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ENTREVISTA
“Precisamos de um câmbio favorável”
Para dar fôlego à indústria, o presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan, defende uma política com o dólar a R$ 3,75
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Brasil ainda tem potência para crescer, temos 61% da nossa área intacta. Temos 850 milhões de hectares e usamos 61 milhões para agricultura e cento e poucos milhões para a pecuária. Tem muito para crescer ainda em produtividade na pecuária, a agricultura pode avançar na área de pecuária se tornar melhor sem derrubar uma árvore.
Para João Carlos Marchesan, o produtor precisa reformar o canavial, porque é o que vai puxar a indústria de máquinas agrícolas sta é uma das principais reivindicações da Abimaq junto ao Governo Federal. A entidade defende um câmbio industrializante, aquele que permite ao empresário investir na exportação independente do mercado interno, com o dólar a R$ 4, mas diz que o câmbio a R$ 3,75 já devolve a competitividade à indústria. De 2012 para cá, a Abimaq registrou queda de 60% nas vendas, já o setor de Máquinas e Implementos Agrícolas caiu 35%, mas deve fechar o ano com uma recuperação de 5%. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
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Como esta crise econômica e política tem afetado a indústria de máquinas e implementos agrícolas? O setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil é composto de 750 empresas distribuídas no País todo. A nossa Câmara Setorial de Máquinas e Implemen-
tos Agrícolas tem 380 empresas e está dentro da Abimaq, que representa 7.500 empresas. De 2012 para cá, a atividade caiu 60%. De 400 mil empregos foram embora 100 mil empregos e a indústria segurou para não demitir mais em função da necessidade desta mão-de-obra especializada. A câmara setorial de 2012 para cá caiu 35%. Mas no ano de 2016 está retomando, principalmente agora no segundo semestre. O que ajudou é que no começo de ano tivemos um dólar muito favorável e o agronegócio aproveitou a oportunidade, o dólar a R$ 4 por um período longo com preços internacionais muito bons. O agricultor até que estava bem, mas estava receoso em investir. E quanto às políticas para o setor? Temos uma política forte, que é o Moderfrota, uma linha que financia máquinas agrícolas. Temos sempre na ordem 10 bi-
lhões. Este ano, ofertaram R$ 5 bilhões no Plano Safra, que começou em junho e já foi mais de 50% deste valor. Um dos trabalhos nossos tem sido ir até o governo e pedir para suplementar isso até o próximo Plano Safra. Este é o desafio. Dentro do cenário atual, o agronegócio é visto como um dos setores que está melhor se comparado aos outros. O que diferencia o agro é que vendemos para um consumidor, que é nosso cliente, o agricultor, que de uma certa forma está capitalizado. O produto dele tem demanda quer seja no mercado interno quer seja no mercado externo. Somos hoje 206 milhões de habitantes no Brasil, mas o País alimenta mais de um bilhão de pessoas com o que ele produz, que não é só grãos, mas proteína animal, açúcar. Os fundamentos ainda estão bons. Somos 7 bilhões de habitantes no planeta, em 2050 seremos 9 bilhões. O
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Vocês estão com vários pleitos junto ao Governo Federal... O que falta neste País é infraestrutura logística, isto é sério e não é só para o agronegócio, é para tudo, porque o custo no Brasil é muito alto. Um dos pleitos nossos é concessões urgentes nas parcerias público-privadas, porque nós entendemos que, no âmbito da indústria como um todo, isso acontecendo puxa a demanda e as indústrias podem vender mais e crescer. É uma travessia para a retomada do crescimento. Outro pleito é um câmbio competitivo que sirva para a indústria e para o agronegócio também. O que a gente vê é o seguinte: demanda crescente, o País com todas as possibilidades de continuar crescendo, porque a capacidade de produção de uma China é menor que a capacidade de produção de uma Argentina e assim por diante. Nós temos vocação para o agro. E o segmento sucroenergético? Ele está saindo da crise? Sim. Nós passamos por uma crise muito forte no setor sucroenergético. Mas a demanda por etanol deve aumentar nos próximos anos, porque o Brasil não tem capacidade de expandir suas refinarias para produzir mais gasolina. A produção de gasolina vai se estabilizar porque não está saindo nenhuma nova refinaria, isso demora muitos anos para acontecer. Então a demanda de etanol deve crescer, açúcar está em falta no mundo. Isso está favorecendo este setor que estava destruído. O pessoal do agronegócio sempre compara os resultados atuais com os de 2013, um ano que o faturamento da Agrishow foi de R$ 2,6 bilhões e que havia linhas de crédito com juros
de 2,5% ao ano. É possível retomar a este patamar? Nós estamos comparando com o patamar de 2013, mas você pode ver que 2012 cresceu e 2013 vinha crescendo e não é porque o PSI [Programa de Sustentação do Investimento] vinha crescendo, era porque havia demanda, a gente estava em outro momento na agricultura. Mas aí o agricultor deixou de investir, 2014 ainda cresceu, mas caíram as vendas em 2015 e 2016. Você viu a derrocada da indústria de tratores. O problema foi que o índice de confiança caiu, ninguém investe sem saber se vai poder pagar lá na frente. Neste segundo semestre, a indústria de máquinas agrícolas, as fábricas de tratores cresceram muito. Hoje temos um Moderfrota com juros entre 7,5% e 9%, é uma situação diferente, mesmo assim o agricultor está investindo. O PIB agrícola cresce 5% no ano. Nós devemos colher 110 milhões de toneladas de soja e produzir 220 milhões de toneladas de grãos, fora proteína animal. Nós tivemos secas fortes neste período. A região do Mapitoba [acrônimo formado pelas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantis, Piauí e Bahia] ficou quatros anos sofrendo com seca, ano passado com La Nina, centro-oeste perdeu parte da primeira safra e grande parte da segunda safra. Eles estavam depressivos. Mas a previsão é que no ano que vem o PIB total cresça 0,5% e o agrícola suba 5%. E quanto ao crescimento da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas? Tratores e Colheitadeiras sofreu mais do que o setor de implementos agrícolas. Esse vai ter uma retomada discreta, mas nós devemos ter um crescimento melhor que 2015, na faixa de 5%. E a retomada com aumento do PIB? Isso é para 2017 porque tem os bolsões do Mapitoba e centro-oeste que sofreram muito e não vão investir agora. Eles vão pagar conta este ano. Mas um setor que promete é o sucroenergético? Este sim, porque estamos vendendo o açúcar a 22 centavos de dólar por libra-peso e com perspectivas de continuar. Mas nos temos que entender que o crescimento irá se dar na plantação de cana e não nas usinas, porque se este setor não estiver produ-
zindo, se estiver com baixa produtividade e canavial velho, a usina não vai produzir. Ela precisa reformar urgente o canavial, porque é o que vai puxar a indústria de máquinas agrícolas. Você vai vender os equipamentos para produzir, para transportar cana. Quais são os pleitos da Abimaq? Já que não temos câmbio, precisamos ter um Reintregra [Regime especial de reintegração de valores tributários para as empresas exportadoras] de 5% para ajudar. Toda vez que a indústria exporta, ela manda um resíduo de 5,7% de impostos, sendo que toda a exportação no mundo é desonerada. Todo país protege a sua moeda, tem uma moeda desvalorizada para poder exportar. O Japão e a China fazem isso. Aqui valorizamos a moeda para conter a inflação. É política monetária equivocada que não leva ao crescimento. Não tem economia em que você consiga investir em bens e capital sendo que a taxa de retorno é menor que os juros que você paga para investir. Hoje você tem juros de 14,25% ao mês e um retorno de 7%. Não fecha a conta na indústria, não fecha a conta no governo porque a economia não anda e ele não arrecada. O que seria um câmbio favorável? Seria o dólar a R$ 3,75. Com este valor, ficamos competitivos. O problema nosso é a falta de previsibilidade. Nem um país trabalha, se não tem previsibilidade na sua moeda. Hoje eu vou lá fora exportar, sou competitivo porque o câmbio está a R$ 4, o bem custava US$ 100 e abaixo para US$ 70. Faço negócio, dai um pouquinho, o câmbio não é R$ 4, ele abaixa para R$ 3,10, eu vou lá fora e digo que não é mais US$ 70 é US$ 120, porque eu tenho que somar a inflação interna. Eles dizem, você está fora, o outro continua me vendendo, porque eles precisam de previsibilidade. Hoje, as exportações estão acontecendo na indústria, eles continuam a exportar por pura necessidade de não ficar parado, mas não está remunerando. Um câmbio competitivo é de R$ 3,75, um câmbio industrializante é de R$ 4. O que é um câmbio industrializante? É um câmbio que permite que o empresário invista no negócio da exportação, independente do mercado interno. Todo mundo no agronegócio bate na mesma palavra: previsibilidade?
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Marchesan: “Nenhum país trabalha, se não tem previsibilidade na sua moeda” Quando eu falo em previsibilidade, eu falo em câmbio, o restante nós temos que saber que é inerente à economia. A economia sobe, a economia desce, isso acontece. Um dia o preço está lá em cima, outro dia está lá embaixo, nós sabemos lidar com isso. O que não podemos é ficar sem saber como lidar com o câmbio ou juros altos como estes. Não tem condição, não tem economia que suporte juros alto como este. Como estão as indústrias do setor? Fizemos um levantamento no Serasa, 50% das indústrias que a Abimaq representa não tem CND [Certidão Negativa de Débito]. Estão atrasadas com o governo com algum tipo de imposto e 25% têm algum tipo de pendência, são 75% das empresas com pendência. Estes 50% que não têm CND são empresas condenadas à morte, porque ninguém se aproxima, nenhum banco. O que estamos propondo é que o governo faça um Refis [Programa de Recuperação Fiscal] novamente, mas um Refis que a indústria possa pagar. Não um Refis do Refis para receber impostos, mas para fazer com que estas empresas
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voltem a produzir, voltem a contribuir com o atrasado e com o atual e o governo passe a arrecadar. O governo não produz, ele arrecada. As empresas voltando à atividade, tendo esta situação que alongue o seu passivo, elas voltam a produzir e, em outro momento, investir e crescer novamente. A conjuntura começou a melhorar com o governo Temer? Qual é a análise da Abimaq? Estamos com expectativa, esperança e confiança. Temos conversado com ele desde que assumiu. No início, a conversa era...temos o impeachment pela frente, vamos esperar passar. Passou o impeachment, ele disse agora vamos esperar passar a PEC dos gastos. Nós estamos apoiando e esperando passar, depois vem a Reforma da Previdência. O maior problema deste País são os 12 milhões que podem chegar a 14 milhões de desempregados até 2017. Estes desempregados não têm suporte para aguentar isso. Você demite um operador de fábrica, ele sobrevive cinco meses, vai gastar o 13º salário, a indenização, vai sacar o FGTS e depois?
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NOTAS
Previsão de alta na safra
Ovos de galinhas livres
KEYLE BARBOSA DE MENEZES / EMBRAPA
A Arcos Dorados, holding que controla o McDonald’s, comunicou que comprará apenas ovos de galinhas livres a partir de 2025. O anúncio impactará 2.100 restaurantes em 20 países da América Latina e Caribe; incluindo o Brasil com mais de 850 estabelecimentos. A iniciativa tem por objetivo o bem-estar animal e recebeu apoio
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a safra de grãos 2016/2017 será entre 210,5 milhões e 214,8 milhões de toneladas. Se confirmada a expectativa, isso representará
um crescimento em relação ao ciclo passado de 13% e 15,3%. A área plantada deve aumentar 2,3%, totalizando entre 58,5 milhões e 59,8 milhões de hectares.
A vez do Cerrado Uma década depois da moratória da soja na Amazônia – pacto ambiental de tolerância zero ao desmatamento na região assumido por entidades representativas dos produtores de soja no Brasil, ONGs e governo – a iniciativa deve chegar ao Cerrado. O bioma é onde mais cresce as plantações de soja. Dados da consultoria Agroícone apontam que a área da oleaginosa
saltou de 1 milhão de hectares para 3,4 milhões entre 2000 e 2014. Este avanço se deu no Mapitoba, região que abrange Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. A maior parte da expansão foi sobre vegetação nativa. O pontapé inicial para as discussões da Moratória do Cerrado foi dado pelo ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, num evento em São Paulo.
Não aos transgênicos
Dados da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem) apontam que a cadeia de hortaliças no Brasil movimenta anualmente R$ 55 bilhões. São 820 mil hectares de 18 hortaliças, o que corresponde a uma produção anual de 20 milhões de toneladas. Toma-
te, cebola, melancia e alface respondem por 50% do total. Mas há espaço para crescer. A FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, recomenda o consumo de 400 gramas de hortaliças por dia; o brasileiro come 130 gramas.
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HENRIQUE MARTINS GIANVECCHIO CARVALHO / EMBRAPA
Hortaliças em foco
da Humane Society International (HSI), organização global de proteção dos animais. A Arcos Dorados está trabalhando junto aos produtores e fornecedores na transição, uma vez que a maioria das galinhas poedeiras são confinadas em gaiolas na região. A rede de fast food já havia assumido esse compromisso na Europa e nos EUA.
Em resposta à demanda dos consumidores que desconfiam dos alimentos geneticamente modificados, a gigante americana Cargill começou a ofertar nos EUA três produtos livres de transgênicos. Receberam o selo do Non-GMO Project o açúcar de cana, o óleo de girassol e o adoçante
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feito de milho. Outra multinacional que anunciou que irá utilizar menos ingredientes transgênicos foi a Danone. A declaração gerou protestos por parte da Federal Americana de Produtores Rurais, Associação Nacional de produtores de Milho e Associação Americana de Soja.
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PALAVRA DA FAESP
O agronegócio brasileiro vem dando demonstrações contínuas de inovação, vigor e crescimento. Mesmo em períodos difíceis como o atual, o setor encontra fôlego para expandir, ofertar alimentos de qualidade, elevar a competitividade e as exportações, contribuindo para a segurança alimentar mundial e o equilíbrio da economia brasileira. No início dos anos 90, com a abertura comercial e estabilização da economia pelo Plano Real, os resultados da agropecuária e do agronegócio começaram a sobressair, dando início a uma fase de expansão. O controle da inflação impulsionou os negócios, com novos padrões de gerenciamento de custos, de melhorias da eficiência operacional e técnica, que passaram a ser relevantes na condução dos empreendimentos. Esse processo tem como característica fundamental o crescimento da agricultura com base em elevados aumentos de produtividade no campo, bem como pelo incremento na utilização de insumos. Os dados mostram que, nos últimos 25 anos, a área de grãos no País cresceu 54%, enquanto a produção aumentou 222%, denotando significativo incremento de produtividade, próximo a 109%. Isso evidencia que o crescimento da agricultura brasileira não é horizontal, ele é essencialmente vertical, baseado no ganho de produtividade e qualidade, graças ao uso de tecnologia, à profissionalização, aos investimentos na qualificação e capacitação permanente do homem do campo.
E esse ponto distingue o setor agropecuário do restante da economia brasileira, pois cerca de 70% do seu crescimento é explicado pela utilização mais eficiente dos insumos. A relação produto/insumo vem crescendo continuamente, fixando novos padrões de progresso técnico. A diversificação das atividades e a produção pecuária, que agrega valor à agricultura, são componentes determinantes para a construção desse cenário. Em São Paulo, a produção agropecuária é referência em eficiência e pioneira na diversificação da matriz produtiva, fixando em seu território alguns dos complexos agroindustriais de maior importância no Brasil, como o da carne bovina, da cana, do café e da laranja. Esse movimento tem origem há mais de 40 anos, quando se iniciou a construção de estruturas de produção para a fabricação do café solúvel e do suco concentrado de laranja, sob a liderança da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo (FARESP), atual Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), em entendimentos mantidos entre os produtores e os industriais. Naquela época, já se buscava a profissionalização do setor produtivo, com redução de custos e aumento da rentabilidade, através do aprimoramento da mão-de-obra. Com o SENAR-SP implantado há 21 anos pela FAESP, houve novo impulso quantitativo e qualitativo na agropecuária paulista, como resultado do atendimento de mais
de 3,2 milhões de pessoas em ações de formação profissional e promoção social. A expansão do crédito rural, tanto oficial quanto o privado, também explicam a modernização, os ganhos de escala e padrão tecnológico adotado. E, logicamente, a pesquisa agropecuária assume uma posição de destaque ao desenvolver alternativas tecnológicas e inovação que, quando transplantadas ao campo, produzem resultados extraordinários. A tropicalização da nossa agricultura, a adaptação do gado zebu (vindo da Índia) e o melhoramento dos solos, que tornaram cultivável o Cerrado, são exemplos notáveis dessa competência. Atualmente o ramo da tecnologia digital chega com força ao campo, por meio de aplicativos de gestão, monitoramento, rastreamento e análise de dados em tempo real da situação das lavouras. Soluções inovadoras de gestão da lavoura e de tomada de decisão que os produtores rurais passam a contar nas telas de computadores, tablets e celulares. Uma área repleta de oportunidades e desafios que poderá alavancar novos ciclos de expansão da agropecuária nacional. Nesse contexto, o sistema FAESP/SENAR/Sindicatos Rurais continuará empreendendo ações e projetos que promovam a união e busquem o pleno desenvolvimento da agropecuária e o bem-estar de quem dela depende, pois essa é a missão e o que o Sistema Representativo Rural persegue.
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Fábio de Salles Meirelles Presidente do Sistema FAESP/SENAR-SP
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BRENO LOBATO / EMBRAPA
Tecnologia para a agropecuária do futuro
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CAPA
As startups que estão revolucionando o campo
FOTOS: DIVULGAÇÃO AGROSMART
Conhecidas como agrotechs, estas empresas estão mudando o jeito do produtor gerir a propriedade rural
Foco no produtor: equipe da Agrosmart em visita técnica de conferência de resultados na entressafra; durante a safra o acompanhamento é semanal e via telefone uem nunca ouvi a frase: “O que engorda o boi é o olho do dono?” A expressão reforça a ideia de que a presença do proprietário na fazenda é fundamental para uma boa execução de tarefas, que garante o ganho de peso e o bom cuidado com os animais. Mas o ditado pode cair em desuso, graças a uma tecnologia desenvolvida pelo administrador Danilo Leão, que criou o Bovcontrol, um dispositivo que faz o papel dos olhos do dono, garantindo que ele – mesmo distante – interaja com os funcionários e gerencie os afazeres da propriedade. Leão é um exemplo da safra de jovens cérebros à frente das agrotechs, as startups que estão revolucionando a maneira
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do produtor gerir a fazenda. Estes empreendedores têm chamado à atenção de empresas como Google e recebem convites para estudar nas melhores universidades do mundo. É o caso de Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart, uma empresa que desenvolveu tecnologias voltadas ao manejo hídrico, que reduzem em até 60% a água necessária para irrigar uma lavoura, e ganhou uma bolsa de estudos da Nasa. Eles partem do conceito de Internet das Coisas, que se refere à revolução tecnológica que conecta dispositivos eletrônicos usados no dia a dia à rede mundial de computadores. Tudo isso para dar mais agilidade e parâmetros para a tomada de
“A nova geração está recebendo com muita facilidade as tecnologias, apostamos nela para evangelizar o restante do mercado. Foi assim com Facebook e WhatsApp” MAIKON SCHIESSL, COORDENADOR DO COMITÊ AGROTECH, DA ABSTARTUPS
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decisão do agricultor. No caso de Mariana e Leão, eles pensaram suas empresas para a realidade do Brasil, onde a internet no campo é precária e não chega a todos lugares. Basta um ponto da fazenda com acesso à rede para que o usuário transfira para a empresa os dados coletados via computador, tablet ou celular. A Agrosmart e Bovcontrol fazem parte de um segmento que está a todo vapor, as startups. O Sebrae atua no desenvolvimento destas empresas desde 2013. De lá para cá, o atendimento cresceu nove vezes, de 130 para 1,2 mil startups. Apesar da resistência dos mais velhos, as inovações ganham cada dia mais adeptos. “A nova geração está recebendo com muita
FOTOS: DIVULGAÇÃO AGROSMART
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Tecnologia de ponta: estação meteorológica (à esq.), sensores de solo (ao centro) e de chuva (à dir.) geram informações usadas pela Agrosmart para dar recomendações aos clientes facilidade as tecnologias, apostamos nela para evangelizar o restante do mercado. Foi assim com Facebook e WhatsApp”, diz Maikon Schiessl, coordenador do comitê Agrotech da Associação Brasileira de Startups, a ABStartups. Abaixo, a história dessas duas novatas de sucesso. USO RACIONAL DA IRRIGAÇÃO A Agrosmart foi idealizada pela administradora Mariana Vasconcelos, 24 anos, e amigos no Startup Weekend 2013, competição promovida pelo Google com o objetivo de criar uma empresa num final de semana. A equipe foi a vencedora e, no ano seguinte, entrou no programa Startup-Brasil, do Governo Federal, que dá bolsas no valor de R$ 200 mil para a contratação de pesquisadores e técnicos e uma aceleração junto à Baita. A empresa foi criada como resposta a um problema de casa. O pai de Mariana é produtor de milho no Sul de Minas Gerais, ela cresceu acompanhando os desafios e incertezas da família no momento de tomar decisão e a necessidade de estar sempre na propriedade. “A gente queria trazer flexibilidade ao agricultor de não precisar estar todo tempo no campo observando para decidir o que fazer”, diz a mineira. A solução encontrada foi mapear a propriedade rural e colocar um pluviômetro por talhão. “Chove de diferentes maneiras
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é a quantidade de atendimentos a startups que o Sebrae realizou desde 2013. Naquele ano, a entidade havia assessorado apenas 130 empresas desse tipo FONTE: SEBRAE
na fazenda, por isso instalamos uma estação meteorológica, que mede temperatura, umidade do ar e radiação solar”, diz Mariana. Além disso, são espalhados sensores pela plantação, que medem condições climáticas, do solo e da planta. Estas informações mais as imagens de satélites ajudam a interpretar o que acontece na lavoura. “Nós combinamos tudo isso com o acompanhamento do desenvolvimento da planta e criamos um algoritmo próprio para chegar à quantidade que ela precisa de água, baseada na sua necessidade hídrica, naquilo que ela transpira e naquilo que o solo tem”, explica a empreendedora.
Solução de Mariana Vasconcelos, fundadora da Agrosmart, chamou a atenção da Nasa Com a combinação destes dados, a Agrosmart gera as recomendações de irrigação de acordo com a capacidade de equipamentos do agricultor para que ele fique dentro de uma tarifa reduzida de energia. A empresa diz a ele quanto precisa irrigar, que horas e quando deve fazê-lo. “Ao mensurar isso relacionando com a necessidade específica da planta e com o que observamos talhão a talhão, é possível reduzir em até 60% o uso de água”, diz Mariana.
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O manejo de irrigação da Agrosmart varia de R$ 30 a R$ 300 por hectare ano dependendo do tamanho da cultura e dos sensores que o produtor vai escolher. A cada 15 minutos, a central atualiza os dados e envia ao cliente. “De onde o agricultor estiver, ele consegue entender o que está acontecendo e tomar uma decisão racional”, diz a administradora. Semanalmente, a Agrosmart faz um acompanhamento por telefone com o produtor para saber se ele está seguindo as recomendações,
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FOTOS: DIVULGAÇÃO BOVCONTROL
CAPA
Facilidade: o sistema desenvolvido pela Bovcontrol permite ao proprietário acompanhar à distância o dia a dia da fazenda se identificou alguma doença. No final do mês, ele recebe um relatório e, na entressafra, a equipe da empresa faz uma visita técnica para checar o resultado da safra. Perto de atingir 400 mil hectares monitorados, a Agrosmart tem planos de internacionalização para o ano que vem. PECUÁRIA DE PRECISÃO A Bovcontrol também surgiu como solução a uma dificuldade da família de Danilo Leão, 36 anos, fundador e CEO da empresa. Seu pai tem uma fazenda dedicada à produção de leite e de touros para melhoramento genético da raça Nelore. No entanto, a família nunca morou na propriedade rural, o que dificultava a administração. “Desde pequeno passei a gostar e, intuitivamente, comecei a tomar frente dessa área. A Bovcontrol é uma resposta a dificuldades que enfrentei relacionadas a informações da atividade pecuária”, diz o empreendedor. Formado em administração, Leão trabalhou na Computer Associates, uma empresa americana na qual teve contato com sistemas de inteligência para a
“Usamos sensores de temperatura, que identificam um padrão associado ao cio e, por celular, avisamos ao peão da fazenda que pode inseminar a vaca ou fazer a cobertura natural” DANIEL LEÃO, FUNDADOR DA BOVCONTROL
tomada de decisões em negócios. Este know-how o levou a pensar na importância disso para o agronegócio brasileiro, setor que representa um terço do PIB nacional. “Percebi que isso significava um mercado importante não só no Brasil. A pecuária hoje é uma indústria de US$ 1,2 trilhão, é três vezes a indústria de hardware e software juntas, que somam
Pecuarista tem informações via celular US$ 400 bilhões”, diz Leão. “É um espaço enorme com poucas soluções para endereçar à gestão da informação na pecuária”, acrescenta. Com isso em mente, em 2013 ele criou a Bovcontrol, empresa cuja ferramenta faz o inventário da fazenda e possibilita o
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monitoramento do estoque do rebanho, origem e destino, bem como o manejo da alimentação do gado, o controle nutricional e sanitário, identificação de vacas no cio e acasalamentos. A tecnologia também lê e incorpora dados de outros dispositivos disponíveis no mercado, como brincos, chips e balanças eletrônicas. Hoje, a Bovcontrol atua no Brasil, nos EUA, Colômbia, África e Índia. “Temos 30 mil fazendas ativas, enquanto o programa nacional de rastreabilidade, o Sisbov, tem 2.500 propriedades”, diz Leão. Em média, o custo para usar a plataforma da Bovcontrol é de R$ 65 ao mês no plano básico. Mas o cliente pode compor sua assinatura e agregar funções como desejar. “Quando mais de uma pessoa passa a usar, ele paga R$ 10 a mais por usuário”, explica o administrador. A gama de serviços oferecidos é extensa e inclui alertas de quando a vaca está no cio. “Usamos sensores de temperatura, que identificam um padrão associado ao cio e, por celular, avisamos ao peão da fazenda que pode inseminar a vaca ou fazer a cobertura natural”, diz Leão. Outro recurso é a gestão de tarefas. O gerente da fazenda distribui os afazeres aos funcionários, que entregam evidências do que foi feito ao terminar. “Uma cerca que foi consertada, um animal que foi curado, estes dados vão georreferenciados e o gestor pode ver onde aconteceu e quem entregou o trabalho”, explica o CEO. A empresa também cruza dados de mapas referentes à disponibilidade de capim por hectare com a número de animais na área para medir a produtividade, saber se o aproveitamento está alto ou baixo. “A função do Bovcontrol é trazer a consciência ao produtor do que ele tem e ajudá-lo a planejar os próximos investimentos”, diz. No momento a Bovcontrol está na fase de conectar os pontos da cadeia (frigoríficos, bancos) com a base da pirâmide. A este programa de conexões com a indústria foi dado o nome de Internet das Vacas. A equipe tem usado o conceito hackathon, uma espécie de maratona de programação, para juntar os integrantes da cadeia da pecuária num evento em que eles são convidados a desenvolver seus próprios softwares usando como base a plataforma da Bovcontrol.
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GEOPROCESSAMENTO
So�twares fazem controle e gestão de fazenda Antes focada em fertilidade do solo, empresa trabalha com informaçþes para ajudar o agricultor na tomada de decisão omogeneizar a fertilidade do solo. Esta era a promessa da Unigeo em 2005, ano em que foi criada no Mato Grosso. A empresa surgiu da constatação do engenheiro agrônomo Leonardo Cândido de que mais de 50% dos custos anuais das fazendas da região vinham de gastos com adubos. Para reverter tal situação, o consultor passou a mapear as
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fazendas a partir de mapas de satĂŠlites e fazer anĂĄlises de solo a cada dois hectares. “Naquele momento, nosso objetivo era o uso racional de fertilizantes, mas chegou uma hora que nĂŁo estava sendo suficiente, entĂŁo fomos alĂŠm e hoje coletamos informaçþes, trabalhamos com sistemas e softwares que fazem toda a gestĂŁo da fazendaâ€?, diz Cândido, diretor geral da Unigeo.
No inĂcio, a empresa era totalmente dependente da qualidade tĂŠcnica dos profissionais, que iam ao campo coletar as amostras e daqueles que davam suporte na parte de computadores. “O trabalho era muito manual, principalmente na ĂĄrea de georreferenciamentoâ€?, diz o diretor. “Hoje a coleta das amostras ĂŠ automatizada, vocĂŞ tem hardwares que coletam no
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