Vox Populi - Yan Baz

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VOX POPULI Yan Braz



[ ] “Foi muito bem dito, a respeito de um certo livro alemão, que “er lässt sich nicht lesen” — ele não se deixa ler. Há certos segredos que não se deixam

contar”.

Assim

inicia-se

o conto ‘O homem da multidão’, de 1

Edgar Alan Poe, escrito em 1840 e que tem como palco a cidade. O ponto de partida da narrativa é, também, sobre essa infelicidade de não poder estar sozinho. Cidade, esse lugar onde os sentimentos de solitário 2

e solidário podem ser simultâneos. Placas de trânsito, placas comerciais, anúncios em papel colados em postes,

propagandas

entregues

em

mãos, pichações: todos são grafias urbanas. Na profusão informativa presente no tecido urbano- uma confusão gráfica crescente em formato caos residem palavras soltas e difusas em estado de abandono à espera de alguma decodificação. Essas expressões anônimas do ‘pensamento do povo’-Vox Populi-habitam as paredes da cidade, 1 POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. Seleção, tradução e apresentação de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 258-267. 2 Em referência à discussão ocorrida entre Giulio Carlo Argan, Bruno Zervi e Raymond Lopez, sobre o espaço urbano e arquitetura, no Congresso Internacional de Críticos de Arte (AICA), em 1959, realizado em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Ver: Anais do Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, 1959.

com seu consentimento voluntário. No calmo e inquisitivo interesse por tudo - como o narrador do conto de Poe - Yan Braz, caminhante da cidade e leitor urbano, capta o dissenso nas vozes e oferta, aqui, estudos gráficos transcritos para o impres-



so de um universo-diverso-múltiplo dos vocábulos da cidade. A linguagem desordenada da escrita da rua, em sua unidade mínima vocábulo, é a ordem do discurso das palavras recombinadas na sintaxe Vox Populi. Os vocábulos coletados na cidade, esse

autêntico

flanêur

como

chão

sagrado

profetizou

do 3

Benjamin,

é espaço imperfeito perfeito para a divagação. O estado de desorientação de longas caminhadas diárias do artista é impulso para o tempo lento da percepção das palavras desamparadas nos muros da cidade. Nos escritos instantâneos da rua, habitat do coletivo, flagra-se um espaço político [ fora – calamidade – sistema ]. As palavras contém o acúmulo 4

desigual dos tempos, em suas rápidas mutações, e são fantasmagorias do cotidiano nos escombros da urbe. Orquestradas pelo anonimato de autores sem nome, a linguagem escrita da cidade assume qualidade de imagem na paisagem urbana, envolvendo o vazio e diferentes texturas. WYSIWYG é o acrônimo da expressão 3 BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. 3a . ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 4 SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

em inglês ‘what you see is what you get’. A locução refere-se à capacidade de um programa de computador permitir que um documento, enquanto manipulado na tela, tenha a mes-



ma aparência na sua forma impressa. Na ação do artista de conferir alguma legibilidade na grafia da cidade em que (com)vive e agora está impressa aqui, há coisas que não se deixam ler; segredos que não se deixam contar. Vox Populi é uma sintaxe WYSI(not)WYG - ‘what you see is (not) what you get’. E está disponível para novos embaralhamentos de vocábulos e outras construções, em aberto [volta - e - fala - peita]. A

cidade

é

um

espaço

expositi-

vo disponível, com chão de asfalto, paredes muros e teto céu. Vox Populi daqui contém uma voracidade voyeurística [ cria - mundo], fome de urbe de Yan Braz, que reafirma o espaço da cidade em sua dimensão viva de relacionalidade inerente ofertada para processos artísticos. O livro é uma exposição, nômade, movente, sem data para se encerrar [um-infinito]. Michelle Sommer

















































Título: Vox Populi Autor: Yan Braz Edição: 1 Projeto gráfico e capa: Cachimbo - ensaios gráficos Fotografias: Yan Braz Formato: 20x25cm Idioma: Português Fontes: OCR A Std Regular e Keep Calm Medium Regular Papel: cartão supremo 300 g/m² (capa) e offset alta alvura 120 g/m² (miolo) Número de páginas: 56 Tiragem: 100 Ano de publicação: 2017 ISBN: 978-85-923052-0-8 Impressão e acabamento: Trio Studio|RJ Caminhadas realizadas de 9 de janeiro a 30 de março de 2017 na cidade do Rio de Janeiro.





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