Hernani carvalho

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Jornalismo na primera pessoa

Hernâni Carvalho Nem verdade nem consequência

um jornalista não é insensível à realidade


Índice

Informação sober Hernâni Carvalho

No Jogo Do SIRESP

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Rede esb uracada, ausência de detetores de m ovim ento.

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Uma história escrita a sangue

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A RTP Não trata bem os seus profissionais

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Jornalismo na primera pessoa

Hernâni Carvalho Nem verdade nem consequência


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Jornalismo na primeira pessoa

Nasceu em Lisboa, em 1960, casado, tem dois filhos. Formado em Psicologia, fez estudos posteriores na área das Ciências da Religião.

Não poupa palavras para caraterizar o panorama do jornalismo em Portugal.

Jornalista-auditor de Defesa Nacional. Carteira Profissional de Jornalista nº 2371. Para a RTP fez reportagens de guerra na Bósnia, Honduras, Timor, Gana, Paquistão e Afeganistão. Integrou posteriormente as equipas de “Ponto por Ponto”, “24 Horas”, “Histórias da Noite” e “Telejornal”.

Depois de sair do canal público, publicou reportagens no, “Independente”, “Sábado” e “Correio da Manhã”.

É um dos jornalistas portugueses mais premiados. Esteve na Bósnia, debaixo de fogo, em Timor, cuja experiência lhe valeu a escrita de um livro, Mais recentemente, esteve no Afeganistão. Arriscou várias vezes a vida, chegando por vezes a sítios onde mais nenhum jornalista conseguia chegar.

Regressou à televisão pela porta da SIC, onde assinou crónicas policiais nos programas da manhã. Aceitou um convite para construir um projeto editorial em Angola e regressou aos ecrãs nos primeiros dias de 2007 a convite de José Eduardo Moniz. Na TVI assina a crónica “Crime, diz ele”, colabora com a redação e com diversos programas da estação. Escreve também para a revista “TV Mais” E é coordenador editorial do site “aeiou.pt”.

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Hernâni Carvalho

Tragédia dos Fogos Pedrogão Grande

Entrevista Revista Caras

Roubo dos Paióis Exército em Tancos

Faz-se todo o tipo de jornalismo em Portugal... 6


Jornalismo na primeira pessoa

É um dos jornalistas portugueses mais premiados Sem papas na língua diz grandes verdades sobre a comunicação social portuguesa. Arriscou várias vezes a vida, chegando por vezes a sítios onde mais nenhum jornalista conseguia chegar.

Por vezes crítico, por vezes defensor

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“

Licenci e douto em Psic

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Jornalismo na primeira pessoa

O jornalismo em Portugal está muito dependente dos diretores de informação?

Como é que começou a sua carreira?

jornalismo português está a evoluir?

Comecei a fazer rádio e, há 12 anos, entrei para a redação da RTP.

Eu não sei se está a evoluir. Sei que há grandes valores no jornalismo aos quais muitas vezes as pessoas não deram o devido valor. As escolas de jornalismo que existem em Portugal são muito recentes, têm 10 anos, se tanto. O jornalismo em Portugal já se fazia com muito empenho antes do 25 de Abril, quando havia uma censura quase férrea e havia trabalhos fabulosos que os estudantes de Comunicação Social deviam ler, nomeadamente nas entrelinhas da “Bola”. Eu acho que o jornalismo português é rico, obviamente que deve evoluir e que está a crescer, mas em relação a dizer que o jornalismo português está melhor eu tenho muitas dúvidas.Há que aprender essa escola que ele pode dar origem. De certa forma em alguns sítios ele está pior.

Neste contexto, é possível falar com isenção e objectividade? Eu acho que o jornalismo português deu uma grande lição, precisamente em Timor. Ao contrário do que as pessoas dizem, os jornalistas portugueses, em Timor, ouviram as partes. Normalmente, não é muito fácil principalmente numa zona de guerra, mas eu acho que o jornalismo português deu uma grande lição de jornalismo ao mundo porque em Timor ouviram as milícias, ouviram os indonésios, ouviram o governo indonésio, ouviram as Nações Unidas, ouviram o governo português, portanto foram bastante imparciais.Eu reconheço que havia uma emoção nacional com Timor, mas no terreno os jornalistas deram voz a toda a gente, portanto eu acho que foram extremamente isentos. Acho que foi uma grande lição de jornalismo.

Acha sinceramente que o jornalismo português ainda vai demorar muitos anos até chegar ao jornalismo, por exemplo, do tipo da Sky News, CNN? Eu rezo todos os dias a Nossa Senhora, e não acredito em Nossa Senhora, mas rezo-lhe todos os dias para que o jornalismo português nunca chegue à CNN, porque a maior mentira da história é rigorosamente o jornalismo da CNN.

iado em Psicologia orando cologia do Terrorismo

Acha então que as grandes cadeias televisivas são em parte uma farsa? Acho que a CNN é uma farsa. Os jornalistas da CNN, quando chegam ao local, já decidiram o que é que vão dizer. É só o cenário.

No jornalismo que desenvolveu em Timor qual foi a situação que o marcou?

Que balanço faz da sua experiência como repórter de guerra em Timor?

Foi ver crianças e mulheres, algumas delas grávidas, serem atiradas para cima de arame farpado para alvarem a vida.

Tem de ser um balanço positivo. Acho que o investimento foi grande. Foi um grande risco ficar lá. Hoje podia ter uma estátua, mas estar debaixo de terra.Graças a Deus não tenho a estátua mas..

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Não poupa palavras.

Nessa altura o papel de jornalista foi posto um pouco de parte e ficou o homem, a nível de emoção?

E que experiências retirou dessa reportagem?

sei que fiz essas imagens, sei que as mandei de uma forma quase caricata para Lisboa. Sei que elas correram o mundo e portanto por muito que me tenha doído, tive essa sorte, de conseguir não perder a noção de que retratar aquilo era uma forma de denunciar. Se calhar filmei aquilo e depois fui para um canto de lágrima no olho, mas filmei aquilo.

Nunca é a mesma experiência. Eu estive na Bósnia-Herzegóvina debaixo de fogo e a experiência não é a mesma. Estive em Timor debaixo de fogo e a experiência não é a mesma.Estive em Islamabad, quando ninguém lá conseguia entrar, e a experiência.Cada terra, cada realidade dá-nos uma experiência diferente. Cada história é uma experiência e cada grande história é uma experiência.

Quanto aos outros jornalistas, a nível mundial, acha que houve essa sensação por parte deles ou houve mesmo uma passividade? Em Timor não houve frieza nenhuma. Toda a gente tinha jornais de todo o mundo, dos sítios mais recônditos do planeta e as pessoas indignavam-se porque não havia uma guerra em Timor. No Paquistão há uma guerra, no Afeganistão há uma guerra, x pessoas de um lado e x pessoas de outro lado. Em Timor havia um exército, ou melhor, havia umas milícias que eram ajudadas por um exército que agrediam um povo. As FALINTIL estavam fechadas á chave nas montanhas e não conseguiam sair de lá, obedeciam ao Xanana e deixaram que as populações fossem dizimadas nas cidades.

Voltaria a fazer o mesmo? Claro. E eu vim agora do Afeganistão. Eu fui o primeiro jornalista a entrar no Afeganistão, na zona dos Talibã.

Sente-se privilegiado por ter estado em Timor? A nível profissional talvez seja uma experiência bastante diferente. Sendo um jornalista de guerra, não acho que a experiência de Timor seja uma experiência muito enriquecedora.

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Jornalismo na primeira pessoa

Qual é a sua opinião relativamente à formação do ensino superior em Portugal, à área de Comunicação Social?

Então o jornalismo não vive para a qualidade mas sim para a quantidade? Algum, nem todo. Na SIC, na RTP, no Público, no Diário de Notícias, há excelentes redacções.

Eu acho que há muito boas escolas de Comunicação Social em Portugal. Não há é boas escolas de jornalismo

Moderador? Denunciador, não creio que tenha sido moderador. Foi extremamente denunciador “

Sem papas na língua. TVI é um jornalismo sensacionalista

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Quanto mais autónoma é uma entidade jornalística, mais jornalística ela é.

Não haverá, por parte das instituições, entidades e das próprias autoridades, uma falta de intervenção?

Defende então que no jornalismo é necessário dar lugar a um vasto conjunto de pessoas de diferentes profissões para lhe dar uma visão mais completa?

A maioria das pessoas quando não há solução para as coisas diz que o governo é que tem de resolver e eu acho que é rigorosamente o contrário. da orientação das empresas que o tutelaram e isso é perigoso. é que tem que saber o que quer. A questão é esta e isto é tão ridículo quanto isto: não deixam entrar os estudantes portugueses na universidade para o curso demedicina com menos de 18 valores, mas deixa-se que os médicos espanhóis entrem sem se saber com que média é que eles entraram. Mas muitos dos jornalistas que estão a exercer a profissão não são pessoas formadas em jornalismo e há muitos jornalistas formados em jornalismo que estão no desemprego. Hoje em dia há um problema de formação. enriquece no jornalismo. Os juristas, os homens com formação na área das ciências, também têm lugar no jornalismo porque há áreas que

Eu tenho dúvidas que Portugal pudesse fazer mais e não creio que os jornalistas portugueses tivessem essa sensação,não na quele momento. De facto o que os jornalistas portugueses sabiam que havia uma relação emocional. Mas o que osjornalistas portugueses tinham de mais valia é que conheciam a realidade, conheciam de facto a realidade. A Maria Rezas, penso que é assim que ela se chama, da CNN, e isto revela um bocado o espírito da CNN, chegou a Timor e fez um vídeo no dia em que chegou e que dizia assim: “Aqui em Timor o problema é muito simples: de um lado existem as milícias, do outro lado as FALINTIL e no meio o exército indonésio a evitar que eles se guerreiem.”. Nessa perspectiva os jornalistas portugueses tinham uma mais valia: individualmente cada um deles estaria ou não emocionalmente envolvido com partes.

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Jornalismo na primeira pessoa

Que tipo de jornalismo se faz hoje em Portugal e qual a sua opinião sobre esse tipo de jornalismo?

O jornalismo em Portugal está muito dependente dos diretores de informação e também de um certo gosto do mercado?

Faz-se todo o tipo de jornalismo em Portugal e muito bom jornalismo, mesmo muito bom. Há jovens a sair da universidade com uma capacidade muito forte de trabalhar, com uma vontade muito grande, com uma ambição muito grande. Há condições muito boas para que as pessoas progridam e depois há jovens que se estão a sujeitar ás condições que o mercado impõe. Portanto eu acho que há mesmo muito bom jornalismo em Portugal mas também muito mau. Não me parece que o jornalismo em Portugal esteja mal ou que a próxima geração seja má. O que está em causa aqui e o que pode ser perigoso são as condições de mercado. Um jovem que chega ao mercado de trabalho e que tem todas as condições para ser um bom jornalista, mas que por via de excesso de oferta para o que o mercado precisa, começa por ganhar menos do que devia, é, se calhar, facilmente manipulado pelo poder económico, e isso, é que é complicado.

O jornalismo em Portugal começa a estar dependente em excesso

Depois de todo o trabalho jornalístico que realizou em escrever um livro? Escrever um livro sobre Timor foi, essencialmente, poder desabafar sem o espartilho do colete de repórter. Aí sim eu disse rigorosamente aquilo que pensava sem ter que estar preocupado com a forma jornalística.Mas não na perspectiva de forma do texto mas, essencialmente, nas questões deontológicas.

Quanto mais depender do poder económico ou político,menos objetiva é.

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Jornalismo na primeira pessoa

Como é que consegu conviver de perto com vidas tão difíceis, algumas até desumanas, ‘desligar’ quando chega a casa?

Os jornalistas são pessoas, não são insensíveis nem dissociados da realidade... Aprendem, ao longo dos anos, a conter-se no momento e depois, no seu recanto, choram, indignam-se e às vezes até participam na solução dosproblemas. E eu não sou diferente.

Acho que o jornalismo em Portugal começa a estar dependente em excesso da orientação das empresas que o tutelam e isso é perigoso.

Como está a viver este papel de apresentador? Hernâni Carvalho ,É diferente do que tenho feito ultimamente, mas não é novidade, pois já o tinha feito na RTP. Este é um registo diferente, já que não é sobre crime mas sobre histórias de vida das nossas cidades, por isso sem opinião e mais factual. Está a correr muito bem, tem sido uma experiência muito boa.

Como é que consegu conviver de perto com vidas tão difíceis, algumas até desumanas, ‘desligar’ quando chega a casa? Os jornalistas são pessoas, não são insensíveis nem dissociados da realidade... Aprendem, ao longo dos anos, a conter-se no momento e depois, no seu recanto, choram, indignam-se e às vezes até participam na solução dos problemas. E eu não sou diferente.

Sente que perdeu alguma coisa do crescimento dos seus filhos por essa dedicação? É provável que tenha perdido, mas também ganhei coisas que não teria ganho... O meu filho mais velho, quando cheguei de Timor, teve uma reação fantástica, já que a preocupação dele assentava em dois pilares: o direito do povo timorense a ser independente e o dele a ter o pai perto dele... Hoje recordamos isso com alegria e carinho e a minha convicção é que o trabalho nos tirou momentos vitais, mas também nos deu momentos juntos que não teriam acontecido.

É agora mais presente? Ao contrário do que as pessoas acham, somos sempre pais diferentes, porque os filhos também o são. O Dinis vive o pai que tem com a idade que tem e de acordo com época em que vivemos. Não tenho mais para o Dinis do que tive para o Hernâni.

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No Jogo Do SIRESP Ruters

Todos de fora

Emergência por telemóvel

As falhas, erros e omissões continuam sem responsáveis conhecidos mas não faltam incongruências entre relatórios. Depois de a PJ ter identificado uma árvore no lugar onde o incêndio terá começado (Pedrógão Grande) um relatório do IPMA atestou esta semana não haver qualquer registo de raios caídos na quele lugar.

Sobre a tragédia de Pedrógão, todas as entidades intervenientes emitem relatórios, mas nenhum é coincidente em nada com o do lado... PJ, Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA), Proteção Civil (ANPC), Rede Nacional de Emergência e Segurança, vulgo SIRESP, SecretariaGeral do MAI e o próprio Ministério da Administração Interna (MAI) parecem escrever relatórios sobre países ou lugares diferentes.

Certo é que diversas fontes contactadas esta semana pela TvMais, junto dos bombeiros e das polícias, confirmaram que em caso de emergência, preferem sempre recorrer aos telemóveis pessoais do que ao SIRESP.

N o jogo, do empurra entre entidades Um especialista, aponta uma alternativa ao SIRESP.

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Jornalismo na primeira pessoa

Marinha, Exército e SIRESP

SIRESP

Falharam as comunicações

O tenente-coronel João Alveolos, especialista em Segurança e Defesa, disse esta semana à TvMais que o sistema de comunicações da Marinha de Guerra portuguesa (via satélite) é excelente e que já foi testado diversas vezes fora de portas. Este especialista explicou também que o sistema de comunicações do Exército (por repetidores) também é bom, está montado e a funcionar.

só este vai custar ao mais 44 milhões. Desde que esta parceria públicoprivada nasceu (SIRESP, 2006), já custou mais de 500 milhões.

Depende. Nos dois relatórios sobre as comunicações no fogo de Pedrógão Grande, já entregues ao Governo, as perguntas são iguais, mas as respostas, chegam diferentes. O relatório da ANPC. diz claramente que houve falhas na rede SIRESP. No relatório da SIRESP, lê-se que “Não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma estação-base que tenha ficado fora de serviço em sequência do incêndio”.

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Re de e s burac a da , ausência d e deteto r es de m ov i m e n to. O chefe do Estado-Maior do Exército, a propósito do roubo de armamento feito nos paióis principais.A últimaronda foi feita às 20 h de terça--feira, 27, e o roubo só foi detectado pelas 16.30 h de quarta, 28. A investigação está a confrontar diversos responsáveis, uma vez que deveria haver rondas de duas em duas horas.Os militares de vigia aos paióis, designadamente os quarteleiros, serão, para já, os que mais estarão soba mira da Polícia Judiciária Militar e da PJ. Terrorismo ou guerra

Um arsenal roubado

“Já deve ter voado tudo para fora do País.

As fontes militares contactadas pela TvMais referem que foram detectados dois buracos nas redes do perímetro de segurança e que nos paióis foram roubadas dezenas de granadas anticarro (lança-rockets), mais de uma centena de granadas de mão (ofensivas e defensivas), mais de mil munições de guerra, granadas de gás lacrimogéneo, material diverso de sapadores militares, bobinas de arame, disparadores e iniciadores (equipamento para rebentar explosivos PE4A (57 kg), muito usado em carros-bomba no Iraque e no Afeganistão pelo elevado poder de detonação que tem. Muito mais forte que TNT.

Coisa de profissionais com informação privilegiada nos paióis. É material procurado por diversas organizações, mais ou menos clandestinas, e parte dele, é usado no fabrico de bombas improvisadas.As granadas de mão dão jeito em quase todas as circunstâncias de guerra.

Escândalo A TvMais falou esta semana com António Baldo, licenciado em Políticas de Segurança sargento-mor da Polícia do Exército tremenda, que nem com as FP25 Abril um escândalo destes aconteceu”. O especialista explicou que quando estava no activo, todos os paióis da zona envolvente de Lisboa, por exemplo, além dos militares que tinham lá colocados, eram rondados e fiscalizados em permanência pela PE. O antigo militar exclamou “Ao que isto chegou!

Obras e videovigilância Nem os paióis nem as redes têm sequer detectores de movimento. O sistema de videovigilância dos paióis está “inoperacional” há cerca de dois anos. As verbas para comprar vigilância electrónica e controlo de acessos estavam calendarizadas para 2018. O perímetro dos Paióis Nacionais do Exército, em Tancos, tem 2500 metros de extensão.A rede metálica exterior, recebeu algumas obras (poente) no final do ano passado.

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Roubo nos paióis do exército videovigilância inoperacional há anos.


Jornalismo na primeira pessoa

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Uma história escrita a sangue

A 8 de janeiro de 2011, Portugal acordou sobressaltado com a notícia de que o cronista Carlos Castro tinha sido encontrado morto num quarto de hotel em Nova Iorque

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Jornalismo na primeira pessoa

“Morrer em Times Square”

A sua especialização no crime já o motivou a escrever quantos livros?

O homicídio está claramente tratado no livro? Publicar este livro serviu para poder mostrar, independentemente daquilo que sentimos ou pensamos, que se tratou de um homicídio que teve motivos fortes porque só motivos fortes é que fazem este matar aquele. O que se conclui lendo este livro, é que aqueles dois seres tinham uma relação que interessava a ambos, mas com motivações diferentes. Quando um dos personagens não aguentou mais o preço que pagava para ter aquela relação, soçobrou e liquidou o outro.

Escrevi sobre o Cabo Costa, a Maria das Dores, dois sobre a Maddie, sobre o caso das crianças desaparecidas e o Rui Pedro, e o caso D’Orey, que, na minha opinião ainda não está resolvido, ou seja, sobre estas matérias já escrevi sete ou oito livros.

Que balanço faz deste livro?

Este livro não vitimiza ninguém?

Ninguém é bom juiz em causa própria, por isso faço questão de fazer aqui uma ressalva: Não sou escritor, escrevo matérias em formato de livro! Sou apenas um escrevedor, isto é, não sou um artista,

Está, na minha opinião, para além das expressões: “coitado do Renato” ou “coitado do Carlos”, e da emoção que a morte provoca.

É um jornalista que conta histórias em forma de livro?

Fala das eventuais motivações psicológicas?

Prolongo algumas histórias e publico-as em livro, que não são mais do que peças jornalísticas noutro suporte e com maior dimensão. Tenho o maior respeito pelos escritores.

Um dos argumentos utilizados é que se tratou de um surto psicótico e no livro ficamos a perceber o que isso é. Para me ajudarem na parte técnica consultei catedráticos da matéria: Quintino Aires e Paulo Sargento, professores universitários, que têm dedicado a vida a matérias clínicas e forenses; e também consultei juristas para mostrar as diferenças que existem entre o ordenamento jurídico português e o norte-americano.

Aprecia livros policiais? Curiosamente não. Nem acho que escreva livros policiais, escrevo sobre crime. O policial é um género literário e eu não sou escritor. Profissionalmente leio tudo o que tiver que ler, mas, quando leio por hobby, prefiro temas históricos.

Ouviu amigos do Carlos Castro e do Renato para escrever este livro?

Para além do jornalismo, é vereador da Câmara de Odivelas.

Isso era incontornável. Falei com pessoas que se deram com o Renato e com amigos do Castro.

Escrevo crónicas para a revista “Tvmais”, estou no “Querida Júlia”, na SIC, a falar de crime duas ou três vezes por semana, escrevo livros e sou vereador. Quanto à experiência política, como sabe, concorri a presidente da Câmara e perdi por um por cento. Acabei por ficar vereador porque como fui eleito, achei que seria uma traição às pessoas que votaram em mim, e estou a gostar,

A publicação não está a acontecer um pouco tarde? Não sei se é tarde, mas este livro é escrito depois da espuma das emoções. Por isso é um livro isento, sem parcialidades. O próprio momento emocional faz-nos esquecer alguns detalhes e todos sabemos que é nos detalhes que está a solução dos problemas da vida.

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A RTP Não trata bem os seus profissionais

Quando lhe ligámos a pedir esta entrevista, a sua primeira reação foi perguntar “o que é que eu fiz de mal desta vez?”

E agarrar esse touro pelos cornos, como se diz, traz-lhe problemas? Tem-me trazido ao longo da vida. O importante é fazer as coisas com honestidade. E falar com o advogado para lhe dizer “vamos ter mais um processo porque vou falar esta verdade”

Não. As pessoas é que se incomodam muito com alguns comentários. A verdade é que tenho trinta anos de carreira e nunca fui condenado emtribunal, mas passo lá a vida.

Sabe quantos processos tem em tribunal?

Porque é que as pessoas se incomodam assim tanto com o que diz?

Não Acho que nem o advogado sabe.

Provavelmente por ser assertivo no que digo. Não sou mais nem sei mais do que qualquer um de nós, mas olho de forma desassombrada para as coisas e chamo-as pelos nomes. Um touro é um touro.

Foi o seu percurso profissional que o levou ser assertivo ou o facto de o seré que o encaminhou para o jornalismo? Provavelmente foi mais esta maneira de ser.

Hêrnani, Basta olhar para as grelhas de programação. Mas eu não vejo a RTP. Preocupo-me mais com o meu trabalho.

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Jornalismo na primeira pessoa

Nem verdade neM consequência Até que ponto é que a sua opinião está presente nos comentários que faz no Querida Júlia, na SIC?

É isso que acontece? Basta olhar para as grelhas de programação. Mas eu não vejo a RTP. Preocupo-me mais com o meu trabalho.Se olharmos para os canais privados,também se imitam um ao outro, ou não? Falo, por exemplo, dos programas da manhã, que são muito semelhantes...Isso também é verdade, tenho de ser justo. Alguém, um dia destes, vai ter de ganhar coragem e romper com isso.

Quando a dou a minha opinião, digo que o vou fazer. Quando um juiz dá como provada uma agressão sexual de um adulto a um menor e a seguir lhe suspende a pena, isto é um facto. É, mas não deixa de ser um facto. Quando digo que,provavelmente, isto está mal, já é a minha opinião.

Passar os dias a lidar profissionalmente com o “lobo mau” da sociedade não lhe traz consequências enquanto pessoa?

Quando diz que a RTP não trata bem os profissionais é em que sentido? Não os valoriza. Uma vez vi um grande profissional apresentar um trabalho que tinha acabado de fazer no Sul de Espanha sobre emigração clandestina vinda de Marrocos ser destratado de tudo e esse trabalho ser mais tarde premiado. Portanto... não valoriza muito os seus profissionais. Basta pensar que a maior parte dos quadros da SIC e da TVI foram feitos com pessoas da RTP que estavam descontentes e ansiosas

Claro. Mas não é essa a vida dos médicos, Dos enfermeiros, Dos psicólogos Estes só têm uma vantagem que eu não tenho: Pedem-lhe muitas vezes ajuda? Sim... sim... As pessoas pensam que nós resolvemos os problemas.

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Não são só os jornalistas.

Fez em dezembro do ano passado 30 anos de carreira. Porquê jornalismo?

Alguma vez o trataram mal a si ou fala apenas do que viu acontecer com colegas?

Não sei... já em miúdo escrevia nos jornais de liceu, da paróquia Depois, em 1982, entrei para os quadros da RTP por concurso público. Foi na estreia das instalações da RTP na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Comecei a colaborar na redação do Telejornal de fim de semana,na altura dirigido pelo Rui Tovar. Lembro-me da primeira investigação que fiz, sobre a aquisição de carros em grupo. Foi uma investigação dolorosa porquenessa altura as câmaras ocultas não estavam assim tão disponíveis.Ou seja, começou a trabalhar desde logo na área da investigação e docrime...Logo. Eu só queria ser jornalista, mas quando somos novos fazemos aquilo que nos deixam. Tinha a vantagem de ter sido militar e voluntário na Cruz Vermelha, por isso estava minimamente dentro dos assuntos da Administração Interna.

Posso dizer que fui processado porque perdi um telemóvel em zona de guerra. Fui alvo de um processo disciplinar ao regressar do Afeganistão depois de fazer a célebre reportagem com o Nuno Patrício na zona dos talibã...Aquela reportagem que me deu uma menção honrosa que, enfim, soube-me bem, mas não dá de comer a ninguém.Não a viu como um reconhecimento? Sim, isso sim. Saiu da RTP em 2003 por estar incompatibilizado com opções editoriais relativas ao processo Casa Pia e foi trabalhar com jornais e revistas.

É consumidor de que tipo de televisão? Vejo de tudo um pouco. Menos a RTP...Estava a ironizar quando disse isso. É claro que vejo a RTP, que tem excelentes profissionais.

Acabou por ficar na RTP durante 21 anos. Como é que olha para a estação de hoje?

Hugo Andrade, diretor de programas da RTP, não tem feito um bom trabalho?

Como a melhor escola de formação deste país. Tem excelentes profissionais, gente extremamente honesta e que está sempre pronta para vestir a camisola pela casa. Entendo é que a RTP não trata bem os seus profissionais. Não é só os jornalistas, mas todos os que lá trabalham. Se calhar por ter uma estrutura grande, muito apetecida do poder político, instrumentalizada aqui e ali Mas foi a grande escola de muita gente. Tudo o que sei aprendi ali. Agora, em termos do serviço público de que tanto se fala, de certeza que este não é andar a desperdiçar dinheiro à grande.

O que é preciso é saber alguma coisa de programação. Não podemos passar de uma área para outra apenas porque nos convidaram, nem ter acesso ao poder apenas pelo poder. Eu vejo maus resultados. Até se pode gostar muito de um treinador, ele pode ser bom rapaz e empenhado, mas se a equipa não ganha é porque ele não serve para o lugar.

Porque passou de jornalista a comentador? Porque com todos os defeitos que os espaços da manhã possam ter, acabam de fazer mais para esclarecer as pessoas sobre algumas matérias do que 24 de informação. Ali há tempo para isso.

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Jornalismo na primeira pessoa

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Ingressou Nos Quadros da RTPem 1982

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O Índice da Maldade Construiu o inédito , O Índice da Maldade . a partir da Escala da Maldade, do consagrado psiquiatra Michael Stone. Dos níveis 1 a 22, o jornalista e comentador da SIC analisa os casos de homicídio, tortura e violação que mais abalaram os portugueses nos últimos anos: Renato Seabra, Rei Ghob, Manuel Palito, o Estripador de Lisboa, o Monstro de Beja, o Mata Sete, o Violador de Telheiras…

O que têm em comum e o que os separa? Das origens da maldade à relação entre homicidas e psicopatas, passando pelas linhas ténues que separam a maldade da loucura, o autor coloca-nos frente a frente com uma realidade perturbante, mostra-nos os factos, desmistifica ideias feitas. Afinal, Para esta pergunta, Hernâni Carvalho encontra diferentes níveis de resposta.

Afinal, o ser humano é mesmo mau

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Jornalismo na primeira pessoa

Trabalho relalizado Por : João Madeira Associação Existir Loulé Unidade de Reabilitação e Formação Profissional Na Área de Operador Pré-Impressão Um trabalho sobre as várias reportagens de Drº Hernani Carvalho Licenciado em Psicologia Doutorando em Psicologia do Terrorismo

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mas afinal hรก uma lei para ricos e outra para pobres?

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