da Paraíba (isto é, antes de passar o cargo ao vice Dorgival Terceiro Neto, justamente a fim de disputar a eleição para o Senado, tendo como adversário o oposicionista Humberto Lucena), indispusera-se com a Direção do jornal O NORTE, por motivo de somenos: um colunista o havia chamado de “comunista”, decerto sem saber que o próprio Bichara por uns tempos chegou a ser... integralista! Mas esse “integralismo” de Ivan era coisa de um passado de fato remotíssimo! Brigado com os diretores do jornal, Bichara evitava inclusive dar entrevistas a seus profissionais de Imprensa e até mesmo a prestar contas do que havia realizado no último ano de sua administração. Foi assim que a Direção do órgão dos Diários e Emissoras Associados re-

solveu lhe dar o troco. E o fez de uma maneira demolidora: o povo escolhe hoje o seu senador! Quem sabe os leitores de hoje achem estranho que uma simples manchete pudesse influenciar decisivamente os votantes de então. É porque, vivendo outras realidades, não podem nem de longe calcular o impacto provocado na mente (em particular da classe média, decisiva nesses embates) por aquelas poucas palavras estampadas em letras garrafais. Tal manchete, bem cedo da manhã caiu como um raio sobre o eleitorado, especialmente o de João Pessoa e de Campina Grande. Era também o tempo em que um jornal (de papel, sim) ainda fazia a cabeça do eleitor, especialmente aqueles que cultivavam um espírito independente, rebelde, não conformista. Estávamos igualmente na época em que o


Em audiência com o Presidente Ernesto Geisel.

MDB começava a ganhar eleições Brasil afora, enfrentando o regime militar na área político-partidária. O jornal com a manchete esgotou-se rapidamente nas bancas e nas ruas, exigindo a ocasião que se fizesse nova tiragem. O Superintendente era o jornalista Teócrito Leal e o degas aqui exercia o cargo de Editor-Geral. Mas a ordem para se fazer uma manchete bem a talhe de foice veio mais de cima, da Direção superior. É aquele negócio: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Teócrito caprichou na mão e saiu aquele título contundente. Mas, a bem da verdade, NÃO foi apenas a espalhafatosa manchete de O NORTE a responsável pela derrota de Ivan Bichara nesse pleito para o Senado. Na própria legenda do ex-governador e candidato a senador Ivan Bichara, houve traições na calada da noite, para não falar do Acordo de Brasília, da ação dos dissidentes da ARENA e o fato de o candidato da Oposição Humberto Lucena se ter beneficiado do instituto das sublegendas - que o Governo central havia instituído justamente para obter efeito contrário ao que terminou sucedendo... Esta parte da traição ao bom e sensato homem que sempre foi Ivan Bichara vai contada mais adiante, sob a rubrica de “1978”. Decidimos homenagear Bichara com uma “timeline” para facilitar o trabalho de possíveis interessados em desenvolver pesquisa mais aprofundada. Aqui apresentamos apenas alguns fatos que mais celeremente nos acorreram à memória. Os eventuais erros devem ser creditados tão somente ao degas aqui, que assim se des-

culpa: houve minguadíssimo tempo para conferir as informações celeremente coletadas. De mais, diga-se que o antigo e saudoso Editor/colunista político de O NORTE e depois escritor José Morais de Souto lamentou bastante a derrota de Ivan Bichara - derrota que Zé Souto considerou catastrófica para a posterior história política da Paraíba. Souto não foi ou é o único a ter ficado com tal impressão. O próprio Ivan Bichara, como um espírito puro e infenso a jogadas político-eleitorais, só veio a entender a trama forjada pelos traidores de sua legenda depois de conhecido o resultado eleitoral que levou Humberto Lucena, outro homem de bem para o Senado Federal. Pouco depois, reconciliar-se-ia com a Direção do jornal O NORTE, levando flores para a sede do matutino, a fim de demonstrar boa vontade e espírito de pacificação. IVAN BICHARA + O NORTE (LINHA DO TEMPO) 1908 A 7 de maio de 1908, circula na capital paraibana (então Parahyba do Norte) a primeira edição do jornal O NORTE. É preciso frisar isto porque, mais tarde, já na década de 1950, Ivan Bichara Sobreira seria Diretor desse matutino que já então estaria sob a tutela dos Diários e Emissoras Associados de Assis Chateaubriand. O NORTE fora criado pelos irmãos Cláudio Oscar Soares e Órris Eugênio Soares, na capital paraibana, que ainda não se chamava João Pessoa. De início, esse jornal contava com apenas quatro

páginas, sendo o texto e as ilustrações diagramados em sete colunas. Era de completa independência o projeto de O NORTE, desde seus primórdios. Mais ou menos em 1915, o jornal passou a apoiar abertamente o grande jurista e político paraibano Epitácio Pessoa, batendo de frente, por vezes violentamente, com o “Diário do Estado”, que defendia os interesses partidários do monsenhor Walfredo Leal. Quando Epitácio assumiu a Presidência da República em 1919, O NORTE já era considerado uma espécie de órgão oficial do epitacismo. 1918 Em 24 de maio desse ano de 1918, nasce em Cajazeiras (PB) o futuro escritor, diretor do jornal O NORTE, ensaísta, crítico literário, político, administrador e governador Ivan Bichara Sobreira, filho de João Bichara e Hermenegilda Bichara Sobreira. Os primeiros estudos, o menino os fez em sua terra natal, mais exatamente no tradicional Colégio do Padre Rolim. 1920 Na década de 1920, o jornal O NORTE é fechado pela primeira vez, em virtude das disputas políticas e das dificuldades financeiras. As querelas partidárias fizeram com que os irmãos Órris Eugênio Soares (1884-1964) e Cláudio Oscar Soares (avô de Jô Soares) fossem morar no Rio de Janeiro. Mas, antes de arribar para o Sudeste, Oscar ainda serviu, entre 1910 e 1914, ao IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), o mais antigo órgão cultural em funcionamento continuo no Estado. ISSN: 2357-833

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1930 Bem no início da década de 1930, o jornal O NORTE viu-se fechado pela segunda vez, em virtude de haver apoiado o perrepismo - isto é, ficara ao lado do presidente da República, Washington Luís, em detrimento do presidente estadual João Pessoa, da Aliança Liberal. Com o assassínio de Pessoa e a extrema agitação que se seguiu, na Paraíba, o matutino não poderia mesmo se manter em atividade, de modo que encerrou suas atividades. 1933 A partir desse ano de 1933 (e por cerca de três anos), o jornalista Eudes Barros assume a direção do jornal O NORTE, de que Ivan Bichara seria diretor nos anos de 1950). Não demorou muito e o matutino divulgava uma matéria contra o capitão João Costa. Este não gostou nem um pouco do que viu escrito sobre sua excelsa figura - e deu uma carreira atrás do jornalista, pelas ruas da capital, com um baita cacete, disposto a se vingar num desforço físico e pessoal. 1935 O jornal O NORTE volta a circular na capital paraibana (João Pessoa) - e parece ter aprendido uma lição sobre essa coisa de se meter em quiproquós políticos: a orientação dada pelo novo diretor/editor/redator-chefe/chefe

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de redação, Matheus de Oliveira, era passar ao longe de tais pendengas e polêmicas, cuidando mais do noticiário mais ou menos imparcial, até onde fosse possível. 1936 Nesse ano de 1936, o jovem Ivan Bichara conclui seu curso ginasial ainda em Cajazeiras e muda-se para João Pessoa, a capital paraibana, e passa a trabalhar no jornal “A Imprensa”, então dirigido pelo padre Carlos Coelho. O escritor, poeta, crítico literário e periodista Eudes Barros de Luna Freire é substituído na direção do jornal O NORTE por um jornalista mais morigerado, José Leal Ramos (tio de Wills Leal e Teócrito Leal, que, mais tarde, a partir da década de 1950, passariam também a trabalhar no mesmo matutino). José Leal, que, a partir da década de 1960, mereceria o título de “o decano do Jornalismo paraibano”, era de integridade moral a toda prova. Além da vocação jornalística, trazia também as de escritor, historiador, memorialista. Leal dirigiria a API (Associação Paraibana de Imprensa). 1937 Rapaz mui estudioso e compenetrado do valor do Conhecimento, Ivan Bichara submete-se ao concurso nacional do IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos

Industriários) - e obtém o primeiro lugar no Estado da Paraíba. 1945 O jovem Ivan Bichara Sobreira forma-se em Ciências Jurídicas e Sociais, nesse ano de 1945, pela tradicional Faculdade de Direito do Recife. Retornando a seu Estado natal, passa a advogar, sobretudo nas Comarcas de João Pessoa, Sapé e Guarabira. 1946 Entrando na Política depois da redemocratização de 1945, Ivan Bichara assume o mandato de deputado estadual na Paraíba, permanecendo na Assembleia Legislativa de 1946 a 1954, pois exerce dois mandatos consecutivos. 1950 Depois de vários anos fechado, volta a circular o jornal O NORTE. Mas por que o matutino estava sendo reaberto? Por causa da campanha a ser empreendida, nesse ano de 1950, por José Américo de Almeida, com vistas ao Governo do Estado. Tanto é assim que o retorno à vida do velho bastião da Imprensa se deu exatamente a 10 de janeiro - data aniversária de Zé Américo. Nessa década de 1950, Ivan Bichara passou a ser Diretor do jornal O NORTE. Mas, muitíssimo ocupado com outras atividades, inclusive as tarefas políticas, não tinha muito tempo para se dedicar ao matutino - e quem fazia suas vezes era o jornalista José Leal.


1951 Pouco depois de ajudar a fazer a campanha de José Américo de Almeida, em 1950, o jornal O NORTE passaria a pertencer aos Diários Associados (Diários e Emissoras Associados), a cadeia de comunicação do magnata da Imprensa Assis Chateaubriand. Mas, como veremos, essa incorporação somente estaria completamente consolidada em 1954. O NORTE foi incorporado ao patrimônio dos DAs porque Chateaubriand botara na cabeça, em 1951, a ideia de se tornar senador pela Paraíba. Na Rádio Borborema, que instalara em Campina Grande, ordenou a instalação de um transmissor de maior potência para alcançar todo o território paraibano. O NORTE tinha o mesmo objetivo: levar a mensagem do candidato Chateaubriand a todo o interior. Até então, a maior circulação de órgãos dos DAs na Paraíba contemplava a revista “O Cruzeiro” e o jornal recifense “Diário de Pernambuco”. Somente a partir da década de 1960 é que O NORTE iniciaria sua escalada de sucesso, que o tornaria o jornal de maior circulação no Estado, com seu “slogan” de “informação de qualidade com credibilidade”. A incorporação aos Associados ocorrera antes, em 1954, ano em que haveria eleição para o Senado. Mas desde 1951, como se viu, Chateaubriand queria porque queria SEM MAIS DELONGAS uma cadeira no Senado Federal. E como isso se resolveu? Muito “simples”: 1) o senador paraibano Vergniaud Wanderley foi convidado, pelo Governo central, para assumir uma cadeira no TCU e renunciou ao Senado; seu suplente, o também parlamentar Antônio Pereira Diniz, imitou-o, renunciando também. Desse modo, o TSE teve que realizar eleição suplementar especificamente para senador e suplente de senador. A Convenção partidária ocorreu em 30 de janeiro de 1952, oficializando a postulação de Chateaubriand para senador e do empresário Drault Ernâny como suplente. O pleito realizou-se no dia 9 de março de 1952 (mais tarde, Chateaubriand voltaria ao Senado, não mais pela Paraíba, mas pelo Maranhão, utilizando-se da mesma manobra: a renúncia de um senador, com a necessária e rendosa “contrapartida”, para que o magnata dos Diários Associados assumisse a vaga senatorial extemporânea). Quem muito ajudou Chateaubriand na aquisição de O NORTE para os Diários Associados, especialmente em termos de recursos financeiros, foi o médico e político paraibano Virgínio Veloso Borges (1886-1966), que, também eleito senador em 1952, se tornou colega e amigo do jornalista-magnata no Senado Federal. Virgínio foi senador pela Paraíba entre janeiro de 1952 a janeiro de 1955. Nascido em 27 de mar-

Ivan Bichara à direita e ao seu lado o Presidente Ernesto Geisel

ço de 1886, em Pilar (PB), ele faleceria no Rio de Janeiro, aos 79 anos de idade, no dia 18 de fevereiro de 1966. Uma filha sua, a sra. Solange Veloso Borges, casou-se com o empresário, sociólogo e escritor Odilon Ribeiro Coutinho (1923-2000), tendo com ele três filhos: Odilon Filho, Gilberto e o conhecido economista e empresário Eduardo Ribeiro Coutinho. Voltando ao ano de 1951: o jornalista Nertan Macedo viu-se destacado exclusivamente para cobrir para o “Diário de Pernambuco” toda a campanha de Chateaubriand. Eventualmente, o material produzido por Nertan (que, depois, teria uma magnífica carreira, não só como jornalista, mas da mesma forma como escritor) era distribuído para outros órgãos dos Diários Associados. Vergonhoso, no entanto, foi o comportamento de pequeno grupo (pequeno, sim, mas barulhento) de “jornalistas” paraibanos que, bem pagos por inimigos de Chateaubriand, inclusive um poderoso industrial ítalo-paulista, passaram-se para o reprovável papel de apresentar esse candidato dos DAs como um “entreguista”, um “reacionário”, uma “figura asquerosa” e outras indignidades. Ora, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1892-1968) foi um dos maiores gênios já nascidos no Brasil - e, sem sombras de dúvida, o maior jornalista brasileiro do século XX. É bem verdade que alguns jornalistas e outros profissionais não gostavam dele - mas justamente pelo fato de jamais poderem ombrear as capacidades intelectuais do homem que criou a maior cadeia de jornais, revistas, emissoras de rádio e de tv, editoras, agências de publicidade e o que Você mais quiser, na América Latina. Um gênio até hoje incompreendido, que, por exemplo, numa obra publicada, sem data, pela Typographia do Annuario do Brasil, sob o título de “A Allemanha: dias idos e vividos”, escrita ainda na primeira década do século XX, reunindo os artigos que

publicou na “Folha da Manhã” durante seu périplo europeu, disse candentes verdades sobre a Europa e sobre a Primeira Guerra Mundial que Winston Churchill somente iria dizer muitas décadas depois. Apesar do magote de “jornalistas” tabajarinos pagos para lhe assacar as mais medonhas acusações, querem saber qual foi o resultado dessa eleição emergencial para o Senado? Chateaubriand, com bons cabos eleitorais, ganhou por 80 mil votos (aproximadamente 70% dos sufrágios válidos), contra os 15 mil votos dados a João Lélis. Aliás, os votos em branco superaram esses 15 mil de Lélis. 1954 Os Diários Associados de Assis Chateaubriand consolidam seu domínio administrativo sobre o jornal O NORTE, de João Pessoa (PB). Com o tempo, os DAs teriam diversos órgãos de comunicação (jornais, rádios, TVs) na capital paraibana e em Campina Grande, a exemplo do “Diário da Borborema”, também extinto quase simultaneamente com O NORTE. Substituindo José Leal Ramos nesse ano de 1954, entre em cena o novo diretor de O NORTE, Júlio Guedes Correia Gondim. Já era o dedo de Assis Chateaubriand no velho diário paraibano - pois, “remember”, a mãe de Assis Chateaubriand tinha exatamente esses sobrenomes: Maria Carmem GUEDES GONDIM Bandeira de Melo). O avô paterno de Chateaubriand - o professor Francisco Aprígio de Vasconcelos Brandão (1820-1890), educador no Pilar, onde mantinha o Colégio “René Chateaubriand”, em homenagem a uma grande admiração sua, o escritor francês François-René Auguste de Chateaubriand (1768-1848) - decidira colocar o sobrenome Chateaubriand em todos os filhos, de modo que o pai de Assis Chateaubriand chamou-se Francisco José Chateaubriand Bandeira de Melo. ISSN: 2357-833

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Esse mesmo Francisco José, o magistrado que, residindo então em Umbuzeiro (PB), viria a ser o pai de Assis Chateaubriand (Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo), foi buscar esposa entre as moças bonitas, ricas e casadoiras de Goiana (PE), onde quase só havia engenhos de açúcar. No mesmo ano de 1954, seria oficializada a incorporação de O NORTE à cadeia jornalística dos Diários Associados. Exatamente 30 anos antes, o mesmo Chateaubriand adquirira no Rio de Janeiro, com a decisiva ajuda financeira de amigos e admiradores de sua inteligência, vivacidade e coragem, o primeiro órgão noticioso de sua cadeia de comunicação, “O Jornal” - o “órgão líder dos Diários Associados”, como o apelidou. Agora, em 1954, o diretor Júlio Gondim, cumprido seu papel (uma espécie de sapador no processo de incorporação), não demorou muito no posto. Mas todas as vezes que ia à Redação do jornal queria porque queria que tudo estivesse absolutamente impecável. Se encontrasse um fio de sujidade no chão, dava explosivo espetáculo, digno de ser visto. De ser visto, sim, mas claro que não pelas vítimas das reclamações desse primo de Assis Chateaubriand por parte de mãe... Ah, em tempo: parece que de encomenda para complicar ainda mais o trabalho dos genealogistas, o Dr. Júlio Gondim casou-se também com uma prima, Áurea Lacerda Gondim. 1955 Ivan Bichara elege-se deputado federal, nesse ano de 1955. pela legenda da UDN. Quando concluiu seu mandato, decide fixar-se definitivamente no Rio de Janeiro, onde já residia em função de sua atividade parlamentar.

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No Rio, desempenha outros importantes cargos, tendo em vista sua inegável competência jurídica e administrativa. Mas parecia definitivamente afastado da Política, especialmente em sua terra natal, a Paraíba. 1956 Bichara assume, pela primeira vez, o mandato de deputado federal pela Paraíba, permanecendo na Câmara dos Deputados de 1956 a 1959. 1957 Por decisão pessoal de Assis Chateaubriand, começa a circular no dia 2 de outubro desse ano de 1957, em Campina Grande (PB), o jornal “Diário da Borborema”. Outros veículos da Cadeia Associada passariam também a funcionar na Rainha da Borborema, como as emissoras de rádio e uma estação de TV. 1958 A edição do “Jornal do Brasil” do sábado, 8 de fevereiro desse ano de 1958, em sua coluna “Coisas da Política”, do primeiro caderno, informava que “a UDN está em entendimentos na Paraíba para o regresso à legenda[,], dos deputados Plínio Lemos, Ivã (sic) Bichara e Pereira Diniz. Este desmente a notícia que, todavia, é exata, pelo menos em relação ao Sr. Ivã (sic) Bichara. A UDN inclina-se a apoiar a candidatura do Sr. José Américo ao Senado”. O título do comentário é o seguinte: “Quer a legenda do PTB na Paraíba”. E eis seu conteúdo inicial: “O senador Argemiro de Figueiredo telegrafou ao sr. João Goulart solicitando urgente solução para a sua proposta de ingressar no PTB mediante a entrega do Partido no Estado. Propõe-se o sr. Argemiro de Figueire-

do a pacificar o PTB, tradicionalmente dividido em duas alas. Por outro lado, o deputado João Agripino [da UDN] viaja hoje [8 de fevereiro de 1958] para a Paraíba, levando a informação que o governador Flávio Ribeiro pretende reassumir o cargo em maio, de acordo com o parecer dos médicos que o assistem no Hospital dos Servidores [no Rio de Janeiro]. ERNANI & BICHARA EM AÇÃO Interessante também observar que, na sessão do dia 7 de fevereiro de 1958 da Câmara dos Deputados, falaram tanto o deputado Ernani Sátiro quanto o deputado Ivan Bichara Sobreira. Ernani denunciou irregularidades que estariam ocorrendo no DNER, seção da Paraíba, onde o diretor do órgão estaria transformando as empreitadas de obras em “instrumentos de ação eleitoral”; e Bichara dirigindo apelo ao então ao ainda existente DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) para que aplicasse recursos orçamentários destinados ao abastecimento d’água da cidade de Cajazeiras [Alto Sertão da Paraíba], como forma de evitar o êxodo das populações rurais, em direção aos grandes centros, inclusive o Sudeste do país. 1970 Na década de 1970, o jornal O NORTE, inaugurando nova sede (em cerimônia de que participou ativamente o então governador Ernani Sátyro (“gubernavit” de 15 de março de 1971 a igual data de 1975), foi o pioneiro no uso da nova tecnologia de impressão a frio, o “off-set”. 1971 A União Editora publica, em sua coleção Documentos, o ensaio “O romance de José Lins do Rego”, de autoria de Ivan Bichara So-


breira, que, de fato, já era considerado um especialista na obra desse grande romancista paraibano nascido em 1901 e falecido em 1957. 1973/1974 Pipocam as “démarches” para a sucessão no Governo paraibano. O processo é este: o general-presidente Ernesto Geisel, o “Grande Eleitor”, indica o candidato da ARENA, Partido do Governo central; a Convenção partidária aprova o nome do escolhido; o TRE-PB registra a candidatura; e a Assembleia Legislativa, em eleição indireta, sacramenta o ungido. No caso, foi a vez de Ivan Bichara, que, embora de há muito afastado das atividades políticas na Paraíba, contava com o apoio, entre outros, do ministro José Américo de Almeida. Com ele, foi eleito o vice-governador, Dorgival Terceiro Neto. Além de Geisel, participaram do processo de escolha o antecessor de Bichara no Governo do Estado, Ernani Sátyro, e o ministro José Américo de Almeida. Antes da definição do nome de Bichara, era também lembrado o do supercompetente economista Juarez Farias. Em busca de um consenso arenista, até que veio à Paraíba o senador Petrônio Portella. O anúncio do nome de Bichara, autorizado por Geisel, foi feito exatamente no dia 24 de maio de 1974 - data aniversária do sacramentado para o Governo do Estado. 1975 Sucedendo ao governador Ernani Ayres Sátyro e Sousa, Bichara assume o Governo do Estado da Paraíba, no dia 15 de março desse ano de 1975. Permanecerá no cargo até o dia 14 de agosto de 1978, quando o transmite a seu vice, o Dr. Dorgival Terceiro Neto, a fim de se candidatar ao Senado Federal - candidatura que, não obstante o valor pessoal de Bichara, iria se mostrar um total insucesso. 1977 O ano de 1977 foi muito importante para os destinos políticos do país, a começar pela decisão do general-presidente Ernesto Geisel de exonerar o general Sílvio Frota do comando do III Exército. Em discurso no primeiro dia de dezembro desse mesmo ano de 1977, Geisel também se comprometeu a revogar todas as leis de exceção ainda vigentes no Brasil. 1978 Em 5 de janeiro de 1978, o general-presidente Ernesto Geisel indica oficialmente os nomes do general João Baptista de Figueiredo (titular da chapa) e do político mineiro Aureliano Chaves (vice) como candidatos do Governo central, vale dizer, da antiga ARENA, à sua própria sucessão. Figueiredo iria prometer “fazer deste país uma democracia”. No primeiro dia de setembro de 1978, são

eleitos indiretamente os novos governadores dos Estados, bem como os vice-governadores e senadores. Tarcísio de Miranda Burity, portanto, unge-se como sucessor de Ivan Bichara (e de Dorgival Terceiro Neto) no principal cargo do Estado da Paraíba. O MDB consegue fazer apenas o governador do Rio de Janeiro, Chagas Freitas. Ivan Bichara não consegue se eleger senador pela Paraíba. Para muitos analistas, foi vítima de uma trama política liderada em silêncio por alguns de seus próprios companheiros de Partido (a ARENA transformara-se no PDS). Durante a campanha, foi costurado o “soi-disant” Acordo de Brasília. Humberto Coutinho de Lucena, do MDB e adversário de Bichara no pleito senatorial, formou duas sublegendas (instituto então permitido pelo regime), de modo que a soma dos votos dessas sublegendas (com as candidaturas de João Bosco Braga e Ary Ribeiro) lhe deu vitória: embora tenha alcançado maior número de votos (303 mil 154), Bichara perdeu para Humberto Lucena, que, individualmente, recebera menor número de sufrágios (269 mil 795). Noticiou-se, à época, que os dissidentes da ARENA, João Agripino e Antônio Mariz, haviam enviado a Humberto Lucena um emissário, o político João Neto (filho de Agripino) com a missão de convidá-lo a disputar o Senado, com o apoio desses dissidentes. A família de Humberto, porém, escabriada com seu insucesso eleitoral ocorrido havia menos de uma década, não se mostrava mui atraída por tal candidatura. Mas o próprio Humberto, que, mesmo contra a família, decidiu concorrer. Sabendo do desejo de outro político, o sousense de expressão nacional Marcondes Gadelha, procurou este último - e, conforme o relato do próprio Humberto, Marcondes “foi muito elegante” ao abrir mão da postulação em seu favor. A soma das três legendas oposicionistas, porém, superava o número de votos obtidos pelo titular da legenda governista única. Ninguém pode culpar o vice-governador Dorgival Terceiro Neto, que assumira plenamente o cargo de governador, com o afastamento de Bichara, mesmo porque é voz geral que Dorgival agiu como autêntico juiz imparcial, durante toda a campanha eleitoral e por ocasião do pleito. Uma vez eleito senador, Humberto Lucena (que perdera a eleição para o Governo do Estado em 1970) logo foi escolhido como líder do MDB/PMDB na Câmara Alta. Em 1985, Tancredo Neves o manteve na liderança, mas, como se sabe, faleceu antes de assumir a Presidência da República, de modo que, sob o Governo de José Sarney, Lucena viu-se prestigiado, mas numa posição equivalente à de vice-líder.

Em termos estaduais, Bichara defendia o nome do campinense Milton Cabral para a chefia do Executivo, na Paraíba, ao passo que o grupo de João Agripino fixara-se no nome de Antônio (Marques da Silva) Mariz. Mas acabou sendo eleito como governador (indiretamente) o professor Tarcísio de Miranda Burity, que contava com o apoio do ministro José Américo de Almeida e de seu filho, o general Reynaldo de Almeida, além do general paraibano Antônio Bandeira. Mariz, em termos federais, tinha sobretudo o apoio do general Golbery do Couto e Silva e estava praticamente escolhido, quando prevaleceu o nome de Burity. Antônio Mariz ainda se apresentou ao Colégio Eleitoral formado pelos deputados estaduais paraibanos, mas sua candidatura rebelde não conseguiu arregimentar os votos necessários para derrotar Burity. Mariz e João Agripino iriam se filiar ao PP (Partido Popular), criado por Tancredo Neves e outros, em 12 de fevereiro de 1980. Para eleger o novo governador paraibano, os deputados reuniram-se a 4 de junho de 1978, em convenção, e, por 28 votos, o candidato Tarcísio Burity bateu seu adversário, o dissidente Antônio Mariz. Foi escolhido também o vice de Burity, o deputado estadual Clóvis Bezerra. Não esquecer, também, que o político campinense Milton Cabral viu-se apontado como “senador biônico”, vencendo o ex-governador Ernani Sátyro por 51 votos, não obstante o renome nacional deste ilustre patoense. A 15 de outubro desse mesmo ano de 1978, o general João Baptista de Figueiredo (“gubernavit” de 15 de março de 1979 a igual data de 1985) é eleito pelo presidente da República, também indiretamente, pelo Congresso Nacional, tendo por vice um civil, o político mineiro Aureliano Chaves. Figueiredo recebe 335 votos (61,1%), no Colégio Eleitoral, contra os 266 sufrágios (38,9%) dados a seu concorrente, o general Euler Bentes Monteiro, que tinha como vice, na chapa, o político gaúcho Paulo Brossard. E, finalmente, já no apagar das luzes de 1978, duas boas notícias: em 29 de dezembro, o general-presidente Geisel revoga o banimento de dezenas de presos políticos trocados por diplomatas vítimas de sequestros; dois dias depois, deixa de vigorar o famigerado AI-5 (Ato Institucional número 5) 1984 A José Olympio Editora publica, de Ivan Bichara, o romance “Carcará”, com 276 páginas. A crítica o considera um escritor vigoroso, com grande influência de José Américo de Almeida; e, em virtude do ensaio antes publicado sobre José Lins do Rego, já era ISSN: 2357-833

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visto como um penetrante analista literário. Nesse romance, Bichara apresenta a ambiência comum a muitas obras do regionalismo nordestino: coronéis e bandidos, fazendas e “cabras”, delegados e vaqueiros, cangaceiros e tiros, polícia e Lampião, cegos e/ou cantadores de feira, o padre Cícero Romão, com personagens como Romeu Cruz, Sabino Gomes, o sargento Rangel, Dona Adelina, Dimas, Casimiro, Dorinha, David, Cazuza, Chicão, Xandre, o tenente Elino “et alii”, 1988 Sai pela José Olympio Editora outro livro de Ivan Bichara, o romance “Tempo de servidão”, com 295 páginas. 1995 É nesse ano que a editora Bertrand Brasil lança o romance «Joana dos Santos», de Ivan Bichara Sobreira (ISBN 8528605477 e 9788528605471, 297 páginas). 1998 Aos 80 anos de idade, falece no Rio de Janeiro, no dia 11 de junho de 1998, o advogado, jornalista, escritor, político, ex-parlamentar e ex-governador paraibano Ivan Bichara Sobreira. Era casado com a sra. Mirtes de Almeida Sobreira. Ocupava a Cadeira no 6 na APL. Em sua trajetória política, pertenceu aos Partidos UDN e ARENA. 2011 O nome do Dr. Ivan Bichara Sobreira já consta do volume “Escritores da Paraíba” da Wikipédia portuguesa, a enciclopédia livre “on line” (na Internet), ao lado de outros grandes intelectuais, como Augusto dos Anjos, José Lins do Rego, Pedro Américo, Ariano Suassuna “et alii”. A editora virtual é a General Books e o ISBN duplo: 1232531634 e 9781232531630. Em seus romances, entre outras coisas, não falta a presença da Coluna Prestes (na então Vila de Piancó, Alto Sertão paraibano), alpendres e soldados, bandidos e cangaceiros, mascates e vaqueiros, telegrafistas, revoltosos e cavalos, bem como referências ao “Diário de Pernambuco”, do Recife (PE), jornal que, até fins da década de 1960, sempre teve forte presença entre os leitores paraibanos (inclusive no interior do Estado). Nesses livros, Bichara constrói um universo habitado por personagens como Andrade Mota, Joana, Antônia, Dona Marta, Epaminondas, Ezequiel, Isaías, João Faustino, Raimundo, Zeca, Pedro Grilo, o padre Aristides, o padre Cícero Romão, Benício, Filipe, Benvindo... Numa das obras cita, entre outros, Luís Carlos Prestes e Cordeiro de Farias.

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Com os jornalistas Gonzaga Rodrigues

2018 No ano em que se comemora seu centenário de nascimento, a memória de Ivan Bichara foi reverenciada em Brasília, João Pessoa, Cajazeiras e noutras partes em que de alguma forma atuou. As principais homenagens deveram-se a instituições e entidades como o Congresso Nacional, a Câmara de Vereadores de Cajazeiras, a Câmara de Vereadores de João Pessoa, a Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a APL, a FCJA “et alia”. Em 23 de maio, o Congresso Nacional, por intermédio de uma sessão solene não deliberativa da Câmara dos Deputados, momentaneamente sob a presidência do deputado Efraim Morais, promoveu sua homenagem especial à memória de Ivan Bichara. Estavam presentes, entre muitas outras autoridades e convidados, sua neta Ana Maria Monteiro Bichara (mais conhecida como Aninha Bichara), o deputado federal Marcondes Gadelha, o tabelião Germano Toscano de Brito, o prefeito Luciano Cartaxo (de João Pessoa), Ubiratan de Assis, representando o prefeito José Aldemir (de Cajazeiras), entre muitos outros. O vídeo completo dessa sessão solene pode ser visto no Youtube, mais exatamente no URL https://www.youtube.com/watch?v=SAbceYDC15Q , sob o título geral de “PLENÁRIO - Homenagem ao centenário de nascimento de Ivan Bichara Sobreira 23/05/2018 - 09:32”. Noutro vídeo importante, o ex-secretário estadual Frassales Cartaxo, também escritor, faz revelações sobre Ivan Bichara Sobreira. Veja os detalhes no mesmo Youtube, especificamente no “link” https://www.youtube. com/watch?v=VvQhF0byMRg, sob o título de “Frassales revela fatos inéditos sobre Ivan

Bichara”. É um material exclusivo do Diário do Sertão (Portal de Notícias e TV), publicado em 23 de maio de 2018. Uma das mais expressivas homenagens é esta que está sendo prestada pela revista literária GENIUS, por decisão de seu Diretor e Editor-Geral, o escritor, poeta e acadêmico Flávio Sátiro Fernandes: uma edição inteiramente dedicada à memória do Ex-Governador. Sob a coordenação do escritor, cronista e jornalista Gonzaga Rodrigues, promoveuse a elaboração de um volume especial, “Os 100 anos de Ivan Bichara: inéditos”, reunindo escritos esparsos de Ivan Bichara Sobreira, especialmente crônicas, artigos, ensaios e outros textos publicados na Imprensa local ou nacional, a propósito dos mais diversos temas. Para agosto, ficou marcado o lançamento de outra obra, esta orientada pelo professor Francelino Soares de Souza. Como já divulgado amplamente na Imprensa paraibana, este livro decorreu de sugestão do tabelião Germano Toscano de Brito, ex-chefe de gabinete do então governador Ivan Bichara. A sugestão do Dr. Germano foi de pronto aceita pelos descendentes do escritor e político. A filha Marília Lavínia pesquisou e ordenaram os conteúdos literários inéditos do pai, trabalho complementado por Gonzaga Rodrigues, como editor, também autor da apresentação do volume. Confirmam-se, portanto, a veia e o tino literários de Bichara, como ficou dito na Imprensa estadual e conforme já comprovado por abalizados críticos, do porte de Hildeberto Barbosa Filho, Ascendino Leite, Josué Montello, Antônio Carlos Vilaça, Carlos Drummond de Andrade, Nertan Macedo, Luís Viana Filho e outros. Para o mês de agosto deste ano de 2018, está marcado o lançamento de outro livro, também em comemoração ao centenário de nascimento de Ivan Bichara. Esse volume é coordenado pelo professor Francelino Soares de Souza. Em verdade, trata-se de uma reedição, crítica e com grafia atualizada, do romance “Carcará”, cuja primeira edição, como se viu lá atrás, saiu pela José Olympio Editora. Prevê-se ainda o lançamento de um terceiro volume, o livro intitulado “Depoimentos”, com personalidades regionais e nacionais falando sobre a vida, obra e personalidade de Ivan Bichara. Todas essas publicações serão distribuídas gratuitamente com o público interessado. “Last, not least”: em Cajazeiras, como parte das iniciativas tomadas pelo prefeito José Aldemir Meireles e pelo secretário de Cultura Ubiratan de Assis, será colocado um busto do escritor num dos principais logradouros da cidade, a Avenida Presidente João Pessoa - mais exatamente no mesmo local em que se erguia a casa em que Bichara veio ao mundo há um século. g


O TERCEIRO ROMANCE

JOANA DOS SANTOS OU UMA HISTÓRIA DE AMOR(*)

Flávio Sátiro Fernandes

Honraram-me a Academia Paraibana de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, com a minha designação para, em seu nome e nesta oportunidade, saudar a Ivan Bichara Sobreira, na homenagem que lhe prestam a Fundação Casa de José Américo e as demais instituições representativas da intelectualidade paraibana. Verifica-se, graças ao preito que se presta ao nosso homenageado, a par de outras manifestações recentes, tributadas a alguns dos nossos intelectuais, que a Paraíba começa a reconhecer e a festejar em vida os seus valores, não mais se restringindo, avaramente, às homenagens póstumas, muitas delas simplesmente prenunciadoras do esquecimento com que a província costuma galardoar seus filhos. Ao saudar o escritor e ex-Governador paraibano, relembro aos conterrâneos os fatos mais marcantes de sua existência: nascido em Cajazeiras, aos 24 de maio de 1918, filho de João Bichara e Hermenegilda Bichara Sobreira, fez os estudos primários e ginasiais em sua terra natal, onde recebeu a influência de seu padrinho, o

poeta Cristiano Cartaxo, que nele despertou o gosto pela leitura, emprestando-lhe livros através dos quais o nosso homenageado fez os primeiros contatos com os principais nomes da literatura pátria. Transferindo-se para João Pessoa, a fim de prosseguir os estudos, ingressa Ivan Bichara no jornalismo, trabalhando em A IMPRENSA, então dirigido pelo Padre Carlos Coelho. Concluído o curso colegial, realiza o curso jurídico, bacharelando-se em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, no ano de 1945. Foi colega de turma do estudante Demócrito de Sousa Filho, morto por agentes do Estado Novo quando, na sacada do DIÁRIO DE PERNAMBUCO, participava de manifestação que se fazia contra a ditadura. A Ivan Bichara coube falar, em nome de seus colegas, na ocasião em que, em lugar da secular solenidade de colação de grau, foi feita uma visita ao túmulo do estudante-mártir, no cemitério de Santo Amaro, no Recife. Voltando à Paraíba, dedica-se Ivan Bichara à advocacia e, com a redemocratiza-

ção do país, em 1945, ingressa na política, elegendo-se deputado à Assembléia Constituinte Estadual, em 1947, pela legenda da União Democrática Nacional. Reeleito para o período 1950/1954, pelo Partido Libertador, nessa legislatura ocupa o lugar de Presidente da Assembléia Legislativa e na legislatura seguinte se vê escolhido deputado federal, cargo que exerce por um mandato. Posteriormente, retorna à advocacia e ao exercício de outras funções, como Membro do Conselho Superior da Caixa Econômica Federal e Consultor Jurídico da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Em 1974, é indicado para o cargo de Governador do Estado da Paraíba. Eleito pela Assembléia Legislativa, dele toma posse em 15 de março de 1975. Realiza um governo honrado, eficiente, profícuo, dirigido, notadamente, para a valorização do trabalho agrícola. Após deixar o Governo do Estado, volta-se mais dedicadamente ao exercício da atividade literária, entregando-se à leitura de seus autores preferidos e à feitura ISSN: 2357-833

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de uma obra romanesca que, hoje, abrange três livros de inegável valor artístico: Carcará, Tempo de Servidão e Joana dos Santos, lançado, aqui, nesta noite festiva. Professor-fundador da Faculdade de Direito da Paraíba, ali lecionou a disciplina Direito Internacional Público. Lecionou também na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Paraíba. Casado com D. Mirthes de Almeida Bichara Sobreira, dessa união duradoura e feliz advieram os filhos José Humberto, Ivan, Maria Lavínia, Jeannine, George, João Augusto e Paulo Martinho. O casal possui dezenove netos que, sem dúvida, lhe renovam as alegrias, as esperanças, as vitórias. Como se vê desse breve apanhado biográfico, de Ivan Bichara pode-se proclamar que é um homem enfarado de triunfos. Mas o traço marcante de sua personalidade é, com certeza, a simplicidade. Tal virtude, que ele tem cultivado ao longo da existência, marca o homem público e o homem de letras. Nisso seguiu a lição e considerou a advertência de Mestre Pedro, personagem de D. Quixote, que alertava: “- Simplicidade, rapaz; tudo quanto é afetado é mau.” Na sua simplicidade, sempre teve consciência da transitoriedade de certas posições e de certas glórias. Por isso, ao deixar o Governo do Estado, transmitindo-o ao seu sucessor, diria: “Encerra-se, com este ato, nossa passagem pelo Governo do Estado”, querendo com isso, sem dúvida, deixar claro que para ele a glória era passageira, efêmera, transitória, como passageira, efêmera, transitória é nossa estada na terra. E terá sido esse seu desprendimento em relação às coisas vãs e às glórias pas-

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sageiras que terá ditado, creio eu, sua ação à frente dos destinos do nosso Estado, voltada mais para os humildes. Daí ter podido proclamar, em seu discurso de despedida, tal como uma prestação de contas, sucinta mas verdadeira: “Sabemos que essa lenta e dura e persistente ação não terá a glória das manchetes e o reconhecimento dos que acham que a Paraíba começa no Atlântico e termina às margens do Sanhauá. Tivemos a paciência do trabalho silencioso, um pouco parecido com o esforço da semente que irrompe do íntimo da terra para a vida à luz do sol. Não nos preocupamos apenas com o que é de hoje, de agora; com o que é visível e notado: tivemos, como era natural, a preocupação do amanhã, na consolidação de novas fontes de produção.” Pela sua ação serena e eficiente à frente do Governo do Estado, pode-se dizer que ele governou a Paraíba e não somente que foi governador, porque uma coisa é dizer-se de alguém que foi governador e outra, bem diferente, é dizer-se dessa mesma pessoa que governou. Ao dizer-se que foi governador, aí se está dando apenas um título ou um nome, enquanto que ao se dizer que governou, aí se incluem implicitamente ações e obras postas em execução. É a lição que extraímos de Vieira. Ao terminar de governar o nosso Estado e afirmar “- Deixo o governo com a consciência tranqüila”, o que poderia parecer lugar-comum, nele é a imagem da sinceridade bem ajustada à realidade de uma vivência integrada ao dever cumprido. Homem público de preocupações voltadas para a sua terra, Ivan Bichara é, igualmente, um homem de letras cujas cogitações se prendem, também, à terra.

O grande crítico e ensaísta brasileiro, Antônio Carlos Vilaça, escreveu, certa vez, que, nele, o intelectual e o homem público constituem uma unidade superior. Creio que essa unidade a que se refere o mencionado crítico deve ser creditada ao fio telúrico que perpassa sua ação de homem público e de intelectual, pois, quer como deputado ou governador, quer como ensaísta ou ficcionista, o autor de Carcará não se desprende das coisas da terra. No ensaio, não se direcionou para o estudo de escritores alienígenas, preferindo dedicar seus esforços à análise da obra de dois dos mais expressivos autores locais José Lins do Rego e José Vieira, este um tanto quanto desconhecido do público paraibano. O seu ensaio sobre o romance de José Lins do Rego é, sem dúvida, trabalho de leitura indispensável para quem melhor deseje conhecer a elaboração ficcional do autor de Menino de Engenho. Tocante à sua obra de ficção, é Ivan Bichara, hoje, autor de três romances: Carcará, Tempo de Servidão e Joana dos Santos, este último, aqui e agora entregue ao público. É uma obra que está a merecer estudos de nossos centros de literatura. Há alguns dias, ao saudar o poeta Luiz Nunes Alves, na Academia Paraibana de Letras, eu chamava a atenção para o esquecimento a que as instituições oficiais de ensino do nosso Estado relegam os escritores paraibanos, à exceção de José Lins do Rego e José Américo, exclusão ditada menos pelo valor que têm do que pelo fato de já serem consagrados no Sul do país. Pois bem, eis aqui um exemplo de obra romanesca que está a merecer um estudo mais acurado por parte das nossas escolas, dos nossos ginásios, dos nossos colégios, das nossas Universidades, inclu-


sive em nível de Concursos Vestibulares. Ao estudar o romance de José Lins do Rego, o nosso homenageado observou, com propriedade: “Homem da sua região, do seu tempo, das suas amizades e de suas preferências literárias, nessas fontes se alimentou o dom do contador de histórias, do romancista José Lins do Rego”. Eu diria que esta mesma observação poderia ser aplicada ao autor de Tempo de Servidão, tamanho é o seu apego às coisas de sua terra e do seu tempo. O Nordeste, a seca, o cangaço, o mormaço, queimando os espíritos mais que os corpos, a política de campanário, toda essa matéria se contém nos livros de Ivan Bichara, notadamente o primeiro e o terceiro deles - Carcará e Joana dos Santos. Tempo de Servidão é de outra linhagem - narra a luta contra a ditadura do Estado Novo, da qual o autor participou quando estudante, no Recife. Vindo, porém, da mesma fonte, é livro que guarda a mesma força narrativa que o romancista emprestou aos outros dois. Um romance, digo eu, é como que um baú onde o autor segue despejando as suas lembranças, as suas experiências, as suas vivências, as suas recordações. Romance nenhum é criação pura. Romance nenhum brota exclusivamente da imaginação de seu autor. Em 1926, a cidade de Cajazeiras foi atacada pelo bando de Lampião, conduzido por Sabino Gomes, irmão do chefe. O cangaço está nas obras de Ivan Bichara. No mesmo ano, a Coluna Prestes caminha pelo Nordeste e invade Piancó, cidade próxima de Cajazeiras. O episódio marcou as lembranças de Ivan Bichara, me-

nino à época. Está nas páginas de Joana dos Santos. Com relação a esse fato, todos nós o conhecemos, com os seus antecedentes e os seus desdobramentos, através das narrativas que dele fizeram diferentes protagonistas. Autores inúmeros já escreveram páginas e mais páginas sobre ele. Inclusive um escritor paraibano, o Padre Manuel Otaviano, dele cuidou em livro dedicado especialmente ao acontecimento. Pois bem, não obstante a profusão de informações, não obstante o conhecimento que temos do episódio, o escritor Ivan Bichara, fazendo dele o pano de fundo da ação romanesca de seu livro, prende a atenção do leitor, ávido por conhecer o desfecho que o romancista dará ao objeto de sua história. Importante é ressaltar que, mesmo após a narração da passagem da Coluna Prestes por Piancó, o leitor não perde o interesse pela trama ficcional, pois que ela continua, já pelas peripécias que envolvem a vida da personagem principal - Joana dos Santos - que dá título ao livro, e a de seu companheiro - Augusto Passos - ambos membros da Coluna, mas desta desgarrados por motivos alheios à sua vontade. Conquanto valendo-se de um fato histórico, não se pode considerar o romance Joana dos Santos como um romance histórico, nem muito menos como um roman-à-clef, pois embora tomando um acontecimento real como pano de fundo da narrativa, como já dissemos, o mais é ficção, é criação, é imaginação, embora dosada, necessariamente, com as lembranças, as memórias, as recordações,

as experiências, as vivências do autor. Joana dos Santos ou uma história de amor, poderia ser o título do romance, que o autor decidiu chamar, simplesmente, de Joana dos Santos, como uma forma, talvez, de realçar ainda mais o perfil de sua personagem. “Alta, corada, facilmente destacada das outras mulheres da Coluna, cabelos cor de mel presos por um laço vermelho, olhos verdes, lábios delineados, todo esse conjunto fazia de Joana um momento de beleza, de graça feminina no meio daquela confusão de corpos fatigados pela luta contra as emboscadas, agora mais freqüentes na passagem dos “rebeldes” pelo interior do Nordeste.” É assim que o autor inicia o romance, oferecendo-nos um retrato da personagem que dá nome à obra e que a partir daí domina a cena ficcional. Por alguns momentos, ela desaparece para ressurgir mais adiante com todo seu charme, o seu fascínio, a sua faceirice, a sua beleza. Joana dos Santos é personagem que, a partir de hoje, se incorpora à notável galeria de personagens femininas da literatura brasileira, ao nível de Capitu, Ana Terra, Gabriela, Dona Flor, Tereza Batista, Tieta do Agreste, Soledade e outras mais. Nesta noite triunfal, em que ela chega para habitar entre nós, batamos palmas para receber Joana dos Santos. g Saudação ao Ex-Governador e Acadêmico Ivan Bichara Sobreira, em nome da Academia Paraibana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e Fundação Casa de José Américo, no dia 6 de dezembro de 1995, na homenagem prestada por aquelas entidades, por motivo do lançamento de seu romance “Joana dos Santos”.

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TEXTOS SELECIONADOS

OS ESCONDIDOS DO DR. IVAN

Luiz Gonzaga Rodrigues

A coletânea de ensaios literários, conferências, depoimentos e outras matérias diversas de jornal e, mais ainda (o que é novidade) de inéditos poéticos mantidos sob extremo recato do autor na sua gaveta de segredos, decorre de um gesto de zelo e de amor da filha Maria Lavínia Sobreira de Magalhães, gesto sensível ao espírito solidário do antigo chefe de gabinete, Germano Toscano de Brito, amigo fiel do homem e de sua memória. Não faltou o prestígio da Universidade, aquele selo de perpetuidade profetizado pelo fundador José Américo, colado agora a esta memória pelo prefácio de Ângela Bezerra de Castro e a análise literária de Hildeberto Barbosa Filho. Julgando, como bom guarabirense, que onde foi casa é tapera, dr. Germano me passa a tarefa de organizar a edição. Aquela velha história: o costume mata o corpo. É que, em 1977, Germano me telefonava para receber do governador Bichara a missão de editar a fortuna crítica de José Américo, o escritor e o homem público, uma das formas de comemorar os 90 anos do patriarca dos novos tempos culturais e políticos da Paraíba. Nessa época, eu era mais gráfico do que jornalista, com algum bom domínio da técnica e dos instrumentos editoriais mais sólidos e indúcteis de então. Não é o caso de agora, quando os textos fogem, voláteis, da lousa luminosa, prateada, sem se saber jamais onde se enfiam. A idéia desta memória editorial vagou,

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inicialmente, por uma seleção respeitosa de inéditos, e evoluiu, tanto para fugir ao porte de plaqueta como para reeditarem-se marcas definidoras do homem Ivan, um servo da consciência cristã e da dignidade antes de servo da vida pública ou do Estado. De um líder que surpreendia os amigos e adversários políticos pela sua aparente ausência de surpresa diante da vida e do seu mundo. Sabia esconder as emoções como dizem que o coronel José Pereira sabia esconder o medo. Ao levar-lhe a boa nova de uma liberação federal de grande porte, esperavam José Carlos, Cartaxo, Humberto Freitas, Hermano Almeida, algum arroubo ou reação de entusiasmo, um júbilo qualquer, quando só viam, no máximo, um discreto meneio de aprovação. Por maior que fosse a emoção ou o constrangimento, a alegria ou o desgosto, não havia teatro em Ivan Bichara. Seu palco foi sempre interior, às vezes tenso, algumas radioso, mas a custo encenado. Nós, a rapaziada da revisão do jornal mediamos o seu humor, o seu estado de espírito pelo circunflexo das suas sobrancelhas. Quando o pastor Isaias Silva entrava de sola no governo, dr. Ivan chegava de circunflexos bem fechados. Ele estava à máquina, no O NORTE antigo da Duque de Caxias, a escrever um editorial, quando Zé Alemão, figura aloprada do Ponto de Cem Reis, baixa na redação de braços para cima, esbaforido, trazendo-lhe a vitória de Guarabira numa eleição renhida dos anos 50. Lá, as grandes lideranças se dividiam, nessa fase, entre Osmar e os segui-

dores de Augusto de Almeida, sogro de Ivan. Recebeu a notícia sem interromper o parágrafo, sem ao menos levantar a cabeça do teclado como se o trânsito da palavra, sua chegada no papel, não lhe desse chance a outra alegria, interesse ou preocupação. Por mais que Alemão vibrasse alto e bom som e cobrisse de beijos a cabeça bem penteada do editorialista, mais ele se detinha na máquina. Ao ler a conferência que pronunciou na abertura do IV Congresso Nacional de Crítica Literária, realizado em Campina Grande, pôde-se perceber por que Dr. Ivan não manifestava surpresa fácil. É que não há de se mostrar surpreso com uma proposta cultural, mais nova que seja, quem acha que “a cultura não é um devaneio burguês, nem ócio de bem nascidos; é uma exigência da natureza e da condição do homem e da função social e renovadora da Arte”. Maritaineano, seguidor de Tristão, de Anísio Teixeira, de John Dewey , o pupilo de padre Carlos Coelho não se alienava do compromisso social da arte. Não chegava a extremos de subjugá-la apenas à consciência social, mas não via como desvencilharse da placenta em que veio ao mundo seco, rubro e hiperestesiado do seu sertão. Sem falar no que sedimentou do mundo vivo de Balzac, Dostoievski, Stendhal, Proust, além da intimidade desde cedo formada nos contrastes espirituais e sociais acentuados na nossa melhor literatura. No que incorporou à experiência individual, limitada em espaço e tempo, a experiência sofrida de várias gerações. A experiência de


muitas vidas e de diversas situações – a dele, a do próximo e a dos remotos (a que vem dos livros). Tudo aliado ao temperamento, formou em Dr..Ivan aquele decoro de fundo crítico que, em religião ou em política, manda fazer com a mão direita de modo a que a esquerda não saiba. O capítulo do político, do administrador, tem como abertura esta confissão resignada: “Sabemos que essa lenta e dura e persistente ação não terá a glória das manchetes e o reconhecimento dos que acham que a Paraíba começa no Atlântico e termina às margens do Sanhauá. Tivemos a paciência do trabalho silencioso, um pouco parecido com o esforço da semente que irrompe do íntimo da terra para a vida à luz do sol”. Daí termos arrecadado, neste painel de poucas páginas, textos que andaram pelos jornais e com eles terão sumido. Os próprios jornais, salvo A União, já não existem. E com eles, particularmente A Imprensa e O Norte, sumidos todos, toda uma compulsão de queixas, reclamos e ânsias coletivas. As nossas noites de fadigas até mesmo venturosas, não só tingidas no branco do papel, se evolaram sumidas nas nuvens do tempo ainda que deixando impregnar algum orvalho nas pequenas e grandes obras de nossa passagem. Cada um de nós guarda a eternidade de algum momento. Aquela eternidade enquanto dura, do amor de Vinicius e de um poeta francês que o antecedeu no dito poético, um tal Régnier, citado por Paulo Rónai: “L’amour est éternel tant qu’il dure” Numa destas páginas, na breve seção dedicada ao político, vamos encontrar esse diálogo bem singelo, lembrando o teatro pastoril de Gil Vicente agora à beira do asfalto do século XX. É o político dr.Ivan, com alma gilvicen-

tina, quem narra, depois de pavimentar 470 quilômetros de estrada Paraiba a dentro: “Na entrada de Queimadas, aproximeime duma venda e perguntei a um rapaz de seus 18 anos:

- Já andou pela estrada? - Já. - É boa? - É. - Quem fez essa estrada, em que governo...? - Sei não, seu moço.

Gostei do moço. Quem quiser fazer alguma coisa, num cargo executivo, faça, porque seu dever e sua obrigação é trabalhar. Não espere ser lembrado nem reconhecido o seu esforço”. De certa forma, errou Dr. Ivan. É possível que eu me equivoque sobre a construção do Terminal Rodoviário de João Pessoa, a ampliação que o consumo exigia do abastecimento d`água da cidade, a quintuplicação da rede de esgoto, os 5 grandes colégios estaduais, a exemplo do José Lins do Rego, a Penitenciária, as sedes do IPEP, da Suplan, a Escola do Serviço Público, a ampliação e criação de Distritos Industriais, a inclusão de Minha Alagoa Nova no anel rodoviário, tudo é possível, maiores que tenham sido as obras, esquecidas com o uso contínuo e comum, com a serventia rotineira da posse. A lembrança ou memória mais demorada de uma administração bem sucedida, entre os pessoenses, recai em Walfredo Guedes Pereira, antes de prefeito, o médico fundador do Instituto de Assistência e Proteção à Infância, do Abrigo de Menores Jesus de Nazaret, precursor da medicina preventiva. No forro de tudo pulsava o coração humaníssimo do médico, do sanitarista incomo-

dado com o pântano que a lagoa dos Irerês transformada, a partir do sentido humaníssimo de sua ação, no cartão postal da cidade. Ivan Bichara Sobreira construiu nos dois planos sem investir na publicidade de sua obra. Não via pra quê, se ele próprio sentia mais peso na consciência em relação ao que não pôde fazer do que no muito que fez em todo o seu acervo de obras. E fez muito, como se vê no resumo que aparece num dos capítulos do livro editado nas comemorações dos 400 anos da Paraíba, sob a coordenação do historiador José Octávio de Arruda Mello, Evandro Nóbrega, Wellington Aguiar e Gonzaga Rodrigues e agora reproduzido. Na apresentação dessa memória editorial, vejamos o que resume a visão crítica da professora Ângela Bezerra de Castro: “Os que com ele compartilharam as lides políticas, como governador ou parlamentar, ressaltam-lhe a personalidade de humanista e o espírito público refletidos ‘em gestos de humildade e tolerância de um conhecedor das inelutáveis fraquezas do homem’. É o testemunho do confrade Evaldo Gonçalves de Queiroz no recente artigo Centenário de Ivan Bichara. Por mais paradoxal que pareça – continua Ângela – são qualidades raramente comprovadas, na história dos homens públicos. E, se considerarmos o tempo presente, diremos que o humanismo e o espírito público são predicados em extinção. Provavelmente nossa maior tragédia política, que faz a democracia inalcançável, em razão do impasse que se cria para a escolha criteriosa (Palavras lidas na solenidade em homenagem aos 100 anos de Dr. Ivan Bichara, na noite de 8/06/2018, na Fundação Casa de José Américo, depois refundidas para inserção nesta publicação.) g

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CARCARÁ/TEMPO DE SERVIDÃO/JOANA DOS SANTOS

Ivan Bichara, indubitavelmente, um romancista de vocação

Hildeberto Barbosa Filho

Ivan Bichara é autor de três romances, a saber: Carcará (1984), Tempo de servidão (1988) e Joana dos Santos (1995). Como romancista, estreia tarde, já na maturidade de sua experiência literária, tendo, ainda, como referência, o que parece aumentar sua responsabilidade, a consciência do crítico e ensaísta, voltado especialmente para o estudo dos elementos estruturais da narrativa. O romance, portanto, vai lhe permitir exercitar-se, por dentro, no universo da representação ficcional, fundindo realidade e fantasia criadora no afã de construir um mundo próprio, com seres autônomos, tempo, espaço, ambientação, estilo, cosmovisão. O mundo do romance é um mundo à parte. Um mundo dotado de lógica intrínseca e estrutural, com normas específicas, significação histórica e social, mas, sobremaneira, significação e autonomia estéticas. E esta significação estética – ponto seminal na ordem romanesca – não decorre de sua relação com a realidade, no plano da equívoca verossimilhança externa, mas, fundamentalmente, da coesão e coerência dos seus componentes internos, cujos limites o romancista, na sua liberdade criadora, é afinal quem estabelece. Estudioso da teoria literária, ensaísta arguto, porém, indubitavelmente, um romancista de vocação, Ivan Bichara sabia tudo isto. Carcará, por exemplo, evidencia bem a inventividade e a competência do escritor no aproveitamento de um assunto, de certa maneira cediço, na tradição do romance re-

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gionalista, isto é, o cangaço. Tomando como ponto de partida o ataque à cidade de Cajazeiras por Sabino Gomes e seu bando, em 28 de setembro de 1926, o escritor, não somente reconstitui uma época característica do sertão nordestino, mas constata, com o olhar artístico e ficcional, todo um clima de expectativa face às consequências da ameaça do famigerado cangaceiro, ao mesmo tempo em que traça, em cores vivas e convincentes, a fotografia das personas em meio aos conflitos da narrativa. A notícia do ataque é a deflagradora da ação romanesca. O impacto, que ela causa na sensibilidade dos que pretendem organizar-se para defender a cidade, como que pontua o ritmo da narrativa, modulando, em crescendo, a atmosfera de suspense, o clima de tensão, que envolve os personagens e, por extensão, o leitor. O modo, portanto, de conduzir a narrativa, de conceber a ordem dos acontecimentos, com retrocessos e avanços cronológicos, parece elemento decisivo na consecução do efeito estético. Narrando numa terceira voz e a partir de uma focalização tradicional, onisciente, o autor desloca, contudo, o ponto de vista do narrador para os personagens, o que permite uma visão variada sobre o episódio nuclear da trama e sobre os múltiplos dilemas emocionais daí decorrentes. Tendo, como referência básica, a perspectiva do ataque e a figura cruel e sanguinária de Sabino Gomes, cada personagem, em cada capítulo, como que forma um bloco episódico fechado, quase como um conto, a


lembrar a estrutura singular de um romance como Vidas secas, de Graciliano Ramos. Personagens, como Raimundo Anastácio, David Casimiro, João Boa Nova, Manuel Santana, Tenente Elino, Cego Alexandre e outros, ao posicionarem-se frente ao problema geral do cangaço, no contexto histórico que os envolve, veem-se, no entanto, emoldurados e descritos na sua psicologia individual, na história de vida de cada um. Neste sentido, se em Carcará está “palpitante o Nordeste, a força telúrica do Nordeste”, para me valer das palavras de Antonio Carlos Villaça, palpitam também os medos e assombros, o amor e a solidão, a bravura e a esperança da alma humana. O conflito individual entranha-se, assim, no conflito coletivo, numa tensa correlação que termina por imprimir coesão e coerência à lógica da trama. Elemento radical da fabulação e, decerto, o personagem central, é Sabino Gomes, o que se faz metáfora na figura do carcará, a ave de rapina, predadora e impiedosa. Pesar de aparecer apenas nos últimos capítulos, por ocasião do ataque, Sabino Gomes se faz presença viva, concreta, ameaçadora, desde o início do romance, com as elocubrações de Raimundo Anastácio. Temos, aqui, uma modalidade curiosa de técnica narrativa, isto é, a presença de um personagem pela ausência, por sua vez associada à convicção de que esta ausência se tornará presença, sem, todavia, perder-se a cadência gradual e ascendente do suspense. Algo, em Carcará, lembra-me Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Marques, ou o filme, Matar ou morrer, de Fred Zinnemann, pelo que traem de expectativa emocional, de tensão, de medo e de fatalidade. Estas narrativas, cada uma a seu modo, não giram em torno de um fato, mas, na verdade, de uma espera, de uma minada e dolorosa espera, adensando-se, portanto, na sua feição psicológica mais do que no seu tecido factual. Assim, para além do valor que lhe pode injetar a reconstituição de um drama social, no viés previsível da tradição regionalista, é a forma de composição o aspecto nodal de um romance como Carcará. Nisto, ele é mais que um romance apenas correto, conforme assegurei em outro momento; é um romance inventivo. É algo novo no bojo do regionalismo nordestino. A par do domínio da técnica de composição, Ivan Bichara também se revela, em que lhe pesem alguns lugares-comuns, através de um estilo simples, despretensioso, fluente, bem medido, bem talhado, sobretudo no descrever certas cenas, as cenas

sensuais, por exemplo, e traçar o perfil dos personagens. A propósito, vale a pena conferir a precisão do estilo, quando o narrador pincela o retrato de Sabino Gomes: (...) Chapéu de couro igual ao de Lampião, mal escondendo a cabeça grande, os cabelos acobreados, abundantes e duros, vestia roupa de brim cáqui, parecida com a farda da Polícia; o peito largo era atravessado por duas cartucheiras de ombro, com pentes de cinco balas; dois embornais, carregados, aumentavam sua largura; pendurados no pescoço, nas cartucheiras, no cinto-cartucheira, medalhas de Nossa Senhora, do Coração de Jesus, do Padre Cícero, santinhos, escapulários contendo rezas fortes e medalhas de ouro ou douradas que cintilavam ao sol; tinha na mão direita um mosquetão de cano cortado e, enfiadas na cartucheira, uma faca enorme, de uns 60 centímetros, e outra, menor; o olhar duro, enviesado, marcava com um traço malévolo, a cara sinistra do homem acostumado à vida dura do cangaço. Sua voz era rouca, mas forte. O silêncio do sol, a pino, com a natureza amortalhada de luz, aumentava o som grave das palavras diretas, firmes, densa. Às vezes, numa pausa, parecia sorrir, mordendo os lábios carnudos; engano; era o esgar do gato do mato ao arriscar um salto no meio do perigo. Não impunha, ainda, o respeito e a confiança do outro, do Chefe; mas despertava o terror em muitos que podiam dar testemunho de sua fria crueldade. Assim era Sabino Gomes. Ao estilo acompanha, em certo sentido, colado ao olhar do personagem, Tenente Elino, algo de heroificação de Sabino Gomes.

Por mais que haja, no plano ideológico da narrativa, o propósito de denúncia do banditismo social, e que, esteticamente se prefigure o cangaceiro como o grande antagonista da cidade, uma nota de simpatia para com ele perpassa certas passagens. É o caso, por exemplo, da que descreve o facínora no calor da luta. Vejamo-la: No acesso da luta, há poucos instantes, contra sua natureza e seu respeito pela vida humana. O Tenente Elino Fernando tinha olhos para ver a coragem, o destemor desesperado do chefe dos cangaceiros. Dava vigoroso exemplo de bravura pessoal, correndo pela rua com a arma na mão, atirando, gritando, animando os companheiros. Sozinho valia os cabras que se apoiavam na loucura, no furor com que se expunha e atacava, ora usando o mosquetão, ritmando as descargas com as voltas que dava pelo chão, ora se servindo do rifle 44, papo amarelo, que acendia chispas de fogo no ventre da noite. Refletindo, na sua fúria, o grande lutador que era, mostrava claramente, que estava só no combate, sem ninguém que o imitasse ou o seguisse no esforço para amedrontar os “macacos”. Era um bandido, era um monstro, um louco dominado pela ânsia da destrutividade, mas era corajoso e valente como quem mais o fosse. Se chegasse a ser morto ou ferido, seu grupo entraria em colapso. Em sua Poética de romance: matéria de carpintaria, o escritor mineiro, Autran Dourado, estabelece uma curiosa e sugestiva distinção entre o prosador e o romancista. O prosador, ao escrever, deseja fazer estilo, tornear a frase, ornamentar as palavras, enfim, chamar a atenção para o brilho e a elegância da linguagem; o romancista, não. Ao escrever, procura seguir às exigências do padrão romanesco, fazendo com que a linguagem sirva à composição dos seres, das coisas e da ambientação moldados na estrutura narrativa. Em síntese, como salienta o autor de O risco do bordado, “o romancista, como todo artista, não cria para exprimir coisa alguma; ao contrário, se exprime para criar”. Ora, é isto o que ocorre com Ivan Bichara, sobretudo na arquitetura ficcional de Carcará, sem dúvida alguma, seu romance mais bem realizado. Tempo de servidão e Joana dos Santos, de certa maneira, ganham naquilo que poderíamos denominar, com Northrop Frye, de atmosfera do romance romanesco, sem os traços do realismo cru dos detalhes, para perderem, contudo, em densidade e concentração orgânicas e dramáticas na economia da narrativa. ISSN: 2357-833

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Fugindo à ambientação rural, Tempo de servidão conta a história do amor entre Cacilda e Cristiano, tendo, por pano de fundo, os episódios históricos da ditadura Vargas, nos anos 40, em Recife. O amor frustrado entre Joana e Augusto Passos, contextualizado à época da passagem da Coluna Prestes, pela Vila de Piancó, em janeiro de 1926, é o eixo central de Joana dos Santos. No entanto, ao contrário de Carcará, em que a expectativa da invasão de Cajazeiras é pontuada por uma narração contida, tensa, concentrada, cadenciada em sua unidade rítmica e dramática, nos outros romances, a despeito da manutenção do estilo transparente, já característicos do escritor, sente-se que algo se afrouxa no recrudescimento da ação romanesca. Se se tem a cobertura de época (num, os dias difíceis do arbítrio político, o “tempo de servidão”; noutro, o massacre do padre Aristides Ferreira da Cruz e seus aliados pelos soldados de Prestes), têm-se, de outra parte, mesmo que enraizadas no contexto histórico, as peripécias individuais algo folhetinescas e melodramáticas. Episódios como a mudança fisionômica de Cristiano, a partir de complicada operação plástica, o assassinato de Maneco Torres por ele perpetrado e o lado patético da doença de Cacilda, em Tempo de servidão, assim como a figura de Joana, a cegueira de Augusto Passos e certas intrigas de Pedro Grilo, personagem calcado na figura popular, folclórica e malandra de João Grilo, imortalizado por Ariano Suassuna, estes de Joana dos Santos, imprimem muito de novelesco à narrativa, decerto comprometendo, literariamente, sua verossimilhança. Em que pese, não obstante, estes senões, o escritor de Cajazeiras, com seus três ro-

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mances, cria um universo próprio. Um universo dotado de certa simetria. Simetria que, na sua recorrência, aponta para algumas notações de sua técnica de compor. Em primeiro lugar, diria que as situações, no plano individual das personagens, são como que amalgamadas pelo fundo histórico e social, no plano coletivo. Ao fato histórico, utilizado como assunto romanesco, se liga a aventura existencial de cada personagem, numa tematização, não somente da tragédia de uma região, nos seus ciclos de seca, flagelo, fome e violência, mas, sobretudo da tragédia particular e emblemática do destino humano. É assim em Carcará como também nas duas outras narrativas. Em segundo lugar, a focalização central de um narrador, que narra em terceira pessoa, se faz circular, deslocada e desconcentrada, portanto, a partir de uma visão com, como diz Jean Pouillon, em O tempo no romance, marcada pela perspectiva de cada personagem. Cada capítulo, como um bloco fechado e autônomo, materializa, para além da visão ordenadora do narrador principal, a visão peculiar de cada ator ficcional. Neste sentido, vale observar os recursos retóricos de manipulação da ordem cronológica, a dinamizar o jogo ambíguo entre o tempo real, tempo da diegese, e o tempo interior, o tempo da emoção. Finalmente, no movimento da fabulação, o que identifico como os encontros fatais ocorridos apenas no final, assim como os finais, em certo sentido, abertos. Em Carcará, o encontro do cangaceiro e a cidade, enquanto momento decisivo, enquanto clímax da narrativa, é o que esperam, ansiosos, os personagens envolvidos na trama; é o que espera ansioso o leitor.

Em Tempo de servidão, o encontro de Cristiano e o antagonista Maneco Torres, obstáculo à realização do seu sonho pessoal e símbolo ativo da repressão política do regime, também se desenha, desde o início, ativando a nossa expectativa. Em Joana dos Santos, o reencontro de Joana e Augusto dos Passos, depois de longa ausência e de múltiplas peripécias em que se envolvem, a seu modo também motiva a continuidade da leitura. Ao domínio da técnica do suspense, da capacidade de prender a atenção do leitor e de lhe manter o interesse pelo desenvolvimento e desfecho da fábula, Ivan Bichara associa a imprevisibilidade, a sutileza, a incompletude, enfim, a abertura do final. Tanto Cristiano, em Tempo de servidão, como José Benvindo, em Joana dos Santos, depois da resolução de todos os acontecimentos, recebem uma carta. Cartas que não lhes dão certeza de nada. A de Cristiano vem de seu amigo Daniel, avisando-lhe que lhe traz “uma surpresa” (provavelmente a sua amada Cacilda); a de José Benvindo é assinada por Joana, que viaja para o Maranhão, deixando-o completamente desnorteado. Em ambos os casos, o leitor não sabe exatamente o que vai acontecer. Tudo resulta, ao fim, imponderável e indefinido como na própria vida. Não é outra a interpretação que se pode dar as palavras finais do narrador, em Joana dos Santos, quando, no cais, José Benvindo amarga a saudade de Joana: Um menino magro, de olhos fundos, afogado numa roupa que não era dele, pediu uma ajuda, sem convicção, como se tivesse certeza da negativa. Achou o menino parecido com ele, na sua indecisão, no seu medo de viver. g


O PENSAMENTO POLÍTICO DE IVAN BICHARA - I

Venho para servir e não para ser servido (*)

Ivan Bichara Sobreira

Senhor Presidente, Srs. Deputados: Na vida de todos nós há momentos que se tornam inesquecíveis. Acontecem e ficam para sempre, desafiando o tempo e com ele concorrendo como se fossem um instante da eternidade. Estamos aqui, Dorgival Terceiro Neto e eu, para expressar nosso agradecimento em face da deliberação há pouco tomada por Vossas Excelências. Saúdo os distinguidos e leais correligionários da Aliança Renovadora Nacional, assegurando-lhes o compromisso e a certeza de que procuraremos ser dignos da confiança em nós depositada. Saúdo, igualmente, os ilustres deputados da bancada do Movimento Democrático Brasileiro, no pleno exercício de seus mandatos e das tarefas específicas que lhes foram confiadas pelo povo paraibano. Agradeço as palavras generosas do orador que acaba de testemunhar a decisão desta Casa, Presidente Egídio da Silva Madruga, recolhendo-as como um estímulo para a tarefa que nos foi confiada pelo eminente Presidente Ernesto Geisel e pelo nosso Partido. Agrada-nos, sobremodo, que esta Assembleia seja o instrumento e o cenário de ato tão solene, pois aqui vivi e lutei durante oito anos inolvidáveis, cumprindo mandato que nos foi outorgado pelo povo paraibano. Posso dizer a Vossas Excelências e à Paraíba – venho para servir e não para ser servido. Venho com o espírito desarmado

e o coração isento. E, sobretudo, venho com o firme desejo de trabalhar, de contribuir com o meu esforço para a tarefa comum de ajudar a Paraíba. Conclamo todos para esse objetivo. A política ou o exercício de cargos públicos não absorve todos os que têm vocação para o serviço do bem comum. Homem público é o que prepara, pelo ensino, conjugando inteligência e método, as novas gerações. Homem público é o que serve a comunidade no anonimato do árduo ofício de assistência e proteção aos menores, aos enfermos, aos desamparados. Homem público é o advogado, é o jornalista, é o padre, é o escritor, movidos pelo bem na defesa da pessoa humana atingida pela injustiça; é o cientista, o pesquisador à procura de respostas às questões de interesse geral; é o engenheiro, o técnico, o agrônomo, o químico, todos, enfim, que no desempenho do seu ofício dão mais do que recebem; é o trabalhador que ergue os edifícios, as casas, as escolas, as pontes, as estradas, os hospitais, alimentando o progresso com o suor do seu rosto e o cimento de sua paciência; é a dona de casa, a mãe de família, modelando com o seu exemplo, no duro cotidiano, o caráter dos brasileiros de hoje e de amanhã. Todos somos, os que temos responsabilidades, os que descobrimos a existência dos outros e não só a nossa e a dos que nos são mais próximos, todos nós constituímos o corpo político da Nação organizada em Estado.

Mas tudo perde substância se não aliarmos a esse propósito o sentimento de solidariedade para com o que mais precisamos e o que mais sofre os desajustamentos sociais carreados na esteira do progresso. Não há virtude, só, nessa opção; há cálculo, também. Pois ou construímos um mundo melhor, mais humano, mais cristão, ou afundaremos sob o impacto da miséria, do terrorismo, da subversão, no colapso de uma civilização que perdeu seu destino e sua vocação. Cabe-nos, a todos que temos participação na vida pública do nosso município, do nosso Estado ou País, além da missão de administrar, preservar a ordem e as instituições, de promover o crescimento econômico, a tarefa primeira de alicerçar todas essas conquistas numa aspiração de paz social verdadeira e duradoura. Dentro desses objetivos a obra renovadora e profunda da Revolução deve ser lembrada com justiça e gratidão. O Fundo de Garantia de Tempo de Serviço, o PIS, o Funrural, a aposentadoria para as empregadas domésticas e outras iniciativas dão o tônus da presença criadora da Revolução no plano econômico e social. No setor estadual, podemos destacar, com sentimento de justiça, tanto a administração João Agripino Filho, como a do Governador Ernani Sátyro, que deixará o Estado sob o respeito e a admiração dos paraibanos. Temos, na retina, bem vivas, ainda, as imagens da época bem recente carregadas de temores, aflições e desespero, em que o ISSN: 2357-833

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nosso País descia vertiginosamente o plano inclinado da convulsão social, da anarquia e da baderna. Ninguém pode desejar, em sã consciência, o retorno da desordem, da greve comandada pelo governo, do custo de vida disparando todos os recordes de elevação. Compreendemos e louvamos, mais uma vez, o esforço consciente e salvador da Revolução de Março e desejamos que se aperfeiçoem, num clima de confiança, de progresso e de tranquilidade, os instrumentos da evolução democrática e de harmonia social. Mas isso não vem do céu como chuva na tarde seca. Está em nossas mãos, no cumprimento fiel do nosso dever, no nosso exemplo que vale mais, segundo Rui Barbosa, do que as palavras e as intenções. Disse e repito: a democracia tem raízes na ordem, na plenitude do respeito à dignidade da pessoa humana. Não será, nunca, fruto da confusão e do desprezo aos valores fundamentais da convivência fraterna, humanizada pelo Evangelho. Estamos compenetrados dos nossos deveres e das tarefas que nos esperam, numa fase decisiva para a vida do Nordeste, para a atenuação das divergências regionais, com o sonho e o objetivo de ver o Brasil como um todo harmonioso e promissor e não a soma de contrastes que se eternizam. Confesso, aqui, nesta hora solene, uma atitude assumida com inteira consciência. Quando da votação do projeto da imediata mudança da capital federal para Brasília, na Câmara dos Deputados, fiquei entre os 8 ou 9 parlamentares que votaram contra a subitaneidade da medida. É que achava, já naquele tempo (1958,

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se não me engano) que a hora do Nordeste era aquela, a hora dos investimentos maciços na recuperação da região, investimentos que seriam desviados para a construção da cidade fantástica em pleno plano central. Brasília é, hoje, uma realidade. Com sua irradiação pelas regiões circunvizinhas, na sua função integradora da unidade nacional. Não combatia a transferência da capital em si; mostrava que a SUDENE, há pouco estruturada, precisava de recursos vigorosos para acudir o Nordeste, para colocá-lo num ritmo de crescimento econômico, continuado e firme, durante uns dez anos seguidos. Muito já foi feito, apesar dos pesares. Mas o arranco inicial sofreu o impacto da concentração de recursos para o planalto central. Temos avançado, temos melhorado. A SUDENE vem cumprindo de certo modo os seus objetivos, mas os efeitos de sua atuação poderiam ter sido mais profícuos e estimulantes. Mas o que passou, passou. Vamos mobilizar todas as energias para a redenção da nossa região e da nossa Paraíba. Vamos despertar os moços para a importância e a prioridade de uma atitude positiva e firme no estudo e na defesa dos interesses do Nordeste. Vamos estimular os jovens para o serviço público, oxigenando a vida partidária, libertando-a das velhas práticas cediças do coronelismo e da corrução eleitoral. Despertemos vocações para o trabalho em prol do bem comum, ensinando aos que vão chegando que o exercício da função pública é uma das mais nobres das tarefas.

Convoquemos os que nasceram para pesquisar, os que se aperfeiçoam no estudo e no manuseio da técnica, no seio das Universidades, para o trabalho comum em benefício do povo. Tudo é menos difícil quando se faz com amor e entusiasmo. Mobilizemos a empresa agrícola, industrial ou comercial na sua função criadora de riquezas, estimulando as iniciativas renovadoras e apoiando os que estão no batente há longo tempo. Vamos inspirar aos trabalhadores de todas as condições a confiança na ação supletiva de ajudá-los nas suas dificuldades, a eles e aos seus familiares, criando condições de vida mais justas e mais dignas. Convoquemos as forças econômicas e as espirituais também, para a obra comum de renovação de métodos e objetivos de governo, já iniciada pelos que nos antecederam. Senhores Deputados: No meu nome e no nome do meu digno e valoroso companheiro, Prof. Dorgival Terceiro Neto, renovo os agradecimentos mais sinceros pela nossa eleição para os cargos de Governador e de Vice-Governador do Estado. Que o Senhor nos inspire e nos ajude a sermos dignos dessa confiança e da missão que nos foi delegada pelo nosso Partido e pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República. (*) Discurso após ser eleito Governador da Paraíba, pela Assembleia Legislativa do Estado, em 3 de outubro de 1974. (Transcrito da plaqueta Primeiros pronunciamentos, A União, Cia. Editora, s/d)


O PENSAMENTO POLÍTICO DE IVAN BICHARA - II

QUERO GOVERNAR À LUZ DO SOL, SEM MISTÉRIOS, SEM SUBTERFÚGIOS E SEM SOMBRAS(*) Ivan Bichara Sobreira

JURAMENTO COM AMOR Presto este juramento como quem faz uma declaração de amor. De amor à Paraíba, doce e forte terra mãe, a quem espero servir com honra, dedicação e lealdade. Por ela e para ela estou aqui, cumprindo um comando do destino, que para mim tem um nome, o nome de Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra, das coisas visíveis e invisíveis. Não a pleiteei, pois tamanha honra não se pede. Mas recebendo esta missão, a mais alta a que pode aspirar qualquer um de nós, posso dizer aos paraibanos que tudo farei para não perder um dia destes quatro anos, que serão consagrados não só aos superiores interesses do Estado como àqueles dos nossos conterrâneos que só precisam de estímulo para não ficar à margem das conquistas sociais e econômicas do nosso tempo. Receberei, logo mais, na praça pública, o bastão de comando das mãos honestas e diligentes do governador Ernani Sátyro, a quem fica a dever a Paraíba soma inegável de obras e serviços espalhados pelos quatro cantos do Estado. A Paraíba saberá sempre fazer justiça ao eminente paraibano que terei a honra de suceder na governança do Estado. Venho, repito, com a alma aberta e o coração isento. Venho servir. Desejo manter o clima de respeito aos direitos humanos e às garantias individuais existentes em nossa terá. Homem de partido, cultivando o dever e o sentimento da lealdade, governarei com a observância dos princípios norteadores da Aliança Renovadora Nacional, dentro das normas da boa convivência democrática, considerando os adversários como adversários e não como inimigos e para eles apelando na hora da luta comum pelos interesses da Paraíba. DEMOCRACIA E MODELO POLÍTICO Há poucos dias, na reunião dos novos

governadores em Brasília, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, o eminente General Ernesto Geisel, amigo da Paraíba, me assegurava todo apoio à minha administração, refletindo sua preocupação com os problemas e as potencialidades do Nordeste. Venho somar. Venho unir os companheiros do partido para novas jornadas democráticas. Conto, para isso, com o apoio das forças mais expressivas da Arena, que precisa renovar-se para não enfraquecer-se. Devemos, para isso, despertar novas vocações para a carreira política, motivando os jovens, os estudantes, para o debate dos assuntos e interesses da coletividade, sem afastá-los da vida universitária, que deve ser preservada na sua condição peculiar, na sua riqueza e na sua fecundidade. Espero atrair para a coisa pública, para a atividade política, o calor e o idealismo dos jovens, a quem convoco, em nome da Paraíba, para maior participação na vida pública. Tenho certeza, também, de que a oposição, com os valores de que dispõe, exercerá o seu papel com a isenção e a lisura que têm norteado sua conduta e sua missão. Quero testemunhar, neste discurso, o primeiro que faço como Governador da Paraíba, o penhor do meu respeito a esta Casa, onde passei os melhores anos da minha vida pública, de 1947 a 1954, na fase de redemocratização do nosso País. Estava chegando do Recife, das lutas travadas contra a ditadura, em 1945, na sua velha e gloriosa Faculdade de Direito, ao lado de companheiros queridos, que os recordo, a todos, agora, na menção do nome coberto de martírio e de glória de Demócrito de Sousa Filho. Não desertamos do nosso culto à democracia e da nossa crença na sua excelência e na sua validade, como o regime ideal no resguardo da dignidade da pessoa humana. Vivemos todos nós o instante que passa, comprometendo-nos com as reflexões e as

emoções que nos envolvem e nos agridem. Por isso, perdemos, muita vez, a perspectiva do julgamento sereno e isento da hora presente, É fácil criticar; mais fácil, ainda, sonhar com as transformações operadas sob o efeito de um passe de mágica. Vivemos um momento de transição. Fomos chamados para cumprir um dever sagrado, que deve começar pela necessidade de falar claro. Tendo a Revolução de 1964 rompido um ponto de aparente equilíbrio, vem procurando, a duras penas, recompor a plena vivência democrática. E o tem feito com realismo e sinceridade, vencendo etapas, superando dificuldades, restaurando a prática das instituições democráticas como ocorreu, recentemente, com a realização das eleições livres de novembro de 1974, sob o governo do Presidente Ernesto Geisel. Devemos, por isso, juntar nossos esforços, por mais modestos que sejam, para ajudar o Presidente na plena instauração do modelo político emergente, conciliando-a com o processo econômico promovido com êxito pela Revolução de Março. Tarefa imensa e complexa, que se tenta concretizar sob os efeitos duma crise internacional de proporções imprevisíveis, com funda repercussão na economia e nas finanças do País. Sob a inspiração do lema adotado pelo Presidente Ernesto Geisel – desenvolvimento com segurança – desfrutamos, apesar das investidas da subversão, de um clima de ordem, de paz, de trabalho, de progresso, de liberdade com responsabilidade. Quero contar com a colaboração indispensável e valiosa dos ilustres representantes do povo paraibano, dos meus correligionários da Arena e das forças integrantes da oposição, a fim de que possa transformar em realidade os planos, a ação de governo que iremos desenvolver a partir de amanhã. ISSN: 2357-833

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Asseguro aos Senhores Deputados que encaminharei à consideração desta Casa, oportunamente, um Documento contendo os objetivos básicos do nosso Programa de Governo, no período 1975/79. Seguindo a orientação do Presidente da República pretendo administrar a Paraíba dentro das normas de uma ação planejada, de modo a guardar inteira coerência com os grandes objetivos nacionais e regionais. MELHORIA DA CONDIÇÃO HUMANA Nossa preocupação essencial é a melhoria das condições de vida do povo paraibano. Quando lutamos pelo aumento de produção, no que estamos pensando é no pai de família e na dona de casa que não têm recursos para viver ou sustentar os seus filhos. Quando falamos em desenvolvimento industrial, criação de novas fábricas e na reativação das que estão paradas, o que visamos é o aumento de empregos para os paraibanos que vão chegando e precisam de ocupação para a realização de seus sonhos e duma vida digna e feliz. Quando pensamos em novos açudes, em desenvolver a irrigação, intensificar a eletrificação rural, a mineração, a mecanização agrícola, o turismo, o que temos em mente é ver o progresso e o conforto atingirem também as casas mais humildes. Quando objetivamos dar sentido novo às atividades fazendárias e creditícias, criando ou mantendo incentivos que nos coloquem em igualdade de condições com as demais unidades da Federação, o que pretendemos com isso não é só a criação de novas riquezas, mas a ampliação de oportunidades para os nossos conterrâneos. Quando elaboramos estudos, programas e projetos objetivando o atendimento racional de problemas de saúde, de educação, de assistência social, regime penitenciário, proteção à mãe pobre e ao menor abandonado, o que temos em vista é atender ao mais desprotegido: o menino sem teto, o operário sem emprego, o nosso irmão, enfim, que está posto à margem da vida que passa à sua frente no seu fluxo inexorável. Não nos preocupemos, de início, com a construção de novas obras públicas, cuja programação foi bem desenvolvida pelos governos anteriores a que darei a necessária continuidade. A AGRICULTURA É A VOCAÇÃO DAS DIVERSAS ZONAS DO ESTADO Cuidaremos com paciência e teimosia dos problemas da agricultura e do abastecimento mesmo sabendo que, pela sua natureza, eles não dão notoriedade e brilho à ação governamental. É que continuamos convencidos da verdade revelada pelo maior de todos nós, José Américo de Almeida, numa síntese que servirá de lema para qualquer

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governo: “Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã”. Desejamos orientar nossa produção tendo em vista as possibilidades de comercialização, saindo da cultura preponderante do algodão para uma diversificação racional e proveitosa de outros produtos. Não tomaremos iniciativas isoladas. Nossa ação será ordenada e integrada dentro da programação elaborada pelo Poder Central, com o acréscimo da nossa experiência e das nossas peculiaridades. Daremos tratamento humano e sério ao problema penitenciário, para o que já obtivemos do Ministério da Justiça o compromisso de nos ajudar na melhoria das condições de vida do detento e na tentativa de recuperação daquele que perdeu, num instante de desgraça, o bem supremo da existência em comum com os seus semelhantes. Estarei atento para as comunidades do interior, da minha formosa Cajazeiras até a cidade portuária de Cabedelo, procurando estimular a vocação de certas regiões, despertar o ânimo do sertão, do cariri, do curimataú, da caatinga, do brejo e do litoral para novas conquistas no terreno da iniciativa privada. Dois exemplos justificarão esse pensamento: Campina Grande e Guarabira. A segunda, terra que me adotou politicamente, já foi o celeiro do Rio Grande do Norte e até da nossa capital. Pode e deve reconquistar esse destaque na vida econômica do Estado. Campina Grande, por sua vez, encaminha sua sede de crescer e de produzir em duas direções: a industrialização e a criação de polo universitário e tecnológico de inegável importância. Estarei a seu serviço nessa escalada para o alto, complementando um avanço que já foi dado pelo seu povo infatigável e capaz. Como estarei ao lado de todos os municípios paraibanos, sem distinção de qualquer espécie, ajudando-os na sua vontade de prosperar. OS COLABORADORES Ajudando-me com sua experiência e seu espírito público, estará o ilustre e digno vice-governador Dorgival Terceiro Neto, a quem a Paraíba consagra o mais sincero respeito. Escolhi para dirigir João Pessoa um engenheiro realizado na sua profissão, vitorioso em todas as iniciativas que arrosta. Além disso, além da sua probidade, da sua competência, é homem de grande sensibilidade para o problema social.(**) A meu lado, como colaboradores leais, estão os ilustres paraibanos que constituem o meu secretariado. A Paraíba os conhece e os admira. E sabe que pode confiar no governo também por eles. SERVIÇO PÚBLICO O serviço público será olhado com atenção e respeito. Pretendo implantar uma política de pessoal que abra oportunidade para todos atra-

vés da seleção dos mais capazes. Estou ciente das reivindicações do funcionalismo. Que Deus Nosso Senhor nos dê chuva e safra e farei justiça aos que trabalham e produzem no silêncio amargo da rotina. Digo o mesmo da nossa Polícia Militar, corporação que não pode viver só de tradição, mas que deve modernizar-se para melhor cumprimento de sua grande tarefa. Matriz de inteligências privilegiadas, a Paraíba é o ninho fecundo de onde saíram Pedro Américo, Augusto dos Anjos, José Vieira, Perilo de Oliveira, Epitácio Pessoa, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Ariano Suassuna e tantos outros que assinalaram, para o nosso Estado, com o labor intelectual e artístico, um ponto marcante no panorama da vida brasileira. CULTURA E MISSÃO DA JUVENTUDE Por isso, darei ao setor cultural a devida atenção, fomentando o desenvolvimento das artes plásticas e das letras nos seus diversos gêneros, visando o jovem que precisa de estímulo e de reconhecimento para a revelação de uma vocação encoberta pela pobreza ou pela desconfiança. Para isso sei que contarei com a presente colaboração das nossas Universidades, que transformaram a vida da Paraíba, despertando inteligências e vocações, pesquisando, trabalhando, criando. GOVERNAR COM A COMUNIDADE Homem de jornal, darei o apreço necessário à crítica honesta e oportuna, pois quero governar à luz do sol, sem mistérios, sem subterfúgios e sem sombras, a exemplo da tradição paraibana de seriedade e de espírito público. Nada se pode fazer, entretanto, de permanente e de útil, sozinho. Quero contar com o povo, com os empresários e os trabalhadores, com todas as classes e profissões, pois sem a ajuda da comunidade nada se cria de duradouro e nada se renova. O problema social não depende do governo, só; depende de todos, das Igrejas, das associações, dos sindicatos, das fundações, para que o bem realizado não apareça como um favor ou uma esmola, mas como o resultado de um esforço da comunidade que não tem dono nem suscita agradecimentos obrigatórios. Em linhas gerais são esses os nossos desejos e os nossos propósitos. Para o êxito da tarefa que me foi confiada imploro a proteção do Senhor e a ajuda de todos os paraibanos. A Paraíba sabe que a amo. E que esse amor não é de hoje. É um amor de toda a vida. g Discurso pronunciado perante a Assembleia Legislativa do Estado, aos 15 de março de 1975, ao tomar posse no cargo de Governador do Estado. (Transcrito da plaqueta Primeiros pronunciamentos - A União, Cia. Editora, 1978, João Pessoa)

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(**) N. E. O orador se referia ao Engenheiro Hermano Almeida, escolhido para o cargo de Prefeito da Capital, por ato do Governador, conforme determinava a legislação da época.


DEPUTADO ESTADUAL, DEPUTADO FEDERAL, GOVERNADOR

A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE IVAN BICHARA

José Octávio de Arruda Mello (**)

A Antônio Quirino de Moura, Linaldo Guedes e Francisco Sales Cartaxo Rolim, colegas cajazeirenses. A Marisa Alverga, Germano Toscano e Vicente Barbosa, amigos de Guarabira. Sumário: 1. Introdução. 2. Pelo integralismo rumo à UDN. 3. Deputação guarabirense e hegemonia udenista. 4. Ascensão do P.L. e Coligação Democrática. 5. Reeleição folgada e presidência da Assembleia. 6. Rumo à Câmara Federal. 7. A derrota de 1958. 8. A ressurreição de 1974. 9. Sucessão de 78 e rutura da ARENA. 10. Insucesso senatorial e fim de carreira. 11. Dignidade de um derrotado. Referências e Notas. 1.Introdução O nascimento do deputado estadual e federal, bem como Presidente da Assembleia Legislativa e Governador do Estado Ivan Bichara Sobreira, em Cajazeiras, a 24 de maio de 1918, assume significado em sua evolução política, ideológica e cultural. Aluno do Colégio Diocesano Padre Rolim, onde chegou a lecionar primeiras

letras, ao tempo em que caiu sob a influência do escritor e educador católico Cristiano Cartaxo1, Bichara tornou-se intelectual típico de cidade conventual, assim definida pelo jornalista e deputado Praxedes Pitanga. Com efeito, sede de bispado destinado a neutralizar a religiosidade popularesca do padre Cícero Romão Batista2, a mais ocidental das cidades paraibanas acusava sensível conotação tridentina, expressada nos numerosos jornais e revistas clericais, múltiplas associações pias e rivalidade com a vizinha Sousa, de orientação laica e comercial. Ressalte-se, ainda, em Cajazeiras, o funcionamento, pelos anos trinta, à sombra do bispado, da União dos Moços Católicos (UMC) que, em articulação com a Legião Cearense do Trabalho, dos tenentes Jeovah Mota e Severino Sombra, abria suas reuniões em nome do pensador reacionário Jackson de Figueiredo3. Ao transferir-se para a capital do Estado, em 1936, Ivan Bichara conservouse fiel a essas raízes. Discípulo dileto do padre Carlos Coelho, o mesmo que serviu de assistente religioso da UMC, e a seguir

diretor do semanário religioso A Imprensa, onde se engajou, Bichara ingressou nas Faculdades de Direito de Alagoas e do Recife, esta última em oposição à interventoria pernambucana de Agamenon Magalhães, o malaio. Sua turma foi a do inditoso universitário Demócrito de Sousa Filho, mortalmente atingido pela polícia de Etelvino Lins, em manifestação contrária ao Estado Novo, na sacada do Diário de Pernambuco4. 2. Pelo integralismo rumo à UDN. Quando da redemocratização de 1945, essas vicissitudes terminaram influenciando a opção político-partidária do antigo revisor e redator de A Imprensa. Se a religiosidade de Cajazeiras o aproximava do integralismo, cuja Câmara dos 400 integrou5, o antivarguismo da Faculdade de Direito do Recife o empurrava para a União Democrática Nacional (UDN), que, desde o Manifesto dos Mineiros de 1943, passando pela entrevista de José Américo a Carlos Lacerda, em 1945, batiase pela redemocratização do país, em moldes liberais.

A influência de Cristiano Cartaxo sobre Ivan, levou este, como governador, a designar um filho daquele, economista Francisco Sales Cartaxo Rolim, como Secretário de Planejamento. Por A União, Bichara também providenciou a publicação dos poemas de Cristiano – A Musa quase toda (1979) – a que prefaciou. 2 ROLIM, Francisco Sales Cartaxo, Guerra ao fanatismo – a Diocese de Cajazeiras no certo ao Padre Cícero: Livro Rápido, 2016, passim, como declarada projeção do ensaio de Sérgio Micelli – Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945), 1979. 3 Mello, José Octávio de Arruda. A revolução estatizada. Um estudo sobre a formação do centralismo em 30, 3ª Ed., Campina Grande: EDUPB, 2014, p. 180/2. Minhas colocações, resultantes de pesquisa de 1980, apoiadas pelo Professor cajazeirense Alberto Timóteo, tiveram em vista os jornais A Imprensa, de João Pessoa, e O Rio de Peixe e O Sport e revista Flor de Liz, bem como, principalmente, as atas de 1931 e 32 da União de Moços Católicos, de Cajazeiras, que, graças ao transporte ferroviário, mantinha estreitas ligações com a Legião Cearense do Trabalho dos tenentes de Jeovah Mota e Severino Sombra, rebentos do integralismo em Fortaleza. 4 Da experiência estadonovista da Faculdade de Direito do Recife, Ivan Bichara extraiu o romance Tempo de servidão: Rio de Janeiro, José Olympio, 1988. Contudo, é em Joana dos Santos (1995) que aparece a melhor biografia do autor, presumivelmente escrita pelo próprio. Quanto aos aspectos repressivos do governo de Agamenon, em Pernambuco, veja-se o aliciante China Gordo – Agamenon Magalhães e sua época (1976) de Andrade Lima Filho. 1

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Na foto, à época, deputados João Agripino Filho, Praxedes Pitanga, Ivan Bichara e Ernani Sátyro.

Calçada no Recife por escritores e estudantes, como Gilberto Freyre – eleito deputado federal na ala de Esquerda Democrática – e Odilon Ribeiro Coutinho, a UDN de 45 constituía não apenas partido de bacharéis, mas de homens de pensamento6. Nela, conservando a estria religiosa do integralismo, engajou-se Ivan Bichara, favorecido por duas outras razões. Enquanto em Cajazeiras sua filiação política significava acompanhar a maior parte dos intelectuais da localidade, como irmãos Octacílio e João Jurema, advogado Hildebrando Assis, jornalista Antônio de Sousa, publicista Hildebrando Leal e escritor Cristiano Cartaxo, todos abençoados pela Igreja ultramontana do bispo Dom Moisés Coelho, nos outros planos da realidade política paraibana o udenismo de IBS crismava-se de certezas. Desde 1943 que o jovem bacharel casara com a srta. Mirtes Almeida, filha do farmacêutico e futuro biprefeito de Guarabira, Augusto de Almeida, irmão do ministro José Américo de Almeida, presidente nacional da UDN, pela qual disputaria a vice-presidência da República, em pleito indireto, quando derrotado pelo pessedista Nereu Ramos, em setembro de 1946. Por via do casamento, Ivan Bichara associava-se a um dos mais poderosos clãs

da política paraibana, controlada por José Américo. Como o sogro também se inserisse na UDN guarabirense, municipalmente hegemônica, graças à liderança de Osmar de Aquino, deputado federal em 1945, Ivan estava segurando as duas pontas da corda. Isso porque lhe cabia pertencer ao principal partido das áreas de atuação – Cajazeiras e Guarabira. Nelas, o candidato presidencial udenista Eduardo Gomes superara amplamente o pessedista Eurico Dutra, vitorioso no Brasil, mas derrotado na Paraíba7. Tanto em Cajazeiras como em Guarabira, no pleito de dezembro de 1945, a legenda de deputados federais udenistas também ultrapassara largamente os pessedistas, o mesmo acontecendo com os postulantes senatoriais udenistas Adalberto Ribeiro e Wergniaud Wanderley que sobrepujaram os ruistas Antônio Galdino Guedes, que era de Guarabira, e Pereira Lyra. Segundo o cientista político francês Jean Blondel, a UDN, embora minoritária no litoral, tornava-se dominante no interior paraibano, graças à máquina montada por Argemiro de Figueiredo, de 1932 a 40, como Secretário do Interior, Governador e Interventor do Estado. A Argemiro cabia dividir o comando partidário udenista com José Américo8.

3. Deputação guarabirense e hegemonia udenista. A supremacia da UDN de 1945 refletiuse em 1947, sem que Cajazeiras e Guarabira constituíssem exceção, quando das eleições para o Governo do Estado e Assembleia Legislativa. Na primeira, o constitucionalista Oswaldo Trigueiro de Albuquerque e Melo impôs-se ao pessedista Alcides Carneiro por 80.273 a 69.683 votos, amplificando os resultados de Cajazeiras e Guarabira. Para a Assembleia, as legendas totalizaram 77.712 votos da UDN, 60.746 do PSD, 5.766 do PCB, 5.645 do PTB e 585 do Partido de Representação Popular (PRP), dos antigos integralistas da AIB9. Candidato a deputado estadual na legenda do brigadeirismo, Ivan Bichara foi o menos votado da bancada de 18 parlamentares, com 1990 sufrágios, em renhida disputa com o médico José Maciel (1988) e areiense Octaviano Carneiro da Cunha (1983 votos). Os udenistas mais votados foram Renato Ribeiro de Coutinho (5898), Luiz de Oliveira Lima e Praxedes Pitanga (3.178 e 2999, respectivamente). A posição eleitoral de Ivan Bichara melhorou em face das eleições

5 Segura biografia do dr. Ivan Bichara consta do primeiro volume do Dicionário Histórico Brasileiro - 1930-1983 (1984), coordenado por Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu para a Forense Universitária e FINEP, ambas do Rio de Janeiro. Entre as páginas 390 e 391, o biogrfado aparece como, no primeiro mandato, líder do governo udenista de Oswaldo Trigueiro, na Assembleia, e candidato a deputado federal, em 1962, pela UDN, quando já se encontrava fora do Estado e obteve a segunda suplência. Quanto ao integralismo, que chegou a congregar intelectuais brasileiros do melhor nível, observe-se que o movimento albergava diversas tendências como a cultural, de Pl[inio Salgado e Menotti Del Picchia, corporativa, de Olbiano de Melo, fascista, de Raimundo Padilha, jurídica, de Miguel Reale, e a racista, de Gustavo Barroso. Sem se agregar a nenhuma delas, Ivan Bichara provinha da vertente religiosa de dom Helder Câmara. Quando esse, posteriormente, guinou para a esquerda, o cajazeirense, fiel à corrente do chefe provincial Pedro Nogueira, não o acompanhou, permanecendo como homem de centro, com leve inclinação à esquerda. 6 Juntamente com Otávio Dulci, em vários de meus estudos levantei o caráter antipopulista da UDN. Sua feição intelectual e bacharelesca foi conceituada por Sérgio Micelli, em “Carne e osso da elite política brasileira pós 30, in capítulo XI do volume III d série O Brasil republicano 3 Sociedade e política (1930-1964), São Paulo, Difel, 1964, coordenada por Bóris Fausto. Nele, atente-se para o tópico “ Ala dos bacharéis”, p. 589/592. 7 Enquanto na Paraíba de dezembro de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes suplantou o general Eurico Dutra por 76.110 votos a 61.090 – com o comunista Yedo Fiúza alcançando 5.779 – em Cajazeiras e Guarabira a vantagem do udenista foi de 2.658 x728 e 2.606 x 1.895, respectivamente. 8 BLONDEL, Jean, As condições da vida política no Estado da Paraíba, 2ª ed. João Perssoa: Assembleia Legislativa, 1994, p. 131/2. 9 Comunistas de João Santa Cruz e integralistas de Domingos Trigueiro Lins mereceram análises de José Octávio no ensaio Sociedade e poder político no Nordeste – O caso da Paraíba 1945/1964, João Pessoa: Editora Universitária, 2001, cf. o sublivro Esquerda e direita, volver, onde os comunas ganham quatro tópicos e os verdes um – “O PRP na Paraíba (1945/1964): O balanço integralista, p. 224/278.

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Com o ex-governador João Agripino Filho e o Deputado Antônio Mariz.

complementares de 23 de março de 47 que lhe trouxeram 320 votos, dos quais 102 em João Pessoa e 65 em Santa Rita, contra 122 do dr. Maciel. De onde proveio a primeira votação de Ivan Bichara? – Como em quase todas as postulações elas não provieram de Cajazeiras onde os preferidos foram os eleitos João Guimarães Jurema (1.600 votos) e Hildebrando Assis (904) e ainda José Marques Bezerra, do PSD, com 821 votos, e Januário Alves Feitosa, do PTB, com 157. Com apenas 72 votos na própria terra. Dr. Ivan tornou-se Constituinte de 47, graças aos 516 votos de João Pessoa e 429 de Guarabira. Na primeira, escorado pelo americismo, somente ficou atrás dos udenistas Renato Ribeiro, Luiz de Oliveira Lima e Miranda Freire, pessedistas Ruy Carneiro e Oswaldo Pessoa, e comunista João Santa Cruz. Em Guarabira, seus sufrágios provieram do sogro Augusto de Almeida, somente sendo ultrapassado pelos 1319 votos do advogado Silvio Porto, como candidato do deputado federal Osmar de Aquino. Fora daí, o eleitorado bicharista derivou de 76 votos em Santa Rita, 7 em Maguari, 4 em Sapé, 1 em Pilar, 2 em Itabaiana, 160 em Mamanguape, 11 em Ingá, 6 em Alagoa Grande, 4 em Areia, 1 em Serra Branca, 28 em Caiçara, 54 em Campina Grande, 4 em Umbuzeiro, 16 em Araruna, 6 em Cabaceiras, 42 em São João do Cariri, 1 em Ibiapinópolis, como denominação de Sole-

dade, 8 em Picuí, 23 em Santa Luzia, 16 em Patos, 9 em Monteiro, 3 em Teixeira, 2 em Pombal, 41 em Piancó, 157 em Misericórdia, 72 em Sousa, 12 em Catolé, 6 em Brejo do Cruz, 57 em Bonito de Santa Fé, 15 em Jatobá e 68 em Conceição. Trata-se de votação capilarizada – o candidato somente não foi sufragado em Serraria – o que pressupõe a influência dos párocos da Igreja. De mais a mais, funcionário público de limitados recursos, Ivan Bichara enfrentava candidatos de enraizada liderança localista, valendo-se apenas do suporte estamental do tio da esposa e do sogro. 4. Ascensão do P.L. e Coligação Democrática. A segunda metade da década de quarenta assinalou, na Paraíba, nela incluindo-se Cajazeiras e Guarabira, franca supremacia da União Democrática Nacional. Detentora do Governo do Estado, a Eterna Vigilância dominou a política paraibana com três senadores – o terceiro, como candidato único, foi José Américo, sagrado a 19 de janeiro de 1947 – sete deputados federais em dez, dezoito estaduais em trinta e quatro, e ainda o vice-governador, graças à vitória de José Targino sobre Odívio Duarte, a 18 de outubro de 47. Os prefeitos de Cajazeiras e Guarabira – Arsênio Araruna e Sabiniano Maia – também pertenciam à UDN. Esta só não ocupava a Presidência da

República onde, contudo, em razão do acordo dos partidos urdido no plano nacional pelo bahiano Octávio Mangabeira, o Chefe da Casa Civil de Dutra, paraibano Pereira Lyra, em trânsito do extinto POT para o PR, aproximava-se da UDN argemirista para compor a Aliança Republicana UDN/PR das eleições de 950. Exatamente daí é que sobrevieram dissenções e ruturas. Hostilizado pelo Governo Federal de Dutra, do qual se aproximava Argemiro, aliado a Pereira Lyra, José Américo, a partir de 1949, e por intermédio do presidente da Câmara dos Deputados, pessedista Samuel Duarte, evoluiu para composição com o PSD, com o qual, coadjuvante pelos PTB e PSB, compôs a Coligação Democrática Paraibana (CDP), para a consulta de 195010. Pouco à vontade no brigadeirismo, os americistas constituíram a seção estadual do Partido Libertador (PL) do gaúcho Raul Pila que, a dez de agosto de 1950, passou a contar com bancada de cinco deputados estaduais desligados da UDN – José Fernandes Filho (Dedé Fernandes), Ivan Bichara Sobreira, João Guimarães Jurema, Nominando Diniz e Pedro Augusto de Almeida11. Como nas expressões de Marcos Odilon Ribeiro Coutinho, quem ganha eleição é dissidência, sendo esta em 1950 o PL de José Américo12, o centro de gravidade da política paraibana deslocou-se para a Coligação Democrática Paraibana. Ao lado desta, projetava-se o getulismo

Segundo José Octávio, foi a partir de conversações no Rio de Janeiro, em 1949, entre o presidente da Câmara dos Deputados Samuel Duarte e o ministro José Américo que se formalizou a aliança entre pessedistas e americistas, cf. MELLO, José Octávio de Arruda – “Samuel Duarte – Cultura, Política e Direito na Classe Média”, in Samuel Duarte – Perfis Parlamentares, Brasília, Câmara dos Deputados, 2014, p. 50/1. 11 Cf. Ofício da Assembleia Legislativa da Paraíba ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que o registrou no livro três (3) das elkeições da Corte. 12 COUTINHO, Marcos Odilon Ribeiro, Poder, alegria dos homens, João Perssoa, A Imprensa, 1965, p. 112. 10

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de aspirante à Presidência da República que, levantado pelas massas urbanas, atropelava o udenismo do brigadeiro Eduardo Gomes e pessedismo de Cristiano Machado, tanto na Paraíba como no Brasil13. 5. Reeleição folgada e presidência da Assembleia. Foi nesse contexto que Ivan Bichara, como procônsul do americismo, não teve dificuldade em se reeleger. O eleitorado paraibano era ainda conservador, o que se expressou na votação do vice-presidente da chapa getulista, João Café Filho. Qualificado de sindicalista e divorcista, Café somente vitoriou em áreas de concentração operária e tensão social de João Pessoa, Santa Rita, Sapé, Itabaiana e Mamanguape/Rio Tinto14. Temperada pelo conservadorismo do PSD de Ruy Carneiro, a Coligação Democrática triunfou de ponta a ponta com José Américo, suplantando Argemiro de Figueiredo, para governador, João Fernandes de Lima a Renato Ribeiro como vice, Ruy Carneiro a Pereira Lyra, na qualidade de senador, e Abelardo Jurema a João Maurício de Medeiros como suplente senatorial. Dos dez deputados federais, a Coligação perfez seis contra quatro e na área estadual 18 em 36. Para a Assembleia a UDN integralizou 15 parlamentares e o PR três. A posição de Bichara era agora confortável, visto que, a 3 de outubro de 50, tornou-se com 3.248 votos dos 114.353 coligacionistas, e abaixo apenas de Severino Cabral, José Fernandes de Lima, Pedro Gondim, Fernando Milanez e José Gayoso, o sexto mais votado da bancada. Para tanto, João Pessoa contribuía com 491 votos, Guarabira com 775, Caiçara 478, Araruna 728, Monteiro 118, Alagoa Nova 139 e Santa Rita com 114. Repartida entre os 1512 votos de João Jurema, 1151 de Deodato Cartaxo e 1826 de João Rolim Guimarães, a votação cajazeirense de dr. Ivan não passou de 25 votos. Em compensação, as 775 cédulas de Guarabira tornaram-se apenas inferiores às 1843 do udenista Sílvio Porto e 1433 do pessedista João Pimentel Filho. Ao contrário de três anos antes, a votação de Ivan Bichara tornava-se concentrada – catorze municípios deixaram de nele votar. Seu prestígio, em ascensão, conduziu-o à

Ivan Bichara

Presidência da Assembleia Legislativa, entre 1951 e 52, quando deixou a direção do jornal O Norte exercida desde a década anterior. As Prefeituras de Cajazeiras, com Octacílio Jurema, e Guarabira, nas mãos de Augusto de Almeida, pertenciam à Coligação. Em João Pessoa, egresso da UDN, o prefeito Luiz de Oliveira Lima fixara-se no PTB, como, porém, ex-colega de dr. Ivan na Constituinte de 1947 e recém criada Faculdade de Direito. 6. Rumo à Câmara Federal. Com boa posição dentro do Partido e prestígio junto à comunidade, o caminho natural de Ivan Bichara seria a Câmara Federal. Aconteceu em outubro de 1954, quando o eleitorado paraibano se reuniu para escolher dois senadores e suplentes, onze deputados federais e quarenta estaduais. Travado sob a influência direta do suicídio de Vargas, a 24 de agosto, o pleito de 54 registrou a vitória dos udenistas Argemiro de Figueiredo e João Arruda sobre os coligacionistas Assis Chateaubriand e Virgínio Veloso, que tentavam a reeleição. Contra o

antinacionalismo de Chateaubriand, tenazmente combatido pelas esquerdas, a UDN incorporava à sua chapa o também imenso jornalista Rafael Corrêa de Oliveira, eleito deputado federal. Senador mais votado da UDN, o industrial João Arruda, radicado em São Paulo, apresentava como suplente o campeão de votos cajazeirense Octacílio Jurema. Antigo coligacionista, a votação deste favoreceu Bichara que extraiu 903 votos, no município. Seus outros 9.951 votos provieram de Guarabira (2256), João Pessoa (1263), Brejo do Cruz (518), Piancó (521), Coremas (334), Picuí (385), Ibiapinópolis (358), Esperança (330), Araruna (321), Caiçara (287) e Santa Rita (248), além de outros com menor expressão. Com José Américo, egresso do Ministério da Viação, novamente no Governo Estadual, a aliança PSD/PL funcionava a pleno vapor. Tal como em 1950, três deputados federais – Janduhy Carneiro, José Joffily e Drault Ernanny – reservaram-se ao carneirismo, e igual número – Plínio Lemos, Pereira Diniz e Ivan Bichara – ao americismo. Mesmo como o último dos seis, a vitória de dr. Ivan foi tranquila, visto como, na CDP, os suplentes Alcides Carneiro e Odívio Duarte permaneceram a boa distância. 7. A derrota de 1958. Quatro anos depois, em 1958, as circunstâncias não favoreceram a dr. Ivan que, candidato à reeleição, viu-se derrotado, mediante o que praticamente encerrou a carreira política – a governança estadual indireta de 1974 representará pura sobrevida, como se verá. Deu-se que, em 1958, desfeito o acordo de 50, Ruy Carneiro marchou para as urnas, derrotando José Américo para o Senado por 134.179 votos a 109.161. Seu suplente, Salviano Leite, do Piancó, também ultrapassou o americista Virgínio Veloso. De mais a mais, tanto em Cajazeiras como em Guarabira, Bichara já não contava com as respectivas Prefeituras. Na primeira, os udenistas Antônio Cartaxo Rolim e Vicente Leite sobrepujaram, em 1955, os coligacionistas Acácio Rolim e Cristiano Cartaxo. Em Guarabira, o veterano Osmar de Aquino, deslocando-se da UDN para a

Cf. MELLO, José Octávio de Arruda. “As Eleições Presidenciais na Paraíba (II) – A onda populista de 50 consagrou Vargas, Café, Rui e José Américo” in Sociedade e Poder Político no Nordeste, cit. p. 459/65. Na Paraíba, Getúlio Vargas extraiu 125.464 votos, o brigadeiro Eduardo Gomes 108.332, Cristiano Machado 20.660 votos e o socialista João Mangabeira 67. Como os pessedistas, abdicando da candidatura Cristiano Machado, sufragassem Vargas, cunhou-se o termo cristianizar, incorporado ao vocabulário político brasileiro. 14 MELLO, José Octávio de Arruda, ibidem. Na Paraíba, Café Filho, intensamente combatido pela Igreja, foi derrotado pelo mineiro Odilon Braga, vice de Gomes, por 47.769 votos a 103.908. Em Brejo do Cruz, na região noroeste do Estado, Café obteve apenas 49 votos contra 2.462, de Odilon Braga. 13

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esquerda do PSD joffilista, ultrapassou o médico Pimentel Filho, apoiado pelo prefeito Augusto de Almeida15. Privado do concurso do PSD, o PL americista que refluía para a quinta posição da estrutura de poder estadual – a ordem era agora PSD, UDN, PTB e PSP – aliouse à UDN, a que retornava José Américo, e fração das esquerdas, para compor a Coligação Nacionalista Libertadora (CNL) cuja legenda federal totalizou 89.707 votos contra 109.808 do PSD. Nessa nova composição, ocorreu fenômeno dos mais curiosos. Em busca de espaço, a UDN virtualmente “engoliu” o aliado peelista que desapareceu de cena. Não só José Américo perdeu para o Senado, como Plínio Lemos, Ivan Bichara, Pereira Diniz e Bianor Lafayette não foram eleitos para a Câmara Federal, o mesmo acontecendo com Agnaldo Veloso Borges, Nominando Diniz, Antônio Tavares de Carvalho, Tancredo de Carvalho e Atêncio Wanderley, que ingressara no lugar do cunhado José Medeiros Vieira, na área da Assembleia Legislativa. Os americistas albergados em outras legendas como Joaquim Ferreira Filho e José Betâmio, do PSB, também lograram insucesso16. Nesse contexto é que se deve entender o revés de Ivan Bichara Sobreira quando o PSD totalizou cinco deputados federais, a CNL quatro – João Agripino, João Úrsulo Ribeiro Coutinho, Luiz Bronzeado e Ernani Satyro – e o PSP ademarista, que vestira a camisa do PTB, dois. Com apenas 6.067 votos, bem menos, por conseguinte, que em 1954, Ivan Bichara tornou-se o segundo suplente da bancada federal da CNL com os 9.081 votos de Plínio Lemos, situados entre ele e o derradeiro eleito que foi Ernani Satyro com 10.016 votos. Por toda parte – João Pessoa, Guarabira, Cajazeiras, Santa Rita, Araruna, Caiçara, Sumé, Esperança, Mamanguape, Pirpirituba e Piancó – a votação bicharista declinara visivelmente. 8. A ressurreição de 1974. Embora haja eventualmente assumido a Câmara Federal, na condição de suplente em 1958 e 1962, o início dos anos sessenta assistiu ao encerramento da experiência partidária do dr. Ivan Bichara Sobreira. Tendo renunciado à cátedra de Direito

Fernando Nóbrega, trouxe Ivan à Paraíba para, em nome dos ex-deputados estaduais, falar na inauguração do novo prédio da Assembleia Legislativa, inaugurada pelo governador Ernani Satyro, a 15 de novembro de 197317. Calçado por José Américo, Ernani Satyro e Associação Comercial do Rio de Janeiro, o nome de Ivan correu fácil, o que lhe garantiu a governança da Paraíba, no ano seguinte, quando lhe coube suplantar, em tranquila eleição indireta, os agripinistas Juarez Farias e Octacílio Silveira. Uma vez no Palácio da Redenção, para cumprimento do mandato 1974/78, buscou equilibrar ernanistas e agripinistas e encetar positiva gama de realizações, concentradas sobretudo, na área da Educação e Cultura, subordinada ao professor Tarcísio Burity. Divergências com Ernani levaram-no a, todavia, exonerar Secretários de Estado herdados da gestão anterior18. 9. Sucessão de 78 e rutura da ARENA. Vice-Governador Dorgival Terceiro Neto

Internacional Público da Faculdade de Direito da UFPB, o parlamentar, aposentado como Procurador do IAPI, converteu-se em Consultor Jurídico da Associação Comercial do Rio de Janeiro onde passou a residir. Simpatizante do movimento de 64, tornou-se presidente do Conselho Consultivo da Caixa Econômica Federal, em nível nacional. Para todos os efeitos, sua carreira política encontrava-se concluída, se não houvessem sobrevindo os acontecimentos de 1972. Rompido com João Agripino, a quem sucedera, o Governador Ernani Satyro procurou encaminhar substituto na pessoa do desembargador Hermes Pessoa, conhecido pela capacidade de realização. Como este não fosse filiado à ARENA, o nome que despontou foi o do exdeputado federal e ex-ministro do Superior Tribunal do Trabalho, Fernando Nóbrega, desaconselhado pela família. Graças a lembrete do ministro José Américo, quem então surgiu foi o dr. Ivan Bichara, em torno do qual se arregimentou o ativo lobby da Associação Comercial do Rio de Janeiro, presidida pelo ex-deputado federal Raul de Góes. Este, juntamente com

Ao aproximar-se a sucessão estadual de 1978, o economista Aluizio Afonso Campos, radicado em Brasília, articulou aproximação entre os ex-governadores Agripino e Ernani. Daí resultou o chamado Acordo de Brasília que estabeleceu chapa com o deputado federal Antônio Mariz, como Governador indireto, Ernani Satyro como senador biônico e Ivan Bichara, na condição de senador direto, todos pela ARENA. Aglutinando as principais lideranças políticas do Estado, a combinação era engenhosa, mas os conselheiros do Governador Bichara, liderados pelo presidente da ARENA, Valdir dos Santos Lima, vetaram-na de pronto, sob a alegação de que o Chefe do Executivo não havia sido consultado. O nome de Bichara foi invocado como contrário ao entendimento19. Como réplica ao ajuste da capital federal, sobreveio o Pacto de Camboinha, celebrado em praia próxima à capital. Mediante a maioria da bancada federal e presidência da ARENA estadual, o Governador Bichara recebeu delegação para articular composição em que, do Acordo de Brasília, somente permaneceria ele próprio como candidato à eleição direta do Senado. Os dois outros seriam o Secretário de Educação Tarcísio Burity, recomendado pelo General

Esta e outras particularidades das eleições guarabirenses encontram-se catalogadas in MELLO, José Octávio. Guarabira – Democracia, Urbanismo e Repressão 1945/1965. J. Pessoa: A União, 1997, passim. Em razão de seu declínio não apenas paraibano, mas nacional, o PL, às vésperas de 1964, estava se incorporando à UDN, da mesma forma que pela esquerda, o PSB caminhava para fusão com o PTB. 17 Entrevista com o historiador Humberto Mello, março de 2013. 18 Dois desses foram Cláudio Ribeiro, da Agricultura, e Otinaldo Lourenço, de Comunicação Social. As relações entre os ex e atual governadores Ernani Satyro e Ivan Bichara azedaram quando este pressionou pela substituição, na Superintendência Regional do INSS, do publicista José Urquiza, casado com sobrinha de Satyro e ernanista dos mais conceituados. Urquiza então publicou contra Bichara o livro Paraíba, As Horas em Ponto que, antes de circular, esteve apreendido pela Polícia Federal. 19 Décadas depois desses acontecimentos, entrevistei o dr. Ivan que, em sua residência, confirmou a versão que lhe ditou o comportamento. 15 16

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Reinaldo Almeida, filho de José Américo, como Governador, e o campinense Milton Cabral, como senador indireto20. Ocorre que, por essa época, o panorama político nacional encontrava-se em ebulição. Com suporte nos quartéis, políticos e intelectuais, o MDB lançara a chapa presidencial General Euler Bentes/Senador Paulo Brossard, que perdeu por pouco para a dupla arenista General João Figueiredo/ deputado Aureliano Chaves. Estendida aos Estados, a iniciativa emedebista jogou o povo na rua, e, principalmente, na Paraíba, onde Euler Bentes era bastante conhecido. Aproveitando-se disso, o deputado arenista Antônio Mariz, sentindo-se preterido, voou à Paraíba, como escreveu um cronista, “não para confraternização entre amigos, mas em clima de campanha”. O MDB e a sociedade civil apoiaram-no e o protesto ganhou as praças, sacudindo, virtualmente, o Estado. Mediante enérgicos pronunciamentos, Mariz contestou o chamado sistema e, por extensão, a legitimidade de seu representante estadual, Ivan Bichara. Consultado pelo ministro José Américo, no terraço da casa deste, o popular Mocidade não ocultou o que se passava: “a rua é de Mariz, doutor”21. Desvencilhando-se da candidatura Governamental Milton Cabral, a ARENA optou pela chapa Tarcísio Burity/Clóvis Bezerra, para governança e vice do Estado, ficando Milton como senador biônico e Bichara para o pleito direto. Eleitoralmente,

Com o Professor Cláudio Santa Cruz e Damásio Franca, que foi Prefeito de João Pessoa

era uma composição de restrita densidade, o que levou o colunista Carlos Castelo Branco, do Jornal do Brasil, a considerá-la parcela do “colapso do plano geral”22. A convenção estadual arenista refletiu as contradições do chamado sistema. Esgrimindo a fórmula Mariz governador – Waldir Lima vice e Ernani Satyro como senador indireto, a dissidência perdeu por apenas 124 votos a 152. A presidência da ARENA, que barrara Mariz, transformarase, agora, no vice desse. Na convenção, os deputados Luiz Bronzeado e Ernani Satyro trocaram violentas acusações, estendidas aos jornais. Sintomaticamente, a dissidência governista não apresentou candidato ao Senado, pelo voto direto.

Em trânsito para o MDB, o Agripinomarizismo anunciava aberta predileção pelo emedebista Humberto Lucena. Em pleno Palácio, o deputado Antônio Mariz e o novo governador Burity sustentaram azeda discussão23. Se é verdade que, com Burity e Clóvis, a ARENA preservara o Palácio da Redenção, e ainda a senatoria biônica, o pior bocado sobrara para o dr. Ivan Bichara. Embora realizado com a sagração de seu Secretário de Educação e Cultura, como poderia S. Excia. se impor em eleição direta, tendo pela frente o MDB fortalecido pela pregação de Euler e Brossard, o deputado Mariz, impulsionado pela campanha governamental, a máquina da ARENA, nas

Por ocasião dos fatos políticos de 1978, o deputado Antônio Mariz revelou-me, no terraço da residência da sogra, que protestava para evitar um novo Epitácio Pessoa na política paraibana que seria o general Reinaldo Almeida. 21 As expressões do texto, referentes à chegada de Mariz e pregação do tribuno popular João da Costa e Silva, o Mocidade, encontram-se em crônicas do jornalista Gonzaga Rodrigues que mantinha coluna assinada em O Norte. 22 BRANCO, Carlos Castelo. “Colapso do Plano Geral”, in Coluna do Castelo do Jornal do Brasil, maio de 1978. 23 Todos os jornais paraibanos – A União, O Norte e Correio da Paraíba, de João Pessoa, e Diário da Borborema, de Campina Grande, dedicaram largos espaços à sucessão governamental de 1978, por alguns comparada à Revolução de 30. As melhores análises, todavia, pertenceram ao semanário A Carta, graças à penetração do colunista político Nonato Guedes. 20

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mãos de Waldir Lima, e as duas principais lideranças políticas estaduais, no caso João Agripino e Ernani Satyro? 10. Insucesso senatorial e fim de carreira. Foi dentro desse quadro que, manifestamente isolado, o Governador Ivan Bichara renunciou ao Governo, lançandose ao Senado da República. Para complicar as coisas, seu sucessor Dorgival Terceiro Neto anunciou que iria proceder como magistrado, sem participar da campanha. Foi assim que, embora sem perda de dignidade e fair-play, Ivan Bichara, mesmo como mais votado no pleito, se viu derrotado por Humberto Lucena, na única vitória da oposição do Amazonas à Bahia. Do Espírito Santo, todavia, para baixo com acréscimo do centro-oeste, o MDB elegeu quase todos os senadores, o que levou o líder Tancredo Neves a considerar a ARENA “partido do Nordeste”. A parte mais rica e influente da Nação, com o simbólico acréscimo da Paraíba, ficara com a oposição ao regime militar. Com o MDB recorrendo ao artifício das sub-legendas, os resultados das eleições majoritárias da Paraíba, a 15 de novembro de 1978, foram os seguintes: Humberto Lucena (MDB1) 269.795 votos, eleito; Bosco Braga Barreto (MDB2), 50.032); Ary Ribeiro (MDB3), 48.784) e Ivan Bichara Sobreira (ARENA) 302.154 votos). A vitória de Humberto Lucena viu-

se impelida pelas áreas de adensamento popular de João Pessoa e Campina Grande onde o MDB suplantou a ARENA por 51.077 votos contra 22.140 e 33.565 a 19.833, e municípios onde a dissidência arenista, sufragando a oposição, revelavase mais consistente. Era o caso de Alagoa Grande, com João Bosco Carneiro, Patos de Ernani Satyro, Santa Rita com Marcos Odilon Ribeiro Coutinho, e Sousa, de Antônio Mariz. Nessas comunas, a maioria emedebista alcançou, respectivamente 4.346 votos versus 1.249, 10.963 x 6.005, 10.963 x 3.395 e 16.560 x 4.231. A circunstância de, individualmente, Ivan Bichara haver sido mais votado que Humberto Lucena ensejou o entendimento de que a ARENA somente foi derrotada por não haver recorrido à sublegenda. Trata-se de um sofisma. Isso porque os sufrágios de Bosco Braga Barreto e Ary Ribeiro pertenciam ao MDB ou à dissidência arenista. Teriam sido atribuídos a Humberto se não vigorasse o instituto da sublegenda24. As estatísticas do Tribunal Regional Eleitoral comprovam a ilação. Se bem que em Cajazeiras, escorado pelos candidatos a deputado estadual Edme Tavares, Antônio Quirino de Moura e Tarcísio Telino, a ARENA ivanzista triunfasse por 7.547 sufrágios a 6.750, com 5.732 pertencendo, realmente, a Bosco Barreto, na área satélite o cômputo bosquista de Antenor Navarro, Uiraúna, Triunfo, Bom Jesus, Monte Horebe, Cachoeira dos Índios e São José de Piranhas provinha, por inteiro, do MDB. Fenômeno idêntico verificou-se na

zona eleitoral de Sousa onde, buscando preservar identidade eleitoral, o deputado Antônio Mariz despejou maciça votação souzense em Bosco Barreto – 9.327 votos! - o mesmo acontecendo nas cidadelas adjacentes de Lastro, Nazarezinho, São José da Lagoa Tapada e Santa Cruz. Assim também procederam os Cunha Lima com o vereador Ary Ribeiro na área de influência. Buscando demonstrar a própria votação, aquele grupo político assegurou 24.090 votos, ao postulante da ARENA3 em Campina Grande e, ademais, larga sufragação em municípios do chamado compartimento da Borborema, como Alagoa Nova, Boqueirão, Lagoa Seca, Queimadas, Massaranduba e Cuité. Quer dizer, eram votos do MDB migrando para a sublegenda. 11. Dignidade de um derrotado. Nesses termos, no pleito senatorial de 1978, a supremacia do dr. Ivan Bichara limitou-se a municípios onde não foi abandonado pelo partido, como, além de Cajazeiras, Conceição, Antenor Navarro, Princesa Isabel, Esperança, Umbuzeiro/Aroeiras e Picuí25. Como reconhecido pelo próprio candidato, esse insucesso do ex-presidente da Assembleia e ex-governador significou o final de carreira política marcada por êxitos e reveses. Ressalte-se que, no conjunto, Ivan Bichara Sobreira protagonizou trajetória eleitoral das mais dignas e onde as frustrações foram devidas mais aos que o cercavam que a ele próprio... g

MELLO, José Octávio de Arruda. Da Resistência ao Poder – O (P)MDB NA Paraíba 1965/1999. Campina Grande: UEPB, 2010, p. 142/3. De Conceição a Picuí, os municípios do texto obedeceram ao comando do srs. Wilson Braga, Jacob Frantz, Aloísio Pereira/Nominando Diniz, Carlos Pessoa e Luiz Bronzeado, que permaneceram firmes com a candidatura Ivan Bichara. Não procedem, pois, as versões de que o deputado Wilson Braga acompanhou a dissidência. Em Conceição, Ivan sacou 3.844 votos, Humberto Lucena 1307, Bosco Barreto 469 e Ary Ribeiro 38, sendo, por conseguinte, o placard final de 3844 x 1864, pró ARENA.

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COLABORADORES A. J. Pereira da Silva (In Memoriam) – 9, 11 Abelardo Jurema Filho – 5, 11 Adalberto Targino - 25 Adylla Rocha Rabello – EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014 Afonso Arinos (In Memoriam) – 12 Afonso Arinos de Melo Franco – 30 Ailton Elisiário – 25, 29, 30 Alceu Amoroso Lima (In Memoriam) – 15 Alcides Carneiro (In Memoriam) - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Aldo Di Cillo Pagotto (D.) – 8 Aldo Lopes Dinucci – 9 Alessandra Torres – 9 Alexandre de Luna Freire – 1 Aline Passos - 21 Aluísio de Azevedo (In Memoriam) – 13 Aníbal Freire (In Memoriam) - 24 Álvaro Cardoso Gomes – 5 Américo Falcão (In Memoriam) – 9 Ana Isabel Sousa Leão Andrade – 15 André Agra Gomes de Lira – 1 Andrès Von Dessauer – 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 21, 22, 23, 24, 25,26, 27, 29, 30 Ângela Bezerra de Castro – 1, 11, 25, 29 Ângela Maria Rubel Fanini – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Anna Maria Lyra e César – 6 Anníbal Bonavides (In Memoriam) – 8 Anton Pavlovicht Tchekhov (In Memoriam) - 30 Antônio Mariano de Lima – 4 Antônio Parreiras (In Memoriam) - 28 Ariano Suassuna (In Memoriam) – 14 Assis Chateaubriand (In Memoriam) – 12 Astênio César Fernandes – EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014, 8 Augusto dos Anjos (In Memoriam) – EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014 Aurélio de Lyra Tavares (In Memoriam) – 13 Austregésilo de Atahyde (In Memoriam) – 23 Bartyra Soares - 29 Berilo Ramos Borba – 3 Boaz Vasconcelos Lopes – 7 Camila Frésca – 5 Carlos Alberto de Azevedo– 4, 6, 11 Carlos Alberto Jales – 2, 12, 14, 16, 23, 25 Carlos Lacerda (In Memoriam) – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Carlos Meira Trigueiro – 2, 5 Carlos Pessoa de Aquino – 5 Celso Furtado - 16 Coriolando de Medeiros (In Memoriam) – 27 Chico Pereira - 16 Chico Viana – 1, 2, 4, 6, – EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014, 10, 13, 14, 22, 24 Ciro José Tavares – 1, 23 Cláudia Luna - 28 Cláudio José Lopes Rodrigues – 5, 6, 27 Cláudio Pedrosa Nunes – 7 Cristiano Ramos – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Cristovam Buarque – 10 Damião Ramos Cavalcanti – 1, 11 Deusdedit de Vasconcelos Leitão - 24 Diego José Fernandes – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Diógenes da Cunha Lima – 6 Durval Ferreira – 7 Eça de Queiroz (In Memoriam) – 14 Eilzo Nogueira Matos – 1, 4, 7, 13 Eliane de Alcântara Teixeira - 6 Eliane Dutra Fernandes – 8, 14 Eliete de Queiroz Gurjão - 28 Elizabeth Marinheiro – 12 Emmanoel Rocha Carvalho – 12 Érico Dutra Sátiro Fernandes - 1, 9, 27 Erika Derquiane Cavalcante - 24 Ernani Sátyro (In Memoriam) –EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014, 7, EE/Epitácio Pessoa/ Maio/2015, 11, 15, 16, Esdras Gueiros (In Memoriam) - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Eudes Rocha - 3 Evaldo Gonçalves de Queiroz - EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014, 8, Evandro da Nóbrega- 2, 4, 6, EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, 11, 14, 15, 21, Everaldo Dantas da Nóbrega – 13 Everardo Luna (In Memoriam) - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Ezequiel Abásolo - 8 Fábio Franzini – 7 Fábio Túlio Filgueiras Nogueira - 30 Fabrício Santos da Costa – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Felizardo de Moura Jansen - 29 Fernando Gomes (D.) (In Memoriam) - 25 Firmino Ayres Leite (In Memoriam) - 4 Flamarion Tavares Leite – 8 Flávio Sátiro Fernandes – 1, 2, 4, 6, EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014, 7, 8, 9, 10, 11, 13, 14, 16, 21, 22, 23, 26, 28, Flávio Tavares – 3 Francisco de Assis Cunha Metri (Chicão de Bodocongó) - 2 Francisco Gil Messias – 2, 5, 14 Gerardo Rabello – 11 Gustavo Rabay Guerra – 27 Giovanna Meire Polarini – 7 Glória das Neves Dutra Escarião – 2 Gonzaga Rodrigues, Luiz – 6, EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014, 11, Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins – 4, 8 Hamilton Nogueira (In Memoriam) – EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Hélio Zenaide – EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014 Hildeberto Barbosa Filho – 11, EE José Lins do Rego/Novembro/2015, Humberto Fonseca de Lucena - 23 Humberto Melo – 16 Ida Maria Steinmuller – 24 Igor Halter Andrade - 30 Inês Virgínia Prado Soares - 23

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Iranilson Buriti de Oliveira – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Itapuan Botto Targino – 3 João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (In Memoriam) – 4 João Cabral de Melo Neto (In Memoriam) – 27, 29 João Lélis de Luna Freire - 30 Joaquim de Assis Ferreira (Con.) (In Memoriam) – 6 Joaquim do Amor Divino Caneca - 28 Joaquim Osterne Carneiro – 2, 4, 7, 9, EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, 11, 14, 25 Jonathan França Ribeiro - 30 José Américo de Almeida (In Memoriam) – 3, 10, EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, 15 José Honório Rodrigues (In Memoriam) - 28 José Jackson Carneiro de Carvalho – 1 José Leite Guerra – 6 José Lins do Rego (In Memoriam) – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 José Loureiro Lopes – 16, 21 José Mário da Silva Branco – 11, 13 José Nunes – 16, 25 José Octávio de Arruda Melo – 1, 3, 6, EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014, 9, 13, 15, 21, 24, 25, 28, 30 José Romero Araújo Cardoso – 2, 3, 10, 11 José Romildo de Sousa – 16 José Sarney – 15 Josemir Camilo de Melo – 11, 28 Josinaldo Gomes da Silva – 5, 10 Juarez Farias – 5 Juca Pontes – 7, 11, 27 Krishnamurti Goes dos Anjos - 29 Ivan Linas – 27 Linaldo Guedes – EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014 Lourdinha Luna – EE/Pedro Moreno Gondim/2014, 7, 13, 15, 29 Lucas Santos Jatobá – 14 Luiz Augusto da Franca Crispim (In Memoriam) – 13 Luiz Fernandes da Silva- 6 Machado de Assis (In Memoriam) – 9 Manoel Batista de Medeiros – EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014 Manuel José de Lima (Caixa Dágua) (In Memoriam) – 13 Marcelo Conrado - 30 Marcelo Deda (In Memoriam) – 4 Márcia de Albuquerque Alves - 23 Marcílio Toscano Franca Filho - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, 23 Marcos Cavalcanti de Albuquerque – 1 Marcus Vilaça - 25 Margarida Cantarelli - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Maria das Neves Alcântara de Pontes – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Maria do Socorro Silva de Aragão – 3, 10, 15 Maria José Teixeira Lopes Gomes – 5, 8 Maria Olívia Garcia R. Arruda – EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014 Mariane Bigio - 28 Marinalva Freire da Silva – 3, 9 Mário Glauco Di Lascio – 2 Mário Tourinho – 13 Martha Mª Falcão de Carvalho e M. Santana - 22 Martinho Moreira Franco – 11 Matheus de Medeiros Lacerda - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Mercedes Cavalcanti (Pepita) – 4 Milton Marques Júnior – 4 Moema de Mello e Silva Soares – 3 Neide Medeiros Santos – 3, 6, EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, EE/José Lins do Rego/ Novembro/2015, 15, 23, 27 Nelson Coelho – EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014 Neno Rabello – 11 Neroaldo Pontes de Azevedo – 2 Octacílio Nóbrega de Queiroz (In Memoriam) - 6, 15 Octávio de Sá Leitão (Sênior) (In Memoriam) - 23 Octávio de Sá Leitão Filho (In Memoriam) – 16 Osvaldo Meira Trigueiro – 2, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 25, 27, 30 Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Melo (In Memoriam) – EE/Epitácio da Silva Pessoa/ Maio/2015 Otaviana Maroja Jalles - 14 Otávio Sitônio Pinto – 7 Patrícia Sobral de Sousa - 21 Paulo Bonavides – 1, 4, 5, 9, 10, EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015, 12, 14, 15, 16, 22,23, 25, 27 Pedro Moreno Gondim (In Memoriam) – EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014 Peregrino Júnior (In Memoriam) - 22 Raimundo Nonato Batista (In Memoriam) – 3 Raúl Gustavo Ferreyra – 5 Raul de Goes (In Memoriam) - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Raul Machado (In Memoriam) – 4 Regina Célia Gonçalves – 22 Regina Lyra - 24 Renato César Carneiro – 3,6, EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014,7,9 Ricardo Rabinovich Berkmann – 5 Roberto Rabello – 11 Ronal de Queiroz Fernandes (In Memoriam) - 21 Rostand Medeiros – 12 Ruy de Vasconcelos Leitão – 16 Samuel Duarte (In Memoriam) – 21 Sérgio de Castro Pinto – 22 Serioja R. C. Mariano – 28 Severino Alves de Sousa - 28 Severino Ramalho Leite – 4, EE/Pedro Moreno Gondim/Maio/2014, 13, 15, 16, 29 Socorro de Fátima Patrício Vilar – 10 Thanya Maria Pires Brandão – 4 Tiago Eloy Zaidan – 11, 13, 21, 23, 29 Vamireh Chacon - 28 Vanessa Lopes Ribeiro – EE/José Lins do Rego/Novembro/2015 Verucci Domingos de Almeida – 5, EE/Augusto dos Anjos/Novembro/2014 Vicente de Carvalho – 16 Violeta Formiga (In Memoriam) - 21 Virgínius da Gama e Melo (In Memoriam) - EE/Epitácio Pessoa/Maio/2015 Waldir dos Santos Lima – EE/Pedro Moreno Gondim/Novembro/2014 Walter Galvão – 3, 9, 15 Wills Leal – 2, 7


CONTRA-CAPA (corel x8)

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