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agroecologia: alternativa para vida campesina

Em um país que a indústria de alimentos é controlada pelo agronégocio, um movimento de produção sustentável e ecológica se torna cada vez mais urgente. Dessa forma, a agroecologia surge como melhor alternativa para um modo de vida mais saudável, através de uma produção rica em nutrientes, sem agrotóxicos e produtos químicos e com uma tecnologia mais limpa, gerando menos impactos ambientais negativos. Assim, para um melhor entendimento dos objetivos deste trabalho, esse tópico visa formular de forma sintética os conceitos e as bases da agroecologia para que se compreenda a relação do termo com a construção civil-arquitetônica.

“‘Eco’ vem da palavra grega ‘oikus’ que significa casa, lugar, e quer dizer que cada lugar tem seu sistema e seus ciclos sendo fundamentalmente diferente dos outros. Portanto, ‘Agro-Ecologia’ significa uma agricultura dentro dos contextos dos sistemas naturais.” (PRIMAVESI, Ana)³

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Em ambas suas escritas, Ana Primavesi se refere à prática agroecológica relacionada ao solo e à plantação, entendendo que o objetivo dessa prática é, principalmente, a prevenção e eliminação das causas dos problemas, em lugar do combate dos sintomas, sempre de forma sistêmica e cíclica, isso é, principalmente, o que a difere da agricultura orgânica. Ou seja, sempre que os manejos na agricultura são realizados de forma à respeitar as condições locais do ambiente, sem que se alterem muito suas características, o solo se enriquece e se potencializa naturalmente, fortificando e intensificando o que ali for produzido. Considerando isso, pode-se dizer que a agroecologia é muito mais do uma maneira de fornecer uma segurança alimentar: envolve cooperação entre um grupo de pessoas, existe interações entre clientes e feirantes, entre famílias, etc. O sistema de vendas dos produtos agroecológicos é totalmente integrado com as questões sociais, ambientais e políticas. Ou seja, a agroecologia agrega aspectos e valores sociais aos produtos, o que a difere da produção orgânica. O sistema agroecológico é, portanto, um sistema que envolve qualquer circunstância da vida, sobretudo no campo: a alimentação, o manejo do solo e da água, a formação pedagógica e também a construção e seus métodos, por exemplo. Tendo essas informações em mente, se torna mais fácil compreender a co-relação entre o termo adotado e o viés arquitetônico. É de

* engenheira agrônoma austríaca radicada no Brasil. Foi uma importante pesquisadora da agroecologia e da agricultura orgânica.

3. PRIMAVESI, Ana. A agricultura Orgânica e a Agroecologia - diferentes enfoques

imagem 05: acampado regando horta coletiva em maio de 2022 - Macaé. foto de autoria própria

extrema importância, portanto, que os sistemas construtivos do campo, sejam também agroecológicos, utilizando materiais naturais e de forma que o meio ambiente não sofra impactos com a extração de tais, como cita Francisco Barros** na sua obra “Por uma construção também agroecológica”:

“(...) o meio ambiente não sofre se os materiais forem extraídos para o próprio consumo, em pequena escala, com extração pulverizada e espalhada pelo território. Por exemplo, se for utilizado o tijolo de adobe, a terra e as fibras vegetais são retiradas das proximidades da obra, em pequena quantidade e por serem crus, dispensam a queima de carvão, ou gás nos fornos, além de não liberar CO2 para sua produção.” 4 (BARROS, 2016)

Tal como o agronegócio, o “construnegócio” também produz suas commodities5, como o ferro, o cimento e o vidro, por exemplo, e “opera sobre a matéria construída em todo o planeta”. Isso tem um efeito ecossistêmico muito grande, por isso, os materiais naturais entram como alternativa à fábrica de produção em larga escala de produtos da construção civil, pois são ricos e abundantes no meio rural e podem ser utilizados de forma sustentável para a construção campesina, considerando o aspecto cíclico e sistemático da agroecologia, mencionado por Primavesi. Dessa forma os materiais retirados de maneira conscientes da natureza podem ser devolvidos ao meio ou reutilizados de outras formas após a extração e o uso inicial, isso evita os grandes impactos ambientais. Além disso, Barros fortalece a importância da desalienação do trabalho para que a construção seja agroecológica, isso significa uma re-organização da mão de obra e da força de produção: o sistema de autogestão, mutirão e cooperativismo, descentraliza a ideia de poder e não estimula a produção de mais-valia. A alienação do trabalho mencionada por ele em um curso de formação para o canal do MST SP no youtube, se sintetiza em 3 pontos-chave: 1. alienação do produto, ou seja, o trabalhador não tem relação com o produto que ele produz, apenas obede ordem do patrão para sua produção; 2. alienação do processo de trabalho, existe um planejamento por trás de toda produção e o trabalhador não participa da tomada de decisões; e 3. alienação da espécie humana, o trabalhador não tem acesso à quem consome o que ali foi produzido. Sendo assim, a agroecologia se manifesta também como alternativa para uma mudança significativa para esse cenário de produção

**. arquiteto, urbanista e militante do MST-SP

4. BARROS, Francisco. Por uma Costrução Também Agroecológica. In: Questão Agrária, Cooperação e Agroecologia (2016)

5. Commodities são produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto ou pequeno grau de industrialização, produzidos em larga escala e destinados ao comércio externo. Seus preços são determinados pela oferta e procura internacional da mercadoria.

robótica e alienada. Por fim, entende-se neste processo de pesquisa que este caminho é a melhor alternativa para solucionar as questões habitacionais, alimentares e da construção para tentar suprir, em partes, os déficites existentes no campo, sobretudo num cenário atual pós-pandêmico e de desgoverno por parte gestão do atual Presidente da República*** e sua equipe. Este trabalho pretende então, explorar alternativas que permeiem os conceitos aqui abordados co-relacionando a agroecologia à pratica da construção arquitetônica, interconectando os saberes locais e vernaculares e o conhecimento científico e acadêmico para a construção de uma nova técnica alternativa que não se prenda ao sistema.

***. Jair Messias Bolsonaro, atual Presidente da República do Brasil (2022), que levou o país de volta ao mapa da fome das Nações Unidas. disponível em < https://g1.globo. com/jornal-nacional/ noticia/2022/07/06/ brasil-volta-ao-mapa-dafome-das-nacoes-unidas. ghtml>

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