Jorge Adolfo de Meneses Marques, Paços do Concelho - 100 anos (Câmara Municipal de Viseu)

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paรงos do concelho

100 anos


Índice

Paços do Concelho | 100 Anos

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Almeida Henriques

Edição

Câmara Municipal de Viseu | 2016 c Autores

Odete Paiva Jorge Adolfo M. Marques José Pais de Sousa e José Simões Fotografia

José Alfredo Cartografia

Câmara Municipal de Viseu

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ISBN: 978-972-8215-52-1 Depósito Legal: 411931/16

O Edifício que estrutura a Cidade Nova Odete Paiva

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José de Almeida e Siva: o pintor da Beira

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Viseu: uma cidade em construção Jorge Adolfo M. Marques

Composição e produção gráfica

Trapézio de Ideias

Um património vivo da Cidade Antiquissima e Nobilissima

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Evolução cartográfica da cidade de Viseu. Notas explicativas acerca das diversas plantas topográficas, levantamentos aerofotogramétricos e cartografia digital da cidade de Viseu.

José dos Santos Simões e José Alberto Pais de Sousa


Um património vivo da Cidade Antiquissima e Nobilissima

Os Paços do Concelho são hoje um património arquitetónico

Viseu e a sua paisagem urbana são, assim, o fruto de uma his-

e artístico muito relevante de Viseu e um testemunho de uma época

tória de transformações com mais de 2500 anos. Fruto que nos or-

reformista e de modernização da cidade.

gulha e que hoje constitui um valor de identidade comunitária e um

Edifício marcante da Praça da República da cidade do Século XX, é, para além disso, a Casa da Democracia, a casa de todos nós.

fator de desenvolvimento cultural, social, económico e turístico. O imponente edifício de sóbria fachada neoclássica, ao gosto

Por esse motivo, a Câmara Municipal de Viseu promove esta

da época, e as grandiosas decorações do interior do edifício mere-

publicação, ao lado de outras iniciativas, como a realização, abso-

cem um novo ou um segundo olhar – uma redescoberta. Nomeada-

lutamente pioneira e inédita, de visitas guiadas regulares, numa

mente os painéis de azulejo que ladeiam a escadaria, e o medalhão

atitude de porta aberta para que viseenses e turistas conheçam e

central e a galeria de retratos de viseenses ilustres no teto, da auto-

vivam os Paços do Concelho, o seu património rico e a sua história

ria do ilustre pintor viseense Almeida e Silva.

(e estórias).

A pintura central, no teto da escadaria, é uma alegoria à gló-

O que o Rossio e os Paços do Concelho são hoje desenhou-se

ria e fama de Viseu, que representa três musas, uma das quais se-

há 140 anos, despontava um momento de mudança e evolução, com

gura o brasão da cidade, onde se pode ler “Antiquissima e Nobilissima”,

ideologias progressistas a emergir no país e, na cidade, um pioneiro

título atribuído a Viseu no século XIX.

e reformista “Plano de Obras Municipais”, a partir do qual nasceu

Cem anos depois, os Paços do Concelho, a história da sua

o nosso “Mercado 2 de Maio”, as ruas Formosa e do Comércio e o

edificação, a sua arquitetura, pinturas e as decorações são um mar-

emblemático edifício da Câmara Municipal no Rossio.

co histórico e cultural de Viseu, que se inscrevem no coração de uma cidade antiga e moderna. Visite, redescubra, partilhe a nossa história com 2500 anos! Viseu, sempre Antiquissima e Nobilissima. Almeida Henriques Presidente da Câmara Municipal de Viseu


O EdifĂ­cio que estrutura a Cidade Nova

Odete Paiva


paços do concelho

A Câmara Municipal de Viseu localizou-se, até ao final do séc

A aparente normalidade na vida da cidade não esconde a neces-

XVIII, mais precisamente até ao dia 9 de agosto de 1796, na Praça do

sidade que, desde o incêndio, se colocava: a urgência da reconstrução

Concelho, atual Praça D. Duarte, data em que o edifício foi destruído

ou substituição do edifício dos Paços do Concelho. Sempre que a op-

por um violento incêndio. Desse edifício sabe-se que foi construído, ou

ção ia no sentido de construir um edifício novo, a sua localização ge-

talvez reconstruido, para esse efeito, entre 1578 e 1580, por iniciativa do

rava uma enorme polémica, com os mais conservadores a defenderem

Corregedor Domingos Borges da Costa e que, para além dos serviços

que este devia ser construído no mesmo local do anterior, enquanto

municipais, acolhia também o Tribunal e a Cadeia. A construção desse

outros preferiam localizações mais inovadoras, como o Largo de Santa

edifício coincidiu com o reinado do Cardeal D. Henrique e por conse-

Cristina, o Rossio de Santo António, ou mesmo o terreiro da Feira.

quência com o final da segunda dinastia. Neste período, as divergências

Apesar da falta de consenso, quanto à localização do novo edifício, na

relativas à sucessão ao trono de Portugal agudizavam-se e os portugue-

sessão de 6 de maio de 1797, a Câmara delibera lançar o imposto de um

ses tomavam posições de acordo com as suas preferências. Neste con-

real, por cada canada de vinho e arrátel de carne, para custear a obra.

texto podemos propor um novo entendimento sobre essa construção

A chegada das invasões francesas à cidade levou à interrupção

e atribui-la à vontade de dignificar e prestigiar os poderes públicos da

desta discussão, tendo sido retomada entre 1814 e 1818 apesar de, tam-

cidade, dando-lhe maior relevância no contexto nacional e peninsular.

bém neste período, não ter sido possível chegar a um consenso sobre

Apesar do trágico incêndio, o centro urbano mantém-se e a Pra-

a localização mais adequada. A partir de 1820 o país e, naturalmente a

ça do Concelho continua a ser o centro da cidade. Nela localizam-se

cidade, entram num novo período: o liberalismo, que leva à transfor-

os principais espaços comerciais, realiza-se o mercado e permanecem

mação das instituições e da organização política, o que de algum modo

alguns serviços municipais, ainda que instalados em casa arrendada.

contribuiu para a secundarização desta causa.

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Só na sessão de 1 de abril de 1852 é que a Câmara retoma o assunto

sidente da Câmara entre 1734-1738, mandou edificar uma Casa da

do edifício dos Paços do Concelho, ficando o escrivão incumbido de fazer

Câmara, na Ribeira, para lá da ponte, junto à Capela de Nossa Se-

o levantamento de todas as deliberações tomadas até então, e da existên-

nhora da Conceição. Este edifício foi demolido apenas aquando da

cia ou paradeiro da receita recolhida, com o imposto lançado em 1797.

abertura da estrada para S. Pedro do Sul. Apesar disso, durante todo

Apesar do empenho, a solução parecia impossível de encontrar, as divergências quanto ao local eram irredutíveis, não só entre as su-

este período a casa não aparece referida como solução para instalar os serviços municipais.

cessivas Câmaras, mas mesmo dentro da vereação de cada uma delas.

É na sessão de 24 de maio de 1876 que a Câmara apresenta um

Não obstante, o assunto era constantemente referido e discutido, che-

plano de obras municipais e os meios para o realizar. Dessas obras des-

gando mesmo a Câmara a promover, em dezembro de 1875, uma reu-

tacam-se a construção do edifício dos Paços do Concelho e do merca-

nião geral da população, na esperança de aí ser possível encontrar um

do 2 de maio, as obras da Rua Formosa, a abertura da Rua Dr. Luís Fer-

consenso, o que também não veio a acontecer.

reira e do Comércio, entre outras. A aprovação dos meios, recorrendo a um empréstimo de 75 contos de Reis, foi relativamente consensu-

Durante cerca de um século os serviços municipais percorreram

al, prevendo um gasto de cerca de 35 a 40 contos, para a construção

vários espaços da cidade. Neste périplo destaca-se em 1804 o arren-

dos novos Paços do Concelho. Já a questão da sua localização voltou

damento de uma casa na Praça do Concelho; em 1815-1816 a instala-

a gerar grande controvérsia. Para ultrapassar esta situação a decisão

ção numa casa na Santa Cristina; em 1826 regressou à Praça; em 1835

definitiva foi deixada à responsabilidade de uma comissão constitu-

a Câmara requereu a casa da extinta ordem dos Néris, onde ficaram

ída pelo presidente João Ribeiro Nogueira Ferrão, o vice-presidente

instalados os vários serviços públicos até 1841. Nesse mesmo ano a Câ-

Joaquim José de Andrade e Silva e o vereador João Pereira Vitorino.

mara instalou-se, assim como todos os serviços públicos, no Paço dos

Esta comissão apresentou, como proposta, que o edifício dos Paços do

Bispos, no Adro da Sé. Em 1852 estendeu-se até à “casa do cimo da

Concelho fosse construído na Quinta do Massorim e casa e quintal do

calçada”, junto à Igreja da Misericórdia; em 1871 mudou novamente de

conde de Fornos. A proposta foi aprovada em 19 de julho 1876. Este

instalações, ocupando a casa de Manuel Mendonça Falcão, na calçada,

plano permitiu que a cidade crescesse e criasse uma nova centralidade

onde permaneceu até à mudança definitiva para o atual edifício.

- A Cidade Nova - resultante de opções urbanísticas, que consubstan-

Esta constante mobilidade dos serviços municipais torna-se

ciam novas políticas públicas que vieram melhorar a qualidade de vida

incompreensível uma vez que o Dr. Álvaro José Saraiva Beltrão, Pre-

dos viseenses e permitir o desenvolvimento e planeamento da cidade.

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Exteriormente o edifício apresenta-se simétrico e funcional de inspiração neoclássica, com planta em U, constituído por dois pisos. A fachada segue o esquema de simulação de três corpos: o central, mais intensamente decorado, apresenta no segundo piso três varandins com balaústres e é encimado por um frontão triangular, onde se inscreve o brasão da cidade; os corpos laterais são constituídos pela alternância entre pilastras de feição clássica e janelas com cantaria, que se destacam no fundo branco, coroados por uma balaustrada que confere unidade ao edifício. O portão principal, no centro da fachada, assim como as grades das janelas e gateiras que o ladeiam têm desenho da autoria do Arq. Belmiro Magalhães Leal (1880-1933) de Viseu. É de realçar que a execução destas peças foi feita na primeira oficina de serralharia a vapor, que existiu em Viseu, na Rua da Cadeia, propriedade de João Rodrigues de Figueiredo (1836-1917) de S. Cipriano, concelho de Viseu.

Decorridos 80 anos, desde o incêndio que destruiu o edifício

nalmente, chegar o fornecimento dos primeiros materiais. A cons-

da Câmara Municipal, foi encomendado ao Eng. José de Matos Cid o

trução arrastou-se por quase quatro décadas, quer pela dimensão e

projeto para o novo edifício. Este foi apresentado e aprovado na sessão

exigências do edifício, que por vezes dificultaram o avanço da obra,

O relógio original foi construído por Fortunato de Figueiredo

de janeiro de 1877.

quer pela imprevista falta de verba, ou ainda por desentendimentos

(1873-1936), com um maquinismo sensível e complicado, pelo que foi

com os empreiteiros, referentes à qualidade dos materiais e da mão

substituído por um mais moderno e simples.

Com esta proposta começa então a surgir o primeiro edifício

de obra utilizada. A construção começou por ser dirigida por Fer-

público da cidade, destinado a alojar todas as repartições. A primeira

nando Victor Mendes de Almeida e prosseguiu sob a orientação do

No interior destaca-se a escadaria construída em granito claro,

pedra é colocada a 24 de setembro de 1877 mas, a obra, só se ini-

Diretor de Obras Públicas do Distrito, Coronel António Cazimiro de

de grão miúdo, das pedreiras de Travanca de Bodiosa, composta por

cia verdadeiramente em 1879, depois de vencida a questão judicial

Figueiredo.

três lanços, o último dos quais geminado.

com o conde de Fornos, quanto ao preço da expropriação e de, fi-

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Cada degrau apresenta a particularidade de ser construído numa peça única, com cerca de 4 metros. O remate da escadaria e do segundo piso é feito por quarenta e cinco balaústres, também de granito claro, que confere ao espaço uma sobriedade contrastante com a explosão cromática da azulejaria que a acompanha nos diferentes pisos. Merece também especial destaque o trabalho em estuque dos tetos do edifício, especialmente no salão nobre, realizado por António Nogueira Enes Valente, onde se evidencia o delicado trabalho do brasão da cidade. As portas de madeira entalhada, que dão acesso ao salão nobre, são do mestre António Loureiro (1861-1931) de Ranhados Viseu. Já o mobiliário da sala da presidência foi executado por Álvaro Loureiro (1888-1966) também de Viseu.

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A ladear as portas do salão nobre encontram-se duas cartelas em relevo que ostentam excertos de dois cantos de “Os Lusíadas”. 1 Porque dos feitos grandes, da ousadia Forte e famosa o mundo está guardando O premio lá no fim bem merecido, Com fama grande e nome alto e subido. Canto IX, Est. LXXXVIII

2 Porem não deixa emfim de ter disposto Ninguem a grandes obras sempre o peito; Que, por esta ou por outra qualquer via,

Após a fase de edificação, o então executivo municipal decidiu,

Não perderá sem preço e sua valia.

em 1909, entregar ao pintor viseense José de Almeida e Silva a respon-

Canto V, Est. C

sabilidade do acabamento artístico do átrio. O exuberante trabalho

A escolha destes versos, que apelam à nobreza e glória são revela-

realizado desenvolve-se em dois períodos históricos distintos: final

dores da grandeza e ousadia que se espera de quem ocupa aquele espaço.

da Monarquia e anos iniciais da República, facto que condicionou as opções do artista e atrasou a execução da obra. Apesar das vicissitu-

O candeeiro de ferro forjado, que se encontra no centro do átrio,

des do seu tempo Almeida e Silva deixa patente, neste trabalho, a sua

é da autoria do mestre viseense Arnaldo Malho (1880-1960) e constitui

genialidade e versatilidade, expressa tanto no domínio dos materiais

um exemplo da superior qualidade do seu trabalho. No final da década

como das técnicas artísticas.

de 80 do séc. XX foram colocados dois apliques no átrio executados por

Começou por executar a pintura central do átrio, onde uma

Joaquim da Silva Marques (1956) de Vil de Soito. Os quatro candeeiros

alegoria de gosto neoclássico, mostra a Pátria exibindo o brasão da ci-

que encimam as colunas ao longo da escadaria foram desenhados pelo

dade “Antiqua e Nobilíssima”, enquanto a Glória o envolve com folhas

Arq. Fernando Gordo e executados por António Ferreira (1917-1997).

de palma e coroa de louros, para a Fama, elegante e veloz, apregoar as

Estas novas propostas harmonizam-se com as soluções anteriores.

excelências desta cidade.

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Integram também este conjunto vinte e quatro retratos de

ciências: um monarca, cinco escritores, quatro guerreiros, três pinto-

ilustres beirões, que ao longo dos séculos contribuíram para a cons-

res, dois historiadores, dois revolucionários, dois beneméritos, um ge-

trução e engrandecimento da história da cidade. Apesar da evidente

ografo, um parlamentar, um bibliófilo, um orador e um poeta. Dada a

unidade estética, deste conjunto, a definição das personalidades que

importância de cada um destes viseenses, na história e na memória da

o integram suscitou grandes discussões, agudizadas pela mudança

cidade, apresentamo-los detalhadamente, transcrevendo as biografias

de regime, verificada em 1910. As personalidades escolhidas, depois

elaboradas por Almeida e Silva e publicadas no jornal “Commercio de

de grandes hesitações, representam diferentes sensibilidades, artes e

Viseu”, 13 de agosto de 1916.

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Viriato (+ em 140 A.C.) – Defensor da independencia da Lusitania perante a opressão de Roma, assassinado á traição 140 annos antes de Christo. Natural desta região de entre Estrella e Caramulo, combateu durante 12 annos victoriosamente os romanos, matando-lhes o seu pretor Caio Nigidio, junto ao entrincheiramento hoje chamado Cava de Viriato.

D. Duarte (1391-1438) – O rei eloquente, filho de D. João I, nasceu em Viseu nos Paços da rua da Cadeia, na ocasião em que se pae aqui veio celebrar côrtes, sendo baptisado na Sé e tendo sido seu padrinho o bispo visiense D. João Homem. Foi um monarcha bondoso e illustrado, se bem que de reinado breve e infeliz. Cultor das lettras, escreveu o Leal Conselheiro e o Livro de ensenança de bem cavalgar toda a sella.

Fernão Lopes (Seculo XV) – Esforçado homem d’armas que tomou parte gloriosa na empresa de Arzilla, onde comandou 300 cavalleiros bésteiros visienses, sendo ahi feito cavalleiro fidalgo pelo rei D. Affonso V. Este facto constava de um letreiro que existiu na demolida porta de S. Miguel, dos muros desta cidade.

Gonçalo Bandeira (Seculo XV) – Foi cavalleiro muito esforçado no tempo de D. Affonso V. Salvou heroicamente o estandarte real na batalha de Tóro, pelo que os seus descendentes se appellidaram Bandeiras.

Vasco Fernandes (Seculo XVI) – O celebre pintor quinhentista visiense Grão Vasco, auctor das jóias artísticas que se guardam na nossa cathedral. Este artista, mais do que uma gloria visiense, é uma fulgurante gloria nacional. Ainda um dia o bronze perpetuará a memoria deste genio, em monumento erigido no adro da Sé.

Luiz do Loureiro (+ em 1553) - O grão-capitão, foi um dos mais distinctos cabos de guerra do seculo XVI, comendador da Ordem de Christo, do conselho de el-rei D. João III, senhor do solar do Loureiro, etc. Militou na Africa durante 43 annos, sendo morto gloriosamente com seu filho de 14 annos, combatendo os moiros.

João de Barros (1496-1570) – Illustre escriptor portuguez, filho de Viseu, auctor das Décadas da India. É um dos primeiros nomes da literatura classica portuguesa. A sua fama foi europeia, chegando o papa Julio X a mandar tirar o seu retrato, que collocou no Vaticano ao lado do de Plutarcho e d´outros escriptores da antiguidade.

Gaspar Barreiros (+ em 1574) – Conego da Sé Viseu, sobrinho de João de Barros. Foi escriptor, geographo e antiquario muito distincto, inquisidor em Evora e por ultimo religioso franciscano no convento de S. Francisco de Orgens, com o nome de Frei Francisco da Madre de Deus. Foi um dos portugueses mais ilustres do seu tempo.

Dr. Botelho Ribeiro (Seculo XVI) – Escriptor visiense, grande bairrista, auctor dos Dialogos moraes e politicos e fundação da cidade de Viseu, manuscripto vulgarmente conhecido por Codice de Girabôlhos. Foi ainda parente de Gaspar Barreiros. Berardo, Pedro Ferreira, Aragão e todos os que escreveram sobre a cidade de Viseu, compulsaram detidamente a obra deste escriptor, que muito consideram. Do seu livro existem o original e duas copias na bibliotheca do Porto, uma das quaes devia vir para a nossa bibliotheca municipal.

José de Mello Castro e Abreu (1774-1829) – Governador das Armas da Beira, foi um dos factores da revolução de 1820. Sendo um fidalgo de velha linhagem, não hesitou em calcar os seus preconceitos de nobreza antiga, transformando-se num revolucionario da liberdade, num dedicado amigo de Fernandes Thomaz. Foi seu filho primogenito o Conde de Santa Eulalia, no qual se extinguiu a sua geração.

Baronesa da Silva (Seculos XVIII-XIX) – A grande liberal visiense, da illustre familia Mendes, de Viseu, que, pela sua dedicação á causa liberal foi culpada e presa pelo governo de D. Miguel, sendo os seus bens confiscados e condemnada á morte, na Praça Nova do Porto, havendo sido libertada da prisão pelo exercito liberal, quando entrou n´alquela cidade. Durante a guerra, organisou, municiou e sustentou á sua custa um regimento de cavallaria. Á sua protecção e bens de fortuna muitos perseguidos politicos deveram a vida, entre os quaes o pintor Almeida Furtado.

Dr. João Victorino (1777-1854) – Distincto poeta, escriptor e grande liberal visiense, cujo prestigio era tanto, que se impunha aos proprios realitas, podendo assim proteger muitos perseguidos politicos, facultando-lhes o poderem acolher-se ao exercito liberal, que batalhava no Porto. Silva Gaio faz menção destes factos no seu admiravel romance historico Mario. O medico João Victorino foi deputado ás Constituintes de 1820.

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José de Almeida Furtado (o Gata) (1778-1831) – Notavel pintor visiense e grande liberal, perseguido homisiado e condemnado á forca. Faleceu sem assistir ao triumpho da causa liberal, pela qual foi um verdadeiro martyr. A sua principal obra artistica está em Salamanca, onde casou e viveu largos annos. Em Viseu existem deste pintor diversos retratos, bandeiras d´irmandades, decorações e paineis religiosos. Este pintor foi um miniaturista insigne, havendo d´elle, neste genero, verdadeiras obras primas.

Dr. Antonio Nunes de Carvalho (1786-1867) – Foi lente da Universidade e um distincto bibliophilo. Nasceu na rua Direita desta cidade. Como quasi todos os portugueses esclarecidos do seu tempo, bateu-se pela independencia contra os franceses e depois contra os oppresores da Constituição. Atravez da sua vida agitada e brilhante nunca deixou de amar a sua terra natal, a quem legou todos os seus livros, com que se formou a bibiotheca publica desta cidade.

José de Oliveira Berardo (1805-1862) Distincto escriptor publico e notavel antiquario. Foi um encyclopedico, pois foi paleographo, latinista, archeologo, jurista, naturalista, philologo, medico, engenheiro, mathematico, historiographo, theologo, philosopho e musico. Foi tambem liberal perseguido, por cujas ideias passou três annos na prisão. Foi alferes de milicias, depois padre, vigario de Ribafeita, conego da Sé de Viseu, professor, vereador municipal, administrador do concelho, reitor do lyceu.

Antonio José Pereira (1821-1895) – Pintor visiense contemporaneo, muito distincto. A sua vida foi um longo e exemplar esforço de vontade, impressionante e commevedor. Cultivou a sua parte quasi sem ensinamentos alheios, tendo deixado retratos e paineis religiosos onde se revelam qualidades muito apreciaveis, que fariam d´elle um dos primeiros pintores portugueses, quando munido com estudos completos de arte, e exercendo a sua actividade num desenvolvido meio civilisado. Tambem foi por largos annos distincto professor de desenho no lyceu de Viseu.

João Mendes (1822-1881) – Escriptor publico, jornalista e grande homem de bem. Publicou o drama em quatro actos A santificação do trabalho, o Esboço biographico do general Padua (Visconde de Tavira), e escreveu a Memoria biographica do tenente-rei da Praça de Almeida, seu tio-avô. Foi tambem orador distincto e, dirigiu nobremente em Viseu a politica do seu tempo, pelo que o appellidavam o rei João. Foi fundador e redactor do Liberal e do Jornal de Viseu, e collaborou em muitos jornaes politicos e litterarios do paiz. Neto da baronesa da Silva, foi, como sua avó, um sincero e avançado liberal.

J. Almeida Martins (1827-1899) – Orador sagrado dos mais brilhantes do seu tempo, professor, poeta e humorista. O seu nome tornou-se conhecido por todo paiz. O conego Martins foi um orador de raça, uma grande figura do pulpito, que, vivendo n`outro meio e n`outra epocha, desenvolveria largamente as suas superiores faculdades, de modo a constituir não só a honra de uma cidade de provincia, mas até a do paiz inteiro.

Dr. Antonio da Silva Gaio (1830-1870) – Distincto escriptor publico e lente de medicina na Universidade. Nasceu em Viseu, na rua Direita. Escreveu o bello romance histórico Mario e o drama Pr. Caetano Brandão. Redigiu diversos jornaes politicos e litterarios do paiz. Deixou no Mario expressa a sua alma de patriota e seu grande talento de escriptor. Se não morresse tão novo, (aos 40 annos) a patria portuguesa viria a registar o seu nome entre os dos mais notaveis e fecundos romancistas contemporaneos.

Thomaz Ribeiro (1831-1900) – Estadista, poeta notavel e portuguêz honesto, auctor do patriotico e bello poema D. Jayme e d´outros livros de versos. Nasceu em Parada de Gonta perto de Viseu, cidade de que elle sempre se considerou filho. O seu nome, por assaz conhecido em Portugal, dispensa maior apresentação.

Emygdio Navarro (1844-1905) – Estadista e jornalista notavel. Nasceu em Viseu, na rua do Arco. Foi um dos ministros de Estado de mais iniciativa que temos lido. Como jornalista, deixou nas Novidades bem afirmado o seu altissimo valor, onde, com os seus artigos, formava e dirigia a opinião publica do paiz.

Viscondessa de S. Caetano (1847-1888) – Senhora das mais distinctas e illustradas de Viseu, descendente da familia Mendes. O palacete da sua quinta de S. Caetano foi no seu tempo um verdadeiro centro intellectual. Generosa protectora dos velhinhos invalidos, consagrou toda a avultada fortuna á bella instituição de caridade que orna Viseu, o que impõe para todo o sempre á gratidão e homenagem publicas.

Alberto Sampaio (1876-1904) – Operario typographo, coração diamantino, intelligencia superior, jornalista, orador propagandista e dramaturgo, constituiu a condensação mais elevada dos sentimentos nobres e generosos do povo. Gastou a sua breve vida a combater sem tregoas pelos direitos dos opprimidos e defendendo e orientando a causa operaria. Fundou A Voz da Officina. A sua figura, que é idolatrada – e com razão – pelo povo, deve constituir sempre para este um grande exemplo a seguir.

Dr. Antonio Henriques da Silva (1851-1906) – Nasceu perto de Viseu. Foi orador eloquente, escriptor publico, poeta e jornalista liberal, notavel jurisconsulto criminalogista e distincto lente da Universidade. Falecido ha poucos annos, todos nós admirámos os fulgôres do seu privilegiado talento e respeitámos a integridade do seu caracter de verdadeiro spartano. Da sua funda orientação liberal e democratica, deixou o vehemente poemêto de combate O Jesuita, que ele com tanto calor recitava.

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A decoração da escadaria acompanha a estrutura do edifício

A necessidade do espaço fez com que, à medida que se conclu-

O edifício da Câmara Municipal, iniciado em 24 setembro de

dividindo-se igualmente em três lanços, o último dos quais, geminado,

íam determinadas áreas, estas fossem ocupadas pelos serviços a que

1877 criou uma nova centralidade que foi determinante para o desen-

envolvendo ao nível do segundo piso a entrada do salão nobre. Todo o

se destinavam. A notícia da instalação do primeiro serviço no edifício

volvimento urbanístico da cidade e para o aparecimento de um vasto

espaço é revestido por azulejos, cujos cartões foram criados por Almei-

consta da ata de julho de 1885 e refere-se à transferência do Tribunal

conjunto de edifícios, dos quais destacamos, a Casa do Rossio ou Pa-

da e Silva e executados na Fábrica Fonte Nova, de Aveiro, entre 1910 e

da Comarca, do Paço dos Bispos, no Adro da Sé, para o salão do novo

lacete do Conselheiro Afonso de Melo e o Banco de Portugal, pela sua

1911. Deste conjunto destaca-se o painel com o brasão da cidade, assim

edifício e respetivas dependências. Sucessivamente foram-se instalan-

importância na definição da praça. A construção foi concluída e, a 13 de

como os que evocam a agricultura e a indústria artesanal, principais

do os serviços das Conservatórias, Juntas de Freguesia, Delegação Es-

agosto de 1916, ainda que de forma modesta, é feita a sua inauguração.

ocupações das gentes do concelho.

colar, Repartição de Finanças e Biblioteca Municipal.

Depois de um longo trajeto e muitas vicissitudes, do projeto

Como elemento de ligação surge um friso com decoração vege-

inicial resultou mais do que o edifício dos Paços do Concelho. Ele re-

talista constituída por folhas de palma, grinaldas e festões que dão à

presenta também uma mostra daquilo que na época o concelho tinha

escadaria um permanente ar festivo.

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de melhor: os materiais, os mestres, os artistas, as opções estéticas e a iniciativa e ousadia de uma cidade que se queria modernizar. Assim, pela sua importância arquitetónica e simbólica assinalamos o seu centenário. Bibliografia Aragão, M. (1928) Viseu (Provincia da Beira: subsídios para sua história desde fins do século XV: instituições políticas - 1ª parte), Porto. Cruz, J. e Costa, B., Monumentalidade Viseense (2007), Viseu. Jornal “Commercio de Viseu”, 13 de agosto de 1916. Lucena, A. (1967) Revista Beira Alta, Assembleia Distrital de Viseu. Revista Viseu Municipalis (1988), Câmara Municipal de Viseu.

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JosĂŠ de Almeida e Silva: O pintor da Beira


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José de Almeida e Silva nasceu em Viseu, a 15 de novembro de 1864. No ano de 1882, com 18 anos, iniciou a sua formação numa das mais conceituadas academias do país – Academia de Belas Artes do Porto. Como aluno desta academia recebeu vários prémios e distinções na área do desenho e da pintura e participou também em exposições realizadas pelo Grémio Literário, onde viu os seus trabalhos serem distinguidos com menções honrosas. Durante esta passagem pelo Porto colaborou ainda como caricaturista e ilustrador, em jornais semanários de difusão nacional. Terminou o curso em 1890 e regressou a Viseu. Uma década depois, no ano de 1900, é nomeado professor de desenho ornamental e modelação da Escola Industrial de Grão Vasco, mais tarde, Escola Secundária Emídio Navarro. A sua criação em muito se deve ao grande empenho de Almeida e Silva junto da imprensa local, onde “fazia propaganda sobre tal assunto, para elucidar a opinião pública e os interessados, que desconheciam a sua vantagem”(1) e simultaneamente junto do Governador Civil, Sr. José Vitorino de Sousa e Albuquerque, (1) Commercio de Vizeu, 25 de Janeiro, 1900

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para que este apresentasse o projeto superiormente. A sua atividade

um novo conceito de ensino e para uma escola menos elitista e menos

no quadro conceptual do naturalismo. O seu percurso é permanen-

Monumentos Nacionais e em 1903, para sócio correspondente da Real

docente passou também, a partir de outubro de 1919, pela Escola de

teórica.

temente pontuado pela apresentação pública dos seus trabalhos, em

Associação dos Arqueólogos e Arquitetos de Lisboa. Em 1921, é um dos

Vidreiros da Marinha Grande, mais tarde Escola Industrial Guilher-

É, na cidade de Viseu, que Almeida e Silva permanece a maior

exposições locais, nacionais e internacionais, nas quais é distinguido

fundadores do Instituto Etnológico da Beira participando na realiza-

me Stephens, onde lecionou a disciplina de desenho. Almeida e Silva

parte da sua vida e onde, paralelamente à atividade docente, criou e

com prémios muito significativos em França e no Brasil. Com efeito,

ção periódica do “Congresso Beirão”.

instalou-se na Marinha Grande numa fase em que a indústria do vidro

manteve um atelier com uma intensa produção. Em 1910 este locali-

foi distinguido com uma menção honrosa na Exposição Universal de

Almeida e Silva contribuiu, de forma decisiva, para o desenvol-

estava em expansão, com a chegada de novas ideias e empresários, que

zava-se numa das salas da Câmara Municipal, pela circunstância de, à

Paris, 1900; com uma menção honrosa na Exposição comemorativa

vimento da sociedade viseense sua contemporânea, tanto no que se

investiam na formação dos seus operários, para tornar a produção mais

época, estar a desenvolver a decoração do átrio do edifício. Neste espa-

da abertura dos Portos Brasileiros, 1908; com a medalha de prata na

refere ao ensino, como às artes.

competitiva e inovadora. Num meio aberto à inovação e à criatividade

ço também dava aulas de pintura, que contribuíram para a criação de

Exposição Internacional do Rio de Janeiro, 1922; e com a medalha de

Almeida e Silva trabalhou entusiasticamente, o que lhe valeu, em 1922,

um enorme prestígio, que levou Almeida Moreira, fundador e diretor

ouro da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1939.

a nomeação para diretor da escola, lugar que ocupou até abandonar o

do Museu Grão Vasco, a designá-lo como o “Pintor da Beira”.

Faleceu em Viseu, em outubro de 1945, mas a sua obra continua a dignificar e engrandecer a cidade.

Da atividade desenvolvida por Almeida e Silva merece também

ensino em 1925. Deste percurso docente fica-nos a imagem de um pro-

Almeida e Silva, com o seu espírito intempestivo e inovador,

especial destaque a participação em instituições de âmbito local e na-

fessor empenhado e atento às solicitações e expetativas da sociedade,

era notado e reconhecido na cidade. A sua obra é marcada por uma

cional, ligadas à proteção da arte e ao património. Destaca-se, em 1902,

capaz de contribuir, de forma decisiva, para a criação e afirmação de

imensa produção, que evidencia um registo sincero, desenvolvendo-se

a sua nomeação para vogal correspondente do Conselho Superior dos

Bibliografia Paiva, O. (1996). Almeida e Silva, Pintor. IPM, Lisboa

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Viseu: uma cidade em construção

Jorge Adolfo M. Marques


paços do concelho

Entre meados do século XVI e finais do século XVIII, o paço

[…] Tem esttas casas da banda da rua da Cadea … dencontra a Casa do

municipal do concelho de Viseu situava-se no extremo sul da Praça

Concelho da cydade.”

de D. Duarte, à época denominada Praça da Cidade, “que he bastante-

O “Tombo Municipal dos Baldios”, documento da maior impor-

mente formosa, com seo pelourinho de pedra lavrada [...] tem a nobre casa da Ca-

tância para a História da cidade e concelho lavrado em 1724, dá-nos

mara”, como referia em 1758 o cura da Sé, José Mendes de Mattos, nas

um retrato geral do paço quinhentista desaparecido, incluindo a sua

Memórias Paroquiais (OLIVEIRA, 2005). Um pouco mais à frente

arquitetura interior e mobiliário, das casas a ele anexas e do seu en-

nesta mesma memória, indicou que sob uma das janelas da casa das

quadramento urbanístico (MARQUES, 2013). Comecemos pela des-

Audiências estava “gravada em huma pedra esta notticia:

crição da Câmara, cadeia, açougue e armazém de munições:

Esta obra se fes por mandado del Rey Dom Sebastiam

“Primeiramente tem esta Cidade de Viseu humas Casas de Concelho e

anno de mil e quinhentos e setenta.”

Camara em que fazem as Audiências publicas, as quaes Casas tem sua

Desconhecemos hoje se a referida “obra” “d’O Desejado” foi

serventia por huma escada de pedra muito boa com seu alpendre tilhado,

uma construção de raíz, total ou parcial, ou se se tratou somente

tem as escadas vinte degraos de pedra com tres colunas de pedra lavra-

de uma renovação/reconstrução de um edifício já ali existente. Tais

da muito boa, as quais Casas donde se faz a audiência hé huma

dúvidas, de difícil ou mesmo impossível resolução, advêm do facto

sala grande que tem de cumprimento treze varas e meia e de largo sete

de haver referências documentais (VALE, 1945) à Casa do Concelho

varas e meia, a qual Casa hé forrada, tem umas grades de pao, e para

entre a rua da Cadeia, a medieval Vela de S. Domingos, e a Praça da Ci-

dentro tem uma seda aonde está hum painel de Justiça pintado; e para a

dade, pelo menos desde a década de 60 do século XVI:

banda esquerda está huma janella grande rasgada para a Rua da Cadêa,

“desde a Rua da Cadea ate ao Ressio que esta detras da casa do concelho

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e ahí principiam os Assentos dos Advogados; no meio tem a Meza don-

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de escrevem os Tabbeliães e para a banda direita estão os Assentos dos

a Cadeia e Casa dos presos, que tem de cumprimento sete varas,

vão os de maior crime e Capital, a primeira está por baixo da esquina da

Na Câmara guardavam-se também as medidas padrão de ca-

Homens Nobres, e ao pé das grades está huma mesa pequena donde os

e de largo coatro varas; tem esta Casa da Cadeia huma grade para as

Praça, e tem uma grade de ferro para a rua. Item mais outra Enxovia

pacidade (alqueire, meio alqueire, rasa, quarta, seremim), de peso

Distribuidores distribuem, no corpo da casa ao redondo estão assentos

escadas que sobem para a Audiência; tem outra grade para a Praça; tem

pregada à de cima para baixo, aonde se metião semelhantes presos, que

(duas arrobas até duas onças) e de comprimento (vara). Pelo menos

para as partes, e no mesmo tem a mesma Casa duas janellas rasgadas

outra grade para a Rua da Cadeia. Item mais para a banda esquerda

também tinha uma grade para a Rua; e para ambas estas Enxovias se

o alqueire, a rasa, a quarta e o seremim, com as “Armas do Serenissi-

para a Praça desta Cidade grandes e outro para a mesma Rua da Ca-

a Cadeia e Casa dos presos a qual tem huma grade para a Rua e huma

lançavão os presos por hum alçapão que está com seo ferrolho de ferro

mo Rei e Senhor Dom Sabastião” gravadas no bronze, seriam coevos da

deia. Item mais outra Salla muito grande que tem de cumprido, medida

fresta; e outra fresta para a quelha da Cadeia. Item mais nas Casas da

na Cadêa, e Casa dos Homens Nobres.

“obra” realizada no edifício camarário:

pelos ditos Louvados sete varas e meia, e de largo as mesmas sete varas e

dita Camara, a Casa donde assiste o Carcereiro que hé boa, tem

meia; a qual Casa tem cinco janelas, huma tem a vista para a Rua da Ca-

huma fresta para a mesma quelha da Cadeia.

deia inquam para a quelha da Cadeia [desconhecido] que hé rasgada

“Item mais a dita casa da camara huma medida de alqueire de bronze que Para além de mesas e bancos, necessários nas salas onde se fa-

he por onde se mede o Azeite. Item mais outra medida de meio alqueire

Item mais por baixo da ante Sala da Camara hum Açougue donde os

ziam as reuniões de vereação e julgamentos, a Câmara tinha expos-

de Azeite, tão bem de bronze. Item mais a Medida de huma rasa de medir

e grande, outra para a quelha da Estalagem da papoulla, e três botam a

Marchantes cortam a Vaca, e a repartem ó Povo, que tem umas grades de

to a bandeira da cidade e diversos estandartes dos ofícios que nela

grãos que he de Bronze, com as Armas do Serenissimo Rei e Senhor Dom

vista para a Praça, e todas são rasgadas, a qual Casa tem huma Secre-

pao, e a porta por donde se entra pela banda da Estalagem da Papoulla;

eram mais representativos: almocreve, sapateiro, alfaiate, barbeiro,

Sabastião, que santa gloria haja e outra medida de alqueire do mesmo

ta e necessária. Item a mesma Camara uma Casa donde se fazem

tem o mesmo Açougue, junto à mesma porta huma grade de pao; e tem pe-

carpinteiro e pedreiro:

Metal. Item mais a Quarta, e Sermim do mesmo Bronze, com as mesmas

os Despachos da Camara a qual tem de cumprimento seis varas, e

las bandas escapulas donde se dependura a Vaca, aonde tem hum balcão.

“Item mais a dita Casa do Senado da Camara hum sino que se tan-

Armas Reais. Item mais a vara de ferro de cinco palmos por onde se affe-

de largo cinco varas e meia, e tem huma janella rasgada que bota vista

Item mais junto ao mesmo Açougue huma Casa pequena e terreira

ge para as Audiências da Republica e Governos della, que he muito bom,

rem todas as mais desta Cidade e seu Termo.

para a quelha e casas de José da Costa Boticário [desconhecido], e

que serve de nella murar a mulher que serve os presos. Item mais de baixo

e tem umas Cadeas de ferro. Item mais a dita Casa da Camara hum pano

Item mais o mesmo Senado da Camara huma Campainha de Bronze ama-

tem huma Mesa do Senado com oito Cadeiras de solla lavrada, e duas

da Casa da Camara uma Casa que serve de Armazem das Mu-

de Veludo vermelho na Mesa da Casa das Audiências donde escrevem

rello muito boa com huma escrivaninha com tinteiro e poeira amarello

estam por donde estão alfabetadas as provisões que Sua Majestade que

nições de Ballas e Murrão e Polvora e outros Petrechos de

os Tabbelliães. Item mais a dita Casa da Camara hum Estandarte de

de Bronze. Item mais o dito Senado da Camara hum Marco de Bronze de

Deus guarde fez mercê ao ditto Senado da Camara, e a Mesa delle tem

Guerra; esta casa tem huma porta de serventia de fronte da Estalagem

Damasco branco com Armas da Cidade que se intitula Viseu com sua

duas arrobas que vai diminuindo e pela metade até chegar a duas Onças.

seu pano de veludo vermelho com suas franjas. Item da mesma Camara

da Papoulla. Item achou elle Doutor Juiz de Fora e Louvados deste tom-

franja de Ouro e suas borlas. Item mais duas Bandeiras brancas de Da-

E não havia móvel de que se fizerem memória.”

ao pé da mesma Casa hum Recebimento tem de cumprido vara e três

bo que medindo a aria que ocupavam todas as ditas Casas da Camara,

masco com franjas de retrós; huma he dos Çapateiros com uma tarja

quartas e de largo o mesmo. Item a dita Casa da Camara por baixo da

Açougue, e Cadeia, principiando na porta da Cadêa, na esquina do Açou-

no meio com São Chrespim São Chrispiano. E outra é dos Almocreves.

Na Praça da Cidade, mas no topo oposto à Câmara, ficava o

Casa das Audiência huma Salla de Cadeia donde estão presos os ho-

gue em redondo toda a dita aria tinha sessenta e oito varas entrando a

Item mais duas Bandeiras vermelhas com suas franjas, huma dos Bar-

aljube eclesiástico, o pelourinho e uma construção filipina, datada de

mens Nobres, a qual tem de cumprido sete varas, e de largo quatro varas

testada da porta da Cadêa junto ao balcão. Item mais a dita Casa da

beiros, e outra dos Carpinteiros, e Pedreiros. Item mais outra Bandeira

1617, designada de “Obra Nova”:

e tem huma grade para a Rua da Cadeia. Item mais para a banda direita

Camara huma Enxovia dos presos de menos esfera donde se lança-

roixa de Damasco que he dos Alfaiates desta Cidade.”

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“E logo elle dita Doutor Juiz de Fora no mesmo dia atráz declarado man-

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dou aos Louvados deste Tombo que medirem a Praça desta dita Cidade

para a Praça e no fim outra do mesmo feitio, e nella junto às Escadas que

a expropriação da Quinta de Massorim para futura urbanização. |1|

Nos primeiros anos do século XX prosseguiram os trabalhos

de Viseu e por eles foi medida na forma theor seguinte. Primeiramente

descem para a Rua do Rellogio está na pedra do dito pillar hum Letreiro

O novo mercado, situado entre a Rua Formosa e a futura Rua

de abertura e arranjo da Rua do Comércio, rasgaram-se as ruas da

achou elle Doutor Juiz de Fora que junto á dita Cadêa estava a Praça

que diz o seguinte:

do Comércio, que também se começava a rasgar, foi inaugurado pou-

Paz e da Vitória e iniciou-se a urbanização da Quinta de Massorim.

publica desta dita Cidade de Viseu, a qual medindo-a eles Louvados da

Esta Obra se fez por mandado del Rey

co depois, em 1879. Já com a construção dos paços do concelho a

Este conjunto notável de obras na zona sul e sudoeste de Viseu con-

grade da Torre que serve de prisão dos Eclesiasticos ate a quina da

Ano de mil seis centos e dezassete.

história seria bem diferente e, sobretudo, muito mais longa, dado

correram decisivamente para deslocar o centro da cidade da Praça de

Cadêa publica do Nascente para Poente tem cincoenta varas e meia e do

E as Escadas tem quatorze degraos, e em toda esta Obra no cumprimento

que entre a aprovação do projeto para a sua construção, em 1877, e a

Camões |3|, assim denominada a velha Praça da Cidade desde 1880,

Norte e Sul, medida da quina da Rua nova [Rua Augusto Hilário] até

della há assentos de pedra assim ao longo do muro da Sé como

sua conclusão definitiva, em 1916, passaram, nada mais, nada menos

para o Rossio d’el Rei D. Fernando, rebatizado Praça da República

a quina da Rua da Estalagem [Rua Grão Vasco] tem dezassete va-

da frontaria que tem para a Rua e Torre do Rellogio.”

do que quatro décadas.

poucos dias depois de implantado o novo regime saído da revolução

ras e três quartas. Item mais a dita Praça huma Chave desde a quina da

Para além das obras do plano de Andrade e Silva, outras de

de 5 de Outubro (AMARO & MARQUES, 2010).

dita Torre até ao muro das Ameias da Sé aonde vendem as Piscadeiras

O fatídico incêndio que destruiu o edifício da Câmara de Vi-

grande relevância foram sendo realizadas na cidade nas décadas de

Os novos quarteirões dessa vasta área foram sendo progres-

o peixe, a qual Chave desde a quina da Torre ate ao canto do dito muro

seu no dia 8 de Agosto de 1796 deixou a cidade e o concelho sem casa

80 e 90 do século XIX, como foi o caso da abertura da Rua Serpa

sivamente ocupados com dezenas e dezenas de novos prédios, uns

tem de cumprido oito varas, e desde o mesmo canto ate ao Pelourinho

própria onde realizar as reuniões de vereação e os julgamentos. A

Pinto (1881) e Avenida Emídio Navarro (1889). Esta última, compre-

apenas para habitação, outros que sendo de habitação tinham lojas de

tem treze varas e três quartas. Item mais o mesmo Pelourinho que está

partir desse dia, e durante várias décadas, toda a atividade municipal

endida entre o Largo das Freiras e o Campo da Feira, era a principal

comércio no rés-do-chão e outros ainda destinados exclusivamente a

no vam da Obra nova ao pé da Praça, que tem coatro degraos de pedra

passou a decorrer em casas arrendadas a particulares e edifícios do

artéria de acesso à estação de caminho-de-ferro, do ramal do Dão,

serviços, como o Banco Nacional Ultramarino na rua Dr. Luíz Ferrei-

lavrada, e Pellourinho redondo com seu remate no cimo lavrado. Item

Estado, como por exemplo o Paço dos Três Escalões e o Convento

também inaugurada nesse mesmo ano |2|. Em 1893 inaugurar-se-

ra/Comércio - Rua Formosa (1920), a Agência do Banco de Portugal

mais esta Praça hum pedaço de terra que esta junto a mesma Praça e

dos Néris.

-ia a rua mais tarde batizada de Capitão Homem Ribeiro, ligando a

na Praça da República (1921), a Associação Comercial e Industrial de

Avenida Emídio Navarro à estação ferroviária e Avenida Dr. António

Viseu na Rua da Paz (1922), a Igreja Evangélica Baptista na Rua Dr.

José de Almeida.

Luíz Ferreira/Comércio - Rua da Paz (1926), o Quartel dos Bombei-

Pelourinho da Cidade, a que chamão a Obra nova, que medida desde o

No dia 24 de maio de 1876 a vereação viseense em exercício

Pelourinho até às escadas que descem para a rua que é do poente e para

aprovou, finalmente, a construção de um novo edifício camarário no

Nascente tem vinte e nove varas e três dedos e de largo do Norte para o

âmbito do “Plano de d’obras municipaes, e meios de as levar a efeito” (ATAS,

A construção do Asilo da Infância Desvalida (1874) na Rua

ros Voluntários na Rua Dr. Luíz Ferreira/Comércio – Rua D. Duarte

Sul outo varas. Item esta terra que chamam Obra nova tem para a parte

1876) apresentado pelo vice-presidente Andrade e Silva. Esse am-

Serpa Pinto, do Colégio do Sacré Coeur (1880) na Rua Tenente Va-

(1927) o Hotel Portugal na Avenida Alberto Sampaio - Rua dos Casi-

da Rua da Torre do Rellogio [Rua das Ameias] huma frontaria muito

bicioso plano de melhoramentos materiais da cidade, ao estilo fon-

ladim/Dr. Maximiano Aragão (1880), do Asilo de Inválidos Anjo da

miros (1910), o Hotel Avenida na Avenida Alberto Sampaio - Rua Mi-

boa de Cantaria do dito cumprimento de vinte e nove varas e três dedos;

tista, incluía a construção de um novo mercado, o alargamento da

Caridade (1896) na Via Sacra, e do Teatro Boa União (1879) no Largo

guel Bombarda (1928) e o Hotel Palace na Praça da República (1925),

e no principio desta frontaria tem huma piramede sobre hum pillar com

Rua Chão do Mestre, a continuação das obras na Rua Formosa, a

das Freiras, reflete, por outro lado, uma certa renovação arquitetóni-

o Edifício dos Correios na Rua Dr. Luíz Ferreira (anos 30) e a Caixa

uma bolla redonda, tudo de pedra de Cantaria com umas Armas Riais

abertura de uma rua que ligasse a Praça da Cidade à Rua Formosa e

ca que a cidade viveu nesse último quartel de Oitocentos.

Geral de Depósitos na Praça da República (1940). |4a, 4b, 4c, 4d e 4e|

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Nesta espécie de “nova cidade” que se ia erguendo, de ruas largas e traçado ortogonal, paredes meias com a cidade antiga, foi-se

paços do concelho

Citroën na Rua da Paz (1928), Oakland, Chevrolet e Motobloc na

Coutinho (“O Comércio de Viseu” de 1922), que deixaria a sua as-

Ou doença imaginária

Avenida Alberto Sampaio (1928). |9 e 10|

sinatura noutras obras da cidade, apresentava uma arquitetura de

Quem sofrer de hipocondria

instalando um comércio moderno, quer no tipo de espaços que ocu-

Outras máquinas, inventadas ou desenvolvidas durante esta

tipo funcionalista, de estética moderna, sem grande marca relevan-

Ou tiver a solitária

pava, quer no tipo de produtos que expunha e na forma como o fazia.

segunda revolução industrial (1875-1914), como por exemplo as de

te, mas lembrando outros edifícios seus contemporâneos, particu-

O melhor remédio é

Nessas vitrinas de grande dimensão que então se abriram nas

costura Singer, as de escrever, as fotográficas Brownie e Kodak ou as

larmente dos arquitetos Marques da Silva (1869-1947) e Cottinelli

ver as fitas do Páté”

fachadas dos novos edifícios, como por exemplo o da agência viseen-

extraordinárias “machinas fallantes” - fonógrafos e gramofones - Gran-

Telmo (1897-1948). O seu interior, descrito em entrevista ao jornal

Era um espetáculo de massas que proporcionava grandes

se dos “Grandes Armazéns do Chiado”, inaugurada em 1905 na rua

dephone Odeon e Deca, também foram agentes na mudança que es-

“O Comércio de Viseu” (1922), procurava corresponder a novas ne-

emoções a quem a ele assistia, mostrava paisagens exóticas, irreais

Dr. Luíz Ferreira/Comércio, expunham-se, sempre de forma sedu-

tava em curso no quotidiano dos viseenses. |11a/11b a 15|

cessidades funcionais e gostos estéticos que se afirmavam cada vez

muitas delas, mas também lugares comuns, cenas do quotidiano nos

tora, mercadorias estandardizadas produzidas em massa para um

As novas formas de convívio e diversão que foram emergin-

mais neste tipo de edifícios, nomeadamente com corredores amplos,

filmes classificados de “naturais”… e tudo “gastando pouca massinha”,

mercado que também se tornara de massas: sedas, lãs, malhas, roupa

do entre finais de Oitocentos e inícios de Novecentos concorreram

hall, átrio, escadarias de acesso a camarotes e muita luz, “luz a jorros,

quer a “rapaziada” se sentasse na “cadeira ou geralzinha” (“A Voz da Ofi-

diversa, camisas, materiais de retrosaria, artigos fonográficos e foto-

e foram simultaneamente um reflexo das profundas transformações

fornecida por 1500 lâmpadas” que produziam “à noite um efeito deslumbran-

cina” de 1912). |19|

gráficos, etc. |5 e 6|. Era o tempo dos “grands magazins”, a que Viseu,

sociais, culturais e mentais que se viviam.

te”. A sua capacidade podia chegar aos dois mil espetadores, número

Durante a “Grande Guerra” (1914-1918), a extraordinária in-

que constituía mais do dobro dos lugares que comportava o vizinho

venção dos irmãos Lumiére permitiu também “trazer” até às salas

“Teatro Viriato” com os seus cerca de oitocentos lugares. |18|

da cidade imagens em movimento da longínqua “front” franco-belga

Para além dos espetáculos de teatro, música e variedades que

um pouco mais tarde, também não ficou indiferente. As últimas modas parisienses, vendidas em algumas das lojas

regularmente decorriam nas casas de espetáculo da cidade (“Teatro

da cidade como a “Chapelaria Parisette”, à Rua Formosa, eram pu-

Boa União”/”Teatro Viriato”, “Paraíso de Viseu” e “Teatro do Círculo

O cinema, que fora exibido pela primeira vez na cidade em

onde combatiam, desde 1917, soldados dos regimentos de Artilharia

blicitadas em quase todos os jornais locais ou em publicações exclu-

Católico”) ou dos concertos da “Banda do 14” no coreto do Rossio

1897, no “Teatro Boa União”, ao largo das Freiras, era considerado a

7 e Infantaria 14 de Viseu. Muitos de entre eles acabaram por não

sivamente de caráter publicitário |7| como “O Espelho” (1914-1920),

|16a, 16b e 16c|, tornou-se um hábito extremamente popular ir as-

cura para todos os males do corpo e do espírito, como se dizia num

regressar.

propriedade do “Estabelecimento de Fazendas”, à Praça de Camões

sistir “às fitas” nos animatógrafos ou cinematógrafos instalados nos

poema humorístico de cariz popular publicado no jornal republica-

|8|, ou o “Rua do Comércio” (1922), dos comerciantes dessa nova ar-

salões do Bairro de Massorim (1908), de Santa Cristina (1908-09) e

no “Povo Beirão” (1912):

téria.

da Feira de S. Mateus (19), ou nos teatros “Viriato” (1910), “Paraíso

“Quem tiver dôr’s de barriga

bes da cidade e da região, como o “Foot-ball Grupo Visiense” (1910),

Também foi o tempo dos “stands” de automóveis, situados ex-

de Viseu” (1910) e “Avenida-Teatro” (1922) |17|. Este, inaugurado em

Ou do fígado padeça

“Ribeira Foot-ball Club” (1915), o “Sport Grupo Via Sacra” (1915), o

clusivamente nas novas ruas da cidade: Ford e Fiat em Massorim

16 de setembro de 1922, foi a primeira casa de espetáculos construída

Quem com drogas não consiga

“Grupo do Liceu Alves Martins” (1915), o “Grupo União Foot-ball”

(1910) e Rua da Paz (1925), Hupmobile, Panhard e Lavessor na Rua

em Viseu depois do “Boa União” (Teatro Viriato), inaugurado no já

Curar dôres de cabeça

(1915), o “Association de Nandufe” (1915), o “Estrela Foot-ball Club”

Formosa (anos 20), Studebaker na Avenida Alberto Sampaio (1927),

distante ano de 1883. Desenhado pelo arquiteto portuense Eduardo

Quem tiver neurastenia

(1916), o “Sport Club Académico” (1921), ou por onde passavam os

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Pela mesma altura, o “sport” também atraía cada vez mais público aos locais onde se disputavam os “matchs de foot-ball” entre clu-

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atletas e os ciclistas em competição. |20 a 22| A linguagem jornalísti-

A cidade prosseguia o seu crescimento e modernização. Al-

ca mantinha ainda as denominações inglesas ao designar as posições

meida Moreira, homem atento à realidade do seu tempo, não quis

dos jogadores de foot-ball no campo de jogo: o guarda-redes era o “ke-

perder a oportunidade de registar essa metamorfose urbana que se

eper” e os defesas os “bachs”.

operava diante dos seus olhos. Fê-lo em 1930, num filme admirável

Em 1928 seria inaugurado pelo então Presidente da República

que hoje nos emociona. Nele, o retrato de duas cidades siamesas: a

da jovem Ditadura saída da Revolução de 28 de maio, General Ós-

antiga, onde ocupava o lugar de diretor do jovem Museu de Grão

car Carmona, o tão desejado “Stadium Municipal de Viseu”, com um

Vasco (1916), instalado no Paço dos Três Escalões, e a moderna, onde

campo que reunia as condições para a prática desportiva que o im-

o progresso se afirmava num novo urbanismo, na arquitetura, na pu-

provisado “Campo da Feira”, à Ribeira, não possuía.

jante atividade comercial, nos automóveis, na moda, no “sport”. Era uma cidade em construção, rumo ao futuro.

Fontes Publicações periódicas Beira (A) [1906] Comércio de Viseu (O) [1886] Povo Beirão [1912] Viriato (O) [1855] Voz da Oficina (A) [1898] Voz da Verdade (A) [1921]

Bibliografia Amaro, A.R. & Marques, J.A.M. (2010). Viseu, Roteiros Republicanos. Matosinhos: Quidnovi. Marques, J.A.M. (2013). Forais Manuelinos de Viseu. Viseu, Editora Edições Esgotadas. Oliveira, J.N. de (2005). Notícias e memórias Paroquiais Setecentistas – 1. Viseu. Viseu: Centro de História da Sociedade e da Cultura. Palimage Editores. Saraiva, A.M.S. (2008). Monumentos da Escrita. 400 Anos de História da Sé e da Cidade de Viseu 12301639. Porto. Vale, A.L. e (1945). Livro dos Acordos de 1534 da Cidade de Viseu. Porto.

Viseu, filme do Capitão Almeida Moreira, Câmara Municipal de Viseu Fotografias de coleção particular (descendentes de Flórido Almeida Marques) Livro de Atas da Câmara Municipal de Viseu, 1876. Tombo Municipal de Baldios, nº 259, Biblioteca Municipal de Viseu D. Miguel da Silva. (Traslado de 1804 de um manuscrito de 1724). Guia de Portugal, III Beira, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994

|1| Pormenor de planta da cidade no Guia de Portugal

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|2| Estação de caminho-de-ferro de Viseu cerca de 1910-20

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|3| Praça de Camões em dia de mercado semanal

|4e| Novo quartel dos bombeiros Voluntários de Viseu com saída de viaturas na rua da Cadeia-D. Duarte (A Voz da Verdade, 1927)

|4a| Praça da República-Rossio (1930) |4b| Praça da República-Rossio (1930) |4c| Jardim das Mães com Banco de Portugal ainda em construção (1930) |4d| Hotel Palace de António Lopes Ferreira (1930) (a partir de fotograma do filme do capitão Almeida Moreira)

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|11| Publicidade à Garagem Lopes (O Comércio de Viseu, 1927)

|5| Publicidade à agência de Viseu dos Grandes Armazéns do Chiado (A Voz da Verdade, 1923)

|6| Publicidade à agência de Viseu dos Grandes Armazéns do Chiado (A Voz da Verdade, 1927)

|11a| Publicidade à Photographia Viziense (O Comércio de Viseu, 1889)

|7| Publicidade à casa de modas de Delfim Correia e Filho (O Comércio de Viseu, 1915) |12| Publicidade à Photographia Cunha (A Beira, 1908)

|8| Publicidade à Sucursal de Guimarães & Gonçalves (O Comércio de Viseu de, 1916)

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|10| Publicidade à Amaral e Companhia Lda (O Comércio de Viseu, 1925)

|11b| Fotografia de Paino Perez a membros da família Almeida Marques (9.07.1899)

|13| Publicidade à Farmácia Marques (O Comércio de Viseu, 1925)

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|14| Publicidade à Foto Ayres (A Voz da Verdade, 1928)

|15| Publicidade à Cabral & Fonseca (A Beira, 1907)

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|19| Fotografia do interior do Teatro Viriato cheio de público para um espetáculo (1930) |16a| Notícia de teatro do dramaturgo local Bernardo António de Almeida Marques no Teatro Boa União-Viriato (O Viriato, 1888)

|16c| Notícia de música no coreto da Praça da República (Povo Beirão, 1912)

|16b| Cartaz da opereta O Conde de Luxemburgo no Teatro Paraíso de Vizeu |20| Notícia de corridas de bicicletas e de motos nas festas da cidade de 1913 (Povo Beirão, 1913)

|17| Notícia do cynematographo do Teatro Viriato (Povo Beirão, 1910)

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|18| Fachada do novo Avenida-Teatro (Vizeu Moderno, 1922)

|21| Notícia da corrida Légua da Voz (A Voz da Verdade, 1923)

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|22| Publicidade a um desafio de futebol no Stadium Municipal de Viseu (A Voz da Verdade , 1928)

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Evolução cartográfica da cidade de Viseu Notas explicativas acerca das diversas plantas topográficas, levantamentos aerofotogramétricos e cartografia digital da cidade de Viseu.

José dos Santos Simões José Alberto Pais de Sousa


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As presentes notas explicativas procuram ser um mero enqua-

É pertinente referir, conforme decorre do Relatório de Fundamen-

dramento dos diversos suportes topográficos elaborados ao longo de

tação do Plano Director Municipal de Viseu, publicado em 30/09/2013,

um século e meio, prescindindo das análises dos diversos instrumen-

a elaboração dos Planos de Pormenor correspondentes às UOPG 1.1,

tos que a Câmara Municipal de Viseu teve como enquadradores do

UOPG 1.2, UOPG 1.3, e UOPG 1.5, que implicaram a obtenção de car-

seu desenvolvimento urbanístico, nomeadamente os de maior escala

tografia digitalizada para uma área específica e cujas publicações no

como sejam o Ante – Plano de Urbanização de Viseu, posteriormente

Diário da República se efectivaram desde 19/02/2003 a 05/02/2010, no

designado por Plano Geral de Urbanização de Viseu (PGU), o Plano

âmbito do Programa Polis.

Director Municipal de Viseu (PDM) publicado em 19/12/1995 e o actual PDM publicado em 30/09/2013, além dos diversos estudos que,

Embora a análise integrada do desenvolvimento urbanístico e da

ao longo dos anos, se constituíram como elementos de alteração ou

infraestruturação, pela dimensão, recuperação e reconstituição de

de densificação de áreas específicas e se designaram de modo diferen-

modo sistemático de diversa documentação, tendo em conta uma vi-

ciado, sendo a título de exemplo, os Estudos de Revisão de Utilização

são holística, implique um trabalho de carácter transversal e multidis-

do Solo, as Alterações Urbanísticas e os Arranjos Urbanísticos, inde-

ciplinar, constituir-se-á, mesmo que correspondendo a períodos de-

pendentemente dos Planos de Pormenor, que já em 19/12/1995 se refe-

terminados, como um exemplo do respeito e do rigor documental dos

renciaram como Áreas pormenorizadas – AP1 a AP16 e em 30/09/2013

contributos que, ao longo dos anos, foram sendo produzidos, nomea-

como Unidade Operativas de Planeamento e Gestão do tipo 1 – UOPG

damente, o do Eng.º Alexandre da Conceição, reportado a 1889; os dos

1.1 a UOPG 1.20, sendo que três Unidades Operativas de Planeamento

Eng.ºs Figueiredo e Silva e Camossa Pinto, de 1910 e o do Eng.º Bonfim

e Gestão (UOPG) do tipo 1 se constituíram como alteração ao PGU de

Barreiros, cujo trabalho se iniciou em 1933 e foi concluído em 1935,

Viseu – UOPG 1.4, UOPG 1.13 e UOPG 1.20.

reportando-se à elaboração do Plano de Urbanização de Viseu; bem

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como o do Eng.º António Canavarro de Morais – Viseu e o seu Progra-

Destaca-se, ainda, o artigo publicado em 1968, sobre a Rua Direita,

- Âncora do Desenvolvimento – os Equipamentos Colectivos no

5 - Planta do Projecto de Urbanização do Bairro de Marzovelos –

ma de Urbanização - , que se constitui como um elemento precioso de

da autoria de Orlando Ribeiro, considerado percursor da análise fun-

Desenvolvimento Urbano: o caso de Viseu do Século XX até às ex-

1939 – elaborada à escala 1/1 000;

referência e análise sendo ainda pertinente salientar, de acordo com

cional urbana.

pansões mais recentes, da autoria de Suse Margarida C. Almeida; 6 - Planta correspondente ao levantamento de 1950/1951 – elabo-

este documento reportado a 1937, as investigações de eruditos como Propositadamente, por não ser possível dada a dimensão das ma-

- Levantamento e Análise do Centro Histórico de Viseu, da autoria

térias envolvidas, implicando uma análise cartográfica exaustiva por

de Alexandre Almeida, Jeremias Formolo, Lúcia Fernandes Santos

áreas temáticas, opções ao nível da rede rodoviária nacional e muni-

e Rafaela Lourenço.

o Cónego Berardo, o Dr. Maximiano Aragão e o Dr. Amorim Girão, referentes à evolução da cidade propriamente dita.

rada à escala 1/2 000; 7 - Planta correspondente ao levantamento aerofotogramétrico (SATOPEL) – 1971 – elaborada à escala 1/1 000;

É perfeitamente justificado referir a importância que o Ante –

cipal, localização de equipamentos de utilização colectiva e de áreas

Plano de Urbanização de Viseu, da autoria do Arq. João António A.

verdes de utilização colectiva que, pelo seu valor ambiental, paisagís-

- Após estas breves considerações, independentemente de outras

Aguiar teve na evolução da cidade, aprovado por despacho do Minis-

tico e ecológico, devessem ser preservadas e valorizadas, não é feita

propostas urbanísticas relacionadas com o crescimento da cidade,

8 - Planta correspondente ao levantamento aerofotogramétrico

tro das Obras Públicas, de 31/01/52, convertido em Plano Geral de Ur-

referência às propostas formuladas pela Hidrotécnica Portuguesa e

contribuindo em maior ou menor escala para a sua consolidação e das

(TECAFO) 1980/1983 – elaborada à escala 1/2 000;

banização de acordo com o disposto no artigo 16.º n.º 2, do Decreto

Macroplan ou a estudos que, ao longo dos anos, foram sendo efectu-

zonas periurbanas, embora com níveis diferenciados de impacto quer

- Lei n.º 560/71, de 17/12 e objecto de publicação na II série do Diá-

ados, assumindo as figuras inicialmente referenciadas ou afins e que

na vertente qualitativa quer na vertente quantitativa, é pertinente

9 - Suporte digitalizado correspondente a 2003, integrador das

rio da República de 20/09/1994 – com “Planta de Zonas” – à escala

durante um longo período se integraram no “célebre” dossier SU-17

elencar os elementos cartográficos a que se reportam estas notas :

diversas plantas apresentadas (EDINFOR) – escala 1/5 000, pro-

1/2000 – sendo de realçar a posição discordante da Câmara Municipal

(colectânea de diversos estudos e de normas orientadoras de profun-

de Viseu - vide “parecer da Câmara” aprovado em “sessão” de 22 de

didade de construções, por exemplo).

Novembro de 1950, em relação a certas opções, como seja a referente

curando evidenciar, por épocas, a concretização da expansão da 1 - Planta “topographica” da cidade de “Vizeu” – 1864 – elaborada

cidade propriamente dita e, em boa medida, assegurando a estru-

à escala 1/1 000;

turação das zonas periurbanas.

à actual Avenida 25 de Abril - anteriormente designada por Rua A e

É importante realçar outros estudos de índole diversa, incidindo

posteriormente Avenida Dr. Oliveira Salazar - bem como a de outros

sobre o desenvolvimento da Cidade, privilegiando vertentes diferen-

2 - Planta topográfica não datada (provavelmente anterior a 1890)

contributos/trabalhos, relevando neste particular o Ante Plano do

ciadas, como sejam :

– elaborada à escala 1/5 000;

Bairro de Marzovelos que suscitou o parecer da Câmara Municipal

- O Centro de Viseu: sua evolução funcional (1950-2001), da auto-

de Viseu em “sessão” de 21/10/1943, da autoria do referido Arquitecto

ria de Paula Raquel Nascimento Ferreira;

João António A. Aguiar.

- Dinâmica Urbana de Viseu na segunda metade do Século XX, da autoria de Jorge Rodrigues de Almeida;

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NOTA: A cópia da planta do Plano de Urbanização da cidade de Viseu, reportada a 1935, da autoria do Eng. Bonfim Barreiros, não de-

3 - Planta da Mata do Fontelo – 1927 – elaborada à escala 1/1 000;

tém qualidade gráfica para a sua apresentação actual implementando-se, em fase posterior, uma reconstituição do processo na medida do

4 - Planta topográfica da cidade de Viseu – 1928 – elaborada à escala 1/1 000;

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possível, envolvendo a Direcção Geral do Território.

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1 - Planta “topographica” da cidade de “Vizeu” – 1864

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2 - Planta topogrรกfica nรฃo datada (provavelmente anterior a 1890)

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3 - Planta da Mata do Fontelo – 1927

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66 4 - Planta topográfica da cidade de Viseu – 1928

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5 - Planta do Projecto de Urbanização do Bairro de Marzovelos – 1939

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6 - Planta correspondente ao levantamento de 1950/1951

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72 7 - Planta correspondente ao levantamento aerofotogramétrico (SATOPEL) – 1971

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8 - Planta correspondente ao levantamento aerofotogramétrico (TECAFO) 1980/1983

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9 - Extrato colorido da Planta de Ordenamento do PDM – 1995

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10 - Extrato colorido da Planta de Ordenamento do PDM – 2013 – desagregada em função das categorias operativas de solo urbano.



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