Janeiro 2010
anos
n.º 20 _ ano 8 Directora: Hália Costa Santos www.estajornal.com
jornal laboratório do curso de comunicação social | escola superior de tecnologia de abrantes | instituto politécnico de tomar
Amnistia quer voltar a ter núcleo em Abrantes p_4e5
Presidente da Amnistia Internacional Portugal, Lucília José Justino, em grande entrevista.
Presidente de S. João concorda com a mudança da ESTA p_7 Alfredo Santos reconhece que Alferrarede tem mais condições mas espera que os alunos continuem no centro histórico.
Contestação Helena Cardinal critica a proibição de utilização de animais nos circos. Garante que os seus animais são bem tratados e não percebe por que razão a lei não se aplica a todos. p_3
Mau tempo prejudica corridas de aventura p_8 Aldeia do Mato recebeu a penúltima etapa do Adventure Race World Championship (ARWC).
Conselho Geral do IPT já tem presidente p_10 www.nub.pt
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opinião
janeiro 2010
Uma nova era Hália Costa Santos
Esta é a vigésima vez que os alunos de Comunicação Social da ESTA fazem uma edição do ESTAJornal. Como já aconteceu ao longo dos últimos anos, de vez em quando surgem novidades que resultam de novas opções, sempre tomadas com a intenção de melhorar ou de experimentar novas estratégias. Esta edição do ESTAJornal tem a particularidade de espelhar uma nova aposta, com mais exemplares e mais distribuição a nível regional. Ao ser distribuído com o Jornal de Abrantes, o ESTAJornal pretende chegar a pessoas e locais da região que, provavelmente, não sabiam que este projecto existe. Agora ficarão a saber. Em simultâneo, a equipa que faz este jornal decidiu desenvolver um projecto paralelo, para um outro tipo de público, com conteúdos mais diversificados e, também, com a reprodução dos artigos que se publicam nesta versão em papel: www.estajornal.com. Também por
editorial
isso, a versão em papel surge com menos páginas: muitos dos conteúdos produzidos pelos alunos serão alojados no online. No ESTAJornal disponível na Internet, os alunos têm um novo campo de experimentação. Com o passar do tempo, com o aprofundamento das práticas e com o desenvolvimento de parcerias com a comunidade empresarial, esta será uma plataforma multimédia, acolhendo conteúdos produzidos pelos alunos em diferentes formatos, nomeadamente audiovisuais. Os dois suportes de comunicação do curso de Comunicação Social entram, pois, numa nova era, com os olhos postos no futuro, mas também com especial atenção à comunidade onde a ESTA/ IPT está inserida. Para além disso, em ambos os casos, os jornais serão, necessariamente, um espaço onde se dará destaque ao projecto educativo e profissionalizante do IPT, em todos os seus contornos.
Nem sempre em segundo lugar Henrique Scherer
Em tempos de crise econômica, as estatísticas costumam corroborar a tensão geral que a população enfrenta. Quando se pensa nos índices de desemprego, então, a calamidade parece ainda maior. Agora, depois da tempestade, começa a se enxergar os primeiros sinais de tempo ensolarado: o desemprego no Brasil está em queda contínua. Em números absolutos, são quase 15 milhões de brasileiros – praticamente como se todo Portugal e toda a Finlândia estivessem desocupados – mas em percentagem isso equivale a 7,5% da população. Talvez privilegiado por ser uma economia em desenvolvimento, o Brasil certamente não possui uma força de trabalho ou uma demanda tão expressiva como a China, a fábrica do mundo, mas conseguiu fazer uso de sua posição de eterna “promessa para o futuro” para atrair
investimentos externos, mesmo após o estouro da crise há cerca de um ano. Por outro lado, o país não esteve completamente imune à ameaça. Estima-se que do fim de 2008 até o começo deste ano cerca de 750 mil postos de trabalho tenham sido eliminados; nos Estados Unidos, Europa e Japão, no entanto, as demissões em massa de grandes empresas continuam, mesmo após o término do período mais crítico da economia. De repente, a exportação começou a perder um pouco da importância no Brasil, já que o consumidor interno ignorou, em grande parte, toda essa situação. O mercado interno, antes posto em segundo lugar por muitos, começou a ser mais valorizado pelas companhias e, por fim, o brasileiro também começou a aprender que não está, afinal, sempre em segundo lugar em tudo.
Ficha técnica Directora: Hália Costa Santos|Editora executiva: Sandra Barata|Redacção: Ana Isabel Silva|Cátia Romualdo Cláudia Ferreira|Daniela Santos|Gonçalo Reis Henrique Scherer|Joana Rato|Jorge Cordeiro Nuno Sotto-Mayor|Priscila Caniço|Sara Pereira|Tânia Machado|Projecto gráfico e paginação: João Pereira Tiragem: 15000 exemplares
Votou?
Agora pague as contas João Ruela
Primeiro anunciado, agora confirmado: a taxa de desemprego em Portugal superou os 10%. A Eusostat apontou, em Dezembro de 2009, para uma percentagem de desemprego de 10,2%, os maiores números alguma vez registados desde que o instituto começou a recolher os dados, em 1983. Na anterior publicação, o desemprego situava-se nos 9,2% em Setembro, registando-se, assim, um aumento de um porcento. No passado dia 20 de Agosto, precisamente a um mês das eleições, o Governo apresentou a garantia formal que o défice não ultrapassaria ao 5.9% Três meses depois – e após o fim das eleições, sublinhe-se – o Governo aponta, humildemente, para um défice de 8,4%. Um erro de 2,5% do PIB em apenas 3 meses. O Governo olvidou-se de mencionar que estava prevista uma margem de erro que entraria em vigor após as eleições. O anunciar das diversas estatísticas consiste em novidade apenas para o leitor de imprensa. O Governo está – e esteve, ao longo de toda a campanha – ciente da crise orçamental e financeira que o país atravessa. A urgência de adaptar a lei do subsídio de desemprego à actual situação deverá estar em trânsito. Se estiver em auto-estrada, pior ainda: mais caro fica. A implementação de um pagamento efectivo do subsídio de desemprego, como referiu Franciso Louça após análise dos dados apontados pela Eurostat,
custava menos que o desvio de preços das auto-estradas. Contudo, o menos caro também custa ao Governo, e falta instalar wireless no TGV e construir uma pista de bowling em Alcochete. O problema reside na incompreensão dos portugueses face às soluções anunciadas por Sócrates durante a campanha. As medidas anunciadas para a redução do desemprego eram, na verdade, as medidas estudadas para a vitória nas eleições. Culpa nossa, culpa nossa! Os ecos da crise estendem-se até ao oportunismo dos patrões, que vão aproveitando para despedir funcionários, procurando a justificação da crise para rescindirem em mútuo acordo. Deveria ser concebido um incentivo às pequenas e médias empresas para que criem postos permanentes de trabalhos nos seus diversos ramos, bem como a promoção de contratos efectivos. Ricardo Araújo Pereira, o mesmo que esmiuçou José Sócrates, em artigo de opinião: “Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantida. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinha.” Não há motivo para desespero. Estamos perante um novo mandato de José Sócrates e – agora sim! – vamos continuar na cauda da Europa. Votaram? Agora está na altura de pagar as contas. Pois, com o desemprego, também não há como pagar.
Estatuto Editorial
e inter veniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante.
• O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. • O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta independência e de pluralismo dos pontos de vista a que dá expressão. • O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar os mais diversos campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante a sociedade e o Mundo. • O ESTA Jornal considera como parte da sua missão contribuir para a formação de uma opinião pública informada, emancipada
• A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo. • O ESTA Jornal considera-se responsável única e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e perante o público a que se dirige. • O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e empenhado com os leitores, comprometendo-se a manter canais de comunicação abertos com quantos connosco queriam partilhar as suas ideias e inquietações.
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janeiro 2010
Helena Cardinal, em entrevista, sobre a proibição de animais nos circos
Andavam a matá-las para tirar a pele”
“
Priscila Caniço
Desde 12 de Janeiro que é proíbido comprar e a reproduzir animais selvagens. Apenas os zoos, instituições científicas e entidades autorizadas para a reprodução e conservação da Natureza o podem fazer. O Circo Jorge Cardinal, com animais marinhos, esteve em Abrantes nos dias seguintes à publicação da Portaria que definiu estas novas regras. Helena Cardinal diz que sem animais o principal público deste circo vai desaparecer. Se assim for, admite voltar para o estrageiro, onde esteve durante 22 anos. Em que sentido esta nova lei a afecta?
Esta lei é horrível, só em Portugal é que existe. Estive ausente durante 22 anos deste país, na Dinamarca, França, Alemanha, entre outros, a fazer espectáculos, e nunca aconteceu nada de anormal
como agora. Há vários anos, nos Campos Elísios, toda a comunidade circense espalhada pela Europa fez uma grande manifestação, para continuar com os espectáculos de animais selvagens. Devido a essa posição, nós conseguimos que isso não fosse avante. Aqui, em Portugal, somos muito inferiores. Existe também outro assunto relacionado: as corridas de Toiros. Aí é que molestam os animais em praça pública em frente de todos, mas quando existem poderes de pessoas influentes no país, a evolução das tomadas de posição toma outro rumo. Apesar de eu ser a favor das corridas, é algo com tradição que se deve preservar. Continuo sem entender por que é só nós fomos afectados. Sem animais o nosso público principal vai deixar de vir; as crianças adoravam ver
os animais: as focas, leões, papagaios, elefantes, etc… Os Zoomarines também são circos, mas nesses casos não proibiram os animais selvagens como os golfinhos ou as focas! Fazem espectáculos com crianças a participar com os animais, mas não se preocupam com a possibilidade de serem mordidas. A lei, quanto a mim, devia ser para todos.
A propósito da aplicação da Portaria, Miguel Chen fez a seguinte afirmação: “Esqueceram-se de fazer preservativos para os animais que estão em cativeiro”. Como é que comenta?
(Risos) Não sei como vamos conseguir controlar essa situação, mas sei que no caso dos humanos existem fármacos que não o permitem. Os animais estão juntos nas jaulas e estão habituados a estar juntos, a fazer os espectáculos em conjunto. As minhas focas, Cris e Nick, apesar de serem machos, já os tentei separar, cada um no seu compartimento, mas eles não deixaram. É muito complicado quando já estão juntos há 22 anos. Alguma vez teve o show interrompido por alguma organização defensora dos animais em cativeiro?
Nunca aconteceu tal incidente. Havia, sim, manifestações a 20 metros de distância do local onde eu estava com o todo o staff. Levavam os seus cartazes, com as suas opiniões e todas as pessoas se respeitavam: eu a eles e eles a nós. O povo era diferente, tem uma mente mais aberta. No estrangeiro não havia asfixia. E em Portugal?
Nestes oito meses ainda não fui confrontada com essa situação. Animais. “Não podemos obrigá-los a trabalhar, eles fazem o que querem”.
Nos vossos espectáculos, os animais já fo-
ram sedados para o palco?
Jamais isso se passaria, os meus animais só fazem o show quando eles querem. Passei dois anos a dar-lhes peixe, para educá-los para estas práticas. Em Torres Novas não trabalharam, tiveram problemas gastrointestinais, mas para o público acreditar na nossa palavra fomos buscá-los e mostrámos que não estavam bem. Não podemos obrigá-los a trabalhar, eles fazem o que querem. O veterinário visita regularmente o seu circo?
Em cada cidade que nós estamos vem um veterinário dessa autarquia analisar o estado de saúde de cada um deles. Apenas as focas são vistas por um veterinário de Inglaterra, especializado nesta espécie. O seu período médio de vida nos zoos é de 18 anos, eu já as tenho há 22 anos. Onde e como comprou os animais?
Comprei as minhas foquinhas em Itália, que vieram da África do Sul, a uma empresa de importação e exportação de animais. Como eu sabia que andavam a matá-las para tirar a pele, fiquei com elas. Já o caso dos tubarões é diferente, o meu filho esteve na América para aprender a fazer o espectáculo, saber qual o momento certo para entrar na água. Sem a sua ida para um país estrangeiro seria impossível de realizar este show. Não tínhamos nem animais nem sabedoria e inovação. Que projecções tem quanto ao futuro do seu circo?
Se ficar sem os animais tenho de me ir embora para os antigos países onde anteriormente já trabalhei.
Um canil muito especial Joana Rato
A sua descoberta não é fácil. Situado na zona industrial de Abrantes, foi necessário recorrer à conhecida técnica do “pára e pergunta” para encontrar o canil/gatil intermunicipal, que acolhe animais do concelho de Abrantes, Sardoal e Constância. Primeira impressão: liberdade! Os três cachorros bebés e sua mãe vieram ao portão dar as boas-vindas. Encontravam-se soltos e, entre saltos e lambidelas, limitados pelas grades, grande foi a agitação quando Ana Moreira, a responsável pelo canil, chegou e abriu o portão. Ana Moreira deixa transparecer o profundo amor que nutre por aqueles animais que diz serem “sua parte integrante”. É precisamente esse sentimento de entrega que torna este canil/gatil especial. A entrega de Ana já vai para mais de dois anos e a palavra ‘abate’ é proibida. Com o apoio da ADACA, associação de defesa dos animais que faz a gestão do canil, foi possível chegar a um acordo com as câmaras de Abrantes, Sardoal e Constância, através de um protoco-
lo, no qual o principal objectivo é evitar o abate. Ana Moreira lamenta a situação em que está: “Só tenho pena de me sentir sozinha, de não ter apoio e de não poder fazer mais coisas por estes animais”. Com ela estão apenas mais três ou quatro pessoas que a ajudam no seu trabalho diário. Vê no voluntariado uma ajuda fundamental, mas diz que é preciso “sobretudo gostar de animais”. Mas com responsabilidade e método, pois “o voluntário tem que vir com espírito e dedicação para conseguir formar uma equipa”. Com capacidade para alojar 75 animais, actualmente são 70 os que lá vivem. São cerca de 18 celas, para seis animais, quatro, dois e um. A alimentação é feita em média duas vezes por dia, “numa relação entre qualidade e preço muito boa, o que permite ter os animais bem alimentados e saudáveis”. A limpeza é obrigatoriamente diária, mas muitas vezes chega a ser feita duas vezes por dia: “Primeiro limpa-se dentro do edifício
Canil. O principal objectivo é evitar o abate.
pois há animais que ficam no corredor. As celas são limpas uma a uma e durante a limpeza o cão sai à rua. Ao acabarmos de lavar, o cão volta para dentro, e assim sucessivamente”. Numa tentativa de recordar aqueles que por ali passaram e de valorizar a presença dos que lá vivem, as voluntárias enfeitam as paredes dos corredores com fotografias e textos. O mesmo acontece na cozinha, onde numa das paredes se encontra um conjunto de estrelas desenhadas a papel, cada uma com um nome, simbolizando aqueles que já partiram. No canil todos os animais são apelidados e a cada compartimento
foi dado um nome que não é nada mais que o reflexo da sua personalidade. Por exemplo, os Fronhas foram assim baptizados porque “que passam a vida a dormir” e na cela dos Lusíadas vive o Camões, que é cego de um olho. Actualmente, a maior preocupação de Ana Moreira prende-se na necessidade de desparasitar os animais. Processo que é feito de três em três meses e que é fundamental para a sua saúde e bemestar. Com poucos apoios, as manobras de angariação de dinheiro vão desde as quotas dos sócios, a rifas ou apenas à boa vontade daqueles que gostam de animais e querem ajudar.
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grande reportagem
janeiro 2010
Lucília José Justino, presidente da Amnistia Internacional Portugal, em entrevista ao esta.jornal
Amnistia quer voltar a ter núcleo em Abrantes
Lucília José Justino, Presidente da Amnistia Internacional Portugal. Garante que “a violação de Direitos Humanos em Portugal não se compara com o que se passa noutros países”. A mais recente campanha consiste em fazer pressão junto das autoridades mundiais para que se acabe com as causas da pobreza.
Nuno Sotto Mayor
Qual a importância da Amnistia Internacional em Portugal?
A Amnistia tem a mesma importância que tem nos outros países. É reconhecida pelas instituições portuguesas e ouvida pelo Estado. É sempre solicitada para apoiar desenvolvimentos em matérias de direitos humanos. Em Portugal também é percepcionada como sendo um contributo para defender as vítimas em todo o mundo, não só as portuguesas. É uma grande organização credível, independente e muito séria. As pessoas em Portugal não confundem a Amnistia com outras Organizações Não Governamentais.
Como é que é o relacionamento com o Estado?
“A Amnistia Internacional surgiu em 1971, em Inglaterra, com o advogado Peter Bensen, exactamente com o mito fundador de dois estudantes portugueses que estavam a brindar à liberdade e foram reprimidos por agentes de autoridade. Peter Bensen disse que esse acto não poderia ser esquecido. O movimento pela Amnistia é o movimento pelo não esquecimento. A raiz da palavra Amnistia é amnésia. Não esqueçam dois estudantes portugueses. Vamos escrever às autoridades e a escrita começou o movimento de pedir amnistia para não esquecer aqueles dois estudantes. Depois houve uma evolução semântica no termo e a Amnistia passou também a querer dizer perdão. Mas nós, organização, amnistia não quer dizer que queiramos perdão para todos. A Amnistia tem essa palavra porque surgiu da não amnésia, para com dois estudantes portugueses. Em 1981 surge um grupo de fundadores que decidiram criar um movimento pro-amnistia. Os fundadores foram importantes porque tiveram essa visão, mas depois, no trabalho da Amnistia, que já vai com trinta e poucos anos, os fundadores têm desaparecido. São as pessoas que estão todos os dias a trabalhar no terreno que dão corpo à Amnistia. O trabalho da Amnistia em Portugal assenta em trabalho profissional central e no trabalho de voluntariado.” Lucília José Justino - Presidente da Amnistia Portugal
Colaboramos com o Estado seja qual for o Governo. Pedem-nos muitas vezes apoio para alguma legislação. Por exemplo, a legislação sobre o asilo teve parecer nosso. Para isso temos juristas que nos apoiam. Temos pessoas de vários sectores e somos solicitados para outras áreas, como a educação. O que nos importa é fazer lobby junto de qualquer Governo, seja ele qual for, porque somos independentes. Temos essas colaborações com o Estado, por exemplo com o Ministério da Administração Interna, sobre as questões das prisões, e com o Ministério da Justiça falamos sobre o estado das prisões. Quando temos denúncias, contactamos, somos recebidos, somos ouvidos, escrevemos e eles respondem-nos. A nossa grande arma e a nossa maior capacidade é o lobby e isso nós fazemos bem. Quais as actividades que a Amnistia promove?
A Amnistia tem actividades permanentes como a investigação, o lobby, o trabalho contra a pena de morte e outras campanhas mais específicas, como a violência contra as mulheres. Estas campanhas duram dois ou três anos. Fazemos esse trabalho e, apesar do esforço, pretendemos salvaguardar a independência. Fazemos muitas sessões e temos feito parcerias com outras organizações, principalmente com uma instância governamental que é a Comissão para a Igualdade de Género, que tem feito um trabalho muito bom no que respeita à violência no namoro. As pessoas confundem amor com amor assertivo. É preciso prevenir e falar sobre isso para que os jovens percebam que a agressividade no namoro não é amor coisa nenhuma mas antes uma coisa horrorosa. Quando temos uma campanha específica em que sabemos que podemos ter parceiros noutras instâncias, nós trabalhamos com eles. Não reivindicamos para nós grandes feitos. Queremos juntamente com outras organizações fazer com que a violência contra as mulhe-
Lucília José Justino, presidente da Amnistia Internacional Portugal
res seja sobretudo sabida. O papel da Amnistia e de outras organizações é dar voz às pessoas que sofrem, seja no nosso país seja fora.
Qual o objectivo da mais recente campanha “Exija à dignidade” que foi lançada pela Amnistia?
A campanha “Exija à dignidade” foi a última campanha que lançámos, em Maio. É uma campanha diferente das outras. A Amnistia não estava tão habituada a ter uma amplitude desta quando falávamos de Direitos Humanos. O enfoque principal desta campanha, a nível mundial, é irradicar a pobreza. A pobreza é a violação de um Direito Humano. As pessoas não têm direito a várias coisas como casa, educação, alimentação. Neste caso, a Amnistia abriu o seu leque de acção assumindo um conceito mais amplo de Direitos Humanos. O que nós queremos é fazer pressão junto das autoridades mundiais para que se acabe com as causas da pobreza. Por que é que o ciclo da pobreza não é quebrado? Quais são as decisões dos vários governos do mundo que fazem com que alguns países continuem pobres? Quais as maiores dificuldades que a Amnistia sente actualmente?
Depende das situações onde opera mas há zonas do mundo que têm falta de activistas porque as pessoas tem pouco tempo. Temos dificuldades como a carência de meios financeiros, de recursos técnicos e temos carência a nível de pessoas com saberes específicos. Outra dificuldade é o risco e objectivos de alguns activistas serem visados por poderes repressivos dentro do seu país. As pessoas tem medo de serem activistas. A Amnistia visita os presos para dar o seu apoio?
Visitamos, às vezes, alguns presos e apoiamos, embora não seja muito a nossa área. Existe uma pessoa que trabalha para a Amnistia e que tem essa função. Normalmente é mais trabalho por car-
ta e por e-mail. Fazemos sobretudo lobby. A violação de Direitos Humanos em Portugal não se compara com o que se passa noutros países. Somos mais civilizados. Existe alguma superioridade civilizacional porque não temos pena de morte, mas temos que estar atentos aos casos de violação de Direitos Humanos em Portugal, nomeadamente aos níveis laboral e prisional.
Qual o caso mais grave com que a Amnistia já se defrontou, em Portugal?
A Amnistia não faz ranking de casos. Todos eles são graves. Desde que haja violação de Direitos Humanos, ou por carga policial, ou nas prisões, ou porque os voos da CIA passaram por Portugal. Tudo o que seja violações dos Direitos Humanos é importante para nós porque se trata de um atentado à dignidade humana. Sente que as pessoas, em geral, sabem qual é a importância da Amnistia?
A nossa informação não chega a todos. Nem todas as pessoas estão sensibilizadas para as nossas preocupações. Tentamos chegar a todos os públicos consoante o tipo de acção. Há pessoas que dizem que a Amnistia se deveria preocupar com outras questões, como a segurança. Nós preocupamo-nos com tudo isso, simplesmente temos a noção que temos áreas específicas que não podemos abandonar porque são história, tradição, cultura da Amnistia. O mundo mudou, globalizou-se e temos que ir também a outras áreas. Quando se fala de Amnistia Internacional as pessoas pensam que nós queremos perdoar todos e daí que, às vezes, nos sintamos injustiçados. A percepção das pessoas mais mal informadas é esta, mas as outras sabem qual é a importância e sabem que os governos têm medo do Relatório da Amnistia. Se um Governo tem medo é porque sabe que tem alguma coisa a esconder. A impunidade é detestável. Quem cometeu um crime
grande reportagem
janeiro 2010
Qual a reacção das pessoas quando se deparam com alguma manifestação ou alguma actividade promovida pela Amnistia?
Depende do tipo de acção e do tema. As vezes passam e ficam a olhar. Predomina a simpatia, compreensão e solidariedade. As pessoas querem saber o que é que se passa. Às vezes é necessário chocar. Muitas vezes não se consegue chamar a atenção sem chocar. Nós tentamos chamar a atenção para a causa dos Direitos Humanos e nunca personalizamos as coisas. Já ajudaram quantas pessoas a nível nacional?
Impossível saber. Muitas, mas a Amnistia nunca reivindica como sua a libertação de ninguém, quer a nível nacional quer a nível internacional. Se o Governo
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É uma grande organização credível, independente e muito séria.
não tiver boa vontade, não é a Amnistia nem a comunidade internacional que consegue. Tem que haver muita gente que escreva a falar da importância do nosso trabalho. Em Portugal não temos grandes casos a não ser casos de violência doméstica ou de pessoas que foram maltratadas nas prisões.
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curto. Queremos usar esses processos sugestivos e eficazes, mas com segurança, com verdade, com certeza. Se nós duvidamos, não a transmitimos. Temos que ter em conta a pressa com que as redes sociais querem trabalhar e operar. Muitas vezes precisamos que a comunicação também nos dê algum tempo para confirmamos antes de respondermos.
Considera que os Media são parceiros na divulgação das questões que preocupam a amnistia ou que, nesse aspecto, há muito a fazer?
Os Media apoiam-nos muito. A Amnistia tem que passar as suas preocupações para o exterior e para isso tem que usar os vários órgãos de comunicação que tem ao seu dispor. Eles são importantes para chegar a todos os estratos sociais. O problema é o modo como isso se faz porque existe alguma pressão por parte dos profissionais que querem as notícias em primeira mão. Nós, por vezes, não falamos porque não temos a total confirmação. Isso é muito pouco compreendido pelos profissionais da comunicação. Nós sabemos que o tempo é fundamental, mas a pressa faz com que, às vezes, a comunicação social divulgue alguns dados errados. Depois temos que corrigir esses mesmos dados e, quando toca a números, a comunicação social erra bastante. Mandamos comunicados de imprensa para a Lusa e depois ela faz a distribuição. Temos que pedir aos jornalistas um pouco de calma e que nos dêem algum tempo. O sim e o não em matérias destas é muito complicado. Há muito a fazer nesta área, principalmente no que respeita as novas gerações. Que importância é que a Internet e as redes sociais têm tido para a Amnistia?
As redes sociais são muitíssimo importantes para a Amnistia. Procuramos responder no seu tempo e procuramos responder com os recursos mais avançados. Procuramos sensibilizar e organizar as pessoas através dos processos mais sugestivos e eficazes, especialmente aqueles que possam produzir melhores resultados no espaço de tempo mais
Como é que a Amnistia portuguesa tem acompanhado casos como os presos de Guantánamo?
Cartazes de campanhas da Amnistia Internacional.
tem que ser castigado, mas tem que ser castigado com justiça. Nós somos uma organização que as pessoas sabem que tem um poder muito grande.
Temos acompanhado a insistência para o encerramento de Guantánamo. Estamos, aliás, um pouco preocupados porque Obama falava em dois anos e agora parece que já não é bem assim. Continuamos a insistir para o encerramento da prisão, a insistir para a responsabilização de todos aqueles que, na luta contra o terrorismo, tenham violado o direito internacional. Apoiamos a luta contra o terrorismo, mas com justiça. Não é lutar contra o terrorismo de uma maneira terrorista, querendo que todos sejam condenados à pena de morte. Insistimos para que Portugal receba os oito prisioneiros que prometeu. O Ministério dos Negócios Estrangeiros já recebeu dois, mas desconhece-se o seu paradeiro. E predispôs-se a receber o terceiro. Estamos a acompanhar a integração destes dois sírios, de modo a assegurar que ocorra essa integração no respeito pelos direitos enquanto pessoas livres e inocentes. Não está provado que estes senhores, que vieram para Portugal, tenham cometido algum crime. Os outros, que cometeram crimes, estão lá. Guantánamo, naquelas condições, nunca.
Era bom que o grupo de Tomar e Abrantes retomasse a sua actividade”
Quantos colaboradores têm a actualmente a Amnistia?
É difícil de saber, mas envolve, no total, cerca de dois milhões de pessoas: activistas e centenas de profissionais. A nossa secção tem 12 mil membros e apoiantes e activistas. É uma média secção. As secções grandes têm centenas de voluntários permanentes que cumprem horário como profissionais. Envolve todo o tipo de pessoas?
Têm é que concordar com a visão e missão da Amnistia, a visão de que todos os seres são iguais e que todas as pessoas devem usufruir dos mesmos direi-
tos. Não pode pertencer à Amnistia uma pessoa que seja totalmente a favor da pena de morte porque isso não esta na nossa visão. Não precisamos de pessoas com nomes sonantes, precisamos de gente que trabalhe pelos Direitos Humanos. Mas precisamos de nomes que credibilizem e temos alguns, nomeadamente o Vítor Nogueira e o José Manuel Cabral. Precisamos de alguns nomes de pessoas, mas que tenham esse nome pelo trabalho que fizeram. As pessoas são todo o tipo de gente em termos etários, de género, de condição sócio-económico, de cultura, profissionalmente.
O discurso genuíno dos Direitos Humanos será o discurso salvador no mundo global”
“
Considera que a Carta Universal dos Direitos Humanos está a ser cumprida?
A Declaração Universal tem hoje mais importância e reconhecimento do que há uns anos atrás. Fala-se muito mais naquele documento, mas da teoria à prática vai uma grande distância. É um documento orientador, inovador e fecundo. Fecundo porque ele próprio deu origem a ideias para Constituições nacionais. Há vários países que se inspi-
raram na Declaração Universal dos Direitos Humanos para as suas próprias Constituições e a nossa é um exemplo. Mas sendo um documento que não era vinculativo na altura, foi um documento romântico, poético. Queríamos todos um mundo melhor, mas nem todos assinaram. Hoje em dia, os jovens falam muito na Declaração Universal. Existe uma parte que é muito pouco estudada que é o preâmbulo da Declaração.
Todos respeitam as regras da Amnistia, que são o respeito pelo rigor e pela verdade, a objectividade e a independência.
Como é que um cidadão comum pode colaborar com a Amnistia?
Quem quiser colaborar pode visitar o nosso site e tem lá toda a informação. Contactem-nos pois temos uma equipa muito boa, que responde quase na hora. Existem várias formas de as pessoas participarem. Podem colaborar com donativos, mas isso é o menos importante, dado que, o que é mais importante é escrever cartas, assinar petições. Ou-
As pessoas sabem os trinta artigos, mas não reparam como é um texto de uma solidariedade mundial fantástico. Ela começa de uma maneira e acaba de outra. É um documento base e a partir desta Declaração surjam outros pactos que se tornem obrigatórios.
Qual a importância de falar sobre os Direitos Humanos?
Eu penso que o discurso genuíno dos Direitos Humanos será o discurso salvador no mundo global. A globalização do discurso dos Direitos Humanos é que seria a grande globalização. Falar de Direitos Humanos é desejar que a globalização seja uma globalização de Direitos Humanos e não só uma globalização
tra coisa muito importante é fazer parte de grupos.
Em Tomar existe algum grupo?
Em Tomar existe o grupo oeste, que abrange Tomar, Abrantes e toda esta zona. O grupo oeste está quase extinto e era bom que retomasse as actividades ou, então, que formassem um grupo de estudantes, do Politécnico, ou não, e que formassem vários grupos. Esta zona tem muito pouco e eu não acredito que Abrantes e Tomar tenham tanta falta de sensibilidade aos valores e à defesa dos Direitos Humanos. Eu acho que é mais por desconhecimento.
em termos económicos ou outro tipo de globalização.
Considera que as questões da discriminação e do respeito pelos Direitos Humanos vão ter avanços significativos com as novas gerações?
Eu acho que os jovens têm uma sensibilidade muito maior para certas formas de discriminação, como a discriminação de género, étnica ou de orientação sexual. Há uns anos não se falava nisso, nem no nosso país nem outros países. Os jovens começaram a chamar a atenção da organização para novas formas de discriminação. A Amnistia é contra todas as formas de discriminação e assina todo o tipo de petições.
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A importância da infografia Tânia Machado
Explicar como aconteceu um acidente ou mostrar um monumento em todas as suas dimensões, de forma clara e apelativa, é a principal missão da infografia. Mário Carvalho é um dos profissionais que a desenvolve. Para além de vários trabalhos no campo do jornalismo, Mário Carvalho, formado no IPT e já a leccionar na área, tem como trabalho recente uma infografia que explica o Convento de Cristo, em Tomar. Fascinado pelo mundo das infografias desde sempre, Mário Carvalho descobriu o seu encanto em pequeno, através da “leitura de banda desenhada que, não sendo considerada infografia, não deixa de ser um parente próximo”. Apesar disso, outros produtos gráficos deram o seu contributo para este profissional desenvolver o seu gosto. Por exemplo, “as revistas de automóveis com ilustrações esquemáticas a mostrar a constituição das diferentes partes destes e as enciclopédias ilustradas”. Embora nessa altura não soubesse como se designavam tais representações gráficas, o gosto pela infografia cresceu, o que o leva a desenvolver actualmente a sua função em campos bastante distintos, como na área da saúde, da ciência, da cultura, dasociedade, do desporto, dos monumentos e não só. Para a realização de um bom trabalho, no que diz respeito, especificamente aos monumentos, a escolha dos elementos a abordar “obedece a vários factores.” No caso dos “Tesouros de Portugal”, para a revista Volta ao Mundo, a selec-
ção de Mário Carvalho baseou-se “no nível de interesse e da riqueza histórica do monumento, não esquecendo o local onde foi consolidado”. Para além disto, a importância de “levar ao leitor, locais e monumentos desconhecidos de todos nós” não é esquecida. Esta é acompanhada por um texto, onde estão presentes conhecimentos da História e da gastronomia local, recolhidos pelo jornalista responsável pelo mesmo. Mário Carvalho normalmente trabalha “em equipa com outros infografistas, tendo como suporte informativo um jornalista que faz uma primeira pesquisa, obtendo o levantamento histórico”. Depois, esse levantamento é comunicado à equipa de infografistas que, por sua vez, realiza uma nova pesquisa na procura de imagens, mapas e plantas, ou seja, “tudo o que possa ajudar na construção do espaço”. Na fase seguinte é realizado o levantamento fotográfico do monumento no local e também a recolha de documentação (plantas, alçados, mapas, etc...), cedidos pelas entidades conservadoras dos espaços seleccionados.
Infografia do Convento de Cristo em Tomar
O tempo de duração de um trabalho desta envergadura depende de vários factores. O número de pessoas envolvidas, a complexidade do trabalho, a área ocupada pela infografia, assim como a sua execução em 3D, que quase sempre é um requisito obrigatório, são aspectos a ter em conta. Pode oscilar entre três semanas, três meses ou até mais. Para Mário Carvalho, a infograifa já é vista, “sem qualquer dúvida, como um género jornalístico”, pois tem “o propósito de informar, com toda a veracidade, rigor e clareza”. A informação é fruto da convergência de várias soluções resultando, assim, “numa mensagem repleta de informação clara, rápida, objectiva e exacta, de grande eficácia”. Apesar de toda a informação que fornecem, as infografias tanto podem ser criadas para “funcionar isoladas com identidade própria”, ou servir de complemento a um artigo “em que a complexidade da informação exposta não é
clara, havendo a necessidade de recorrer para, esse efeito, a uma representação gráfica mais clara e eficaz”. As infograifas “têm título, texto, corpo, fonte e créditos que lhe conferem a veracidade”. Actualmente, mais do que uma opção para atrair leitores para os jornais, as infografias são uma “necessidade”. Mário Carvalho explica a principal razão que justifica a necessidade de contar histórias e explicar determinadas realidades através de infografias: “O nosso dia-a-dia é vivido a grande velocidade.” “Os leitores tornaram-se mais exigentes, cansados de uma leitura demorada e extensa. Cada vez mais procuram uma informação directa, clara, rápida e eficaz”. Tendo por base estes argumentos, “podemos afirmar que a infografia assume um papel de grande importância nos jornais actuais”. “Além da mensagem gráfica transmitida, a infografia também tem um carácter apelativo”.
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Alfredo Santos, presidente da Junta Freguesia de São João, a maior em termos de densidade populacional
Presidente de S. João concorda com a mudança da ESTA Cátia Romualdo Quais os problemas da freguesia de São João?
Tem vários problemas, como todas as outras. Neste momento, os problemas mais deprimentes são com a parte social, pois existem ainda zonas, de bairros sociais, onde vivem famílias com fracos recursos, que vivem essencialmente do rendimento de inserção social, com todos os problemas que advêm daí, como a baixa formação escolar e o abandono escolar. Todos esses problemas são graves. Colaboramos com as instituições para tentar reduzir os problemas. O objectivo era acabar com eles, mas seria muito utópico. Temos também as habitações degradadas em três ou quatro bairros que são de instituições de solidariedade social. Aí a grande aposta da freguesia é apoiar essencialmente essas pessoas, recuperando as habitações. Depois temos as obras normais, como melhorar a limpeza urbana, algo que se tem distinguido pela positiva. Também pretendemos melhorar o fluxo de trânsito, mas isto tem de ser em conjunto com a Câmara Municipal, porque a Junta tem receitas próprias muito baixas e nem sempre chegam para as despesas correntes. Uma das grandes obras é ligar a cidade ao Aquapolis, ao rio, que está com um bom índice de renovação. Tem-se falado muito, mas ainda não se fez nada. Esta ligação irá ser feita pela rua da Barca, que é a rua mais antiga da cidade, com um passeio pedonal. E, por fim, a recuperação do mercado diário e a construção de rotundas para que o trânsito não vá novamente para dentro da cidade. Estas são obras da Câmara, mas temos todo o gosto em ajudar. Quais os principais projectos?
Apoiar as instituições sociais e ser parceiro nos projectos da Câmara, que também são da Junta, como as repavimentações, a recuperação dos passeios e a construção de rotundas que faltam e que são necessárias à cidade. Também queremos pintar os muros públicos, para dar um ar mais alegre e limpo à cidade, e plantar umas flores para a cidade continuar a ser a cidade florida que sempre foi. A Câmara tem apoiado a Junta de Freguesia de São João?
Nós todos queremos sempre mais, mas há coisas que não basta o querer-se mais, tem de haver também alguma ajuda por parte da Câmara. Estamos todos a reiniciar um novo mandato e acredito que este novo que veio vai mudar. Mas os números falam por si. Nos últimos mandatos, e especialmente neste último, a Câmara doou muito pouco à freguesia de São João. Não sei porquê, nem nunca percebi. E bom que a Câmara faça essa análise para que no futuro isso não aconteça. Na realidade, penso que não fizemos nenhum protocolo e não foi por
Alfredo Santos, presidente reeleito da Junta de Freguesia de São João, em Abrantes, diz claramente que em termos de transferências de verbas a sua Junta tem sido prejudicada. Mas acredita que a nova presidência da autarquia vai mudar a situação. Concorda com a mudança da ESTA para Alferrarede, reconhecendo que S. João não oferece as mesmas condições para a prática de um ensino de qualidade, e espera que os jovens permaneçam no centro histórico.
Alferedo Santos - Presidente da Junta de Freguesia de São João.
falta de coisas para fazer. A colaboração sempre foi boa, mas as transferências para a freguesia de São João não acompanharam os desejos, quer da Junta quer dos cidadãos.
Espera que a nova presidência da Câmara Municipal de Abrantes não esqueça a Freguesia de São João?
A Junta não foi esquecida, mas isso faz parte dos números. Se formos ver Juntas que têm receitas próprias na ordem da grandeza da freguesia de São João, fizeram protocolos em alguns casos cem vezes mais do que o valor das receitas próprias. E São João tem zero. Isto não é justo! Não é justo porque em termos de capacidade as freguesias são todas iguais. Esta é uma crítica que faço e que sempre fiz e, por isso, estou à vontade. Penso que é um assunto que esta nova presidência vai seguramente alterar e, sinceramente, para o bem da Junta, penso que esta política venha a ser inflectida e que as coisas sejam mais justas. Os jovens fazem parte também dos seus projectos?
Sim. Nós apoiamos associações, como a associação de estudantes da ESTA. As escolas são uma das nossas preocupações. Queremos que os jovens saibam que a Junta os apoia e queremos que sintam que nós estamos com eles e que apoiamos os seus projectos, desde que sejam viáveis. Acredita que a deslocação da ESTA para Alferrarede vai afectar a freguesia de São João?
Estou convencido de que os jovens irão ficar na cidade se esta lhes der condi-
ções. Temos de recuperar as habitações para que os estudantes fiquem na cidade. A Escola, no edifício onde está a funcionar, não tinha hipótese de se expandir e de criar novas valências. Se queremos uma Escola moderna e atractiva para os estudantes, temos de dar condições quer aos docentes, aos alunos e funcionários. A nova ESTA irá ser uma escola modelo com outras condições. Obviamente que gostava que a Escola ficasse em São João, mas não conseguimos dar as mesmas condições. Por isso, basta-nos tentar manter os jovens na cidade. De uma forma geral, concordo com a sua mudança para Alferrarede, pois vai valorizar a escola e o ensino e o mais importante é isso. Qual a sua opinião em relação ao projecto de construção do futuro Museu Ibérico?
Em relação ao Museu, as pessoas agora dizem que não houve discussão, mas não vale a pena irmos por aí. Eu acho que o Museu, independente de ter uma torre grande ou uma torre pequena, já foi referendado e a sua construção foi aceite. Aliás, foi uma das propostas do Partido Socialista. A população de Abrantes já validou o Museu Ibérico e de forma clara. Acho que temos de analisar as mais-valias que o Museu vai trazer ao concelho. Penso que todos somos unânimes em reconhecer que o Museu traz muitas mais-valias, mas é óbvio que não podemos descurar as questões ambientais. A nova ESTA irá ser uma escola modelo com outras condições. Obviamente que gostava que a Escola ficasse em São João.
“Não há condições de higiene” Autarquia explica o projecto de requalificação do mercado municipal. Ana Isabel Silva
Sexta-feira, 10h30, o mercado está praticamente vazio, conta apenas com os habituais comerciantes e alguns fregueses. A tristeza está estampada nas paredes brancas bastante degradadas e num quase silêncio que incomoda. “A crise afecta a todos”, comenta uma comerciante de 32 anos, que pede anonimato. O que mais os angustia é não saberem quando é que lhes vão oferecer melhores condições para trabalhar. Conceição Mendonça, 54 anos, florista e talhante, conta que o problema já não é novo: “Já estou cá há 20 anos e já desde dessa altura que as condições não são as melhores”. José de Oliveira, de 70 anos, limita-se a pedir o mínimo: “Como limpeza está muito mal, se fizessem, pelo menos, uma pintura, já era bastante bom”. São muitas as expectativas de que um novo mercado surja em Abrantes, mas os comerciantes ainda não receberam quaisquer certezas por parte da Câmara. Ao ESTAJornal o Gabinete de Comunicaçao da autarquia explicou o que se pretende fazer com o mercado: “A Câmara de Abrantes está a desenvolver um processo para reformulação total do espaço do mercado diário. O projecto indica a construção de dois edifícios que ocuparão uma área de 1.700m2, ligados entre si, com áreas funcionais para comércio, serviços, habitação e estacionamento, circundados por uma grande zona de circulação.” O objectivo da Câmara é “a requalificação do espaço onde funciona o mercado diário, actualmente com uma função residual, e a qualificação do espaço envolvente, esperando-se que possa vir enriquecer o conteúdo funcional do local e do actual edifício”. Devido ao estado actual de degradação do mercado e principalmente à falta de condições de higiene para os comerciantes, estes já foram advertidos pela ASAE. Mas nem todos os comerciantes estão de acordo em que a Câmara invista num novo mercado.Uma vez que o acesso aos dois edifícios a construir será feito pela Avenida 25 de Abril e pelo Vale da Fontinha, aí será construída uma praça envolvente ao edificado, com funcionalidade de convivência. A autarquia explica ainda que este novo projecto pretende também contribuir para um melhor ordenamento da frente urbana do Vale da Fontinha e para atenuar os problemas de trânsito que se verificam nesta zona da cidade. A falta de condições que neste momento o mercado apresenta provoca um afastamento de fregueses, o que prejudica muito os comerciantes, que muitas vezes num dia, sobretudo durante a semana, não conseguem vender nada. “Tem dias que não desempata aqui nada”, conta José de Oliveira. O movimento que se pode notar é apenas ao Sábado e ao Domingo.
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Mau tempo prejudica corridas de aventura Daniela Santos
Foi na manhã fria e lamacenta do dia 13 de Novembro que o Parque Náutico da Aldeia do Mato recebeu atletas de vários pontos do mundo para a penúltima etapa do Adventure Race World Championship (ARWC) 2009. A prova que teve início no Estoril no dia 5 de Novembro e terminou no Baleal no dia 15 do mesmo mês pode contar com 59 equipas das quais 6 eram portuguesas. Ao chegar ao local deparei-me com uma grande confusão, um frenesim que nunca foi esperado pelos habitantes da Aldeia do Mato. E foi assim, num clima bastante agitado que se iniciou mais uma das etapas deste campeonato de corridas de aventura. Todas as equipas que chegavam ao local trocavam de roupas, tomavam um pequeno-almoço reforçado e depois partiam para mais uma fase da prova, desta vez uma prova de BTT que vai desde a Aldeia do Mato até à localidade de Bairro, um percurso de 44 km que nesta altura já se torna muito puxado para todas as equipas. Eram muito poucas as pessoas que se encontravam no local para assistirem à prova e ao falar com elas foi fácil perceber que se sentiam desiludidas com o facto de este evento não ter sido mais divulgado. João Gaspar, um jovem aficionado por corridas de aventura e espectador naquele lugar, disse que quando “estava a passear pela internet reparou que, finalmente, o ARWC se ia concretizar em Portugal ainda neste ano”. Tentou saber um pouco mais acerca disso mas a informação era muito escassa, mesmo assim e “com muita sorte” descobriu que uma das etapas deste campeonato iria começar “bem perto” da sua casa. E foi assim, levantou-se cedo e por volta das 7 horas da manhã estava
Preparação para a descida do rio em kayak.
no Parque Náutico da Aldeia do Mato e assistiu à chegada da grande maioria das equipas, incluindo a sua equipa preferida, uma equipa francesa. Luís Borges, membro da organização do evento esclareceu algumas dúvidas acerca do que se tinha passado até ao momento. Das 59 equipas apenas 51 “continuavam a progredir no terreno” isto porque a meio do percurso 8 das equipas desistiram. Luís Borges, ansioso pelo fim da prova, disse ainda que a grande causa destas desistências foi o clima pois estava à espera de poder contar com o Verão de S. Martinho e cedo apercebeu-se que isso não ia ser possível. Este membro da organização disse ainda que a prova não tem sido fácil e que, ao contrário do que se pensava, Portugal é um país cheio de obstáculos o que não tem facilitado a participação dos concorrentes. Enquanto se esperava por mais desenvolvimentos na prova, ao fundo do rio
Acreditem sempre no seu valor!”
“
A importação de jovens estrangeiros para as camadas jovens do futebol português tem vindo a crescer ao longo da última década, o que rouba espaço aos jogadores internos. Cada vez mais os jovens talentos lusitanos acabam por desistir do seu sonho ou tentam a sua sorte no estrangeiro, em clubes de menor nomeada, após atingida a idade sénior. Apesar das dificuldades, o talento de alguns jovens fala mais alto e conseguem aquilo que separa uma carreira de uma desistência: uma oportunidade. Há dois anos atrás, Carlos Almeida (Carlitos) era um nome desconhecido no futebol nacional. Formado nas camadas jovens da União Desportiva de Oliveirense, era apenas mais um entre os milhares de jovens praticantes da modalidade, sonhando como tantos outros em vir a ser, um dia, jogador profissional. Hoje, Carlitos, além de jogador profissional de futebol, é internacional pela selecção portuguesa de sub-21 e pertence aos quadros do Paços de Ferreira, tendo sido contratado no mercado de verão. Em entrevista ao ESTA Jornal, o jovem atacante falou sobre as dificul-
dades que enfrentou, as ambições futuras e a alegria de já ter defrontado, entre outros, Porto, Benfica e Sporting. Há um ano atrás, o internacional sub-21 não se imaginava a viver tal momento: “no início da época não sonhava com isso. Mas, depois quando ganhei a titularidade e com o decorrer no tempo, fui acreditando no meu valor.” No que toca a adaptação ao futebol profissional, o jovem recorda que “no início foi complicado. Mas, com a ajuda dos colegas mais velhos que já estavam conhecedores da realidade futebolística tornou-se mais fácil.” O jogador do Paços de Ferreira conseguiu chegar este ano à selecção nacional de sub-21, classificando o momento como “único”. Os objectivos para esta época estão definidos: “para esta época luto para me afirmar no Paços de Ferreira para poder ambicionar chegar mais longe”; e para Carlitos chegar mais longe seria “chegar ao Futebol Clube do Porto e representar a selecção do meu país. Até porque todos os dias trabalho para ser o melhor e poder um dia lá estar.” Sempre inspirado no seu ídolo,
avistavam-se duas canoas. Uma equipa francesa chegava a mais um destino. Foi impossível falar com o chefe da equipa mas ficámos a saber que embora tenha sido uma das últimas equipas a chegar ao Parque Náutico, aquela equipa era uma das que tinha alcançado mais postos de controlo, ou seja, era uma das equipas com mais pontos. Mais uma vez os últimos são sempre os primeiros. Para conseguirem alcançar todos esses postos de controlo, a equipa francesa acabou por chegar ali muito cansaço e os gritos de dor faziam-se ouvir em qualquer parte do parque. Às voltas de bicicleta no parque estava um senhor, provavelmente mais um participante no campeonato. De repente ouvi chamarem um nome português e qual não foi o meu espanto que ao olhar para trás vi que a pessoa que chamavam era o tal senhor que estava às voltas no parque. Pedro era o nome do senhor que tinham chamado na altura, mais concretamente Pedro Roque chefe da equipa portuguesa Team GreenLand / ATV. Esta equipa era composta por quatro elementos, três homens, Pedro Roque, Hugo Velez e Artur Baptista, e uma aventureira e corajosa mulher, Filomena Silva Gomes. Ao reparar bem nos Team GreenLand / ATV reparei que todos eles usavam um narizinho vermelho como aqueles que vemos normalmente nos palhaços e ao perguntar o porque de o usarem, descobri mais um aspecto curioso, é que para além de serem portugueses e de estarem com um espírito muito alegre, esta equipa apoiava uma causa, o Projecto dos Doutores Palhaços, Operação Nariz Vermelho. Em relação à prova, o chefe da equipa disse que “está a correr bem, mas coleccionamos algu-
mas mazelas, o que é bastante normal”. Para além disto, Pedro Roque acrescentou que “o grande objectivo da equipa era chegar ao fim, mas nesta já começamos a pensar em tentar melhores resultados para ficar pelo menos no meio da tabela”. Há cerca de quatro anos que a equipa participa neste tipo de provas grandes e até já fizeram parte de algumas organizações. A maioria das equipas já tinha partido quando os Team GreenLand / ATV arrancaram para a fase de BTT, mas partiram com um sorriso na cara deixando para trás dois amigos que ao longo da prova lhes deram assistência e Pedro Roque disse ainda que muitas vezes se não fossem eles os dois a arranjarem-lhes as “coisinhas boas”, quer para comer, quer para vestir a equipa não tinha a força que tem no início de cada fase.
Marco Van Basten, mítico jogador holandês e considerado um dos melhores de sempre. Conhecido nas ruas da capital do móvel, Carlitos lida naturalmente com o carinho dos fãs: “as pessoas cumprimentam-me, fazem algumas perguntas e ficam por aí.” Fora das quatro linhas, assume-se como um jovem normal, que aproveita “para descansar, estar com a família, namorada, amigos e jogar playstation” Apesar disso, o futebol está sempre presente: “sempre que
posso ver um jogo, fico no sofá a assistir, seja de que equipa for.” “Ainda assim, deixa o conselho: “Acreditem sempre no seu valor mesmo quando as coisas não estão a correr como querem, isto, porque nem sempre as coisas vão correr como os jovens desejam. Quando se tem qualidade e acreditamos sempre em nós conseguimos atingir os nossos objectivos. E por experiência própria nunca deixem de estudar.
Preparação para a descida do rio em kayak.
Carlitos jogador do Paços de Ferreira
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Uma viagem ao mundo do documentário Curso de Vídeo e Cinema Documental da ESTA proporciona diferentes experiências aos alunos. Cláudia Ferreira
O curso de Vídeo e Cinema Documental (VCD) é, actualmente, uma das grandes apostas da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Trata-se da primeira licenciatura, a nível nacional, dedicada especificamente ao estudo e prática da expressão cinematográfica. Uma verdadeira aposta no cinema documental feito no nosso país. Para Ana Margarida Gil, professora dos alunos de VCD, é facto que “não existe uma tradição muito longa de realização de documentários em Portugal”, mas este é o curso certo para começar a criar um futuro mais risonho na área. Aqui são dadas “as bases, tenta-se criar balizas, passar as regras, depois eles fazem o que querem”. História e experimentação são o suporte de uma licenciatura, que acaba por contar com muito
“
Este é o curso certo para começar a criar um futuro mais risonho na área.
mais do que isso. As actividades que o complementam são evidentemente uma mais-valia. Em Novembro, numa verdadeira corrida contra o tempo, uma equipa de alunos do curso de VCD conseguiu conceber e produzir uma curta-metragem , ‘Contratempo’, que acabou por vencer o Concurso de Curtas-Metragens Canon integrado no Estoril Film Festival 2009. Todo o trabalho de realização e produção, incluindo a banda sonora, foi efectuado pelos alunos . O Júri realçou a dificuldade de realizar um filme em penas
uma semana e ficou surpreendido com a elevada qualidade alcançada pelos filmes em competição. O prémio foi uma câmara HD da Canon. Já em Outubro os alunos de VCD tinham tido a oportunidade de assistir ao DocLisboa, na companhia de docentes da ESTA. Aliás, esta oportunidade de participar na maior mostra de documentários em Portugal também já tinha surgido no ano passado. Trata-se de um festival com “grande qualidade e com um óptimo nível”, que obviamente não deixa estes aprendizes desinteressados. Para Carlos, aluno do 2º ano do curso, não se trata só de um “excelente fomento à cultura”, mas é, também, “muito bom enquanto oportunidade de estudar” não só os realizadores, mas também as suas obras. De acordo com Ana Margarida Gil, esta é a oportunidade d serve não só para mostrar aos alunos os bons trabalhos, “os grandes pilares das obras documentais”, mas também o “que está a ser feito de novo”. Para além de tudo isto, “há um lado cinéfilo, de aficionado, que se começa a cultivar ali”. É importante criar “hábitos” nos estudantes, uma vez que, para eles “não é muito normal ter este tipo de oportunidades. “A linguagem e o ritmo são muitas vezes diferentes” daquilo a que estão acostumados. Rita Sousa entrou naquelas salas de cinema de Lisboa pela primeira vez. Aluna do 1º ano do curso, vê o festival como uma “óptima oportunidade”, especialmente para se “integrar” no mundo em que pretende trabalhar. Frisa a “óptima organização” do próprio DocLisboa, contudo demonstra claro desagrado pelo trabalho do realizador homenageado este ano, Jonas Mekas, que,
DocLisboa. Uma aprendizagem cara a cara, acesso directo a realizadores e a obras cinematográficas.
segundo ela “não respeita as regras”. Também para Carlos, “Jonas Mekas faz um tipo de cinema experimental”. Este ano o cineasta homenageado “é alguém que quebra as regras que nos ensinam regularmente, que usa aquilo que chamamos de “erros” propositadamente nos seus filmes”. Rui Mendes confessa que “todo o tipo de filme (documentário ou não) tem um enorme papel” na sua formação. O espectáculo já não se vê de olhos tão fechados. O segundo ano de curso dá outra escola. O DocLisboa é, para ele, “um festival que tem ganho reconhecimento internacional ao longo do tempo devido à sua excelente qualidade”. É neste tipo de eventos que os alunos conseguem “conhecer os realizadores e falar com eles”, aprender verdadeiramente. Poder fazer, no final de cada documen-
tário, perguntas ao realizador, esclarecer aquilo que ficou no ar. “São coisas que se lembram para o resto da vida”, afirma Ana Margarida Gil. Para ela, o facto de os estudantes “poderem contactar com grandes nomes do cinema documental e aprender directamente com eles” é, sem dúvida, uma das mais-valias da visita. Os cerca de 30 alunos da ESTA, o DocLisboa é uma forma distinta de aprender. Uma aprendizagem cara a cara, acesso directo a realizadores, a obras, a um mundo que mais tarde ou mais cedo lhes vai pertencer. Alexandre Carranço, aluno do 1º ano, reconhece que são “ as actividades extra curriculares que dinamizam o curso”. Essas actividades “estão, basicamente, ligadas ao Espalhafitas e à tentativa de criar um cineclube” e, mesmo estas, passam pelas mãos e iniciativa dos alunos.
Federação Portuguesa de Cineclubes em Abrantes A Associação Palha de Abrantes tem várias secções que organizam e dinamizam culturalmente a cidade florida. Uma delas é a secção de cinema, Espalhafitas. Este cineclube é responsável, entre outras iniciativas, por trazer à cidade, à quarta-feira, os filmes que normalmente não fazem parte dos circuitos comerciais. E, recentemente, esteve envolvido na vinda da Federação Portuguesa de Cineclubes para Abrantes. Os projectos da Palha de Abrantes com mais reconhecimento são o «Animaio», que dura há cinco anos, e o «Há cinema na aldeia» que conta com dois anos, mas os festivais também são parte integrante dos seus projectos. Participaram no Festival de Animação «Cinanima», de Espinho, e no Festival de Arouca, onde ganharam uma menção honrosa com o filme «Os Transformadores». Maria de Lurdes Martins, membro dos Espalhafitas, afirma que o trabalho do cineclube ao longo dos anos tem vindo a ser cada vez melhor, pois “a conti-
nuidade é que traz qualidade”. E como “não desistir e insistir é fundamental”, Maria de Lurdes Martins, em nome do cineclube, convidou a Federação Portuguesa de Cineclube a mudar a sua sede para Abrantes. Já há muitos anos existia a discussão de que era necessária a mudança da Federação pois a sua localização não era a melhor e os custos do local da sede eram muito elevados. Abrantes apresentou-se como a melhor opção para ser a nova sede da Federação, visto que a cidade se situa no centro do país e tem um cineclube activo. O processo de mudança teve tam-
bém de passar pela Câmara Municipal de Abrantes pois era necessário um espaço. Assim, Maria de Lurdes Martins contactou a vereadora da Cultura que estava no cargo na altura do convite. A autarquia acabou por ceder um espaço para a instalação da Federação Portuguesa de Cineclubes. Depois de conseguidas as condições necessárias para a mudança, os cineclubes de Portugal foram contactados para dar a informação acerca da deslocalização da sede e estes concordaram. Maria de Lurdes Martins diz que “era necessária a mudança” e da necessidade
surgiu o convite. O facto de a Federação Portuguesa de Cineclubes passar a estar em Abrantes vem ajudar a uma maior dinamização da cidade e região. A ligação do Espalhafitas com a Federação é notória em vários aspectos, pois a presidente da Federação é estagiária do cineclube e as duas associações têm no momento uma exposição na Biblioteca Municipal António Botto, «Homenagem a Vasco Granja». Com a vinda da Federação já foi realizado, em Abrantes, o Encontro Nacional de Cineclubes (Portugal tem 36 cineclubes federados). Com o dinamismo dos Espalhafitas e a vontade de Maria de Lurdes Martins, Abrantes tem agora um papel importante no cinema português. Maria de Lurdes Martins diz que a vinda da Federação para a cidade é bastante importante também para a ESTA, nomeadamente para o curso de Vídeo e Cinema Documental. A Federação “tem um espólio de cinema muito importante”, que poderá vir a ser disponibilizado aos alunos. C.R.
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António Pires da Silva, presidente do IPT
Conselho Geral do IPT já tem presidente António Pires da Silva viu a ESTA crescer ao longo destes 10 anos. Acredita num bom futuro para a ESTA: “Se continuarmos a dar estes passos certos, com os pés bem assentes na terra, tenho a certeza que a escola de Abrantes vai ser uma escola muito boa no ensino superior em Portugal.” Marisa Rodrigues A ESTA está a comemorar 10 anos. Acompanhou o seu início como docente do curso de Engenharia Mecânica. Quais são as memórias que guarda dessa altura, desse primeiro ano lectivo?
São as melhores. Na altura, em Abrantes, tudo era uma novidade e tive uma boa relação com os alunos e com os professores. Apesar de a minha disciplina, a Física, ser considerada como o ‘papão’ do curso, e apesar de os alunos não terem o aproveitamento mínimo que eu exigia, tive um bom relacionamento com eles. Tive sempre um relacionamento óptimo com a cidade em si. Gostei muito. Tanto gostei que, depois de já estar na presidência do IPT, ainda fui a ESTA dar umas aulas. Desde de que se tornou presidente do IPT como é que tem visto a evolução da ESTA?
De uma forma muito boa, muito positiva. Devido a dois ou três factores essenciais. Primeiro, porque houve ali um trabalho muito profícuo por parte do primeiro director, Eugénio de Almeida, com sangue na guelra, novo, que fez um óptimo trabalho. Simultaneamente, houve um apoio bastante grande e significativo por parte da autarquia local e conseguiu-se ali criar uma empatia entre
todos. Não só aqueles que trabalhavam em Abrantes, mas também com aqueles que estavam na sede do IPT. Penso que foi pela conjugação destes factores que se conseguiu que a ESTA tenha o êxito que teve até agora.
Durante estes quatro anos no comando do IPT, vê atingidos os objectivos a que se propôs para a ESTA? Como, por exemplo, a nomeação do novo director?
Vejo. Como é como é evidente, se não se tivesse dado continuidade ao trabalho que tinha sido executado e feito , não teríamos hoje a escola que temos. Naquela altura, há quatro anos atrás, Miguel Pinto dos Santos era a pessoa indicada para suceder ao actual vice-presidente do IPT, Eugénio de Almeida. Estávamos noutra fase, porque na altura tinha de trazer o meu antigo aluno para perto de mim. Precisava dele. Não vou dizer que os objectivos foram totalmente alcançados; penso que se conseguiu de uma maneira geral consolidar a escola. Estamos a caminhar para outra fase, que está a ser preparada com os pés no chão, que é a mudança de instalações e depois a possibilidade de caminhar até outras vertentes. As novas instalações são o que falta à ESTA?
António Pires da Silva, presidente do IPT
Sim, faltam as novas instalações. Embora não sejam muito visíveis, os laboratórios de mecânica já estão praticamente construídos, falta só acabar as obras e começar a colocar os equipamentos nos laboratórios, que vão ser os melhores do país. Para além disso, temos de reconhecer que as instalações que a ESTA tem, actualmente, não correspondem a boas condições para se trabalhar e para se fazer uma escola melhor. Com as novas instalações, com o novo tipo de financiamento (que espero que esteja a chegar), penso que a ESTA terá todas as condições para vir a ser uma futura escola superior de nível muito alto. Foi esta falta de financiamento o impasse para a mudança para as novas instalações?
A passagem para Alferrarede só acontece porque a Câmara Municipal precisa das instalações onde a ESTA se situa.
“Uma escola com uma estrutura sólida”
“Pensem menos nos direitos e mais nos deveres”
Eugénio Pina de Almeida é o actual vice-presidente do Instituto Politécnico de Tomar. No entanto, por detrás deste cargo na presidência do IPT, Eugénio de Almeida desempenhou um papel fundamental na implementação da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Licenciado e Mestre em Ciências Geofísicas foi durante seis anos um pilar na ESTA ocupando o cargo de director. Agora que a instituição celebra 10 anos de existência o primeiro director garante que a escola tem pernas para andar e subir a patamares superiores.
O novo regime de funcionamento das instituições de Ensino Superior trouxe a abertura a diversas alterações, que o IPT está a implementar e que vão no sentido do que a Presidência actual começou a fazer. Mas os tempos próximos serão difíceis e exigirão grande rigor, coesão, sentido crítico e solidário. Competirá aos candidatos à Presidência apresentar programas dettalhados que partam das dinãmicas e problemas actuais e proponham caminhos eficazes. O debate a que antes aludi levantou algumas vias, os estatutos são um excelente instrumento, o plano estratégico é de grande qualidade, mas agora é preciso aprofundar e implementar. Estamos numa economia crescentemente global, que impõe a globalização das instituições (a União Europeia é eexpressão disso) e exige um ensino superior novo, humilde mas arrojado, capaz de agir como “cabeça pensante” da sociedade (não apenas com ela mas como parte dela). Um ensino
A ESTA celebra 10 anos. Como os classifica o criador da instituição?
Não fui propriamente o criador da escola. Eu fui a pessoa encarregue de montar o projecto. Os principais criadores, impulsionadores foram o Professor Pacheco Amorim, na altura Presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), e Nélson de Carvalho, também na altura Presidente da Câmara Municipal de
Eugénio Pina de Almeida, primeiro director da ESTA
Abrantes. Foram estes os grandes impulsionadores, os grandes promotores da ESTA. A mim coube-me o papel de pôr em prática, dar corpo a um projecto que estava estruturado, que estava pensado.
Quando olha para trás, o que vê de diferente na ESTA?
Agora vejo a escola de um ângulo diferente. Anteriormente acompanhei todos os processos inerentes à própria escola, agora vejo a ESTA como uma unidade.
Só a partir daí é que se viu que havia absoluta necessidade de mudar de instalações. Porque antes disso não havia uma decisão definitiva. Sabia-se que a escola tinha de ter melhores instalações, tinha de aumentar essas instalações, e foram equacionadas várias possibilidades. Mas só se decidiu passar para Alferrarede a partir do momento em que a Câmara Municipal, dada a necessidade que teve daquelas instalações, se empenhou em contribuir ao máximo para que a escola tivesse novas infra-estruturas. Vai ceder o terreno, vai cumprir com a sua parte nacional de candidatura ao QREN para ter novas instalações. Sem a participação da Câmara era completamente impossível.
Prevê-se um futuro promissor para a ESTA com as novas instalações?
Eu prevejo que sim. Mas as pessoas não podem ‘embandeirar em arco’. Temos que dar passos certos em terra firme.
Luiz Oosterbeek Representante dos docentes no Conselho Geral do IPT
superior que sópode ser internacional, e que intervenha em todos os níveis: formação profissional avançada, estudos graduados, pós-graduações. Olhando para trás, temos um IPT que foi desenhado na origem, pelo Prof. Pacheco de Amorim e seus coolaboradores, de forma brilhante. Lembro-me de como se duvidava da oportunidade de ter ensino de Arte e Arqueologia na antiga ESTT: hoje todos os Politécnicos têm artes e humanidades, e essa é uma área das mais fortes.
criatividade |11
janeiro 2010
O melhor lugar da Plateia Jorge Cordeiro
Procuro um banco para sentar-me, estão todos ocupados. É de admirar pois o local deveria espantar as pessoas, está imundo, mal aproveitado, ou melhor, é aproveitado para tudo e mais alguma coisa: mesas desordenadas e dispersas justificam a esplanada de um restaurante e, mesmo ao lado, um monturo revela uma lixeira descoberta, improvisada e sebenta. Entre a esplanada e a lixeira encontra-se um pequeno bloco de cimento corroído, com paredes carbonizadas e rabiscadas com graffiti, da autoria de alguém consciente de que mais risco menos risco não faria qualquer diferença, não tornaria o cenário mais pesado do que já está. Claro que há uma razão de ser, mesmo que seja só uma, para as pessoas estabelecerem-se temporariamente neste espaço pouco preservado. O mesmo motivo para onde me trouxe a minha intuição: o panorama único, o pôr-do-sol formoso, a paisagem esplêndida que um final de tarde em Istambul pode proporcionar, seja a um turista de passagem ou a um istambulense que desconhece qualquer outra cidade para além da sua. Não interessa o piso enlameado, os inúmeros gatos vadios a brigar por uma espinha ou o menosprezo entre gansos e cães que se cruzam com frequência, aqui mesmo ao lado. No horizonte, por de trás do Bairro do Bazar, do Serralho e de Sultanahmet o Sol desce abrupto e consagra a oportunidade de sentir-se a pulsação arcaica do emaranho de habitações, edifícios comerciais, hotéis, mesquitas e palácios, que ganham uma silhueta amena e um contorno amarelo-torrado que deixa qualquer espírito submisso e nostálgico. Ou iludido, no meu caso, pois morar a cinco minutos desta galeria de arte, desta tela gigante e autêntica é ilusão pura. Para mim, que sem dar conta estou a pouco tempo de regressar à galeria chamada Portugal. Um senhor que está sentado acena-me, percebe que insisto em arranjar um cantinho. Chega-se um pouco para a direita
e oferece-me o espaço que sobra do seu banco, como quem procura companhia em troca. Sento-me. A pouco mais de um metro encontra-se a orla que separa o fim do planalto e o início do Corno de Ouro, a peça que completa o bonito puzzle paisagístico que tenho diante dos olhos, a foz que desagua no famoso Estreito de Bósforo. O senhor diz qualquer coisa, eu respondo-lhe em inglês, que não compreendo turco, mas ele insiste em colocar-me questões no seu idioma, o único que conhece. Passamos o tempo nisto. Através de alguma linguagem gestual pelo meio percebo que se chama Tŭkce e que trabalha na foz, é «capitão» de um dos pequenos e seculares barcos estacionados no porto à nossa frente, um trimarã do tempo do meu bisavô que leva românticos a atravessar o Corno de Ouro por dez euros, negociáveis, como quase tudo em Istambul. Mas este comandante tem uma particularidade: pode ser iletrado, não ter quaisquer conhecimentos linguísticos mas é (muito) competente a secar garrafas de vinho Dimitrakupulo Sarabi, as mais acessíveis do mercado. Besh lira é quanto custam, diz-me, com os olhos semicerrados, tronco flectido e gestos trémulos e descoordenados. Dois euros e meio para trocar sobriedade por um bilhete no melhor lugar da plateia. Não está nada caro. A Ponte Gálata, que passa sobre o Corno de Ouro encontra-se perpetuamente agitada por automóveis, motas, autocarros, eléctricos, turistas, vendedores, comerciantes, polícias e indigentes. Apercebo-me do movimento mas não oiço o ruído; os navios que circulam com assiduidade abafam-no com buzinões aprazíveis, com o simples trabalhar do motor ou com a ondulação que provocam na água e que vem crepitar aos meus pés. Os pescadores também serpenteiam por toda a ponte, são incansáveis, sabem que pesca mais desportiva e eficaz é na foz e desde cedo que a maioria
se estabelece por ali, reconfortando-se com o calor das fogueiras acesas e com os petiscos e chás que os vendedores ambulantes vão despachando a preços irrisórios. Estabelecerem-se cedo significa ainda com o Sol a dar a primeira espreitadela no Afeganistão, a cerca de três mil quilómetros de Istambul. Outros nem chegam a desfazer a cama, a amarrotar os lençóis, a amassar a almofada; passam a madrugada inteira a assistir à magia que só o engodo sabe fazer. E, frequentemente, lá está um ou outro pescador a recolher dois ou três peixes que se saracoteiam com ímpeto no fio de pesca, destinados a juntar-se às centenas que repousam no interior dos garrafões de cinco litros ou nas caixas de esferovite. O amigo Tŭkce ausentou-se, fez-me sinal que vem já, para eu esperar. Não lhe bastou o litro e meio de vinho que fez desaparecer em menos de meia hora ou a quantidade de cigarros que extraiu do maço, uns atrás dos outros, até mandar a embalagem vazia para o chão. Regressará? Ou dá três passos e esquece-se do que ia fazer nos seguintes? Abstraio-me. Fecho os olhos por uns segundos, limito-me a ouvir, cheirar e sentir. Percebo como os invisuais conseguem ver melhor certas coisas – sabem usufruir do que têm no peito, o coração. Abro-os novamente. As gaivotas sobrevoam a foz e emitem um chilrear hipnotizante, de manhã à noite. O Sol desaparece por traz da civilização deixando uma luminosidade suave e anestesiante.
Quero parar o tempo mas não consigo. Ainda bem. É da maneira que amanhã posso despertar com a mesquita a ecoar a primeira chamada do dia à oração, melódica e arrepiante para qualquer Ocidental como eu; deliciar-me com um kebab döner ou um peixe assado junto ao porto; escutar a musicalidade turca através dos instrumentos saz, ney, ud, kaval, darbuka e davul provinda de actuações em restaurantes ou na própria rua; fumar nargilé e jogar o típico tavla ou gamão no dicionário português; absorver o que a cidade tem de invulgar, de Oriental, de Médio Oriente… A noite cai, os assentos ficam novamente disponíveis, a cidade torna-se parda. Ganha uma beleza diferente, mais densa, mais sombria e menos concorrida. As luzes nocturnas vão salpicando os poros de Istambul, o frio assenta com hostilidade. Alguns dos pescadores recolhem, outros vêm substituí-los; outros ainda aproveitam para dormitar um pouco – têm uma longa madrugada pela frente. As gaivotas, essas, permanecem no alvoroço de sempre. Ainda bem. Aproveito para ficar mais um pouco, não sei quando voltarei a ter uma oportunidade como esta. De qualquer forma, o Tŭkce pediu-me para aguardar a sua chegada e ainda não regressou, espero mais um bocado. Na verdade, aproveito esse mesmo pretexto para não me ir embora daqui tão cedo. Fecho os olhos uma vez mais, no melhor lugar da plateia, e olho como só os invisuais sabem fazer. Com o coração.
Reencontro
Eu mesma. Tinha a profissão que sempre quis, realizei o meu sonho de ver o mundo, mas haveria sempre aquele vácuo no lugar que tinhas ocupado. Será que eras o mesmo que eu tinha conhecido? Será que no teu sangue ainda fervia a vontade de encontrar a tua paz de espírito? Será que tinhas encontrado alguém, ou a tua visão redutora do amor não to teria permitido? Lembro-me de dizeres que o amor era apenas uma invenção dos poetas para esconder o animal que existe em cada um. Não concordo, disse-te, e tu perguntaste se eu não gostaria demasiado.
Será que terias gostado demasiado de alguém? No dia combinado, pouco antes da hora combinada, calcei as botas, vesti o casaco e peguei no livro embrulhado que serviria de presente. Espero que gostes do que vais reencontrar, espero gostar de te reencontrar em quem és agora. Recordei tudo o que vivi contigo. A noite naquela esplanada em que te conheci e que deixaste marca por estares a beber chá quando todos bebiam cerveja. As tardes de estudo pontuadas por risadas. A amizade pura que nos ligava. Fui andando. Estava a chegar ao local combinado. Lisboa, a Baixa, a Brasileira, debaixo dos olhares do
Pessoa, que permanecia mudo e quedo à passagem do tempo. A noite em que disseste que não podíamos ser mais do que amigos. A manhã em que me tiraste a ferros da tua vida e que mudou drasticamente a minha. Estava a chegar. Já via ao fundo a estátua que iria servir de ponto de encontro. Já via ao fundo o gingado do teu andar e tudo o que me permitia distinguir-te de todos os outros que passavam, atarefados. Será que me reconheceste, vinte anos depois? Passei por ti e continuei a subir a Baixa. Já via ao fundo o gingado do teu andar e tudo o que me permitia.
Sara Pereira
Desde que poisei o auscultador do telefone que antecipava este momento. Será que estavas muito diferente? Usarias o cabelo comprido como quando te vi pela última vez ou cortado rente com o qual eu te conhecera? Terias seguido o teu caminho, como eu procurei seguir o meu? Vinte anos depois. Voltada a página com o teu nome escrito, dediquei-me à única coisa que pode ser certa na minha vida:
Vista de Istambul, Turquia
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última
janeiro 2010
Marcas que ficam para a vida Istambul é uma das cidades para onde têm ido os alunos da ESTA, concretizando uma das melhores experiências que os jovens do ensino superior têm ao seu alcance. Candidatam-se, são seleccionados mediante o seu desempenho escolar e ganham uma bolsa, que lhes permite fazer um semestre lectivo noutra Universidade do espaço europeu. Mais do que uma experiência académica, esta é também uma experiência de vida, que dá lições de multiculturalidade, que desenvolve o espírito de independência, que abre horizontes. Independentemente das notas que trazem pelo seu desempenho escolar, os jovens estudantes que vão fazer uma parte do seu curso numa Universidade estrangeira trazem, sobretudo, um conjunto de marcas que ficam para a vida. Há muitas formas de as expressar. Jorge Cordeiro, para além de uma crónica (ver página 11), partilha o que sentiu, num dos momentos que viveu em Istambul, através de fotografias.