Matéria sobre fila de espera para cirurgias bariátricas

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - QUINTA-FEIRA, 14 DE JUNHO DE 2018

Cidade

| 3 Preservação

Solidariedade

ECOSSISTEMA. Os aspectos que envolvem a proteção das

CAMISAS. O Hospital OTOclínica realiza campanha para

Dunas do Cocó e da Sabiaguaba foram discutidos em audiência pública, ontem, na Câmara Municipal

colaboradores e médicos com o objetivo de arrecadar alimentos em troca de camisas da Copa 2018

REDUÇÃO DE ESTÔMAGO

Mais de 700 pessoas aguardam Procedimento é o ultimo de na fila para cirurgia bariátrica estágio tratamento Hospitais públicos disseram que o tempo médio de espera para um paciente é de cerca de 8 meses Mais de 700 pessoas estão na fila de espera para realizar a cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 244 aptas (sem contar as que estão na fase préoperatória) no Hospital Geral Dr. Cesar Cals (HGCC) e 453 no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). A intervenção, que consiste na redução do estômago do paciente é uma questão de saúde pública e, por ela, diversas pessoas no Estado têm esperado há meses. A Unidade de Cirurgia Bariátrica do Cesar Cals, referência no procedimento desde que foi criada em 24 de janeiro de 2001, esteve sem realizar a redução de outubro de 2017 a maio deste ano, de acordo com denúncias de fontes que não quiseram se identificar. O Hospital negou a informação, e assegurou que estão sendo realizadas, atualmente, duas cirurgias por semana e que já realizou 855 procedimentos desde 2001. A Instituição destacou ainda que o tempo médio de espera para um paciente é justamente de 8 meses, visto que o acompanhamentoéfeitopormuitosprofissionais.Quemprecisadacirurgia deve passar por consultas com endocrinologista, psicólogoenutricionista,alémde terem sido submetidos a uma série de exames necessários na chamada “fase de avaliação”. AtécnicadeEnfermagemSandra Marta, 44, no entanto, espera há oito anos pela cirurgia. Alagoana, ela veio para Fortaleza especificamente pela referência que o HGCC começava a ser. Todososseusexamesdopré-operatório já se venceram. Agora comemora a pequena vitória de ter conseguido remarcar a primeira consultanovamentecomumendocrinologista. Porém, para outubro. Sandra relata que a própria equipe do Hospital Cesar Cals se impressiona com seu caso. “Não sabemos mais nem onde esses médicos de quatro anos atrás estão trabalhando”, dizem alguns deles. Entre requerimentos, laudos e ordens judiciais, a paciente se sente cansada, frustrada e angustiada com a demora.

Esperança “Minha situação é muito deprimente. Eu não durmo à noite, porque eu não sei se eu vou acordar. Os maiores óbitos por obesidade ocorrem justamente na hora do sono. Eu, que sou profissionalda saúde, agora dependo dos meus colegas, quase sem esperança. Eu nunca imaginei passar por isso”, desabafa. A técnica passou a receber um benefício do INSS por ter tido umproblema no joelho, por conta da obesidade. O benefício já foi bloqueado, porque nem mesmo o INSS acredita mais que a

Pacientes que esperam na fila por uma cirurgia bariátrica protestaram e esperam mais agilidade dos hospitais públicos FOTOS: THIAGO GADELHA

da Saúde Pública. A advogada de defesa de Sandra Marta Oliveira revela que o próximo passo da luta é solicitar uma aposentadoria por invalidez à cliente: “Ainda não fiz isso porque ela mesma não quis. Ela não quer depender do Estado, ela quer trabalhar”. Dona Sandra segue sempre dando segundaschancesdeavidaasurpreender com uma boa notícia. “Eu quero ser operada e ter minha saúde de volta. Eu tenho medo de morrer, eu não quero morrer!”, completa.

A técnica em enfermagem Sandra Marta, 44, no entanto, espera há oito anos pela cirurgia. Alagoana, ela veio para Fortaleza e entre requerimentos, laudos e ordens judiciais, a paciente se sente cansada, frustrada e angustiada com a demora

ESPERA

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pacientes na fase de pré-operatório e 80 na fila qualificada aguardam realização da cirurgia no Hospital Universitário Walter Cantídio

espera dure quatro anos. Sandra toma 13 remédios por dia e só se locomove com ajuda. “Sinto que sou porta-voz de quem sofre como eu, porque muitosnãoquerem aparecerpor medo ou vergonha. Mas sinto também que um presidiário tem mais direito que eu. O que eu espero, na verdade, é um trans-

plante, porque é um vida nova que eu vou receber. Mas até lá todo dia é uma derrota diferente. Eu tento me sentir vitoriosa mas não consigo”, lamenta. Assim como ela, o cozinheiro Enes Melito de Campos, 52, foi à promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública do Ceará, mas representando coletivamente quem partilha do mesmo drama. Ele está na fila há mais de 2 anos. Segundo ele, os próprios funcionários do Hospital relatam a falta de material cirúrgico no equipamento. Luvas, curativos,tocase máscaras. Tudoestaria faltando. Enes é de Russas, a 165 km da Capital cearense, e já esperou pela cirurgia também no Walter Cantídio. “Várias vezes eu saí de casa às 2h para conseguir um exame. Somente para que meu município marcasse minha visita ao cirurgião bariátrico, foi 1

ano e 11 meses de espera. É um descasocomasaúdepública,falta de cuidado com o povo”, enumera o cozinheiro. Ao todo, quase 20 profissionais fazem parte da equipe da Linha de Cuidado da Obesidade no HUWC, que pensa e organiza de forma lógica, eficiente e eficaz a distribuição de serviços ofertados. De quatro a seis cirurgias são realizadas no órgão a cada mês. “A oferta do Estado é muito pequena. É preciso suprir essa demanda. Para o próximo dia 27 de junho, convocamos o secretário de saúde a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que ele se compromete, sob pena de uma multa diária, a regularizar o abastecimento de material durante um ano”, explica a promotora que atendeu o procedimento de Enes, na Promotoria de Justiça de Defesa

Estruturação Segundo o Hospital Walter Cantídio, com a estruturação da Linha de Cuidado da Obesidade no HUWC, foi possível quase triplicar o número de cirurgias bariátricas realizadas no hospital, passando de 21 procedimentos em 2015 para 57 em 2017. O HUWCT destaca ainda que hoje, o Programa de Cirurgia Bariátrica, que faz parte da Linha de Cuidado da Obesidade, tem 373pacientesnafasedepré-operatório e 80 na fila qualificada, que são aqueles aptos a realizar a cirurgia depois de cumprir os requisitos da fase pré-operatória. Nessa fase, os pacientes devem ter feitos consultas com endocrinologista (nº de consultas depende de cada paciente), psicólogo (4 consultas) e nutricionista (3 consultas), além de terem sido submetidos a uma série de exames necessários nessa fase de avaliação. O Hospital disse ainda que segue as diretrizes da Resolução 1942/2010 do Conselho Federal de Medicina, do Ministério daSaúdeedaSociedadeBrasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólicaparaoestabelecimentode critérios de definição de pacientes aptos à cirurgia. (Colaborou João Duarte)

A intervenção cirúrgica é o último estágio no processo de tratamento da obesidade. O procedimento é realizado gratuitamente pelo SUS. Primeiramente, ao sentir que a consulta a um médico é necessária, o paciente deve buscar um nutricionista, onde ele vai entender qual o seu grau de obesidade. ASociedadeAmericanadeCirurgia Bariátrica e a Federação Internacional de Cirurgia da Obesidadeclassificamaobesidade em seis níveis: obesidade pequena(27a30Kg/m2),obesidade moderada (30 a 35 Kg/m2), obesidade grave (35 a 40 Kg/m2), obesidade mórbida (40 a 50 Kg/m2), superobesidade(50a60Kg/m2)esuper-superobesidade (maior de 60 Kg/m2). A partir da obesidade mórbida, o nutricionista indicará uma dieta. Se até o retorno, o paciente não conseguir perder peso, o nutricionista o enviará para um endocrinologista. Então uma dieta mais específica é passada, a base, por vezes, de inibidores deapetiteque, inclusive,nãosão indicados pois causam dependência química. Se mesmo com

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo esta segunda dieta o paciente não diminuir o excesso de peso, o profissional indicará a cirurgia bariátrica. Uma série de exames é exigida e o paciente deve perder, no mínimo, 10% do seu pesoinicial.Frequentementeéusado o método da aplicação do balão, um dispositivo de silicone a ser colocado no estômago cheio de líquido fisiológico ou ar por endoscopia. Após a retirada do balão, o paciente tem até 30 dias para que o estômago volte ao normal e possa realizar a cirurgia. Se o período dos exames vencer, tudo deverá ser feito novamente para confirmar que não houve alteração metabólica. Na rede particular, a cirurgia pode ser realizada em até um mêsapósosexamesseremconferidos. Dependendo do hospital e da equipe, pode custar de R$15 a R$ 42 mil.

Mundo A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemasde saúdepública no mundo. A projeção éque, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700milhões, obesos. NoBrasil,a obesidade cresce cada vez mais. Alguns levantamentos apontam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade. (Colaborou João Duarte).

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