Saúde Mental

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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO E DOMINGO, 11 E 12 DE MARÇO DE 2017

Bem-estar CORPORE SANO Giovanna Sampaio vida@diariodonordeste.com.br

Consensoempauta Nos últimos anos, foram grandes as descobertas no conhecimento sobre o câncer de próstata avançado. Agora, para orientar os médicos quanto aos progressos na área, a Sociedade Brasileira de Urologia e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica reuniram 18 experts (urologistas, oncologistas clínicos e de medicina

nuclear) para produzir o I Consenso Brasileiro de Câncer de Próstata Avançado. Desde 2010, seis drogas já beneficiaram (qualidade de vida e sobrevida) dos pacientes na fase mais avançada (de resistência à castração, quando se suprime a produção de testosterona e o câncer ainda evolui). O segundo consenso já está em andamento.

O MOVIMENTO “Dia da Salada – Apoie esse dia” estabeleceu o 2 de março como data a ser comemorada. A iniciativa de três cearenses levou em conta dados do Ministério da Saúde (2014), que revelam que o nosso cardápio ainda tem muita carne gordurosa e pouca salada; e de que apenas um em cada quatro brasileiros consome a porção ideal de frutas e verduras. Para assinar a petição virtual de apoio à data no calendário acesse o site: www.diadasalada.com.br.

G Não A Sim I I Higienistas

Desabafo

“Água, biodiversidade e segurança alimentar: desafios para uma alimentação saudável” é o tema do 14º Congresso Brasileiro e do 23º Congresso Latino-Americano de Higienistas de Alimentos, que acontecem de 25 a 28 de abril, em Fortaleza. O Encontro do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal acontecerá no período.

“Ao entrar no século XXI, a psiquiatria sofreu um ataque violento de marketing, visando a venda de psicofármacos. Com o alargamento do diagnóstico e a prescrição indiscriminada, digo que os psicotrópicos são mais vendidos do que pomadas para assadura infantil”, afirma o psiquiatra forense Guido Palomba, diretor da APM.

Do coração

Biodança

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) recomenda a imunização contra a influenza (causada pelo vírus da gripe) como a prevenção mais eficaz para os pacientes com doenças cardiovasculares crônicas (insuficiência cardíaca, doença coronariana e hipertensão arterial).

A Universidade Biocêntrica e o Centro de Desenvolvimento Humano (CDH) realizam, de 18 a 21 de abril, o 2º Congresso Latino-Americano de Educação Biocêntrica Educar para a Vida, o Amor e a Democracia. Informações: edubiocongressofortal@gm ail.com.

Especialidadesmédicas O 1º Congresso Médico Unimed Fortaleza acontece de 1 a 3 de junho e terá como temática “Inovação, Integralidade, Conhecimento Técnico e Científico”. O evento traz um formato inédito, no qual convida 48 especialidades médicas a

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aprofundarem seus conhecimentos técnicos e científicos. Também acontecerão ações para a população, a exemplo de “10 minutos que valem uma vida”. As inscrições devem ser feitas no site: www.unimedfortaleza.co m.br/congresso.

Quemjápassou poressavida enão viveu, podeser mais,mas sabemenos do que eu...”-VINICIUSDEMORAES

Poeta,escritor

Vida

BOAS ENERGIAS

Mais ‘ser’ e menos doenças psíquicas Há duas décadas, um grupo de profissionais assiste à comunidade nos cuidados com a saúde psíquica stigmatização, preconceito, rejeição e até exclusão social estiveram relacionados a pessoas com transtornos mentais durante muito tempo. Com as mudanças nas últimas décadas, sobretudo no tratamento desses males, admitir um distúrbio tem se tornado atitude menos complicada. Essa aceitação, ainda que insuficiente pode, no entanto, explicar o aumento no número de diagnósticos. Problemas como a depressão, a ansiedade e o estresse afastaram, no Brasil, quase 200 mil pessoas do trabalho em 2016. A depressão será, em 2020, o fator mais incapacitante, segundo a Organização Mundial de Saúde. O Plano de Ação para a Saúde Mental da OMS revela que essas patologias afetam 700 milhões de pessoas no mundo. Dados referentes a 2015 mostram que 11 milhões de brasileiros sofrem com depressão, o que faz do País o segundo maior em prevalência da doença na América-Latina.

E

ExemplodoBomJardim Felizmente, há iniciativas que ajudam a minimizar o impacto desses males na saúde mental da população. Uma delas tem à frente o padre Rino Bonvini, psiquiatra e missionário comboniano (instituto religioso da Igreja Católica Romana, dedicado à evangelização dos povos), que chegou a Fortaleza em 1996 e colocou em prática uma terapia na qual as pessoas foram acolhidas e partilharam suas dificuldades. Foi quando teve início o Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, ação que conta com projetos que pertencem à Associação Brasileira de Terapia Comunitária e que recebem verbas da União Europeia. Para Rino, “não se trata só de tomar o remédio, de se internar. A socialização das terapias alternativas reduziu o preconceito”. A sétima arte faz referência a esse momento no filme “Nise - O coração da loucura”, que conta como a psiquiatra Nise da Silveira introduziu a terapia baseada na arte para o tratamento da esquizofrenia. Vulnerabilidadesocial Outros elementos contribuem para o que se chama de naturalização dos transtornos mentais. Um deles é a falta de infraestrutura adequada nos centros urbanos, que acarreta em precariedade nos serviços básicos de saúde. “Há 50 anos, Fortaleza tinha 250 mil habitantes; hoje, são 2,5 milhões. Antes, 70% da população morava no campo. Hoje, é o contrário”, enfatiza Rino. “Isso levou a uma vulnerabilidade social, gerando patologias (ansiedade, pânico e depressão). As pessoas convivem com agressões, assaltos, tiroteios, balas perdidas, queima de arquivo na porta de casa, injustiça com os envolvidos no mundo das drogas. Esse povo vive em constante perigo e estresse pós-traumático”, diz. RealXemocional Entre os fatores está a forte influência da internet. Segundo o religioso e psiquiatra, há

O Movimento de Saúde Mental Comunitária, presidido pelo padre e psiquiatra Rino Bonvini, usa a abordagem que integra todas as dimensões da pessoa e estimula todos os elementos de sua personalidade para recuperar a saúde FOTO: CID BARBOSA

FIQUE POR DENTRO

A abordagem é integral - social e mental Os projetos da ONG visam combater osproblemas sofridos(ecompartilhados) pelos moradores do Bom Jardim. O “Sim à Vida”, por exemplo, é voltado para a prevenção de drogas (cofinanciado pela União Europeia desde 2015). Reúne crianças e adolescentes (7 a 14 anos) e familiares com momentos de autoconhecimento e autoestima. Hoje, são atendidas, 1.350pessoas,450 delascrianças. “Em cada espaço são recebidas 60 crianças (cinco dias da semana). Além do acolhimento, os familiares identificados com um problema social ou de saúde mental são encaminhados aos serviços (social e de saúde) na Regional V de Fortaleza e Maracanaú”, diz o jornalista e advocacy do“Sim àVida”, Elizeu deSousa. Osprojetosdeformaçãoprofissionalizante surgiram em 1996. As principais formações são a Abordagem SistêmicaComunitáriaeaTerapiaComunitáriaIntegrativa,alémdeMassoterapiaeCuidando do Cuidador. Instituídas em todo o Brasil (nos princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira), a ONG cuida também de uma Residência Terapêutica. O lar, de dez moradores e 24 cuidadores, surgiucom ointuitode desinstitucionalizar a predominância dos hospitais psiquiátricos. A ONG responde pelo CAPSgeraldo BomJardim. EmFortaleza, são 14 equipamentos: seis gerais, seis AD (atenção às pessoas com problemas no uso de álcool, crack e outrasdrogas)edoisinfantis.Nobairro, os atendimentos mensais podem chegara3.500.

uma informatização das relações, separando o real do emocional. “O que confirma nossos sentimentos é a comunicação verbal atrelada à não verbal. É preciso harmonia, sintonia. Hoje, elas não se correspondem e há uma dupla comunicação, dominada pelas disputas de poder”. Diz que a internet é nociva “quando você está lendo algo e ‘blim’, vem o whatsApp, o facebook. Isso reduz a energia de atenção ao aqui e agora; não se escolhe o que absorver, e sim é escolhido”. O mundo virtual induz ao comportamento autodestrutivo. “É frequente os jovens começarem a se agredir, se machucar. Entram em redes sociais e lá, até mesmo o suicídio vira algo glorioso. Há tragédias induzidas por perfis ‘fakes’, que não têm a identidade reconhecida”, frisa. Para o psiquiatra, carregarse de energias positivas é um hábito em desuso. “É preciso ter uma energia que leve a pessoa a viver uma vida mais leve, não como a que se dá em nome da realização que o capitalismo oferece, de comprar mais. É aí que o ser some”.

‘Psiquiatrização’ A facilidade de se encontrar informações sobre determinados sintomas pode levar ao autodiagnóstico. Ter angústia ou tristeza, em algum momento da vida, não significa que se sofra de depressão. “A pessoa fica sabendo de algo no ‘Dr. Google’, na internet, na vizinha, então vai e se medica”, esclarece padre Rino. Uma consequência possível é a automedicação. Segundo Bonvini, as pessoas já chegam ao consultório com o tratamen-

EDITORA VERDES MARES LTDA. - PRAÇA DA IMPRENSA CHANCELER EDSON QUEIROZ- DIONÍSIO TORRES - CEP - 60135.690 - FORTALEZA - CEARÁ - TELEFONE: (85) 3266-9783 - EMAIL: VIDA@DIARIODONORDESTE.COM.BR EDITORA DE ÁREA: GERMANA CABRAL - EDITORA: GIOVANNA SAMPAIO - ESTAGIÁRIO: JOÃO DUARTE - DIAGRAMAÇÃO: GRACE SAMPAIO - CAPA: LINCOLN SOUZA

to em mente, geralmente à base de ansiolíticos, remédios perigosos que podem levar o paciente a um quadro de dependência química. Esse fenômeno é conhecido como “psiquiatrização da saúde mental” (ampliação do âmbito de ação da psiquiatria em um determinado meio). “É quando a pessoa tem o distúrbio a nível existencial, que se pode curar com terapias naturais, descanso, desabafo entre amigos. Mas não, ela recorre logo ao remédio”, explica Rino Bonvini, presidente do Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (www. msmcbj.org.br). Fatores clínicos são igualmente importantes, uma vez que erros na formação e avaliação médica, por exemplo, podem influir na qualidade do tratamento. “Profissionais da saúde estão acomodados a uma abordagem biomédica, baseada no imediatismo do diagnóstico”, diz o psiquiatra’.

Socialeespiritual Assim com em outras iniciativas pelo Brasil afora, essa visão que pensa no social e no espiritual, felizmente tem resistido. Nela, Bonvini desenvolve uma abordagem que é sistêmica e comunitária, entendendo que onde há uma pessoa doente, há também uma família e uma comunidade que sofrem com os efeitos. O maior desafio é, além de eliminar os sintomas, trabalhar para extirpá-los pela raiz. Para chegar à cura, outro aspecto vital. “Se crer que o médico vai curá-la, que aquele remédio é o certo, o efeito será muito melhor. A relação emocional é, então, necessária no tratamento”, relata Rino.


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