IPHAN / SERGIPE
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Superintendência do IPHAN em Sergipe
Aracaju IPHAN-SE 2017
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Presidente: Michel Temer MINISTÉRIO DA CULTURA Ministro Interino: João Batista de Andrade REALIZAÇÃO Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN Presidenta: Kátia Bogéa Departamento do Patrimônio Imaterial Diretor: Hermano Fabrício Oliveira Guanais e Queiroz Superintendência do IPHAN em Sergipe: Superintendente Substituta: Cynara Ramos Silva Chefe da Divisão Técnica: André Esteves Chefe da Divisão Administrativa: Lorena Teles França Souza Lima EXECUÇÃO: Agência Comunica COORDENAÇÃO: Flavia Klausing Gervásio SUPERVISÃO: Venícia Rodomar Beijanizy Ferreira da Cunha Abadia Cynara Ramos Silva TEXTO: Mesalas Ferreira Santos REVISÃO: Thais Pimenta PROJETO GRÁFICO / DIAGRAMAÇÃO: Joaquim Olímpio • ILUSTRAÇÃO: Cecília Furlan FOTOGRAFIAS E IMAGENS: Acervo da Superintendência do Iphan em Sergipe - Acervo INRC Laranjeiras (IPHAN) • Acervo do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (IPHAN) • Acervo do Centro de Estudos da Arquitetura
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Ficha Técnica
na Bahia (CEAB/UFBA) • Acervo do Museu do Homem Sergipano Coleção Beatriz Dantas (MUHSE/ UFS) • Biblioteca Nacional • Arquivo Público do Estado de Sergipe • Acervo da Secretaria de Estado de Turismo de Sergipe • Acervo da Secretaria de Estado de Cultura de Sergipe • Acervo da Prefeitura de Laranjeiras - SE • Acervo pessoal de Lucas Passos • Acervo pessoal de Irineu Fontes • Acervo pessoal de Francisco Moreira da Costa FOTOS DA CAPA: Detalhe das fotos de César Oliveira (SETUR) e Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN)
EQUIPE PESQUISA INRC DE LARANJEIRAS – 1ª FASE (2009): EXECUÇÃO: Arabela Rollemberg – Arquitetura e Engenharia COORDENAÇÃO: Aglaé Fontes Fabrícia de Oliveira Santos TÉCNICOS DO IPHAN: Joseane Brandão; Rosângela Marta Siqueira Barreto ESTAGIÁRIOS: Andréia Teixeira dos Santos Christiane Rocha Falcão Daniela Moura Bezerra Evanderson Menezes Pinho
Joyce Paula dos S. Guimarães Sandra Helena dos Santos ASSISTENTES LOCAIS: Lucas Rodrigues Modesto Maria Adelaide F. Ribeiro Vieira Maria da Conceição de Jesus
EQUIPE INRC DE LARANJEIRAS – 2ª FASE (2011): COORDENAÇÃO GERAL: Drª. Maria de Betânia Uchôa Cavalcanti Brendle COORDENAÇÃO TÉCNICA: Prof. Klaus Brendle TÉCNICO DO IPHAN: Lívia Moraes e Silva EQUIPE TÉCNICA: Fernando Guilherme Montenegro Gomes Agripino Costa Neto Rogério Oliveira Luzileide Silva Santos ESTAGIÁRIOS: Anna Paula Matos Silva Antônio Diego Padilha Barbosa Elaine Meneses Vieira Luana Camuso Barros Monique Nascimento COLABORAÇÃO: Gabriela Nicolau Josinaide Maciel AGENTES LOCAIS: Paulo Agnelo de Oliveira Filho Flávia Borges dos Santos
I59r Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Brasil). Superintendência do IPHAN em Sergipe. Referências culturais em Laranjeiras / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Superintendência do IPHAN em Sergipe ; coordenação Flavia Klausing Gervásio ; texto, Mesalas Ferreira Santos. – Aracaju, 2016. 94 p. ISBN: 978-85-7334-320-5 1. Patrimônio imaterial - Sergipe. 2. Referência cultural - Sergipe. 3. Bem cultural – Sergipe. I. Gervásio, Flavia Klausing. II. Santos, Mesalas Ferreira. III. Título.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
CDD 363.69098141
Detalhe da foto: Francisco Moreira da Costa
Agradecimentos População de Laranjeiras Prefeitura Municipal de Laranjeiras Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP/IPHAN
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Lambe sujo. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2015
Sumário Apresentação________________________________ 7 Introdução___________________________________9 A cidade de Laranjeiras_______________________11 1. Aspectos históricos de Laranjeiras___________ 15 2. Laranjeiras e seu patrimônio cultural________ 21 2.1 Patrimônio Cultural Imaterial______________ 26 3. O procedimento do INRC-Laranjeiras_______ 29 4. Bens culturais identificados________________33 Celebrações_______________________________33 Edificações_______________________________ 43 Formas de Expressão_______________________ 61 Lugares___________________________________77 Ofícios e Modos de Fazer____________________85 Para saber mais_____________________________92 Glossário__________________________________ 93
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Chegança Almirante Tamandaré na Igreja Matriz. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
Apresentação O Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-
ficações, apresentados em capítulos nesta
leiro, desta vez abordando as Referências Cul-
verso cultural laranjeirense, uma vez que o
tico Nacional – IPHAN – apresenta mais uma
publicação sobre o Patrimônio Cultural Brasi-
turais de Laranjeiras, cidade sergipana que se destaca por seu rico e diverso acervo, tanto no
tocante aos espaços e paisagens de sua sede e zona rural, quanto na pluralidade de suas manifestações culturais.
A pesquisa realizada no município foi guiada
pela metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC, desenvolvida pelo Iphan com o objetivo de produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores. O
intuito é estudar e documentar a diversidade destas manifestações, de modo a reunir dados
publicação. Ressalta-se que o inventário ora proposto oferece apenas um recorte do uniprocesso de construção desses bens culturais
é histórico e contínuo. Além dos bens culturais documentados, esta publicação apre-
senta um esboço da história do município de
Laranjeiras, informa sobre os processos de reconhecimento do Patrimônio Cultural da
cidade e também sobre a noção de Patrimônio Imaterial e a metodologia do INRC que guiou a pesquisa.
A Superintendência do IPHAN em Sergipe
supervisionou as atividades e a Agência
Comunica, de Brasília/DF, foi contratada para
a execução deste trabalho. Com esta publi-
para embasar ações futuras de acautelamento,
cação, o leitor poderá conhecer parte desse
os anos de 2009 e 2011 e mapeou uma diver-
município, pelas suas festividades e cele-
promoção e valorização.
O INRC em Laranjeiras foi realizado entre
sidade de bens que foram divididos em cinco categorias: Celebrações, Formas de Expres-
são, Ofícios e Modos de Fazer, Lugares e Edi-
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rico patrimônio cultural documentado pelo
IPHAN, passeando pelos diversos grupos do
brações, além dos lugares associados ao seu patrimônio imaterial.
Superintendência do IPHAN em Sergipe
Taieiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
Introdução Laranjeiras é um município de Sergipe locali-
zado no Vale do Rio Cotinguiba e que possui uma
diversidade de referências culturais, decorrente
da pluralidade de sentidos e valores atribuídos
pelos diversos grupos formadores de sua sociedade. Sua dinâmica cultural é um processo que se revela a partir da interação do patrimônio
dito material e a sua tênue fronteira com as manifestações de natureza imaterial. A apro-
priação, ocupação e uso de edifícios, espaços, lugares, praças e paisagens de Laranjeiras pela
população confere a esses bens uma dimensão simbólica plural, diferenciada e diretamente
associada às práticas socioculturais que determinam a reconstrução de histórias, memórias
e lembranças e a continuidade de costumes e maneiras de fazer e viver.
O Inventário Nacional de Referências Cultu-
rais, metodologia do IPHAN de mapeamento e
produção de conhecimento sobre o patrimônio cultural, foi realizado no município entre os
anos de 2009 e 2011. Nas etapas de Levanta-
resumimos os dados levantados durante a pes-
quisa, de modo a disponibilizar este conteúdo a um público mais abrangente.
As informações sistematizadas neste Inven-
tário permitem o conhecimento detalhado das referências culturais de Laranjeiras apontadas por sua população, com indicação de
potenciais processos de registro e a formulação de estratégias e diretrizes de preservação, apoio e fomento aos bens culturais. O
reconhecimento desses bens como referências culturais não restringe a diversidade do patrimônio cultural de Laranjeiras a uma lista
fechada, estática e definitiva. Reavaliações
posteriores poderão registrar a ocorrência de mudanças e alterações de seus aspectos essenciais e, por isso, é fundamental monitorar seus desdobramentos.
A cidade e seus povoados são palcos de
dramas, ritos, histórias, relatos, folguedos, devoções, misticismos e tradições que se per-
petuam em suas estruturas de modo ressigni-
mento Preliminar e Identificação, o Inventário
ficado, através de processos contemporâneos
identificam, se tornando referência para a tra-
Importante cidade do nosso rico patrimônio
identificou bens e práticas culturais produzi-
dos por diversos grupos sociais que com eles se jetória de vida dos laranjeirenses. Neste livro,
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que rejeitam a cultura como um elemento estático ou congelado. Viva, Laranjeiras! cultural brasileiro.
Vista do conjunto urbano. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
A cidade de Laranjeiras Para chegar à cidade de Laranjeiras, no estado de Sergipe,
distante cerca de 20 quilômetros da capital Aracaju, é preciso seguir o percurso da BR 101 passando por uma paisa-
gem preenchida com colinas cobertas por uma vegetação
vívida, própria da região do Vale do Cotinguiba, onde se alternam a criação de gado e plantações variadas que passam conforme o ritmo do transporte.
Em meia hora completa-se o trajeto ao conjunto urbano
do município, passando pelo Largo do Quaresma, antigo
porto que atendia, no século XIX, à rota de comércio de açúcar e chegada de escravos na região. Atualmente, este
Largo se configura como um descampado beirando o rio
Cotinguiba, sendo ainda um local de referência para os laranjeirenses, onde ocorre a apresentação de grande parte
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de grupos e celebrações que envolvem o calendário festivo local.
O nome “Laranjeiras” é relacionado à exis-
tência de uma feira próxima ao Largo do Qua-
resma, onde havia pés de laranja em abundância. Esta feira se estabeleceu dentro de
uma rota de barcos conhecidos como saveiros, interligando, assim, o município com outros núcleos populacionais do Vale do Cotinguiba.
O município de Laranjeiras possui uma área
territorial que abrange cerca de 160 Km², onde se distribui uma população de vinte e sete mil pessoas, sendo a grande maioria instalada na zona urbana. Por estar situada em um vale
encadeado entre morros, Laranjeiras concen-
tra durante o dia altas temperaturas, onde o calor predomina. Algumas ruas do centro Mercado. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
da cidade possuem pavimentação em pedra
calcária do tipo conhecido como cabeça de negro, típica no processo de urbanização do
período imperial. As ruas de pedras servem como testemunhos históricos e conferem uma
identidade cultural à cidade, sendo o palco que
remete tanto a acontecimentos passados como aos rituais festivos de hoje.
O centro de Laranjeiras reúne um con-
junto arquitetônico, urbanístico e paisagístico Calçamento “cabeça de negro”. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
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REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
expressivo que concentra edificações como casarões coloniais, construções e igrejas dos séculos XVIII e XIX, concebendo um cenário
representativo dos grupos formadores de
Sergipe através da materialidade de sua arqui-
tetura e conduzindo o morador à referência de um período significativo para a formação identitária local.
A cidade de pequeno porte atualmente
apresenta uma economia baseada na ati-
vidade industrial, abrigando fábricas de
cimento e empresas químicas com grande relevância para a economia local e estadual,
Largo do Quaresma com a Chegança Almirante Tamandaré. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
e que empregam cerca de um terço da popu-
lação. Porém, a principal fonte de trabalho e renda é proveniente da administração pública,
tendo destaque na economia local também os
latifúndios canavieiros, a pesca artesanal e o
comércio. Importante elemento econômico no período da colonização, a cultura do açúcar ainda sobrevive na cidade.
A população residente na zona rural se dis-
tribui principalmente entre os inúmeros povo-
ados circunvizinhos ao centro do município: Cedro, Jurema, Campo Grande, Salinas, Coman-
Antigo engenho de cana de açúcar. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
daroba, Pinheiro, Gameleiro, Pastora, Machado,
Mussuca, Pedra Branca, Várzea e Bom Jesus.
Alguns destes, localizados às margens do rio Cotinguiba, têm como principais atividades a
pesca e o trabalho de colheita de cana de açúcar nas plantações do município. Grande parte
dos brincantes de folguedos tradicionais, como Cacumbi, Chegança, Lambe-Sujos, Taieiras, São Gonçalo e Reisado, também residem nestas comunidades rurais.
Calçadão. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN). 2017 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Mapa de Laranjeiras. Foto: Acervo Biblioteca Nacional 1846
Aspectos históricos de Laranjeiras
O Vale do Cotinguiba está localizado na Zona da Mata
Norte de Sergipe, compreendendo o território ao longo dos rios Japaratuba, Sergipe e Cotinguiba. A colonização
desta região ocorreu a partir de 1590, com a dominação do povo Tupinambá, que antes habitava o local e que, a
partir de então, foi dividido em sesmarias para o estabelecimento de donatários, que auxiliaram na tarefa da ocupação portuguesa.
O território em questão possuía uma posição geográfica
privilegiada, por estar cercado de morros e afastado da área litorânea, dando a sensação de proteção contra ameaças de
invasores. Além disso, o local se moldava ao longo do rio Cotinguiba, via fluvial que poderia servir como rota, meio
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Praça da Matriz. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
do tipo banguê, que recebeu certo contingente
de escravos negros trazidos do Recôncavo Baiano. Ao incorporar esta mão de obra em sua economia, o local passou a ser também
um foco de tensões e conflitos entre escravos
e senhores, que se materializavam tanto em prisões e castigos, por vezes noticiados em jornais, quanto na formação de espaços de resistência como o povoado Mussuca, ocuIgreja da Conceição dos Homens Pardos. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
de comunicação e para o fluxo de mercadorias e pessoas, atraindo assim a formação de diver-
sos núcleos populacionais em seu trajeto.
Com forte apelo na economia açucareira, o
Vale do Cotinguiba foi a região que, do século
XVII até a segunda metade do século XIX, se constituiu na mais rica em produção de açúcar da província sergipana, com destaque 16
para Laranjeiras. Lá, havia vários engenhos
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
pado no século XIX por negros livres e fugidos de fazendas do Vale do Cotinguiba.
Paralelamente aos primeiros passos da pro-
dução de açúcar, ergueram-se edificações de
donatários religiosos margeando o rio Cotinguiba, que era utilizado como rota de catequese para os habitantes distantes do núcleo populacional de Laranjeiras. Os jesuítas foram
responsáveis pelas primeiras edificações em Laranjeiras, começando em 1701 com a construção da Igreja do Bom Retiro, utilizada como espaço de evangelização, seguida pela Igreja de Comandaroba em 1731.
Em 1791 foi finalizada a Igreja Matriz
Sagrado Coração de Jesus, cujo entorno se organizou como atual núcleo urbano. Nota-se que o desenvolvimento do povoado privile-
giou a expansão das margens do rio para os centros das colinas, a abertura de ruas irregu-
lares que acompanham a conformação desni-
velada do relevo da região e a implantação dos
Mercado. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
edifícios religiosos em posições de destaque no cenário urbano.
A produção do espaço religioso abrange
grande parte da zona rural de Laranjeiras,
onde a elite branca açucareira, com o apoio
de vigários do Vale do Cotinguiba, construiu diversas capelas nos engenhos, em sua maio-
ria através do uso da mão de obra de escrava. Além destas, muitas igrejas compõem a área urbana, que foram custeadas e mantidas com
recursos das irmandades, como por exemplo
Rua do comércio, atual calçadão. Foto: Almanaque Guarnier. 1907
as Igrejas de Nossa Senhora da Conceição dos Pardos e a de São Benedito e Nossa Senhora
do Rosário, construídas no século XIX. Seus
devotos frequentadores são majoritariamente da população negra, que celebram até
os dias atuais, de forma sincrética, cultos reli-
giosos católicos e de religiosidades de matrizes africanas que preenchem o calendário religioso local.
Às igrejas católicas se somam edificações
dedicadas a outras crenças, como a Primeira
Igreja Presbiteriana de Sergipe, construída em
Antigo engenho de cana de açúcar. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Vista geral da cidade. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
1884, e também as casas de culto afro-brasi-
fosse elevada à condição de cidade, garantindo
de Laranjeiras e são, de certo modo, respon-
os laranjeirenses, houve a implementação de
leiro, espalhadas em todo o município. Todos estes espaços refletem a diversidade religiosa sáveis pelo amplo calendário festivo que irrompe ao longo do ano.
Nas primeiras décadas do século XIX, Laran-
jeiras apresentava vários engenhos e uma alta
produção de açúcar, porém, não oferecia uma estrutura administrativa adequada. Em 1832,
os senhores de engenho e autoridades eclesiásticas locais, com anuência do poder civil de São
Cristóvão, conseguiram fazer com que Laran-
jeiras passasse à condição de “vila” e, em 1848, 18
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
mais autonomia e segurança para o comércio local. Neste período, considerado áureo para equipamentos urbanos como: Casa de Câmara
e cadeia, urbanização de ruas com calçamento,
edificação de pontes, construção de matadouros e currais. O processo de urbanização e a riqueza econômica trouxeram uma efervescência cultu-
ral à cidade, tida como a mais desenvolvida da Província de Sergipe no século XIX e que, na
época, apresentava jornais locais, literatos e
grupos de teatro, o que lhe garantiu o reconhecido epíteto de “Atenas Sergipense”.
A crise da monocultora nacional no final do
século XIX trouxe também a decadência eco-
nômica para diversos municípios de Sergipe. Em Laranjeiras, o declínio econômico ocorreu relacionado a diversos fatores, como a substituição de forma lenta e gradual da mão de obra
escrava pela livre e assalariada, que acarretava
mais custos à produção; a migração das famílias tradicionais para a nova capital de Sergipe,
Aracaju, em 1855; e as severas epidemias de cólera-morbus que dizimaram grande parte
da população e provocaram o fechamento de
grande parte dos engenhos. Todos estes fatores
aos poucos foram descaracterizando o cenário de pujança dos antigos sobrados e casarões
que, muitas vezes abandonados, mais tarde
Ponte nova. Foto: Acervo CEAB. 1974/1975
deram lugar a ruínas.
Capa do jornal O Laranjeirense, 1888. Foto: acervo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Detalhe da vestimenta das taieiras. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
Laranjeiras e seu patrimônio cultural Podemos conhecer a cultura de Laranjeiras através das
suas formas de criar, fazer e viver, e que se materializam em histórias, crenças, rituais celebrativos e festivos. Estas prá-
ticas, transmitidas de geração a geração, possuem sentidos particulares e valores que são criados e recriados no coti-
diano dos laranjeirenses. Assim, o patrimônio cultural de Laranjeiras é formado por um conjunto de bens que reme-
tem à história, à memória e à identidade local, mas que são selecionados a partir dos valores do presente.
As primeiras políticas públicas de preservação em
Laranjeiras datam dos anos 1940, quando foram inicia-
dos alguns processos de tombamento no município pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), como a Igreja Matriz do Coração de Jesus, o conjunto de casa e Capela do Engenho Retiro, a Igreja de
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Na segunda metade do século XX, o conjunto
arquitetônico de Laranjeiras foi reconhecido no nível estadual como Cidade Monumento. No
ano de 1972, em parceria com a prefeitura
de Laranjeiras e órgãos federais da área da
educação, como a Universidade Federal de Primeiros tombamentos pelo Iphan: Capela Jesus, Maria, José. Foto: Acervo do Iphan. 1983
Comandaroba e a capela do Engenho Jesus,
Maria e José, edificações tombadas em 1941.
Esta seleção seguiu os princípios então determinados pelo orgão federal, que privilegiava as edificações da tradição luso-brasileira de caráter excepcional. Geralmente em péssimo
estado de conservação, buscou-se, através do
tombamento, um meio de salvar os bens edificados do arruinamento.
Primeiros tombamentos pelo Iphan: Igreja de Comandaroba. Fotos: Acervo do Iphan. Sem data
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REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Sergipe e a Escola Técnica, o governo estadual elaborou um Plano de Restauração,
Preservação e Valorização do Patrimônio
Histórico e Cultural de Laranjeiras. Na mesma
época, a Empresa Sergipana de Turismo – EMSETUR, realizou algumas ações na cidade, neste momento vista como um centro de
grande potencial turístico por combinar um
reconhecido acervo arquitetônico colonial e
imperial em convívio com admiráveis grupos culturais de significativa relevância para a cultura local, o que lhe garantiu outro epíteto, o de “Museu a Céu Aberto”.
Primeiros tombamentos pelo Iphan: Conjunto do retiro. Fotos: Acervo do Iphan. 1983
Em Laranjeiras, ao lado do patrimônio de
“pedra e cal”, existe uma variedade de folgue-
dos, celebrações e ofícios tradicionais, como as festas de aniversários com batuques, sambas e meladinhas nas comunidades rurais, grupos de Samba de Roda, Samba de Pareia, Drama
de Nadir e São Gonçalo no povoado Mussuca; na área urbana, temos as meninas do Reisado, o Batalhão, Batucada, Cavalhada, Chegança,
Taieira, Cacumbi, Lambe-Sujos x Caboclinhos,
entre outros. Com base nesta diversidade, teve início em 1976 o Encontro Cultural, inserido
no período de festejos de Santos Reis, como
Primeiros tombamentos pelo Iphan: Igreja Matriz. Foto: Acervo do Iphan. 1976
um evento multifacetado destinado ao estudo,
Laranjeiras se beneficiou dos recursos que
Mais tarde, foram tombados pelo Governo
beu um Plano Urbanístico elaborado por uma
divulgação e à valorização da cultura popular, o que ocorre até os dias atuais.
do estado de Sergipe, o Terreiro Filhos de Obá (1988) e a Gruta da Pedra Furada (1990), ambos localizados no município de Laran-
jeiras. No plano federal, o governo criou o
Programa de Integração e Reconstituição das Cidades Históricas do Nordeste (1973), e
foram canalizados para a área de patrimônio
arquitetônico. Neste contexto, a cidade rece-
equipe de especialistas da Universidade Federal da Bahia (1975) e a restauração de alguns exemplares arquitetônicos do município.
Em 1996, o IPHAN realizou o tombamento
do conjunto arquitetônico e paisagístico da
cidade, sendo inscrita nos Livros de Tombo REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Encontro Cultural de 1978. Fotos: Acervo do Arquivo Público Estadual
Arqueológico,
Etnográfico
e
Paisagístico,
da República, na Praça Samuel de Oliveira,
da Cultura conjugou ações de preservação do
da República, na Praça do Trapiche Santo
Livro de Belas Artes e Histórico. Entre 2004 e 2012, o Programa Monumenta do Ministério patrimônio cultural, com vistas à promoção
do desenvolvimento econômico e social. Através de parceria entre o Governo do Estado, a Prefeitura de Laranjeiras e o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sergipe, foram realizadas obras no Quarteirão dos Trapiches, no Casarão de Oitão da Praça 24
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
no Calçadão Getúlio Vargas, na Praça Coronel
José de Faro, na Avenida Municipal, na Praça Antônio e na Igreja Matriz Sagrado Coração
de Jesus. O IPHAN, através de sua superintendência estadual, também desenvolve ações
com o patrimônio arqueológico do município, que possui no momento três sítios cadastra-
dos, o Engenho Ilha, o Engenho Patioba e o Quarteirão dos Trapiches.
Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste. Foto: Acervo do Arquivo Público Estadual. Década de 1970
Programa Monumenta – antes das obras. Fotos: Acervo IPHAN. 2005
Programa Monumenta – depois das obras. Fotos: Acervo IPHAN. 2012 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Peça de renda irlandesa. Foto: Melissa Warwick (Acervo IPHAN). 2013
2.1 Patrimônio Cultural Imaterial Os bens imateriais são aqueles relaciona-
dos aos saberes, às habilidades, às crenças,
às práticas e aos modos de ser das pessoas. Essa visão ampliada do patrimônio foi oficia-
as expressões artísticas e lúdicas que, integra-
dos à vida dos diferentes grupos sociais, configuram-se como referências identitárias na
visão dos próprios grupos que as praticam”. Essa definição é, portanto, dotada de amplo
viés antropológico e compreende as expres-
lizada pela Constituição Federal Brasileira de
sões como criações culturais de caráter dinâ-
imaterial, define a responsabilidade do Estado
por grupos como expressão de sua identidade
1988 que, nos artigos 215 e 216, reconhece a existência de bens de natureza material e
em parceria com a sociedade na proteção
dos bens culturais e estabelece outras formas de preservação, além do tombamento, como o “registro” e o “inventário”. Alguns anos
depois, a partir de grupos de estudos coordenados pelo IPHAN, foi estabelecido o Decreto
nº 3.551 de 04 de agosto de 2000, que institui a definição de Patrimônio Cultural Imaterial 26
como os “saberes, ofícios, as festas, os rituais,
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
mico e processual, fundadas na continuidade
histórica e manifestadas por indivíduos ou cultural e social.
A partir daí, ocorreu um conjunto de ações
voltadas para o reconhecimento e a promoção
do patrimônio cultural imaterial brasileiro
através de instrumentos como o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial – PNPI – que
instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, e os Programas de Salvaguarda,
práticas que remetem à história, à memória e à identidade local, selecionados a partir de valores do presente.
Dentro desta nova perspectiva, o modo de
fazer a Renda Irlandesa, cujo ofício se encontra também em Laranjeiras, foi registrado no Livro de Registro de Saberes pelo IPHAN em 2009, e a Capoeira, bem cultural de abranRendeira em Laranjeiras. Foto: acervo IPHAN. Sem data
além de estabelecer como metodologia de pesquisa o Inventário Nacional de Referências
gência nacional, mas também presente no
município, foi registrada no Livro de Saberes e Formas de Expressão, em 2008. Com intuito
de produzir conhecimento sobre os bens de natureza imaterial na cidade, o IPHAN rea-
Culturais – INRC.
lizou duas etapas do Inventário Nacional de
quais são atribuídos sentidos e valores e que,
entre os anos de 2007 e 2011.
O INRC tem como objetivo produzir conhe-
cimento sobre os domínios da vida social aos portanto, constituem marcos e referências de
identidade para um determinado grupo social.
Referências Culturais em Laranjeiras. Este
livro é o resultado desta pesquisa, realizada
Além das categorias estabelecidas no Registro: Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e Lugares, o INRC também realiza o mapeamento
das edificações associadas a certos usos, a significações históricas e a imagens urbanas.
Nesse contexto, o conjunto do patrimônio
cultural de Laranjeiras é valorado não apenas
em consideração ao valor histórico e artístico de seus bens, mas também pelas suas referên-
cias culturais, ou seja, pelos sentidos e valores atribuídos pelos diferentes sujeitos a bens e
Grupo de capoeira de Laranjeiras. Foto: Irineu Fontes. Sem data REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Detalhe da vestimenta da chegança. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
O procedimento do Inventário Nacional de Referências Culturais Realizar um Inventário Nacional de Referências Culturais em
Laranjeiras significa produzir conhecimento, através de um
levantamento e da análise dos bens culturais que configuram a identidade local de seus habitantes. As informações levantadas
investigam, de modo geral, o histórico das práticas culturais, o
modo como elas são transmitidas entre diferentes gerações, quem as executa e mantêm e quais as dificuldades enfrentadas para sua sustentação. Trata-se de uma tarefa primordial para o
conhecimento desse universo de bens culturais e para a fundamentação das demais ações de salvaguarda.
A metodologia do INRC é realizada em três níveis de complexidade
crescente, correspondentes a etapas sucessivas de aproximação e
aprofundamento para uma compreensão ampla dos bens culturais. São eles, o “Levantamento Preliminar”, a “Identificação” e a “Documentação”. Em Laranjeiras, foram concluídas duas etapas do INRC:
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Levantamento preliminar Realizada no ano de 2007 sob a coordena-
ção da pesquisadora Aglaé Fontes e da geó-
grafa Drª Fabrícia de Oliveira Santos. Nesta
etapa foi realizado um mapeamento das refe-
rências culturais de Laranjeiras através da
sistematização de informações disponíveis em arquivos, bibliotecas, acervos particulares e um trabalho de campo com o preenchi-
mento de fichas e entrevistas com moradores de Laranjeiras. Em resumo, foi produzido um
amplo material de pesquisa, que envolveu
uma descrição histórica, geográfica e social
do município, um mapeamento dos bens cul-
turais, da bibliografia, da documentação, do acervo audiovisual e dos principais contatos relativos aos bens. 30
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Entrevistas com moradores - Levantamento preliminar. Fotos: Acervo IPHAN. 2009
Identificação Realizada no ano de 2011 sob a coordenação da
arquiteta Drª Betânia Brendle, esta etapa se desdo-
brou na descrição sistemática e tipificação das referên-
cias culturais consideradas como mais relevantes para a população; no mapeamento das relações entre estas referências e outros bens e práticas; e na indicação
dos aspectos básicos dos seus processos de formação, produção, reprodução e transmissão. Para tanto, pri-
meiramente, foram realizadas oficinas com a comu-
nidade laranjeirense buscando mapear as referências culturais nas categorias “Celebrações”, “Formas de
Expressão”, “Edificações”, “Lugares” e “Ofícios e Modos
de Fazer” sob a ótica dos moradores. Estas oficinas
foram realizadas em dois locais: na sede do município e no povoado Mussuca. Posteriormente, seguiu-se um exaustivo trabalho de campo na cidade, incluindo a
aplicação de questionários com os principais detento-
res dos bens, e na realização de registros fotográficos e audiovisuais. O processamento das fichas de indicação das referências culturais de Laranjeiras decorrentes
das Oficinas com a comunidade revelou parte dos bens contidos nesta publicação.
Vale ressaltar que receberam destaque nesta
publicação, tanto os bens culturais levantados na
fase de levantamento preliminar, a partir de dados contidos no relatório final e no mapeamento de bens, assim como aqueles que receberam um maior apro-
fundamento de informações na fase de Identificação, a partir de dados contidos no relatório final e nas fichas de identificação de bens.
Reuniões com os moradores - Fase Identificação. Fotos: Acervo IPHAN. 2011
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
31
Foto: César de Oliveira (Acervo SETUR). Sem data
Bens Culturais Identificados
Celebrações
As celebrações são ocasiões diferenciadas de sociabi-
lidade que se materializam como festas e folguedos que marcam espiritualmente a vivência do trabalho, da reli-
giosidade, do entretenimento e da vida cotidiana. São
atividades que participam fortemente da produção de
sentidos específicos de lugar e de território, incluindo
os principais ritos e festividades associados à religiosidade, à civilidade e aos ciclos do calendário.
33
Abertura do XLII Simpósio do Encontro Cultural de Laranjeiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
Encontro Cultural Espaço tradicional de apresentação e
montados em pontos estratégicos da cidade,
de janeiro, sempre associado ao ciclo da Festa
edição. O domingo, último dia do evento, é
reflexão sobre a cultura popular brasileira. O
encontro é realizado em data móvel no início
dos Santos Reis, uma tradição que remonta o século XIX, quando era estruturada em torno de uma quermesse com apresentação dos grupos locais e cujo ápice é a homenagem a
São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
A esse evento foi agregado, no ano de 1976, um fórum para discussões acadêmicas no formato de simpósio, onde são apresentados pesquisas e projetos sobre a temática cultural em suas diversas particularidades.
Hoje, o Encontro Cultural é resultado de
uma parceria entre o Governo de Sergipe, a
Prefeitura de Laranjeiras e a UFS, que dis-
ponibilizam recursos para as apresentações 34
dos grupos populares nas ruas e em palcos REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
para as atrações musicais e para a realização
do simpósio, que em 2017 esteve em sua 42ª consagrado aos Santos Reis, com uma missa na igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e a participação dos grupos locais.
Ao final desta, ocorre a coroação das rainhas das Taieiras, que louvam os santos junto aos grupos de Chegança e Cacumbi, e depois saem
para realizar visitas pela cidade. No final da
tarde, sai a procissão da igreja pelas ruas da cidade. Assim, o Encontro Cultural de Laran-
jeiras, se mantém como espaço de visibilidade, discussão e reflexão acerca de temas relacio-
nados ao Folclore e à Cultura Popular, e todo
ano conta com a presença de estudiosos reno-
mados e de grupos culturais do estado de Sergipe e de todo o Brasil.
Cacumbi do Mestre Deca. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
Parte do grupo da Chegança de Almirante Tamandaré no Encontro Cultural de Laranjeiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
Semana do Folclore Desde 1998 que, em comemoração ao Dia
do Folclore em 22 de agosto, foi instituída e sistematizada a Semana do Folclore, cujo ápice Chegança Almirante Tamandaré. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN). 2017
ocorre com um cortejo de grupos locais. Além
disso, durante todo o mês de agosto, ocorrem várias apresentações, exposições e palestras
nas escolas da rede pública e privada, com divulgação em bancos, repartições públicas e nas ruas e monumentos de Laranjeiras.
Coroação das taieiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017 Cartaz com a programação da Semana do Folclore. Foto: Acervo Prefeitura de Laranjeiras. 2010 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Dia Nacional da ConsciÊncia Negra A celebração é uma forma de valorizar a identidade
afro-brasileira da Mussuca, povoado de Laranjeiras que é
reconhecido como remanescente quilombola. A sua programação ocorre sempre no dia 20 de novembro e envolve
shows, desfiles, exposição, oficinas e discussões sobre temas ligados à juventude, religiosidades e identidade racial, além Desfile do dia da Consciência Negra. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
de incluir a apresentação de grupos locais, como o Teatro Amigos da Cultura Mussuquense, o Grupo São Gonçalo, o Samba de Côco, o Samba de Pareia e o Reisado da Nadir.
ProcissÃo de Bom Jesus dos Navegantes Esta celebração, que louva Bom Jesus dos
Navegantes, ocorre em data variável no mês de fevereiro ou março, e está diretamente rela-
cionada com a arte da pesca e com a devoção e
crença dos pescadores. Para a procissão, a imagem deste santo é retirada do Museu de Arte
Sacra onde, por segurança, é mantida todo o
ano. A Procissão do Padroeiro de Laranjeiras se inicia em um trajeto terrestre, no Alto do Bom
Procissão de Bom Jesus dos Navegantes. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
36
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Jesus, de onde segue até o Porto da Quaresma.
Nesse momento, a procissão torna-se fluvial,
percorrendo um trecho do Rio Cotinguiba.
Após retorno à terra firme, o cortejo segue até a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus,
onde a imagem e os fiéis recebem as bênçãos do Santíssimo, seguindo depois pelas ruas e
finalmente retornando ao Alto do Bom Jesus. Tanto o trajeto terrestre como o fluvial é acompanhado por alguns grupos locais e seguido também por muitos devotos e turistas.
Procissão de Bom Jesus dos Navegantes no Rio Cotinguiba. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010.
Festa de Sagrado CoraÇÃo de Jesus
MÊs Doloroso O Mês Doloroso, em homenagem a Nossa
Trata-se de uma celebração religiosa
Senhora das Dores, é comemorado em setem-
junto ao Corpus Christi. Sua progra-
brado no período da tarde, com a veneração
em homenagem ao Sagrado Coração de
Jesus,
que
ocorre
anualmente
mação inclui queima de fogos, bati-
zados, missa festiva, benção, celebração
eucarística, procissão, e ao final, festividades com a apresentação de grupos locais. Destaca-se que a Igreja Matriz
de Laranjeiras, que data do final do
século XVIII, é a primeira dedicada ao Sagrado Coração de Jesus construída no Brasil.
bro, na cidade de Laranjeiras em várias eta-
pas. Do dia 1º ao dia 14 de setembro, é celeda imagem de Nossa Senhora das Dores, que é mantida num púlpito improvisado dentro
da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. No dia 15 de setembro, dedicado à Santa, ela
é despida de suas antigas vestes e recebe um novo traje doado pelos fiéis em agradecimento às graças alcançadas. No último sábado do
mês de setembro, após a realização da missa, ocorre uma procissão e sua imagem é levada
até a Igreja do Bonfim, onde é novamente ves-
tida. No domingo é realizada uma festa em sua homenagem e, no o dia 31 de setembro, a ima-
gem retorna a Igreja Matriz do Sagrado Cora-
ção de Jesus. Durante o ano, por questões de segurança, esta imagem é mantida no acervo do Museu de Arte Sacra de Laranjeiras.
Procissão com a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
Procissão com as imagens de Nossa Senhora das Dores e do Cristo Crucificado. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Semana Santa Celebração religiosa cristã que rememora os
últimos dias de Jesus Cristo, conforme o rito católico, e que conta com missas diárias e pro-
cissões de rotas variadas. São elas: a Procissão Benção dos Ramos, que se compõe por um trajeto curto e solene que abre a celebração; a
Procissão de Nossa Senhora das Dores, cujo destino é o Alto do Bonfim; a Procissão do Senhor dos Passos, que ocorre nas ruas da cidade; a
Procissão do Encontro, em que se cruzam os
caminhos das procissões dedicadas ao Senhor e à Nossa Senhora; a Transladação do Santíssimo
Missa no Sábado de Aleluia. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
e a Procissão do Fogaréu, que ocorre à noite nas
ruas da cidade, com a participação de fiéis com tochas de fogo e ao som de tambores martela-
dos; a Procissão do Senhor Morto, que se caracteriza como um cortejo fúnebre, solene e teatral
acompanhado também pelos Penitentes; e, por
fim, a Procissão da Ressurreição, que ocupa toda a cidade no domingo da Semana Santa.
Procissão do Fogaréu. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
38
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Procissão do Encontro. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
Missa no domingo de Ramos. Acervo IPHAN INRC. 2010
Novena de SÃo JoÃo Celebração associada à devoção de
São João, realizada durante os nove dias antecedentes à Festa de São
João, no dia 24 de junho. A Novena, que consiste de orações e cantos em
homenagem ao Santo, originalmente
acontecia na Igreja do Senhor da Cruz no povoado da Mussuca, mas hoje, no
entanto, tem sido realizada na casa dos moradores do mesmo povoado.
Apresentação de São Gonçalo na Festa do Senhor da Cruz. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
Festa do Senhor da Cruz A Festa do Senhor da Cruz é uma celebração
religiosa do povoado da Mussuca, que ocorre todo domingo de Páscoa. Inicia-se pela manhã, logo após a preparação dos andores para Pro-
cissão do Senhor da Cruz, com o ensaio geral do
Grupo São Gonçalo, que tradicionalmente ocorre na Igreja do Senhor da Cruz com a participação Dona Maria da Conceição exibe o altar dedicado a São João em sua casa, onde ocorre a Novena. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
da comunidade local. À tarde, ocorre o batismo das crianças e depois é celebrada uma missa festiva em homenagem ao padroeiro do povoado, ao
final da qual, tem início a Procissão cujo cortejo segue pela Rua da Igreja até as proximidades do cemitério, retornando pela mesma rua até a Igreja Senhor da Cruz.
Caderno de Dona Maria Conceição com a oração dedicada a São João. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010
Missa em devoção ao Senhor da Cruz. Foto: Acervo IPHAN INRC. 2010 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Festa do Erê. Foto: Acervo IPHAN INRC, sem data Celebração na Casa Pai Aculano. Foto: Acervo IPHAN INRC, sem data
XirÊ Denominação em Yourubá que significa
“dança em roda”, muito utilizada em rituais
festivos para evocação e celebração dos orixás homenageados. Realiza-se mediante festa em
terreiros da cidade, em data específica, com can-
tos, danças e músicas específicos para distintos
Orixás, pois acreditam que poderão ser castigados. O inhame é considerado sagrado para
os adeptos da religiosidade nagô e, através
dele, é realizado o Jogo, que anuncia o que acontecerá com a Irmandade para que possam se prevenir na proteção de algum mal.
Festa do ErÊ
Festa de cunho religioso, também conhecida
orixás, como Exú, Ogum, Odé, Xangô, Obaluaê,
como a Festa de Cosme e Damião, em que se
Festa do Corte do Inhame
em datas variáveis entre o final de Setembro e
Iogodô, festa das Yabás, como Yemanjá (com oferendas), Oxum, Oba, Yansã, Nanã e Ewá.
A Festa do Corte do Inhame, ou o Corte do
Obacossô, é uma celebração ritual da religião nagô associada ao plantio e colheita do
inhame onde é homenageado o Orixá Obacossô e feita a oferenda do inhame novo aos
Orixás da Costa, sendo realizada todo mês de
Setembro em Laranjeiras pela Irmandade de Santa Bárbara Virgem. Os integrantes da reli40
inhame novo sem ofertá-los previamente aos
gião e adeptos do ritual não podem comer o REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
reverencia o pai Ogum, o pai Obaluaê e Cosme e
Damião, que ocorre em um período de três dias o mês de Outubro, tanto no terreiro Senhor São Lazaro, na Mussuca, quanto no terreiro Filhos de Obá. A Festa de Cosme e Damião é uma celebração em que prevalece a alegria e a diversão,
através de brincadeiras destinadas particularmente às crianças. A sua programação inclui a
preparação e limpeza do espaço, as cantigas na madrugada do sábado para o domingo e a dis-
tribuição de uma grande quantidade de caruru para todos que participam. O final da festa é
Foto: Coleção Beatriz Dantas. MUHSE (UFS)
Detalhe da vestimenta. Foto:Acervo IPHAN, 2011
marcado pelo tabuleiro, que acontece na segun-
da-feira, e que é constituído por um caixote com pipoca, balas e frutas com o pai Obaluaê no
Mãe Bilina. Coleção Beatriz Dantas. MUHSE (UFS)
Festa de Preto Velho Pai JoÃo das Almas Festa que ocorre no terreiro Ilê Axé Kizan
meio, que depois de ser rodado pelo terreiro, é
Ufá no dia treze de maio ou no sábado sub-
AcarajÉ de Yansan
escravos africanos. No caso do terreiro iden-
ofertado a todos.
Festa realizada em dezembro no terreiro
Ilê Axé Kizan Ufá e dedicada ao orixá Yansan em que se “arreia” a sua comida predileta, o
acarajé. Yansan é orixá filha de Nanã, e tem
como características ser impulsiva, guerreira
sequente. A celebração é dedicada à entidade
espiritual Preto Velho, que representa antigos
tificado, o preto velho é conhecido como Pai João das Almas.
Culto aos Eguns
Culto que atualmente ocorre em pou-
e sexual. A dinâmica da festa é basicamente
cos terreiros no Brasil, mas que durante
nesse caso, o dirigente da casa é filho do orixá,
mônia é dedicada aos ancestrais que um dia
a seguinte: ocorre o “arreio” das acarajés aos pés do assentamento das Yansan da casa,
e arreia comida principalmente no assentamento de sua mãe. Depois ocorre o xirê com
a participação dos filhos da casa e de outros
iniciados convidados. Ao fim da festa, todos que participaram comem acarajés. Por vias do sincretismo religioso, Yansan seria louvada através da relação com Santa Bárbara.
a pesquisa foi identificada a sua realização no
terreiro Filhos de Obá de Laranjeiras. A ceriforam líderes das comunidades negras e teria
sido instituída pelos primeiros dirigentes do terreiro. Egum designa alma ou espírito de
pessoas falecidas que assumem representações particulares ao incorporarem nos adeptos da religiosidade durante o rito.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
41
Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017.
Bens Culturais Identificados
Edificações
Entende-se por “Edificações” as estruturas físicas
associadas a certos usos, as significações históricas e de
memória e as imagens que se têm de certos lugares, que as tornam bens de interesse diferenciado para determi-
nado grupo social, independentemente de sua qualidade arquitetônica ou artística. As edificações identificadas em Laranjeiras durante o INRC encontram-se abaixo listadas:
43
Fachada principal do Centro de Tradições. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Centro de TradiÇÔes Originalmente construído como depósito
Grupos locais em concentração no pátio interno. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
ou trapiche para comercialização e arma-
zenamento da produção agrícola no século XIX, serviu também como alojamento de
escravos, tecelagem e como sede da Intendência de Laranjeiras. Após uma reforma no ano de 2006, foi adaptado para um lugar de
exposição de artesanato e apresentação de grupos culturais locais, de modo a fomentar
a cena artística da cidade. Porém, o edifício Detalhe da porta principal. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
44
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
apresentou problemas estruturais em 2010 e, desde então, está fechado, sem utilização.
Mercado Municipal O edifício foi construído no ano de 1874
e, desde então, transformou-se no centro da
feira, local de venda de alimentos, produções locais e produtos variados, que ocorre no largo
de frente à sua fachada principal. A feira de Laranjeiras possui grande importância para a população local, assim como para aqueles que
vêm dos povoados pois, na ocasião, a cidade ganha uma movimentação única. A edificação do mercado ocupa uma quadra inteira, desta-
cando-se no centro da cidade, às margens do Rio Cotinguiba.
Fachada principal do mercado, Interior do mercado em dia de feira e Vista da fachada em dia de feira. Fotos: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Marco Comemorativo de FundaÇÃo Marco presente entre o Mercado Munici-
pal e o Quarteirão dos Trapiches. Foi construído para celebrar um século de elevação de Marco comemorativo. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Laranjeiras à categoria de cidade, em 1944.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
45
Quarteirão dos trapiches. Foto: Acervo Iphan. 2009
Paço Municipal A edificação foi construída no
século XIX e, segundo relatos, estaria
relacionada à passagem do Impera-
dor D. Pedro II em Laranjeiras em Quarteirão dos trapiches. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2015
QuarteirÃo dos Trapiches
1860. Está localizada na área central
do município e atualmente abriga a sede da Prefeitura Municipal.
Estrutura arquitetônica do século XIX, com-
posta pelas edificações: Exatoria, Trapiche Santo Antônio, Casarão, Sobrado e as ruínas em
seu entorno. Estas edificações foram restauradas com recursos do Programa Monumenta/ IPHAN do Ministério da Cultura e atualmente atendem o campi de Laranjeiras da Universidade Federal de Sergipe. 46
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Paço municipal. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2017
Casa de Cultura JoÃo Ribeiro Construída em 1860, já foi utilizada como antiga
residência do intelectual local João Ribeiro. Mais
tarde, passou a abrigar uma casa de cultura, onde estava exposto parte de seu acervo pessoal.
Fachada da Casa de Cultura. Foto: Arquivo IPHAN. 2015
Cine Íris O Cine-Teatro Íris foi construído no final do século
XIX, numa época de apogeu econômico em Laran-
jeiras. Inicialmente, foi utilizado como residência
e, mais tarde, abrigou o primeiro cinema e o teatro da cidade. Teve seu auge entre as décadas de 1920 e 1940. Da antiga edificação, atualmente, só resta parte da fachada frontal do pavimento térreo evidenciando seu estado avançado de arruinamento.
Cine Irís. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Museu de Arte Sacra O imóvel com características arquitetônicas eclé-
ticas, foi uma antiga residência construída no final do século XIX, e que, em 1976, passou a abrigar um
museu de arte sacra, preservando desde então, um acervo de alfaias e imagens católicas, provenientes
das igrejas da cidade. Alguns desses objetos possuem grande vínculo com celebrações do calendário
festivo de Laranjeiras, a exemplo da antiga imagem do Sagrado Coração de Jesus, utilizada ainda hoje nas procissões.
Museu de arte sacra. Foto: Arquivo IPHAN. 2012 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
47
Teatro Santo AntÔnio Marco do desenvolvimento cultural
de Laranjeiras na segunda metade do século XIX, recebeu companhias teatrais
diversas, contribuindo para o desenFachada e Detalhe do Museu Afro brasileiro. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
volvimento cultural da cidade. Foi restaurado com recursos do Monumenta e atualmente abriga a biblioteca do campi de Laranjeiras da Universidade Federal de Sergipe.
Museu Afro-Brasileiro de Sergipe Edificação do século XIX, anteriormente uti-
Antigo teatro Santo Antônio. Foto: Acervo CEAB. 1974-5
lizada como casa comercial e residência. Tornou-se museu afro-brasileiro em 1976 a partir de incentivos governamentais na área da cultura em Sergipe. Seu acervo possui grande
significação para a História de Laranjeiras, sobretudo no âmbito das referências cultu-
rais formadoras de seu passado, representado
por elementos de religiosidade de matrizes africanas, com exposição de peças utilizadas
durante a escravidão, vestimentas e utensílios dos ritos religiosos de matrizes africanas. 48
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Biblioteca da UFS em funcionamento. Foto: Acervo IPHAN, 2011
Teatro SÃo Pedro Segundo relatos, foi construído na ocasião
da visita do imperador D. Pedro II e da impe-
ratriz Tereza Cristina à cidade de Laranjeiras, em 1860. Há informações, porém, de que nunca chegou a ser efetivamente con-
cluído. Posteriormente, serviu de presídio, fundição e alfândega. Apesar de arruinado, é uma referência cultural muito presente no
imaginário da população e remete à efervescência cultural de Laranjeiras na segunda metade do século XIX.
Ponte Nova. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Ponte Nova Construção do século XIX erigida sobre
o rio Cotinguiba para ligar a área rural
com o centro da cidade, para escoamento da produção e comercialização na feira Fachada do antigo teatro. Foto: Acervo IPHAN. 2015
e mercado. Está estruturada em pedras nas cabeceiras e tijolos cerâmicos no vão central, apresentando pavimentação de
pedras irregulares. Este tipo de pavimen-
tação foi muito usada em Laranjeiras, principalmente pela presença de jazidas
de pedra calcária na região. O projeto e Detalhe interno da fachada. Foto: Acervo IPHAN. 2009
construção são atribuídos ao engenheiro do Corpo Imperial, Tenente Coronel João Bloem. Ainda conserva seu uso original para trânsito de pessoas e veículos.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Filhos de Obá. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Sede da Irmandade Santa Bárbara Virgem. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Sociedade de Culto Afro Brasileiro Filhos de ObÁ Conjunto de edificações cujo núcleo
Um
dos
terreiros
mais
antigos
data do início do século XX, e que fun-
e influentes da cidade, o terreiro auto-
apresenta um calendário religioso que
Cristina, filha adotiva de Dona Lourdes,
ciona como um espaço de culto e celebração, ligados ao culto de Orixás. A casa
contempla oito Xirês (festas) anuais. Além disso, há duas sessões mensais para aten-
dimento ao público. A Sociedade Filhos de Obá possui tombamento estadual desde 1988, constituindo um importante referencial para a cultura negra sergipana.
50
Irmandade Santa Bárbara Virgem
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
denominado de nação Nagô, atualmente é conduzido pela jovem lôxa Bárbara falecida lôxa do terreiro, que tinha como mentora Umbelina de Araújo, também
falecida. A irmandade tem como condução para seu calendário celebrativo,
o rito do corte do inhame no mês de setembro. A casa possui aproximada-
mente 150 filhos, e tem como principais orixás Yansan, Iogodô e Abacossô.
Centro Umbandista Senhor SÁo LÁzaro O Centro Senhor São Lázaro, ou Terreiro
de Mãe Joaquina, foi construído em 1957 e
está localizado no povoado Mussuca, apre-
sentando ritos ligados ao culto umbandista. Possui uma estrutura modesta e um
quarto de santo bastante ornamentado com santos católicos e entidades de culto afro. O calendário festivo segue as datas
comemorativas das entidades cultuadas, Centro Espírita Umbandista Pai Aculano. Foto: Acervo INRC IPHAN, 2010
além das obrigações dos membros da casa.
Centro Espírita Umbandista Pai Aculano A edificação do terreiro, tendo o orixá Ogum
como regente da casa, foi realizada em 1970 pelo Sr. Filemon Cupertino Santos com a finali-
dade de prática religiosa. O edifício, que apresenta ainda hoje parte de sua técnica construtiva em taipa, está localizado na área central do
povoado Mussuca. Tem uma estrutura modesta, com um pequeno quarto de santo e é ornamentado com bandeirolas e palhas que representam
simbolicamente as entidades da religiosidade
Centro Umbandista Senhor São Lázaro. Foto: Acervo INRC IPHAN, 2010
Obs.: Vale destacar que o IPHAN, através
conhecidas como caboclos. O Terreiro é frequen-
de sua Superintendência em Sergipe, desen-
as festividades de um calendário que segue as
momento, ainda se encontra em desenvolvi-
tado por diversas pessoas do povoado adeptas
volveu, no ano de 2016, um mapeamento dos
comemorações para cada orixá específico.
mento e será divulgado posteriormente.
da religiosidade, onde são feitas obrigações e
terreiros da cidade de Laranjeiras que, no
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
51
Fachada da Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja SÃo Benedito e Nossa Senhora do RosÁrio Construída por escravos com recursos da
Irmandade dos Pretos Pardos para prática
religiosa cristã na primeira metade do século
XIX. Seus devotos eram majoritariamente da população negra, que celebravam de forma
sincrética tanto cultos católicos do calendário
religioso, como por grupos de referência culInterior da Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário em festividade. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
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REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
tural local e devoções populares. A edificação é altamente significativa para a comunidade, sobretudo por sua utilização nas celebrações da Festa de Reis.
Fachada da Igreja do Bom Jesus. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja do Bom Jesus dos Navegantes Aberta à visitação, a igreja de peque-
nas proporções foi edificada com Detalhe da fachada da Igreja do Bom Jesus. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
características ecléticas no ano de
1905, e está localizada no Alto do Bom
Jesus, um dos pontos mais elevados da cidade. Nesta posição de destaque no
alto de uma colina, se descortina uma
impressiva vista da cidade e dos povoados vizinhos. Está relacionada à Festa
de Bom Jesus dos Navegantes, quando abriga uma Missa que antecede a Procissão em direção ao centro da cidade e ao rio Cotinguiba. Interior da Igreja do Bom Jesus. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
53
Interior da Igreja do Antigo Engenho Retiro. Foto: Acervo IPHAN, 2017
Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja de Nossa Senhora da ConceiÇÃo de Comandaroba Localizada na área rural, a igreja é um
marco da ocupação dos jesuítas na região, com marcas da Ordem Religiosa na sua cons-
trução datada de 1734. Foi construída em um
local onde antes havia cultivo de feijão pelos índios, daí a origem do seu nome: “Comandá”
tem significado na língua Tupi de “feijão”,
e “robá” significa “amargo”. Atualmente, a
Conjunto do Retiro Conjunto formado por casa, Igreja e
igreja está dentro de uma área particular, a
senzala, considerada a primeira residên-
igreja atende a celebração de Nossa Senhora
conforme registro contido na Portada da
fazenda Boa Sorte, entretanto, está aberta a visitação. Todo ano, no dia 08 de dezembro, a
da Conceição, se abrindo para a chegada da
procissão com início na igreja Matriz, onde 54
Igreja e Casa do Antigo Engenho Retiro. Foto: Acervo IPHAN, 2012
acontece a celebração de uma missa.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
cia jesuítica do Vale do Cotinguiba, tendo sido erguida a partir do ano de 1701,
edificação. O conjunto foi tombado pelo IPHAN na década de 1940 e atualmente pertence ao Grupo Votorantim.
Fachada e Detalhes da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja de Nossa Senhora da ConceiÇÃo dos Homens Pardos Igreja de características barrocas, iniciou sua
construção em 1834, sendo finalizada em 1860, após donativo do Imperador D. Pedro II na ocasião de sua visita a Laranjeiras. A edificação está localizada dentro do perímetro tombado pelo IPHAN para o Cen-
tro Histórico de Laranjeiras, estando atualmente em processo de restauração. O espaço da igreja, quando em uso, é utilizado em várias celebrações do muni-
cípio, como na procissão dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
55
Detalhe da entrada do cemitério anexo à Igreja do Bonfim. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja Senhor do Bonfim Igreja construída na primeira metade do
século XIX, localizada na colina do Bonfim e relacionada às celebrações do Setembro
Doloroso e à formação histórica da cidade.
Apresenta cemitério anexo. É mantida pela
irmandade Senhor do Bonfim, que também Fachada e Interior da Igreja do Bonfim. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
é responsável pela procissão do Senhor do Bomfim e de Nossa Senhora das Dores, no setembro doloroso.
Igreja Presbiteriana Situada no centro de Laranjeiras, foi a
primeira igreja presbiteriana construída
em Sergipe, apresentando elementos
neogóticos em sua arquietura. Foi inau-
gurada em 19 de novembro de 1899
após uma série de incidentes entre católicos e protestantes e até hoje mantém suas atividades. 56
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Fachada da primeira Igreja Presbiteriana de Sergipe. Foto: Acervo da Prefeitura de Laranjeiras (Evaldo Ninho), 2016
Decoração interna e Detalhe do bulbo da torre, em azulejo, da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus. Foto: Acervo IPHAN, 2014
Fachada da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Igreja Matriz Sagrado CoraÇÃo de Jesus A igreja é considerada a primeira dedicada
Teófilo de Jesus e um escudo presente no arco
tendo sido transformada em Matriz em 1835.
Salvador dos Homens. Em seu interior, existe um
ao Sagrado Coração de Jesus no Brasil, tendo a
data de construção atribuída ao ano de 1795 e
Possui arquitetura com estilo Barroco e decoração interna de elementos rococós, onde se destacam a pintura do forro atribuída a José
cruzeiro com as insígnias IHS, comumente liga-
das à Ordem dos Jesuítas, e que designa Jesus órgão datado do século XIX. A imagem dedicada
ao Sagrado Coração de Jesus hoje se encontra no Museu de Arte Sacra de Laranjeiras.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
57
Celebração e Fachada da Igreja Senhor da Cruz , no Povoado Mussuca. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2017
Igreja Senhor da Cruz Edificação religiosa construída no povoado Mus-
suca em meados dos anos 1980, através da iniciativa de um morador conhecido como Sr. Laurindo, que comprou o terreno na parte mais movimentada do povoado. Antes da construção da igreja, existia uma
cruz neste terreno que influenciou a escolha do nome. Detalhe da pequena torre. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
58
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
A igreja foi construída com a finalidade de atender a comunidade, pois, até então, as cerimônias católicas,
batizados, missas e procissões, eram realizadas na capelinha do cemitério do povoado.
Igreja Senhor SÃo Pedro da Ilha Construída no início do século XIX dentro
da propriedade particular Fazenda Ilha, está
localizada na área rural de Laranjeiras, no
povoado Mussuca. No local, funcionava também um engenho de mesmo nome que, em fins do século XIX, entrou em decadência. Seu interior era utilizado como local de sepul-
tamento das famílias do local, mas hoje, por
Ruínas da capela de São Pedro do antigo engenho Ilha. Foto: Acervo IPHAN, 2015
desuso, o edifício se encontra em ruínas.
Casas de Farinha As três casas de farinhas identificadas
em Laranjeiras estão localizadas no povo-
ado Mussuca e remetem a um ofício tradicional no município. A mais antiga é a
do proprietário José Nicolau dos Santos,
conhecido como Sr. Laurindo, construída aproximadamente em 1930 e que até hoje a mantém em funcionamento. A segunda é
Casa de farinha de seu Tonho, hoje inativa. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
a de José Antônio dos Santos, construída em 1988, e que atualmente está em estado
de ruína. Por fim, temos a casa de farinha
de José Ireno dos Santos, construída em 2006, e a Casa de Dona Lindinalva, sendo que, atualmente, apenas a última está em
funcionamento. Em geral, a produção artesanal de farinha de mandioca utiliza instrumentos como a prensa, o forno e o rodete.
Interior da casa de farinha de seu Ireno com maquinário e acessórios, hoje inativa. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2009 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
59
Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
Bens Culturais Identificados
Formas de Expressão
As Formas de Expressão definem-se como práticas não
linguísticas de comunicação, associadas a determinados
grupos sociais ou regiões, desenvolvidas por atores sociais reconhecidos pela comunidade e em relação aos quais o
costume define normas, expectativas e padrões de qualidade. As Formas de Expressão identificadas em Laranjeiras durante o INRC, são:
61
O grupo Cacumbi nas ruas de Laranjeiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Cacumbi do Mestre Deca O Cacumbi sempre esteve
ligado aos tradicionais ritos do catolicismo popular negro,
se apresentando de modos
e nomes diversos em outras Mestre Deca. Acervo INRC IPHAN, 2010
regiões do país, mas sempre tendo como objetivo principal
a dramatização da coroação
de reis e rainhas do Congo. Todavia, com o pas-
sar do tempo, o Cacumbi em Sergipe perdeu suas características dramáticas, apresentando-se hoje
mais como uma sucessão de danças e louvações. Em Laranjeiras, este folguedo data do século XIX,
sendo considerado um dos mais antigos e de significativa importância para os laranjeirenses, sobretudo porque alia em si referências à Festa
de Reis quando nos louvores aos santos católicos 62
São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, consiREFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
O grupo Cacumbi se apresentando na Igreja de São Benedito durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
derados patronos católicos dos negros brasileiros. Segundo o Mestre Deca, a manifestação tem
origem africana e conta, em parte, sobre uma
batalha travada entre os reis e os negros, sendo que os últimos saem vitoriosos. O Cacumbi de
Mestre Deca é constituído exclusivamente por homens e apresenta-se na Procissão de Bom
Jesus dos Navegantes, na Festa dos Reis e em outros eventos em que são convidados. Seus personagens são o Mestre, o Contra-Mestre e os Brincantes (que dançam e cantam). Durante
a sua performance, os brincantes se dividem em
dois cordões com 14 pessoas, e suas evoluções são divididas entre cantos de rua e cantos de louvação. O ritmo é forte e o som marcante do
apito coordenam a mudança dos passos. Os ins-
trumentos que acompanham o grupo são: cuíca, pandeiro, reco-reco, caixa e ganzá. Atualmente,
devido ao estado de saúde de Mestre Deca, o grupo é conduzido por três de seus filhos.
Chegança Almirante TamandarÉ A chegança conta a história de combate entre
marinheiros cristãos e os mouros, tidos como piratas dos sete mares. O ponto alto da epopéia
é quando há a conversão forçada dos mouros em
cristãos. Em Laranjeiras existem atualmente dois grupos de Chegança: Almirante Barroso e Almirante Tamandaré. Segundo Zé Rolinha, líder do grupo Almirante Tamandaré, a chegança é “uma ópera popular”. Há relatos de que foi constituída
em Laranjeiras ainda no século XIX, sendo hoje
formada por cerca de 28 pessoas, que representam os seguintes personagens: do lado dos cristãos o piloto, co-piloto, padre, almirante, general,
patrão, contra-mestre, gajeiros, capitão-tenente
primeiro e segundo tenente e, por fim, marujos;
e, do lado dos mouros, rei, embaixadores, rainha, princesas e dama de ouro. A apresentação
do grupo é ritmada pelos apitos do mestre e contra-mestre e pelos pandeiros, sendo dividida nas seguintes etapas: Combate, Resina Grande,
O grupo de chegança nas ruas de Laranjeiras , na Igreja Matriz e na entrada da Igreja de São Benedito. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Embarque, Anel Perdido, Tempestade e Contra-
brincantes divididos em duas filas imitam a con-
e músicas que são cantadas
dos apitos e valorizadas pelo ritmo imposto pelos
bando. O grupo apresenta
uma variedade de marchas
nas ruas durante os combates e em louvor aos san-
tos protetores dos negros. A coreografia apresentada
é simples, sendo que os
Mestre Zé Rolinha. Foto: Francisco M. da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
dução de um navio em alto mar e as evoluções ou
mudanças de marchas são anunciadas pelo som
pandeiros, cujos toques imitam o balanço do mar. Durante os cortejos e a evolução, o grupo para
em lugares como: porto, casas dos amigos para louvar, igreja São Benedito, terreiro Nagô, entre outros a serem acertados.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
63
Início da apresentação do Lambe Sujo & Caboclinhos, durante a Alvorada. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Cortejo nas ruas de Laranjeiras. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Lambe Sujo & Caboclinhos A festa dramatizada, que tem o mestre Zé
sonagens como: o Rei, Príncipe, Mãe Suzana
representações de negros, conhecidos como
os personagens do Cacique, a sua filha e os
Rolinha atualmente como líder, apresenta,
em seu núcleo narrativo, o combate entre
“lambe-sujos”, e representações de indígenas, chamados de “caboclinhos”. Presentes na memória coletiva dos laranjeirenses, os
grupos se caracterizam de forma distintas e enfatizam ações diversas durante o segundo
domingo do mês de outubro, em que representam episódios da escravidão e as revoltas negras no Vale do Cotinguiba. O ritmo do cortejo dos lambe-sujos pelas ruas da cidade é incerto, não segue lógica linear e, assim, passa 64
em locais específicos para agregar seus perREFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
e Pai Juá. No grupo dos indígenas, que tem
objetivo de aprisionar escravos fugidos, tem demais caboclinhos, que se pintam com tinta vermelha e água. Entre danças e batuques,
temos também os taqueiros que representam os capitães do mato com seus chicotes e
que conduzem o cortejo dos lambe-sujos, que segue em ritmo transgressor, melando casas e pessoas com mel cabaú. Numa dessas situ-
ações, os negros se deparam com os índios e conseguem raptar a filha do cacique dos caboclinhos, ocasionando as embaixadas e
conflitos que levam à queda do quilombo. Con-
siderado um dos folguedos mais significativos para a identidade cultural dos laranjeirenses, essa manifestação cultu-
ral ocorre desde o século XIX, provavelmente tendo início na época da abolição
da escravatura, quando os negros saíram
às ruas para comemorar sua libertação.
Além das principais ruas de Laranjeiras, o grupo Lambe-Sujos x Caboclinhos tam-
bém se apropria do Porto da Quaresma, onde ocorre o último ato das apresenta-
ções e onde é construída uma cabana de taquara, simbolizando a senzala.
Benção na Igreja Matriz. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Embaixada. Fotos: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Apresentação do São Gonçalo com o Mestre Sales à frente. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010.
Dança de SÃo GonÇalo A Dança de São Gonçalo é característica
do povoado Mussuca e se funda na devoção a São Gonçalo do Amarante. O grupo, emba-
lado ao som da caixa e reco-reco, é formado por homens e somente uma mulher – a mari-
posa – que carrega a barca com a imagem do
Santo, num total de 11 componentes com o
Mestre. Os dançarinos se dividem em duas filas e vestem calça branca com uma saia estampada por cima, apresentando também
um lenço branco preso por uma fita vermelha na cabeça. Conta-se que a dança teve início
na época da escravidão, como uma forma de
pagar promessa ao santo. No contexto ritual, o pagador de promessa quando alcança uma
graça, tem que pagar com a apresentação do 66
grupo em sua casa. Durante o acompanhaREFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Mestre Sales, hoje falecido. Acervo IPHAN INRC, 2010.
mento, que se compõe de ensaios e pela dança
final, são executadas as sete jornadas que
compõem a dança completa. O promesseiro se encarrega de, no último domingo, oferecer
um banquete ritual a todos os integrantes do grupo e aos visitantes, e também de comprar
fogos de artifícios que devem ser estourados entre uma jornada e outra. Após a dança final, o grupo sai em
procissão carregando a imagem do santo.
Desde a década de 1970, porém, o grupo se
apresenta
tam-
bém fora do contexto ritual,
em
eventos
como o Encontro Cultural de Laranjeiras.
Detalhe da vestimenta. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017.
Integrante do grupo de reisado em frente à Igreja Matriz. Foto: Irineu Fontes, 2013.
Apresentação de reisado na Igreja São Benedito, durante o Encontro Cultural. Foto: Lucas Passos, 2007.
Reisado O Reisado é um folguedo popular de forte
Dona Nadir durante a Semana do Folclore. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2011.
Reisado de Nadir O Reisado da Nadir tem um papel muito rele-
presença em algumas regiões do país, com
vante na preservação e consolidação das refe-
respondem às particularidades de cada con-
na memória de seus mais antigos moradores,
formas distintas no modo de apresentar-se, bem como nos personagens e suas ações, que
texto. Em geral, o reisado traz em seu enredo uma expressão de natureza lúdica e signifi-
cado religioso, ao comemorar o nascimento do
menino Jesus, estando diretamente associado às festividades do ciclo natalino e a celebração
da Festa de Reis, em janeiro. Em geral o Reisado é formado por dois cordões, tendo nas
figuras de Dona Deusa e do Mateus os seus
maiores destaques, e por instrumentos como o tambor e a sanfona, que dão ritmo à performance. Em Laranjeiras, é grande a diversidade
desses grupos, sendo identificados os seguintes durante a pesquisa:
rências culturais do povoado Mussuca, pois esta atividade, antes extinta e que sobrevivia apenas
foi resgatada há alguns anos atrás e difundida
pela atual líder Nadir dos Santos, sendo repas-
sada as novas gerações do povoado. Dona Nadir é filha do Mestre Paulino, responsável por um antigo grupo de reisado no local. Durante as
festividades do ciclo natalino, o Reisado da
Nadir de Mussuca se apresenta nos dias das festas de Reis, em janeiro, no Encontro Cultural
de Laranjeiras, e em festividades do calendário da Mussuca, do município de Laranjeiras e de outras localidades no Estado de Sergipe.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
67
Reisado de D. Nadir. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
Reisado. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2011
Apresentação de D. Lalinha. Foto: Acervo IPHAN INRC, sem data
Reisado de Dona Lalinha Importante grupo fundado pela brin-
cante e pesquisadora Dona Lalinha no ano de 1972. Lalinha teria começado a brincar no Reisado aos quatro anos de idade, e, pos-
teriormente, teria se casado com o líder de
um grupo, por isso a manifestação esteve sempre muito presente na sua vida. Após a
morte da brincante em 2001, o grupo parou
de funcionar. As brincantes dançavam em
dois cordões, um verde e outro vermelho, e Apresentação do Reisado na Semana do Folclore. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2011
68
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
o grupo apresentava-se com o cavaquinho embalando suas composições, ao invés do tradicional conjunto de sanfona e tambor.
Apresentação de Reisado na Igreja São Benedito durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011.
Reisado do Balde O Reisado Benjamim ou, como é mais conhecido,
Reisado Flor de Lirio em frente a Igreja Matriz. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011.
‘do Balde’, como também se denomina o povoado
Cedro, é formado por 12 figuras dispostas em dois ‘cordões’, um encarnado e outro verde. Além das figuras, constam também: 4 tocadores de triângulo, pandeiro, zabumba e caixa, a Dona do Baile, a Cabo-
cla, a Cigana, a Baiana, a Borboleta e a Maria Tereza,
além do Cheiroso que se faz às vezes de palhaço no bailado. Dona Marilene é a organizadora do grupo
há mais de vinte anos e se destaca entre os demais pelo uso de uma indumentária cuidadosamente bordada com lantejoulas.
Reisado Flor do Lírio
O Reisado Flor do Lírio é um grupo mirim do povo-
ado Cedro, que funciona desde 2002. Dona Ivete, líder do grupo, fazia parte de outro reisado, onde
brincou por 20 anos. Como as meninas deste reisado já estavam grandes, Dona Ivete criou um Reisado Mirim, que permanece ativo até os dias atuais.
Apresentação do Reisado na Semana do Folclore e Detalhe da vestimenta. Foto: Francisco Moreira da Costa, 2011
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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A coroação das taieiras, durante o Encontro Cultural. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2009
Taieira Taieira é uma forma de expressão de rele-
vante importância para a identidade laranjei-
rense, existente desde o século XIX na cidade, e cujas motivações estão ligadas a devoção a São
Benedito e Nossa Senhora do Rosário, conside-
rados santos protetores dos escravos. Os gru-
pos das Taieiras incluem-se entre os reisados, folguedos ligados aos períodos de comemora-
ções e louvores aos Santos Reis, mas apresen-
tam uma forte influência africana, presente não
somente na observância dos ritmos, músicas e As taieiras na Igreja São Benedito, durante o Encontro Cultural. Fotos: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
70
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
danças executados durante as apresentações, como também pela ligação de suas integran-
tes com o Terreiro de Santa Barbara Virgem,
de tradição nagô. Este Terreiro teve início com
Saída das taieiras Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
As Taieiras no Largo do quaresma, durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Dona Calú, que, além de comandar as apresen-
janeiro, acontece um dos momentos mais
de Araújo, conhecida como Mãe Bilina, foi
de São Benedito, onde a Rainha é coroada e
tações das Taieiras em Laranjeiras, foi escrava
de um tabelião da cidade. Sua filha, Umbelina chefe Taieira por mais de cinqüenta anos e,
nesse período, reforçou ainda mais o sincre-
tismo religioso dessa manifestação. Bárbara
importantes: a Coroação da Rainha das Taieiras. Esta celebração ritual ocorre na Igreja homenageada pelos integrantes do grupo.
Cristina dos Santos é a atual líder da Taieira e lôxa da Irmandade Santa Bárbara Virgem.
O grupo é composto por meninas e mulheres, sendo as meninas todas virgens e chamadas
guias, enquanto as duas mulheres de mais
idade são consideradas rainhas. As cores das
vestes das Taieiras são branco e vermelho,
Detalhe das taieiras. Foto: Francisco Moreira da Costa. (CNFCP-IPHAN), 2017
cores do orixá dirigente da casa, sincreti-
zado com Santa Bárbara. A ocorrência dessa manifestação aparece durante festejos religio-
sos, mas o grupo também faz apresentações
atendendo a convites de várias instituições,
como prefeituras municipais e universidades. Durante os festejos da Folia de Reis no mês de
Preparação. Foto: Francisco Moreira da Costa. (CNFCP-IPHAN), 2017 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
71
Samba de Coco Manifestação associada às festivida-
des de São João e marcada pela música e
pela dança do samba batido fortemente
com os pés, que faz um ruído peculiar por conta dos tamancos de madeira. Em Detalhe dos tamancos das dançarinas e Dona Maria da Conceição em apresentação do Samba de coco. Foto: acervo Iphan INRC, 2010
Laranjeiras, existe no povoado de Mus-
suca há cerca de quinze anos, onde é liderado por Dona Maria da Conceição.
Não há limites para sua apresentação,
sendo que tradicionalmente, as evolu-
ções devem ser ininterruptas. O grupo é formado por mulheres dançarinas em dois cordões com cerca de 12 integranSamba de coco da Mussuca durante o Encontro Cultural. Foto: Lucas Passos, 2007
tes, e mais os tocadores de caixa, pandeiro, triângulo e ganzá.
Samba de pareia O Samba de Parelha, ou pareia, é uma forma de
expressão tida por alguns estudiosos como uma
ramificação do Samba de Coco, em que dança-se aos pares, sendo a evolução feita em roda. Tradi-
cionalmente, o grupo realiza visitas a mães com crianças recém nascidas. Na Mussuca, o grupo
formado por mulheres e liderado por Dona MariDançarinas do samba de pareia, durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
72
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
zete, se fortaleceu nos últimos oito anos e têm realizado apresentações fora do povoado. As brincantes vestem um vestido de chita cintado
e bem rodado, chapéu de palha e tamancos de
Drama de Nadir O Drama da Nadir é uma manifestação
Detalhe dos tamancos das dançarinas de Samba de pareia durante apresentação. Foto: acervo Iphan INRC, 2010
popular que hoje ocorre no povoado Mussuca, e que tem como líder a senhora Nadir
dos Santos, que mantém o grupo com esfor-
ços pessoais e apoio da comunidade onde reside, sendo considerada uma das figuras mais importantes para a preservação da
identidade cultural do povoado. Segundo Dona Nadir, esta prática ocorre em Laran-
jeiras a cerca de 50 anos. O Drama de Nadir reúne teatro, música e dança numa manifes-
tação lúdica com forte expressão cênica e
que apresenta narrativas e representações
de histórias de indígenas e escravos em Seu Mangueira, músico, e dançarinas do samba de pareia durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2017
madeira que fazem um barulho compas-
sado. O grupo possui duas puxadoras, que
cantam os versos, e as brincantes, que res-
pondem os refrões com temas lúdicos ou trazendo histórias do tempo da escravidão. Brincam cerca de 20 mulheres no grupo,
que possui, ainda, uma parte instrumental composta por uma onça, um atabaque
e um ganzá. Apresentam-se em diversas
ocasiões durante o ano, mas o dia de 24 de junho é especial, pois é quando comemoram o aniversário do grupo.
Laranjeiras. Fazem parte do grupo em torno
de 20 pessoas: seis tocadores e 14 jovens mulheres que dançam, cantam e represen-
tam as músicas tocadas. Não há data fixa de apresentação, sendo que o grupo se apre-
senta em festas no povoado Mussuca e, quando recebe con-
vite para eventos, em outras localidades.
Dona Nadir. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2017
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
73
Penitentes Grupo de fiéis leigos que se dispõe a realizar
orações em nome de mortos que não puderam expiar seus pecados em vida e também na
intenção de expiar seus próprios pecados. O grupo de Laranjeiras, formado exclusivamente por homens e atualmente liderado por Evanilson Calazans, usa túnicas brancas ou pretas,
juntamente com uma máscara, cuja finalidade
é preservar a identidade dos penitentes, além de um cordão na cintura simbolizando a casti-
utiliza uma matraca de ferro. Liderando o cor-
cemitério do Senhor do Bomfim e, de lá, saem
uma lanterna – uma de madeira e outra de latão.
dade. Nas segundas, quartas e sextas do período quaresmal, o grupo se reúne à meia-noite no já paramentados, rezando e cantando em cami-
nhadas penitenciais. Para anunciar sua pre-
sença e despertar os vivos, um dos integrantes 74
Penitentes. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
tejo, segue à frente três integrantes: um no cen-
tro carregando uma cruz e os outros dois com
As caminhadas são pontuadas em sete estações, sendo as orações feitas sempre perante a um cruzeiro, finalizando na Igreja Matriz.
Teatro Amigos da Cultura Mussuquense O Teatro Amigos da Cultura Mussu-
quense é um grupo formado por jovens
do povoado Mussuca desde 1999 com o objetivo de fortalecer a identidade afro-
-brasileira do povoado através de representações cênicas que retratam sua
Grupo de teatro. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
história, origens e cultura. No grupo,
há cerca de trinta pessoas que recitam
a história local e teatralizam diversas práticas do povoado, como São Gonçalo,
o Samba de Coco, o Samba de Pareia, Capoeira, o Maculelê, a devoção ao Senhor da Cruz, a Quadrinha e o Timba-
leiro. O texto das apresentações é criado também por moradores da Mussuca, a
exemplo de Flaviane Borges dos Santos, que formulou uma história em formato
de literatura de cordel, registrando em
versos as manifestações culturais do povoado e de Laranjeiras.
Literatura de Cordel Jovens do povoado Mussuca desempe-
nham a arte da literatura de Cordel, de forma
autodidata registrando em versos as manifestações culturais do povoado Mussuca e de Laranjeiras mais amplamente.
Cartaz do Encontro Cultural que teve como tema, em 2017, a Literatura de Cordel. Fonte: SECULT, 2017
Timbaleiro Grupo de dança criado por iniciativa de
alguns membros da comunidade há 15 anos, com o objetivo de representar as tradições afro-brasileiras do povoado Mussuca. O grupo apresenta grande influência de música baiana
(Axé) com a qual ele se identifica. Inicialmente
era composto por integrantes de ambos os sexos, mas hoje a presença masculina restringe-se aos tocadores.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
75
Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Bens Culturais Identificados
Lugares
Na categoria “Lugares” são apontados os locais que pos-
suem sentido cultural diferenciado para a população, uma
vez que são espaços apropriados por práticas e atividades de naturezas variadas, seja cotidianas ou excepcionais, vernáculas ou oficiais. Podemos conceituar como lugares focais da vida social de Laranjeiras, a partir da pesquisa do INRC:
77
Feira na entrada do mercado e produtos da feira. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015
Feira A feira de Laranjeiras possui grande impor-
tância para a população local assim como para
aqueles que vêm dos povoados. Ocupa grande
parte da praça com a venda de legumes, fru-
tas e verduras, e todo o espaço do Mercado Público, local de venda de carnes e cereais. A cidade ganha uma movimentação única não
apenas no lugar onde a feira acontece, mas em todo seu entorno, onde vemos o Rio Cotinguiba
e seu antigo porto, além de antigos armazéns e trapiches utilizados no passado para escoa-
mento de mercadorias e produção de açúcar.
Provavelmente, a feira de Laranjeiras existe desde o final do século XVIII, de modo que a Produtos exibidos no mercado. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2015
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REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
própria estrutura urbana do centro da cidade
de Laranjeiras foi sendo delineada de modo a sempre abrigar e privilegiar o Largo da Feira.
Vista do Rio Cotinguiba. Foto: Francisco Moreira da Costa. (CNFCP-IPHAN), 2017.
Rio Cotinguiba Importante elemento natural que colaborou
sobremaneira para a existência da ocupação e permanência humana em Laranjeiras. O rio é
utilizado para vários fins, como a pesca e navegação, diversão para as crianças e, por fim, associado a referências históricas e culturais.
Passeio de Tototó no rio Cotinguiba durante a Festa de Bom Jesus dos Navegantes. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
Porto do Quaresma Antigo porto de navegação de cabotagem e
transporte de passageiros. Atualmente é utili-
zado por grupos locais como uma das paradas obrigatórias de seus trajetos, a exemplo da Chegança Almirante Tamandaré e o combate
entre Lambe-Sujos e Caboclinhos, além de ser
local de embarque e desembarque da Festa de Bom Jesus dos Navegantes.
Vista do Largo do Quaresma. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2015 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Vista aérea da Praça Josino Menezes. Foto: Acervo prefeitura de Laranjeiras, 2008
A praça com a Igreja Matriz ao fundo. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
PraÇa da Matriz Uma das principais centralidades da
cidade configura-se na maior praça do Centro de Laranjeiras. Com topografia
plana e formato trapezoidal, é cercada por ruas pavimentadas e se apresenta
Praça da ConceiÇÃo (PraÇa do Galo) A localidade representa um dos eixos
muito bem conservada. Seu entorno
de crescimento da cidade e é conhecida
das quais se destacam a Igreja Matriz
tal à Igreja de Nossa Senhora da Conceição
é formado, predominantemente, por edificações térreas do século XIX e XX,
do Sagrado Coração de Jesus e o Museu
de Arte Sacra. O local abriga diversas
atividades e festividades da cidade com o “LaranjeiArt”, Encontro Cultural, Semana Santa, Procissões, e festas
variadas. Além disso, é usada cotidia-
namente por seus moradores como
lazer e constitui um importante foco 80
Praça Josino Menezes, conhecida como Praça do Galo. Foto: Acervo IPHAN, 2008
de encontro da comunidade.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
popularmente como Praça da Conceição. É formada por três largos: um lateral e fron-
dos Homens Pardos, ou Praça Possidônia Bragança; a Praça Josino Meneses; e a área
de forma quadrada nos fundos da referida
Igreja, que se destaca na paisagem. No seu
entorno, há edificações de valor histórico e arquitetônico, como as ruínas do antigo Teatro São Pedro, a delegacia, as ruínas da
antiga casa e clínica do Dr. Bragança e o edifício onde funciona a Maçonaria.
Vista lateral do morro do Bonfim. Foto: Prefeitura de Laranjeiras (Evaldo Ninho), 2014
Alto do Bonfim O Alto do Bonfim está situado no topo
de uma das colinas da cidade, conhecida
por Colina Azulada. O seu acesso é feito por uma estrada sinuosa e asfaltada. A
vegetação próxima é rasteira, havendo, Vista do alto do Bonfim. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
mais distante, arborização de médio porte.
É um dos pontos mais altos da cidade de Laranjeiras, de onde se pode avistar, além
da cidade, grande parte do Vale do Rio
Cotinguiba. As construções existentes no local são a Igreja do Senhor do Bonfim,
edificação do século XIX que domina o
sítio, seu pequeno cruzeiro e um cemitério localizado em sua parte posterior. O Fachada da Igreja do Bonfim. Foto Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
local, além da visitação turística, é espaço
de celebrações, a exemplo da festa de Bom Jesus dos Navegantes.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Casa do Mestre Oscar Ribeiro A casa onde morava o Mestre Oscar
Ribeiro e sua família é um lugar Rua Francisco Bragança. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
importante para o folclore laranjei-
rense, pois ela faz parte do itinerário dos grupos folclóricos no dia da Festa
de Reis. Os grupos param na casa para saudar a memória do Mestre já
falecido, comem um lanche oferecido pelas suas filhas e dançam no interior da casa antes de seguirem o perRua de pedra na ponte Nova e Detalhe da pedra. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Ruas de Pedras de Laranjeiras Algumas ruas de Laranjeiras apresentam
curso direcionado para a Igreja de São Benedito, onde ocorre a Missa de
Reis. A casa é localizada na Rua José do Prado Franco, nº 100, próximo à Igreja já mencionada.
um tipo de pedra calcária, denominado coração-de-negro, cuja técnica construtiva é típica
do período colonial e imperial. Essas ruas, além de conferirem uma identidade cultural à população, constituem uma importante refe-
rência para o desenvolvimento das técnicas construtivas de Laranjeiras. Elas remetem à
acontecimentos pretéritos e rituais cênicos urbanos da cidade e, ainda hoje, formam o 82
palco de suas manifestações culturais.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Casa do mestre Oscar, durante o Encontro Cultural. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Fazenda Pilar A área onde se localiza a Fazenda Pilar
possui edificações do século XIX, formada por três antigos engenhos: o Engenho Gra-
vatá, o Engenho Pilar e o Engenho Ilha, dos
quais hoje restam apenas as ruínas. Com
o passar do tempo, as terras destes três engenhos foram fragmentadas em diversas propriedades, dentre elas a Fazenda Pilar, a Fazenda Gravatá e a Fazenda Ilha, que ainda estão entre as maiores da região. O local possui espaços para a pecuária e a agricul-
tura, além de constituir uma área de preservação ambiental de manguezal e mata atlân-
Antiga chaminé da Fazenda Pilar. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
tica e também servir como rota que liga os povoados a outras propriedades.
Gruta da Pedra Furada A gruta está localizada no povoado Machado,
numa formação de pedra calcária. Ela é composta
por dois elementos naturais distintos: a Pedra Furada, que trata-se de um arco de pedra calcária; e uma gruta, hoje sem acesso. A Pedra Furada
deve ter sido formada pela erosão provocada por curso d’água do rio Cotinguiba. Conta-se que, durante a ocupação holandesa em Sergipe, entre
1637-1645, o local era utilizado pelos jesuítas
para refúgio e celebrações religiosas, e que, no local, haveria um vasto túnel ligando a gruta com a Igreja de Comandaroba.
Gruta da Pedra Furada. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Produção de beiju molhado. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Bens Culturais Identificados
Ofícios e Modos de Fazer
Os ofícios e modos de fazer são atividades desenvolvidas
por atores sociais reconhecidos como conhecedores de técnicas e de matérias-primas que identificam um grupo social ou uma localidade. Referem-se aos conhecimentos tradi-
cionais associados à produção de objetos ou à prestação de serviços que tenham sentidos práticos ou ritualísticos.
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Escultura em Madeira A madeira é a matéria prima utilizada por Ademar
de Lima (Mestre Demar) para a confecção de suas esculturas. O cedro, a umburana e o mulungu, geral-
mente utilizados pelo mestre, são obtidos, na maioria
das vezes, em madeireiras ou são doados por amigos e conhecidos. Suas esculturas são figurativas, em geral,
representações de santos católicos ou de personagens presentes no imaginário nordestino como retirantes,
músicos, carros de boi, animais, flora, e figuras como
bailarinas e mulheres. Ademar de Lima confecciona
Mestre Demar produzindo suas peças em madeira. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
chaveiros e porta-canetas. O tempo para a confecção
Ferramentas utilizadas pelo Mestre Demar. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
também, sempre por encomenda, ex-votos, objetos decorativos e utensílios, como adornos para cabelos,
de suas esculturas varia conforme o grau de complexidade da mesma, podendo chegar a até noventa dias.
Ceramista A atividade de ceramista em Laranjeiras requer habi-
lidade transmitida entre as gerações. O ceramista Gilson
José dos Santos, com os conhecimentos e vivências passadas de mãe para filho, foi criando uma distinta forma
de se expressar através do barro, inspirado em temas de Laranjeiras. Assim, o artífice cria um acervo de peças que retrata o perfil de sua cidade, como os “monumentos históricos”, a cultura popular e a cultura religiosa. O
barro de Laranjeiras é retirado do Conjunto Esperança,
onde se localiza uma pedreira, cuja matéria prima apre86
senta grande qualidade para o trabalho artesanal. REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
O ceramista Gilson José dos Santos com suas peças. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2017
FabricaÇÃo de Vassoura A fabricação artesanal de vassouras é um
ofício desenvolvido por moradores do município, como Maria Guerra da Silva, do povoado
de Pastora, e Dona Sinhorinha, do povoado Mussuca. O manuseio da palha de ouricuri-
zeira (ou aricurizeira) constitui um saber que
a executante afirma ter aprendido por neces-
sidade, com o passar do tempo e a prática cotidiana. Dona Maria está presente em todas as
etapas do desenvolvimento do artefato, que começa com a obtenção da palha e do cabo de madeira e termina com a amarração de cada
vassoura. A matéria prima é obtida em uma
das fazendas da região, onde ela tem acesso sem qualquer restrição.
A artesã, conhecida como dona Sinhorinha, exibe seu produto e em processo de trabalho. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCPIPHAN), 2017
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Rezadeira O ofício de rezadeira é realizado
no povoado Mussuca por moradoras
como Dona Maria Regina e Dona Maria
dos Santos Baia. Trata-se de um ofício muito estimado pela população que
recorre às rezadeiras para conseguir Dona Maria Regina, conhecedora de ervas do povoado Mussuca e ervas utilizadas pelo Dona Maria. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
alívio para problemas pessoais e emocionais, tanto como para tratamento de
doenças como o Cobreiro e Fogo Selva-
gem, que causam grandes ferimentos e dores. Dona Regina é uma grande
conhecedora de ervas e da história da Mussuca, sendo também líder de um
Terreiro Nagô. Ela aprendeu o ofício
Conhecedora de Ervas No povoado Mussuca, é comum encontrar
pessoas que utilizam ervas naturais para fins
com uma irmã e teve ajuda em sonhos e
pensamentos para aprender o procedi-
mento correto para a execução de rezas.
medicinais, uma prática antiga em Laranjei-
ras. A senhora Maria Regina Santos da Silva,
por exemplo, faz o uso de diversas ervas como capim santo, tipi, pinhão roxo, manjericão,
cidreira, vassourinha, sambacatxá. Elas se
apresentam em diferentes tamanhos e cheiros, e cada uma tem uma função, seja para banho, chá ou reza. Dona Maria aprendeu com a avó e
a mãe a fazer remédios com as ervas coletadas
nos arredores do povoado e, com este conheci88
mento, pretende ajudar a população.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Dona Maria, rezadeira no Povoado Mussuca. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
Dona Maria, parteira do povoado Mussuca. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
Parteira O ofício, presente na memória dos laran-
jeirenses, refere-se à prática de realizar
Pescador Sobó em atividade. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2009
partos sem intervenção médica, na resi-
gereré serve para pegar peixes menores; a
parteira da localidade relatou que aprendeu
serve na pesca do camarão, de peixes peque-
dência das pacientes, em geral, edificações modestas do povoado Mussuca. Uma antiga
a prática com a família e que se utilizava de
instrumentos como tesoura, toalha e bacia com água.
Pescaria Pescadores de Laranjeiras pescam no Rio
Sergipe e no Rio Cotinguiba durante todo o
ano, com exceção dos meses de dezembro, janeiro, abril e maio, quando é proibida a
pesca do camarão. O produto desta atividade é diversificado e inclui: camarão, guaiamum,
caranguejo, sururu, o aratu e, entre os peixes, o robalo, a carapeba, a tainha, o bagre, a
arraia, o xaréu e a pescada. Porém, para cada
tipo de pescaria é exigido um equipamento específico: a caceia serve para pescar a tai-
nha, a curimã, o robalo, a pescada e o xaréu; o
redinha serve na captura do siri e do camarão; a tarrafa, a depender do seu tamanho,
nos ou maiores; a camboa serve para pegar
tainha, robalo e carapeba; a feiticeira, com
seus três panos de renda em uma corda, per-
mite a pesca de qualquer tipo de peixe, assim
como a rede grande; e a grozeira, que consiste em uma corda com vários anzóis, que serve na captura de bagre, arraia, mero, miroró e remuru. Embarcados ou andando pela maré,
solitários ou com seus companheiros, a pescaria guarda modos de vida que subsistem em
Laranjeiras. A atividade pesqueira é passada
de pai para filho, garantindo a continuidade de práticas e de uma fonte de renda para seus
praticantes. Hoje, devido a problemas como a ocupação desenfreada nos leitos dos rios e a
poluição, nem sempre conseguem a produção
desejada. A feira de Laranjeiras é o local onde vendem os seus produtos.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Artesanato Pesqueiro É uma atividade desenvolvida pela comuni-
dade ribeirinha do Cotinguiba, em povoados como Pedra Branca e Quintalé. O artesanato
pesqueiro de Laranjeiras produz apetrechos como redes, tarrafas, gererés e grozeiras. O
artesão, em parte, é o pescador que optou
por fabricar seus próprios equipamentos,
por isso, é pouca a comercialização em torno dos produtos gerados. Em alguns momentos,
o processo de trabalho é dividido com outros pescadores, quando há pressa em terminar uma rede, por exemplo. O artesão compra em
lojas especializadas os materiais utilizados na
confecção dos equipamentos a partir da renda
obtida na pescaria ou de doações do governo. Vários são os materiais e ferramentas de tra-
balhos usados: agulha, tabuleta, fuzu, chumbo,
faca, náilon, cortiça, anzol, corda, entre outros. A depender do tempo disponível do artífice, a fabricação de uma rede pode levar de 15 a 30 dias ou de 40 a 60 dias.
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REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
Pescador exibe a rede de pesca e instrumentos de pescaria produzidos artesanalmente. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2009
ProduÇÃo de Farinha A mandioca é a principal matéria-prima
utilizada para a produção da farinha. As casas
de farinha conhecidas são de Dona Lindinalva,
Dona Antonieta, de Tonho, Laurindo e Ireno, todas localizadas no povoado Mussuca, apesar da maioria não estar em funcionamento hoje. O plantio ocorre em roças localizadas nas ime-
diações da casa de farinha. Já a colheita é reali-
Produção de farinha de mandioca. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2010
zada após um ano, de preferência na época de São João, quando a mandioca está em ótimas
condições por causa das chuvas de inverno. A colheita antecede as etapas básicas perten-
centes à produção artesanal da farinha, que são: raspar, ralar ou cevar, prensar, peneirar e torrar ou secar. Para a realização de tais eta-
pas são necessários, no mínimo, duas ou três pessoas. A lenha e a água são necessárias para
o processo de fabricação da farinha. As ferramentas e acessórios de trabalho utilizados
são a cevadeira, a prensa, a peneira, o forno,
o rodo de madeira, o rodo de ferro, o caixote e o caçuá. Na localidade pesquisada ainda há a tradição de familiares reunirem-se para
produzirem a farinha, tanto para consumo próprio como para a venda, mas o hábito de cantar ao raspar e ralar a mandioca não ocorre
mais. Por último, após a atividade realizada,
é feita a limpeza da casa de farinha a fim de deixar o espaço organizado para a vinda dos próximos farinheiros.
Produção de derivados da farinha de mandioca. Foto: Francisco Moreira da Costa (CNFCP-IPHAN), 2017
PirÃo de Guaiamum O modo de fazer pirão de guaiamum
é tradicional no povoado Mussuca, local
onde também se adquire a principal matéria-prima no manguezal circunvizinho.
O pirão de guaiamum. Foto: Acervo IPHAN INRC, 2009 REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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Grupo Cacumbi durante o Encontro Cultural. Foto: Cacumbi, Francisco Moreira da Costa, 2011
Para saber mais DANTAS, Beatriz Góis. Devotos dançantes:
estudos de etnografia e folclore. Aracaju: Criação, 2015.
DINIZ, Diana (org.) Textos para a história de
Sergipe. São Cristovão: UFS, 2013.
IPHAN. Patrimônio cultural imaterial – para
saber mais. Brasília: Iphan, 2012.
OLIVEIRA, Filadelfo Jônatas de. Registros de
fatos Históricos de Laranjeiras, 2005.
SANTOS, Mesalas Ferreira. Performance e
Escárnio na festa do Lambe-Sujo. São Cristovão: EDUFS, 2013.
Site IPHAN: www.iphan.gov.br
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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GLOSSÁRIO Caruru: Cozido de quiabos ou carurus.
Costuma ser acompanhado de acarajé ou
abará, pedaços de carne, azeite de dendê
donatário era aquele favorecido pela cessão da terra pelos reis de Portugal, com o obje-
tivo de ocupação e povoamento do território.
e pimenta.
Epíteto: Palavra ou expressão que se associa
local certo e de forma própria.
Identidade: Não é algo inato e se refere a
Arreiar: É o ato de montar uma oferenda no Engenho Banguê: Local destinado não só
à fabricação do açúcar, com sua moenda,
caldeiras e a casa de purgar, mas que concentrava também todo o conjunto
incluindo plantações de cana, a casa de engenho (fábrica), a casa-grande, a senzala e tudo quanto pertencia a propriedade do
senhor de engenho. Foi o modelo de estru-
tura de engenho que prevaleceu no nor-
deste brasileiro.
Irmandades: As irmandades são associa-
a um nome ou pronome para qualificá-lo.
um modo de ser no mundo e com os outros.
Importante elemento na criação das redes
de relações e de referências culturais dos grupos sociais. Indica traços culturais que
se expressam através de práticas linguís-
ticas, festivas, rituais, comportamentos alimentares e tradições populares, ou seja, referências civilizatórias que marcam a condição humana.
Nagô: O nome que se dá aos negros prove-
nientes da África Ocidental, antigamente conhecida como Costa da Mina e atual-
ções religiosas católicas compostas por lei-
mente formada pela atual Nigéria, Benin
santo e possuíam, na época colonial, obje-
Portuguesa durante os séculos XVII e XVIII,
gos, ou seja, por fiéis que não pertenciam ao clero. Elas se dedicavam ao culto de um tivos assistencialistas e de ajuda mútua,
cuidando, por exemplo, do enterro dos seus sócios. Geralmente estavam divididas em segmentos sociais. 94
Donatário: Durante o período Colonial, o
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
e o Norte do Togo. Eles falavam ou entendiam o Iorubá e foram trazidos à Colônia durante o sistema escravocrata.
Orixá: Designação das divindades cultuadas pelos iorubás, que foram trazidas para
o Brasil pelos negros escravizados e aqui
incorporadas por outras religiões. Os orixás
seriam elementos ancestrais divinizados que se transformaram em elementos da natu-
reza, como rios, árvores, pedras etc., e que se
fazem de intermediários entre os homens e as forças naturais e sobrenaturais.
Rito: Conjunto das cerimônias que usualmente se praticam numa religião.
Sesmaria: Terras no litoral brasileiro cedidas pelos reis de Portugal aos novos povoadores, que conduziram ao extermínio várias etnias indígenas.
Vila: Era a designação usada no Período Colonial e Imperial, quando a localidade adqui-
ria a sua autonomia político-administrativa, passando a constituir uma câmara de vereadores, pelourinho e cadeia pública.
Yalorixá: Líder espiritual de religiosidades de matrizes africanas considerada a mãe
e a responsável pelos ritos desenvolvidos no terreiro.
Sincretismo: Adaptação de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos pelos envolvidos.
REFERÊNCIAS CULTURAIS EM LARANJEIRAS SERGIPE
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