Revista Palau - Fevereiro 2014

Page 1

Palau Literatura e Artes Fevereiro 2014

Stanley Kubrick e David Bowie Is Exposições chegam ao MIS em São Paulo

Lollapalooza

Edição 2014 do festival está chegando

E muito mais

Carnaval, Graffiti, cinema, dança...


Sivaldo Camargo

Expediente

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor Julio Cezar Durigan Vice-reitora Marilza Vieira Cunha Rudge Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAAC Diretor Nilson Ghirardello Vice-diretor Marcelo Carbone Carneiro Departamento de Comunicação Social Chefe Juarez Tadeu de Paula Xavier Vice-chefe Angelo Sottovia Aranha Curso de Jornalismo Coordenador Francisco Rolfsen Belda Vice-coordenadora Suely Maciel Técnica Redacional II - Jornalismo Impresso Prof. João Eduardo Hidalgo 2º Termo Jornalismo Noturno Alunos: Amanda Costa, Ana Beatriz Ferreira, Ana Raquel Mangili, Bianca Landi, Elisa Espósito, Érica Travain, Gabriela Arroyo, Gabriele Alves, Giovanni Rocha, Heitor Facini, Henrique Cisman, Isabel Silva, Isadora de Oliveira, Lais Esteves, Lia Vasconcelos, Lucas Zanetti, Marcos Cardinalli, Mariana Kohlrausch, Marília Munhoz, Michelle Albuquerque, Nathalie Valim, Rodrigo Cardoso, Tamiris Volcean, Tatiane Degasperi e Thais Viana Diagramação João Pedro Ferreira Isabel Silva Marcos Cardinalli

Índice yoga 4 6 exposições 12 arte urbana dança 15 música 16 folia 18 dossiê 24 literatura 26 cinema 29 geek 32 foto da capa: Rodrigo Soldon


Divulgação

Editorial

F

evereiro chegou, e, com ele, os preparativos para o carnaval. Entrando na folia, a Revista Palau elaborou uma matéria especial sobre o carnaval na cidade de Bauru. Conhecido como o carnaval de rua mais completo do interior paulista durante as décadas de 50 e 60, a festa de Bauru continua fazendo história, com o incentivo da prefeitura municipal. Ainda em clima de festa, a Palau conta um pouco sobre as baterias universitárias e também sobre o grande festival Lollapalooza. Nesta matéria, são abordados os lados positivos e negativos do festival, explicando como funciona a organização do evento. E como no domingo de carnaval acontece também a premiação do Oscar, a Revista não poderia deixar o cinema de lado, e apresenta a resenha de um filme que infelizmente não está entre os indicados para o prêmio. “Caçadores de Obras Primas” é um longa escrito, dirigido e estrelado por George Clooney, que mostra um lado diferente e artístico do ditador Hitler. Nesta edição, também é wpossível encontrar sobre outras obras artísticas, além de exposições de diferentes tipos de arte. A Revista Palau deseja a todos um bom e divertido carnaval, e que a alegria desta festa popular brasileira não permaneça apenas nos dias de sua comemoração, mas que se estenda por todo este ano de 2014.


relax

YOGA, A PRÁTICA DA RECONEXÃO

Através da prática do Yoga, o indivíduo tem a possibilidade de alcançar sua verdadeira natureza Por Bianca Landi

4 |Palau|Fevereiro 2014

Henrique Del Farra

O

Yoga é uma filosofia prática na qual há a exercitação do controle do corpo e da mente com o objetivo de tranquilizar as inquietações mentais. Bastante eficaz em restaurar e equilibrar a saúde física e mental, o Yoga nasceu na Índia há cerca de cinco mil anos. O significado da palavra Yoga vem da raiz sânscrita “yuj”, que significa união e junção no sentido de religar. Essa união diz respeito à união do indivíduo consigo mesmo, com os demais seres e com o Absoluto. Hoje, há diversas tendências da prática baseadas em literaturas diferentes, cada qual com uma fundamentação filosófica e comportamental. Há seis linhas tradicionais de Yoga, cada uma com um foco diferente. O Hatha Yoga (ou Yoga corporal) é a linha mais conhecida e a mais praticada. É uma terapia que parte do corpo, enxergando-o como o responsável por condicionar a mente. Sendo assim, o corpo se trata de uma forma de expressão dos domínios físico, emocional e mental. Através do equilíbrio e estabilidade do corpo ao praticar as posturas do Yoga, é possível encontrar a quietude da mente. Atualmente, há mais de 108 vias de Yoga criadas a partir dessa linha. Priscila Figueiredo de Toledo, 41, é professora de Hatha Yoga em Avaré, no interior de São Paulo, e diz que, inicialmente, ao se

Priscila ao lado da monja brasileira zen e budista Claudia Dias Batista de Souza, mais conhecida como Monja Coen Sensei

encontrar com o Yoga, sua prática era inconsciente, superficial e externa. Em suas próprias palavras, ela era uma “praticante medíocre”. Ela não sabe dizer quando isso mudou, se quando sua prática ainda se resumia ao apego às posturas que ela tinha mais facilidade e à dor resultante de posturas mais avançadas e exigentes. Para a professora, a mudança se dá quando o praticante busca algo e se disponibiliza a doar-se e receber o que chega até si em troca disso, mesmo sem saber. Priscila encontravase em depressão diante da

crise profissional, afetiva e pessoal que enfrentava. Ela atribui ao Yoga a paz e estabilidade que hoje pairam em sua vida, e relata que as suas transições e oscilações profissionais cessaram. Relata, ainda, que durante toda a vida buscou encontrar sua vocação, mas que foi com o Yoga que tal palavra passou a ter significado real em seu dicionário interno. Segundo ela, seu dharma (realidade, caminho para a verdade superior) está, hoje, totalmente vinculado à prática. Carolina Vilela, 19, estudante do terceiro ano

de arquitetura e praticante de Yoga há cinco anos, diz que seu maior aprendizado na prática é referente à questão das energias: “Tudo é energia: eu sou energia, a natureza é energia, as pessoas são energias, o mundo é energia. Quando um desequilibra, todos são afetados. Quando um emite energia boa, todos a recebem. A energia é um todo.” O que a atraiu na prática do Yoga foi o fato de não haver competição entre os praticantes. “Cada um em seu tapete, com sua respiração, seus limites e sua disponibilidade para ultrapassá-los. Não há cobrança de quem tem o melhor desempenho e nem afobação para ir além do limite sem o preparo. No Yoga, o que prevalece é a consciência de si próprio”, ela explica. Ela teve contato com a prática através de sua escola do ensino médio, na qual Priscila ministrava aulas de Yoga para os estudantes. Cahique Daneluz, 21, estudante do segundo ano do curso de biologia, praticou Yoga por três anos e conta que, com a prática, sentiu seu corpo ficar mais

Uma das mais antigas lendas acerca do surgimento do Yoga relata que a prática surgiu na terra enquanto um peixe de nome Matsya observava o deus Shiva (considerado simbolicamente como o criador do Yoga) ensinar sua esposa Parvatí os exercícios do Yoga. O peixe, então, imitou Parvatí e transcendeu sua forma física ao transformar-se em ser humano


Henrique Dal Farra

Priscila e seus alunos em uma prática coletiva de Yoga em seu espaço próprio para os ensinamentos da prática. Carolina encontra-se no segundo tapete à esquerda

for te e sua mente, mais calma. Do aprendizado que ele obteve nos anos de prática, Cahique leva o controle atr avés da respir ação, que o ajuda a evitar agir por impulso ao tomar decisões. Além disso, ele também pr atica meditação, que, segundo ele, é importante “par a se encontr ar em meio à bagunça do dia-a-dia e tentar aprender algo novo com tudo que acontece”. Viajando até a Índia, Priscila teve a oportunidade de conhecer ainda mais a cultura a cuja prática ela se entrega. “Experimentar a fé tão fundamentada no coração e em uma vida de amor me fez rever muitas coisas sobre o conceito religioso que chega para a maioria no ocidente.

Segundo a crença indiana, cada um desempenha um papel de extrema importância na grande teia da vida e, assim sendo, não sobra rancor, dúvidas ou questionamentos daquilo que chega a cada um. E isso, no meu conceito, é pura Yoga!” Perguntamos a Priscila se o Yoga poderia ser comparado à religião no que diz respeito ao seu potencial de mudança na vida das pessoas, uma vez que “religião”, assim como Yoga, significa “religare”. “Quando nos disponibilizamos ao conceito de religar aquilo que, por alguma razão, se perdeu em nós, estamos na pratica religiosa”, diz ela. No entanto, sabe-se que a religião, hoje, tem outro peso. Pa r a P r i s c i l a , a r e l i g i ã o s e g r e ga o s e r

quando considera uma crença superior às dem a i s o u q u a n d o p r e ga que alguém é pecador ao não seguir o que lhe é e n s i n a d o. “ S e o c o n ceito de religião for e s s e , a p r á t i c a d o Yo ga não pode ser considerada religiosa”, diz a p r o f e s s o r a , u m a ve z q u e o o b j e t i vo d o Yo ga é r e l i ga r o s e r c o m s u a essência, independente de crença, dogmas o u c o n c e i t o s. Na concepção de Priscila, religião é a oportunidade que o Yoga oferece ao indivíduo de sempre se religar consigo mesmo, respeitando suas mudanças e seus limites. Ela conclui: “O Yoga se tor nou minha religião quando descobri essa cone xão. Acredito que todos que

se per mitam se conectar podem e xperimentar essa mudança”. O Yoga , e n t ã o, além de proporcionar melhor qualidade de v i d a at r av é s d e b e n é f i c o s p a r a a s a ú d e, também proporciona bem-estar diante da confiança e autoestim a g e r a d a s. A o m e s m o t e m p o e m q u e fo r t i f i c a o c o r p o, m e l h o r a a respiração e corrige a postura, a prática equilibra a mente e trás clareza mental, fo r n e c e n d o c o n c e n t r a ção e tranquilidade ao p r at i c a n t e. Além disso, possui uma filosofia que não distingue as pessoas de acordo com suas crenças, tendo o amor próprio e ao próximo como preceito fundamental. Fevereiro 2014|Palau| 5


exposições

TUDO EM NOME DA ARTE

Diego Nardoci e Valkiria Benaglia criam galeria de arte online para divulgar obras de artistas plásticos. Por Tatiane Degasperi

6 |Palau|Fevereiro 2014

zar as obras. O site já possui 23 artistas cadastrados, Bauru está representada por dois artistas plásticos, Anny Lemos formada em Artes Plásticas pela Unesp e atua como artista plástica e ilustradora desde 2010 e Michael Silva também formado em Artes Plásticas pela Unesp, que durante sua graduação participou de pesquisas e grupos de estudos (como o “GRAVA - Grupo de Estudos de Artes Visuais e Audiovisuais” e o “O corpo na arte moderna e contemporânea”), dentre outras atividades. Em 2008 começou a expor seus trabalhos artísticos, de início, no próprio campus da universidade e posteriormente expandindo-os para galerias e museus de outros locais e cidades. “Qualquer pessoa que faça alguma coisa interessante pode se cadastrar. É gratuito. O que queremos é mostrar um conteúdo abrangente. As obras passam pela curadoria da Valkiria e depois disso ela é exposta e o artista pode vendê-la pelo site. Apenas uma parcela da venda fica com a Mob”, completou Nardoci. Além do site, a dupla também utiliza as redes sociais para mostrar o trabalho dos artistas. Uma página no Facebook (facebook.com/mob.art.br) com quase 10 mil seguidores e um canal no Youtube (youtube.com/mobgaleria) foram criados e exibem fotos e vídeos de arte em geral. Para Euzânia Andrade, umas das expositoras na ga-

leria, a internet é um meio importante para romper barreiras territoriais, permitindo contato com um universo muitas vezes não tão utilizado pela classe. “Hoje é praticamente impossível nós, artistas, não utilizarmos desse instrumento.

Além da divulgação, vejo como aspecto da maior importância a oportunidade da venda. O site foi muito bem montado e conta com obras de qualidade. Uma grande iniciativa que acredito muito”, diz a artista plástica.

Divulgação

A

internet é a ferramenta que mais democratizou o acesso a qualquer tipo de informação, e são os avanços tecnológicos que fazem surgir serviços que agregam comodidade e praticidade a toda população. Difundir o trabalho de pequenos artistas de forma diferente por meio de uma galeria de arte digital foi assim que o administrador araraquarense Diego Nardoci em parceria com sua namorada, a artista plástica Valkiria Benaglia, criaram o site Mob.Art (http://mob.art.br/), com o slogan ‘A simplicidade é a máxima sofisticação’. “Desde o começo do meu namoro com Valkiria, há quase quatro anos, tivemos a vontade de criar e participar de empreendimentos voltados à arte e à cultura. Foi quando, ao ver uma matéria sobre um pessoal que estava fazendo algo parecido, que pensei: isso a gente consegue e deve ser bem legal”, explica Diego Nardoci. Com esse intuito, desenvolveram todo o sistema e colocaram a galeria em funcionamento no começo de 2014, onde estão expostos trabalhos de artistas, além de uma breve biografia, ligados a pintura, fotografia, desenho, colagem, digital art, gravura, objeto, técnica mista e escultura, além de novas vertentes como a toy art, por exemplo. Além de divulgar, a ideia também é comerciali-

Todas as peças são assinadas por Euzânia Andrade e integram o especial ‘Fragmentos’: “Esta série caracteriza momentos da minha trajetória de vida e consciência de mundo. Cada parte tem sua história e representa um sentimento, mas também se completa simbolicamente a todo o conjunto. Partes que são memórias, recortes de histórias reencontradas no exercício de pensar colocados em ação na obra de Arte. Cada obra está travestida de características da própria vida. São recortes expressos em linguagem, sinais perdidos no horizonte, marcados e registrados pelo tempo no metal e no barro. É uma busca interna, no fundo das gavetas – as lembranças, as histórias escondidas, carregadas de sentimentos. A série participou de várias exposições individuais e coletivas”, diz Euzânia. A coleção completa pode ser encontrada no Mob.


exposições

STANLEY KUBRICK NO MUSEU DA IMAGEM E SOM DE SÃO PAULO

Após ser exibida em oito países, exposição de um dos maiores cineastas de todos os tempos é exibida na cidade de São Paulo Por Ana Raquel Périco Mangili e Nathalie Bernasconi

The Exhibition A exposição foi organizada pelo Deutsches Filmmuseum Frankfurt, juntamente com a última esposa do cineasta, Christiane Ku-

brick e The Stanley Kubrick Archive da University of The Arts London, com o apoio da Warner Bros. Pictures, Sony-Columbia Pictures Industries Inc., Universal Studios Inc. e SK Film Archives LLC. A mostra foi inaugurada em 2004, e foi exibida nas cidades de Berlin (2005), Melborn (20052006), Gante (2006 – 2007), Zurique (2007), Roma (2007 – 2008), Paris (2011), Amsterdam (2012) e Los Angeles (2012 – 2013). A exibição, inédita na América Latina, reuniu centenas de materiais que vão de objetos e roupas a fotos e scripts originais. A mostra foi organizada de modo linear, visto que se iniciava com os primeiros trabalhos de Stanley, como por exemplo,

uma pequena mostra de fotos que foram tiradas pelo diretor quando este trabalhava na revista Look, além de expor materiais sobre os primeiros documentários do cineasta. Em uma pequena sala, algumas fotos, uma cela e uma armadura romana reorganizavam o cenário de Spartacus (1960). Já na sala do filme Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), fotos dos bastidores e esboços do cenário preenchiam as paredes, enquanto, no centro, se encontrava uma mesa com documentos, um tabuleiro de xadrez e uma maquete da sala de reunião. A sala que reproduziu o filme 2001: Uma Odisseia no Es-

paço (2001: A Space Odyssey, 1968), é sem dúvida uma das mais particulares. Dezenas de fotos, rascunhos, roupas de astronauta e de Australopithecus, e até mesmo o “bebê” original da obra. Um de seus filmes mais polêmicos foi Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971). Em uma das salas, foi reconstruído o Moloko Milkbar, juntamente com o vestiário da personagem principal, Alex Delarge, e jornais da época em que o filme foi lançado. O corredor do Hotel Overlook foi restaurado para a mostra do figurino de O Iluminado (The Shining, 1980). Além dos trajes, essa sala apresentava fotos do filme e uma pequena reprodução do labirinto. No Kasterine.com

D

o dia 11 de outubro de 2013 a 12 de janeiro de 2014, ocorreu uma exposição inédita no Museu de Imagem e Som de São Paulo, a Stanley Kubrick – The Exhibition. Conhecido por abrigar notáveis festivais de cinema e importantes mostras de artes visuais, o MIS criou salas especiais semelhantes aos cenários de Kubrick, de modo que os visitantes tivessem a oportunidade de vivenciar as múltiplas percepções de cada um de seus filmes

Fevereiro 2014|Palau| 7


Mini-Biografia e Obras do Cineasta Stanley Kubrick nasceu em Nova York, no dia 26 de julho de 1928. Ele nunca foi um bom aluno, porém, seu pai, Jacques Kubrick, sempre reconheceu sua enorme capacidade criativa. No seu décimo terceiro aniversário, Kubrick ganhou do pai sua primeira máquina fotográfica profissional, uma Graflex. Este presente teve grande influência em sua formação – aos 16 anos, Stanley teve sua primeira foto publicada na revista Look, onde trabalharia como fotógrafo durante vários anos. Porém, sua verdadeira vocação estava na carreira cinematográfica. Entre 1951 e 1953, produziu três curtasmetragens. Em 1953, lançou seu primeiro filme, Medo e Desejo (Fear and Desire), com a temática da guerra, assunto que Kubrick voltaria a abordar em alguns de seus filmes posteriores. Porém, seu primeiro sucesso veio de fato com o longa Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957), com a trama ambientada na França durante a Primeira Guerra Mundial, e cuja exibição foi proibida naquele país por muitos anos. Com um espírito contestador, Kubrick nunca seguiu a “cartilha Hollywoo8 |Palau|Fevereiro 2014

João Edurdo Hidalgo

andar de cima, um quartel militar encena o filme Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987), com beliches e vídeos mostrando partes do filme. De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999), foi o último filme de Stanley, sendo que este morreu antes da estreia oficial do longa. Na sala que tematiza a película, foi possível encontrar máscaras e fantasias venezianas. Kubrick sempre sonhou em fazer um filme sobre Napoleão. Em uma das últimas salas, foi possível conferir documentos e livros de estudo para o filme jamais realizado.

Máscaras venezianas, do filme “De olhos Bem Fechados” (parte superior); Sala do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço (no meio); Moloko Milkbar, do filme Laranja Mecânica (parte inferior)


Filmografia de Stanley Kubrick

Curtas metragens

Longa metragens

1951 - Flying Padre 1951 - Day of The Fight 1953 - The Seafarers

1953 1955 1956 1957 1960 1962 1964 1968 1971 1975 1980 1987 1999

Medo e Desejo A Morte passou por Perto O Grande Golpe Glória Feita de Sangue Spartacus Lolita Dr. Fantástico 2001: Uma Odisséia no Espaço Laranja Mecânica Barry Lyndon O Iluminado Nascido Para Matar De Olhos Bem Fechados João Eduardo Hidalgo

-

Acima, machado do personagem Jack do filme “O Iluminado” (lado esquerdo) e Computador Hall 9000, do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço” (lado direito); Abaixo, Capacete Born to Kill, do filme “Nascido Para Matar” João Eduardo Hidalgo

diana” na produção de seus filmes, não se inibindo ao abordar temas polêmicos e procurando sempre construir significados em suas obras, através do intenso uso dos elementos visuais e da experimentação na música. Seus filmes mais famosos são 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968, considerado um clássico da Ficção Científica e que rendeu a Kubrick um Oscar na categoria de Efeitos Especiais), Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971, obra mais polêmica do cineasta, e que inclusive foi proibida no Brasil durante alguns anos), Barry Lyndon (1975, longa que lhe rendeu novo Oscar, dessa vez na categoria de Melhor Diretor) e O Iluminado (The Shining, 1980, do gênero terror). Seu último filme, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), foi produzido em 1999 e contou com as estrelas Tom Cruise e Nicole Kidman no elenco. Porém, no dia 07 de março do mesmo ano, antes que o longa estreasse, Kubrick faleceu devido a um ataque cardíaco enquanto dormia. O cineasta também esteve envolvido com o projeto do filme AI: Inteligência Artificial (A.I. Artificial Intelligence, 2001) de Steven Spielberg, mas por questões de saúde ele não dirigiu essa obra.

Fevereiro 2014|Palau| 9


exposições TheCoast.ca

“DAVID BOWIE IS” CHEGA AO BRASIL

A exposição “David Bowie is” revela a influência e o legado de Bowie dentro da cultura Pop. Por Amanda Costa

N

o último dia 31 a exposição “David Bowie is” finalmente chegou ao Brasil. A exposição, que já passou por Londres atingindo a marca de 40 mil ingressos vendidos antecipadamente, chega ao Brasil trazendo grande expectativa ao público. “David Bowie is” expõe mais do que a trajetória do icônico Bowie, na exposição os 50 anos de carreira do artista são representados sem uma linha cronológica, mas focando na influência que David Bowie exerceu e ainda exerce dentro do universo Pop. A genialidade de Bowie transformou a cultura Pop. Seus trabalhos sempre foram feitos para chocar e levantar polêmicas. Na história do Pop ninguém usou tanto a própria imagem como David Bowie. Mais do que um artista inovador, David foi um exímio publicitário. “David Bowie is” traz um proposta diferente e inovadora: a exposição não reduz David a um compositor e cantor que estourou na década de 70, o artista é representado como um ícone que marcou o panorama cultural desde o fim da década de 60 até os dias atuais. Segundo os curadores da exposição, Victoria Broackes e Geoffrey Marsh, a intenção é levar para dentro do museu a natureza criativa e inovadora de Bowie. O belo trabalho historiográfico, assinado pelos curadores é de encher os olhos. Victoria Broackes e Geoffrey Marsh tiveram acesso a mais 10|Palau|Fevereiro 2014

de 75 mil itens do “Davida Bowie Archive”, arquivo pessoal do artista composto por fotografias, figurinos, pinturas e cenários utilizados ao longo de sua carreira. Para reunir e selecionar o material foram dois anos visitando e estudando os arquivos. A edição brasileira da exposição é menor que a apresentada em Londres, até mesmo por motivos de espaço, mas ainda assim estão expostos no MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo) cerca de 300 itens pessoais de Bowie. Entre as peças estão vídeos raros, como o da performance de “The Man Who Sold The Word” no programa Saturday Night Live. Dentro dos artigos presentes na exposição estão também 47 figurinos usados em turnês, clipes, filmes e aparições na TV. A amostra também conta com 19 ambientes, em um deles há um telão de 360 graus que exibe setlists, ingressos de show e mapas de palco. Marko Brajovic, responsável pela exposição de Stanley Kubrick no MIS, é quem também assina a cenografia de “David Bowie Is”. Marko desenvolveu o projeto da exposição brasileira em três meses e a montagem foi feita em apenas 15 dias. A cultura pop e a influência de Bowie A cultura pop pode ser definida como a cultura criada para as grandes audiências da sociedade moderna. Essa definição, no entanto, não consegue explicar de

David Bowie, sem dúvidas, é um artista com grande poder de influência. Ele foi e ainda é referência para vários artistas. Conhecido pelas suas várias facetas, o camaleão do Pop teve grande participação na construção e desconstrução de estéticas na década de 60. David Bowie com seu estilo transgressor influenciou toda uma geração e questionou a sociedade da época, não somente no cenário musical, Bowie também influenciou padrões culturais e sociais. que maneira as ideais, atitudes e pensamentos acabam contagiando e influenciando tantas pessoas. A influência de David Bowie no universo pop é imensa, tanto no âmbito musical como social. Suas composições, apresentações conceituais e inovadoras foram responsáveis por criar uma nova dimensão para a música pop da década de 70. Segundo diversos críticos, as criações de Bowie, como Ziggy Stardust e Aladdin Sane, influenciaram fortemente os jovens da época, além de ajudarem

na consolidação de movimentos homossexuais. A postura e atitudes apresentada por David influenciaram campos como a moda, música, arte e no próprio comportamento da sociedade da época. Bowie passou 10 anos sem lançar novos trabalhos e mesmo assim continuou onipresente. Sem dúvidas, a exposição “David Bowie is” é uma boa pedida não só para quem é fã de Bowie, mas também para quem se interessa em conhecer suas contribuições para a construção da cultura pop.


Movimento HotSpot

5

Cenário da exposição “David Bowie is” em Londres, Inglaterra.

MOTIVOS para não perder a

EXPOSIÇÃO

1 – Sendo fã ou não de Bowie, a exposição é uma forma de conhecer melhor o artista e compreender o porquê ele influenciou e ainda influencia tantos outros artistas. 2 – A exposição conta com 300 itens pessoais de David Bowie, alguns serão vistos pelo público pela primeira vez. 3 – Os itens selecionados para a exposição são resultado de 2 anos de pesquisas! 4 – Em Londres, a exposição vendeu cerca de 40 mil ingressos antes mesmo de sua estreia no Museu Victoria and Albert. 5 – A criatividade e genialidade de Bowie inspiram.

PROGRAME-SE QUANDO? 31 de janeiro até 20 de abril de 2014. ONDE? MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo), Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo. (11) 21172777. HORÁRIO? Terça a Sexta das 12 ás 21 horas, Sábados das 10 ás 22 horas, Domingos e Feriados das 11 ás 20 horas. QUANTO? Bilheteria do museu: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) ou Pelo site ingressorapido. com.br: R$ 25. Entrada gratuita ás terças.

SAIBA MAIS Para mais informações sobre a exposição acesse o site do MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo): www.mis-sp.org.br Fevereiro 2014|Palau|11


artes urbanas Érica Travain

POR PAREDES E TELAS

Autodidata, Garu conta como é trabalhar com o graffiti e a ilustração digital

Divulgação

Por Érica Travain e Lais Esteves

12|Palau|Fevereiro 2014


Divlugação

Garroux em seu mais recente trabalho em São Paulo

E

stação de metrô Marechal Deodoro, São Paulo, capital. Moradores de rua em suas “casas”, lugares sem cor, por onde centenas de paulistanos passam todos os dias. Na parede de um viaduto (ou de uma dessas “casas”), está o desenho de Fernando Garroux ou Garu, paulistano de 28 anos que conheceu o graffiti ainda na década de 90. Garu tem como inspiração a cultura do Hip Hop e há 11 anos trabalha com graffiti. Apesar de ser conhecido em alguns lugares, como na cidade de Agudos (São Paulo), ele ainda sofre

preconceito com seus desenhos. O artista de rua já chegou a ser chamado de vagabundo e xingado por pessoas que passavam de carro na rua. Porém, para ele, a arte de rua “é a cor da rua, arte para todos, até para quem não tem dinheiro para pagar e entrar em uma exposição”. Mas algumas mudanças estão ocorrendo, segundo o artista, “Hoje, a mesa está virando... as pessoas me pagam para pintar dentro de suas casas.” Além do preconceito, a falta e a qualidade do material eram outras dificuldades que o artista enfrentava no início da carreira, quando o graffiti estava na sua “época de ouro”. Garu sabia que o talento do grafiteiro deveria superar a tinta ruim, que escorria na parede e prejudicava o desenho. E com o passar do tempo, se aperfeiçoou. Atualmente, as condições melhoraram. As tintas que utiliza são específicas para o graffiti e apresentam proteção solar em sua

composição para durarem mais. Quanto ao processo de tirar o desenho do papel e pintar com jatos de spray, Garu afirma que o aperfeiçoamento é atingido através da prática e é necessário compreender que a espessura desse tipo de material se diferencia da ponta do lápis e, portanto, exige métodos diferentes. Segundo Garroux, a parte mais difícil de todo o processo da grafitagem é a precisão do contorno, muito utilizada em seus desenhos, algo que ele conquistou apenas com o passar dos anos. Esse contorno se tornou a marca do seu trabalho. Os últimos trabalhos de Garroux foram em São Paulo, ele grafitou em lugares como Rua Augusta, Pilar do Elevado Costa e Silva (o Minhocão) e um viaduto que passa por debaixo da Peixoto Gomide, ao lado de graffitis famosos como os dos Gêmeos. Atualmente o foco principal de suas obras são animais, como, por exemplo, pássa-

ros e peixes. Em geral, ele é influenciado pelo wildstyle, como os letreiros coloridos cheios de setas que, normalmente, se vê pelas ruas. O artista tenta colocar essa postura e imponência em seus trabalhos e, com isso, se diferencia dos outros grafiteiros, já que, na área do graffiti, originalidade conta muito. Além dos desenhos espalhados pelas ruas, Garu também faz desenhos digitais, com a ajuda de programas como o Adobe Illustrator e o Photoshop. Sobre o processo o artista declara: “É bem mais rápido e fácil, no graffiti não existe Ctrl+Z.” A relação do artista com o interior Apesar de ter nascido na capital, aos 15 anos Fernando se mudou com a família para o interior, mais precisamente para o município de Agudos. Foi lá que ele começou a colocar em prática sua paixão pela arte de rua. Pouco mais de uma déFevereiro 2014|Palau|13


De Agudos para o mundo As obras de Fernando Garroux estão ganhando espaço no meio artístico internacional. O grafiteiro teve seu trabalho exposto pela Urban Arts em Berlim, na Alemanha. Ele também ganhou um concurso da Sony, no lançamento do aparelho da empresa, Xperia Z1. Entre outras mil obras, o graffiti dele foi o selecionado. Além de receber um prêmio em dinheiro, Garu ganhou um aparelho celular e a marca fez capas de celular com seu desenho. Hoje, o artista agradece pelas pessoas que sempre apoiaram seu trabalho e por ter toda a sua dedicação reconhecida. Garu é uma prova de que o preconceito com a arte de rua ainda existe, mas que as pessoas estão passando a dar mais valor ao grafite. O que era estranho e tratado como “rabisco”, hoje, está dentro das casas das pessoas e até em aparelhos celulares. Grafite também é arte. A única diferença é que ninguém precisa pagar um ingresso para assistir a essa exposição. A arte de rua está transformando lugares sem vida em verdadeiras galerias e museus. 14|Palau|Fevereiro 2014

Divulgação

cada depois, os desenhos que costumava fazer pelos muros da cidade na qual construiu parte de sua história, levaram-no a participar da reconstrução da história da própria cidade através de seus desenhos. Garroux foi convidado pela Prefeitura Municipal de Agudos para criar um mural contando a história do município na Estação Sorocabana, situada na Rua Treze de Maio. O trabalho feito no “paredão” é diferente das obras que ele costuma pintar nos muros por aí. Alguns temas foram estipulados, como o envolvimento da cidade com a economia cafeeira, porém a criação dos desenhos é de autoria do artista.

Fernando Garroux grafitando uma lula: animais são o foco de seu trabalho atual.

O ARTISTA Fernando Garroux /garuart @fgaru


dança

CIA DE DANÇA DE BAURU RECRUTA NOVOS MEMBROS

Bailarinos com experiência de no mínimo seis anos podem se inscrever para recebimento de bolsa Por Elisa Espósito

Sivaldo Camargo/Acervo Pessoal

E

stão abertas as inscrições para o processo de seleção de bailarinos bolsistas que vão formar a Companhia Estável de Dança de Bauru, no interior de São Paulo. Até o dia 21 de fevereiro, bailarinos e estudantes de balé clássico podem se inscrever para participar do processo seletivo que visa preencher vagas para complementar o elenco da Cia, coordenada pelo professor Sivaldo Camargo. Atualmente, a corporação possui nove bailarinas que recebem da Prefeitura Municipal uma bolsa mensal no valor de R$460,00 para se dedicar ao estudo da teoria e técnica da dança. “Além disso, elas ganham todo o material: meia calça, colan, sapatilha de ponta e meia ponta e mais os figurinos das apresentações. Quando ocorre alguma apresentação em outra cidade, a viagem, transporte e refeição também é custeada pela prefeitura”, explica Sivaldo. Podem participar da seleção bailarinos e estudantes de balé entre 14 e 21 anos, com experiência de no mínimo seis anos de estudo da técnica do balé clássico. Sivaldo explica o porquê dos seis anos de experiência. “A Companhia tem o compromisso em apresentações públicas. Um dos objetivos dela é apresentar publicamente, gratuitamente à comunidade. Esses seis anos é o mínimo de tempo para a bailarina entrar na companhia e já estar apta para apresentar publicamente. É uma formação inicial.” Para se inscrever, os interessados devem apresentar

A Companhia estreou em 2011 em parceria com a Prefeitura Municipal de Bauru

os seguintes documentos na Secretaria Municipal de Cultura: ficha de inscrição preenchida e assinada pelo candidato ou responsável legal, se o bailarino for menor de idade; cópia de comprovante de residência; cópia do RG ou outro documento oficial com foto que apresente data de nascimento; certificado ou declaração original emitida por escola ou academia de dança, entidade cultural ou instituição de ensino. A seleção é composta por três fases em que será observado se os candidatos atendem a critérios como domínio técnico, relação corpo e espaço e presença cênica. Os inscritos precisam apresentar o protocolo da inscrição e um documento com foto durante o credenciamento da seleção, que irá acontecer no dia 22 de fevereiro,

às 14h, no Centro Cultural de Bauru. Ao longo da tarde, os candidatos vão passar por prova teórica, aula técnica e prova prática de aptidão e serão avaliados por uma Comissão de Seleção, formada por dois profissionais da dança que não residam em Bauru. Os aprovados, terão que cumprir carga horária de 20 horas semanais, de segunda a sexta. Estreando em setembro de 2011 em parceria com a Prefeitura Municipal de Bauru, a coroporação foi criada com o objetivo de despertar o gosto, a sensibilidade e a prática da dança nos jovens, além de democratizar o acesso ao ensino de dança em Bauru e também levar espetáculos de qualidade à população sempre de forma gratuita. Possui cinco coreografias exclusivas no reper-

tório e várias apresentações na cidade e região como no regional do Mapa Cultural Paulista 2013.

Podem participar da seleção bailarinos entre 14 e 21 anos, com experiência de no mínimo seis anos de estudo da técnica do balé clássico.

Fevereiro 2014|Palau|15


música

A EXCEPCIONALIDADE DA MÚSICA Como o Lollapalooza virou um dos grandes festivais nacionais contracorrente

16|Palau|Fevereiro 2014


Imagem: Associated Press

Lollapalooza entre erros e acertos: organização boa, mas detalhes que prejudicam o consumidor; line-ups acertados, mas público que não vai para festival, só para show.


Por Heitor Facini Por Lia Vasconcelos

O

festival Lollapalooza foi idealizado em 1990, originalmente como uma despedida da banda “Jane’s Addiction” de seus produtores: Bill Graham, Perry Farrell, juntamente com Ted Gardener, Marc Geiger e Don Muller. Diferentemente dos festivais tradicionais de música, como Woodstock, A Gathering of the Tribes, ou US Festival, que foram eventos que aconteceram em um só local, a ideia dos músicos era viajar pelos Estados Unidos e Canadá com o novo festival. Perry Farrell descreveu a ideologia proposta ali como “Nação Alternativa”. A divulgação das bandas do ano seguinte misturou vários gêneros musicais, contendo bandas do post-punk como Siouxsie and the Banshees ao rap de Ice-T. O circo de Jim Rose, um show de horrores, e monges de Shaolin, representou outro conceito inovador do Lollapalooza: a inclusão de apresentações performáticas não-musicais, além das tendas para exibição de obras de artes, jogos de realidade virtual, e mesas de informações sobre política em prol de promover a contracultura e seu engajamento sócio-político. O começo dos anos 90 transpirou rock alternativo, o que deu ao Lollapalooza sucesso garantido. Logo nos três primeiros anos de festival, a força do grunge e do alternativo levou milhares de fãs ao gramado colado ao palco. A essência do punk rock era literalmente visível na presença de momentos como o mosh pit e crowd surfing onde os fãs mais corajosos se jogam na plateia 18|Palau|Fevereiro 2014

A PALAVRA PRONUNCIADA COMO “LOLLAPALOOTZA” OU “LALAPALOOSA”, VEM DOS SÉCULOS XIX E XX, DE UMA EXPRESSÃO AMERICANA QUE SIGNIFICA “UMA EXTRAORDINÁRIA OU INCOMUM COISA, PESSOA, OU EVENTO; UM EXEMPLO EXCEPCIONAL OU CIRCUNSTÂNCIA.” e são carregados de um lado para o outro. Já na segunda edição do Lolla, depois de 1991, o festival incluiu um segundo palco (e em 1996, em sua sexta edição, um terceiro palco) para bandas novas e menores. Episódios marcantes na história do rock, como a morte do vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain, também fizeram parte na história do festival. Em 1994, quando o artista foi encontrado morto, Nirvana seria a atração principal, dividindo os palcos com Smashing Pumpkins e Beastie Boys. Farrell trabalhou como produtor do festival em quase todas as suas edições, mas após a participação da banda Metallica, em 1996, considerou tal apresentação machista, o que violaria sua visão de pacificidade do festival e saiu da turnê em protesto. Em 1997, sem o principal idealizador, a “Nação Alternativa” tinha acabado tornando a edição seguinte impossível. O cancelamento serviu como um significante declínio da popularidade do rock alternativo. Ressurgimento Em 2003, Farrell convocou Jane’s Addiction e agendou uma nova turnê do Lollapalooza. O festival aconteceu em 30 cidades entre Julho e Agosto. A turnê não fez muito sucesso, e muitos culpam os preços elevados dos ingressos. O planejamento para 2004 consistia em apenas dois dias de festival, mas também foi cancelado devido à pequena adesão. Finalmente, em 2005, após a grande montanha russa de sucesso e fracasso do Lollapalooza, ele voltou

com força total, acontecendo sempre em Grant Park, Chicago, Illinois. Apenas em 2010, depois de quase 20 anos de festival, foi anunciado que o Lollapalooza iria estrear na América do Sul em 2011, com apresentações no Chile. Um ano depois foi confirmada a versão brasuca do evento, que foi feita no Jockey Club em São Paulo nos dias 7 e 8 de abril de 2012.

O festival O Brasil não tem cultura de grandes festivais. Óbvio, o Rock In Rio não é um festival novo, mas essa periodicidade não vem sendo uma caracteristica comum na história dos festivais de música aqui. Isso, com certeza, afeta como o brasileiro os vê. A grande maioria não vai pela experiência que o festival tem a oferecer, e sim pelo headliner manjado. Uma prova disso é o próprio Rock In Rio, que traz sempre figurões que já tem seu espaço garantido nos palcos da cidade da música. Essa cultura é um dos pontos baixos do festival, segundo Yuri de Castro, que cobriu o Lollapalooza do ano passado pelo Fita Bruta (um dos poucos meios independentes a cobri-lo). “O público tem muita ligação com os Headliners e pouca com o resto do Line Up. Ninguém assiste o show de tarde”. “Não há tantos problemas gerais na estrutura do evento, mas pequenos detalhes desanimam. Em geral, o festival não é uma bagunça explícita. Há preocupação com o básico: saneamento e segurança. O grande problema (de todos os festivais no país) São os pormenores.

Preço elevado, locações duvidosas, filas. É um festival feito para fã de uma banda. Não para fãs de festivais”. Ele diz que não pretende mais ir. “Depois da, primeira vez, melhor em casa”, completa Yuri. Mas o festival não desagrada completamente todos aqueles que vão participar. Guilherme de Paula, que estuda na Universidade de Brasília, percebe que ele paga o preço de um show por vários, um custo benefício compensatório na opinião dele. Ele acredita que além de música, aquilo tudo é uma grande festa. “O clima é outro ponto positivo. Festivais parecem grandes festas, enquanto shows em lugares fechados e estádios estão apenas pela música. Festivais vendem, acima de tudo, experiências e um conceito”. Guilherme, que também foi na versão chilena do festival, vê essa experiência ampliada. “Os preços mais acessíveis e a língua fazem com que o Lolla do Chile seja um ponto de encontro pros latino americanos. A variedade de gente de outros países é enorme. O Lolla do Brasil é muito pouco convidativo pro público latino. Sobrevive só do mercado brasileiro, o que vejo como um erro”. Outro ponto interessante é a participação na construção do Lollapalooza. Trabalhar em festivais é uma experiência completamente do normal também, segundo Letícia Laranja, que trabalhou na edição de 2012. “Você não tem noção da dimensão do Lolla até trabalhar nele, foi bastante interessante poder ver os preparativos e todas as pessoas envolvidas. Ao trabalhar lá,


Pra 2014 A edição do Lollapalooza desse ano vem com um Line-Up mais modesto e com mudanças em sua estrutura. Sai a Geo Eventos e entra a Time 4 Fun (tão críticada pela organização do quase extinto Planeta Terra). Muda-se o cenário também. Sai o Jockey Club de São Paulo e entra o autódro-

mo de Interlagos, com um espaço extremamente maior (outro ponto que é motivo de crítica visto a distância entre os dois palcos). São seis os grandes destaques no Line-Up desse ano. Os 4 Headliners que seriam Nine Inch Nails, Muse, Arcade Fire e Soundgarden e dois dos melhores discos do ano passado: Lorde e Vampire Weekend. Nine Inch Nails é uma banda de um estilo particular dela, o chamado Rock Industrial. Foi formada em 1988, por Trent Reznor (o mesmo que fez trilha para filmes de David Fincher como A Rede Social e Os Homens que Não Amavam as Mulheres). Desde 2007 independentes de gravadoras, o NIN foi aclamado com uma posição na lista de 100 nomes mais importantes do Rock da revista Rolling Stone em 2004. Com um disco lançado no ano passado após um hiato de cerca de quatro anos, a banda promete um show maduro, e de qualidade no festival. Muse já é figurinha carimbada no Brasil, comparecendo no final do ano passado no Rock In Rio além de algumas vezes antes. O power trio de Londres formado em 1994 e liderado por Matt Bellamy faz um show extremamente enérgico, cheio de pirotecnia e luzes pelo palco. Foram eleitos muitas vezes como o melhor show de todo o mundo. Receberam muitas críticas por se renderem à indústria cultural com seu disco mais recente, o 2nd Law e por terem suspeitas de um playback de um show deles no Rock In Rio, algo infundado. Arcade Fire é sem dúvidas a maior banda canadense da atualidade (quiça de todos os tempos) e se não a maior banda do mundo na atualidade. Desde 2003 na estrada, a banda liderada pelo casal Win Butler e Régine Chassagne, a banda teve seu ápice de sucesso

comercial e crítico em 2010 com o álbum The Suburbs, ganhando a premiação de álbum do ano no mercadológico Grammy. Com um show regado de emoções, o Arcade Fire promete ser o maior show do festival. Direto dos anos 90, temos o Soundgarden de Chris Cornell resgatando o grunge da época e fechado a terna de Headliners. Chris Cornell, cantor também do Audioslave, volta a sua banda original com sua formação original e tem tudo para fazer os hoje tiozões vibrarem ao som de seus sucessos. Num ano em que os maiores discos vieram de figurinhas carimbadas, Lorde surpreendeu. A menina de apenas 17 anos veio com Pure Heroine, seu disco de estreia e conquistou a gregos e troianos. Saiu com o Grammy de canção do ano e todo mundo ouviu a exaustão o seu grande hit (talvez o maior hit do ano passado ao lado de Get Lucky do Daft Punk) Royals e muitas vezes o cantou em festas e no

carro. Com certeza a cantora veio para ficar. E pra fechar a lista de grandes nomes para o festival, teremos os nova-iorquinos liderados por Ezra Kroening do Vampire Weekend. Com três álbuns no repertório, a banda com certeza atingiu a maturidade musical com Modern Vampires of The City. Aquele que foi eleito o disco do ano por muitas publicações, como a revista Rolling Stone, mostra um som mais adulto, muitas vezes soturno como em Hudson, e de extrema qualidade. Show tido como destaque no último ano nos festivais internacionais, os Vampiros mostram já há um bom tempo que são uma banda que veio para ficar. Curtiu? O Lollapalooza ocorre nos dias 5 e 6 de Abril no autódromo de Interlagos em São Paulo, capital. Os ingressos estão à venda aqui: http://www. lollapaloozabr.com/ingressos-2014 e variam de R$145 a R$1190. Arquivo Pessoal/Instagram

não dá para aproveitar muito o festival, mas você tem uma noção muito maior do que está acontecendo do que teria sentado na grama, sabe?”. A estudante de Jornalismo Mariana Caires trabalhou nos três dias da edição 2013 como promotora no stand da netshoes. Ela disse que “foi uma experiência bacana estar de alguma forma do outro lado do festival” apesar de não ter conseguido aproveitar muito o festival em si. “A melhor experiência mesmo foi o contato com o publico, que era musicalmente bem diversificado. Tinha gente de todos os estilos lá.” A Netshoes foi uma das empresas que patrocinou o Lolla, e assim como os correios, a Chilli Beans e alguns outros montou um stand para divulgar seus produtos. Já Camila Mesquita, que cursa Relações Públicas, curtiu o festival apenas como expectadora em 2012 e vai para um repeteco nesse ano. “Espero que seja tão bom quanto foi o de 2012, ou até melhor, já que vai ser em outro lugar com mais espaço e com capacidade para mais pessoas também, o que vai deixar o festival com uma energia bem legal.” Mantendo a tradição do rock alternativo o Lolla apresentou novas bandas à Camila “teve umas bandas bem legais que eu não conhecia e passei a gostar bastante”. “Lolla é o único festival que eu já fui (...) o lado bom de festivais é que você vai lá por uma ou duas bandas, mas sai de lá gostando de várias”.

A estudante Camila Mesquita curtiu o Lolla do ano passado e tem altas expectativas para o desse ano. Fevereiro 2014|Palau|19


música

BATUQUE UNIVERSITÁRIO

Se um instrumento não está afinado ou no ritmo, o conjunto todo estará errado. Nas baterias universitárias, os mais diferentes perfis de jovens interagem ao som do samba.

Luiz Eduardo Salsanha

Por Michelle Albuquerque

T

Apresentação da bateria “Naumteria” da Unesp Bauru no Desafio de Baterias do InterAssis 2013

odos os anos milhares de alunos entram na faculdade e iniciam uma fase única de suas vidas. Muitos passam a viver em outra cidade com uma realidade e responsabilidades totalmente novas e, além da graduação, o jovem passa a ter uma vivência de novos projetos e um incentivo ao esporte e a torcida dos atletas de sua faculdade. O contato com a música também é incentivado através das Baterias Universitárias, que em algumas instituições surgem como projeto de extensão ou com a força de vontade e iniciativa dos próprios alunos. 20|Palau|Fevereiro 2014

Na época universitária de lado, no qual as baterias, corais e bandas independentes que surgem nessa época influenciam a vida social e acadêmica dos alunos. A experiência proporciona também percepção e raciocínio aguçados e ensina também autodisciplina, paciência e sensibilidade. Os mesmos instrumentos, ritmos, paradinhas e organização interna das Baterias Universitárias se assemelham as baterias de escolas de samba e samba-show, com algumas adaptações e se constituem como conjuntos musicais com participação de alunos de uma mesma faculdade. Possuem

em comum o objetivo de apoiar a torcida da faculdade em jogos universitários e possuem semelhanças também com as baterias de torcida organizada de futebol. A UNESP possui 21 baterias espalhadas nos seus 34 campi instalados em 24 cidades diferentes do interior paulista. Dentre elas, destacam-se a “Batera do Inferno” do campus de Ilha Solteira, “Bateria Furiosa” de Presidente Prudente, “Sapateria” de Franca e a “Naumteria” de Bauru. Com uma média de 10 anos de história, o diferencial dessas baterias é possuírem uma maior organização interna e musical. A evolução

das baterias universitárias é notória e mostra-se forte a cada competição entre baterias realizada como o Interbatuc que é um evento anual que reúne baterias universitárias de vários estados e o Desafio de Baterias do InterUnesp, maior evento de jogos universitários do Brasil. Durante jogos universitários o apoio da bateria e da torcida é fundamental para a auto-estima dos times que estão sendo apoiados por aqueles que estão na arquibancada. Como consequência, existir um clima de rivalidade era comum, mas esse panorama vem mudando ao longo dos anos e abrindo ca-


dante de Odontologia da Unesp Araraquara e membro da bateria “Fúria Capilar”, Kiko Pane diz que no quesito integração “Uma bateria universitária deveria receber nota 12, porque é um grupo com perfis e cursos, que mesmo diferentes estão interligados com pelo amor a musica, integrando pessoas de diversos campis e até mesmo de universidades diferentes.” Um dos pontos altos das competições entre baterias são os jurados especializados e participantes de escolas de samba, e julgam qual a bateria com maior nível técnico, levando em conta diversos critérios e culmina com uma maior dedicação nesse aspecto, especialmente aos mestres de bateria. Graduado, Pós-doutorado e agora Mestre em Ciência e Tecnologia de Materias, Marcos Ribeiro da Silva, o “Kirvis” foi mes-

‘‘

tre por 7 anos da bateria Naumteria da Unesp Bauru e conta um pouco sobre a sua experiência que passou a ser então noventa por cento de sua vida universitária “Quando assumi como mestre pouca coisa mudou em relação aos instrumentos e ao meu estudo em relação à eles, o que mudou muito foi as responsabilidades com horário, não perder nenhum ensaio e então o que mais mudou mesmo foi a capacidade de criação, percepção musical e saber o limite de cada ritmista no aprendizado, além de estudar diferentes alternativas de ensino de música.” Em relação aos calouros ou “bixos” como também são conhecidos que entram todos os anos e que até tenham vontade de entrar em uma bateria mas não se sintam a vontade por não saber tocar

algum instrumento ou outros motivos, os ritmistas dão a dica de descobrir do que o que se gosta e consequentemente se descobrir com a experiência. Além do aprendizado musical as baterias proporcionam um trabalho em grupo duro, as vezes cansativo mas na maioria das vezes divertido e compensador. O convívio com diferentes nixos da faculdade faz com que o jovem cresça muito, aprendendo a ouvir, falar, ser ouvido e muitas vezes criticado. Além disso, o ciclo de amizades aumenta e muito, não se restringindo ao curso pertencente que muitas vezes tem as mesmas idéias e mesmas características. É uma oportunidade de aprender a conviver e respeitar opiniões diferentes e vários pontos de vista em um ambiente com muito samba e cadência.

UMA BATERIA UNIVERSITÁRIA DEVERIA RECEBER NOTA 12, PORQUE É UM GRUPO COM PERFIS E CURSOS, QUE MESMO DIFERENTES ESTÃO INTERLIGADOS COM PELO AMOR A MUSICA.” KIKO PANE, DA BATERIA “FÚRIA CAPILAR” Larissa Zani Di Doné

minho para uma maior integração entre membros de faculdades e baterias diferentes que se unem em prol do compromisso com a entidade e a música. O estudante de Letras – Português/Inglês da Unesp de São José do Rio Preto, Lucas Menecheli é membro da bateria “Psicoteria”, atual campeã do Desafio de Baterias do InterUnesp de Assis em 2013 conta é criado um vínculo muito grande com os demais integrantes e todos passam a entender melhor a sua importância e o seu papel na bateria. “Facilita nas relações interpessoais e você acaba percebendo a importância de fazer parte de uma família como essa.” conta Lucas. Para que uma bateria funcione, todos os integrantes tem de estar em perfeita sincronia e o comprometimento é uma das influencias positivas geradas por essa questão. E o estu-

Ensaio técnico da bateria “Psicoteria” da Unesp de São José do Rio Preto Fevereiro 2014|Palau|21


folia

O CARNAVAL DE BAURU Por Thais Viana

E

ntre uma agulhada e outra na fantasia que está costurando, Paulo Burian, 44 anos, carnavalesco há 29 anos, vai contando a sua história no Carnaval sem deixar de lado a história do Carnaval de Bauru. Ainda muito cedo em 1985, com 16 anos apenas, Burian começou montando ala, figurino, fazendo adaptações, aos poucos. Formado em Design pela Unesp, ele comenta que gosta mesmo é de carnaval. “Uma pena não poder viver dele aqui em Bauru”. Trabalhou com inúmeras escolas de samba, mas nunca se firmou em nenhuma. “As escolas às vezes tem uma visão do carnaval diferente da minha, e ai prefiro seguir meu caminho”. Quando Paulo ainda nem era nascido, lá pelo final da década de 50, o carnaval de Bauru, muitos não

MUITOS NÃO ACREDITAM, MAS O CARNAVAL DE RUA DE BAURU ERA O MAIS COMPLETO DO INTERIOR 22|Palau|Fevereiro 2014

acreditam, mas era o carnaval de rua mais completo do interior. Nessa época a festa acontecia na Rua 1º de Agosto. Logo depois em meados da década de 60, ela foi transferida para a Rua Batista de Carvalho, conhecida hoje como Calçadão Batista região onde está concentrados centenas de comércios e lojas de variedades. O desfile ia sentido Centro/Falcão porque era mais fácil o percurso que consistia em uma descida, facilmente podia empurrar os carros alegóricos. Nessa época, existiam duas escolas que lideravam o carnaval e eram dirigidas por Caré e Pedro de Campos. As transmissões eram feitas pelo rádio, a Estação Auri Verde, que até hoje mantem em sua programação o carnaval de Bauru. A rádio apresenta o prêmio Tamborim de Ouro. No auge do regime militar em 1970, governo de Médici, os Bauruenses se espremiam para ver o espetáculo. Com o aumento da procura pelo Carnaval Bauruense ele mudou para a Avenida Rodrigues Alves, com suas duas pistas ocupadas, uma servia para carros, baterias, blocos e a outra para a multidão. O som era instalado pelas 10 quadras da avenida. Nessa época quem fazia o carnaval de rua, eram os clubes sociais misturavam-se a pequenos grupos que já tomavam corpo de escola de samba. Cada clube participante juntamente com uma escola, decidiam o enredo, juntava-se o luxo dos clubes com o samba vindo

Arquivo Jornal da Cidade de Bauru

O carnaval mais completo do Estado na década de 60 está às vésperas de mais um carnaval, mas não com o mesmo glamour.

Paulo Burian em transmissão do carnaval bauruense

dos bairros mais pobres. As disputas passaram a ser mais acirrada. O carnaval estava sendo levado a sério em Bauru. As festas nos clubes duravam de quatro a cinco dias e tinha público para todas elas. Com incentivo da prefeitura para que ninguém ficasse de fora a festa foi realizada também na “Panela de Pressão”. Surgiram muitas escolas de Samba que foram tomando espaço, tem se registro das escolas Mocidade Independente, Cartola, Camisa 10 e Azulão de Ouro. Essa época o desfile já

havia mudado para as Nações Unidas, historiadores contam que nessa época a festa já havia perdido um pouco do seu glamour, devido ao espaço excessivo. A festa já era transmitida pela TV, e cerca de cinco anos foi uma festa muito acirrada fazendo com que Bauru fosse alternativa para quem não podia ir ao desfile do Rio de Janeiro. Com o crescimento do evento em 1990, o Sambódromo de Bauru foi construído, antes até do Anhembi em São Paulo, a passarela do Samba de Bauru era a segunda construção no país. A construção tem capacidade para 20


ticipando porque é a festa do momento. Notícias a respeito do abandono do sambódromo afirmavam que este se tornou em um tumulo do samba e ainda contavam que das sete escolas de samba existentes na cidade somente a Azulão na época de 2007 estava na ativa. Em 2010 o carnaval voltou a acontecer, no ano seguinte foi mais competitivo com a vitória do Azulão do Morro. Para esse ano de 2014, seis escolas de samba e cinco blocos estão inscritos nos carnaval. Irão participar as escolas, Azulão do Morro, Acadêmicos do Cartola, Águia de Ouro, Imperatriz da Grande Bauru, Coroa Imperial e Tradição da Zona Leste; e os blocos Estre-

la do Samba de Tibiriçá, Pé de Varsa e Ouro Verde 100% Arte; Jardim Petrópolis e Império da Lagoa do Sapo. No ano passado a escola vencedora foi a Cartola e seu enredo fo i s o b r e o Jo ã o s i n h o Trinta, famoso carn ava l e s c o f a l e c i d o e m 2 0 1 1 . A e s c o l a fo i c a m p e ã p e l a 1 0 º ve z . A prefeitura tem inc e n t i va d o m u i t o s e ve n tos para que o Car nava l d e B a u r u vo l t e a c r e s c e r. N a s e m a n a p a s s a d a fo i r e a l i z a d o o e ve n t o q u e e l e g e u o r e i e a r a i n h a d o c a r n ava l , tendo elegido candidat o s d a m e l h o r i d a d e. Nos resta aguardar os próximos capítulos do Carnaval Bauruense e torcer para que seu glamour volte a nos encantar.

Dos Bailes... AO SAMBÓDROMO

Arquivo Jornal da Cidade de Bauru

são trabalhados o ano inteiro, aqui nada se faz. Ele que trabalhou em Portugal durante quatro anos entre 2004 à 2010, produzia projetos para escolas de sambas na cidade de Mealhada em Portugal, viu seu trabalho valorizado. Aqui em Bauru, apesar da secretaria de cultura oferecer recursos abundantes, as escolas não regularizadas o que dá margem para que o dinheiro fique em mãos de pessoa física e se gaste da maneira que quiser. A estr utur a da ad ministr ação das esco las atualmente falta um dinamismo de mercado par a procur ar soluções, patrocinadores. Paulo acredita que falta uma cultura carnavalesca, as pessoas vão par-

Vivendo Bauru

mil pessoas, mas afirma-se que na época por ser um evento gratuito a capacidade se estendia. Paulo conta que por falta de dedicação, angariamentos de fundos e uma administração correta o carnaval deixou de ser levado a sério. Na época do início dos desfiles do sambódromo, o interesse pelo carnaval já não era tão grande. E assim foi realizada a festa durante 11 anos, até o ano de 2002, quando o carnaval parou de vez. Burian visitou carnavais no Rio de Janeiro, São Paulo, e lembra que o carnaval ele precisa de tempo, deve se trabalhar o ano inteiro com dedicação, hoje com uma má administração, faz se tudo em cima da hora, em comparação com os grandes carnavais que

Fevereiro 2014|Palau|23


dossiê

INCÊNDIO NO EDIFÍCIO ANDRAUS: ALÉM DAS CHAMAS 42 anos é o tempo que nos divide não só de um acidente, mas também de uma lenda em que muitos têm convicção.

N

o próximo dia 24 de fevereiro o incêndio ocorrido no Edifício Andraus, em 1972, completa 42 anos. Localizado no centro de São Paulo, na esquina entre a Avenida São João e a Rua Pedro Américo, próximo à Praça da República e nas redondezas do Vale do Anhangabaú, o Andraus foi palco de um acidente que provocou a morte de 16 pessoas e deixou centenas de feridos. Uma tragédia que comoveu não apenas os transeuntes paulistanos que naquela tarde aprontavam-se para encerrar o expediente e ir para casa, mas também o Brasil todo que acompanhou a notícia de que os funcionários daquele edifício sentiam pânico e aflição na luta contra a fumaça negra e as chamas. Anos depois, o incêndio que atestariam ter sido provocado por uma sobrecarga elétrica, ainda é assunto muito comentado entre os habitantes de São Paulo, pois não se tornou apenas um alerta social para os cuidados com a segurança em grandes edifícios, mas, foi além disso: se tornou uma lenda. A lenda se popularizou após alguns funcionários, entre eles vigias e seguranças afirmarem ouvir sons quando o prédio está praticamente vazio. Armários que abrem as portas sozinhos, gritos nas escadas e ruídos estão na lista de depoimentos de pessoas que classificam o ambiente como estranho e medonho, principalmente depois do incêndio. Seria mesmo o incêndio do Andraus uma lenda? 24|Palau|Fevereiro 2014

O termo lenda urbana ganhou popularidade a partir de 1981 quando o professor Jan Harold Brunvand da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, utilizou uma coleção de lendas de autoria própria para esclarecer duas questões de produção cultural: a primeira é que lendas e folclores não são produtos culturais apenas de sociedades primitivas, pelo contrário, ocorrem com frequência na contemporaneidade; a segunda é que conseguimos compreender muito sobre as culturas modernas estudando essas lendas, que nada mais são do que uma forma narrativa que se autentica por meio de testemunhas na história. A lenda do Edifício Andraus seria um bom objeto de estudo para Brunvand, pois nasce de um fato verídico e se sustenta pelo testemunho da sociedade. Um sobrevivente abençoado Naquela quinta feira a tarde do ano 1972, Wagner Azevedo estava trabalhando no vigésimo andar do Andraus quando foi alertado sobre o incêndio que se espalhava dos primeiros andares para os demais. O sobrevivente que já foi analista de sistema, contador, servidor público, e músico, atualmente mora na cidade de Ribeirão Preto e é aposentado. Em entrevista à Revista Palau, Wagner Azevedo resgata os mais profundos e penetrantes detalhes da sua experiência como sobrevivente do incêndio. Vítima resgatada pelo helicóptero do corpo de bombeiros, Wagner relata como foi o tempo desde que ficou sabendo que o prédio

Gabriele Alves

Por Gabriela Arroyo Gabriele Alves Marília Munhoz

Atualmente o Andraus continua sendo um prédio comercial com trinta andares, mas apenas 25 deles são ocupados com a prestação de serviços, os demais são destinados para o funcionamento operacional, como a casa de máquinas, por exemplo. Quintino, que trabalha no edifício contou que “tem pessoas que tem medo de visitar o Andraus, principalmente aquelas com mais de cinquenta anos que se lembram do incêndio, elas chegam e sempre perguntam, é aqui o prédio que pegou fogo?”.


Novas memórias Nesse aniversário que relembra um momento trágico da história de São Paulo, a Palau visitou o Edifício Andraus que funciona no mesmo endereço de 42 anos atrás, mas hoje o imóvel pertence à prefeitura de São Paulo. Para o zelador Luís Carlos Quintino, atualmente, o Andraus é um dos edifícios mais seguros do Brasil. A cada três meses uma equipe do corpo de bombeiros visita o local para fiscalização das normas de segurança. Todos os compartimentos do prédio são equipados com detector de fumaça, extintores, hidrantes, escadas de incêndio e saídas de emergências.

Quintino ainda relatou que o Andraus virou um estigma entre os acidentes de incêndio, pois quando outros incêndios ocorrem, sua história trágica de décadas atrás volta a ser comentada e ser relacionada com a atualidade. “Isso aconteceu muito com incêndio da boate Kiss em Santa Maria, quando a população tomou conhecimento da tragédia de lá, varias pessoas vinham aqui, perguntar se estava tudo bem, se o prédio esta em boas condições”. Cerca de duas mil pessoas entre visitantes e funcionários passam pelo edifício todos os dias, de segunda a sexta. “É um prédio extremamente seguro, todo completo” finaliza Luís Carlos Quintino.

CARLOS RENATO LOPES, EM SEU ARTIGO “EM BUSCA DO GÊNERO LENDA URBANA” (2008) APRESENTA AS LENDAS URBANAS COMO UM GÊNERO QUE RETRATA COISAS INUSITADAS, ABSURDAS.

ENTREVISTA Revista Palau: Gostaria que o senhor contasse sobre os momentos que viveu durante o incêndio. Como soube que o prédio pegava fogo? Wagner Azevedo: Estávamos no vigésimo andar do edifício Andraus que tem, ao todo, 30 andares. Fui também à janela. Olhei para baixo. Rolos de fumaça preta saíam com uma velocidade incrível, de algum ponto muito lá embaixo, provavelmente do térreo ou do primeiro andar. RP: Com o prédio em chamas, qual sua reação, o que fez? WA: Saí da sala com certa calma, alguns metros de corredor, o saguão dos elevadores. À minha direita, a porta de acesso à escadaria. Entrei. Ao começar a descida, antes de alcançar o andar inferior, encontro um grande número de pessoas que vinham na direção contrária. Subindo. Passei a subir. Comecei a subida da escada. Minha subida continuou por quase dez andares. No topo da escadaria, a porta fechada. Uns três ou quatro começaram a sacudir a porta com força até que o cadeado se quebrou; a porta se abriu, permitindo a chegada das pessoas ao heliporto. Eu também subi. E cheguei lá. RP: Nos momentos que seguiram, como foi o clima no topo do Andraus? WA: Foram momentos em que não percebi mais nada a respeito dos demais. Apenas estava quieto, agachado, encostado à mureta. Do paredão de fogo vinha um calor forte. Suportável, sim. Mas forte. O tempo parou. Acredito que eu tenha ficado assim por alguns minutos, três a cinco, no máximo. Ainda havia muita confusão no heliporto. Gente andando em círculos, correndo, vindo até a mureta, voltando. RP: Como foi resgatado? WA: A saída pelo helicóptero seria mais segura e garantia o resgate sem transtornos. Então fiquei junto com um pequeno grupo de pessoas que aguardavam a oportunidade de embarcar em um dos aparelhos. Subitamente um bombeiro, surgindo na escuridão, pegou pelo meu braço e me disse: “Venha comigo!” Assustado pelo inesperado, pergunto: “Para onde?”, ao que ele completa: “Para a escada.

Com Wagner Azevedo Vamos descer pela escada.” Eu argumentei que estava cansado e que achava que não iria conseguir descer até o térreo pela escada, mas não adiantou. Descemos um andar, dois; pelo meio do terceiro, senti que não iria dar conta do recado: trinta andares a descer. Havia fumaça e calor na escadaria. Suportável, mas muito incômodo. Nesse momento havia um helicóptero dos grandes no heliporto e poucas pessoas para embarcar. O relógio do Conjunto Nacional estava marcando nove e meia da noite. RP: Relembrando o dia do acidente, tem algum momento vivido pelo senhor, que ao longo desses 42 anos, tenha ganhado um novo significado? WA: O que teve um novo sentido no período posterior foi simplesmente a vida. Cada dia para mim é um presente de Deus, porque, dadas as condições do evento, não houve nenhum mérito ou esforço meu que me diferenciasse de pessoas que morreram. A simples localização ou o trabalho que estivesse fazendo no momento definiu quem viveu e quem se foi. Lembro quase diariamente o incêndio, mas não me considero um neurótico; acho mais que sou agradecido. Eu tinha dificuldade para pensar ou falar sobre o assunto. RP: Atualmente funcionários dizem ouvir barulhos estranhos e ruídos em alguns andares. O senhor acredita nessa possibilidade? WA: Desconheço casos assim no Andraus; ouvi coisas desse tipo do Joelma, mas não acredito. Barulhos, uivos e coisas parecidas podem até mesmo ser comuns em prédios altos como resultado de vento, dilatação e movimentação de algumas partes - principalmente metálicas - pelo calor/ frio, mas nada de estranho. RP: Chegou a ouvir alguma versão que fugisse do que realmente aconteceu naquele dia? As lendas e mitos urbanos, para o senhor, podem nascer de algum fato mal contado ou inventado? WA: Houve muitos contos dessa ordem. Um funcionário da empresa que eu trabalhava (Siemens) deu, à época, uma

Proz.com

estava em chamas até o momento do resgate. Esclarece ainda se tomou conhecimento da lenda do Andraus e o que sente das últimas tragédias envolvendo incêndios, como no Edifício Joelma e na Boate Kiss.

declaração fantasiosa a um jornal contando com teria se salvado e também ajudado outra pessoa, com heroísmo e força sobre-humana... Depois ouvi vários relatos que não se encaixavam com a realidade. Sempre que me foi dada a liberdade de opinar, eu disse que desconhecia esses atos. Não lembro todas as versões, porque eu nem me preocupava em guardar, já que eram pura fantasia. Conheci aqui no interior, há uns 10 anos, um homem que diz ter trabalhado na operação de resgate das vítimas – ele era mecânico de helicóptero, portanto não esteve no local do incêndio, mas na manutenção, abastecimento e preparação das aeronaves. Depois que me conheceu eu sei que ele contou a várias pessoas a forma como ele teria visto o meu resgate – coisa totalmente inventada. Alguns vieram me perguntar se era verdade. Não era. RP: Após 42 anos, como o senhor se sente quando vê que outras tragédias como a da Boate Kiss, no ano passado, ceifaram a vida de centenas de pessoas? Qual o pensamento que envolve essa triste passagem? WA: Penso que o meu sentimento de tristeza seja igual ao da maior parte da população. A g ravidade da tragédia da boate Kiss foi multiplicada pelo despreparo dos seguranças que impediram a saída de pessoas que tentavam escapar. Um absurdo, uma coisa sem fundamento algum. A queda das torres gêmeas em NY me afetou mais, porque, sem aviso, eu assisti às imagens de explosões e queda dos prédios, que pareceram retirar do arquivo morto de meu cérebro as imagens e as sensações do Andraus que estavam bem guardadas em algum canto.

Fevereiro 2014|Palau|25


literatura

1984: AS VISÕES ORWELLIANAS SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DO AUTORITARISMO A ficção de George Orwell inovou a literatura moderna e colaborou para a compreensão sobre os perigos do controle estatal máximo e da abolição da democracia Por Ana Beatriz Ferreira Lucas Zanetti

mentos, sensações, sexualidade, crenças e descrenças. De enredo inovador, todavia redigido em uma linguagem simples, de fácil assimilação, “1984” traz o pessimismo da década de 40, motivado pela Segunda Guerra Mundial, mas se distancia dos autores da época por sua peculiaridade. Num momento em que o existencialismo de Albert Camus e Jean Paul-Sartre, na França, era palavra de ordem, ter uma distopia passível de tantas interpretações causou verdadeira comoção no ramo literário. Antes dele, porém, Aldous Huxley já tinha chamado atenção com seu “Admirável Mundo Novo”, de 1932. Na obra, a sociedade é alienada em torno de uma ferramenta muito mais sutil: o

prazer. Inspirados por ideais freudianos de sexualidade, os cidadãos, diferentemente do frustrado Winston, são motivados a desfrutar de tudo, divididos em castas. Suas dores são anestesiadas por “soma” e seus pensamentos, especialmente os mais subversivos, impossibilitados (conferir infográfico sobre George Orwell e Aldous Huxley abaixo). Arlindo Rebechi Junior, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, USP, ressalta alguns dos motivos da relevância de “1984” neste contexto. “Acredito que Orwell seja um dos grandes escritores de língua inglesa do século XX e como todo escritor canônico nos oferece uma mediação do mundo bastante privilegiada, realizando interpretações e re-

presentações do seu tempo de modo irretocável.” Fenomeno orwelliano Quando publicado, “1984” foi interpretado por leitores estadunidenses como uma crítica ao regime stalinista na União Soviética. Para outros leitores, entretanto, poderia representar uma alegoria repleta de escárnio do sistema capitalista, cada vez mais manipulador. Mais de 60 anos depois de seu lançamento, um fenômeno: o livro orwelliano voltou a um círculo de intenso debate após o escândalo de espionagem no qual a Agência Nacional de Segurança (NSA, sigla em inglês), dos Estados Unidos, estava envolvida. Justificado por Barack Obama como uma medida para combater Imagem: APFN

Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.” Com orações curtas, mas de impacto gigantesco, tais como estas, George Orwell deixou em “1984”, mais que um clássico moderno da literatura, uma profunda reflexão sobre o totalitarismo. Publicado em 1949, o livro conta a história de Winston, que vive e trabalha sob o comando do Partido e a vigilância do Grande Irmão, o famoso Big Brother. Além dele, todos os cidadãos que habitam a Oceânia, país criado pelo autor, estão submetidos a um regime de invasão de privacidade e comprometimento de suas liberdades individuais. O Partido, dotado de um poder onisciente, quer ter o controle de tudo: pensa-

O Grande Irmão, sempre vigilante. Imagem da adaptação cinematográfica de 1984. 26|Palau|Fevereiro 2014


ameaças terroristas, o fato teve uma repercussão bastante negativa. Com ele, curiosamente, o site Amazon.com observou um aumento de 7000% das vendas de “1984”, segundo o jornal The Guardian, o que fez com que muitos leitores voltassem a discutir os limites da invasão de privacidade já antecipados na representação da incansável vigilância do Grande Irmão. Por que tanto pessimismo? O fracasso da revolução russa com a implantação do regime stalinista fez cair por terra toda esperança do povo soviético em uma sociedade igualitária e governada pelos operários. Toda luta e sangue derrubado serviu somente de artifício para as ambições de Stalin, que matou, torturou e prendeu quem fosse contra suas convicções sobre o comunismo. Logo em seguida veio a 2ª Guerra Mundial com todo seu terror, escancarado, principalmente, no holocausto e nas perseguições étnicas e culturais. Os regimes totalitários europeus cobiçavam

apenas o poder pelo poder em detrimento da liberdade, democracia e bem coletivo, levando a sociedade europeia a um verdadeiro colapso. É neste contexto que surge ‘’1984’’, um livro sombrio e extremamente pessimista, escrito por alguém que estava horrorizado pelos rumos que o mundo seguia naquele momento. Segundo o historiador, cientista político e doutor em Antropologia, Claudio Bertolli ‘’Se antes o Estado era visto como uma

instância que defendia a nação, e portanto, todos os indivíduos da nação, a crise de 29 e a guerra deixou claro que o Estado defendia apenas a si próprio, usando os homens não só para a guerra, mas para seus interesses, disseminando ideologias, defendendo alguns valores (família, trabalho, religião, etc.) sem contudo ser fiel a seus compromissos.’’ Isso justificaria grande parte da ficção - que não deixa de ter um que de realidade - escri-

ta por Orwell. Dessa forma, a obra de Orwell pode ser considerada um aviso desesperado de um visionário que entendia o risco de uma era de controle estatal máximo, na qual a liberdade é inexistente e toda individualidade, fundamental para construção humana, é retirada do indivíduo. No posfácio que escreveu para a obra, o psicanalista, sociólogo e filósofo Erich Fromm, afirma que ‘’o

Novilíngua: a linguagem como repressão do pensamento A novilíngua é um idioma criado pelo partido e foi concebida com o intuito de inviabilizar pensamentos subversivos. Toda a língua inglesa foi reformulada e reduzida ao máximo. Com a extinção de várias palavras e seus conceitos, as pessoas não poderiam expressar seus sentimentos “hereges”. Assim, através da ignorância, o partido asseguraria seu poder e ficaria livre de revoluções. Fevereiro 2014|Palau|27


28|Palau|Fevereiro 2014

tar disso. Recentemente, houve o caso da espionagem americana. No livro, muitos não tinham consciência da repressão e privação da liberdade que sofriam e o partido governava para garantir o próprio poder. Até que ponto podemos garantir que isso não ocorre de forma mais sútil? Em todo caso, ler “1984” como uma mera crítica ao comunismo não deixa de ser uma grande perda intelectual.

Duplipensamento e a adesão da contradição no ato de pensar Segundo “1984”, duplipensar consiste em “manter duas crenças contraditórias ao mesmo tempo, e esquecer qualquer fato que tenha se tornado inconveniente”. Esse ato é usado pelo partido visando a desmobilização das massas, visto que vive à base de fraudes, falsificações e distorções históricas. Matéria Incógnita

sentimento de desesperança no futuro do homem contrasta marcadamente com uma das características mais fundamentais do pensamento ocidental: a fé no progresso humano na capacidade de criar um mundo de justiça e paz.’’ No mundo de Orwell não há paz, não há progresso, não há humanidade. O Partido, através do duplipensamento, da novilíngua e da distorção da história, criou uma sociedade que desconhece qualquer passado real.w Uma sociedade macabra, com níveis sociais precários, onde as pessoas vivem para idolatrar o partido e o partido vive para manter o próprio poder. Muito desse pensamento provém do próprio contexto em que o livro foi escrito. Obviamente observa-se no livro uma crítica ao regime Stalinista e por isso foi anunciada nos EUA como uma obra ‘’anticomunista’’. Entretanto, em um livro sobre sua vida, escrito em 1946, intitulado ‘’Porque eu escrevo’’, o escritor afirma: “A guerra espanhola e outros eventos entre 1936-37 fizeram a balança pender, e depois disso eu sabia onde estava. Cada linha de trabalho sério que redigi desde 1936 foi escrita, direta ou indiretamente, contra o totalitarismo e a favor do socialismo democrático, tal como o conheço.” Ou seja, a crítica feita não é sobre a ideologia socialista em si, mas sim sobre o totalitarismo e a busca do poder pelo poder. Além disso, há muitas reflexões possível se trouxermos ‘’1984’’ para os dias atuais. Vivemos cercados de câmeras, e redes sociais onde temos nossas vidas expostas constantemente e nos fazem gos-

Após mais de 50 anos, “1984” ainda gera debates atuais sobre poder e vigilância. Na charge, o Grande Irmão é comparado e inferiorizado à figura do Facebook, mostrando que a invasão de privacidade ainda existe, apesar da suposta liberdade que vivemos.


cinema

BLOW UP UM JOGO ENTRE REALIDADE E IMAGINAÇÃO

Um filme que foge do padrão hollywoodiano Por Isadora de Oliveira e Tamiris Volcean

B

low-up, foi lançado em 1966, dirigido e roteirizado por Antonioni, o filme se passa na efervescente Londres da década de 60, período de transgressão da moral vigente, de inserção da mulher no mercado de trabalho, da liberdade sexual trazida pela pílula anticoncepcional. Todas essas mudanças inevitavelmente atingiu a arte, a literatura e a música da época. O filme está presente na composição do Cinema Novo, caracterizado como um cinema marginal e criticado por sua ideologia. O Cinema Novo dos anos 60 consagrou-se como um cinema revolucionário e engajado, desempenhando papel fundamental na composição da bagagem cultural do público jovem. Toda essa agitação é retratada na cena inicial do filme, quando jovens gritam e pulam pelas ruas, enquanto trabalhadores mudos e apáticos saem das fábricas, após mais uma longa jornada de trabalho. A obra foi adaptada no conto “Las babas del diablo”, do escritor argentino, Julio Cortazar. O conto retrata a história de um fotógrafo que captura em suas fotos fatos que ele não conseguiu ver com os próprios olhos. No filme, o personagem principal Thomas, interpretado pelo ator David Hemmings, descobre um assassinato quando revela e amplia suas fotos. O filme recebe o nome de Blow up, devido a explosão, ampliação da imagem, com isso, é possível fazer uma nova descoberta da

realidade. A história também quebra com a estrutura hollywoodiana, o autor propõe ao espectador uma análise do limite entre a realidade e o imaginário. Não são nas palavras que o diretor encontra sua maior arma para mexer com a cabeça do espectador, mas na forma como as cenas são transpostas, desde a maneira como a câmera percorre os cômodos, não focando sempre os personagens, mas muitas vezes o que há em torno deles, como também no momento da análise das fotos. O filme cria sua identidade própria ao modo que se diferencia dos outros quanto à filmagem e à fotografia fato que pode ser facilmente entendido baseado na cena que retrata a primeira vez que Thomas vai ao antiquário. O seu carro está se deslocando para frente, onde há um edifício, porém a construção fica cada vez mais distante, à medida que o carro se desloca para frente. Nessa cena ocorre um jogo de Zoom, muito mais rápido que a velocidade do próprio carro, com isso, Antonioni nos mostra como toda a imagem precisa de um referencial que lhes dê sentido. A dúvida entre o real e o imaginário também pode ser notada quando Thomas, mesmo já tendo ido ao parque e lá visto o corpo do homem morto, ele retorna ao parque para fotografar o corpo. O que demostra que ele não acreditou em seus próprios olhos, pois precisava da imagem e não do corpo da vítima para ter a certeza que o que viu era realidade. O mesmo acontece quando Thomas vai ao show de

rock onde a plateia assiste ao espetáculo passivamente, paralisada, fato que só é alterado quando o guitarrista quebra o seu instrumento e joga parte dele para o público que entra em delírio. É como se o real representado pela banda não causasse mais nenhuma reação nas pessoas, mas apenas a imagem que é simbolizada pelo pedaço da guitarra. No filme, a imagem tornou-se a realidade primeira das pessoas. “Blow-up” também retrata outros assuntos como a incomunicabilidade entre os personagens do filme, como se eles falassem diferentes línguas, fato que ocorre prin-

cipalmente com Thomas que apesar de se comunicar com muitas pessoas, não se comunica com clareza, não sendo assim compreendido. O filme foi traduzido para o português, como “Depois daquele beijo”, baseado na ideia de que o tema principal do filme foi o assassinato que aconteceu após um encontro no parque. Porém Antonioni deixa claro que o esse não é o verdadeiro objetivo do filme, tanto que não é revelado detalhes do homem assassinado e nem da mulher que estava no parque com ele. Não há nenhuma resposta, nenhuma explicação do que realmente aconteceu no parque.

O filme recebe o nome de Blow Up, devido a explosão, ampliação da imagem, com isso, é possível fazer uma nova descoberta da realidade Fevereiro 2014|Palau|29


cinema

SEGUNDA-GUERRA E ARTE UNIDAS NUMA MESMA PRODUÇÃO O filme Caçadores de Obras-Primas prova que uma ótima história e um elenco de peso não são nada sem um bom roteiro Por Henrique Cisman e Mariana Kohlrausch

Q

mais de uma vez pela escola, Hitler dedicou-se a outros projetos. Acredito que não seja preciso relembrar como esses projetos foram formulados e empreendidos. De qualquer forma, é preciso lembrar a relação entre Adolf Hitler e as artes para entender os motivos de certos episódios da Segunda Guerra. Uma das histórias que permeiam esse conflito e não é muito lembrada, foi retratada no filme “Caçadores de Obras-Primas”, lançado em 14 de fevereiro de 2014. O longa, dirigido e estrelado por George Clooney, conta a história de uma equipe de Divulgação

uando se ouve falar em Hitler, é normal as lembranças das tragédias da Segunda Guerra. Um único nome traz de volta à memória uma história de mortes e conflitos. Porém, o que muitos não esperam, e não conhecem, é a relação entre este mesmo homem e a arte. Adolf teve um lado sentimental, no qual desenvolveu seu talento para a pintura. O que ele não esperava, no entanto, era que suas obras não fossem suficientemente boas para o ingresso na Academia de Belas Artes de Viena. Após ser rejeitado

historiadores de arte, curadores, arquitetos e donos de museus que pretendem salvar obras de arte saqueadas pelos nazistas. Situado na Europa do fim da guerra, o filme conta com um elenco de peso que inclui Matt Damon, Bill Murray, Cate Blanchett, John Goodman, Jean Dujardin, Hugh Bonneville e Bob Balaban. O ator George Clooney se arrisca na direção de uma produção que custou 80 milhões de dólares, muito mais do que qualquer outro longa dirigido por ele. O diretor de Boa Noite e Boa Sorte (2005) criou a trama de seu novo filme baseando-se numa história real e no livro “Caçadores de Obras-Primas”, de Robert Edsel. Enredo O filme conta a saga de sete homens – que se autodenominam os “Caçadores de Obras-primas” ou Monuments Men, no orginal – de idade já avançada e adoradores de arte, que se alistam no exército americano, no fim da Segunda Guerra, para ir à procura de obras de arte roubadas pelos nazistas. É aí que a paixão de Hitler pela arte é relembrada. O ditador alemão pretendia fundar um museu em Linz, Áustria, com todas as obras importantes da história. Desta forma, seu governo não se preocupou apenas em manter a raça pura ariana: Hitler procurou reunir as maiores obras da humanidade em suas mãos. Com o iminente fim da guerra e o declínio do governo nazista, as personagens principais do filme arriscam-

30|Palau|Fevereiro 2014

-se na busca dos tesouros roubados. A intenção era devolver tudo aos museus e colecionadores antes que o Führer perdesse o poder e cumprisse sua promessa: caso a Alemanha fosse derrotada, tudo deveria ser destruído. De fato, os mocinhos da trama não conseguem encontrar todos os saques e perdem alguns de seus homens – mortos – mas recuperam artefatos importantes como o Retábulo de Ghent e a escultura de mármore Virgem com o menino Jesus, também conhecida como a Madona de Michelangelo. Durante a trama, obras de grandes nomes como Renoir, Cézanne, Picasso, Rafael, entre outros, são classificadas como patrimônio histórico da humanidade. Desta forma, o filme procurou questionar se realmente valeria à pena proteger obras de arte enquanto milhares de pessoas morriam. O personagem de Clooney é indagado desde o início: uma obra vale uma vida? Em seu discurso final, o personagem diz que, em sua opinião, no caso de salvar a Madona, valeu cada gota de sangue. Ótimo elenco, bom orçamento, resultado ruim Caçadores de Obras-Primas é uma produção da qual se esperava mais, principalmente pelo elenco escolhido. Nomes de primeira linha unidos numa história real e que remete a um dos acontecimentos mais importantes do mundo, explorando um aspecto pouco lembrado quando se trata da Segunda Guerra. Porém, falta personalidade ao filme. Em alguns


momentos se aproxima do drama, levando o espectador a refletir sobre a dificuldade da vida naquele meio inseguro e caótico, dos soldados e das famílias. Porém, não é profundo na dramaticidade, aproximando-se do humor em certos momentos. Ora, não consegue ser realmente dramático e fica longe de ser uma comédia. Há uma espécie de recorte de pontos importantes do filme que também prejudica a qualidade da produção. Em nenhum momento os caçadores de obras-primas encontram uma grande dificuldade na tarefa de procurar e recuperar as obras de arte saqueadas. Mesmo as cenas de morte (Jean Dujardin e Hugh Bonneville) são vazias de emoção. O roteiro do filme não permite que se crie identidade entre personagens e público. Os acontecimentos vão se sucedendo e de repente a missão está finalizada. A interferência soviética na Guerra também é pouco e mal-explorada. A destacar positivamente, o figurino e o ambiente a caráter, muito bem escolhidos, e, sobretudo, a abordagem reflexiva: para preservar obras-primas é válido que pessoas morram? Com certeza, essa é a mensagem principal, presente em alguns diálogos e evidenciada ao final da trama, quando Stokes (George Clooney), chefe da missão, é questionado a respeito da morte dos companheiros. Uma produção de 80 milhões de dólares com elenco primoroso merecia um roteiro melhor e mais original. O aspecto reflexivo funciona, mas falta personalidade em explorar mais o tema, deixá-lo mais dramático e profundo. Ainda assim, é interessante, pois evidencia lados menos conhecidos tanto de Adolf Hitler quanto da Segunda Guerra Mundial.

PROGRAME-SE Horários de Caçadores de Obras-Primas Multiplex: Dublado: Sala 3 (Digital): Sexta, sábado e domingo: 15h15 e 17h30; Segunda a quinta: 16h e 19h15 Legendado: Sala 3 (Digital): Sexta, sábado e domingo: 19h45 e 22h; Segunda a quinta: 21h30 Cine’n Fun: Legendado: Sala 1: Sexta: 14h30, 16h50, 19h40 e 22h30; Sábado e domingo: 14h30, 16h50, 19h10, 21h30 e 23h40; Segunda a quinta: 13h40, 15h50, 18h50, 21h20 e 23h40 Cinépolis: Dublado: Sala 1: Diariamente: 13h40 Legendado: Sala 1 Diariamente: 16h15, 18h45 e 21h15

Outros filmes em cartaz 47 RONINS (ESTREIA)

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

Multiplex Dublado Sala 4 (3D): 19h30 Legendado Sala 4 (3D): 21h45 Cinépolis Dublado Sala 3 (3D): 13h15 Legendado Sala 3 (3D): 15h45, 18h15 e 20h45; Sexta e sábado: 23h15

Multiplex - Dublado Sala 5: 16h, 19h e 21h15 Cine ‘n Fun - Legendado Sala 3: Sexta: 14h e 22h10; Sábado e domingo: 14h e 20h45; Segunda a quinta: 13h30 e 18h40 Cinépolis Dublado Sala 5: Sábado e domingo: 12h45 Legendado Sala 5: 16h, 19h15 e 22h

OPERAÇÃO SOMBRA: JACK RYAN

HÉRCULES

Multiplex - Dublado Sala 1: Sexta, sábado, domingo, segunda e quarta: 15h30, 17h30, 19h30 e 21h30; Terça e quinta: 17h30, 19h30 e 21h30 Cine ‘n Fun - Legendado Sala 2: Sexta, sábado e domingo: 14h40, 16h40 e 22h20; Segunda a quinta: 14h10, 16h10, 19h e 21h05 Cinépolis - Legendado Sala 2: 19h

Multiplex - Dublado Sala 2: Sexta, sábado, domingo, segunda e quarta: 15h30, 17h30, 19h30 e 21h30; Terça e quinta: 17h, 19h e 21h Cine ‘n Fun - Legendado Sala 4: Sexta: 19h20 e 22h40; Sábado e domingo: 19h30, 21h40 e 23h50; Segunda a quinta: 21h30 e 23h50 Cinépolis - Legendado Sala 6 (3D): 17h45 e 22h30

UMA AVENTURA LEGO

O LOBO DE WALL STREET

Multiplex - Dublado Sala 4 (3D): Sexta, sábado, domingo, segunda e quarta: 15h30 e 17h30; Terça e quinta: 17h30 Cine ‘n Fun - Dublado Sala 4: Sexta: 13h50 e 16h; Sábado e domingo: 13h50, 15h40 e 17h30; Segunda a quinta: 13h50, 15h45 e 18h30 Cinépolis - Dublado Sala 2: 14h30 e 16h45; Sábado e domingo: 12h15 Sala 6 (3D): 13h, 15h15 e 20h

Cine ‘n Fun - Legendado Sala 2: Sexta, sábado e domingo: 18h55; Segunda a quinta: 23h Cinépolis - Legendado Sala 2: 21h30

Fevereiro 2014|Palau|31


geek

UMA OUTRA REALIDADE

Seu conceito de “nerd” pode mudar um pouco

A

definição de “ser nerd” sofreu, digamos, que certas mudanças radicais de uns tempos para cá. O que antes era ser aquele indivíduo que não aceitava uma nota menor do que 10 na escola, não tinha a atenção de nenhuma garota ou garoto, sofria bullying, usava óculos, era cheio de espinhas e não praticava esportes (uma imagem bem representada pelos cinema americano), hoje é estar na moda. A cultura nerd sofreu tamanha mudança ao ponto de ser referência, e até tornar-se alvo da indústria cultural. Inspirada no personagem da série de The Big Bang Theory, Sheldon Cooper, um fã de histórias em quadrinhos (HQs), ficção científica, jogos de cartas colecionáveis, videogames, RPGs e física, (não sendo esta última um gosto obrigatório para o nerd de hoje), esta cultura conquistou seu espaço nos dias atuais. A abrangência é tanta que se criam nichos dos nichos como no caso dos otakus, que são aqueles especificamente aficionados por cultura pop oriental. O estudante José Augusto Abilho, que não se considera nerd, mas sim um legítimo otaku, acha o termo até digno de elogio. “Meu único vício está em me divertir”, diz. Outro micro universo são os jogadores profissionais de cartas colecionáveis, entre eles o mais popular é o jogo Magic - The Gathering que foi criado em 1993 32|Palau|Fevereiro 2014

Divulgação

Por Giovane Rocha e Rodrigo Pinheiro

por um professor de matemática americano, Richard Garfield. Cada jogador começa com vinte pontos de vida e persegue o objetivo de destruir o adversário retirando-lhe os pontos e a vida. Isso é o básico. O resto tem mais subenredos do que qualquer novela das nove. Os elementos do jogo parecem uma mistura de Tolkien com Anne Rice. São seis milhões de jogadores espalhados por mais de setenta países, “é um sonho poder viver fazendo o que se gosta” disse Carlos Alexandre, 24 anos, que se considera um jogador profissional e passa de oito à doze horas diárias “grindando” na versão online do jogo. No jogo ele se torna “Batutinha” um personagem conhecido e temido pelos adversários do mundo todo. “Grindar” é o termo que eles usam para definir aqueles jogadores que passam muitas horas jogando torneios pequenos. “O nível nesses torneios é menor, eu consigo ‘tirar’ até três mil reais por mês, dependendo da cotação do dólar”. Carlos disse ainda que abandonou a faculdade no segundo ano para viver somente de Magic. O jogo pertence à Multinacional Hasbro que entre outras franquias é a companhia por trás de “Transformers,” “My Little Pony,” e dos brinquedos “G.I. Joe” sem falar de “Monopoly”, o banco imobiliário, o que detém o titulo pelo Livro dos Records (Guiness) de jogo de tabuleiro mais vendido de todos os tempos.

Meu único vício está em me divertir.” José Augusto Abilho

Carlos Alexandre, 24 anos, o “Batutinha”.

Para que esse estilo de ser, o de nerd, se tornasse uma febre houve uma pequena ajuda da indústria cultural. Esta máquina capitalista parou de vender a imagem do nerd como a face da inteligência, mas também da vergonha, e começou a vendê-la como gênios bilionários que se tornam protagonistas de séries de TV e filmes e também ficam com as mais belas mulheres. Imagem necessária para que quem não fos-

se nerd aderisse ao estilo, e quem já era, idolatrar os novos personagens criados. Hoje, o nerd perdeu a vergonha de ser quem é. Tor nou-se algo normal ir a eventos de cosplay e jogar jogos online. Atividades que acabaram virando meios de conhecer novas pessoas, fazer novas amizades, algo essencial para qualquer ser humano, seja ele um fã de história em quadrinho, videogame, ou não.


Divulgação

Um tanto quanto diferente...

Agora, voltando aos card games, já imaginou um fisiculturista profissional que também jogue Magic - The Gathering nas horas vagas? É o caso do Bodybuilder e personal trainer Bruno Apolônio Rodrigues, 24. Ele diz que sempre foi nerd e gordinho na escola, e que sofria muito bullying por isso. Encontrou na academia e no Fisiculturismo uma maneira de se livrar desse estigma. Entretanto, ele precisou fazer o caminho inverso, “Eu sentia muito stress pré-competições, as dietas e as series de treinos são muito rigorosos” Explica Bruno sobre o porquê de ter voltado ao jogo de cartas. “Aqui eu me divirto e interajo com amigos antigos” Disse em entrevista logo após vencer um pequeno torneio numa loja local. Bruno brinca ainda dizendo que não parou de sofrer bullying “agora eles ‘zoam’ o tamanho dos meus peitos, essas coisas, mas é diferente”.

Qual o conceito de “nerd” mesmo...? (Bruno Apolônio Rodrigues – fisiculturista, personal trainer e jogador de Magic...) Fevereiro 2014|Palau|32



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.