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Editorial ponto ideal, mas não se restringe
também eventuais toxinas que o
a isso. É possível preparar no
alimento contenha. Tratando-se
vapor os mais diversos tipos de
de frutos do mar, esse detalhe
alimentos, como peixes, aves e
é
carnes. “A preparação no vapor
No caso do preparo de carnes,
ainda
de
Giuliano indica os cortes magros.
alimentos como massas, tortas e
E que sejam temperadas antes de
pães, deixando-os mais macios e
irem ao vapor. O tempero, aliás,
úmidos”, diz Maria Cecília Corsi,
é outro ponto forte da técnica.
nutricionista e chef de cozinha.
Isso porque o vapor libera o
No Vindouro Bistrô, o preparo
aroma e o sabor dos temperos na
das ostras é todo no vapor.
preparação e permite que a adição
“Mantêm-se a textura, a forma e o
de sal – às vezes utilizado para
sabor. É o alimento quase na sua
realçar o sabor – seja reduzida.
essência”, explica Giuliano Hahn,
“Vale abusar das ervas durante
chef do restaurante. “O vapor, na
o preparo no vapor”, aconselha
temperatura adequada, elimina
Maria Cecília.
melhora
a
textura
importante”,
completa
ele.
Alice Duarte, editora-chefe alice@topview.com.br
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Capa - Jéssica Sartori Diagramação - João Geraldo Borges Júnior Publicidade - Mayara Tortato e Kétlin Scroccaro Seleção de Fotografias - Maria Eduarda
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Índice Agosto 2012
Setembro 2012
Novembro 2012
SABORES
ARREDORES
08 A todo vapor
22 Viagens esportivas
14 Bistronomique
30 Borja sob holofotes
A saudável técnica de cozimento a vapor se torna mais popular e ganha acessórios exclusivos
Restaurantes parisienses com alma de bistrô, em relação ao preço, e assinatura de chefs premiados
Junte a mochila, uma boa dose de disposição e aventure-se por um de nossos roteiros
Conheça o charme da cidade palco do maior fenômeno midiático de 2012: a restauração desastrosa da obra Ecce Homo
Dezembro 2012
Fevereiro 2013
Março 2013
PERSONAGENS
40 Os tops
Conheça dez dos mais notáveis profissionais da arquitetura e do design mundial
54 Matemático-roqueiro
O irrequieto Tom Zé fala até da criação do zero para explicar seu novo álbum
62 Homem-músico
Waltel Branco compôs mais de cinco mil peças e prefere se manter nos bastidores
ESTILOS
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Surfe com remo? Sim, trata-se do Stand Up Paddle, a sensação do verão 2013
SABORES
Cozimento a Vapor
A Todo
VAPOR Técnica de cozimento a vapor – que garante uma alimentação mais saudável – ganha popularidade e utensílios que facilitam o preparo de qualquer tipo de alimento. por Carolina Gomes
Foto: Lotus Joseph
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Q
uando você pensa em cozimento a vapor, que imagem vem à mente? Brócolis com aquele tom de verde intenso? Realmente, a técnica é imbatível no preparo de verduras no
Para acertar na
TÉCNICA
ponto ideal, mas não se restringe a isso. É possível preparar no vapor
Quando colocar os alimentos na panela, cuidado para eles não ficarem pressionados. Isso permite uma melhor circulação do vapor úmido entre eles O alimento não pode encostar na água durante o cozimento. Tome cuidado com a altura da cesta para que ela não fique mergulhada Dê ainda mais sabor aos alimentos acrescentando ervas, gengibre, alho, folha de louro ou especiarias à água Se preferir, substitua a água por sucos, vinho ou leite Feche a panela hermeticamente para evitar a perda de vapor, mantendo assim o aroma, a cor e a consistência do alimento Evite abrir a panela durante o cozimento, pois isso pode interromper a circulação do vapor Está achando que a água vai “secar” antes de terminar o cozimento? Mantenha sempre uma chaleira de água fervente pronta para esse tipo de emergência Se a escolha for pelos peixes, os mais indicados para cozimento no vapor são o linguado, o salmão e as variedades da pescada
os mais diversos tipos de alimentos, como peixes, aves e carnes. “A preparação no vapor ainda melhora a textura de alimentos como massas, tortas e pães, deixando-os mais macios e úmidos”, diz Maria Cecília Corsi, nutricionista e chef de cozinha. No Vindouro Bistrô, o preparo das ostras é todo no vapor. “Mantêm-se a textura, a forma e o sabor. É o alimento quase na sua essência”, explica Giuliano Hahn, chef do restaurante. “O vapor, na temperatura adequada, elimina também eventuais toxinas que o alimento contenha. Tratando-se de frutos do mar, esse detalhe é importante”, completa ele. No caso do preparo de carnes, Giuliano indica os cortes magros. E que sejam temperadas antes de irem ao vapor. O tempero, aliás, é outro ponto forte da técnica. Isso porque o vapor libera o aroma e o sabor dos temperos na preparação e permite que a adição de sal – às vezes utilizado para realçar o sabor – seja reduzida. “Vale abusar das ervas durante o preparo no vapor”, aconselha Maria Cecília.
SAÚDE A escolha de bons utensílios é peça- chave para acertar na técnica. Diversos produtos que facilitam a cocção no vapor sem aumentar o tempo de cozimento estão disponíveis no mercado. Segundo Maria Cecília, utilizando os utensílios corretos prepara-se, por exemplo, um peixe com legumes em apenas 6 minutos.
Praticidade Aliás, outra vantagem do preparo a vapor é a possibilidade de cozinhar mais de um tipo de alimento ao mesmo tempo. Adaptar os cortes para que o tempo de cozimento de cada alimento seja parecido torna possível combinar proteína, carboidrato e verduras no mesmo preparo. “Um bom exemplo é a combinação de salmão com rodelas finas de batatas e abobrinhas em cubos pequenos”, finaliza Maria Cecília.
Foto: Lotus Joseph
Alimentação saudável é um dos principais objetivos de quem opta pela técnica. Se na cocção tradicional parte dos nutrientes se perde na água, no método com vapor o mesmo não acontece. Além disso, as partículas de água do vapor promovem a hidratação do alimento, evitando seu ressecamento e diminuindo a necessidade de se adicionar gordura ou óleo na receita. Durante o processo, as fibras – importantes para o funcionamento do intestino, diminuição do colesterol e redução da glicemia – se mantêm intactas. “Resumindo, temos alimentos mais nutritivos e com menos gordura e sal”, lembra a nutricionista. Usar o vapor para preparar alimentos é um método difundido no mundo inteiro, especialmente na França e nos países asiáticos. Na França é comum ver a técnica associada ao papillote – embrulho de papel manteiga ou alumínio que ajuda a manter os alimentos mais delicados, como peixes, intactos.
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SABORES
Cozimento a Vapor Foto: Acervo Topview
Receita saudável Pão cenoura com abobrinha no vapor Ingredientes ½ xícara de leite desnatado morno 1 colher de chá de açúcar 15 g de fermento biológico 750 ml de leite desnatado 2 ovos 4 xícaras de farinha de trigo 4 xícaras de farelo de aveia ½ xícara de farelo de trigo 1 ½ xícara de cenoura ralada 1 ½ xícara de abobrinha ralada 1 colher de sopa de sal
Modo de preparo
Pão caseiro: quem disse que esta delícia não pode ser preparada no vapor?
Em uma tigela, coloque o leite desnatado morno, o açúcar e o fermento e deixe fermentar de 2 a 3 minutos. Acrescente o resto do leite, os ovos, a cenoura e a
abobrinha e, enquanto mistura os ingredientes com a mão, adicione a aveia, o sal, o farelo de trigo e a farinha de trigo, até a massa soltar das mãos. Espalhe a massa em uma forma pequena de bolo inglês, untada com margarina light e farinha de trigo, e leve ao forno a 180°C por 50 minutos. Abra o forno e borrife água sobre o pão com um borrifador para que o vapor d´água dê uma textura crocante a superfície, sem ressecar o interior. Leve ao forno por mais 2 minutos. Sirva acompanhado de azeite extra virgem e ervas, cream cheese light ou requeijão light. Calorias por porção: 70
Fogão a Vapor O Blue Touch Nutri da Electrolux tem dois fornos, um elétrico e um a gás, que permitem o preparo de duas receitas simultaneamente. Vem com o Nutri vapor, recipiente de vidro onde se concentra o vapor, ideal para o preparo de alimentos delicados como peixes, legumes e pudins. Preço sugerido: R$ 4.599,00. www.electrolux.com.br
Fotos: Electrolux
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Foto: Flavio Cunha
TEMPO de preparo no vapor
Legumes no vapor: textura, cor e fibras mantidas para uma alimentação saudável e saborosa. Panela Multifuncional Essa panela da Brastemp descongela, aquece e cozinha alimentos no vapor no micro-ondas. Suporta temperaturas entre -40°C e +120°C e pode ser colocada na máquina de lavar louça.
Foto: Brastemp
Preço sugerido: R$ 48,90 www.brastemp.com.br
Fun Kitchen para Acertar O aparelho de cozimento a vapor Fun Kitchen permite o preparo de até três tipos de alimentos simultaneamente. Possui timer de 60 minutos – com sinal sonoro que informa quando o alimento está pronto e desligamento automático –, além de abastecimento de água externo. Preço sugerido: R$ 129. www.shoptime.com.br
Foto: Shoptime
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SABORES
Bistrôs em Paris
Foto Divulgação
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Com cozinha de vanguarda, os bistronomiques parisienses são lugares gastronômicos, porém econômicos.
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ISTROMONIQUE:
OM e ARATO
Restaurantes parisienses com alma de bistrô em relação aos preços, mas que têm a criatividade de chefs premiados na hora de definir e apresentar os pratos. São os bistronomiques, que atendem as expectativas de quem quer comer bem e pagar pouco por Jussara Voss, de Paris
P
oucas e boas opções de pratos, vinhos regionais, ambiente informal, equipe reduzida no salão e na cozinha, e, claro, bom preço. Com essa equação muito simples ficaram famosos os bistronomiques, expressão da moda em Paris para designar os bistrôs econômicos com pretensões de alta gastronomia. Desta forma, sem toda aquela pompa dos restaurantes estrelados, esses novos bistrôs souberam exatamente como atrair e fidelizar uma fatia de consumidores muito exigentes, que almeja nada mais nada menos que o nirvana gastronômico sem ter que abalar
seus orçamentos. Evidente que, às vezes, o barato não é exatamente o que imaginamos. Um jantar custando 120 euros por casal, incluindo serviço e vinho, pode não ser considerado exatamente uma pechincha, porém se levarmos em conta a qualidade, os produtos frescos e da estação, além da criatividade do chef, esse valor passa a valer muito a pena. Mas calma, existem cardápios cujos preços são bem menos proibitivos – é possível encontrar menus degustação que não passam de 40 euros.
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SABORES
Bistrôs em Paris
MELHOR COMIDA MENOR PREÇO Há aproximadamente 20 anos, o chef francês Yves Camdeborde apresentou no seu Le Comptoir a proposta de oferecer alta gastronomia em ambientes pequenos, despojados e geralmente com apenas um garçom – tudo isso compensado pelos preços convidativos. A partir daí, outras casas foram se adaptando e conquistando clientes ávidos por comida saborosa, bem apresentada, outrora com preços proibitivos. Os chefs que aderiram ao movimento podem ser chamados de reis da alta gastronomia de cifras atraentes, sem medo de exagerar.
“
O badalado Le Dauphin é um dos endereços mais quentes da cidade. O minirrestaurante é inteiro de mármore branco – um projeto do arquiteto-estrela Rem Koolhaas. Na cozinha, outra estrela, o jovem Iñaki Aizpitarte toca as panelas ao som de rock e divide seu tempo com outro espaço, quase ao lado, o Le Chateaubrian, que também merece uma visita. Em pouco tempo, os dois lugares já têm uma legião de fãs – esta que vos escreve entre eles. Um amigo gourmet conheceu os dois e elegeu o Le Dauphin como o melhor restaurante da sua última viagem. Três porções bastam e a conta: 30 euros. Voltou em outra ocasião ao Chateaubriand, experimentou o novo cardápio e não achou tão bom quanto na
A comida consegue a sintonia entre produtos frescos e técnica.”
Foto Romildo Voss Jr
Terrine de foie gras: especialidade francesa preparada “comme il faut”, como deve ser.
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primeira vez. A surpresa da primeira visita nem sempre se repete. Outra referência de alguém de paladar afinado, o gourmand Jacques Trefois, no qual confio totalmente no quesito boa comida, foi categórico: “Se fosse para escolher apenas um, eu iria no Le Chateaubriand, caso não achasse lugar no Le Baratin. Le Troquet ou Chez Michel são também ótimos.” Consegui um lugar no Le Chateaubriand, sem reserva, uma chance na segunda rodada da noite que começa às 21h30. Nem a noite fria me fez desistir. Deixar Paris sem conhecer a comida desse francês criativo, filho de bascos, não estava nos meus planos. O lugar é como um simples restaurante de bairro: pequeno, barulhento, quase sem decoração, e você ainda fica colado no vizinho. O menu degustação de cinco pratos é no escuro, não há outra alternativa. A opção a prix-fixe, que muda diariamente, é a única opção e garante o preço baixo para esse tipo de restaurante: 60 euros. Le Chateaubriand subiu na primeira colocação como um foguete na lista dos 50 melhores restaurantes da revista Restaurant, depois desceu seis casas, entretanto, ainda brilha na 15ª posição. Ao final do jantar, veio o veredito: a comida consegue uma perfeita sintonia entre produtos frescos e técnica, é extremamente delicada e saborosa, tão apetitosa a ponto de seduzir até quem tem medo de combinações ousadas. O lombo de porco ibérico feito à baixa temperatura, servido com alcaparras crocantes, que eu nunca tinha comido; os queijos excepcionais; um sorvete de leite com maçã; e uma sobremesa de chocolate, deixaram-me completamente feliz. Com outra listinha feita pelo gourmand Trefois de quatro bistronomiques imperdíveis na mão – Le Ribouldingue, Les Papilles, L’Entredgeu e Le Repaire de Cartouche –, consegui conhecer os três primeiros e posso seguramente recomendá-los. Destaco o Le Ribouldingue. “Vamos fazer a festa!”, é assim que o restaurante se apresenta, numa
tradução livre do seu nome. Na entrada, entreguei-me de corpo e alma à terrine da casa feita de bochecha e de nariz de porco. Depois, faltou coragem para pedir a sugestão do dia: tripas e cérebro – talvez em pequenas porções, mas um prato inteiro, não sei não. “Eles adoram o abate”, avisam no cardápio. Eu vou com calma. Dos franceses na mesa ao lado só escutei: “Hum, hum.” Encerrei com um inesquecível sorbet châtaignes aux marrons confits. Tudo isso por 32 euros. Na saída, como avisou Trefois, foi só olhar à esquerda e ver a beleza da Catedral de Notre Dame iluminada.
Leitura Obrigatória Além desta relação, o leitor poderá encontrar dicas gastronômicas no caderno trimestral Paris Chique, um guia editado pelo jornal Le Figaro – o de maior circulação na França – todo em português. O novo caderno será vendido nas bancas e distribuído gratuitamente nos locais frequentados por turistas de luxo e nas agências de viagem de alto padrão de São Paulo e Rio. Mas eu não poderia deixar de citar também o Paris by Mouth (parisbymouth.com), que, além de dicas fantásticas, promove os passeios temáticos: só chocolates, só queijos, só doces, que eu, juro, ainda farei um dia.
Muitas vezes os bistrôs estão em bairros afastados, mas a boa comida compensa a distância.
Foto Divulgação
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SABORES
Bistrôs em Paris
Foto Romildo Voss Jr
Toque especial: os doces ao final da refeição garantem a satisfação do comensal. No detalhe, Les Ambassadeurs, dentro do requintado Hotel Grillon, também oferece uma versão bistronomique.
Blog do Luxo
Também fui bem sucedida na missão de encontrar um restaurante da minha lista numa sexta-feira à noite em Paris, sem reserva: La Gazzetta! Um encaixe e, pronto, rumo à Bastille. Na descrição das indicações, apenas “um italiano com aspirações gourmet.” Nem pense que vai encontrar um prato de massa leve, o chef quer mesmo é mostrar que sabe ousar. Ele sabe o que faz. Receitas clássicas executadas com perfeição. Há duas opções de cardápio. É um italiano gourmet em terras francesas para se recomendar. Quase todos os grandes hotéis oferecem em seus restaurantes opções de entrada, prato e sobremesa por preços camaradas para os padrões da cidade. Vale a pena. Eu escolhi o do hotel Crillon para um almoço no Les Ambassadeurs. Todo o luxo, o serviço impecável e a qualidade na refeição num endereço clássico por 68 euros no almoço é algo a ser considerado, já o jantar é para
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poucos. Não esqueço a terrine de foie gras – a melhor que já experimentei. O La Cuisine, do renovado hotel Royal Monceau, que no verão serve as refeições no terraço, é outra indicação especial. Apesar de mais caro, é para ser visitado sempre que possível. Algumas horas para comer bem também devem ser reservadas à Place de la Madeleine. No Café Prunier peça o caviar francês, acompanhado por blinis, creme azedo e batata. Sim, caviar fica uma delícia com o tubérculo. Eu achei mais suave do que o caviar russo. Quanto mais velho, mais acentuado o sabor, contaram-me. O salmão defumado nos Alpes Suíços “usando receita milenar” também é recomendado. Além das compras nas redondezas, como na Fauchon, que tem até escargots preparados para ir direto ao forno, pães, chocolates e doces, pode-se encontrar uma variedade de produtos de qualidade na Hediard, que tem seus famosos crepes dentelle, entre
as atrações. As melhores trufas negras da França estão em La Maison de la Truffe, tudo isso com a Madeleine ao fundo. Programa para deixar qualquer um satisfeito. Se estiver andando pelo charmoso bairro do Marais vá almoçar naquela que é considerada a melhor creperie de Paris, o Breizh Café, que lota nos fins de semana. Um toque japonês no lugar e uma lojinha para levar produtos especiais para casa são atrativos, além dos crepes, claro. É um lugar para se passar horas agradáveis. E se a temporada na cidade for mais longa, eu arriscaria um chinês, que não aceita reserva, tem bom preço e é mais do que recomendável. Falo do Délices de Shandong, descoberto por acaso. Voltando às compras, outro endereço para um momento caseiro, principalmente se um hotel não foi a hospedagem escolhida, é visitar a La Grande Épicerie de Paris, aliás, uma passada por lá é obrigação de qual-
Onde Comer COMIDA BOA, BONITA E BARATA EM PARIS Le Comptoir 33 1 4427-0797 5 Carrefour de l’Odéon, 75006 Le Dauphin 33 1 5528-7888 131 Avenue Parmentier, 75011 Le Chateaubriand 33 1 43 57 45 95 129 Avenue Parmentier, 75011 Le Ribouldingue 33 1 4633-9880 10 Rue Saint-Julien le Pauvre, 75005 Les Papilles 33 1 4325-2079 30 Rue Gay Lussac, 75005 L’Entredgeu 33 1 4054-9724 83 Rue Laugier, 75011 La Gazzetta
33 1 4347-4705 29 Rue de Cotte, 75012 Breizh Café 33 1 4272-1377 109 Rue Vieille du Temple, 75003 Hôtel Crillon - Les Ambassadeurs 33 1 4471-1616 10 Place de la Concorde, 75008 Hotel Royal Monceau - La Cuisine 33 1 4299-8800 37 Avenue Hoche, 75008 Délices de Shandong 33 1 4587-2337 88 Boulevard Hôpital, 75013 Café Boutique Prunier 331 4742-9898 15, Place de la Madeleine, 75008 Fauchon 33 1 7039-3800
26 Place de La Madeleine, 75008 Hediard 33 1 4312-8888 21 Place de la Madeleine, 75008 Caviar Kaspia 33 1 42 65 33 32 17 Place de la Madeleine, 75008 La Grande Épicerie de Paris 33 1 4439-8100 38 Rue de Sèvres, 75007 Pâtisserie des Rêves 33 1 4284-0082 93 Rue du Bac, 75007 Hugo et Victor 33 01 4439-9773 40 Boulevard Raspail, 75007 Jacques Genin 33 1 4577-2901 133 Rue de Turenne, 75003
Foto Romildo Voss Jr
quer gourmet. É impossível resistir ao “melhor mercado de comida do mundo”. E antes de deixar a cidade, é aconselhável visitar alguns endereços obrigatórios como a Pâtisserie des Rêves. Também visitei o Hugo et Victor e sai carregada de chocolates porque não conseguia mais comer na hora da visita. Sem arrependimentos. Endereço imperdível, assim como o Jacques Genin se o desejo for comer um mil folhas. E depois de fazer tantas indicações, foi inevitável lembrar de uma pessoa adorável, apreciadora de boas comidas e bebidas e frequentadora de bons lugares, parente distante, que foi enfática quando lhe disse, há alguns anos, que eu iria começar a escrever sobre gastronomia: “Nunca indique um restaurante para ninguém, cada um tem um gosto.” Agora é tarde.
ª posição na ainda brilha na 15 nd ria ub ea at Ch Le ant. da revista Restaur lista dos melhores
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ARREDORES Viagens Esportivas
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icar e prat ose d a t s boa d r e go a viaja chila, uma gum m a ê o c por al eam Se vo s, junt aenture-se e t r o esp oe posiçã de dis iros s rote e t s e bely d e Tom abian por F
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Foto HDW
SOBRE RODAS
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e você é aficionado por carros, motos e estradas, esta viagem foi feita pra você. A Bike Road Tour, agência especializada em viagens internacionais de moto e carro, reúne grupos interessados em destinos cobiçados como Califórnia e Flórida. Nesse tipo de aventura é importante ter experiência e uma boa programação. Para isso, a agência acerta todos os detalhes da rota. No pacote está incluído o acompanhamento para a retirada dos passaportes e vistos, aluguel das motos ou carros, reservas em hotéis, restaurantes e passeios, guia bilíngue, caminhão para transporte de bagagens e apoio. Ao chegar a esses lugares, os grupos alugam carros (as opções incluem Camaro e Mustang) ou motos (Harley- -Davidson, BMW e Honda) e viajam pelo roteiro previamente escolhido. A próxima aventura na Califórnia está marcada para 22 de
outubro de 2012. O roteiro inclui Los Angeles, Monument Valley, Las Vegas, San Francisco e Costa do Pacífico (Big Sur), com duração de 18 dias e 17 noites. No caminho, especificamente em Las Vegas, o grupo terá a oportunidade de participar de eventos como o Sema Show (considerada a maior feira de customização de carros e motos dos Estados Unidos) e o NHRA (National Hot Rod Association), campeonato americano de arrancadas. Tudo isso devidamente gravado e fotografado pela equipe.
QUEM LEVA Bike Road Tour 41) 3024-6761 www.bikeroadtour.com.br A empresa reúne grupos de pessoas interessadas em viagens de moto ou carro pela Califórnia e Flórida.
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ARREDORES Viagens Esportivas
SURF TRIPS
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ontato com a natureza, cultura local e ondas perfeitas são os atrativos que a operadora de turismo Wellcome Surf Trips oferece aos seus viajantes. Os três sócios da agência são surfistas e, claro, conhecem os principais destinos de surf do mundo. Juntos, prestam consultoria especializada na hora de escolher os roteiros, que são preparados de acordo com a experiência de cada surfista. Costa Rica, El Salvador, Indonésia e Peru estão na lista dos países mais procurados por quem busca boas ondas. O “Surfe Só Para Meninas” na Costa Rica, por exemplo, e as chamadas boat trips são os roteiros mais procurados. O primeiro inclui acompanhamento de guias locais surfistas que ficam encarregados de levar as garotas para surfarem nos melhores picos do país. Durante a viagem também há aula diária de yoga, massagem e outras
Foto Fundos Wiki
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atividades. As boat trips acontecem nas Ilhas Mentawais, na Indonésia, e também fazem a cabeça dos aventureiros. Durante 12 dias os surfistas ficam a bordo de um barco totalmente equipado, desfrutando de uns dos melhores picos de surf do mundo. As viagens são realizadas durante todo o ano, de acordo com a época das melhores ondas de cada destino. Réveillon na Costa Rica e nas Ilhas Mentawais são as próximas saídas programadas. A dica da agência para esses roteiros é muita disposição, preparo físico para enfrentar longas sessões de surf, e uma boa máquina fotográfica para registrar tudo.
QUEM LEVA Wellcome Surf Trips (41) 3249- 4416
www.welcomesurftrips.wordpress.com
Foto Sérgio Holanda
TRAVESSIA 4x4
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ercorrer as mais selvagens praias do extremo norte da costa brasileira em jipes 4x4 é a proposta deste roteiro. Uma verdadeira expedição, que possibilita ao viajante conhecer toda a região costeira entre Lençóis e Jericoacoara. Os Lençóis Maranhenses são famosos por suas dunas brancas recortadas por águas verde-azuladas, rios e manguezais. No litoral cearense, Jericoacoara tem praias extensas de mar azul, e atrai muitos praticantes de kitesurf e windsurf pelas excelentes condições de vento. Por ser uma travessia, dorme-se em cinco hotéis diferentes durante a viagem. No final, as duas noites em Jeri são suficientes para repor todas as energias. Um motorista profissional, um guia e um anfitrião da agência acompanham os viajantes durante a expedição. As noites são distribuídas entre as pequenas
cidades e vilarejos de Santo Amaro, Atins, Barra Grande e Jericoacoara. Após explorar o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, os aventureiros embarcam em veículos 4x4, percorrendo alguns trechos por praias virgens e outros por estradas de areia e asfalto até chegar a Jeri e, aí sim, relaxar por alguns dias. O roteiro dura dez dias e nove noites. Quem proporciona a experiência é a Matueté Brasil, considerada a principal operadora de viagens personalizadas do Brasil.
QUEM LEVA Matueté Brasil (41) 3071-4515 www.matuete.com Caminhadas nas dunas, mergulhos nas lagoas e passeios de barco também fazem parte do roteiro.
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ARREDORES Viagens Esportivas
MERGULHO
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Arquipélago de Fernando de Noronha é um dos destinos mais belos e desejados do Brasil. Para os amantes do mergulho, então, nem se fala. O local é o principal e mais bonito parque marinho brasileiro, considerado por muitos profissionais como um dos melhores lugares do mundo para a prática de mergulho. A operadora Freeway Diving (divisão da Freeway Brasil, operadora pioneira em ecoturismo no Brasil) traz alguns roteiros com viagens voltadas para a prática de mergulho autônomo, ou seja, para mergulhadores credenciados. Há opções de mergulho de nível básico e avançado. No roteiro estão inclusos quatro noites e cinco dias, três saídas com dois mergulhos – incluindo guia, cilindro e lastro (equipamento utilizado para compensar
a flutuabilidade causada principalmente pela roupa isolante). Apesar das belezas do fundo do mar serem a principal atração, os passeios na Trilha do Atalaia, do Golfinho e do Leão onde se encontram as melhores praias de Noronha – são imperdíveis. Então, caso sobre um tempinho, não se esqueça de agendá-los.
QUEM LEVA Freeway Diving (11) 5088-0999 www.freeway.tur.br Fernando de Noronha é considerado o principal e mais belo parque marinho brasileiro. O mergulhador pode desfrutar de uma visibilidade de até 50 metros.
Foto The Divecentre
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Borja a cidade do Ecce Homo
O restauro infeliz de uma pintura do século 19 em Borja, Espanha, tornou-se um dos maiores fenômenos midiáticos de 2012 e revelou um curioso destino turístico por Juliana Reis
“S
í, Borja está de moda”, respondeu a moça do escritório de turismo
quando finalmente expliquei meu interesse nesse município espanhol de 5 mil habitantes na província de Zaragoza, Comunidade Autônoma de Aragão. Deixando tudo às claras ficou mais fácil, uma vez que o motivo do interesse era um tanto constrangedor. É que Borja tem sido palco de um dos maiores fenômenos midiáticos de 2012, desde que uma octogenária local resolveu restaurar uma pintura do século 19 em uma das igrejas da cidade, em agosto. Desprovida de qualificações adequadas, a borjana Cecilia Giménez provocou um dos mais infelizes retoques de obra de arte que se tem notícia de todos os tempos. O restauro teve repercussão internacional e a pacata Borja ganhou a atenção do mundo inteiro. Até a companhia aérea britânica Ryanair – atuante em 28 países – anda anunciando pacotes para lá.
Borja é mais do que boas risadas do restauro malsucedido.
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Oki Sato
Ron Arad
Zaha Hadid
Designers e Arquitetos
Karim Rashid
Irmãos Campana
PERSONAGENS
THE DREAM 40
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Philippe Starck
Tom Dixon
Antonio Citterio
Konstantin Grcic
Patrícia Urquiola
TEAM
A TOP VIEW reuniu nesta edição dez dos mais notáveis profissionais do design e arquitetura da atualidade que ganharam destaque mundial com suas criações. Tem até suingue brasileiro. Confira! por Patrícia Ribas
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Designers e Arquitetos
Philippe Starck Beleza é utilidade De enfant terrible, no início da carreira, a empresário consolidado e preocupado com questões sócio-ambientais.
“D
em Paris, com inauguração prevista para setembro deste ano, ao Hotel Fasano, no Rio de Janeiro, remodelado por ele em 2007. “Ele transmite uma postura confortável mesmo quando está ousando e/ou subvertendo”, diz Dulce Albach, coordenadora do curso de Design de Produto da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Isso libera limites, configurando sua atuação nas mais diferentes áreas, com diferentes materiais, em diversos países e com grande segurança, para além das críticas e das controvérsias.”
Foto divulgação
esign é uma ferramenta para ajudar a tribo.” Autor de frases como essa – mote para a criação de produtos funcionais, em detrimento de peças apenas bonitas –, o parisiense Philippe Starck, 63 anos, consolidou-se como criador inquieto e preocupado com questões como a democratização do design e o meio ambiente. Suas peças tornaram-se icônicas, como a cadeira Louis Ghost ou o espremedor de suco Juicy Salif. Starck também virou grife para hotéis, restaurantes e cafés descolados no mundo todo – do aguardado Ma Cocotte,
Abbracciaio
Masters Chair Também para a Kartell, a cadeira Masters foi criada especialmente para o Salão Internacional do Móvel de Milão de 2009. Combina os contornos de três cadeiras icônicas do design: a Tulip Armchair, de Eero Saarinen, a Series 7 Chair, de Arne Jacobsen, e a Eiffel Chair, de Charles Eames.
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Fotos divulgação Kartell
Elegante candelário de alumínio que na disposição das duas velas sugere um abraço apaixonado. As duas peças unidas dão ainda estabilidade ao conjunto. Criação da coleção deste ano desenvolvida por Starck para a marca italiana Kartell.
Karim Rashid Excentricidade no luxo Designer ousado, vai do rigor da academia, como professor respeitado, à alegria das pistas de dança, como DJ.
se uma década de experiência como professor e – surpresa – eventualmente se apresenta como DJ. “Rashid consegue provocar a percepção sensorial dos objetos através do seu design ousado e inusitado. Potencializa grandes marcas através da pluwralidade de sua autoria, deixando em evidência sua assinatura e reiterando o seu compromisso comercial, conquistado pela visibilidade de suas criações”, diz Ana Brum, coordenadora do curso de Design da Unicuritiba e diretora técnica do Centro de Design do Paraná. “As criações dele são ainda extremamente sensuais”, avalia.
Foto divulgação
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om uma personalidade solar, que reflete muito de sua origem multicultural – egípcio criado em Londres e radicado em Nova Iorque – Karim Rashid, 52 anos, trouxe ao design contemporâneo algo de ousado e – por que não? – excêntrico. Dono de um currículo que soma cerca de 3 mil projetos com sua assinatura, trabalha com marcas absolutamente diversas: Citibank, Hyundai, Samsung, Veuve Clicquot, Audi e Swarovski, para citar algumas. Sua atuação abrange desde a criação de produtos até o desenvolvimento de marcas e artigos de luxo, além de design de interiores para hotéis, bares e restaurantes. Tem qua-
GARBO Com a lixeira de contornos suaves, que sugerem curvas hollywoodianas, criada para a canadense Umbra, na década de 1990, Rashid mostrou que até o lixo pode ter sua dose de graça e glamour. A peça virou uma febre nas lojas e até hoje é sucesso de vendas.
Bobble Inovação e sustentabilidade: a garrafa d´água, além do desenho moderno, tem um filtro de carvão (que pode ser trocado e é vendido separadamente). A proposta é encher com água da torneira mesmo – o filtro garante a retirada de impurezas e o frescor.
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Designers e Arquitetos
Patrícia Urquíola Feminina sem frescura
Foto Divulgação B&B
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om móveis e produtos re- micas Landscape, desenvolvida para pletos de curvas e formas a tradicional fábrica Rosenthal – que arredondadas, que às vezes foi exibida em 2008, no Design Museum, de Londres – remetem a e, mais recentemenflores ou ondas, a Ela representa em te, a delicada rolha espanhola Patricia grande estilo um Fil d’Or, desenvolUrquiola, 51 anos, vida para o champatransmite muito sofisticado aconnhe francês Ruinart. de feminilidade – chego, delicadeza Nascida em mas sem a pecha e contato humano Oviedo, Patricia de “mulherzinha”. característicos de cursou a Faculdade Como define a deuma especial ‘alma de Arquitetura da signer Dulce AlbaPolitécnica de Mach, coordenadora feminina’.” dri e o Politécnico do curso de Design de Milão, onde se da UFPR: “Ela representa em grande estilo um sofisti- formou em 1989. Há muitos anos cado aconchego, delicadeza e contato trabalha na Itália, onde mantém humano característicos de uma espe- desde 2001 seu próprio estúdio. Lá, além de design de/produto, trabalha cial ‘alma feminina’.” Exemplos disso são as linhas de com arquitetura, instalações e desensofás produzidas para a rede italiana volvimento de conceito. Moroso, a série de porcelanas e cerâ-
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Espanhola de Oviedo, vive e trabalha na Itália e é uma das mulheres mais respeitadas no ramo do design.
Foto Divulgação B&B
Canasta Essa série de sofás e poltronas que remetem à textura arredondada e trançada de cestas de palha (“canasta”, em espanhol) foi desenvolvida para a rede italiana B&B em 2007, para ambientes externos. Combina a nostalgia do material à modernidade das formas.
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Konstantin Grcic Simples e Eficiente
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so d´Oro, uma das mais importantes e tradicionais premiações do design industrial europeu. Recentemente, ganhou repercussão sua cadeira Médici, criada para a italiana Mattiazzi. A peça, toda em madeira, de linhas retas e concepção clássica, foi definida pelo próprio designer como uma espécie de “volta às origens” – na juventude, Grcic fez um curso técnico de marcenaria, anos antes de estudar design no Royal College of Art, em Londres. Além da produção de móveis, também atua como curador de exposições sobre design para museus no mundo todo. Foto Divulgação
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specializado na criação de mobiliário – sempre com foco no consumidor final, o alemão Konstantin Grcic, 47 anos, é hoje um dos mais respeitados designers industriais do mundo. Desenvolve produtos para grandes companhias, como a japonesa Muji, a italiana Magis e a alemã Authentics, além de manter seu próprio negócio, a Konstantin Grcic Industrial Design (KGID), empresa criada por ele em 1991, com sede em Munique. Grcic tem entre suas criações mais conhecidas a cadeira Myto e a luminária Mayday Lamp, ambos projetos premiados com o Compas-
Creio que a proposta foi a mistura entre ingenuidade e rudeza”. Konstantin Grcic, sobre a cadeira Chair one
Designer alemão costuma ser descrito como “minimalista”, mas diz preferir a palavra “simplicidade” para definir seu trabalho.
Chair One Pensada a partir de uma bola de futebol tradicional, a cadeira Chair One, lançada em 2004, tem o assento feito em alumínio e pelo menos duas opções de base. É uma das peças mais populares do designer.
Foto Divulgação
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Irmãos Campana Brasileiros Singulares
Foto Divulgação
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Do interior de São Paulo para o mundo, os reservados irmãos Campana seguem levando humor e leveza ao design contemporâneo.
iscreta e pouco chegada a holofotes, a dupla brasileira ganhou o mundo com projetos que trazem muito de inusitado, especialmente no que diz respeito à escolha de materiais. São cadeiras de imensos emaranhados de cordas, poltronas feitas com centenas de bonecas e bichos de pelúcia, mesas com tampo de ralo de PVC, luminárias de gravetos de bambu e sandálias de plástico. “Os irmãos Campana conseguem em sua irrequieta obra trazer a expressão brasileira, inventiva, instigante, lúdica. Ao mesmo tempo em que retratam um momento e local, o Brasil, eles são universais”, diz Ken Fonseca, mestre em Tecnologia
e professor do curso de Design da UFPR. “Eles rompem as tênues barreiras entre a arte e o design ao trabalhar com uma linguagem híbrida, rompendo também com os aspectos puramente funcionais dos produtos.” Nascidos no interior de São Paulo, Humberto e Fernando Campana, 59 e 51 anos, foram os primeiros designers brasileiros a exibir trabalhos no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), em 1994. Recentemente, receberam mais uma premiação internacional: o prêmio Criação e Patrimônio 2012 do Comitê Colbert, instituição que reúne 75 casas de luxo francesas e 13 instituições culturais.
Melissa Experimentação com o mundo da moda: em 2004 foi iniciada parceria dos Campana com a Grendene, empresa brasileira de calçados. A série foi idealizada a partir do próprio trabalho dos irmãos com fios de PVC e já ganhou várias reedições. Fotos Divulgação
Cadeira Vermelha Criada em 1993, é formada por um calculado emaranhado de corda amarrado a uma estrutura de aço. Produzida pela italiana Edra, foi a obra que deu projeção internacional à dupla e marcou o início da produção industrial de seus trabalhos.
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Designers e Arquitetos
Tom Dixon Design para todos
Foto Divulgação
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Com peças vendidas em mais de 60 países, Dixon provou que o autodidatismo pode ser um excelente negócio.
Etch Web
riatividade com tino comercial é a habilidade de Tom Dixon, 59 anos, que
começou a carreira por acaso – soldando sozinho uma motocicleta quebrada, em 1983. Pegou gosto pela coisa e passou a criar peças de mobiliário: ganhou o mundo. Questionado certa vez sobre sua falta de formação acadêmica em entrevista concedida à equipe do Museu Design, de Londres, declarou que via nisso algo positivo: “Pude experimentar sem restrições e cometer meus próprios erros. Como resultado, desenvolvi minha própria atitude.” A partir de criações com a cadeira S-chair e a luminária The Jack Light,
Fan Chair Natural Aqui, como em várias de suas criações, Dixon faz uma releitura de móveis ingleses tradicionais. Lançada em 2011, a peça de madeira foi idealizada como uma versão moderna da clássica cadeira Windsor, um dos ícones do design britânico.
Parte da coleção Luminosity, apresentada no Salão Internacional do Móvel de Milão deste ano, a luminária pendente Etch Web é composta por uma grande e leve esfera (65 cm de diâmetro, com menos de 1 quilo). Quando acesa, produz sombras em forma de ângulo. Fotos Divulgação
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passou da produção “caseira” para a profissionalização. Apurou o faro comercial na Habitat, rede de móveis e decoração britânica. “Com firmeza geométrica, ele dá leveza a produtos tradicionais, transformando-os em objetos de desejo democráticos, quase unânimes”, diz a designer Ana Brum, diretora técnica do Centro de Design do Paraná. Nascido na Tunísia de pai inglês e mãe franco-letã, Dixon cresceu em Londres, onde mantém desde 2002, entre outros projetos, a companhia de criação e produção de peças de iluminação e mobiliário que leva seu nome. A marca lança coleções anualmente e vende em mais de 60 países.
Ron Arad Experimentação
cionalmente com obras desafiadoras e a proposta de fugir do comum e da produção em massa. “Para ele não existe uma linha entre arte e design”, diz o professor Ken Fonseca, do curso de Design de Produto da UFPR. “Desenvolve peças únicas ou em pequenas séries, não mais definidas pelos processos produtivos, mas desafiando as limitações existentes.” Nascido em Tel Aviv, mudou-se para Londres em 1973 para estudar arquitetura. Ganhou fama nos anos 80 como designer autodidata, fabri-
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cando móveis que mais pareciam esculturas – caso da Rover Chair, primeira peça que ganhou destaque: um assento velho de carro acoplado a uma estrutura de sucata. Arad também especializou-se em unir tecnologia a seus projetos, como na instalação Curtain Call. Essa cortina feita de 5.600 barras de silício, suspensa em um anel de 18 metros de diâmetro, serviu de tela para filmes, performances e interação com o público durante o festival Bloomberg Summer do centro cultural Roundhouse de Londres, em 2011. “Com ele, o design redescobriu a sua liberdade de criação”, conclui Fonseca. Foto Anne Purkiss
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vesso a rótulos, o designer israelense Ron Arad, 61 anos, projetou-se interna-
Conhecido por associar como poucos a arte ao design, Arad defende a originalidade de suas criações em detrimento do grande mercado.
Para ele não existe uma linha entre arte e design.” Ken Fonseca, professor da UFPR
Fan Chair Natural O preço da exclusividade: cadeira de malha de aço e curvas sinuosas é parte de um lote de apenas cinco peças, criado por Arad em 1994. Durante um leilão, em 2009, foi arrematada por um colecionador suíço por 88.600 euros (R$ 225 mil, em cotação atual). Foto divulgação koller auktionen
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Zaha Hadid Topografia Visionária
Fotos Divulgação
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Arquiteta ganhou renome no meio do design com o estilo futurista e elegante que confere a suas criações.
om suas linhas fluidas e formas dinâmicas, a iraquiana Zaha Hadid, 62 anos, conquistou respeito mundial por seu trabalho tanto em arquitetura quanto em design. Para entender o porquê desse sucesso, basta ver a mesa Glacial Liquid ou o projeto do Centro Aquático de Londres, onde foram realizadas as provas de natação e outras modalidades aquáticas nas Olimpíadas deste ano. “Difícil falar desta arquiteta que, pelo menos na nossa cultura, parece não estar neste tempo”, diz a coordenadora do curso de Design de Produto da UFPR, Dulce Albach. “Zaha é do futuro, nos leva a pensar: ‘Isso é ficção ou realidade?’”
Zaha trabalha a interação entre paisagem, geologia e arquitetura utilizando tecnologia de ponta, o que leva a resultados por vezes inesperados. “É genial ter sempre uma sensação de surpresa e admiração pelas novas possibilidades que ela apresenta, para além do óbvio, pela inquietação que me provoca quanto à relação tempo e espaço”, opina Dulce. Premiada internacionalmente, também tem sua obra exposta com destaque em museus do mundo todo. Em 2010 recebeu da Unesco a condecoração Artista da Paz, e neste ano o título de Dame Commander da Ordem do Império Britânico.
Roca Gallery O projeto desta galeria situada em Londres, mantida pela empresa de acessórios para banheiros Roca, é todo baseado no movimento da água, com formas fluidas e curvas. O prédio foi inaugurado no ano passado e tem na arquitetura de Zaha uma de suas atrações.
Liquid Glacial Table O efeito da obra é surpreendente – parece mesmo uma escultura de gelo suspensa. Toda feita em acrílico, a mesa foi desenvolvida neste ano e se propõe, a despeito da aparência, a ser uma peça funcional e ergonômica. Foto Jacopo Spilimbergo
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Foto divulgação roca
Oki Sato Oriente Cosmopolita
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próprio estúdio na cidade, o Nendo. Três anos depois, inaugurava uma filial em Milão. Tem suas coleções exibidas em museus do mundo todo e somente neste ano já recebeu dois prêmios como designer do ano, pelas revistas especializadas Elle Décor e Wallpaper. Na relação de clientes, quase uma centena de marcas, uma rica amostra da diversidade do trabalho da Nendo. Estão lá desde a tradicional rede de móveis italiana De Padova às maisons de luxo Louis Vuitton e Hermès. Também estão nesse rol o chá inglês Lipton e produtos de beleza da japonesa Shu Uemura. Fotos Divulgação
anadense de origem japonesa, Oki Sato, 35 anos, emprega muito das raízes nipônicas em seus trabalhos. Mas sem cair no caricato e com um toque bem-humorado – como na Cabbage Chair, cadeira repolho, em tradução livre –, uma de suas criações mais conhecidas: um grande rolo de papel que, desfolhado, transforma-se numa cadeira. Apontado pelo New York Times como designer superstar, também figura na lista dos 100 Japoneses Mais Respeitados da revista Newsweek. Formou-se em arquitetura pela Universidade Waseda, de Tóquio, em 2002. No mesmo ano, abriu seu
Thin Black Lines A cadeira de metal, que compõe a série Thin Black Lines, foi exibida em diversos museus pelo mundo a partir de 2010. O desenho é todo inspirado na caligrafia japonesa e cria um efeito bidimensional, dependendo do ângulo em que a peça é vista.
Cabbrage Chair Peça criada em 2008 a pedido do estilista japonês Issey Miyake, que buscava uma forma de reaproveitar as sobras resultantes da fabricação de papel plissado. O material recebeu resina, foi enrolado e só: nem pregos nem nada. Para sentar, basta cortar o rolo e desfolhar. Fotos Divulgação
Soma de juventude, trabalho duro e humor resultaram em reconhecimento e produtos com sua assinatura comercializados em diversos países.
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Designers e Arquitetos
Zaha Hadid Design Italiano
Foto Wolfgang Scheppe
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Ele tem um estilo puramente italiano, marcado por peças de linhas simples e sofisticadas, tanto em mobiliário quanto em projetos de arquitetura.
ono de um estilo que mescla o luxo a formas limpas e simples, o italiano Antonio Citterio, 62 anos, começou a trabalhar com projetos de arquitetura e design mesmo antes de se formar: iniciou o próprio negócio em 1972 e não parou mais. Desde 1999 é parceiro da arquiteta italiana Patricia Viel em um estúdio de criação de nível internacional. Nele trabalha desde desenvolvimento de móveis e produtos de decoração (algumas linhas são fabricadas na filial brasileira da Axor-Hansgrohe) até grandes construções, como o hotel da marca de luxo Bulgari, em Londres, e a igreja de Áquila, cidade
italiana que há três anos foi devastada por um terremoto. Essa obra, aliás, é finalista do prêmio Medaglia d’Oro all’Architettura Italiana, que será anunciado em outubro. O arquiteto também é professor na Academia de Arquitetura da Universidade da Suíça Italiana. “Citterio reflete o que entendemos comumente por ‘design italiano’, ou seja, a perfeita combinação entre os objetos e o espaço, entre forma e função, somando e tensionando formas simples, planos e sólidos, com cores e sombras”, explica Ken Fonseca, professor do curso de Design da UFPR. “É simples e elegante.”
Mart Série de cadeiras e poltronas de couro e tecido criada por Citterio em 2003 para a rede de móveis italiana B&B. Reúne os traços que marcam o trabalho do designer, com linhas puras. Aqui, versão em tecido para poltrona pequena.
A poltrona em couro reclinável também faz parte da coleção da B&B. Nesse material, o trabalho de artesanato tradicional italiano do couro modelado foi somado a um processo tecnológico moderno. A peça prima pela qualidade e pelo conforto.
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Tom Zé
A LÓGICA DO
fotos divulgação
Em seu novo álbum, Tropicália Lixo Lógico, Tom Zé usa elementos de história, literatura, antropologia e até neurociência para rever o movimento do qual fez parte no final dos anos 60 por Abonico R. Smith
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Ele é o que há de mais próximo de um matemático-roqueiro”, afirmou Jon Pareles, crítico musical do The New York Times.
companhar o ritmo de Antonio José Santana Martins é um desafio extramusical. O artista – que completou 76 anos no último dia 11 de outubro – tem uma das mentes mais irrequietas da música brasileira. Isso se não for a mais irrequieta. Conseguir uma entrevista com ele é sempre uma tarefa difícil, talvez pelas reminiscências da mágoa que – segundo dizem – ele e a esposa Neusa, que também é sua empresária, têm da imprensa, devido ao período no qual o músico ficou no obscurantismo, nos anos 70 e 80. Sua peculiar linha de raciocínio sempre vai longe. A disposição também. “Eu não sou um gênio, sou um carpidor de tirar sangue da pedra. Trabalho 16 horas por dia para tirar meia dúzia de compassos. Esse trabalho é feito dessa maneira e agora ainda com a responsabilidade de tentar fazer canções que tenham também a beleza como parte de sua estrutura”, emenda. Por causa de toda essa disposição para criar – embora tenha tantos afazeres, como o de ser o jardineiro do prédio onde mora, em São Paulo – Tom Zé parece manter infinita sua capacidade de fazer discos. Nos últimos 15 anos ele já lançou 15 títulos diferentes, entre álbuns de carreira e alguns EPs. Sua mais nova invencionice chegou em setembro do ano passado e chama-se Tropicália Lixo Lógico, sua versão sobre o movimento liderado por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Trata-se do álbum mais independente já feito por ele, pois não saiu com o rótulo de um selo fonográfico e ainda está disponível para ser adquirido no site oficial do cantor e compositor (www. tomze.com.br). “Todos os meus últimos discos têm tido temas que são trabalhados, desenvolvidos no decorrer deles”, explica. “Então, a Tropicália é mais um desses temas.” E é justamente por isso que Tom Zé já começa surpreendendo. Muito já se falou de toda a ebulição artística e cultural vivida no Brasil do final da década de 60. Depois de muitos livros, documentários, depoimentos Edição Especial
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Na universidade, então, é lixo lógico que não acaba mais.” Tom Zé
e relançamentos fonográficos, o que haveria de novo para ser explorado a respeito do Tropicalismo? No que depender deste que foi um dos baianos que se tornaram vértices do movimento em sua facção musical, ainda há muita coisa para ser descoberta e dita. Nem que, para tal, seja preciso navegar entre diversas áreas, como história, literatura, antropologia e – acredite – neurociência. São cinco as faixas que compõem a coluna vertebral temática de Tropicália Lixo Lógico. Apocalipsom A (O Fim no Palco do Começo) e Apocalipsom B (O Começo no Palco do Fim) servem de introdução e encerramento do trabalho. Na abertura, Tom Zé apresenta uma espécie de nascimento mitológico. Quanto à vinheta final, ele mesmo assume. “Faço plágio de um poema chamado The Second Coming, no qual [o famoso poeta e dramaturgo irlandês] Yeats trata da necessidade que o mundo tem de uma segunda encarnação de Cristo.” Tropicalea Jacta Est é uma ode a alguns dos principais estandartes das artes e ideias tropicalistas naquela São Paulo da segunda metade dos anos 60. José Celso Martinez Corrêa, Décio Pignatari, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Torquato Neto aparecem na letra. Embora não cite nominalmente a dupla Gilberto Gil e Caetano Veloso, Tom Zé usa os dois como exemplo
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para explicar a faixa. “Ela se refere a Caetano e Gil tirando o Brasil daquela idade média emperrada que o país vivia no fim dos anos 60, injetando energia na mentalidade dos jovens para o país encontrar logo depois a segunda revolução industrial”. Já Marcha-Enredo da Creche Tropical, e a faixa que dá título ao álbum, amarram-se em uma dobradinha que discorre sobre as ideias centrais por trás da formação artística e intelectual de alguns dos grandes tropicalistas – mais precisamente ele próprio. “Na primeira, eu faço um gráfico explicativo que conta o que era a creche tropical. A nossa educação antes de, na escola primária, entrar em contato com a concepção aristotélica [que afirma, a grosso modo, que todo ser humano pode decidir se conformar ou não com alguma coisa] que predomina em todo o pensamento ocidental”. Já deu para perceber que para entender – e explicar – Tropicália Lixo Lógico, é preciso muitos minutos de conversa com Tom Zé (na verdade, seria melhor descrever como assistir a uma aula).
Número Zero Curioso é ver os caminhos que a mente do tropicalista percorreu para desenvolver o conceito do novo álbum. A complexa tese tem início em um livro de ficção científica e no ano em que o homem chegou à lua. Naquela ocasião, ele – e quase toda a humanidade – estava no frisson e na excitação com aquela que vinha sendo anunciada como “a mais audaciosa aventura humana de todos os tempos.” “Foi quando eu li uma coisa que aguçou muito a minha curiosidade: a novela de ficção científica O Fim da Infância, de Arthur Clarke.” O cantor mergulhou profundamente nas páginas desse livro escrito pelo autor mais conhecido por outro romance, 2001 – Uma Odisséia no Espaço (que acabou sendo adaptado para o cinema pelo diretor Stanley Kubrick e até hoje é um dos filmes
mais cultuados de toda a história do cinema). “Tomei conhecimento dessa coisa que me tirou do chão e despertou a minha curiosidade. Pela letra de 2001, que eu fiz e a Rita Lee veio a musicar, você pode imaginar como aquele assunto me interessava”, relembra. Em O Fim da Infância, Clarke diz que os árabes, que já haviam invadido a Península Ibérica no século 8, desejavam entrar em toda a Europa. E, se o rei da França, Charles Martel, não tivesse impedido que os exércitos árabes expandissem a sua invasão, nós estaríamos indo às estrelas mais próximas e não simplesmente
Passado,
presente e futuro
nas Telas
No final de 2012, para marcar o ano de celebração do 35° aniversário da Tropicália, dois documentários ganharam as telas de cinemas alternativos de todo o país. E m Tropicália (da Paris Filmes, que acaba de lançar o documentário em DVD), o diretor Marcelo Machado preserva imagens da época e adiciona o depoimento de pessoas envolvidas com os olhos e sentimentos do presente, sem poupar as dores provocadas pelas atitudes políticas de artistas e militares do regime ditatorial da década de 1960. Já a dupla Ninho Moreas e Francisco César Filho se preocupa em olhar, sob a ótica do século 21, um dos momentos culturais mais ricos do Brasil. Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now! (Vitrine Filmes) traz esquetes protagonizados por atores e um show com músicos como André Abujamra, Luiz Caldas e Alexandre Nero fazendo releituras contemporâneas de clássicos e pérolas perdidas naquele tempo. Também há espaço para pitadas de politização, como a inclusão da primeira presidenta brasileira, Dilma, e o depoimento de Gil, o tropicalista que recentemente ocupou o cargo de Ministro da Cultura no governo Lula.
ao nosso satélite. “Nossa! Quando eu li isso, acompanhando como eu acompanhava com toda curiosidade cada passo que aproximava o momento do homem chegar à lua, me admirei com o fato de o homem ir às estrelas mais próximas.” Naquele mesmo século 8, segundo Clarke, os árabes eram o povo com as ciências mais desenvolvidas da Terra. Eles haviam acabado de inventar o número zero e estavam divulgando esse novo recurso de operações aritméticas e matemáticas. Combustível suficiente, aliás, para alavancar a estupefação de Tom Zé. “Como é que a civilização da Babilônia se pôs em pé? A civilização egípcia, a greco-romana, que é, enfim, a base de toda a nossa cultura... Pensava que o zero tinha sido concebido desde que o mundo é mundo, lá na Arca de Noé, e depois saber que esse zerinho tão
esquivo, retardado e preguiçoso foi pensado apenas em uma época tão próxima de nós?” A explanação continua agora com Tom Zé lançando um olhar sobre o que acontecia na Europa naquele século. Segundo o cantor, a Península Ibérica (Portugal e Espanha) era civilizada pela mais sofisticada cultura do momento. Se na Idade Média esses conhecimentos científicos estivessem na mão de todos os povos da Europa, o desenvolvimento das ciências estaria muito mais sofisticado.
DO HIPOTÁLAMO AO CÓRTEX A empolgada explicação não só continua como também ganha ligações com a história do nosso país. “Imagine minha admiração quando
eu percebi que toda essa história da inteligência no planeta Terra tinha a ver com a vida no Nordeste.” Logo quando os árabes se retiraram da Península Ibérica, os portugueses saíram para as suas grandes navegações e o Brasil foi descoberto. “A mentalidade do povo português estava contaminada com aquele amor pelas ciências e as primeiras bandeiras que foram para o sertão em 1576 levaram essa mente carregada de curiosidade especulativa.” Tom Zé lembra que o caboclo – a primeira sub-raça brasileira a habitar o Nordeste do país, e que é fruto da miscigenação de portugueses, índios e negros – vivia em situação de pobreza e analfabetismo. Mesmo assim, fazia questão de preservar suas raízes culturais, principalmente o culto da palavra: “A palavra, no Nordeste, é a moeda mais forte, mais valorosa que
Prestes a completar 80 anos, o cantor brinca que nasceu na Idade Média e chama sua região natal, a cidade de Irará, na Bahia, de “pré-gutenberguiana”.
Foto Andre Conti
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circula e energiza a vida mental das populações. Como a cultura moçárabe estava como uma constante no sertão e em parte do recôncavo, acabávamos sendo educados até os oito anos de idade com ela. Só vínhamos a tomar contato com a concepção de mundo aristotélica no momento em que entrávamos na escola primária.” O baiano de Irará, então, volta os olhos para o raciocínio que veio a desencadear a ideia do tal “lixo lógico” que faz parte do título do álbum e de uma das faixas. “Enquanto o professor resolvia as questões e os raciocínios de uma maneira aristotélica, nós imaginávamos ‘e se eu pensasse isso como tipo de avaliação e pensamento com os quais eu fui criado?’.” No final das contas, o problema também poderia ser resolvido. “A verdade é que dava um restinho, uma ligeira diferença.” Só que essa “pequena diferença” nunca acaba sendo descartada. E, para o artista, é acumulada durante a vida. “O cérebro humano desde os tempos das cavernas não joga absolutamente nada fora. O conhecimento que deixa de ser usado é acumulado no hipotálamo. Durante toda a escola primária, lá vai o hipotálamo
sendo carregado com uma espécie do que vim a chamar de ‘lixo lógico’. No ginásio, isso aumenta imensamente. E tome-lhe lixo lógico no hipotálamo. Na universidade, então, é lixo lógico que não acaba mais”, exclama. Tom Zé finaliza sua aula desembocando na formação do movimento do qual ele fez parte e agora revê de maneira singular. Ele relembra que dois gênios como Gilberto Gil e Caetano Veloso estavam em São Paulo na época em que houve a redescoberta da poesia de Oswald de Andrade e que, no final dos anos 60, havia uma grande animação com Helio Oiticica e seus parangolés, sem falar do encontro com [o maestro] Rogério Duprat, Rita Lee e os Mutantes. “Toda aquela agitação cultural acabava criando uma espécie de necessidade iminente de pensar um Brasil diferente. E aí eu digo que isso serviu como uma espécie de gatilho disparador, que fez o lixo lógico vazar do hipotálamo para o córtex de Gilberto Gil e Caetano Veloso. A consequência disso, por fim, teria sido o desencadeamento do Tropicalismo.”
Os convidados especiais de
Tom Zé
Mallu Magalhães foi convidada para participar das faixas Tropicalea Jacta Est e O Motobói e Maria Clara. Ela, que já tinha a admiração do cantor, trouxe jovialidade ao álbum. Rodrigo Amarante participa de NYC Subway Poetry Department, uma canção que Tom Zé fez depois de observar o metrô em Nova Iorque. “Na hora em que o trem vai partir e as portas vão se fechar, uma voz grave repete: ‘Stand clear of the closing doors’, que quer dizer ‘Afastemse das portas, pois elas irão fechar’. A frase é tão bonita, tem duas linhas aliterativas, parece um verso”, diz o cantor. O rapper Emicida aparece nas faixas Apocalipsom A (O Fim no Palco do Começo) e Apocalipsom B (O Começo no Palco do Fim). “Ele, que é um poeta das coisas da cidade, cantor das coisas urbanas, interpretou algo que é profundamente nordestino e relativamente distante da linguagem dele.”
Por seis anos, o cantor cursou a Universidade de Música da Bahia e entrou no curso laureado pelo primeiro lugar no vestibular.
Foto Andre Conti
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Foto do cd de Tom Zé
PERSONAGENS
Tom Zé
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Waltel Branco
Fotos daniel katz
O HOMEM-MÚSICO
Ele já ensinou Baden Powell, trabalhou com os expoentes da Bossa Nossa, e compôs, entre tantas trilhas famosas, a do filme A Pantera Cor de Rosa. É assim, nos bastidores, que esse paranaense de temperamento tranquilo prefere agir. “Nunca quis ser famoso. O que me importa é a música”
por Paula Melech
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alvez seja mera coincidência, ou, quem sabe, predestinação divina. Fato é que no dia 22 de novembro – dia do músico – nascia Waltel Branco. O homem-músico que está completando 83 anos pode ser descrito como um dos precursores do jazz fusion e da bossa nova. O maestro, compositor, violonista e arranjador foi professor de Baden Powell, arranjou discos de João Gilberto e criou trilhas sonoras de novelas e filmes – a mais conhecida, sem dúvida, é a famosa música de A Pantera Cor de Rosa. A lista de feitos é grande: do erudito ao popular, compôs mais de 5 mil peças. Fez arranjos e direções musicais para Dorival Caymmi, Nana Caymmi, João Gilberto, Roberto Carlos, Cazuza, Tim Maia, Djavan, Cartola, Gal Costa, Maria Creuza, Vanuza, Mercedes Sosa, Astor Piazzola, Zé Keti, Peri Ribeiro, Sérgio Ricardo, Tom Jobim e muitos outros. Produziu até um arranjo do Hino Nacional Brasileiro para a Orquestra de Viena executar.
Diante de tamanha importância, é até curioso que o seu nome não seja proferido aos quatro ventos. Talvez seja apenas reflexo de uma personalidade tranquila ou simplesmente um desinteresse pela fama. “Nunca quis ser famoso. O que me importa é a música”, comenta Waltel. A fala baixa e pausada sugere que se trata de um sujeito atento ao que diz. A conversa é olho no olho e, quando é o interlocutor que fala, ele ouve sem pressa. Mas, por trás do semblante calmo, há uma mente inquieta capaz de memorizar a primeira música que aprendeu a tocar, ainda criança. Mal termino de perguntar se ele se lembra da canção, rapidamente saca o violão e começa a dedilhar os acordes. É assim, musicalmente, que Waltel se comunica: recorda da música, mas não do nome dela.
Do erudito ao popular, o maestro compôs mais de cinco mil peças.
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Waltel Branco
PREDESTINADO Waltel teve dois nascimentos. Sem maior alarde, veio ao mundo em uma tarde de novembro de 1929 na cidade de Paranaguá, surpreendendo os pais. A previsão era que o menino nasceria somente dois meses depois. Os pais moravam em Curitiba e estavam no litoral a passeio. Com a chegada surpresa do filho, subiram a serra e foram direto para o Hospital São Vicente, onde o pequeno foi registrado em uma data que se tornaria emblemática na sua carreira. A música fazia parte da família. Seu primeiro professor foi o pai Ismael Helmuth Scholtz Branco, saxofonista, clarinetista e maestro. Crescendo nesse meio, os filhos sempre foram incentivados a tocar algo
Waltel escolheu o violão, contrariando a preferência do pai.
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e Waltel escolheu o violão – meio a contragosto, já que o pai achava que era um instrumento de menor importância. Teve alguns mestres ao longo do aprendizado, como o maestro Bento Mossurunga e Jorge Koshag. Em Curitiba, as atividades profissionais começam na rádio com Janguito do Rosário (cavaquinista),
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Eu nunca paro. Gosto de estar em movimento.” Waltel Branco
Arlindo (violão sete cordas), Efigênio Goulart (acordeonista), além de outros que atuam no cenário musical. Durante a gravação de um disco com o acordeonista italiano Cláudio Todisco nos estúdios da Odeon, no Rio de Janeiro, conheceu o maestro Radamés Gnattali. Waltel lembra que estava tocando a Tocata e Fuga em Ré Menor (de Bach) quando o maestro perguntou se ele estava lendo a partitura. “Respondi que sim, pensando que estava errando alguma nota. Então ele me convidou para trabalhar com ele”, conta. Esse primeiro contato evoluiu para uma amizade que duraria até o fim da vida de Gnatalli. Juntos, participaram de gravações de discos e apresentações de recitais. A partir daí, passou a ter aulas de regência
Octávio Camargo, Paulo Belinatti, Baden Powell e Waltel em momento de descontração.
com outros mestres, como Alceu Bocchino e Mário Tavares, e ensaiou a orquestra nos concertos de Stravinsky na capital carioca. Na Escola de Música, no Rio, também teve aulas com nomes de peso como o violoncelista Iberê Gomes Grosso e com o violonista Othon Salleiro.
NO RITMO LATINO Na trajetória do mestre Waltel, um dos momentos mais decisivos aconteceu a partir do contato com a cantora cubana Lia Farrel, no final de 1940. Os caminhos da vida tomaram um rumo definitivo para a sua carreira. Durante a temporada de shows no Rio, ocupou o cargo de violonista do conjunto que a acom-
Tocando com João Gilberto, de quem é parceiro musical e amigo há muitos anos.
panhava e passou a assinar a direção musical e os arranjos da intérprete. Após a última apresentação, seguiu com Lia para Montevidéu, no Uruguai, e depois para Cuba. Os dias eram agitados e a música estava por todas as partes. Morando em Havana, conheceu artistas de renome da música cubana como o pianista, compositor e maestro Perez Prado, o percussionista Mongo Santamaría e Chico O’Farrell. Profundamente envolvido com o som latino, Waltel começa a se interessar por jazz e segue para os Estados Unidos. Lá, busca o guitarrista San Salvador – integrante do trio de Nat King Cole – para tomar aulas. Em Nova Iorque, tocou com Laurindo de Almeida e gravou trabalhos com Franco Rosolino, Charles Mariano,
Sam Noto, Mel Lewis e Max Bennett. Definitivamente, a música ocupava tamanho espaço na vida do maestro que influenciou até sua vida afetiva. Nos Estados Unidos, Waltel conheceu a cantora Peggy Lee, que era casada com o maestro Quincy Jones. Waltel teve um affair com a irmã de Peggy, Lede Saint-Clair, tornando- -se assim, próximo de Jones. Juntos, tocaram muito jazz e música clássica. Foi quando conheceu o maestro Henry Mancini, que na época abria um escritório para atender à demanda por trilhas sonoras para TV e cinema. Waltel foi contratado e tornou-se o arranjador de uma das músicas mais famosas da história do cinema, a do filme A Pantera Cor de Rosa, de Blake Edwards.
Aos 83 anos, o maestro é muito procurado por músicos que querem a sua opinião sobre trabalhos.
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Waltel Branco
O livro de partitura A Obra para Violão de Waltel Branco é o primeiro publicado de suas composições.
Em 1955, Waltel tocando com o cantor Paulo Sérgio, acompanhados dos músicos Raul Brodman, Wilson Branco e Delirio de Souza.
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Não sei porque, mas o meu trabalho foi mais reconhecido fora da cidade.” Waltel Branco
A BOSSA BRASILEIRA Depois da temporada no exterior, Waltel sentiu um chamado interior para regressar à terra natal. Quando aterrissou por aqui, no final dos anos 50, a Bossa Nova já estava no ar e o maestro entrou no movimento de cabeça. Tornou-se amigo de ninguém menos que João Gilberto, com quem inclusive dividiu um apartamento. “Somos amigos até hoje”, conta. A amizade e parceria musical resultaram no álbum Chega de Saudade, lançado em 1959, coarranjado pelo paranaense. A Bossa Nova foi fundamental para trazer à tona a importância de Waltel como um dos mais talentosos músicos brasileiros. Era muito requisitado para tocar e respeitado como arranjador. Sempre trabalhando – “Eu nunca paro, gosto de estar em movimento” –, o maestro dava aulas para Baden
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Powell e tocava com vários músicos, quando recebeu um convite para trabalhar na Rede Globo. Roberto Marinho procurava alguém para comandar a equipe musical da emissora. Sob os seus cuidados foram compostas trilhas de novelas famosas até hoje, como a de Roque Santeiro, A Gata Comeu, A Moreninha e A Escrava Isaura. O grupo de trabalho era formado por ninguém mais ninguém menos que Radamés Gnatalli, Guerra-Peixe e Guido de Moraes. Foram 20 anos de trabalho na televisão. Mas não quis ser conhecido por este tipo de atuação, por isso assinava com pseudônimos. Hoje, a sua vida em Curitiba é tranquila. Mora no bairro Batel e gosta de sair de casa para caminhar ou ir a alguns shows e eventos em que é homenageado. Recentemente
foi lançado o seu primeiro livro de partituras, que reúne grande parte da extensa obra para violão. O projeto, capitaneado pelo produtor Alvaro Collaço, ganhou tanta repercussão que, dois anos depois, 20 violonistas populares e eruditos da cidade começaram a gravar algumas das mais de 200 composições suas para violão. O resultado foi a gravação do disco O Violão Plural de Waltel Branco. Muito procurado por músicos que querem a sua opinião sobre alguma composição, o maestro recebe a todos com muito carinho. Não tem mágoa de não ter ficado famoso como a turma da Bossa Nova, mas diz que Curitiba precisa se orgulhar mais dos seus artistas. “Não sei direito por que isso acontece, mas o meu trabalho foi mais reconhecido fora da cidade.”
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Nova
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Surfe com remo firma-se como modalidade esportiva e promete ser a grande sensação do verão de 2013 em praias, rios e lagos de todo o país por Melissa Medroni
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um remo, uma prancha e uma superfície aquática, que pode ser um lago, um rio, uma praia ou até mesmo uma piscina. Esses são os três elementos indispensáveis para a prática do stand up paddle, o SUP, ou, simplesmente, surfe com remo. Desde 2006, a modalidade desponta como novidade esportiva de norte a sul do país e agora promete ser a grande vedete do verão brasileiro. A moda pegou prin-
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cipalmente nas paisagens cariocas, onde não raro artistas como Marcelo Serrado, Isis Valverde, Suzana Werner e outros globais são flagrados pelos paparazzi com pranchões e remos. Um dos principais expoentes no esporte é, no entanto, um paulista. Leco Salazar, de 24 anos, natural de Santos, é filho de uma lenda do surfe: Picuruta Salazar, mais de dez vezes campeão brasileiro de longboard, co-
nhecido como “gato” por manter os pés grudados na prancha durante a execução das manobras. “Comecei meus primeiros passos no surfe graças ao meu pai, que me empurrava nas ondas quando eu era criança, com dois ou três anos de idade”, conta. Foi com o auxílio de um remo, no entanto, que o herdeiro da família Salazar passou a escrever o seu próprio nome na história dos esportes
A modalidade começou a ser praticada no Havaí nos anos 40.
Foto wallsave.com
aquáticos. “Comecei a praticar stand up faz uns quatro anos, em Santos mesmo.” A modalidade mudou os rumos da carreira. “Sempre surfei com pranchas pequenas, surfo até hoje com qualquer tipo de prancha, só que o stand up mudou minha vida, pois graças a ele consegui patrocínios e viajar por várias etapas do circuito mundial”, revela. Embora também participe de provas de corrida, sua especialida-
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O stand up mudou minha vida, pois graças a ele consegui patrocínios e viajar por várias etapas do circuito mundial” Leco Salazar
de é a categoria wave, praticada no mar, na qual foi campeão brasileiro em 2009, venceu as duas etapas do circuito mundial realizadas no Brasil (2010 e 2012) e chegou ao vice-campeonato mundial em 2011. “Tento fazer no SUPas manobras radicais das pranchinhas de surfe tradicional, como aéreo (vôo sobre a onda), snap (mudança brusca de direção), 360 (giro completo) e outras coisas. Tento buscar a evoluçãono esporte.”
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No Paraná
A responsabilidade de Leco, que tem outros dois irmãos surfistas – Matheus e Caio – é grande. “Minha família foi uma das primeiras a aderir ao stand up no Brasil, então tenho sempre que representar muito bem a modalidade.”
origem havaiana A ideia de flanar sobre as águas com a ajuda de um remo não é exatamente nova. “Eu penso assim: se você encara o SUP como remar em pé em uma embarcação, então é impossível determinar a sua origem, pois essa é uma prática adotada ao longo dos séculos por inúmeras civilizações”, esclarece Luciano Meneghello, editor do site especializado SUP Club, há dois anos no ar. “Afinal, os árabes há pelo menos cinco séculos remavam em pranchas chamadas hasakes, assim como os moches, extinto povo peruano, já deslizavam pelas águas em seus caballitos de totora e os polinésios faziam o mesmo em canoas em forma de prancha.”
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Tento fazer no SUP as manobras radicais do surfe tradicional.” Leco Salazar
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A prática como uma modalidade esportiva, mais próxima do que conhecemos hoje, começou no Havaí, nos anos 40 do século passado. Inicialmente, o remo era usado pelos professores de surfe para ter mais estabilidade e, dessa forma, poder tomar conta dos alunos que estavam na água. “Isso era conhecido como beachboy surfing e foi caindo em desuso ao longo dos anos, para ressurgir com força total no início dos anos 2000, quando caras como Laird Hamilton e Dave Kalama repaginaram o esporte, investiram em novos materiais para a concepção das pranchas e remos e os tornaram muito mais leves e resistentes”, conta Meneghello. “A prática foi rebatizada como stand up paddle e desde então vem tendo um crescimento vertiginoso”, diz o surfista, que também é editor convidado da primeira revista de SUP do Brasil, a Fluir Stand Up. O lançamento de uma publicação totalmente dedicada ao assunto mostra o alcance que o esporte vem conquistando. Encartada a cada três meses na Fluir, a mais tradicional revista de surfe brasileira, a Fluir Stand Up está na segunda edição. Se o projeto decolar, pode se tornar um veículo independente.
O SUP ainda é pouco conhecido dos paranaenses, mas é crescente o número de adeptos. Segundo Berndt, há principalmente três perfis de praticantes: surfistas mais experientes, afastados das pranchas, que procuram um esporte para retomar as atividades aquáticas; surfistas na ativa em busca de uma opção para dias de poucas ondas; e o público em geral, que toma conhecimento da novidade pela mídia ou em viagens. “As pessoas têm contato pela primeira vez principalmente no Nordeste do país, onde é comum alugar pranchas e remos para turistas”, afirma. Por aqui, os lugares mais recorrentes para a prática são as praias do litoral, os rios de Paranaguá e as represas do Passaúna (na divisa entre os municípios de Curitiba e Campo Largo), do Capivari (a 30 km da capital, pela BR-116) e do Vossoroca (a 60 km da cidade, pela BR- 376). Por enquanto, não há escolas de SUP, mas na própria loja onde os equipamentos são vendidos é possível obter orientações básicas. Ainda não são realizadas muitas competições, mas existe uma associação, a Associação de Stand Up Paddle do Estado do Paraná (Asupep), que promoveu uma prova de race (corrida) em Caiobá, em janeiro de 2012. No ano anterior, a modalidade de surfe do SUP (wave) foi incluída no calendário de provas do Circuito Paranaense de Longboard. É apenas o começo para um esporte que, ao que tudo indica, terá um futuro bem promissor.
Fotos Divulgação
Em 2011 o SUP foi incluído no calendário de provas do Circuito Paranaense de Longboard.
entenda o esporte Mercado consumidor não falta. Atualmente, existem 500 filiados à Associação Brasileira de Stand Up Paddle (Absup), entidade criada em 2009. “Mas estimamos que existam no Brasil aproximadamente 10 mil praticantes”, afirma o presidente da Absup, Ivan Tadeu dos Santos. A instituição organiza campeonatos no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Santa Catarina, Ceará e Bahia, em diferentes modalidades. O SUP é divido em quatro categorias: race, wave, rafting e freestyle. A Race, mais popular, é uma corrida em um percurso predeterminado. A wave é praticada sobre as ondas, no mar, enquanto a rafting acontece em corredeiras e a freestyle é uma modalidade sem regras e limitações. “É um esporte muito versátil”, ressalta Meneghello. “Você pode surfar, fazer uma remada tranquila ou forte, praticar rafting, pescar em cima da prancha, usá-la como plataforma para exercícios de yoga, pilates”, enumera. Assim, a cada dia, surgem mais pessoas inventando coisas novas. “Acredito esse é um dos motivos que justificam a rápida popularização do SUP no Brasil e em diversos países”, conclui.
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Santos concorda que o crescimento é exponencial e simétrico no mundo todo. “Estados Unidos, Austrália, Brasil e a maioria dos países europeus são destaques nesse cenário”, diz. Por aqui, o maior número de adeptos encontra-se, por enquanto, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Para começar Uma característica que atrai os praticantes é o fato de ser um esporte de aprendizagem rápida. “Não precisa de conhecimento prévio, com pouco treino a pessoa já é capaz de sair remando”, garante Peter Berndt, da loja Kanaha, que vende artigos para SUP no Shopping Omar, em Curitiba. O segredo é ter persistência. “É normal cair no começo, depois você vai pegando jeito”, complementa Leco. Quem já pratica um esporte com prancha – como surfe, skate ou windsurfe – costuma ter facilidade. Aos iniciantes é indicado, para começar, escolher um dia sem vento, em um lugar com águas calmas, como uma represa, e uma prancha grande, que proporciona maior estabilidade. “Recomendo uma com no mínimo dez pés de altura e com uma boa largura,
Para Saber Mais
com cerca de 30 polegadas”, sugere Meneghello. Os equipamentos são, contudo, mais caros que os utilizados no surfe convencional. Em Curitiba, a prancha varia de R$ 2.900 a R$ 5.000, valor justificado pelo tamanho maior e pelo material mais resistente. Já o remo pode ser de alumínio (R$ 250 a R$ 350), híbrido (R$ 600 a R$ 700) ou 100% carbono (R$ 850 a R$ 1.250). “As pessoas se assustam com os preços, mas as melhores pranchas são importadas e com a alta do dólar os custos subiram mesmo”, justifica Berndt. No Brasil, um dos fabricantes é a família Salazar, que produz remos e acessórios.
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Associação Brasileira de Stand Up Paddle (ABSUP) www.absup.com.br
Sub Club
www.subclub.com.br
Onde Comprar Equipamentos Curitiba
Kanaha Artigos Esportivos (41) 3233-9511 Rua Comendador Araújo, 268, Loja CA 16 (Shopping Omar) www.kanaha.com.br
Onde Fazer Aula Santa Catarina Escola de Surf e Stand Up Paddle Evandro Santos (48) 3232-7753 Rua Santos Reis, 88 – Florianópolis (SC) www.escolinhadesurf.com
É normal cair no começo, depois você vai pegando o jeito.”
São Paulo Escola de Surf Picuruta - Salazar (13) 3251-2999 Parque Roberto Mário Santini, Quebramar/ José Menino, canal 1 – Santos (SP) www.picuruta.com.br
Leco Salazar
Rio de Janeiro Stand up Paddle Rio
Foto bikecycleshop.com
(21) 8293-8483 Praia de Ipanema, em frente à Rua Garcia d’Ávila (posto 10) – Rio de Janeiro (RJ) www.standuppaddlerio.com.br
O esporte, de aprendizagem rápida, atrai cada vez mais praticantes.
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