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interpretações de uma nálise de campo: do território virtual à vida na escala humana
2.4 | interpretações de uma análise de campo: do território virtual à vida na escala humana
Neste tópico 2.4 em específico, me dou a liberdade da coloquialidade na escrita, de forma que a minha perspectiva de visita de campo seja o mais honesta possível e transpasse aos leitores a verdade da minha experiência no território de pesquisa. Dia 14 de maio de 2022, ainda com muitas incertezas sobre a temática deste trabalho e sobre qual vertente eu seguiria, fui ao acampamento junto ao Coletivo Terra. Marcamos o encontro próximo à estação de metrô do Largo do Machado e saímos com a van por volta das 07h e pouco antes das 10h fomos recebidos com muito carinho pelas moradoras sentadas na entrada da ocupação e pelos demais que nos perceberam e foram ao encontro. Ali já me sentia à vontade. Na minha frente, de cara avisto a cozinha coletiva com homens e mulheres trabalhando já no preparo do almoço. À minha direita, cerca de 5 crianças e alguns adultos jogando bola. Ao fundo, um mundo.
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Alguns passos à frente, um senhor vem ao nosso encontro com um bloco de BTC (bloco de terra comprimida) em mãos para mostrar o resultado fruto do workshop do coletivo em 2019. Ali eu já sabia um dos materiais que eu usaria neste trabalho. Fomos em um dia de sábado, especificamente, pois são os dias que geralmente acontecem as aulas da unidade pedagógica (u.p.) que naquela semana tinha como tema, por coincidência (ou não), “o manejo agroecológico da água”. Caminhamos em direção ao espaço físico da u.p. e aos pouco as pessoas se achegavam. As cadeiras se organizavam de forma radial, fazendo que no centro daquele espaço se concentrasse a atenção. Em questão de minutos, ao som de tambores, chocalhos, berimbau e alguns outros instrumentos, uma música da cultura capoeirista: Santo Antônio eu quero água /Santo Antônio eu quero água / Quero água pra beber / Quero água pra lavar / Quero água pra benzer/ Quero água
Eu não sabia, mas existe uma cultura no MST conhecida como mística, que é um ritual pré-atividades que acontecem através de poesias, cantos, encenações, etc. É um momento de envolvimento com a atividade e com as participantes. Algumas pessoas receberam um pedaço rasgado de papel, cada um com uma frase diferente sobre a temática, que foram lidos entre trechos do canto, trazendo a reflexão à tona.
imagem 31: crianças jogando bola (2022); foto de autoria própria
imagem 32: moradora fazendo almoço na cozinha coletiva (2022); foto: fernando minto
imagem 33: bloco de btc produzido no acampamento (2022); foto de autoria própria
imagem 34: mística (2022); foto de autoria própria
imagem 35: papel recebido na aula sobre manejo agroecológico da água na unidade pedagógica (2022); foto de autoria própria
imagem 36: aula em unidade pedagógica (2022); foto de autoria própria
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Ali muitos assuntos foram trazidos, mas como a temática abordava a água como eixo central, os caminhos seguiam por ela. Muito se falou sobre a relação com o córrego, com os meios de coleta de água, dos banheiros coletivos existentes e das possibilidades: surgem na roda o banheiro seco, a bacia de evapotranspiração e algumas outras alternativas. Nesse momento, o interesse latente dos acampados se tornou muito visível. Ali, então, já me despertavam algumas reflexões. Fui conhecer a ocupação e muito me espantou a capacidade e o talento para os artifícios e ofícios da construção. As moradias são todas construídas com materiais de reuso: pvc, madeiras, descartes de esquadrias, etc. Eles literalmente se viram como podem e com o que têm. As casas possuem aspectos muito interessantes e constroem diferentes tipologias da construção, cada uma com suas particularidades, semelhante à obras de arte. Lembro até hoje de uma construção já abandonada feita com um jogo de encaixes de tábuas velhas de madeira, tal qual um quadro de Mondrian, enquadrando ao fundo, a vasta paisagem de montanhas e vegetação. Além do reuso de materiais velhos, ali já acontecem iniciativas de uma construção que conta com um processo mais ecológico. A gente encontrou o bambu como protagonista, por exemplo, em diversas construções, usados de forma estrutural, como vedação, cerca, cobertura, malha de taipa de mão e até como assento. A terra, por sua grande abundância, também está presente nas diversas moradias, nas construções de taipa, nos fornos, bancadas, etc.
imagem 37: aula em unidade pedágogica, explicação sobre banheiro seco (2022); foto de autoria própria
imagem 38: galinheiro construído de bambu com recorte de encaixe no morro de terra(2022); foto: fernando minto
imagem 39: construção com taipa de mão (2022); foto: fernando minto
imagem 40: construção com estrutura e vedações em bambu (2022); foto de autoria própria
imagem 41 e 43: bambus; foto: sandra kokudai
imagem 42: aula em unidade pedagógica; foto: sandra kokudai
imagem 44: banheiros coletivos existentes (2022); foto: sandra kokudai
imagem 45 e 46: construções E.N. (2022); fotos: sandra kokudai e autoria própria
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Entre atividades, abaixo de duas mangueiras enormes e provavelmente centenárias, tivemos um momento de troca, conversas e explicações do momento da atividade prática do dia. Aquele é o ambiente de encontros que mais me agrada. Dali foram feitas umas atividades de manutenção do filtro de água da acupação, uma equipe da ufrj ensinou os acampados a fazerem essa manutenção. Em dado momento, fui com alguns companheiros ver um pouco do córrego que passa pela ocupação, mesmo que rapidamente, senti a fortaleza daquele elemento presente naquele espaço e pude entender também as dificuldades da relação de distância entre o movimento cotidiano e o rio. Pois bem, minha relação com o tema deste trabalho de conclusão era de extrema ignorância. Eu tinha um interesse e muita curiosidade e foi necessário me despir das vestes de um quase-arquiteto para que essa experiência pudesse ser vivenciada verdadeiramente. Eu quis estar ali como companheiro, como aluno aprendiz, deixando minha profissão de lado por um momento e absorvendo tudo que dava pra tomar pra mim e enriquecer não só esse projeto, mas meus conhecimentos. Eu fantasiei um trabalho participativo que não pode ser real pelas diversas dificuldades e pelas circunstâncias da vida: tempo, dinheiro, distâncias, etc. Mas essa pouca experiência na terra daquele território foi suficiente para que eu pudesse aprender muito do que trago hoje aqui e que pudesse partilhar isso de alguma forma com pessoas que terãos as mesmas curiosidades que eu tive.
imagem 47: aula no espaço de assembléias e encontros (2022); foto: fernando minto
imagem 48: atividade prática U.P. (2022); foto: sandra kokudai
imagem 49: córrego foto: matheus rosemberg
imagem 50: escada esculpida em morro de terra (2022); foto de autoria própria
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