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O Autor Dilan Deibal D’orneles Camargo
Nasceu em 31 de dezembro de 1948 na cidade de Itaqui – RS, filho de Carlos Brandes Camargo e D’orneles Camargo. Iniciou seus estudos em Uruguaiana – RS completou na cidade de Santa Maria – RS diplomando-se em direito pela universidade desta cidade. Defendeu tese de mestrado em antropologia, ciências politica e social no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Porto Alegre – RS. Pertence a Casa do Poeta Riograndense, Ao Grêmio Literário Castro Alves e foi presidente da Associação Gaúcha de Escritores (AGE). Livros publicados: Poesia Em mãos- antologia de poesia- Ed.Lume. PoA/RS-1976 Na mesma Voz- Editora Palmares. Santa Maria/RS-1981 Sopro nos Poros – Editora Tchê. PoA/RS- 1985 Rebanho de Pedras - Pref. Municipal PoA/RS-1990 – Coleção Petit Poa Eu pessoa, pessoa euAntologia I e II. Organizador. Edição do Instituto Fernando Pessoa. Poa/RS1996/1997 Poesia e Cidade- Antologia. Organizador. Edição da Associação Gaúcha de Escritores & Prefeitura Municipal de PoA/RS-1997 O tempo começa no coração- Antologia. Organizador. Editora Uniprom & Instituto Fernando Pessoa. PoA/RS-1999 A Fala de Adão- 1ª edição Editora Mercado Aberto.PoA,/RS-2000 Antologia do Sul - Poetas Contemporâneos do RS - Organizador- Edição Assembleia Legislativa do Estado. PoA/RS 2001. Até hoje, a mais completa antologia publicada no RGS, com 91 poetas. 2ª edição. Paz – um vôo possível – Antologia. Editora AGE e Instituto Fernando Pessoa. 2004. Organizador, junto com Izabel Bellini Zielinsky, Armindo Trevisan e Jaime Vaz Brasil. Coletânea da Poesia Gaúcha do RS – Edição Assembleia Legislativa - PoA/2005.
Fonte: http://www.dilancamargo.com/
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A OITAVA PRAGA
Cenário Interior de uma casa de colonos pobres, pequena mesa de madeira com bancos ao redor, fogão a lenha com panelas e chaleiras, guardanapo bordado preso a parede atrás do fogão com dizeres “Lar Doce Lar”. Numa parede lateral o quadro da Última Ceia. Copos de lata pendurados em pregos. Roupas estendidas no fogão. Pás, enxadas, um machado, um facão encostado num canto. Um barril pipa e cordas jogadas no chão. Sacos de Estopas e de adubo empilhados.
Personagens:
Izidra: 60 anos de idade
Albino: 65 Anos de Idade
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CENA I
(Izidra vai fazer uma polenta, põe água para esquentar, prepara os demais utensílios Albino sentado na soleira da porta, tem um cigarro de palha, apagado, atrás da orelha.)
IZIDRA – Vai ficá sem gosto. Essa farinha não presta. Antes comia polenta boa. A farinha boa. A gente fazia aqui em casa mesmo. Domingo a tarte até a gurizada batia milho no pilão. (Pausa) IZIDRA – Porque tá quieto ai homem? ALBINO (Absolto) – Olhando as planta. IZIDRA – Mas parece um bicho triste. ALBINO – Tô regando as plantinha IZIDRA – Tá ficando caduco? ALBINO – Elas crescem só da gente olhá IZIDRA – Tem mais é que cuidá das lagarta ALBINO – Não Adianta IZIDRA – Não pego mais sapo pra larga no meio da plantação? ALBINO – Os sapo engordam e não dão conta dos bicho. IZIDRA – Mas como vai ser se elas começarem a traçá tudo? ALBINO – Também não exagera, não estamos no meio das praga do Egito. IZIDRA – Se houvesse mais religião, até as plantas se salvavam. (Põe a farinha na água e fica mexendo com uma colher de pau) ALINO – Uma Carga de Inseticida também ajudava. IZIDRA – Tu sabe que isso é perigoso e fedorento. Estraga as planta e as saúde das pessoa. ALBINO – Não tem outro jeito. 4
IZIDRA – Deixa de ser desanimado homem! (Arruma os pratos e canecos na mesa) ALBINO (Virando-se pra ela) – O que vamos comê hoje? IZIDRA – Polenta e café preto. ALBINO – Mas já não comemos isso ontem? IZIDRA – Vem pra mesa Albino. (Albino Vai) (Albino sentado, Izidra trás a polenta. Serve o café numa caneca alouçada. Os dois fazem o sinal da cruz e rezam “Pai Nosso”, antes de comer. Comem.) ALBINO – Véia tem visto as plantinha? IZIDRA – Tenho que vê, não é? Esse ano tu lavrô até na beirada da casa. ALBINO – Não se pode perde um palmo de terra sem plantá. IZIDRA – Não sei porquê! ALBINO – Claro que não sabe! IZIDRA – Acho que a gente tinha que reservá terra pra outras planta. ALBINO – Pra perde dinheiro? IZIDRA – Nem que fosse pra comê aqui em casa. ALBINO – Não sabe que o governo dá os incentivo pra soja? IZIDRA – Não sei porque essa mania de só plantá soja? ALBINO – Tem melhor preço. IZIDRA – O que adianta? O dinheiro não vale nada. Melhor quando a gente tinha tudo em casa. ALBINO – E pra quê o armazém? E o supermercado quando nós vamos a Santa Maria? Lá não tem de tudo? IZIDRA – Sabe os preço das coisa? Garanto que a gente sai perdendo. É só coloca as conta na ponta do lápis. ALBINO – Então tá todo mundo errado! Todo mundo planta soja, compram as comida no armazém, no supermercado, e tão perdendo dinheiro? Então o governo ia permiti uma coisa dessas com o agricultor? Então eu não ouvi 5
os técnico do governo lá no sindicato? Eles tão mentindo pra gente? Eles dizem “Plante que o governo garante. E eu não vou acreditar? Quem é que pode nos garanti? Se a gente não tem garantia do governo, vai ter de quem? IZIDRA – Se tu fica nervoso é que não tem tanta certeza. ALBINO – Quem disse que eu to nervoso? Tô explicando. Será que isso não entra nessa tua cabeça dura? IZIDRA – Não tá nervoso, é? Porque tá gritando então? ALBINO (Gritando) – Não tô gritando!!!! Tô falando alto!!! IZIDRA – Cramento! Que homem beiçudo seu! (Albino levanta-se e volta para soleira. Acende o Cigarro de Palha puxa algumas tragadas fortes. Izidra arruma a mesa e guarda os pratos. Na continuidade do dialogo passará a varrer o chão.) IZIDRA – Sabe no que fico pensando? ALBINO – Não IZIDRA – Penso no tempo bom. Nos tempos mais antigo ALBINO – A gente precisa é olhá pra frente. IZIDRA – A gente plantava tudo que precisava. A criação toda. A gente tinha galeinha, o leite da Mocinha, tinha porco, marreco, ganso, cabrito, peru, angolista, as carpa no açude... ALBINO – É. Tempo bom esse... IZIDRA – E as fruta...Tinha parreira com aquela sombra, as gabiroba, os maracujá, pitanga, caqui, butiá... ALBINO – E as espiga de milho, as vargem de feijão. IZIDRA – Tanta fartura! E agora essa vida incerta ALBINO – Que isso mulher? Parece que tamos na miséria! A gente não é rico, mas não passa fome, nem necessidade. IZIDRA – Ta bem que a gente não passa fome, mas que sente vontade de comê isso sente. ALBINO – Assim é tu que me deixa nervoso. Então a gente não tá bem? Não vamos melhorá com essa safra?! IZIDRA – Queira Deus!!! 6
ALBINO – É só não fazê seca. IZIDRA – E as contas no banco? Já pagamos tudo? ALBINO – Ainda não , mas os banco espera. Se não dá esse ano, dá no outro. IZIDRA – É garantido isso? E se os homens mudarem de vereda? Como é que a gente fica? ALBINO – Vira essa boca pra lá! Então as autoridade são de fazê essas coisa? São homem de responsabilidade, de palavra. IZIDRA – Mas se a gente perde as ferramenta e a terrinha? ALBINO – Tamos garantido Mulher. Os homem protegem quem produz. É o futuro do Brasil, eles dizem. IZIDRA – Não sei não Albino. Ando tão sem fé. Deus que me perdoe. Parece que o diabo anda solto. Não se pode acredita mais em ninguém. Todo mundo anda meio desesperado. Uns querem enganá os outros. Não dá pra se fiá mais nos amigo. Que é isso meu Deus!!! ALBINO – Tu precisa confiá mais Izidra. Então se tirão a terrinha da gente, quem é que vai plantá pra alimentá esse mundaréu de boca de gente da cidade. IZIDRA – Mas quem disse que eles precisam de nós? ALBINO – Precisam sim, sem nós eles não come. IZIDRA – Eles não come soja, Albino. Eles não precisam de nós. ALBINO – Mas porque o governo ia manda plantá soja, assim, por toda parte? Pra quê? IZIDRA – Tu sabe? ALBINO – Sei é pra exportá. Vendem tudo pra Europa e para os americanos, Até pra Itália de onde vieram nossos parente. IZILDRA – Então! Aqui não comem soja! ALBINO – Para de fazê confusão mulher! Como é que eu vou saber de tudo? IZIDRA – Desculpa meu velho. Ando Nervosa. Olho pra esse céu azul, azul, nenhuma nuvem. E se não chovê? ALBINO – Se não chovê, perdemo a safra. 7
IZIDRA – E o que será de nós? ALBINO – Mas vai chovê!!! IZIDRA – Tá bom, mas se não chovê??? ALBINO – Já disse que vai chovê. IZIDRA – Como é que tu sabe??? ALBINO – Olhando pras nuvem, pra lua, cheirando o ar, a gente pressente quando vai chovê. IZIDRA – E é garantido isso? ALBINO – Aprendi com meu pai. Ele aprendeu com meu avô. Se tu prestasse atenção também sabia vê o tempo. Mas com essa cabeça avoada... IZIDRA – Tu já aproveita pra chama de burra, não é? Sei muita coisa que tu não sabe. (Albino, Puxando pelo braço e forçando Izidra a olhar pela janela) ALBINO – Olha praquelas nuvem. Me diz se o tempo tá ou não pra chuva? IZIDRA – Qualquer um sabe que não. ALBINO – Tu sabe que o tempo pode virá? Teu nariz não sente uma aragenzinha? Não sente que o ar tá molhado? IZIDRA – Teu nariz deve ser melhor que o meu. ALBINO – Hoje de noite tu olha bem pra lua. IZIDRA – Isso eu também sei. ALBINO – Se tivé uma roda assim, meio enfumaçada, a gente já sabe que vai chovê. IZIDRA – Eu tô cansada de sabê. Eu quero sabê se tu tá sentindo isso agora. Se o ar tá molhado como tu diz. Você viu essa roda em volta da lua ontem a noite? Eu olhei e não vi. Todas as noites olho e não vejo nada. Também não estou sentindo nenhuma aragenzinha de chuva por mais que eu faça força pra cheirá o ar (Aspira profundamente) não sinto nada disso. ALBINO – É isso que tu qué mesmo. Que não chova, não é? Que a seca mate tudo de uma vez. Daí tu vai tê desculpa pra começar essa ladainha de 8
ir embora, procurá os filho, morá com eles. É isso que tu qué? Diz, não precisa ficá fazendo rodeio. IZIDRA – Eu quero é um pouco de paz, Albino! Não sei se aguento mais. Tem uma coisa me sufocondo aqui dentro. A gente dá murro a vida inteira. Cria os filho, eles vão embora. A gente não pode nem vivê a velhice junto com os neto.Acho que qualqué dia acabo morrendo de um ataque. ALBINO – Fica sossegada, que eu ainda vô primeiro que tu. E não te preocupa com a seca. Se não tá chovendo, não tem importância. Sempre a gente colhe alguma coisa. Deus não vai nos abandoná. IZIDRA – E vai adiantá a gente colhê pouco? ALBINO – Vai. E depois a gente já tá acostumado com pouco. Se não der desta vez, a gente consegue o ano que vem. IZIDRA – Vô se sincera Albino. Não quero sabê do ano que vem. Quantos ano a gente só vem dizendo “ano que vem”? ALBINO – Não vai começa a tua mania de querê ir embora, não é? Não aguento mais ouvir esse Te Deum que não termina nunca. IZIDRA – Já vi muita gente desiludida. Ninguém me diz que não. Tá todo mundo indo embora, porque ninguém mais acredita que colono pode melhorá a vida plantando soja. ALBINO – Fala baixo Izidra. Da onde é que tu tirou essa conversa? Agora deu pra falar de assunto que tu não entende? IZIDRA – Ora, Albino! Então tu acha que alguém vai nos escutá nesse fim de mundo? No tempo que a gente ia na vila prá assistir missa eu conversava com as mulher dos outros. Fiquei sabendo de muita coisa. ALBINO – Conversavam até demais. IZIDRA – E você? Não jogavam bocha? Na tomavam aperitivo? Não ficavam dando gargalhada à toa? ALBINO – E o que a gente ia fazê? IZIDRA -Ao menos não precisava sê tão estupido não é? Podiam tê um pouquinho mais de cabeça. Era só olhá do alto do cerro pra se vê que alguma coisa não tava certa. ALBINO – Do que tu tá falando mulher?
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IZIDRA – Todos os colonos plantando soja. Todo mundo plantando a mesma coisa. Tava certo isso? ALBINO – O governo prometeu as garantia!!! IZIDRA – Sim. Mas o governo não veio nos trazê o que estava faltando na mesa. A gente que é mulher sabe do que uma família precisa. ALBINO – Fala baixo mulher! IZIDRA – Hoje em dia nem mais família a gente tem. Cada um pra um lado. ALBINO – Cala essa boca mulher! IZIDRA – Tá com medo de alguma coisa? ALBINO – Será que tu não pode pará de dizê besteira? IZIDRA – Tá devendo alguma coisa prá alguém? ALBINO – Cala a boca Izidra! Tu quer me Encomodá? IZIDRA – Claro que tá devendo. Qual é o Colono que não tá devendo prá o governo? O Banco do Brasil não é governo? Quanta mulher me contaram a situação dos marido. E quanto dos que foram embora tiveram que entregá a terra por conta! (Mudando o tom) Não sei mais o que tá acontecendo Albino. Tenho medo que aconteça a mesma coisa com a gente. Será que não vai acontecê? ALBINO (Fitando-a com perplexidade) – Eu também não sei o que tá acontecendo Izidra. Não sei. Não pensa que tô loco. Eu também fico vendo essas coisa. Mas o que vamos fazê? Se queixá pra os bispo? IZIDRA – Nossa terrinha Albino. É só o que ainda nos resta no fim da vida. ALBINO – Temos que nos agarrá a ela, Izidra. Ela sempre foi nosso sustento. Não será agora que vai nos faltá. É só o que sabemos fazê: Trabalhá na terra. Depois de velho não temos mais cabeça pra aprende outra coisa. IZIDRA – Nossa esperança é pouca Albino. ALBINO – Temos que nos conformá IZIDRA – Nossa esperança é que chova, não é Albino? ALBINO – Sempre dependendo da chuva. Se não chovê, será como da outra vez. A gente fica individado... 10
IZIDRA – E mais pobre. Vivendo de dinheiro emprestado. Devendo pra todo mundo, como vagabundos. ALBINO – Tomara que chova! IZIDRA – Quanta vergonha a gente tem passado! ALBINO – O que vai se fazê? Não sabemos fazê chovê. IZIDRA – Tomara que deus nos ajude. ALBINO – Ele tinha que tá mais perto, prá ouvir a gente. IZIDRA – Cuidado que assim tu acaba blasfemando. ALBINO – Ora, Izidra. Que assim ele se lembre de nós. IZIDRA – Deus não esquece seus filhos. As pessoas é que se afastam dele. Tanto tempo que não consegue mais ir na missa. Nem padre aparece por aqui. ALBINO – É que a gente não consegue mais condução que passe aqui por perto. IZIDRA – Antes íamos até a pé. Mas agora tamo velho. Não temo força pra andá longe. ALBINO – Nem pensa nisso, já temo tanta coisa pra nos preocupa. IZIDRA – A religião sempre foi nosso conforto. ALBINO – Deus há de nos compreendê. Não foi tu que disse IZIDRA – Mas a gente precisa agradecê, pra Ele se lembra da gente. ALBINO – Tu não tem rezado todas as noite? As vez até não te acompanho no terço? (Pausa) Vai vê que tamo rezando errado. Não tem uma oração pra chuva? IZIDRA – Quem sabe essas oração são os padre. ALBINO – Tu não te lembra como é que eles rezavam? As palavra... IZIDRA – Pera ai. Não é de padre não. Não sei de onde é. Acho que ainda tenho guardado uma oração que me deram na vila. ALBINO – É pra pedir chuva? IZIDRA – Não me lembro, deixa eu procura. (Izidra remexe uma pequena mala, forrada com lonita listrada.) 11
ALBINO – Achô? IZIDRA – Tá aqui. Vamo rezá Albino? ALBINO – Reza tu. Tô cansado. IZIDRA – Tá sem fé home! Dois rezando dá mais força. É uma oração pra Nossa Senhora. ALBINO – Então é bom que só tu reze. Mulher com mulher se entende melhor. Se ainda fosse pra algum santo. IZIDRA – Ficá aí, mas ao menos acompanha com o pensamento. Vô lá no quarto, na frente do quadro de Nossa Senhora. Se eu tivesse uma florzinha pra ela. (Izidra dirige-se a porta dos fundos. Desaparece, sua voz será escutada em off) IZIDRA: Nossa senhora dos aflitos e dos desamparados Rogai por nós agricultores que vivemos a vida plantando Para que a ninguém falte o que comer Que todos possam criar seus filhos Ter a mesa farta e assim glorificar a Deus Te agradecemos pela ajuda que sempre destes a nossos avós e pais. Eles que cruzaram o mar na tua proteção Em busca do trabalho que dignifica os homens Pra cá trouxeram ferramentas, animais, abriram picadas, levantaram casas, subiram serras, fundaram cidades Semearam as religiões e as plantações Estes teus filhos a ti recorrem Nesta e em todas as horas de nossas vidas sempre entregues nas tuas mãos e nas de Deus Nosso Senhor e Nosso Pai ALBINO (Interrompendo) – Já vi que não fala nada de chuva. (Albino levanta-se. Remexe a mala. Pega uma Bíblia até deter-se numa página. Vai para o centro da cena) 12
IZIDRA – Não atrapalha Albino. Ainda não terminei ( Retoma o tom da oração.) Lembra-te, Mãe Nossa de interceder por nós, junto a Ele para que sua infinita bondade despeje continuas graças sob nossas plantações. No tempo da semeadura que a terra seja fecunda. No tempo de crescimento que não falte chuva, benção do céu. No tempo da colheita que nossos braços estejam ágeis e os galhos pesados com os frutos do nosso trabalho, da justiça e generosidade de Deus, amém
(Izidra passa a rezar baixinho uma “Ave Maria”, sobrepondo a sua voz, Albino lê o Salmo 64) Senhor Visitaste a terra e a regaste Encheste de toda sorte e riquezas, O rio de Deus está cheio de água Preparaste a soja, porque assim preparaste a terra: Regaste seu sulcos, aplanaste suas leivas Amoleceste-a com as chuvas, abençoaste suas sementes Coroaste o ano com tua bondade e os teus caminhos fertilizam a fertilidade Destilam-se os pastos do deserto; e as colinas cingem-se de alegria Os pratos revestem-se de rebanhos e os vales cobrem-se de sojais Aclamam-se e cantam. (A Música sobe, enquanto a luz baixa)
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CENA II
(Albino e Izidra estão costurando sacos de estopa com grandes agulhas) ALBINO – Temos que nos apressá. Senão chega a hora da colheita a soja vai se amontoando pelo chão e há onde ensacá. IZIDRA – Ainda bem que os remendos são pequeno. ALBINO – É, mas tem uns que rasgaram de ponta a ponta. (Pausa longa) IZIDRA – Albino, já viu a soja? ALBINO – É só o que eu vejo todo dia IZIDRA – Mas já viu como tá crescendo? ALBINO – Ainda bem mulher. Quanto mais crescê, melhor. IZIDRA – Tô assustada, Albino. Vê que bobagem. ALBINO – Já tá de novo com essa boca?! IZIDRA – Não! Não to agorando. É outra coisa...Olhô essas planta...Tão perto de casa... ALBINO – O que é que tem? Já não te disse? Temo que plantá todo pedacinho de terra que tivé sobrando. IZIDRA – Mas precisa sê tão perto de casa? ALBINO – Olha véia, se eu pudesse plantava até no chão da cozinha. IZIDRA – Já tem pé de soja nascendo atrás da porta da cozinha. ALBINO (Rindo com certa ironia) – Tu vai vê, vamos comê com os pés de soja do lado da mesa. Dormi com eles debaixo da cama. Os colono vão fica com a casa cheia de soja e com os bolso cheio de dinheiro. IZIDRA (Interrompendo violentamente) – Para com isso Albino. Para pelo amor de Deus! Perdeu o juízo homem? Tu fala como se isso fosse fácil. Como se a gente não fosse um trapo velho, atirado no meio dessas planta sem esperança. E a seca, o banco, o armazém? ALBINO – Tá reclamando da vida? É só isso que tu sabe fazê? IZIDRA – E os filho? Onde estão nossos filho? (Agarrando ele) Me diz: Onde estão nossos filho? Tamos sozinhos. Essas planta vão acabá com a 14
vida da gente. Já tão entrando em casa. Qualquer dia a gente não pode mais sair. As planta vão invadi tudo. Soja, soja, soja. Quem são os desalmado que inventaram isso? Falam, falam. Os colono plantam, não ganham nada. Meu deus! (Pausa Longa) ALBINO – Nossos filho...Eu não sou culpado. Faltava alguma coisa? Passavam fome? A gente não tava mais como antes...Tava meio apertado...Mas dava pra todos. IZIDRA – Mas eles se foram. ALBINO – Não mandei ninguém embora. A gente trabalhava e dava pra todos comê IZIDRA – Mas o que seria deles aqui? ALBINO – O que sempre foi pra mim. Trabalhá na terra como trabalhô meu pai, meu avô que veio da Itália. Os dois morreram de velho, criaram os filho, ninguém precisô robá. IZIDRA – Nóis não temo filho ladrão, graças a Deus! ALBINO – Tudiz que os filho foram embora, mas esquece das filha. Casaram e também foram embora. Morá com os marido. Essas tinham mesmo que sai de casa. IZIDRA – Mas não ficaram nem perto. Antes a gente casava e ficava todo mundo junto, trabalhando na mesma terra. ALBINO – O que a gente vai fazê? Escolheram casá com homem da cidade. Só que...Nunca voltaram em casa...É verdade. IZIDRA – Pois é...Mas quem é que pode chega nesse fim de mundo? É soja pra todo lado. Não se enxerga a casa dos visinho, nem a fumaça dos fogão.Esse silencio...Só essas plata...esse verdume. (Olhar distante) ALBINO – Pai é pai! Mãe é mãe! Podiam fazê um sacrifício! IZIDRA – Agora elas tem as suas casa, os filho e os marido pra cuidá. ALBINO – Eu sei porque elas não vem! Eu sei. Olha eu sei porque os outro também não vem! Eles renegaram a casa deles. Hoje em dia ninguém mais qué trabalhá na roça. Quero vê quem é que vai plantá pra esse mundaréu de gente comê? IZIDRA – Ora Albino, isso é cisma tua. Elas não vem porque trabalham, moram longe. É uma dificuldade chegá até aqui. 15
ALBINO – Eu sei. Eu sei. Eles não querem vê nem a cor dessa terra. Essa é minha mágoa...meus filho. IZIDRA – Não te esquece também que as terra dos colono está encolhendo de geração pra geração. Lá na casa do meu pai foi a mesma coisa. ALBINO – Não tem explicação, a gente arrumava um lugarzinho pra todos. IZIDRA – Isso eu também acho ALBINO – Colocava uma casinha aqui outra ali e cada um podia criá sua família. IZIDRA – E a gente continuava todos junto. ALBINO – E te garanto que ia dá pra todos comê. IZIDRA – Será que dava mesmo Albino? Nossas terra são pequena. Ia te lugar pra todos filho plantá na sua lavoura? ALBINO – A gente nunca experimentô, não é? IZIDRA – Mas se nós sozinho tamo nessa situação, imagina... ALBINO (Interrompendo) – Com mais braço garanto que ia sê diferente. Não podia é fazê como as família que foram repartindo a terra pra cada filho que casava. No fim cada um ficava com uma chacrinha que não dava pra nada. IZIDRA – Mas o governo não proíbe isso? ALBINO – E daí? A necessidade obriga. Olha tá cheio de gente que fêz isso. E o que aconteceu? Nada. IZIDRA – Eu também acho que é necessidade. Porque será que eles proíbem? ALBINO – Eles dizem que na terra pequena não adianta plantá soja. Mas o que é que a gente vai fazê. O banco só empresta dinheiro pra que planta soja. E hoje em dia tá cada vêz mais caro plantá uma lavoura. Não é mais como antigamente. Vi falá que tem banco que empresta dinheiro edepois obriga o colona a compra mais uma quantidade de remédio pra terra e pras planta. Antes a terra era mais sadia. IZIDRA – É verdade. Hoje a terra tá se estragando. Não vê todo aquele leito de terra que tá rachando lá pro lado do cerrito? ALBINO – Até parece uma maldição. Quanto menor a terra mais ela diminui. Naquele pedaço então. Já fiz tudo e não adianta. É uma terra perdida. (Pausa longa) 16
IZIDRA – Albino fico matutando. Será que vamo consegui colhê a soja? ALBINO – Tá doente? Aleijada? IZIDRA – É muita soja. ALBINO – Se tamos com saúde pode até chovê pedra. IZIDRA – E a colhedora da cooperativa? Será que els vem? ALBINO – Não sei. IZIDRA – Como não sabe, homem! Então sem máquina o que a gente vai fazê. ALBINO – Como vou sabe se eles vem esse ano? Quanto tempo faz que nós não saímos de casa? IZIDRA – E como é que vamos sair agora? É capais da gente perdê o rumo. ALBINO – Nós trabalhemo sozinho. Vai vê que conseguimo. IZIDRA – E depois? Pra vendê a soja? Quem é que vai compra? ALBINO – O Governo...A Cooperativa... IZIDRA – E os caminhão? De que jeito vão entrá aqui? ALBINO – Nós abrimos uma picada. IZIDRA – Pra que lado? Hein? Pra que lado? ALBINO – Pro lado da estrada. IZIDRA – E pra onde é a estrada? ALBINO (Apontando para uma direção) – Pra lá. IZIDRA – E se for pra lá? ALBINO (Apontando pra mesma direção) – É pra lá. IZIDRA (Apontando para outra direção) – E se for pra lá? ALBINO – É pra lá, eu tenho certeza que é pra lá. IZIDRA – Não. Eu tenho certeza que é pra lá. ALBINO – Que é isso muié? Tá possessa? O diabo te entrô no corpo? IZIDRA – E tu homem? Depois de velho tá caduco? Pra onde é a estrada? ALBINO – Não é pra onde o sol nasce? 17
IZIDRA (desanimada) – E eu sei se existe sol? Só existe soja, soja, soja ALBINO – Cala a boca! Velha bruxerenta! Tá querendo me deixa doido? Porque não foi com os outros? Foi pra isso que ficou? (Acalmando-se) Nossa situação tá difícil...Mas Deus há que nos ajuda. Nós vamos nos levantá. IZIDRA (Choramingando) – Deus te ouça, meu velho. ALBINO – Com esse braço, com nosso suor, vamos colhê toda a soja. Vamos pagá as conta no banco. Se ajeitá ao menos no fim da vida. IZIDRA (Aconchegando-se junto a Albino) – Eu queria criá de novo nossos bichinho, cuidá de minhas florzinha. (Irrompe uma canção distante. Vozes de homens e mulheres acompanhados de acordeom. Sugestão de um grupo de pessoas passando. A Canção fica próxima) IZIDRA – Ouve Albino! ALBINO – Não tô ouvindo nada. IZIDRA – Limpa os ouvido homem. Ouve. ALBINO – Tu é que tá ouvindo demais. IZIDRA – Tu não quer ouvir. São eles. ALBINO – Eles quem? Não ouço nada. IZIDRA – São eles. Estão indo ALBINO – Indo? Pra onde? IZIDRA – Embora, homem! Quantos já foram. Te faz de bobo. ALBINO – Agora tô ouvindo. IZIDRA – São eles indo embora ALBINO – Que indo embora, nada! Tão cantando. IZIDRA – Cantam pra não chorar ALBINO – Tão fazendo festa. Deve sê alguém que já tem garantida uma boa safra. Sortudo. Vai ganhá um bom dinheiro. IZIDRA – Vamos com eles Albino? ALBINO – Tu nem parece filha de colono, mulher de colono criada nestas linhas, Tu não te lembra? 18
IZIDRA – Vamo aproveitá e ir junto com eles. ALBINO – Não te lembra então? A gente tomava vinho e cantava o “ Quel mazzolin di Fiori” IZIDRA – Vamo abandoná esta terra, vamo embora de uma vez. Tá todo mundo indo embora. Vamo Albino. O que a gente vai ficá fazendo aqui? Eles tão passando. Não vai ficá mais ninguém. Vamo que a gente não vai sozinho. ALBINO – Nós vamos fica. (Desconversando) Eu até solava o “ Quel mazzolin di Fiori” . ainda me lembro. Qué ouvi? IZIDRA – Quero ir embora daqui. Me leva Albino. (Albino procura acompanhar a canção. Perde o compasso. É sacodido por um forte ataque de tosse.) ALBINO (Tentando cantar trechos da canção) – Água Izidra, um pouco d’agua, por amor de Deus. Tô sufocando, água, por favor água (Continua a tossir) (Izidra hesita por algum instante. Vira-se para o lado de onde vem a canção. Que já está mais distante.) ALBINO – Água mulher. Qué que deixa morre? (Izidra vence a hesitação, corre e lhe alcança uma caneca com água, ajuda-o a beber. Bate em suas costas. A tosse vai passando. Não se ouve mais a canção) IZIDRA (Baixinho, persuasiva, maternal) – Agora que já passou. Vamo embora? Eu te ajudo. Levanta. (Tenta levantá-lo) Não deve ir tão longe. Nós alcancemo eles. ALBINO (olhando em silencio. Demora um pouco a falar) – Vamo, vamo, descansá um pouco. Depois a gente termina. (A luz baixa)
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CENA III (Dentro de casa. Albino está sentado num banco, com as costas escorados na parede.) IZIDRA – A tosse passo um pouco, mas assim mesmo vô prepará um chá ALBINO – Não é preciso, já estou me sentindo melhor IZIDRA – Tu sempre diz assim e sempre te faço um chá (Afasta-se vai até o fogão, remexe uma caixa de papelão e daí tira uns sacos de pano com ervas dentro) IZIDRA – Ao menos que a gente tem esses remédios caseiros. Sempre tive muita fé...Cházinho de marcela... ALBINO (Interrompendo) – Ainda tem mel? IZIDRA – Tem. Olha! (Mostra um pequeno vidro com mel) ALBINO – Bota bastante mel. Tu sabe como me alivia o peito (Tosse um pouco) IZIDRA – Viu? E tu não queria que eu fizesse um chá. ALBINO – Tu tem tanta coisa pra fazê que eu não gosto de te encomodá. Mas o que vai se fazê? A gente fica velho mal pode com a própria carcaça. IZIDRA – Ora meu velho! Então me custa fazer uma chazinho? Olha! Já ta pronto (Albino tosse) Essa tosse já vai passá. Acho bom tu te deitá. Com o corpo aquecido nas coberta o chá faz mais efeito. Em segui tu não vai mais tosse. (Acena com a caneca). Vem te deitá. ALBINO – Vou tomá aqui mesmo. IZIDRA – Vem duma vez senão esfria.(Vai se dirigindo para uma porta dos fundos) ALBINO – Quero tomá aqui. Traz o chá. IZIDRA (Parando) – Deixa de sê teimoso, Velho. Vem te deitá pra tomá esse chá. Tu não qué fica bom? ALBINO – Então tu acha que vou me deitá por qualqué coisinha? Não to tão mal assim. Será que não posso pará de pé! (Levanta-se com dificuldade) Há muita coisa pra fazê. Ainda tenho o resto do dia. Não posso me dá o luxo de fica deitado numa cama enquanto há tanto trabalho. (O acesso de tosse recomeça, em razão do esforço que fez para falar. Volta a sentar-se) Me dá o chá Izidra. E me deixa quieto. Não quero me deitá. 20
(Izidra lhe alcança o chá de uma maneira agressiva) IZIDRA – Toma teu chá, velho teimoso. E vê se para com essa tosse. Sempre me matei a vida inteira por ti, e depois de velho tu ainda é mal agradecido. É sempre assim, a gente se sacrifica e só recebe patada. ALBINO (Falando a cada gole) – E tu? Depois de velha deu pra inventá mentira? Então sô mal agradecido? Tu não faz mais do que tua obrigação!!! (Insinuando develver-lhe a caneca de chá) Muito obrigado minha velha! Agora assim vou melhorá, graças a tenu chá! (Pausa) Olha, Izidra! Vamo combiná uma coisa? Vamo calá a boca por algum tempo? Senão daqui a pouco, a gente acaba se ofendendo. A gente vai ficando nervoso e acaba perdendo a cabeça. IZIDRA – Quem fica nervoso é tu. ALBINO – Não vamo recomeçá Izidra. IZIDRA – Sempre fico resignada. ALBINO – Eu sei. Mas agora... IZIDRA – Agora também. Não fiquei nervosa nem te ofendi ALBINO (Impacientando-se) – Vamos ficá quieto, Izidra? IZIDRA – Ta vendo? Quem é que fica nervoso? ALBINO (Calmo) – Vamo ficá quieto Izidra? IZIDRA – Se tu prometê que não fala... ALBINO – Prometo. Juro por Dio. Não digo uma palavra. IZIDRA – Não bota Dio no meio. ALBINO – Tudo bem. Tiro o Dio. Mas fico quieto IZIDRA – EU é que não vô começá a falá. ALBINO – Tá bem! (Ficam em silêncio por algum tempo. Albino continua sentado, Izidra olha pela janela.) IZIDRA (Falando baixinho para quebrar o silêncio) – Albino! (Albino não responde) Bino! Bino! Vem olhá Bino. ALBINO – Tu não és capaz de ficá quieta? E o Trato?
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IZIDRA – Vem olhá Albino. A soja tá crescendo. (Albino faz que não ouve) Tu não tá ouvindo os estalo? Escuta? ALBINO (Disfarçando que não mostra interesse) – O que tem a soja? Tu tá cansada de sabê que as planta estala quando cresce. Porque a admiração? IZIDRA – Isso eu sei. ALBINO – Então fica quieta pra cumpri nossa combinação. IZIDRA – É que vem crescendo pro lado da casa. ALBINO – Fica quieta mulher. Para de fazê alarme com as planta. IZIDRA – Tá bem! Tá bem! (Saindo da janela) Não falo mais. ALBINO – Até que resolveu ficá quieta. É? IZIDRA – Agora, se alguma coisa acontecê. A culpa é tua. ALBINO – Ora, mulher! O que pode acontecê? IZIDRA – Não sei, não sei. É que cio preocupada, as planta... ALBINO – Por acaso as planta pode nos fazê algum mal? Se elas crescê melhor aumenta nossa produção. IZIDRA – E o que vai adiantá, Se não conseguimos nem fazê a colheita? ALBINO – Não seja tonta, mulher! Pra que é que serve as maquina da cooperativa? IZIDRA – Depois não diz que não te falei. A culpa vai sê tua... ALBINO – A culpa é minha, mas fica quieta, santo Dio! Tô, muito cansado pra continua a conversa. Fizemo um trato ou não fizemo? (Izidra se cala e vai ariar o fogão, enquanto Albino se dedica a preparar um cigarro “palheiro”, Lá fora ouve-se mais uma leva de colonos que cantam, e passam) IZIDRA ( Em tom afetuoso) – Passô a tosse, meu velho? ALBINO (No mesmo tom) – Passô, minha velha. Teu chá não falha. Mas agora fica quieta.
(Ficam a escuta da canção. A música cresce. A luz baixa)
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CENA IV (Izidra está arrumando uma pequena mala de lonita, e mais uma bolsa, vai visitar os filhos na cidade)
ALBINO – Onde é que tu pensa que vai? IZIDRA – Vou a cidade visitá meus filho. ALBINO – Vai começá outra vez que essa lenga, lenga, Izidra? IZIDRA – Lenga-lenga pra ti que não se interessa pelos filho. Mas eu não. Ainda tenho amor por eles. ALBINO – Tu sabes que não é isso mulher. IZIDRA – Então porque tu não vai? ALBINO – Por que é obrigação dos filho visitá os pai. E depois. Porque não gosto da cidade. IZIDRA – Isso tudo é desculpa. ALBINO – Tu bem sabe que tô falando a verdade. Alguma vez eu te menti. IZIDRA – Os filho, pra ti, tanto faz não é? ALBINO – E eles? Há quanto tempo que não vem aqui? IZIDRA – Tu sabe como é o trabalho deles na cidade. Não é bem assim que dão folga. ALBINO – Eu não sei direito no que eles trabalha. Se não dão folga pra visitá a família, não deve sê coisa boa. IZIDRA – Tu também sabe que não é toda hora que eles pode tá viajando, com os preço da passage. É por isso que eu vô. ALBINO – E tu? Tem dinheiro, é? Desde quando? Anda escondendo dinheiro, é? IZIDRA – Sempre juntei meus troquinho. Esses são os últimos trocado, desde o tempo que eu ainda vendia ovo. ALBINO – E onde tava esse dinheiro? IZIDRA – Vai querê pra quê? ALBINO – Ora, sempre que a gente precisa de um trocado. E tu não tá necessitada de viajá pra cidade. É um capricho teu. 23
IZIDRA – Não vai tentá me impedi, não é? ALBINO – Se tu qué fazê essa bobage, faz sozinha. IZIDRA – Eu já sabia que tu não ia. ALBINO – Tenho coisa mais importante pra fazê. Preciso cuidá da lavoura. IZIDRA – Não sei o que tu vai fazê. A não sê esperá que chova. E enquanto não chove... ALBINO – Quando tu volta? IZIDRA – Não sei. (Izidra sai batendo a porta) ALBINO (Gritando) – Eu sei que tu tá fugindo! IZIDRA (Gritando) – Não sei quando volto! ALBINO (Gritando mais alto) – Traidora! Estúpida! Fugindo, não é? Estúpida! IZIDRA (Grito espichado, fora de cena) – Velho teimoso! Não sei quando volto. Não sei. Vô viajá, viajá. AlBINO (Gritando) – Pois vai. Vai. E não volta mais, ouviu? Não volta. Me deixa sozinho. Não precisa voltá (Começa a tossir sem muita intensidade. Leva a mão no peito. Apoia-se na mesa. A tosse cessou. Albino, abre a gaveta da mesa, passa a remexer no seu interior. Encontra uma folha de papel e se detém nela, segurando-a com as duas mãos, um pouco trêmulas. Fala com voz engasgada.) – Não vai sê preciso. Não vai sê preciso. (Albino coloca a folha de papel na gaveta. Fecha-a e fica apoiado sobre a mesa.) ALBINO – Mesmo sozinho, vô consegui. (A luz baixa)
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CENA V (Albino está sentado, pernas cruzadas, chapéu sobre o joelho. Aparenta desanimo. Entra Izidra. Ar de Preocupada. Para na entrada da porta. Albino levanta a cabeça e a encara em silêncio) IZIDRA (Laconicamente) – Esqueci o endereço dos filho. (Albino permanece em silencio. Lentamente Izidra vai até a mesa e procura na gaveta) ALBINO – Sempre esquecida, minha velha. IZIDRA (Desconversando) – Sabe, no meio de tanta soja, ainda pudê vê uma florzinha de marcela bem na beirada da casa. ALBINO – Não mente, Izidra. Porque tu voltô? IZIDRA (Subitamente encara Albino) – Meu Velho, não ouvi boas notícia na estrada. (Vai até ele, debruça a cabeça no seu joelho. Ambos ficam em silêncio. Albino passa a mão sobre a cabeça de Izidra) ALBINO – Porque tu voltô? IZIDRA (Levantando a cabeça) – Esqueci o endereço... ALBINO – Tu tá mentindo IZIDRA – Verdade, Albino. ALBINO – Pensei que tu não fosse mais voltá. IZIDRA – Eu ia viajá, mas quando cheguei na bêra da estrada tu nem imagina como tava aquilo lá. ALBINO – O que tava acontecendo? IZIDRA – Nem é bom tu ficá sabendo. Tu ficá muito nervoso. ALBINO – E tu não vai me contá, é? IZIDRA (Levantando-se) – Vou Procurá o endereço. (Chega até a mesa e abre a gaveta. Procura.) ALBINO (Pondo-se de pé) – Vem cá me contá Izidra. Assim é que tu me deixa mais nervoso. IZIDRA (Fazendo que não houve) – Deve tá aqui. Não é aqui que a gente guarda os papel? Não me lembro se coloquei aqui ou não. ALBINO – Para com essa conversa! Não pensa que dessa vez tu sai sem me contá o que tá acontecendo na estrada. 25
IZIDRA (Examinando um papel) – Eu mal sei lê... Tá acontecendo que o ônibus não passa mais no mesmo lugá. É só isso. Só isso ALBINO – E tu acha que eu acredito? IZIDRA (Detendo-se no mesmo papel que Albino já examinara) – Que papel é esse Albino? ALBINO (Dirigindo-se a ela) – Deixa eu vê. IZIDRA (Mostrando) – Este aqui. O que qué dizê isso que tá escrito nele? ALBINO (Reconhecendo o papel) – Me dá esse papel, Izidra! IZIDRA (Protegendo-o) – Que papel é esse Albino? Se tu não dissé, não te entrego. ALBINO – Me dá esse papel. Se tu não quisé que eu arranque a força. IZIDRA – Tu não experimentá! Chega pra lá! O que tu tá me escondendo Albino? Me diz homem? Deixa de sê estúpido. (Estabelece um jogo em que Albino procura tomar o papel de Izidra, que não chega ainda a ser violento, mas vai num crescendo) ALBINO – E Tu deixa de sê intrometida. Me entrega logo essa porcaria que tô perdendo a paciência. IZIDRA – Agora é que não entrego. Tu pensa que me assusta? O que tu fez que não qué me explicá? Vendeu a terra? Ou ela já tá perdida? É isso que diz aqui nessas palavra complicada? Ô nem tu sabe. ALBINO (Empurrando com violência contra a parede e arrancando-lhe o papel das mãos) – Me dá esse papel, velha metida.Tu não tem nada que sabe. Já não chega o que tu me enche todos os dias com essa conversa? IZIDRA (Encostada na parede gritando) – Eu sei! Pensa que eu não sei!? Todo esse tempo me enganando. Eu é que tenho razão. O que tu ainda qué, ficando aqui? Numa terra que não é mais tua? ALBINO – A terra ainda é minha Sim. Isso aqui não qué dizê que eu já tenha perdido a terra. Se a safra for boa, devolvo tudo que pedi emprestado e ainda me sobra dinheiro pro ano que vem. IZIDRA – Sempre acreditando em milagre? Pois eu é que agora não tenho mais razão pra ficá. Vou pra casa dos filho e não volto. Se perguntarem
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por ti, conto tudo. Digo que enlouqueceu. (Dirige-se novamente à mesa e rebusca a gaveta.) ALBINO – Tu não fica contente em me abandoná e ainda vai me chamá de louco pros filho, é? Quem ficô louca é tu. Tu não enxerga que vai dá tudo certo? A soja tá crescendo. (Albino vai até um saco pendurado na parede e retira dele uma garrucha antiga. Fica alisando. Izidra vira-se para ele.) IZIDRA – Que tu vai fazê com essa garrucha, Albino? ALBINO (Pausado, frio) – Tu não disse que vai embora? IZIDRA – Vô embora porque não tenho mais o que fazê aqui. Tu insiste em ficá, então fica. O que tu vai fazê com essa arma? ALBINO (Pensativo, sempre alisando a arma) – Vô Ficá sozinho, não é? Preciso de uma arma pra me defendê. Logo vai chegá a época da colheita. IZIDRA (Pegando o endereço e a mala, aprontando-se para sair) – Essa terra tá empenhada. Não há mais salvação, vai dá seca. Seca Albino. Como nos anos passados. Esta terra tá perdida. Adeus Albino! (Quando Izidra está para sair, ouve-se trovoada, seguida de relâmpago. Izidra estaca. Albino corre para janela) ALBINO (Exultando) – É a chuva, Izidra! É a chuva. Daqui a um pouquinho vai começá a chovê. Vem, olha mulher. As planta vão começá a sorri. Vem olhá. Não podia sê melhor. Essa chuva vai sê a benção do céu. Viu? Valeu a pena rezá. Essa vai sê a maior safra que já tivemo. Eu não te disse? Os colono vão todos se recuperá dos anos de seca seguida. ( A chuva cai torrencialmente. Izidra vai para o lado de Albino, junto à janela. Trovoadas e relâmpagos se sucedem, Ambos ficam em silencio, olhando a chuva. A luz baixa.)
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CENA VI (Albino e Izidra estão sentados à mesa, tomando café preto com polenta frita. Ouve-se ainda a chuva que agora cai devagar. Vez ou outra relampeja seguido de trovoada.) ALBINO – Essa chuva vai calá fundo na terra. Todo esse tempo chovendo...E pra arrematá, essa chuvinha fina. (Izidra permanece em silêncio) Que cara é essa mulher? Não tá contente com a chuva? Continua preocupada com quê? Faça uma cara alegre, faz. Se é pela viage, pode ficá tranquila. Prometo que depois da colheita eu mesmo te levo. Juro por Dio. (Izidra dá de Ombros.) Não acredita, é? Pois tu vai vê. Vai sê uma grande colheita. Mesmo nós vamo colhê o suficiente para pagá nossas divida, e ainda vamo tê lucro. Vamo tê dinheiro Izilda! Tu vai vê como a gente melhora de vida. Te alegra mulher. (Izidra, que não comeu quase nada, afasta a caneca) O que tem agora, hein? (Fica em silêncio. Albino já demonstra algum nervosismo) Eu não te entendo. Não era pra tá contente? Não encontrou ninguém pelo caminho? Não tava todo mundo contente esperando uma grande safra? Me responde mulher. Já to cansado de falá sozinho. IZIDRA (Com desânimo) – Te acalma Albino! Tu tá ficando nervoso. Não é bom pra tua saúde. ALBINO – Quem é que não fica nervoso falando sozinho? Não tem nada pra dizê? Se tem, fala de uma vez! IZIDRA – Tenho sim, Albino. ALBINO – Então fala. IZIDRA – Te lembra quando voltei da estrada? Eu disse que não tinha boas notícias. ALBINO – Até nem lembrava mais. IZIDRA – Promete que não vai ficá nervoso? ALBINO – Sei me controla. A coisa é assim importante? IZIDRA – Encontrei muita gente na estrada. ALBINO – Muita gente? E tavam fazendo oquê? IZIDRA – Um alvoroço. Tinha até mulher com criança. Todo mundo falando alto. Uns até tavam brabo. Eu fui chegando devagá. Até me assustei com aquela gente. Uns eram conhecidos, mas outros não. 28
ALBINO – Tavam procurando algum bandido. Apagando algum incêndio? IZIDRA – Nada disso! Foi aí que vi o compadre Risolino. ALBINO – Ele também tava lá? IZIDRA – Cheguei pra ele e perguntei: “Compadre sebe me dizê se já passô o ônibus?” E ele disse: “Acho bom a senhora não espera. Acho que hoje não passa ônibus aqui”. ALBINO – Não encomprida o causo, conta tudo de uma vez. IZIDRA – Perguntei pra ele o que era aquilo. Parecia uma procissão se preparando pra saí. Ele me falô um montão de coisa. Do que entendi é que coisa boa não ia acontece pros agricultor. ALBINO – Com uma safra dessa o que pode nos acontecer de ruim? IZIDRA – Pois foi o que o compadre disse: “Imagina comadre. Esse ano vamos ter uma das maior safra de soja. E o governo resolveu confisca a produção. Tá certo isso?” ALBINO – Oque tu tá dizendo? IZIDRA – Não tô dizendo nada. Tô contando o que me disseram. ALBINO – E te disseram que o governo vai confiscá a produção de soja, é? Foi isso que te falô o compadre? IZIDRA – Foi o que eu ouvi. ALBINO (Dando um violento soco na mesa, levantando-se ao mesmo tempo) – É mentira! Tu invento toda essa conversa porque tua ainda não desistiu de querê me arrastá pra maldita cidade, que não sai da tua cabeça. É mentira! Qué me deixá louco? Acha que acredito nessa história? E o compadre? Que ia tá fazendo lá? Me explica? E o montão de gente? IZIDRA – Foi o próprio compadre que me disse. Tavam todos lá porque não iam aceita que o governo fizesse isso. ALBINO – E o que é que eles acha que pode fazê? IZIDRA – Não vão colhê a soja. ALBINO – Tão loucos? Vão deixá a soja apodrecê nas vagem? Querem Perdê tudo? IZIDRA – Que se colhê, não vão vendê a soja. Vão pará as maquina, fazê procissão... 29
ALBINO – E perdê tudo? IZIDRA – Tinha até um homem do sindicato fazendo discurso. Não fiquei muito tempo. Me dei conta que não tinha o endereço dos filho e resolvi voltá. ALBINO – Não pode sê verdade. O governo não ia fazê isso com os agricultor? Como é que vô me recuperar se o governo ficá com a maior parte? IZIDRA – Te lembra quando eu te falava? ALBINO – De nada adiantô, não tê havido seca. IZIDRA – Quando não é a desgraça da seca é a injustiça do governo. Porque essa má sorte? ALBINO – O que vô fazê Izidra? Se fô verdade, nós vamo perde nossa terrinha. E aí? Pra onde vamo? IZIDRA (Juntando as mãos) – Deus nos ajude! ALBINO (Fazendo-a levantar do banco) – Diz que é mentira tua. Não vô me importa. É mentira, é? IZIDRA – É verdade Albino. Vi toda aquela gente. Tava todo mundo brabo. Como tu tá agora. ALBINO – Porquê tu não me contô antes? IZIDRA – O que ia adiantá. O que tu podia fazê? ALBINO – Não sei. Não sei. Ao menos não ia me iludi com essa chuva. Será que eles não mudaram de ideia com a chuva? (Nessa altura do diálogo, a chuva parou) IZIDRA – Eles quem? ALBINO – O montão de gente que tá lá na estrada. Será que o governo não mudô de ideia também? (Muito nervoso) Será que agora já não resolveram tudo? É mentira tua Izidra. Não é possível. Logo esse ano. IZIDRA – Calma Albino. Não adianta ficá nervoso! ALBINO – Como não adianta? E o que eu vô fazê? IZIDRA – Não tem seca, mas tem confisco, de qualqué jeito, vamo perdê a terra. ALBINO – E tu fala assim? Como se isso não fosse nada? E o que vai sê de nós? Vai dizê agora que tu ganhô? Que nós temo que mudá pra cidade? 30
IZIDRA – Não, não Albino! Agora nós temo que fica! ALBINO – E deixa a soja apodrece? O que vai adiantá? IZIDRA – Eu é que não sei. Só sei que a gente deve se juntá aos outro lá na estrada. ALBINO – Pra quê? IZIDRA – Não sei homem! Mas é só junto com eles que a gente pode fazê alguma coisa ALBINO – Não sei o que fazê Izidra. Tô desnorteado. Tu vai pra estrada? O que vai adiantá? Eles são mais forte do que nós. Não vai adiantá, não vai. O que vamo fazê? (Começa a tossir intensivamente e sem controle) IZIDRA – Calma, Albino. Não fica nervoso. Vô fazê teu chá. Onde tá a marcela? Meu deus! (Nervosa) Fico nervosa e não acho mais nada. ALBINO – Não adianta o chá. Não quero o chá. Não adianta mais nada. (Tosse sem controle) IZIDRA (Saindo pela porta) - Espera um pouco, meu velho. Vou colhê a marcela que vi ali fora. Já volto. Aguenta um pocô. Respira fundo...Fundo... (Izidra sai) ALBINO (Pega a garrucha) – Deus me perdoe! (Ouve-se o estampido de um tiro de garrucha. O corpo de Albino tomba no centro da casa.) IZIDRA (Entrando com um ramo de marcela na mão. Num grito) – Albino! O que tu foi fazê? Meu Deus! (Ajoelha-se junto a seu corpo) Poque tu foi fazê isso, meu velho? Não era preciso. Eu tava disposta a aguentá mais esse sacrifício junto contigo. Eu te disse que não ia mais embora. Tu não ouviu? (segurando a cabeça de Albino) Meu velho, tu foi embora pra sempre. Porque Albino? Porque? (Pequena pausa. Fala vagarosamente) Perdeu a terra e a vida. A terra era a vida pra ti, e a vida era a terra. (Pausa breve) Esse ramalhete de flor que vem da montanha, eu vou dá a mio moretto, questa será quando’l vien.(Coloca as flores sobre o peito de Albino e prosta-se em silêncio) (Ouve-se a canção Quel Mazzolin di Fiori. Inicialmente baixa, ela vai crescendo. O ritmo é fúnebre, com pausas bruscas em cada verso cantado. A música sobe com intensidade. A luz baixa)
Fim 31
Quel Mazzolin Di Fiori
Quel Mazzolin Di Fiori
E perchè mi son poverina
che vien dalla montagna.
mi fa pianger e sospirar,
E bada ben che non si bagna
e perchè mi son poverina
che lo voglio regalar,
mi fa pianger e sospirar.
e bada ben che non si bagna che lo voglio regalar.
Fa pianger e sospirare, sul letto dei lamenti.
Lo voglio regalare,
E cosa mai diran le genti,
perchè l'è un bel mazzetto.
cosa mai diran di me?
Lo voglio dare al mio moretto
e cosa mai diran le genti,
questa sera quando vien,
cosa mai diran di me?
lo voglio dare al mio moretto questa sera quando vien.
Diran che son tradita tradita nell'amore.
Stasera quando viene,
E sempre a me mi piange il core
sarà una brutta sera.
e per sempre piangerà,
E perchè lui sabato sera
e sempre a me mi piange il core
lui non è vegnù da me,
e per sempre piangerà.
e perchè lui sabato sera lui non è vegnù da me.
Non l'è vegnù da me,
l'è andà dalla Rosina.
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(Tradução)
Aquele ramalhete de flores,
Não veio a mim,
que vem dá montanha.
mas foi dá Rosinha.
E veja bem que não se molhe
E porque eu sou pobrezinha
que o quero doar,
me faz chorar e suspirar,
e veja bem que não se molhe
e porque eu sou pobrezinha
que o quero doar.
me faz chorar e suspirar.
O quero doar,
Faz chorar e suspirar,
porque é um belo ramalhete.
na cama das lamentações.
O quero dar ao meu moreno
E o que mais dirão as pessoas,
esta noite quando vem,
o que mais dirão de mim?
o quero dar ao meu moreno
e o que mais dirão as pessoas,
esta noite quando vem.
o que mais dirão de mim?
Esta noite quando vem,
Dirão que sou traída
será uma noite feia.
traída no amor.
E porque ele no sábado a noite
E sempre chora meu coração
ele não veio a mim,
e para sempre chorará,
e porque ele no sábado a noite
e sempre chora meu coração
ele não veio a mim.
e para sempre chorará.
Retirado do Livro “E Cantavam” Organizado pelo padre Giuseppe Corradin. Editora Corag. 1980. Porto Alegre – RS . Paginas 110 e 111.
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