Para Alice, Jorge, Anabela e Dina, com muito amor.
A missão dos da minha idade é guardar a torre ebúrnea, onde das pelejas e dos naufrágios da vida se recolhem os dispersos elementos de serenidade, de poesia e de beleza que são património ideal do homem e a dignificação da vida. in Farpas, de Ramalho Ortigão
Título\ As Estranhas e Fantásticas Histórias de Jolon Autor\ José Lopes Nunes (Jolon) © 2012, José Lopes Nunes e Ricardo Neves Produção
Edição\ Ricardo Neves Produção Lda. – A.23 Edições Colecção\ Cultura(s) Antologia seleccionada e organizada por Ricardo Paulouro Neves e José Lopes Nunes Depósito Legal\ ISBN\ 978-989-97847-1-0 Fotocomposição\ Luís António Carvalho Timóteo Revisão\ Margarida Gil dos Reis Fotografias de capa\ Jolon e Diamantino Gonçalves Design, Capa e Paginação\ Jorge Portugal Design Impressão\ Rainho & Neves Lda.
PREFÁCIO O homem das “estórias” Ponho-me a olhar para antigamente e não consigo fixar o dia em que o Jolon (José Lopes Nunes, de seu nome) subiu pela primeira vez à Redacção do “Jornal do Fundão”, armado dos seus papéis e das suas fotografias. Na descodificação da memória tenho a certeza de que foi ainda antes do 25 de Abril, quando havia já um cheirinho de liberdade a passar por aqui, mas pensar ou escrever era ainda um perigoso delito comum, à volta da aventura do jornalismo. Descobri, então, de surpresa em surpresa, de página em página, alguém que tinha dentro de si um talento inato de repórter, que sabia olhar a realidade e, nesse olhar, era capaz de distinguir o essencial do acessório, valorizar o detalhe e o particular, sem ceder à facilidade do cliché. O Jolon, sempre com a sua máquina fotográfica ao alcance da mão, por onde quer que andasse, fossem quais fossem os caminhos ocasionais das suas andanças, captava a realidade, tanto quanto ela se deixa captar, com os ângulos da sua visão sobre as pessoas, as coisas, os lugares, as paisagens. Nesse aspecto, poderíamos falar dele como “repórter do instante”, magnífico conceito de jornalismo que Camus foi capaz de definir como exigência de observação rigorosa do mundo à nossa volta.
Então, o Jolon foi, de certo modo, no seu persistente registo dos dias, o cronista atento de Penamacor, fugindo sempre – ou quase – à maneira burocrática e rotineira de fazer informação. No seu caso, há outra virtude a acrescentar à sua aventura de palavras: o trabalho em louvor da memória que, ao longo dos anos, o Jolon vem realizando, como contador de “estórias”. Há, nessa procura de dar visibilidade a histórias de vida esquecidas, uma relação profunda de afecto com as pessoas. O Jolon trouxe ao nosso convívio a emergência de quotidianos excluídos da galeria da informação e falou deles iluminando rostos, registando nomes, dando a histórias de vida, tantas vezes marcadas por fundos silêncios, um conteúdo de humanidade e de pertença. Ele percorreu esses territórios, foi ao encontro de mundos aparentemente perdidos no silêncio e deles retirou rostos, vidas, pequenas e grandes “estórias” que ajudam a identificar socialmente, à sua escala, um lugar, muitas vezes uma aldeia, um concelho, uma região. E, no centro desses microcosmos pontuados de diversidades, um coração: Penamacor. “As Estranhas e Fantásticas Histórias de Jolon” são esse coração a bater um pouco mais depressa. Como se fosse a terra a respirar. Fernando Paulouro Neves Julho de 2012
Ofícios 1
Foi ganhão e cocheiro sem nunca ter tido férias… Natural e residente em Penamacor, Alexandre Esteves Grilo tem actualmente 84 anos. Trabalhou desde miúdo como ganhão. Na tropa, tirou a especialidade de condutor de animais. Cumpriu o serviço militar no quartel de Cavalaria 8, em Castelo Branco, tendo recebido vários louvores. Quando saiu da tropa surgiu uma vaga na casa de D. Carlota Pina Ferraz, que ocupou e onde se manteve durante cinco anos. Dali transitou para a casa do Dr. Luís Osório, também em Penamacor. Durante perto de 40 anos, primeiramente como cocheiro, depois como encarregado de pessoal e, finalmente como feitor, Alexandre Grilo foi o último cocheiro penamacorense. “Tratava dos animais, aparelhava‑os, ia passear os senhores e levava‑os à missa”, conta‑nos. “Era como se fosse um chauffeur de praça. Tinha duas fardas próprias fornecidas pelos patrões – uma de mescla, outra de cotim – e dois bonés diferentes”. Sempre foi muito bem tratado, o ordenado é que deixava a desejar. A trabalhar ao dia ganhava‑se mais do que ele ganhava, “mas assim o trabalho era certo”. Recebia, por mês, 80 escudos de ordenado, mais cinco alqueires de pão (centeio), um alqueire de feijão‑frade e 3,5 litros de azeite. Descontos para a Caixa de Previdência não havia. Quando foi criada a Casa do Povo, passou a descontar, por iniciativa própria, um escudo por mês. Foram estes descontos que lhe proporcionaram a reforma actual, no valor aproximado de 26 mil escudos. Quanto ao ordenado, ainda chegou a ganhar dois mil e quinhentos escudos por mês, “mas as comedorias foram‑me retiradas”. Não havia horários de trabalho. “Trabalhava‑se de dia e de noite”, explica. “A gente deitava‑se às 11 da noite e às duas ou três da manhã tínhamos de estar levantados para tratar dos animais e cada um ia ao seu destino. No tempo das sementeiras punha‑se o sol e nós a lavrar. Nascia o sol e nós já a lavrar. Se os novos passassem o que a gente passou, se eles agora se queixam, então é que eles se queixavam”, remata. Os dias feriados eram cumpridos, mas férias nunca soube o que eram… Viúvo, vive em sua casa. Pela manhã, as funcionárias da Santa Casa da Misericórdia levam‑lhe o café. Ao meio‑dia desloca‑se à Santa Casa onde almoça e, à tarde, são novamente as funcionárias do Centro de Dia que lhe levam o lanche a
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casa. “Somos”, garante, “muito bem tratados. Aquela gente nasceu para isto. Todos somos tratados igualmente, são muito boas”. A proximidade da quadra natalícia trouxe‑lhe à lembrança o Madeiro do seu tempo. “Então era pedido aos ricos. Não era roubado. Um ano dava‑o a D. Carlota, outro o Sr. Conde, outro o Dr. Luís Osório. Os guardas das casas indicavam as azinheiras velhas que deviam ser cortadas e não havia ninguém que por detrás das costas cortasse uma só que fosse a mais. Tudo corria bem. Agora abusam na quantidade de madeira. Qualquer dia não há madeira para o Madeiro. Devia haver mais cuidado e moderação”. Para finalizar a entrevista com o nosso amigo, questionámo‑lo sobre o anunciado fim do mundo do ano 2000. “Eu acho que a Deus nada é impossível. Mas eu ponho muitas dúvidas. Acho que o ano deve passar sem que isso aconteça. Os que não passam do ano 2000 são os que vão batendo a bota”, concluiu. 15/Dez/2000 Andou centenas de quilómetros para distribuir correio Poucas serão as pessoas com menos de 40 anos que ainda se lembrem da forma como o correio chegava à nossas casas até aos anos 60. Os carros, incluindo “expressos” dos CTT, que hoje percorrem as estradas e localidades do país, deixam no esquecimento o transporte dos sacos, entre as sedes dos concelhos e as freguesias, às costas dos estafetas ou em cima dos pachorrentos burros que aliviaram aqueles da carga diária. O concelho de Penamacor, evidentemente, não fugia à regra. Da vila saíam diariamente (excepto domingos e feriados) os diversos estafetas com os sacos do correio, entregando‑os nos postos públicos – normalmente instalados num comércio local onde funcionava também o posto de telefone público – pela manhã, fazendo de tarde o percurso inverso. Dos 5 ou 6 estafetas de então, ainda vive um. O Sr. José Martins, de 82 anos, natural e residente na Benquerença. Casado com a Sr.ª Ana Ferreira, de 81 anos, fomos encontrá‑lo a sachar uns pés de milho num terreno seu, perto da residência. Soubemos então que fez largas centenas de quilómetros a pé, transportando os sacos de Penamacor para a Benquerença e Meimoa, incluindo os do Meimão e Vale da Sr.ª da Póvoa, que da Meimoa eram
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levados por outros estafetas para o Meimão e Vale. Recolhia‑os depois e entregava‑os na estação de Penamacor. Todos os dias, durante perto de 30 anos (já esqueceu quantos), chovesse ou fizesse sol, fazia o percurso. “Um ano nevou tanto que estive 3 dias sem poder levar os sacos a Penamacor. No fim do mês descontaram‑me os dias. Ganhava 6$00 por dia, descontaram‑me 18$00”, recorda o Sr. José Martins. Curiosamente estes lugares eram postos a concurso público através de editais. Os concorrentes ao lugar tinham que dizer o valor que pretendiam receber por dia, apresentar documento comprovativo de que possuía a 4.ª classe do ensino primário e ainda um fiador. O transporte, como já referimos, era feito a pé. Quem tivesse um burrito utilizava‑o para o efeito. Sempre lhe aliviava o corpo. O ordenado era bastante inferior ao que os trabalhadores rurais ganhavam (9$00/dia), mas em contrapartida o serviço de estafeta era “mais leve e sempre certo”, esclarece‑nos o Sr. Martins. É claro que os estafetas sempre faziam mais uns tostões diariamente. É que eram também os homens dos “recados” das populações e estas gratificavam os seus serviços com dinheiro ou produtos caseiros. Eram aguardados nas freguesias com muita ansiedade pelas pessoas que esperavam correio dos familiares que então viviam “longe”: em Lisboa, Coimbra, Porto, etc. Chegados os sacos e enquanto não eram abertos pela senhora do posto, o povo aglomerava‑se impaciente, frente ao posto público. Então a senhora do posto lia alto os nomes dos destinatários, os quais ávidos de notícias, recebiam a carta que lhes era destinada, procurando de imediato o “leitor” para lha ler. Os carteiros nas freguesias surgiram por volta de 1993. Até esta data, só Penamacor tinha distribuição ao domicílio. O Sr. Martins só deixou o serviço quando os sacos passaram a ser transportados de Penamacor para a Meimoa através dos autocarros que então começaram a circular na zona. – “Passei a transportar os sacos de Benquerença para Meimoa e da Meimoa para a Benquerença. Pagavam‑me só metade do ordenado (3$00), então desisti”, diz‑nos o nosso interlocutor. Questionado por muita gente se ficou com a reforma dos CTT, esclarece que não recebeu “nem um tostão”, a reforma que tem é de velhice. Para além do serviço dos CTT, o casal tratava ainda de umas leiras de terra e também ganharam algum dinheiro, como amendoeiros. Ou seja, a vender amêndoas e relógios de
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açúcar nas festas da terra e nas vizinhas. É que para criarem os 4 filhos tinham mesmo de deitar as mão de fora. Agora são utentes do Centro Paroquial da Sr.ª da Quebrada na Benquerença e afirmam que, a não ser pela idade, não têm grandes saudades do passado, pois no tempo actual há mais fartura e melhor vida. 23/Jul/1999 A mulher que fugia à guarda para vender pão Sentada frente à sua casa, localizada à beira da estrada que liga a freguesia de Salvador (Penamacor) a Monsanto, Maria Albertina “Farrancha” vai transformando os novelos de lã em lindas peças de artesanato multicolor. Molídias (rodilhas), vestidos para bonecas e ainda marafonas (maias) de trapos – “colocavam‑se às janelas das casas nos primeiros três dias de Maio, para afugentar as trovoadas” – explica‑nos, cestos para guardanapos, almofadas, enfim um largo lote de trabalhos em lã, que os turistas que passam para Monsanto não resistem em observar e adquirir. Esta é uma nova forma de vida adquirida há cerca de 20 anos, após uma doença que a impossibilitou de executar trabalhos um pouco mais pesados. Os tempos em que se ocupava a vender uns copos e petiscos na sua taberna e que percorria as romarias da zona com a mesma, já lá vão. Mas a memória de quando com 12 anos acompanhava a mãe, a Penamacor, para venderem o pão que faziam, não se perdeu. “Cozíamos trigo chapado que vendíamos de casa em casa em Penamacor. Nas tabernas dos Srs. Manuel Seguro e Tó Abreu, também vendíamos muito”, recorda. O racionamento do pão trouxe‑lhe alguns dissabores, sobretudo à mãe, que esteve presa por ter sido apanhada a vender pão, quando era proibido fazê‑lo. “A minha mãe esteve quatro meses presa. Eu não, porque nunca me deixei prender”, afirma enquanto solta uma gargalhada de felicidade. A sua astúcia revelou‑se noutras situações. “Quantos mais pães levávamos maior era a multa. Os guardas estavam sempre à nossa espera. Eu cheguei a tirar pães de cima dos burros e os guardas nem davam por isso. Às vezes ficava só com dois ou três e dizia‑lhes que os tinha comprado para mim”. Embora correndo algum risco, o negócio proporcionava‑lhes uma boa vida pois “ganhava‑se
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de todos. Uma noite passámos 400 cabeças de gado. Falámos com um colega seu que para nos facilitar a passagem levou 200 contos. Em duas passagens levou 400 contos. Ora ele recebia o dinheiro e fazia o serviço com vocês. Ou seja, nunca ninguém acusou o Sr. Varandas de se “vender” fosse a quem fosse”, referiu o homem. Por estes motivos lhe foi atribuído um louvor que ostenta emoldurado com orgulho. 1/Abr/2010 Integração A idade avançada não é sinónimo de inactividade. Veja‑se o exemplo de Maria do Carmo Bicho de 71 anos, de Maria Cândida de 74 e Isaura da Conceição Faria de 63. Para além dos serviços domésticos que desenvolvem diariamente em suas casas, preenchem os tempos livres com outras actividades. À boa maneira beirã, logo que a sombra da tarde atinge o balcão de granito da casa de Maria Cândida, as amigas juntam‑se e, enquanto põem a conversa em dia, fazem mais uns metros de belas e coloridas rendas para as toalhas, ou camas, das filhas, netas ou amigas. Digno de registo é ainda o caso de Isaura Faria, pois não é comum ver‑se uma cigana integrada num grupo assim e muito menos a fazer renda. A residir há três anos em Pedrógão, garantiu à VIVER que gosta de residir em Pedrógão – “toda a gente me quer bem e eu quero bem a toda a gente”. Relativamente à arte de fazer renda, diz que toda a vida soube fazê‑la, porém, porque é doente e para se entreter agora faz mais. Além disso, tem duas netas a seu cargo e as rendas serão para elas. Frequentam a escola e se desejarem fazer parte do Rancho Folclórico da terra ela não se opõe. “Tudo o que for de bom caminho eu não me oponho”, afirma. O seu netinho, o Manuel, quer ser bombeiro quando for grande. De momento frequenta a catequese e sente‑se feliz por isso. Um excelente exemplo de integração social. Jun‑Jul‑Ago/2007
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A Aldeia e os Dias 3
A mulher dos sete ofícios agrícolas Rosa Domingos Alvito Agapito, vulgarmente conhecida por Rosa Alvito, foi sempre uma mulher de trabalho. Detentora de um pedaço de terra no limite da vila, quase todos os dias ali se desloca para alimentar as diversas espécies de galináceos, uma ovelha, dois suínos e ainda uns cães de guarda. Para além dessa actividade, ela semeia, planta, amanha a terra e colhe a hortaliça, os legumes e a fruta. Quem passa junto da propriedade deslumbra‑se com o cuidado como é tratada. Enviuvou recentemente, mas o seu espírito de lutadora fê‑la superar a dor e é vê‑la constantemente a tratar da horta. Mãe de seis filhos, para os criar teve que “deitar as unhas de fora”. Perante a nossa admiração diz‑nos que “tive vacas leiteiras, porcas parideiras e até negociei cogumelos selvagens”. Mantém o gosto pela engorda de porcos por isso todos os anos compra dois leitões que trata até atingirem umas boas arrobas de peso. Depois, na devida altura, reúne a família para a festa da matança. Posteriormente os descendentes irão deliciar‑se com os saborosos enchidos temperados e feitos por si. Ou não fora ela oriunda de uma família famosa na arte de confeccionar os mesmos. Quem não conhece a família Alvito de Penamacor, famosa no negócio de gado, carnes frescas e enchidos? Seu pai, Augusto Alvito, conceituado e dinâmico negociante, foi protagonista de inúmeras histórias, inclusivamente em relação ao contrabando e à emigração. Aos nossos convites para nos dar o prazer de registarmos, no JF algumas delas, sorria e respondia, “as minhas histórias são segredos que irão comigo para debaixo da terra”. E foram. Com muita pena nossa. Mas voltemos à nossa amiga Rosa, pois aos 65 anos, não só continua a dedicar‑se ao campo, como aproveita os produtos da sua produção, para preparar deliciosas iguarias. “Faço licor de figueira, pessegueiro, romã, laranjeira e de figos de palma. Compotas e doces de figo, abóbora, tomate e melão, entre outras”. Arreigada aos costumes da sua terra natal, Penamacor, faz questão de manter algumas tradições vivas, muitas delas aprendidas com sua mãe. Numa época em que tanto se discute a poupança nos medicamentos e em que o direito à saúde está cada vez mais comprometido, talvez os responsáveis pelo sector, ainda nos obriguem a utilizar as mezinhas que os nossos avós
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usaram. “Com êxito”, garante‑nos Rosa Agapito. “Para as dores no peito ou nas costas – pontadas – usavam‑se as ventosas. Era uma espécie de boião de vidro grosso, com boca larga. Colocava‑se dentro um pedaço de algodão em rama embebido em álcool. Deitava‑se‑lhe o fogo e aplicava‑se a boca directamente no local da dor. O fogo consumia o oxigénio criando vácuo e a ventosa fixava‑se. A compressão aliviava as dores”, explica‑nos. Já para as constipações ainda hoje utiliza uma infusão de “pontas de pinheiros, folhas de eucalipto (das compridas, pois as redondas não são boas) e duas gotas de creolina num litro de água. Põe‑se a ferver e deixa que o vapor se espalhe na sala ou no quarto da casa, de modo a poder inspirar‑se bem. Para além de purificar o ar, cura as constipações”, afirma. Mas mais antigas e curiosas são as “receitas” para curar as dores de ouvido, quer das crianças, quer de adultos. “Apanham‑se ratinhos recém‑nascidos, ainda sem pêlos. Fritavam‑se em azeite e a gordura obtida era coada e metida em frascos. Quando era necessário, bastava pôr duas ou três gostas, no ouvido doente e as dores passavam. O mesmo resultado era obtido se deitassem duas ou três gostas de leite, do peito, de uma senhora que estivesse a amamentar uma criança”. Remédios estranhos mas de resultados garantidos, diz‑nos. 10/Mar/2011 Um azar nunca vem só… A reforma e o cansaço de Lisboa trouxeram João “Mó” à sua terra natal onde permanece grandes períodos de tempo. É aqui, nos dias tranquilos, que recorda “estórias” de um passado difícil. Por “estar farto de estar na Cova da Piedade”, após se ter reformado, optou por passar mais tempo na terra natal, principalmente a época do ano de maior calor. “O Inverno passa‑se melhor lá”, explica João Mendes Robalo, mais conhecido por João “Mó”. “Aqui tenho amigos de infância com quem converso. Uma casinha, a vida decorre sem problemas e tenho a visita do filho com alguma regularidade”, justifica. No próximo dia 26 de Julho completará 75 anos de idade, vinte e um dos quais vividos em Aranhas, de onde saiu para se empregar no Arsenal da Marinha. Enquanto viveu na aldeia, sofreu na pele os tempo difíceis de então, mas também recorda outros episódios
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Domingos “Fruta” – protagonista de histórias invulgares Explorou o Café Central durante cerca de 14 anos. Foi mecânico auxiliar da TAP. Teve uma cervejaria e depois um táxi em Lisboa. Domingos do Carmo Martins Crucho, mais conhecido por Domingos “Fruta” (herdado do pai), tem deixado por onde tem passado, um autêntico rasto de amizades. Voltou à terra‑mãe há cerca de três anos. Está à frente do restaurante a Piscina, em Penamacor. Contando 52 anos de idade, Domingos “Fruta” é já uma das figuras típicas de Penamacor. Entre o serviço de umas bebidas ou refeições, dificilmente se passa uma hora sem que seja recordado por alguém, um episódio, vulgarmente inédito e cómico, em que um dos protagonistas foi o Domingos. Também não é de admirar. É raro o petisco para o qual o Fruta não seja convidado, tanto para ajudar na confecção do mesmo, como para dar uma nota de alegria, cantando o fado. “Gosto de cantar porque sou alegre e gosto de me divertir”, explica‑nos. No tempo em que geria o Café Central, já pela noite dentro, comia com uns amigos umas gambas e bebia umas cervejas. Às tantas, recorda o Domingos: ”quando eu me ria com muito gosto, não sei já porquê, um amigo que estava à minha frente, já bem bebido, vomitava, acertando em cheio na minha boca. Fiquei horrorizado. Lavei‑me. Esfreguei‑me, sei lá. Sei é que durante mais de um mês, sempre que me encontrava com ele tinha invariavelmente de ir lavar a boca”. Dissemo‑lo no início. Ele está quase em todas. Amigo das tradições da sua terra, não perde uma noite de arranque do Madeiro. Noites essas que se traduzem em mais umas quantas histórias. Eis uma delas. “Um ano, eu, o Ti Zé Martinho e o Zé Luís, fomos ao arranque do Madeiro. Estava muito frio. Em redor dum grande lume, comíamos, bebíamos e cantávamos. Com o correr do tempo o fogo foi‑se apagando e nós, inconscientemente, aproximávamo‑nos das brasas semi‑apagadas. Já manhã fomos para casa. Quando me descalçava é que reparei que tinha os sapatos todos queimados. A pele dos pés saiu agarrada às meias. Vim a saber depois que aconteceu o mesmo a todos os meus amigos da noitada”. Após encerrar o estabelecimento é vulgar a ida a casa ou adega de um amigo. Assim aconteceu certa noite. O destino, como acontece com alguma frequência, foi a Adega do Ti Zé Martinho. Noite fria. Pouca luz e a
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falta de copos, fizeram com que para abreviar, o vinho saísse directamente da pipa para o recipiente que se encontrava à mão. Um cântaro de lata. Foi um gozo beberem pelo cântaro. Até que, já no fim, uma pequena batata se aloja nas goelas de um dos bebedores. Soube‑se então que o cântaro era usado para a preparação da vianda para os patos. Aproveitamos o ensejo para contar mais uma das suas inúmeras histórias para finalizar este breve registo de Domingos “Fruta”, um homem sempre bem disposto. “Aquando da despedida de solteiro, o Tó Mário pediu‑me para ir ajudar a fazer a jantarada. Eram mais de vinte pessoas. No quintal tinha um tanque para os patos. A vedar havia uma rede de arame, a qual tinha só uma estaca a dada quina do tanque. Precisei de urinar e fui ao quintal. Encostei‑e à rede, esta não aguentou e caí para dentro do tanque. Eu estava já um pouco “alegre”. Fiquei aflito porque pensei ter caído num poço. Tentei levantar‑me, mas a porcaria dos patos no fundo do tanque, muito escorregadia, não me deixava pôr de pé. Pensei, ena pá, aqueles estão todos ali a comer e a beber e eu vou morrer afogado. Apercebi‑me então que estava no tanque. Com certo esforço lá consegui sair. Cheirava horrivelmente. Tirei a roupa e fiquei de trousses. Durante vários dias tive a roupa de molho para lhe tirar o cheiro. Essa noite estava connosco um padre. Se não o tivesse avisado era certo que iria cair no tanque como eu caí”. O popular Domingos “Fruta” é assim. Cheio de histórias e de amigos. 5/Nov/1996 Zeca Campos: uma vida de aventuras e de sucesso Nascido em Penamacor, onde viveu os primeiros 18 anos da sua vida, José António de Campos tem actualmente 79, muitos deles de trabalho e luta pela vida, mas também bastantes de aventuras e malandrice. Filho de Eduardo Campos (falecido), proprietário da então famosa Pensão Campos e com oficina de ferrador, José Campos cedo aprendeu a arte do pai. Dele herdou ainda a alcunha de “Calmão” (judeu) e não poucas vezes correu atrás de indivíduos que para o irritarem o chamavam e colocavam a mão bem aberta sobre uma parede caiada (cal+mão). Entretanto, aprendeu a arte de mecânico e foi trabalhar para as Minas do Palão, primeiro, e da
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Panasqueira, depois. O espírito irrequieto que possuía não o deixava estar muito tempo no mesmo emprego, daí que em breve fosse para a CUF, onde, como mecânico, trabalhou na reparação de barcos. Na empresa proprietária dos famosos táxis “os palhinhas” esteve algum tempo. Mas foi já como instrutor de condução que se manteve dez anos seguidos na Silvino Vicente Ribeiro, em Lisboa. Fez sociedade com um amigo e abriu uma escola de condução, a qual não chegou a durar um ano. Seguiu‑se mais uma aventura de oito meses, desta vez para Angola, na companhia de uma brigada de engenheiros agrónomos, como mecânico. Finalmente, aventurou‑se na abertura da sua primeira escola de condução, em Benavente. O sucesso bateu‑lhe à porta e tempos depois abriu uma escola na Covilhã, outra em Belmonte. Esta teria, porém, pouco tempo de duração por falta de clientes. Mas abriria posteriormente outra em Samora Correia. Na Covilhã, desempenhou o papel de instrutor, enquanto a mulher, Emília Pereira Valente, ensinava o código. Já em Benavente, e Samora Correia são a filha e o genro que as administram. José Campos orgulha‑se de ter ensinado largas centenas de pessoas a conduzir. Gente de todas as condições sociais. “Tive imenso trabalho e paciência para ensinar algumas pessoas. Actualmente torna‑se mais fácil ensinar, pois a carta é tirada por gente mais jovem e o facto de serem mais instruídos facilita a aprendizagem”, argumenta. Segundo José Campos, também se regista uma maior afluência de mulheres à aquisição da carta de condução. “Antigamente eram dez homens para uma mulher, hoje é precisamente o contrário”. Os preços das cartas também variaram. Enquanto no início da sua actividade levava dois mil a dois mil e quinhentos escudos pela carta de condução de ligeiros amador, hoje são precisos mais de uma centena de contos. De solteiro, quando vivia em Penamacor, participou em aventuras que “davam para um livro”. Como não havia TV, nem os meios de diversão que há actualmente, mesmo nas pequenas vilas do interior, e o dinheiro também não abundava como agora, os jovens valiam‑se das suas artimanhas para se divertirem. “Normalmente”, recorda, “juntava‑se um grupo de amigos, cada um dos quais «roubava» em casa uns chouriços, coelhos, pão, vinho, etc. Depois, juntavam‑se num local recatado e aí faziam o petisco, deliciando‑se com ele”. Outra “ocupação” destes jovens
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era a de “assaltarem” galinheiros, coelheiras, enfim, locais onde pudesse surripiar a carne para o petisco. Todos os membros do grupo tinham que se aventurar e assim lá coube a vez ao Campos, que, numa noite teve de entrar num quintal e “recolher” um leitão. Nessa noite toda a rapaziada aguardava com ansiedade o desfecho da “operação”. Até porque o porquinho, mesmo pequenito, ao sentir‑se agarrado, faz um chinfrim dos diabos. Acontece que o Zeca “roubou” o porco e este nem deu em simples grunhido. “Aproximei‑me do leitão, deitei‑lhe a mão e de imediato meti‑lhe um dedo no rabo. Ele nem abriu a boca”, explicou ao JF. Outra vez calhou‑lhe ter de entrar num quintal que tinha de guarda um corpulento e perigoso cão. Conta: “Era noite. Antes de ir tomei um bom banho. Depois tirei a roupa, peúgas e sapatos e deixei tudo cá fora. Completamente nu, subi o muro, fui ao galinheiro, tirei uma galinha. Meti-lhe a cabeça debaixo da asa para não piar e saí do quintal sem que o cão desse por mim. É que eles não detectam uma pessoa se esta não tiver roupa”. Reformado há cerca de meia dúzia de anos, José Campos, com problemas de saúde, designadamente diabetes, que lhe afectaram a visão, passa muito do seu tempo num café perto da sua residência, no Rodrigo, Covilhã. Aqui vai recordando os momentos mais significativos da sua vida. E as histórias que conta deliciam os amigos. 13/Out/2000 Escreveu ao rei e conseguiu uma reforma para o pai Em Penamacor, toda a gente a conhece por D. Maria “Poças”. Natural de Monfortinho vive nesta vila há vários anos. Funcionária de uma agência funerária na sede do concelho, granjeou a simpatia e amizade da população quer pela maneira como lida com as pessoas, quer por ser prestável no desempenho da sua profissão. Excelente conversadora, D. Maria de Campos Pires, é ainda muito determinada. Eis porque, quando se deparou com a necessidade de tratar da reforma do pai, não hesitou em escrever ao Rei de Espanha. “Os meus pais nasceram e cresceram em Espanha, pois os meus avós maternos e paternos já lá viviam nuns arrendamentos junto das Termas de Monfortinho”, conta‑nos. “Ali era tudo gente portuguesa, mas
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eu sempre tive e tenho tendência de viver com gente espanhola”, sublinha. Fala fluentemente a língua de Cervantes. Porque trabalhava por conta própria o pai não podia descontar para a Segurança Social. Já D. Maria Pires vivia no Alandroal (seu marido Abílio Poças, era guarda na GNR), ouviu numa estação de rádio espanhola (que sintonizava frequentemente) que os trabalhadores independentes já podiam proceder aos descontos. Alertou o pai que a partir de então passou a fazê‑los. Anos depois os pais fixaram‑se em Portugal continuando a fazer os descontos, porém, porque o valor já era elevado (700 pesetas/mês) deixaram de o fazer. Entretanto, chega a idade da reforma e a filha alerta o pai para a eventualidade de ter direito a alguma coisa em Espanha. O progenitor responde‑lhe que mandou indagar sobre o caso, inclusivamente por um padre espanhol amigo, tendo concluído que não tinha direito a nada. Inconformada, garantiu que tinha de lhe arranjar a reforma daquele país, nem que para isso tivesse que escrever ao rei. As gargalhadas do pai, do marido e do irmão não a demoveram da ideia. “Peguei num papel e numa esferográfica e escrevi a Sua Majestade”. Alguns dias depois chegou a resposta da Secretaria da Casa de Sua Majestade El Rei, do Palácio da Zarzuela. Datada de 19 de Novembro de 1981, informava‑a que “cumprindo as ordens recebidas de Sua Majestade El Rei, foi levada a sua missiva ao Ministério do Trabalho, Saúde e Segurança Social, para que o departamento ou organismo correspondente estude a solução e que proceda com justiça”. Após receber esta informação escreveu a uma pessoa espanhola amiga a qual se deslocou a Cáceres, recolher a documentação necessária. Depois de preenchida e entregue, o pai passou a receber uma pensão de valor razoável. Outra faceta desta senhora, que revelamos com prazer é a sua veia poética. Num dos encontros que os ex‑guardas da GNR fazem anualmente, surpreendeu tudo e todos quando declamou a história da GNR em verso. “Fiz uns versos que descrevem o que era a GNR antes do 25 de Abril em Lisboa. Eu estava lá, apanhei essa fase toda. Era uma vida complicada, não ganhavam para viver num casa. Tínhamos que viver num quarto. No convívio fiz a surpresa até ao meu marido e fui muito aplaudida”, recorda com satisfação. 30/Out/2008
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Ă?ndice 9
Índice Remissivo 25 de Abril – 5, 39, 96, 163, 197, 205, 347, 369
alcaide – 129, 135, 263 Alcaide – 328
A
Alcains – 97, 135, 232, 270, 313
acarreja – 178, 298, 299
Alcongosta – 28, 45, 73, 286
acordeão – 16, 57, 59, 60, 80, 120, 156, 157, 158,
alcunhas
165, 166, 176, 177, 210, 228, 231, 232, 257, 260,
António “Craveiro”. ver António Ferreira
262, 269, 297, 299. ver também acordeonista
Raposo
acordeonista – 25, 59, 60, 157, 158, 165, 166,
António dos “Pêgos”. ver António Simões
174, 176, 210, 228, 231, 270, 283, 296, 299. ver
António “Lagarto” – 59, 166
também acordeão
“Argentino”. ver Luís Pires Ferreira
açude – 130, 299
“Arnaldo”. ver Manuel Geraldes
Adelino Costa – 239
“Borrego”. ver António Robalo Leitão
Adelino Duarte – 239
“Borreguinho”. ver António Robalo Pinheiro
Adelino Galhardo – 340
“Bragado”. ver Armando Cunha Pio Almeida
Adelino Galhardo Barbosa Correia – 93, 341,
“Cachi”. ver Manuel António
342
“Cagarracho”. ver António Carreto Lopes
Adelino Lopes Justino – 24, 25
“Carreto”. ver Manuel Filipe
Adelino Martins da Silva – 229
Celeste “Roxa”. ver Celeste Leal Martins
ADEP – 123, 251, 323, 369
“Chequim Vintanera”. ver Joaquim Borrego
adufe – 48, 49, 61, 97, 116, 178, 264, 265
Domingos “Carcereiro”. ver Domingos da
Afonso de Albuquerque – 141
Fonseca Cruchinho
água‑ruça – 90, 95, 105
Domingos “Feco”. ver Domingos Leitão
Águas – 36, 45, 46, 53, 132, 133, 157, 159, 176
Domingos “Fruta”. ver Domingos do Carmo
Aguiar da Beira – 40
Martins Crucho
aivecas – 180
“Farrancha”. ver Maria Albertina
Albano Alvito – 251, 322
“Feduxas”. ver António José
Albano Lopes Nunes – 170
“Filhota”. ver Joaquim Neves Carreto
albarda – 84, 289. ver também albardeiro
“Galucho”. ver Manuel Lopes Crucho
albardeiro – 71, 83, 84. ver também albarda
Hermínia do “Mó”. ver Hermínia Mendes
Alberto Santos Alves – 240, 241
João “Espalha”. ver João Esteves Canilho
alboroque – 221, 222, 295
João “Mó”. ver João Mendes Robalo
Alcafozes – 101, 106, 107
João “Nês”. ver João Dias Inês
350
Joaquim “Bicicleta”. ver Joaquim da Costa
Ressurreição
Ribeiro
“Saleiro”. ver António Ramos “Saleiro”
Joaquim “da Roda” – 183, 185
“Sassá”. ver José dos Santos Seguro
Joaquina “Vinhas”. ver Joaquina Rosa
“Tamancas”. ver Maria José Gonçalves
José “do Souto da Casa”. ver José Ascenção
Teresa “do Luís Garcia”. ver Teresa de Jesus
Castanheira
Ti “Lérias” – 61, 116
José Lopes “Pragana” – 208, 209
Tó “Esteves”. ver António Manuel dos Santos
José “Roque”. ver José Raposo Landeiro
Martins
“Laboutcha”. ver José Toscano Leitão
“Tonhinha”. ver Antónia Agostinha
Luísa “Cachana”. ver Luísa Robala
“Tonho da Aldeia”. ver António Afonso Ramos
Luísa “Pepino”. ver Luísa Teresa Crucho
Tó “Prego”. ver António Mota Campos
Antunes Lelé
Tó “Preto”. ver António Duarte Mendes
Luís “Tau”. ver Luís Maria Ribeiro
“Trapiço”. ver José Geraldes
“Maneio” – 53, 288, 300. ver também João
“Triste”. ver António Silva
Lopes Birra
“Violas”. ver Manuel dos Santos
Manuel “Ferreiro”. ver Manuel de Sousa
Zé “Badico”. ver José Agostinho de Andrade
Manteigas
Zeca “Calmão”. ver José António de Campos
Maria “Florinda”. ver Maria Angelina Reis
“Zé da Água”. ver José Bogas Leitão; ver José
Nabais
Mota Cruchinho
Maria José “Moleira” – 45, 46
Zé “da Rita” – 184, 185, 261
Maria “Manta”. ver Maria Bárbara de Almeida
Zé “Jack”. ver José Crucho
Maria “Padeira”. ver Maria Barata
Zé “Latoeiro”. ver José Maria Régio
Maria “Poças”. ver Maria de Campos Pires
“Zé Martinho”. ver José Robalo Vitorino
Maria “Quim”. ver Maria Rosa Jacinto
Zé “Mó”. ver José Domingues
Maria “Ralinha”. ver Maria Salgueiro Amaral
Zé “Pardal”. ver José Augusto de Matos
Maria “Tacha” – 30, 261, 282
Zé “Quarta”. ver José João Pinheiro
“Messias”. ver Armando Robalo Esteves Grilo
Zé “Rasteiro”. ver José Carreto Landeiro
“Monsanteiro”. ver Joaquim Cristóvão Ramos
Zé “Tostão”. ver José Borrego Domingos
Nazaré “Maneiras”. ver Nazaré Leitoa
Zezinha “Vinhas”. ver Maria José Campos
“Paca”. ver António Luís
Araújo
“Passotas”. ver José Leitão Delgado
Aldeia da Ponte – 161
Paulo “Burrico”. ver Paulo Tomé
Aldeia de Joanes – 233
“Pirolito”. ver António Mota
Aldeia de João Pires – 30, 44, 50, 52, 54, 69, 71,
Ressurreição “Kácas”. ver Angelina da
88, 104, 120, 138, 139, 141, 172, 178, 179, 211, 212,
351
Padre Esteves – 161, 209
130, 132, 133, 134, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 149,
Padre Francisco Domingos Chorão – 229, 266
152, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 162, 163, 164, 165,
Padre José Maria – 229
168, 170, 173, 175, 178, 179, 194, 195, 198, 200,
Padre Nabais – 230
202, 204, 205, 206, 208, 210, 212, 213, 214, 215,
Padre Zé Miguel – 30
216, 218, 219, 220, 221, 222, 225, 229, 240, 242,
Palão – 66, 82, 99, 103, 111, 113, 312, 344. ver
243, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252,
também minas
255, 256, 257, 258, 259, 260, 262, 263, 266, 268,
Palvarinho – 34
276, 277, 295, 296, 297, 300, 301, 302, 304, 305,
Panasqueira – 63, 240, 312, 314, 345. ver
308, 309, 310, 312, 316, 317, 320, 322, 323, 324,
também minas
325, 326, 327, 328, 329, 330, 331, 332, 333, 336, 337,
Paris – 74, 324, 333
338, 340, 341, 342, 343, 344, 345, 346, 369
passador – 67, 76, 139, 140, 333
Penha Garcia – 19, 23, 101, 166, 167, 181, 182, 183,
pastor – 15, 18, 19, 20, 22, 23, 34, 49, 50, 64, 65,
196, 249, 264, 283, 330
74, 80, 116, 117, 118, 120, 127, 131, 143, 169, 170,
Pensão Seguro – 295
175, 185, 191, 193, 220, 249, 259, 260, 270, 287,
perdigoto – 118, 208, 209
298, 299, 305
Perpétua Maria Vicente – 140, 141
pastorícia – 113, 131, 160, 168, 169, 172, 175, 177,
Pesquero (rio) – 310
248, 298
Petronilho – 305, 306, 329, 340
patenta – 69, 83
picota – 77, 339
Patronato – 40, 41, 92, 194, 195
Pina Brioso – 82, 83
Paul – 206, 265
Pirinéus – 140
Paula Alexandra Dionísio Magrinho – 93, 94
pirolitos – 54, 68
Paulo de Oliveira – 314
Poço do Inferno – 239
Paulo Tomé – 69, 70
poia – 74, 91
pedreira – 71, 89, 178, 240
Polícia de Segurança Pública – 104, 123, 176,
pedreiro – 71, 79, 89, 107, 317
248, 306, 307
Pedrógão de São Pedro – 43, 44, 97, 104, 105,
Porto – 11, 67
119, 122, 123, 145
Povo Novo – 39, 152, 191, 193, 202, 208, 282. ver
Penamacor – 6, 9, 10, 11, 12, 15, 17, 18, 23, 24,
também Aranhas
26, 27, 28, 29, 30, 31, 36, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45,
Proença-a-Nova – 122, 221, 229, 272
47, 48, 51, 52, 55, 57, 59, 60, 61, 62, 63, 66, 67, 68, 70, 72, 73, 79, 80, 82, 83, 87, 88, 89, 90, 92, 94, 97,
Q
98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 109,
Quadrazais – 75
110, 111, 113, 114, 115, 120, 121, 123, 124, 127, 129,
quarteleiro – 123
362
Quinta do Major – 94, 136
Rui Serrano Candeias – 77, 78
Quintãs – 13, 14, 87 Quintas do Anascer – 14, 131
S
quinteiro – 72
Sabugal – 53, 75, 90, 95, 97, 113, 130, 139, 142, 161, 200, 205, 210, 221, 225, 226, 265, 266, 306,
R
335
Rádio Club Português – 42
sacristão – 52, 70, 151, 219, 229, 230
Rádio Comercial – 42
Salamanca – 67, 90
Raia – 23, 61, 75, 125, 166, 175, 189, 262
Salema – 123
Rancho Folclórico – 48, 52, 81, 97, 120, 145, 159,
Salgueiral – 199
163, 171, 175, 176, 238, 264, 289, 307
Salgueiro – 13, 87, 169
ratoeira – 110, 111
Salvador – 12, 13, 23, 24, 25, 48, 58, 59, 60, 61, 77,
Raul Lourenço – 115
88, 104, 105, 108, 116, 127, 128, 129, 151, 156, 161,
realejo – 80, 168, 178, 262, 265, 269
162, 165, 166, 174, 229, 260, 264, 282, 289, 316,
regedor – 161, 234, 315
318, 325. ver também São Salvador
Registo Civil – 123, 173
Samora Correia – 345
relhas – 180
San Cristóbal – 218, 219
rendeiro – 64, 89, 160, 272, 290
San Martín de Trevejo – 258, 260, 262
República – 51, 98, 112, 161, 171, 185, 209, 311, 324
Santa Casa da Misericórdia – 9, 48, 215, 216,
Revoltas – 192
248, 264, 307, 322
Ribeiro Sanches – 323, 324
Santa Catarina – 274. ver também Senhora da
Rio de Janeiro – 79, 80
Quebrada
Rita Fonseca Soares – 32, 33
Santa da Ladeira – 198
rodilha. ver molídia
Santa Luzia – 232
Rosa Borrega – 177
Santa Marta – 168, 309, 327, 328
Rosa Curta – 255
Santa Sofia – 48, 49
Rosa Domingos Alvito Agapito – 149, 150
Santinha. ver Senhora do Bom Sucesso
Rosa Gertrudes Martins – 68, 69
Santíssimo Sacramento – 268, 273
Rosa Leitoa – 132, 133
Santo António – 122, 246, 259, 267, 268, 334, 335
Rosa Neves Carreto da Silva Lopes – 152, 153,
Santo Cristo – 84, 123, 215
154
Santo Estêvão – 87, 95, 97, 266, 295
Rosária Lourença – 338, 339
Santo Isidro – 218, 261
Rosmaninhal – 57, 237
Santos Vinagre Escobales – 134, 135
RTP – 47, 157
São Bartolomeu – 83, 120, 176, 196, 305
363
São Brás – 217, 218
Senhora do Incenso – 16, 37, 103, 247, 275
São Cristóvão. ver San Cristóbal
Senhora do Loreto – 107
São João – 89, 215, 216, 252, 255, 256, 257, 269,
Serra da Alagoa – 275
281, 286, 315, 321. ver também Largo de São João
Serra da Estrela – 113, 121, 239
São João da Madeira – 84, 85
Serra da Gata – 218
São João da Talha – 304, 305
Serra da Marvana – 65
São Miguel – 23, 277
Serra d’Opa – 90, 121
São Miguel d’Acha – 110, 328
serrador – 52, 53, 54, 179
São Pedro – 97, 255, 256, 257, 258, 268, 318, 342 São Romão – 44, 121, 239
SIC – 157 Sociedade Industrial de Penteação e Fiação de
São Salvador – 267. ver também Salvador
Lãs de Unhais da Serra – 236
sapateiro – 26, 27, 38, 99, 113, 119, 209, 210, 211,
Soledade Emília das Neves – 84, 85
306, 325
Sortelha‑a‑Velha – 275
seareiro – 117
Souto da Casa – 63, 232
Sebastião João Martins – 61 Sebastião Pereira Santana – 322, 323, 331, 332,
T
333
taberna – 12, 13, 53, 54, 55, 57, 58, 59, 60, 79,
Segura – 19, 142
80, 107, 108, 156, 169, 181, 182, 183, 184, 185,
Seia – 236
186, 200, 201, 207, 208, 211, 234, 250, 251, 261,
Seminário de Cucujães – 76
265, 282, 283, 295, 306, 312, 322, 329, 336. ver
Senhora da Azenha – 264, 281
também António Abreu
Senhora da Consolação – 269, 271
David – 54, 59, 207, 261
Senhora da Póvoa (festa) – 13, 195, 232, 264,
Manuel de Matos – 59, 261, 282
265, 266, 267. ver também Vale da Senhora da
Perdizinha – 261
Póvoa
taberneiro – 79, 260
Senhora da Quebrada – 12, 274, 275, 276, 277,
talhante – 31, 61, 79
309. ver também Santa Catarina
talho – 34, 79, 156, 207
Senhora da Ribeira. ver Senhora do Bom
tanoeiro – 115
Sucesso
TAP – 83, 343
Senhora das Neves – 275
Tarzan Taborda – 196
Senhora do Almortão – 13, 120, 264
táxi – 16, 24, 25, 134, 139, 197, 315, 343
Senhora do Bom Sucesso – 13, 54, 58, 64, 65,
taxista. ver táxi
115, 134, 161, 193, 227, 258, 259, 260, 261, 262, 275,
tear – 37, 96, 97, 122, 173, 181, 182, 289
287, 288
Tear (grupo popular) – 158, 297 tecedeira – 97, 122, 182
364
tecelagem – 96, 97, 160, 181
V
Teixoso – 239
Vale da Benta – 310
telescola – 152, 162
Vale da Senhora da Póvoa – 10, 11, 32, 43,
Telhado – 57, 286, 287
87, 89, 104, 105, 121, 131, 265, 266, 295. ver
Telmo. ver Álvaro Esteves Cruchinho
também Senhora da Póvoa (festa)
Teresa Curta – 318
Vale d’Edra – 92
Teresa de Jesus – 73
Vale de Espinho – 23, 53, 75, 142, 208
Terra Fria – 23, 161, 200, 208
Vale de Freixo – 132, 327
Terreiro das Bruxas – 23, 87, 142
Vale de Lobos . ver Vale da Senhora da Póvoa
Tiago Lopo Carreto – 164
Vale Feitoso – 311, 329
tipógrafo – 76
Valverde del Fresno – 73, 129, 131, 134, 135, 217,
Tó Amaral – 128
218, 219, 230, 258, 260, 261, 262, 263, 283, 310
Tó Frade – 27
Vasco Esteves de Cima – 235, 236, 240
Tomar – 42, 304
vassoureiro – 121
Tomás Martin Nuñez – 260, 261, 284
Veigas – 22, 136, 137, 299
Tó Morais . ver António José Raposo Morais
Verdelhos – 239
Torres Novas – 198, 332
Via‑Sacra – 237, 242
Tortosendo – 14, 37, 38, 206, 228, 245
Vila Miel – 206
Toulões – 272
Vilar Formoso – 67, 90, 142, 143, 197, 290
tractorista – 81, 309
Vila Velha de Ródão – 112
tradutor – 76
Vítor Borrego – 105
tremoceira – 30. ver também tremoços
Vítor Leitão de Almeida – 319, 320
tremoços – 30, 62, 63, 191, 261, 287. ver
Vítor Lopes Manuel – 176
também tremoceira
viveirista – 27, 28
Três Povos – 13, 87, 91, 131, 169
volfrâmio – 104, 143, 313, 314. ver também minas
Trindades – 219, 234 Tristão da Silva – 296
Z
Tuna dos Empregados do Comércio – 317
Zarza La Mayor – 35
TVE – 261
Zé Bernardo – 49, 50 Zebreira – 111, 272
U
Zé Marques Adão – 297
Ultramar – 76, 187, 275, 311
Zêzere (rio) – 226
Universidade Lusíada – 70
zinco – 104, 310. ver também minas Zona Industrial – 102, 103, 105
365
Índice 1 \ OFÍCIOS 2 \ RAIA 3 \ A ALDEIA E OS DIAS 4 \ CURIOSIDADES E LENDAS DAS TERRAS DA RAIA 5 \ TERRAS 6 \ FESTAS, FEIRAS E ROMARIAS 7 \ SABORES 8 \ OUVI AGORA, SENHORES 9 \ ÍNDICE REMISSIVO
7 125 147 189 223 253 279 293 350
Agradecimentos Quero, aqui, expressar os meus mais sinceros agradecimentos aos amigos sem os quais esta obra não teria sido possível. Ao Luís António da Silva Carvalho Timóteo, grande impulsionador que procedeu à fotocomposição de todos os textos. Ao Ricardo Paulouro Neves, editor que me impeliu a levar o projecto avante. Ao Jorge Alexandre Portugal Lopes, que se dedicou à paginação com alma. Muito especialmente à minha querida amiga Filomena Paulouro das Neves por, durante 38 anos, ter sido a “tradutora” dos meus manuscritos. Aos meus entrevistados por me terem dado oportunidade de aumentar os meus conhecimentos da vida. Bem‑hajam todos, Jolon
Nota Biográfica José Lopes Nunes (JOLON), nasceu na freguesia de Aranhas, concelho de Penamacor, a 29 de Setembro de 1943. Cedo começou a escrever para a imprensa nacional e regional, tendo sido correspondente de diversos jornais e revistas e da agência Lusa. Foi chefe de redacção do mensário “A Verdade de Penamacor”. É co‑autor do livro “Escritas de Penamacor”, edição da Câmara Municipal de Penamacor. Tendo como passatempo a fotografia, participou em diversas exposições individuais e colectivas e tem no seu currículo vários prémios obtidos em concursos em que participou. Tem trabalhos fotográficos seus publicados em revistas, jornais e livros, com destaque para “ Cantando os Hermínios”, do Rev. Pe. António Pinto da Silva e “Aranhas ontem e hoje”, da Liga dos Amigos de Aranhas. Sempre ligado às questões sociais, integrou as direcções dos Bombeiros Voluntários de Penamacor; Liga dos Amigos de Aranhas, como um dos sócios fundadores; Casa do Povo de Penamacor, onde se criou a primeira escola de música da vila e se promoveu o primeiro curso de pesca desportiva à linha; ADEP (Associação Desportiva Penamacorense), com a criação das secções de pesca e de campismo e caravanismo federados. Foi também membro fundador da secção concelhia da Liga Portuguesa Contra o Cancro, integrou a primeira Junta de Freguesia de Penamacor eleita após o 25 de Abril e, posteriormente, as Assembleia e Junta de Freguesia de Aranhas. Ligado desde muito novo à actividade comercial, mantém aberto o estabelecimento de retrosaria e tecidos mais antigo do concelho, mais para estar em contacto permanente com o público – que lhe proporciona o acesso a belíssimas histórias – do que pelo interesse económico que dali advém. Mas foi ao JF que se dedicou de alma e coração nos últimos 39 anos. Notícias, críticas, reportagens, de tudo fez um pouco, porém, o que mais o fascina é a “descoberta” de histórias reais do povo genuíno e autêntico das nossas terras, as quais deram azo a esta publicação.