Setembro de 2013 - Publicação Bimestral - Uma experiência em Jornalismo Ambiental
POR ONDE IR?
As alternativas para a solução dos problemas de escoamento de cargas no Brasil
Incineração
Queimar o lixo é um caminho viável?
Alimentação
Pratos recheados de insetos. Hmmm...
EDITORIAL
É primavera... Chegamos a Setembro, mês das flores e também o mês que antecede o ENEM e o começo da temporada dos “temidos” vestibulares. Mas não se assuste. Como diria um velho provérbio espanhol “para tudo há solução, menos para a morte”. Por isso a segunda edição do Impacto Ambiental poderá te ajudar nesse momento levantando temas polêmicos e que estão nos noticiários atuais, pois os temas abordados da edição e podem cair como tema de uma pergunta ou da redação. Um exemplo disso é o problema brasileiro com o transporte de cargas, que envolve toda a economia brasileira e o pãozinho que chega aí na sua casa! Afinal, como o trigo do pão vai chegar à padaria de uma forma rápida e barata se as nossas rodovias não são preparadas para um transporte de qualidade e prático? E o que acontece com os nossos portos e exportações? E os trens? Há salvação para o transporte brasileiro? Já em algumas cidades no Brasil não há mais espaço nos aterros para a quantidade de lixos que a população produz. E agora, o que fazer? Procurar outros aterros pode não ser a melhor solução atual, e que queimar o lixo pode ser uma alternativa. Mas e a poluição do ar? Na reportagem especial é possível encontrar os prós e contras dessa questão! Como você pode ter percebido procuramos escolher assuntos que podem ser o tema decisivo do seu resultado em qualquer prova, em alguma discussão ou em uma simples conversa, por isso aproveite o máximo que puder dessa edição. Se ficar com alguma dúvida, procure nossa ajuda ou do seu professor. Ah, e para você que ainda não está no ano de vestibular, aproveite a edição para ficar por dentro tanto dos assuntos polêmicos quanto das curiosidades que trouxemos, pois o meio ambiente está em tudo e sempre é bom saber um pouco mais sobre ele. Tenham uma ótima leitura, A redação. 2
Expediente Publicação realizada por estudantes de Jornalismo, Design e Relações Públicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) e o Programa JC na Escola.
Diretor Administrativo e Marketing: Renato Delicato Zaiden Diretor Industrial e de Tecnologia: Marco Antonio C. Oliveira Gerente de Produtos Editoriais: João Jabbour Jornalista Responsável: Gisele Hilário Editora Executiva: Marcia Duran Gerente Industrial: Célio Marcos Gerente Comercial e Marketing: João Carlos do Amaral Gerente de Tec. Da Informação: Evandro Ferreira Campanha Coordenador do JC na Escola: Sérgio Roberto de Moura Purini
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Orientadores: Pedro Celso Campos (MTB 186) e Angelo Sottovia Aranha (MTB 12870) Editor: João Pedro Ferreira Coordenadora de Reportagem: Isabela Giordan Gestão Estratégica: Graziela Loures e Juliana Arbulu Diagramação: Fernanda Sousa Infografia: Fernanda Sousa e Giovanni Mársico Ilustrações: Danilo Rodrigues e Yuri Campos Fotografia: Julia Germano e Monique Nascimento Pautas: Heloísa Santos e Letícia Ferreira Reportagem: Ana Beatriz Ferreira, Agnes Sofia, Higor Boconcelo, Isabela Romitelli, Isabela Holouka, Lucas Mendes, Lucas Zanetti, Jorge Salhani, Marcos Cardinalli, Paula Nishi e Thales Valeriani.
Acesse também: www.mundodigital.unesp.br/ImpactoAmbiental
ALIMENTAÇÃO
Uma mosca na minha sopa Seguros para o consumo, insetos podem ser alternativa no combate à fome. Texto: Lucas Zanetti e Lucas Mendes Julia Germano Travieso
O que você acha de consumir insetos em sua alimentação? O nome disso é entomofagia, e é o que recomenda o relatório publicado em maio pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que vem desde 2010 fazendo um forte trabalho para quebrar o preconceito e mostrar que os insetos podem ser uma alternativa viável para a alimentação. Os ganhos da entomofagia são grandes: estudos comprovam que ela pode ser usada para combater a fome no mundo, pois insetos são de fácil criação e necessitam de pouca água e espaço para serem criados. Além disso, devido ao baixo custo de sua criação, a entomofagia se faz muito acessível a todos. Pelos mesmos motivos, a prática também é “verde”. Não é necessário desmatar as florestaspara o cultivo dos insetos, porque eles, além de conviverem, também dependem da mata para sobreviver, diferentemente do gado, que toma lugar da vegetação para a pastagem. O consumo de água também é diminuído, bem como a produção de gases poluentes, como o metano. Além disso, muitos gastrônomos buscam nos insetos formas de incrementar seus pratos, utilizando-os como novas opções de sabores para suas receitas. No entanto, no Brasil, devido ao fato de a entomofagia ser vista com preconceito, não há portaria liberada pelo Ministério da Agricultura para consumo e comércio de insetos. Rossano Linassi, gastrônomo e membro do grupo ‘’Antropoentomofagia: insetos como recursos alimentares’’, explica que ‘’em nosso país demora-se muito para perceber a importância de novas tecnologias e opções, o que nos coloca sempre correndo atrás do prejuízo, depois que outros países, até menos desenvolvidos, já desenvolveram, e vendem sua tecnologia para nós.’’ A prática de incluir insetos na alimentação vai muito além de complementar a nutrição básica do ser humano. De acordo com pesquisas da FAO, o consumo de insetos é al-
Já pensou trocar aquele churrasco por esses insetos? Alguns possuem muito mais proteínas do que a carne
tamente nutritivo. O interesse em comer insetos se deve principalmente ao valor nutricional, pois há grande concentração de proteínas quando comparados a outras fontes. De acordo com nutricionistas, em 100 gramas de alimento cru, a barata cinérea e a larva de mosca possuem entre 50 e 60 gramas de proteína, enquanto as carnes de boi, porco ou frango não passam de 20 gramas. Entretanto, Linassi atenta que deve ser tomado cuidado com essa prática: ‘’alguns insetos possuem toxinas ou esteroides que podem fazer mal a saúde, levando até a morte, e os coletados em áreas inadequadas ou criados de forma inadequada, podem estar contaminados por lixo, resíduos químicos, venenos, esgoto, metais pesados, etc.’’ Por isso, como com qualquer outro alimento, devemos saber qual a procedência dos animais e comprá-los somente em locais apropriados, raros no Brasil. Além dos benefícios nutricionais da ali-
mentação de insetos, existe a preocupação com a diminuição do consumo de carnes tradicionais. Segundo a FAO, o consumo de carnes subiu de 20 para 50 kg para cada pessoa por ano e a previsão é de que aumente para 80 kg. Em vista destes números, a saída para manter a nutrição mais completa e causar menos impacto ao meio ambiente pode ser o consumo de insetos.
Você sabia que quase tudo do seu computador é reciclável?Tente procurar os endereços de coleta na prefeitura ou na internet. Esses locais também costumam aceitar alguns produtos como cabos e celulares. 3
SAÚDE
O homem e seu melhor amigo em risco Apesar da prevenção, vacina e tratamento, os casos de leishmaniose em Bauru continuam acontecendo Texto: Thales Valeriani
Infográfico: Giovanni Mársico
Monique Nascimento
Animais e seres humanos sofrem com a doença. Na última década morreram 2.287 pessoas no Brasil em decorrência da leishmaniose, segundo o Ministério da Saúde.
A leishmaniose é transmitida pelo mosquito-palha que, ao picar, introduz o protozoário Leishmania chagasi, também chamado de Leishmania infantum. A doença não é contagiosa, ou seja, uma pessoa não a propaga nem para outras pessoas, nem para animais, e vice-versa. Neste ano, em Bauru, até o mês de ju lho, 13 pessoas contraíram a doença e uma morreu. Um drama enfrentado pelos donos de animais infectados é ter que sacrificá-los, na tentativa de fazer o animal não sofrer e evitar a proliferação da doença, já que o cachorro que hospeda o protozoário pode ser picado por um mosquito, que portará a doença e poderá transmiti-la a outros seres. No Brasil, uma lei federal de 1963 condena os animais infectados a serem mortos, ou 4
seja, a eutanásia. Outra portaria de 2008 dos Ministérios da Saúde e da Agricultura proíbe o tratamento de cães infectados com produtos de uso humano. Porém, no começo de 2013, a Justiça Federal liberou o uso de medicamentos humanos para o tratamento de animais. Ainda cabem recursos em tribunais superiores, mas, até um novo julgamento, o tratamento está autorizado. Entretanto, o Conselho Federal de Medicina Veterinária continua recomendando a eutanásia. Para a veterinária Ana Tarcila Fassoni, o governo deve focar na prevenção da doença através da conscientização. Ana diz que “as pessoas ainda acham que vão pegar a doença do cão, quando, na verdade, vão pegar do mosquito. A melhor forma de prevenir é com o uso de inseticidas, repelentes e vacinas”.
Como a doença é transmitida pelo mosquito, é necessário acabar com os seus criadouros nos centros urbanos que são terrenos abandonados, lixões e lugares úmidos. Também é recomendado usar telas de proteção nas janelas e portas das casas, fazer a dedetização e evitar a construção de casas e prédios muito próximos à mata. No caso de cachorros, recomenda-se dar a vacina e colocar coleiras de veneno para evitar que o mosquito os piquem. É importante lembrar que a leishmaniose tem tratamento, mas não tem cura. Então uma vez que o cachorro for infectado, é preciso, no mínimo, levá-lo ao veterinário, para que se decida o que será feito. Sem tra tamento, o cão vira uma espécie de depósito vivo para os mosquitos o picarem e transmitirem a doença.
ESPECIAL
A queima é a solução?
Mesmo enfrentando resistência de alguns grupos, a incineração desponta como uma saída para a questão do lixo Por: Isabela Rocchi Nos últimos anos. muito se discutiu sobre o destino que deve ser dado aos resíduos sólidos orgânicos produzidos pelo homem, cujo volume só cresce a cada ano. Entretanto, ainda não se chegou a um consenso. Atualmente, a intenção de alguns municípios paulistas é de adotar projetos de incineração para resolver o problema do lixo, principalmente da Região Metropolitana de São Paulo, como em Mogi das Cruzes, Barueri e São Bernardo do Campo. A cidade de Barueri, por exemplo, que não tem aterro sanitário próprio e hoje descarta seu lixo a 30 km de distância, vai aplicar R$ 160 milhões na instalação de uma Usina de Recuperação de Energia (URE) que inci nerará, a uma temperatura de 800°C, 90% do total de resíduos, a um custo de R$ 44,6 milhões anuais, e já está em fase de licenciamento junto à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Mogi das Cruzes e outros cinco municípios também negociam com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) o desenvolvimento de um projeto conjunto para incinerar 500 toneladas diárias. O projeto já foi condenado pelo Conse lho do Instituto Pólis, devido não somente aos riscos da incineração, mas também aos prejuízos gerados para as cooperativas de catadores de materiais recicláveis da região. O tema também foi discutido em recente reunião promovida pelo Instituto Ethos, em que empresas eram convidadas a assinar um termo de compromisso sobre "gestão sustentável de resíduos sólidos". A carta foi escrita de acordo com as prioridades da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pelo Congresso Nacional, que são: não gerar resíduos, reduzi-los, reutilizá-los,
Ilustração: Danilo Rodrigues reciclá-los, dar prioridade na política a coo perativas de catadores. O trecho que tratava da incineração, colocando-a como última alternativa ao descarte do lixo, foi suprimido de última hora pelo Senado. Como se pode perceber, o problema do lixo tornou-se uma preocupação nacional.
Segundo dados do Censo de 2010 do IBGE, diariamente são geradas mais de 230 mil toneladas de lixo domiciliar e comercial (desconsiderando-se entulhos e outros tipos de resíduos), mais de 1,2 quilo per capita por dia. Do volume total de resíduos produzidos, 89% é coletado e mais de 40% vai para 3.369 lixões.
Infográfico: Fernanda Sousa substâncias tóxicas, dentre elas as dioxinas e furanos, que são gases cancerígenos, o que significa um risco à saúde humana. Segundo Nelson da Cruz Gouveia, professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP. há pesquisas que comprovam este risco. “Há pesquisas em diversos países que comparavam o aumento da incidência de câncer em regiões que recebem as emissões desses incine radores, mas não aqui no Brasil” diz o médico. Outro problema ambiental gerado pela incineração diz respeito ao armazenamento das cinzas que sobram do processo, que são altamente tóxicas. Já o Movimento Nacional dos Catadores tem agido de maneira ativa contra a instalação de usinas nas regiões sul e sudeste. Em Porto Alegre, por exemplo, onde a prefeitura avalia dez projetos para uma central de tratamento de resíduos, com capacidade de incineração de 1,8 mil toneladas diárias, houve protestos veementes do Movimento. Apesar dos movimentos de oposição, a tendência à incineração cresce, pois diversas cidades brasileiras enfrentam o esgotamento de seus aterros e o alto custo do transporte de resíduos tem se tornado inviável.
Alternativas existem? Outra opção para os resíduos é a reciclagem, que no Brasil ainda é tímida: menos de 2% do lixo passa pelo processo. A melhor alternativa, no entanto, é a não produção de resíduos, que a cada dia torna-se um ideal mais distante, levando-se em conta que o consumo só aumenQuem é contra? A resistência aos projetos de incineração ta a cada dia, influenciado pela mídia e pelas se divide em duas frentes: a dos ambien- propagandas. talistas e a dos catadores. O primeiro grupo Uma saída para resolver a questão do afirma que as usinas de incineração emitem lixo pode ser uma combinação das várias 5
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ESPECIAL alternativas disponíveis. Um estudo da UNESP de Sorocaba, realizado a partir da análise das 135 toneladas diárias de resí duos levadas ao aterro da cidade de Indaiatu ba, mostrou o desperdício de recursos: 91% deles eram reaproveitáveis ou poderiam ser compostados e/ou reciclados. A associação das estratégias de destinação do lixo, além de reduzir o desperdício, significaria uma economia de espaço nos aterros.
A questão ambiental não é o único obstáculo à instalação das UREs. “O problema, em geral é o custo, pois são mais caras que os aterros sanitários. No entanto, consi derandoa falta de áreas disponíveis para os aterros, e os potenciais ganhos com a venda da energia elétrica ou vapor, pode vir a ser compensado” adiciona Maria Silvia. Em São Bernardo do Campo, por exem plo, apenas a implantação da URE está orça da em cerca de R$ 600 milhões. A usina terá capacidade de processar até 1 mil toneladas de resíduos por dia para gerar constantes 30 MW - suficientes para abastecer uma cidade com 200 mil habitantes, como Marília, por exemplo. A recuperação de energia pode ser con siderada uma solução técnica e ambiental mente viável para a questão dos resíduos sólidos domiciliares no Brasil. Os impasses e dúvidas às emissões gasosas geradas pelas usinas de incineração têm sido sanados por meio de pesquisa e do desenvolvimento de equipamentos com tecnologia capaz de con trolar esses poluentes, inclusive dioxinas e furanos. Agência Estado
Como estão surgindo as usinas de ici neração Da mesma forma que há resistência à in cineração, existe uma pressão a desenvolvi mento de projetos neste sentido. Grandes empreiteiras por todo o país começaram a in vestir na área e, como exercem uma influên cia muito forte nas políticas públicas, devido às contribuições para campanhas eleitorais, cresce o número de apoiadores da queima do lixo. Capitais como Recife, Brasília e Rio de Janeiro já têm projetos de novas UREs em fase de desenvolvimento. Em busca de novas soluções e de formas de aperfeiçoar as já existentes, como a inci neração, os órgãos públicos buscam conhe cimento junto a outros países. Em dezembro de 2004, por exemplo, o Estado de São Paulo e o Estado Livre da Baviera, na Alemanha, firmaram um acordo de cooperação técnica para avaliar alternativas para o gerencia mento de resíduos sólidos municipais. Esta Cooperação Técnica contou com a participação, do lado brasileiro, da CETESB e, do lado alemão, da LfU – Landesamt für Umweltschutz (Agência Estadual de Proteção Ambiental), respectivamente as agências de proteção ambiental paulista e bávara, além de técnicos da Secretaria Mu nicipal de Serviços e Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente do município de São Paulo. Preocupado com a questão, o Governo do Estado de São Paulo também criou uma nova resolução ambiental. “Para garantir que os padrões de emissões atmosféricos fossem observados no Estado de São Paulo, foi criada Resolução SMA 79/2009, que esta belece as condições que serão exigidas para o licenciamento dessas plantas”, explica Maria Silvia Romitelli, gerente do Departamento de Desenvolvimento de Ações Estratégicas
para o Licenciamento da CETESB. Além disso, a partir de 2005, em função da nova legislação ambiental estadual, ini ciaram-se os monitoramentos das dioxinas e furanos no mínimo a cada dois anos. Em função da localidade e características do resíduo, os equipamentos passam a realizar testes para dioxinas e furanos em intervalos anuais ou bienais. Outros aspectos, como os odores emitidos, também são controlados. Para minimizar as emissões dos com postos indesejados, os projetos das UREs em desenvolvimento têm se aproveitado do desenvolvimento tecnológico. “Os incinera dores cada vez mais estão se modernizando, não o incinerador em si, mas o processo de filtragem dos gases. Esses filtros estão cada vez melhores, então os incineradores emitem cada vez menos essas substâncias. Nunca chega a zero, mas vem diminuindo, então isso já é um alento do ponto de vista do dano ambiental e do dano à saúde. A questão da tecnologia no caso dos incineradores é muito importante, quanto mais desenvolvida a tec nologia do ponto de vista da filtragem, me lhor”, explica o professor Nelson.
O esgotamento dos aterros sanitários e lixões conduz os resíduos em direção à incineração.
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TRANSPORTES
Não é só de onde vem, mas como vem Os erros e acertos do sistema de transporte de cargas brasileiro
Por: Isabella Holouka De onde vem o leite que tomamos com café? E o café? E o açúcar? E o trigo do pãozinho? A resposta costumava estar na ponta da língua: vêm da embalagem que a mamãe compra no mercado. Um pouco depois, nos damos conta de que não é bem assim que funciona, e descobrimos que a maioria dos produtos que consumimos, depois de fabricados (ou extraídos) e devidamente embalados, percorre um longo caminho em caminhões, trens e até em navios para chegar até as nossas casas. Ou até os portos, onde são fiscalizados e continuam a jornada até outros países. Infelizmente, falar do transporte de cargas atualmente no Brasil é pensar em um panorama repleto de problemas e possibilidades, que colocaram o país em uma verdadeira encruzilhada. O principal caminho brasileiro é o melhor? O transporte rodoviário de carga (no qual caminhões se encarregam pelo carregamento dos produtos) responde, atualmente, por 58% do total no Brasil, segundo o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT). Essa concentração no modal rodoviário é a principal característica desse segmento no país, e também é a principal fonte de problemas no sistema. Mas, para entender melhor tais condições, é preciso voltar um pouco na história. O governo brasileiro optou por investir brutalmente na construção de rodovias pelo país todo entre as décadas de 1950 e 1970. Isso porque era o período em que o país recebia a indústria automobilística, e também foi quando a capital do Brasil deixou o Rio de Janeiro e mudou-se para a região Centro-Oeste (com a construção de Brasília), evidenciando a necessidade de construção de vias que ligassem uma região e outra. De lá para cá, a política que envolve os investimentos na área mudou muito pouco. A situação se agrava quando pensamos 8
Infográfico: Giovanni Mársico que o Brasil é um país cujo desenvolvimento ainda não foi plenamente consolidado, ou seja, as empresas brasileiras se modernizam a cada dia, buscando manterem-se competitivas no mercado globalizado. O cenário se torna cada vez mais frequente também nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. E, uma vez que o eixo da produção deixa de envolver apenas o Sudeste e o Sul, o país todo pede integração e construção de vias eficientes. Peter Wanke é professor adjunto do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pesquisador do Centro de Estudos em Logística, e Paulo Fernando Fleury é professor titular do Instituto Coppead de Administração da UFRJ e Diretor do Centro de Estudos em Logística. Juntos, eles são autores de “Transporte de cargas no Brasil: Estudo exploratório das principais variáveis relacionadas aos diferentes modais e às suas estruturas de custos”, um estudo sobre o transporte de cargas no Brasil. O texto indica que embora companhias privadas estejam em crescimento, pedindo por vias de transporte, uma das principais causas da situação de estagnação em que o sistema de transporte brasileiro se encontra é o uso de capital unicamente governamental para a construção de obras e, por isso, há necessidade de regulação e fiscalização dos custos, o que torna muito mais lenta a aprovação e construção de vias para o transporte de cargas. De acordo com Priscila Biancarelli, Coordenadora do Grupo ESALQ-LOG (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial) da ESALQ-USP, os investimentos necessários em infraestrutura são volumosos e demorados. “Grandes obras ultrapassam inclusive os períodos de mandatos políticos, o que prejudica a sua continuidade”, disse Biancarelli. As consequências disso estão aí para quem quiser ver. Essa dependência exagerada do modal
Ilustração: Miguel Portezani rodoviário ocasiona baixos índices de produtividade, prejudicando o lucro das empresas. O crescente número de caminhões cargueiros que transitam pelas estradas também aumenta a cada dia o nível de insegurança das estradas, e também podem prejudicar o trânsito em áreas próximas às cidades. Além disso, o uso exagerado das rodovias para transporte de carga é responsável por altos níveis de poluição ambiental, uma vez que nem toda empresa tem o cuidado de controlar a emissão de gases poluentes. Priscila aponta como uma vantagem do transporte rodoviário a possibilidade de um transporte mais flexível no que diz respeito aos trechos a serem percorridos, sendo possível até a realização de um “transporte porta a porta” sem muitas dificuldades. Ela também explicou que o uso das rodovias apresenta baixo custo fixo e elevado custo variável: os empresários lidam apenas com pequenas despesas fixas (caminhões, combustíveis e funcionários) e o Estado com grandes despesas ocasionais (reparos nas pistas e etc). Nem só de Rodovias vivem as vias Apesar de não ser o cenário ideal, sabemos que o transporte rodoviário predomina sobre o ferroviário, aquaviário, dutoviário e aéreo. Vamos novamente aos números: de todo o transporte de carga realizado no Brasil, sabemos que, segundo a PNLT, 58% é feito através das rodovias; 25% através de trens; 13% através de rios; 3,6% é feito através de dutos e apenas 0,4% é feito com aviões. Se compararmos o Brasil com outros países de grande território é possível perceber que o sistema de transporte de cargas brasileiro ignora o tamanho do país e todas as suas exigências e possibilidades. De acordo com Peter Wanke e Paulo Fernando Fleury, enquanto aqui 58% da carga é transportada pelo rodoviário, apenas 26% é transportada assim nos EUA, 24% na Aus-
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ESPECIAL trália e 8% na China. De acordo com eles “tal fato posiciona o Brasil muito mais próximo de países da Europa ocidental, de baixa di mensão territorial, que de países de grande dimensão territorial”. Sob os trilhos A melhor saída parece ser, portanto, a difusão de outras formas de transportar os produtos. Para o professor José Geral do Maderna Leite, especializado em Trans portes e Desenvolvimento Econômico, a solução mais plausível para o Brasil é um aumento significativo do transporte fer roviário e hidroviário. O modal ferroviário apresenta custos fixos elevados, pois trilhos, terminais, loco motivas e vagões necessitam de substanci ais investimentos. Por outro lado, os custos variáveis são pequenos e o preço de frete também é pequeno. De acordo com Priscila, a emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente pode ser colocada como um ponto positivo das ferrovias em detrimento das rodovias, uma vez que acontece em menor quantidade. Com o uso das ferrovias, também é pos sível transportar produtos de diferentes vo lumes e tamanhos, sendo mais maleável que o transporte rodoviário. Quanto à veloci dade, os trens são intermediários entre as rodovias e as hidrovias. O grande incômodo da implantação de ferro vias no Brasil atualmente é que, ao contrário do transporte rodoviário, elas somente atin gem o limite de suas malhas ferroviárias e muitas linhas se encontram desativadas, em más condições de funcionamento ou estacio nadas, com construções que parecem estar abandonadas. No céu, no mar, na terra e até nos rios Quanto ao transporte hidroviário, a possibilidade de transportar qualquer tipo de produto, independente do peso, da di mensão e, muitas vezes, do seu formato é o maior ponto positivo. No entanto, sabemos que o transporte aquaviário não pode ser utilizado quando a carga tem um prazo mui to curto para chegar ao seu destino. Uma das maiores limitações desse tipo de transporte, no entanto, é a dependência de uma grande infraestrutura portuária, de terminais e de sinalizações, o que limita a 10
limita a frequência das embarcações, devido ao fato de que este modal, na maioria das vezes, envolve operações com grandes vo lumes. Com relação aos custos, podem ser con siderados medianos. É preciso investimento em embarcações e em equipamentos, e seus custos variáveis são relativamente pequenos em razão da capacidade de transportar grandes volumes e toneladas. Infelizmente, o elevado número de rios navegáveis no Brasil não é utilizado como deveria. Segundo Priscila, isso se deve ao fato de que os nossos rios navegáveis não de sembocam no oceano, comprometendo uma viagem que poderia começar no interior do país e seguir até o exterior sem a necessi dade de relocar a carga. Mas e aí, o que tem sido feito? O Plano Nacional de Logística e Trans porte (PNLT) é coordenado conjuntamente pelo Ministério dos Transportes e pelo Ministério da Defesa, e representa a reto
mada do processo de planejamento no Setor Transporte. O Plano tem como principal função gerir o tal planejamento com base em sistema de informações, contendo os principais dados de interesse do setor tanto na parte da ofer ta, quanto na da demanda de cada região. Assim, o Plano pretende identificar, aperfeiçoar e racionalizar dos custos envolvi dos em toda a cadeia logística, desde a ori gem até o destino dos fluxos de transportes, adequando a atual matriz de transportes de cargas no país, buscando a permanente uti lização das modalidades de maior eficiência produtiva. A estimativa é que, como resultado dos investimentos e iniciativas propostos no PNLT, a participação do modal rodoviário se reduza para 33% em 2025, enquanto as participações dos modais ferroviário e aqua viário aumentem para 32% e 29%, respecti vamente. A economia do país, os produtores e até o meio ambiente agradecem a diversi ficação.
CIÊNCIA
Novos Métodos, Antigos Costumes? Novos meios de prevenção da dengue têm animado cientistas e toda população ameaçada pela doença Texto: Paula Nishi Passam-se os anos e a mesma história continua: a dengue insiste em prejudicar o homem. O Aedes aegypti — mosquito transmissor da dengue — chegou à América do Sul no período colonial brasileiro e, através dos navios negreiros, se proliferou ao mesmo passo que os escravos aqui desembarcavam. Responsável por também disseminar a febre amarela, o Aedes aegypti tem dado trabalho aos pesquisadores. Mas a vacina contra a dengue pode ser um método eficaz para a prevenção da doença, segundo Eduardo Barbosa Beserra, professor de biologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com experiência em Bioecologia de insetos. Contudo, a vacina ainda encontra-se na fase de desenvolvimento no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, no laboratório Sanofi Pasteur Brasil e no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A vacina, entretanto, não é a única forma de prevenção da dengue em fase de testes. Uma empresa de biotecnologia na Inglaterra, a Oxitec, em parceria com a Universidade de São Paulo, tem desenvolvido um método para modificar a estrutura genética do macho Aedes aegypti. O objetivo final é criar um mosquito mutante capaz de destruir sua própria espécie. Em laboratório, os mosquitos – chamados de OX513A – seriam modificados geneticamente e criados a partir de uma alimentação especial. Depois, somente os ma-
Ilustração: Danilo Rodrigues
controle do mosquito da dengue e, possivelmente para a erradicação da doença, é preciso lembrar que a extinção do Aedes aegypti pode trazer também consequên cias perigosas. Ao ser questionado sobre o assunto, Eduardo Beserra ainda diz: “É preciso lembrar que todo ser vivo tem o seu papel no ecossistema e faz parte de várias cadeias tróficas, e sua eliminação pode levar ao deslocamento ou ou extinção de outras espécies […], as quais podem favorecer o estabelecimento de outra que apresente características comportamentais e de adaptação àquele ambiente parecidas com a da espécie extinta e, se esta espécie tem o potencial de ser vetor, poderá trazer novos problemas”. Mas nem tudo está perdido. chos seriam soltos para acasala- sar para a fase adulta, os genes Como forma de prevenção da dorem com outras fêmeas. Os ovos fatais iriam se manifestar e, des- ença, pesquisadores da UNESP fertilizados por esses mosquitos te modo, morreriam. de Botucatu têm testado a eficámodificados seriam chocados Apesar dessa experiência em cia de repelentes contra o mosnormalmente, mas, antes que torno do OX513A parecer uma quito da dengue. O teste consisestes novos seres pudessem pas- alternativa promissora para o te em mosquitos Aedes aegypti que não oferecem riscos, pois foram criados em laboratório. Você pode conferir o teste na íntegra através do link: http://bit.ly/denEm 2012, mais de 375 toneladas de óleo guerepelente. comestível usado foram reciclados para se Em Bauru, onde já foram retornarem biodiesel ou em pedras de sabão gistrados mais de 6.400 casos de dengue e duas mortes, toda forecológico. Se tornando uma boa solução ma de prevenção da doença é vápara o que muitos acreditavam ser lixo, lida. Apesar de maneiras alternaprocure os postos de coleta em sua cidade tivas para a extinção da doença estarem surgindo, não podemos e ajude a evitar a poluição de rios, lagos e esquecer que os métodos de premares. venção da dengue que conhecemos continuam sendo muito eficazes. 11
AGRICULTURA
Por que modificar os vegetais? Alimentos geneticamente modificados são importantes para alavancar a economia mundial, segundo produtores Texto: Jorge Salhani Alimentos transgênicos são aqueles que sofrem uma modificação em seu material genético que não ocorreria somente pela natureza, ou seja, tais alimentos recebem em sua carga genética material de outros organismos. Pesquisadores da área da Engenharia Genética estão conseguindo, através de diversas pesquisas, criar organismos mais resistentes a pragas e com características mais acentuadas. O primeiro produto a receber modificação genética no país foi a soja. De acordo com Sérgio Carbonell, Diretor Geral do Instituto Agronômico de Campinas
(IAC), a transgenia não é um processo biotecnológico novo, mas somente agora está sendo usada em certos alimentos, como o café. Para explicar o grande aumento da utilização de transgênicos nas plantações, Carbonell, que também é doutor em Agronomia, diz que “o limite genético está no topo do potencial produtivo”, tornando o mercado econômico mais competitivo. As últimas pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tornaram o Brasil pioneiro em uma nova técnica para o desenvolvi–
Laura M. M. Meletti/IAC O maracujá-roxo é um exemplo de alimento híbrido. A variedade é bem menos ácida que a convencional.
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mento de café geneticamente modificado. Um novo gene a ser inserido na planta permitirá a alteração de características específicas como o sabor, a textura e o aroma. Para o Diretor Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Nathan Herszkowicz, a transgenia no café precisa destacar suas características sensoriais e torná-lo mais resistente a clima e pragas. “Hoje interessa ao consumidor e à indústria o café que ele tenha aromas mais pronunciados, já que essa é uma das principais características do produto”, explica Herszkowicz. Híbridos vs. transgênicos Existe outro tipo de mo dificação genética que pode ser utilizada em alimentos: a hibridização. Esse melhoramento genético, diferentemente da transgenia, não incorpora em um organismo o DNA de outro vegetal diferente. Esse processo resulta no cruzamento constante de organismos do mesmo tipo. Ele é feito através de combinações de um certo vegetal, afim de obter um melhoramento genético. Pesquisadores selecionam as melhores sementes, com as características em destaque desejadas, e as cruzam sucessivamente. Exemplos de alimentos híbridos são o milho vermelho, com grãos mais doces e macios, mais fáceis de se soltarem da espiga, o arroz preto, originário da Àsia e produzido no Brasil por hibri-
dização, que possui mais fibras que o arroz branco integral e a solinda, tipo de melancia com um terço do tamanho convencional, que, além de não ter sementes, é também mais saborosa. É importante identificar “Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto”. É o que declara o decreto 4680/2003, obrigando produtores e vendedores a identificar quais insumos são transgênicos ou não. O decreto vale tanto para os produtos transgênicos, quanto para os que não foram produzidos com material geneticamente modificado, que deverão apresentar em seu rótulo a transcrição “livre de transgênicos”, em caso de haver algum similar transgênico em circulação no mercado. Todos os alimentos com mais de 1% de modificação genética devem conter uma letra “T” preta sobre um triângulo amarelo em seu rótulo. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) 70% dos brasileiros preferem ter informações sobre a presença de transgênicos nos alimentos em que consomem.
IDEIAS VERDES
Plantando um futuro mais saudável Estudantes de UNESP montam horta a fim de incentivar a agricultura orgânica e o consumo responsável Texto: Marcos Cardinalli
Quer saber como ter uma horta na sua própria casa? A repórter Naiara Teixeira fez uma reportagem para o site do Impacto Ambiental explicando como! Você pode conferir em: http://bit.ly/hortaimpacto
Por iniciativa da professora Maria Rita Marques de Oliveira, foi feito o projeto para uma horta orgânica no campus da UNESP em Botucatu (a 94 km de Bauru) e, de acordo com a estudante Paula Torres, uma das idealizadoras, a ideia inicial era fazer com que fosse um espaço para atividades didáticas que envolvessem os estudantes do Instituto de Biociências e a comunidade que frequenta o local, como professores e funcionários. Rafael Reginato, também idealizador do projeto, diz que a horta cumpre um papel social, o que pôde ser visto durante a visita de crianças que apresentam índice de massa corpórea acima do normal, que foram incentivadas a adquirir o hábito de uma alimentação mais saudável. “A horta orgânica foi um projeto Os estudantes da UNESP de Botucatu são responsáveis por cuidar da horta, que se em que eu a Paula investimos e tornou um projeto de extensão conseguimos implantar dentro odicamente fazíamos um muti- Rabonato, mestranda da UNESP da UNESP, que apoiou e cedeu rão de plantio, mas era muito di- que ajudou no projeto, uma paro espaço e um funcionário para fícil chamar o pessoal”, informa te da horta foi reservada para contribuir com as atividades”, Paula. “Apesar das dificuldades, o cultivo de plantas medicinais relata Rafael. a horta alcançou o seu objetivo, e condimentos, como ervas de Para a fundação da horta, os pois contribuiu para o aprendi- chá e tempero. As mudas utilizaidealizadores encontraram difi- zado de todos os envolvidos”, das são provenientes principalculdades para definir o local em disse também. mente da Faculdade de Ciências que seria instalada e a liberação O cultivo da horta começou Agronômicas. de um funcionário que ajudasse, no início do ano passado com a A horta está localizada ao além do processo de aquisição plantação de mudas de alface, ce- lado da Seção Técnica de Matedos insumos terem sido um pou- bolinha e salsinha, e vem evolu- riais da UNESP, em Botucatu, co demorado. indo com a inclusão de outros e conta com uma área apro Entretanto, a maior dificul- tipos de verduras e legumes. ximada de 200 metros quadradade foi atrair os estudantes A intenção é incluir futura- dos, tornando-se um Projeto para a mão de obra necessária mente plantas não convencio- de Extensão que financia alpara as atividades diárias, como nais, incentivando o consumo gumas bolsas de estudo, sendo irrigação, plantio e colheita. de alimentos diferenciados e a os próprios estudantes os res“Além de mim e do Rafael, mais formação de uma coleção de es- ponsáveis pela manutenção, uma estudante de nutrição e um pécies. cultivo e colheita dos alimenfuncionário nos ajudavam. Peri- Conforme informou Aline tos. 13 Rede Sans
Hortas orgânicas são uma possibilidade de aumentar a qualidade de vida das pessoas, visando uma alimentação saudável, solidária e adequada, com práticas sustentáveis desde a produção de mudas, plantio, colheita e manipulação, até o destino final, que é a mesa do consumidor. Esse sistema de produção elimina o uso de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos, baseando-se, sempre que possível, no uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico para as pragas e doenças, além de manter a estrutura e a produtividade do solo, permanecendo em harmonia com a natureza.
PERFIL
Entrevista: Eduardo Góes Neves O Guia das relíquias de cá Texto: Agnes Sofia Quando ele é anunciado, todos olham para a entrada do evento. Confusos, os alunos não conseguem encontrá-lo. Não há ninguém vestido de Indiana Jones, com ares de quem acabou de chegar de mais uma expedição. O que eles encontram é um homem baixo, e vestido como um espectador à margem das riquezas ocultas em terras selvagens. Quando Eduardo Góes Neves se aproxima, seus olhos denunciam a que veio. O seu olhar é tão contagiante quanto as histórias que contou aos alunos do “Descobrir Amazônia, Descobrir-se Repórter”, que aconteceu em maio, em São Paulo. O arqueólogo estava inquieto para dar aos alunos uma nova experiência. Afinal, era hora de observar a região amazônica de dentro para fora, ao contrário do que é mais comum, para a decepção dele. “Nosso problema é que sempre queremos ver a Amazônia de fora para dentro, o que nos deixa com a impressão de que ela é uma região incompleta, do ponto de vista da ciência e da modernidade. Precisávamos ver se é essa visão que a própria região possui dela mesma”, critica Neves. A viagem A relação de Eduardo com a arqueologia começou na infância. O encanto com o passado o levou a buscar leituras que o ajudasse a entendê-lo, como o livro “História do Mundo para Crianças”, de Monteiro Lobato. Mas o interesse sempre veio 14
com a sua vontade de desbravar um mundo distante da sua realidade: “Gostava também de andar no mato e de acampar e tinha uma enorme curiosidade sobre a história do Brasil antes do descobrimento. Percebi, quando eu tinha uns 15 anos, que com a arqueologia eu podia juntar esses interesses. Entrei na faculdade e comecei a estagiar no primeiro mês. Isso faz exatamente 30 anos”. Mas o que realmente o levou para a Amazônia foi uma viagem que ele fez de ônibus, quando ainda era estudante. Ele levou dois dias para ir de São Paulo a Belém, no Pará, e se encantou com as riquezas da região. Depois de formado, Eduardo fez doutorado nos Estados Unidos, e trabalhou em sítios de vários lugares do mundo, sem nunca esquecer daquela viagem. Hoje, além de já ter publicado alguns livros, como “Arqueologia da Amazônia”, ele coordena um laboratório de arqueologia na região de Manaus. Complexa demais para rótulos A riqueza arqueológica da Amazônia sempre foi subestimada. Por muitas décadas, arqueólogos acreditaram que o material encontrado vinha, na realidade, do noroeste da América do Sul. Mas no seu livro, Eduardo revela objetos tão antigos quanto os encontrados em outras regiões do continente e defende que os antigos povos amazonenses também sejam reconhecidos como produtores
Ilustração: Yuri Campos
dessas peças. “As pessoas acreditam que, por não termos grandes pirâmides, não temos riqueza arqueológica. Mas o que ocorre é que a Amazônia sempre foi uma região heterogênea e sua complexidade fez com que tivéssemos, nos mesmos períodos históricos, sociedades de vários tipos, o que não permitiu a construção de sociedades centralizadas como a dos incas”. Ameaça E qual é o maior desafio para estu-
dar arqueologia na Amazônia? Para Eduardo, é o conflito entre preservação e empreendedorismo, como a construção de barragens hidrelétricas. Mas isso não o desanima, já que ele acredita no uso da arqueologia não apenas para pesquisar o passado, mas para construir o presente, principalmente perante a população. Eduardo conclui: “É incrível como na Amazônia temos uma história que pode ser preservada pelo povo. Muitos possuem relíquias em casa e não sabem. O que temos que fazer é ajudá-los a preservar isso e pensar como isso está relacionado aos problemas de hoje”.
Quando for ao supermercado procure escolher produtos com pouca embalagem, isso reduz o uso de energia, a emissão de gases do efeito estufa e o material a ser reciclado!
DICAS CULTURAIS Impacto na rede! Por: Higor Boconcelo Você sabia que o Impacto Ambiental vai muito além da edição impressa? Você pode acessar conteúdo exclusivo no nosso site! Lá você encontrará matérias que podem te ajudar a manter sua própria horta doméstica, livre de agrotóxicos, como também dicas para uma alimentação saudável e muito mais envolvendo o nosso meio ambiente! Com uma interface remodelada, o portal Impacto Ambiental conta com uma equipe exclusiva de produção de conteúdo digital! São textos simples e rápidos, que podem ser acessados diretamente através do endereço http://www. mundodigital.unesp.br/impactoambiental, ou através do seu feed de notícias do Facebook, basta procurar por “Jornal Impacto Ambiental” e curtir a nossa página na rede social.
Ana Beatriz Ferreira Ampliado no ano passado para incentivar a circulação literária, o projeto já realizou mais de 2000 empréstimos
Livro pra doar, Livre pra voar Por: Ana Ferreira Para bom leitor, um livro não basta. Foi partindo da ideia de facilitar o acesso aos livros que a Secretaria de Cultura e a Divisão Municipal de Bibliotecas se uniram para criar o Livro Livre, um projeto que se espalha por zonas mais afastadas de Bauru em feiras realizadas num intervalo de, no mínimo, uma semana. O Livro Livre é sustentado por doações da Biblioteca Municipal e de pessoas que tenham títulos abandonados na estante de casa. Valter Ferreira, assistente social e um dos responsáveis pela organização, comenta que as feiras deixam as pessoas curiosas e se tornam cenários de boas conversas: “Lá o pessoal para, conversa sobre política, televisão e a gente escuta vários assuntos, porque a banca também acaba sendo um ponto de bate-papo entre as pessoas”. É simples participar do projeto: basta escolher um dos livros dispostos nas bancas e levá-lo para casa, sem precisar pagar por isto. Para que outra pessoa possa lê-lo depois, o leitor devolverá o exemplar a uma das feiras, em qualquer local e ocasião, sem interromper, desta forma, o ciclo de leitura. Não à toa, o lema do projeto é “Liberte seu livro! Circule esta ideia!”. O projeto ainda está em fase de crescimento, mas já possui bancas nas feiras do Rolo e do Mary Dota, além de uma semanal, aos domingos, no Jardim Botânico. 15
PASSATEMPOS
CRUZADINHA
Vertical
Horizontal
1. Meio de transporte responsável por 25% das cargas
4. Local onde ocorre o Livro Livre aos domingos
2. Sinônimo do sacrifício de animais doentes
8. Região pesquisada pelo arqueólogo Eduardo Neves
3. Se alimentar de insetos é...
9. Cidade com projeto de construção de URE.
5. Cidade onde a UNESP possui horta orgânica
As respostas você encontra no site do Impacto Ambiental!
6. Alimentos que sofrem uma modificação em seu material genético 7. Nome do mosquito da dengue modificado pela USP e Oxitec 16