Ançã
Memória de um Povo
Alexandre Cortesão
Ançã - Memória de um Povo Propriedade: Centro de Estudos Educativos de Ançã Edição: Centro de Estudos Educativos de Ançã Autor: Alexandre Cortesão Capa e design: Jorge Sagradas Depósito Legal N° 124984/98 Tiragem: 1000 exemplares Direitos de copyright reservados © 2010
PREFÁCIO
PREFÁCIO “O homem pensa a obra nasce”
Ançã e a sua história são motivos de análise por parte de A. Cortesão, que procura de uma forma clara e apetecível descrever a evolução histórica da Vila de Ançã, recorrendo para o efeito a fundamentos e figuras do passado de entendimento “sui genens”. De sangue poético, o Autor é um estudioso da Terra que o viu nascer, enaltecendo neste seu trabalho a sua localização geográfica, um dos fortes motivos para que Ançã tenha sido o que foi, e pelo menos não deixe de ser o que é. O escoamento de algum do seu saber permitiu a concretização de obras e monumentos que impedem que esta Vila, a pouca distância de Coimbra, se perca nos tempos.
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Ançã - Memória de um Povo
Não fosse a paixão que A. Cortesão nutre pelas artes e esta monografja, que tanta falta fazia a Ançã, não teria surgido. Dai que, não hesitando em aceder ao pedido do Autor para prefaciar este apontamento histórico, aceitei com alguma humildade, mas que como principal responsável pelo Centro de Estudos educativos de Ançã, estabelecimento de ensino do quinto ao décimo segundo ano, entendi que o deveria fazer. Em meu nome pessoal, e em nome de todos os professores que leccionam neste Centro de Estudos, o meu agradecimento a A. Cortesão por mais este contributo para o enriquecimento cultural da Vila de Ançã. Américo de Carvalho (Director do Centro de Estudos Educativos de Ançã)
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NOTA DE ABERTURA
NOTA DE ABERTURA
Ançã foi a Terra que me viu nascer. Aqui cresci, aqui frequentei a Escola e, depois de uma passagem por Coimbra onde estudei e trabalhei, nunca esqueci este rincão que sempre me apaixonou. A razão deste livro é simples. Desde os meus antepassados que foi hábito guardar tudo aquilo que, um dia mais tarde, pudesse de alguma forma servir para recordar e reviver a vida dos nossos antepassados. E foi assim que, desde fotografias, fatos, alfaias agrícolas e outros objectos, representando um pouco da vida desta Ançã e das gentes da minha Terra, estão guardados como relíquias.
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Ançã - Memória de um Povo
Compilando tudo o que tinha e mais aquilo que consegui recolher tanto em Bibliotecas como directamente das pessoas mais idosas, consegui juntar matéria para escrever este livro. Não se trata de uma obra com pretensões enciclopédicas onde tudo está escrito e inventariado. Muito haverá ainda para fazer. No entanto, fica-me a satisfação de contribuir com uma obra que, não sendo exaustiva, servirá para que os nossos vindouros revejam nela os tempos que não viveram e não se perca no tempo a memória deste povo. Ficaria mal com a minha consciência se não dedicasse este livro a alguém. Faço-o aos meus Pais que sempre tiveram por Ançã o maior carinho e amor. Dedico-o aos meus Pais porque sempre me ensinaram a preservar um património histórico que guardo com muita alegria. Dedico-o aos meus Pais para saldar uma dívida que tenho para com Eles - a de me terem colocado neste mundo. Junho de 1998 O Autor
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A ORIGEM DE ANÇÃ
A ORIGEM DE ANÇÃ
A velhíssima designação de Ançã é, só por si, bastante para se considerar que a sua antiguidade, vem pelo menos, desde a romanização do seu povoado. Ançã tem a evolução de Antiana “Anzana”, Ançãa que depois deu o Ançã actual. No dizer do Padre Cardoso, por volta de 1740, Ançã foi “fundada em um vale e daqui vai subindo a um monte” sendo possível que nele tivesse existido um castro que fosse a matriz originária da “Villa Antiana”, de Antius, estando-se em presença de um dos poucos topónimos deste tipo que se mantém por todo o País. As referências conhecidas sobre Ançã tornam-na “numa das localidades portuguesas que aparecem nos documentos mais antigos que nos restam. Assim, em 937, Eldara doa a Gundemiro iben Dautri (o patronímico indica o moçárabe) o seu moinho “in villa que vocitam Anzana”, para ficar depois da morte dele na posse do Mosteiro de Lorvão (Dip. et Ch., no.45).” O rei D. Sancho diz que “Ançã ser sua Villa” o que pode levar a crer que se apoderou de tal moinho, já na posse do Mosteiro, “de modo que este veio a obter dele a cessão de 966.” Entre 1092 e 1098, um Vímera Pais dispõe que, “enquanto viver, sua mãe possua a sua parte da “ViIla”, isto é, “ut mater mea dum vixerit possideat porcionem mean de villa nomine Anzana que nihi contigit per directum” (Dip et Ch., nO. 895) e depois da morte dela fique a Sé de Coimbra” - o que mostra que Ançã deixara de ser “ViIla” régia. Foto _1 (pag. 8) Vista da zona da Pachieira.
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Em carta de 13/XII/1371, o Rei D. Fernando doou ao 4° Conde de Barcelos, D. Afonso Telo, a vila de Ançã, para si e seus sucessores, o que mostra como Ançã já era vila sobre si, como decerto o foi desde os princípios da Monarquia (Sec. XII-XIII). É de notar que o autor Henriques Seco, lente de Direito da Universidade de Coimbra, afirmou que o poeta Damião José Saraiva, sócio da Arcádia, (Sec. XVIII) e natural de Ançã, “escreveu um opúsculo laudatório da mesma, da qual sustentava que a sua fundação se deve aos oito monges que o Patriarca do Ocidente, S. Bento, deputara a estes sítios pelo Sec. XVII; que os ditos monges eram italianos, como se depreende do nome que impuseram à vila, Ançã, que em italiano quer dizer abundância de águas, pelas muitas que aqui há, ou pelos montes que cercam a vila, de que em Itália há alguns semelhantes - o que é o mesmo que forçar a demons-
Foto _2 Vista parcial da Vila de Ançã.
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A ORIGEM DE ANÇÃ
tração do disparate: se não é por isto, é por aquilo, ou vice versa, e como se fosse prova de proveniência a semelhança de nomes demais em línguas da mesma origem que nas suas proximidades há muitas florestas e espessas matas abundantes em caça; por isso um senhor romano que ele supunha ser Flávio Ervígio fez sua casa de campo junto à fonte e daqui percorria em suas casas”. Estas afirmações não admiram por serem bem típicas do Sec. XVIII; mas, acrescenta o mesmo autor que “em 1842 ou 1843 foi encontrado numa escavação uma elegante figura de fino alabastro, em meio corpo, de dois palmos e meio de alto, parecendo representar um mancebo romano que facilmente obtiveram os Srs. FF, em cujo poder está; quatro ou cinco arcos de tijolo, de dois ou três palmos de altura e outro tanto de largura; um pavimento de lindo mosaico; grande porção de argamassa mui compacta, com engraçados relevos, e um tubo de chumbo que, sendo de duas polegadas de diâmetro na extremidade inferior ia engrossando proporcionalmente para a outra extremidade, que não se observou por se achar introduzida na parede da casa alheia, produzindo a porção descoberta perto de três arrobas... A cada passo aparecem vestígios históricos comprovativos da antiguidade da Vila”. A. Santos Rocha, in “Ruínas Romanas de Ançã”, refere um caso muito raro na Lusitânia e visto em construções, pela primeira vez, em Ançã. Refere-se, concretamente, ao revestimento das paredes encontradas numa escavação junto à fonte. O estudo do desenho do mosaico e, comparando-o com o encontrado na Vila Romana de Nossa Senhora do
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Desterro em Montemor-o-Velho, chegou à conclusão que deve ter sido empregue, pelo menos, no Século III da nossa era. Refere ainda o mesmo autor o facto de as paredes serem revestidas de tijolos romanos em forma de triângulos isósceles. Aparecem assim e em quantidade nas ruínas romanas de Itália como, por exemplo, nas ruínas dos Palácios dos Cézares e nas ruínas de Pompeia. Os ornatos de mosaico são geralmente em forma de cruzes ou de linhas torcidas em espiral.
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OS FORAIS DE ANÇÃ
OS FORAIS DE ANÇÃ
Ançã estava integrada no território de Coimbra dependendo administrativa e economicamente do governador do território daquela cidade. Assim se manteve até ao reinado de D. Fernando que deu autonomia a Ançã. “...fazemos saber que nos de pura e livre vontade e de nossa certa stientia e poder absoluto fazemos Villa por syy o logar dançãa que era termo de Coymbra...”.
Em 12 de Dezembro de 1371, em Tentúgal, assinou D. Fernando um documento que eleva Ançã à categoria de Vila, dá-lhe autonomia, concede-lhe privilégios, enumera-lhe as regalias e marca-lhe a extensão dos seus territórios. “... a qual fazemos de livre e isenta para todo o sempre com os seus terrentórios adiente divisados e a tiramos et livramos et quitamos a syy nas causas como nas pessoas moradoras em ella e nos termos et terrentórios della de todo senhorio et jurisdiçam da dicta Villa de Coymbra e doutro qualquer julgado ou concelho ou pessoa aque atequy foe ou eram sujeito o dicto lugar dançãa...”.
Através deste documento podemos conhecer a extensão exacta do Concelho de Ançã: “...damos e outorgamos por termo e terrentório a aldeia da Pena com seu termo de Valdago com seu termo e Portunhos com seu termo e Enxofroes com seu termo e Rio Frio dos Caualleyros com seu termo, Barcouço e a Vila do Mato e Rio Frio doleiros e a Costa e San Fagundo e Lavarrabos e a Sioga com seus termos as quaes aldeas e casaes pobras e as pessoas e
Foto_3 (pag. 14) Foral Manuelino.
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causa dellas livramos e tyramos e quitamos da jurisdiçam da sugeiçon da dita villa de Coymbra...”.
Juridicamente Ançã ficava com largos poderes. Tanto como Vila, como no seu concelho podiam os oficiais por si escolhidos exercer amplos poderes nos julgamentos. Tão grande era esse poder que os réus só podiam apelar mas exclusivamente em casos de crime e em última instância para a corte real. Ficou bem determinada a independência jurisdicional em relação ao alcaide de Coimbra. Nem este nem nenhum dos seus oficiais poderiam jamais julgar ou ter qualquer direito sobre indivíduos de Ançã ou do seu termo sob pena de acusação de desrespeitador da vontade do Rei. “... e mandamos e defendemos ao alcaide e justiças e officiaes e quaisquer da dicta villa de Coymbra que daquy adiante non huzem da dicta villa dançãa nem nos termos e terrentórios dela...de nenhuma judiçam crime nem civel nem doutro nenhum dereito de suje içam sob pena de nossa mercee e de lhe seer por nos stranhado se contra esta fizerem nos corpos e nos aueres como aquelles que vão contra mandado de seu reye senhor...”.
Em 23 de Junho de 1514, D. Manuel concedeu novo foral a Ançã depois de ter encarregado Fernão de Pina de reformular os velhos forais que deixavam de estar actualizados. Muitos foram os tributos que passaram a pagar com a saída deste foral. Desde o “oytano” (oitava parte dum moio de produto forado), à “eiradega” pago em trigo e de uma só vez ainda que o lavrador cultivasse trigo em outras terras
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OS FORAIS DE ANÇÃ
que não pertencessem ao senhor da vila, o “pão alvo” pago de uma só vez, no Natal, de um alqueire de cevado e de seis pães alvos “segundo os fazem comunemente para sua casa hum capam dez anos huma galinha hum frangam. E, em dinheiro, dez reaes tudo pelo Natal”. Outro capão se pagava anualmente para o “bodo de Nossa Senhora” - tratava-se de uma refeição que, em certo dia do ano, se oferecia aos pobres da terra ou da região por alma dos defuntos, contribuindo para este bodo não só o donatário como todas as pessoas abastadas da região. O comércio da pedra teve também o seu lugar especial no Foral Manuelino. Mas aqui, apenas a pedra destinada a mós de moinhos pagava um imposto de trinta e seis reais. A restante ficava isenta. “...e se a levarem para fora não se pagará della nenhum direito” o que facilitava a exploração das pedreiras. Face a esta benesse surge o desenvolvimento da fabricação da cal. Mas aqui, D. Manuel, impunha o pagamento por cada forno “que fizer cal na dieta terra hum moimo della” e ainda o “terradego”, quadragésima parte do dinheiro por que fosse vendida. Segundo D. Manuel, também o “gado de uentd’ (gado perdido ou do qual não se conhecesse o dono) passa a ser pertença do senhorio, exigindo-se à pessoa que o encontrasse, uma declaração dentro dos primeiros dez dias, sob pena de ser demandado de furto: “o gado de uento hé do senhorio quando se perder, segundo nossa ordenaçã”.
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Também o foral impunha que se pagasse um tributo de duzentos reis, por uso de armas. Contudo esta “pena” não se levava quando se usassem espada, ou qualquer outra arma de que não se servissem. O Foral de Ançã dá-nos ainda a oportunidade de conhecer o descontentamento do povo de Ançã “pelos agravos que os lavradores d’ esta terra dizem que recebem dos rendeiros e officiaes das julgadas de Coimbra, não poemas aqui dar final despacho, porque não foram ouvidos os ditos rendeiros e officiaes”. D. Manuel determina a maneira de entregar os foros e estabelece as medidas do pão.
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DONATÁRIOS DA VILA DE ANÇÃ
DONATÁRIOS DA VILA DE ANÇÃ
O primeiro donatário da Vila de Ançã foi D. João Afonso Telo, 4° Conde de Barcelos, Vassalo e Conselheiro de D. Pedro e de D. Fernando. Foi-lhe feita a doação porque D. Fernando quis recompensá-lo pelos muitos e bons serviços feitos “à nossa casa de Portugal”.1 D. João Afonso tinha, entre outros, o poder de escolher os seus oficiais e, todos os habitantes do Concelho de Ançã, a ele e seus sucessores deviam obediência, como representante legítimo do próprio Rei. “E mandamos aos moradores desta Villa dançãa e de seu termo que ao dito senhor conde e seus herdeiros e sucessores seiam obedientes em todo e per todo como a seus senhores aqual jurisdiçam tiramos do poderio e sugeiçam nossa damolla e sumetemolla no poder do dito Conde e seus herdeiros e sucessores em todo e por todo para sempre como dieto hé”.
Esta doação foi feita um dia depois de, em Tentugal, ter elevado Ançã a Vila. D. Álvaro Pires de Castro, primeiro Marquês de Cascais, sexto Conde de Monsanto, foi Conselheiro de Estado e de Guerra, Fronteiro-Mor, Coudel-Mor, Canteiro Mor, Alcaide Mor de Lisboa, senhor das vilas de Cascais, de Lourinhã e Ançã, de S. Lourenço do Bairro e de Monsanto, administrador das Comendas da Ordem de Cristo, de S. Martinho de Bornes, Vila de Rei, Segura, etc.. Foi também Embaixador de D. João IV em França, por ocasião da morte de Louis XIII. Foi nomeado Marquês de Cascais por D. João IV a 16 de Novembro de 1643.
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Foto_4 (pag. 20) Brasão dos Castros, Donatários da Vila de Ançã.
TI. Chancelaria de D. Fernando, Livro I, fls 88.
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Depois da queda de D. Afonso VI, D. Álvaro Pires de Castro foi desterrado para Ançã e aqui viveu os últimos sete anos da sua vida tendo falecido a 11 de Julho de 1674. Segundo “Monstruosidades do Tempo eda Fortuna”, “por sua mão dava esmola aos pobres e ensinava doutrina às crianças. Em contraste com o seu brilhante cargo de Embaixador, já não era em baixelas de prata que comia, nem entre fidalgos de França, mas em pratos de barro e entre mendigos de Portugal”.
Viveu num antigo palácio que hoje é parte dele privado e, o restante, propriedade da Phylarmónica Ançanense. Estão presentes ainda as suas armas encimadas por uma inscrição onde se pode ler: “SUFFICIT HOC SIGNO DESPICERE TEMPORE RERUM”.
Tem três arcos por debaixo do palácio que comunica o Terreiro do Paço fronteiro à Igreja com o Largo do Pelourinho, do lado oposto. O último donatário de Ançã foi D. Carlota Joaquina, feita por seu marido D. João Príncipe Regente de Portugal a 15 de Outubro de 1799, em Mafra. Em 1863 Mouzinho da Silveira acabou definitivamente com os senhorios.
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COMPOSIÇÃO DO CONCELHO DE ANÇÃ
COMPOSIÇÃO DO CONCELHO DE ANÇÃ
O “Tombo dos bens da Vila de Ançã” permite conhecerem-se as diversas categorias de bens e tributos que pagavam os lugares de Ançã e como se encontravam distribuídos, assim como conhecer com exactidão as povoações que faziam parte do Concelho de Ançã:
Direitos reais
Tributos Padroados Águas
Com foro e ração - Distritos
Reguengos
Com foro e semente
Ançã Portunhos Pena Ferraria Cavaleiros Barcouço Vila de Matos Granja Mourelos Rios Frios Cidreira Lavarrabos
Rol Prazo do Beltrão Prazo do Cabral Pinto Quinta dá Boavista Prazos da Câmara
Próprios - com domínio consolidado - Celeiro Real
Foto_5 (pag. 24) Mapa figurativo do Concelho de Ançã
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Extinção do concelho de Ançã Por Decreto de 31 de Dezembro de 1853 foi extinto o Concelho de Ançã. Este Decreto foi publicado no Diário do Governo do dia 3 de Janeiro de 1854. Segundo o Mapa do Distrito Administrativo de Coimbra, elaborado por António Luiz de Sousa Henriques Seco em 1884, Ançã possuía então 263 fogos.
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INVASÕES FRANCESAS
INVASÕES FRANCESAS
Segundo o n° 955 da Gazeta de Cantanhede de 15 de Agosto de 1936, composto e impresso em Ançã na Tipografia Ançanense, é do seguinte teor a descrição de uma sessão camarária nos Paços Municipais de Ançã: “... em 29 de Maio de 1808, reuniram-se todas as autoridades e as pessoas gradas e nobres de então as quais resolveram enviar a Napoleão uma “Representação”, devidamente assinada, pedindo-lhe para Governante de Portugal um rei de sua família. Para convencer os munícipes a aderir, valeu o entusiástico discurso do Juíz de Fora. Aprovada a “Representação” concordaram utilizar como intermediário o Duque de Abrantes”.
No documento a enviar expunham as razões porque faziam tal petição, comparando a situação agora criada, com as Invasões Francesas, com a do domínio espanhol de 1580 - 1640 e com as suas consequências. Pediam um rei francês e uma constituição completamente nova baseada na dos territórios igualmente conquistados por Napoleão e à frente dos quais colocara príncipes da sua família. Para Bento Pereira do Campo e para a Câmara de Ançã, todos nós portugueses somos de origem francesa e à nação francesa devemos a nossa liberdade na época de 1640. Esperavam os signatários grande apoio a nível nacional o que não se verificou pois ainda não tinha passado um mês após a assinatura do documento e já todo o reino de Portugal se tinha sublevado conseguindo, com a ajuda dos ingleses, expulsar os franceses do nosso território.
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Foto_6 (pag. 28) Quadro alusivo às Invasões Francesas.
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As invasões francesas estenderam-se entre 1807 e 1811 e foi na terceira invasão que algumas terras de Coimbra foram invadidas e molestadas as suas pessoas e bens. Depois da retirada da Batalha do Bussaco onde os invasores foram derrotados nos dias 26 e 27 de Agosto de 1810 as tropas de Massena, à passagem, levaram tudo o que encontraram de valor. Embora não esteja provado que Ançã tenha sido vítima dos invasores o mesmo não poderá ser dito de Portunhos que ficou nua e se viu privado do “...Calix, vaso Sacrário, Alvas, Toalhas, em hua palavra, em nada mais do q. as vestimentas “. Mas não só a Igreja foi alvo de pilhagens. As casas também se viram roubadas e, no relato do Padre de Portunhos: “Na invasão dos inimigos, nestes países se demorarão nesta freguesia 5 para 6 dias, deixarão todas as casas roubadas e o q. não poderão levar, inutilizarão, demaneira q. qd os habitantes se recolherão, não acharão mais q. as paredes, ao pouco q. precipitadam. te tinham levado consigo”.
O Rev. Manuel das Neves estava a celebrar a Missa com objectos emprestados, não vendo maneira de remediar semelhante falta, porque “o povo é muito pobre e hua confraria q. ha não tem hum vintém, e está empenhada em mais de 120$000”.
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AS FONTES DE ANÇÃ
AS FONTES DE ANÇÃ
O Padre Cardoso, por volta de 1740, cita várias fontes notáveis em Ançã: “...a Fonte de Ançã que usa este povo tem o seu nascimento junto ao Palácio dos Senhores desta Vila e se vê enobrecida com as armas desta nobilíssima casa. Fica debaixo de dois arcos de pedra coberta por uma abóbada, cingindo a obra toda da sua cimalha e serve de remate uma pirâmide à maneira de torre. Forma por baixo seu tanque de catorze palmos em quadrado, com seus bordos levantados, metendo muita parte de superfície contra o Poente, lajeada de pedra com seus assentos, à sombra de um rochedo, que defende dos calores do Estio. É um só olho de água, mas tão crescido que a pouca distância faz mover ao mesmo tempo três pedras de moinho e um lagar de azeite, não se ocupando deste trabalho a água toda.” E, mais adiante: “...usam todos desta água, por ser muito boa; pelo Verão nasce fria e no Inverno tépida. Desta Fonte se forma um rio que, suposto não ser muito caudaloso, contudo faz mover sucessivamente, em menos de um quarto de légua, vinte pedras de moinho.” Datada de 1674, o caudal desta nascente está calculado em cerca de 20.640 litros por minuto, pouco diferindo entre o Verão e o Inverno. Não há memória desta nascente ter secado e são muitos os milhares de hectares de terra de cultivo que vêem as suas produções regadas com o precioso líquido da Fonte de Ançã. Nos últimos anos, face à escassez de água para o abastecimento do Concelho de Cantanhede, a Câmara optou por uma situação de excepção colocando uma bomba elevatória
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Foto_7 (pag. 32) Promenor da Fonte de Ançã.
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a partir da fonte e abastecer assim as freguesias de Ançã e Portunhos. Junto à Fonte, existe uma piscina pertencente à Junta de Freguesia que utiliza também a sua água. De outras fontes se refere o mesmo autor: “...no termo da Vila, na Quinta do Rol, há uma fonte de admirável virtude para laxar o ventre, de tal sorte que as pessoas endurecidas na sua operação, em bebendo dela, logo se lubrificam e os que vivem na Quinta não usam desta água pelo muito que os destempera.”
Uma outra fonte existe ainda perto da Loureira - a Fonte do Iséu - mas sem grande caudal sendo este, contudo, uniforme durante todo o ano.
Foto _8 Fonte de Ançã e canal.
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MONUMENTOS DE ANÇÃ
MONUMENTOS DE ANÇÃ
Ançã é uma terra de profunda crença religiosa e, para o provar, tem no seu seio uma bela Igreja Matriz, várias Capelas e alguns Cruzeiros, uns dispersos pelas ruas de Ançã e outros encimando casas, que são bem o testemunho da religiosidade do seu povo.
Igreja Matriz Não se conhece ao certo a data da sua construção muito embora, na sua fachada, se encontre a inscrição de 1812. Sabe-se, contudo, que na noite de 3 de Outubro de 1783 um grande incêndio fez dela pasto de chamas por descuido de um carpinteiro que, no côro, estava a fazer um retábulo para a Capela do Senhor de Jesus.2 Em 1789 a Igreja encontrava-se ainda bastante arruinada o que levou o Bispo, D. Francisco de Lemos, a ordenar a Sua reconstrução.3 A torre também sofreu obras de elevação. Segundo a inscrição contida na mesma, foi aumentada em alguns metros por ordem do padre resignatário, José Carlos de Paula, em 1886. O Corpo da Igreja divide-se em três naves separadas por oito colunas dóricas, quatro de cada lado. A nave do meio é mais espaçosa e na segunda coluna da parte do Evangelho, descendo do Altar Mor, fica o púlpito
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Foto_9 (pag. 36) Promenor da fachada da Igreja de Ançã.
Jornal Ançanense, no. 2 de 16 de Maio de 1914 Inventário Artístico de Portugal
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encostado a uma das colunas. É de passeio, com grades de pau preto torneado. Das últimas duas colunas de uma e de outra nave, na direcção da porta da Igreja, fica o coro, de madeira e a toda a largura da Igreja. O tecto, sobre as três naves e o coro, é forrado de caixotões de madeira. Dum lado e do outro da Igreja poderão encontrar-se algumas Capelas e assim, subindo pelo lado direito, começamos por encontrar o acesso à torre e ao coro, seguida da Porta da Travessa e da primeira Capela - a Capela de Nossa Senhora das Dores - também conhecida por Capela das Almas. Tem um arco do Sec. XVII, tecto de pedra em painéis e retábulo de colunas salomónicas do princípio do Sec. XVIII, podendo ler-se na parede a seguinte inscrição: ESTA CAPELA DAS ALMAS SE FES DESMOLAS O ANNO DE 1667 A PESOA Q(V)E SE ENTERRAR NELA DAR A ESMOLA NA FORMA DO COMPRIM(ISS)O.
Segue-se a Capela de Nossa Senhora de Fátima e o acesso à Sacristia Velha ou Capela de Antônio Bacelar. Conserva parte do retábulo com Cristo crucificado, a Virgem e S. João, tudo de pedra, do Sec. XVI. Uma lápide contém a seguinte inscrição: ESTA CAPELA MA(N)DOU FAZER A(N)TONIO BARBOSA BACELAR CIDADÃO DA CIDADE DO PORTO PERA ELLE E SUA MOLHER VERONIQUA PINTA E ERDEIROS TEM A OBRIGAÇÃO QUATRO MISAS SOMANA ATE A FIM DO MUNDO FEITA NO ANNO DE 1581. 38
MONUMENTOS DE ANÇÃ
Seguidamente, e já ao lado da Capela Mor, encontramos a Capela de S. Joaquim. Ao centro, poderemos encontrar a bonita Capela Mor, toda de Pedra de Ançã, incluindo o tecto feito de caixotões do mesmo material. É dedicada a Nossa Senhora do Ó, Padroeira de Ançã, que se encontra exposta no seu interior. À esquerda da Capela Mor, restaurada nos anos quarenta, fica a Capela do Santíssimo. O acesso à Sacristia é feito por um excelente portal de pedra ao que se segue, de imediato, a Capela de Santo António. Tem entrada do Sec. XVI, sendo a abóbada de quartelas. Segue-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário cujas paredes estão revestidas de azulejos de laçaria e folhagens, a azul, e roda pé de figuras avulsas, das olarias de Coimbra, do princípio do Sec. XVII. A abóbada é de aresta, pintada de grotescos. O retábulo é de quatro colunas salomónicas, dos Sec. XVII e XVIII. Segue-se a Capela de Nossa Senhora da Soledade, do Sec. XVII, tem portal e arco de pilastras lavradas, abóbada de arestas com florão central. Possui a seguinte inscrição: ESTA CAPELA MANDOU FAZER O DOUTOR BENTO DIAS ZAMBADO. TEM DE OBRIGAÇA MI TRES MISSAS CADA SEMANA I FOI FEITA NO ANO DE 1683.
A terminar encontramos a Capela do Baptistério com arco de entrada onde se vê um brasão de madeira. A abóbada
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é formada de painéis do Sec. XVII. No seu interior encontramos a seguinte inscrição: ESTA CAPELA MANDOU FAZER VITOIRIO DA COSTA CERVElRA. TEM DE OBRIGASÃO HUMA MISA CADA SEMANA I FEITA NA ERA DE 1719 ANNOS.
Foto _10 Fachada da Igreja de Ançã.
A Igreja Matriz de Ançã, dedicada a Nossa Senhora do Ó ou da Expectação, está classificada como imóvel de interesse público pelo Decreto n.º 8/83 de 24 de Janeiro.
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MONUMENTOS DE ANÇÃ
As imagens No interior da Igreja Matriz existem algumas imagens de grande valor. Assim, poderemos admirar a imagem seiscentista feita de madeira representando S. Bento, as imagens setecentistas de Santo António, Senhora da Piedade e Santa Ana. A imagem renascentista de S. João Baptista, uma imagem de Nossa Senhora do Ó - Padroeira de Ançã - de madeira policromada estilo D. João V (de notar que se trata de uma imagem não tradicional da Santa sobre o ventre dilatado, mas sim “de mãos postas”), uma escultura de madeira da Senhora e o Menino muito comum na nossa região, uma Santa Rita e um S. José, do Sec. XVIII. Uma escultura de pedra de Mestre João Afonso, também conhecido por Mestre das Alhadas, representando a Virgem e o Menino. Uma bela imagem de Santa Luzia, do Sec. XV, que fazia parte do Inventário Artístico de Portugal, desapareceu sem deixar rasto.
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Foto _11 Imagem de Santa na Capela do Senhor da Fonte, século XV
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CRUZEIROS E ALMINHAS
Foto _12 Cruzeiro no Largo da Cruz, 1770.
Para além da Igreja Matriz e das muitas Capelas que populam em Ançã, outras formas de religiosidade estão bem patentes na Vila. Refiro-me aos Cruzeiros e Alminhas que, um pouco por toda a parte, estão espalhados pelos largos e ruas de Ançã. Comecemos pelo cruzeiro que existe no Largo da Cruz; trata-se de um belo Cruzeiro que está implantado no centro do Largo. Construído sobre uma base elevada ergue-se, sobre três degraus de pedra, uma bela cruz datada de 1624. Junto à Capela de Nossa Senhora das Mercês há um pequeno, mas belo, Cruzeiro datado de 1770, que espera por arranjo condigno. O Senhor Santo Cristo, logo abaixo da Fonte de Ançã, apresenta uma certa similaridade com o Pelourinho, pensando tratar-se de monumentos da mesma época. É constituído por um pilar de secção quadrada de cantaria rusticada, encimado por um templete de colunas dóricas que assentam sobre um capitel em forma de cimalha. A cobertura é
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MONUMENTOS DE ANÇÃ
em pirâmide quadrangular tendo no seu interior um belo Cristo pregado na Cruz. Alguns outros cruzeiros desapareceram tendo sido substituídos por outros que nada têm a ver com os primitivos. Estou a lembrar-me de um belo Cruzeiro quinhentista que existiu frente à Igreja Matriz, do qual ainda se pode ver a base mas que foi derrubado, por acto de vandalismo, tendo sido substituído por uma Cruz pesado na de Cemitério. À saída de Ançã, junto à estrada que se dirige para Cantanhede, poderemos encontrar, no sítio da Rocha, um outro Cruzeiro provavelmente do Sec. XVII, isto é, da mesma época do que se encontra no Largo da Cruz. As Alminhas que existem em Ançã estão datadas de 1820 e são constituídas por uma só pedra com os seguintes dizeres: PELAS ALMAS PNOSSO AVEM ERA DE 1820
Foto _13 Pedra das Alminhas.
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Ançã - Memória de um Povo
As Capelas Ao entrar em Ançã, pelo lado Sul, a primeira Capela que encontramos é a Capela de S. Sebastião. Trata-se de uma Capela de construção simples, com alpendre, que está datada de 1606. Tem duas imagens do Sec. XVI - S. João e Santa Catarina - e um lampadário de latão do Sec. XVII, descrito no Inventário Artístico de Portugal. A imagem de S. Sebastião, que dá o nome à Capela, também aí se encontra e, todos os anos em Janeiro, sai à rua numa festa que os militares da região lhe fazem e que detém um cunho muito peculiar. Na Rua Dr. Machado e Costa, encontramos a Capela do Espírito Santo. Trata-se de uma Capela datada de 1615, com alpendre de grossas pilastras de pedra. Dentro da Capela há uma imagem de pedra, do Sec. XVII, representando o Espírito Santo sentado, uma imagem da Virgem com o Menino do Sec. XVI, um Cristo Flagelado do Sec. XVII e ainda uma Imagem de S. Bartolomeu, sem cabeça, que se encontra depositada na Sacristia. Muito perto desta Capela encontra-se a Capela de Nossa Senhora das Mercês, particular, com fachada do Sec. XVIII, porta de pilastras, frontão curvo e óculo em forma de quadrado. Junto à Fonte de Ançã, poderemos encontrar a Capela do Senhor da Fonte. De forma quadrangular e de pequenas dimensões, a sua arquitectura é em tudo semelhante ao alpendre da Fonte. Possui uma pequena Sacristia. No interior ainda se podem observar alguns frescos pintados nas pare-
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MONUMENTOS DE ANÇÃ
des que foram cobertos com cal. É datada de 1674 e terá sido mandada construir (ou reconstruir?) provavelmente pelo Marquês de Cascais, donatário da Vila. A Sul de Ançã, poderemos encontrar a bonita Capela de S. Bento com uma bela vista sobre Ançã. Trata-se de uma Capela datada de 1599 e é a mais bela de todas as Capelas de Ançã. Ali se fazem as maiores romarias, a S.Bento, na Terça-Feira seguinte ao Domingo de Páscoa e a S. Tomé, sempre no dia 25 de Julho de cada ano. Tem um grande alpendre abrigando a entrada principal. No seu interior poderemos admirar todo o tecto abobadado em caixotões de cantaria e o Altar, único, virado a Nascente, e feito de pedra, da mesma época. O retábulo, é de dois corpos e bancada vendo-se, ao alto, S. Bento sob um Pálio. Ainda podemos encontrar as seguintes imagens dentro da Capela: S. Bento, S. Tomé, S. Gregório, S. Bernardo, Santa Apolónia, Santo Amaro, S. Roque, Santa Águeda e uma Abadessa. Na Sacristia, há um retábulo de pedra representando o Calvário, do Sec. XVI. No exterior, poderemos ver uma inscrição que encima a porta principal: IHS 7 ESTA S(AN)TA CASA, SE FEZ DE ESMOLAS NO ANNO DE 1599 NO QUAL AVENDO PESTE GERAL EN TODO ESTE REINO HE DURANDO NELE POR M(UI)TO TEMPO NESTA VILLN POR ENTERCESSÃO DO GLORIOSO S.BENTO NÃO DUROV MAIS Q(UE) VINTE DIAS.
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Ançã - Memória de um Povo
O PELOURINHO Os Pelourinhos são padrões que, colocados junto à residência dos senhores da Terra, tinham por fim salvaguardar os interesses e as regalias pessoais e colectivas dos habitantes da povoação. Possuí-lo era um privilégio e esse privilégio era também comum aos donatários da Vila de Ançã - o Marquês de Cascais. Com aspecto setecentista, foi remodelado no Sec. XIX e encontra-se instalado no Largo do Pelourinho, fronteiro ao Palácio do Donatário. Tem cerca de 5 metros de altura e consta de uma coluna onde a metade inferior é de secção quadrada e rusticada que assenta sobre uma base também quadrada de dois degraus. A metade superior é de secção cilíndrica que remata com uma espécie de capitel arredondado, sem ábaco e ornamentado de acantos. Segundo informação do etnólogo Dr. Luís Chaves, o Pelourinho de Ançã nada tem de quinhentista, devendo ter substituído o primitivo que teve o Concelho de Ançã. Trata-se de um imóvel de interesse público, assim classificado pelo Decreto n.o 23.122 de 11 de Outubro de 1933. Foto _14 Pelourinho da Vila de Ançã.
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MONUMENTOS DE ANÇÃ
CASAS BRAZONADAS São várias as casas que ainda hoje poderemos admirar em Ançã ostentando os seus brasões nas suas fachadas. No Paço dos Donatários, na Fonte, nos marcos que delimitavam o Terreiro do Paço e na Vala de Ançã, junto a Paúl encontra-se a Brasão dos Castros que é composto por seis arruelas de azul em campo de Prata. Para além do Palácio dos Marqueses de Cascais, atrás referido, encontramos um pouco mais abaixo, a caminho da Fonte de Ançã, um belo exemplar de arquitectura imponente encimado pelo Brasão dos Bandeiras de Neiva. Um pouco mais abaixo, uma outra casa setecentista ostenta também o seu brasão. Trata-se de uma bela peça do estilo barroco setecentista de escudo esquartelado. No primeiro e quarto quartéis, Pintos; no segundo quartel, Rebelos e, no terceiro, Bandeiras. Tem elmo voltado à esquerda e, por timbre, um leão. Mas outros brasões ainda se podem apreciar em Ançã. Assim, na Rua Dr. Machado e Costa poderemos encontrar, numa casa muito mal estimada, um belo brasão de família e, na Quinta da Loureira, um outro da Família dos Beltrões inserido numa parte de casa abandonada mas junto ao solar, recuperado e bem estimado. Também nalgumas Capelas da Igreja Matriz encontramos alguns brasões. Assim, na Capela do Baptistério, ao centro do arco de entrada, vemos um brasão de escudo par-
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Ançã - Memória de um Povo
tido de Castros e Cerveiras, com uma brica, carregada de uma flor de liz, sem elmo nem timbre. Na Capela de Nossa Senhora da Soledade, encimando o pórtico de entrada, encontrarmos um outro brasão de escudo partido de Machados e Carvalhos e, na Capela de Santo António, encimando também o arco de entrada, poderemos também admirar um brasão de escudo esquartelado onde, no primeiro e quarto quartéis, encontramos Bacelares; no segundo quartel, Barbosas e, no terceiro, Novais tendo, por timbre, o leão de ouro.4
Foto _15 Brasão no Palácio dos Neivas.
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Armando de Matos - Brazonário de Portugal
ACTIVIDADES ECONÓMICAS
ACTIVIDADES ECONÓMICAS
Ançã é uma terra onde a população, na sua maioria, se dedica à actividade de serviços tanto em Cantanhede como em Coimbra, muito especialmente nesta última cidade. Contudo, ainda hoje à agricultura é dedicada grande atenção e onde, especialmente os mais velhos ocupam o seu tempo. Assim, desde sempre que algumas colheitas são características da região de Ançã. Vem à cabeça o cultivo do arroz no extremo sul da freguesia, na zona denominada Paúl. É esta actividade que faz de Ançã o limite da zona do Baixo Mondego completamente diferente da Gândara que é, por excelência, o Concelho de Cantanhede. Mas outras culturas ainda hoje se fazem em Ançã. Assim, poderá encontrar-se a cultura do milho, dos legumes e do vinho que é de boa qualidade e muito característico da nossa região. É conhecido como um vinho carrascão muito embora, actualmente com o plantio de novas vinhas e o abandono de outras, essa sua característica se tenha perdido um pouco. Ançã é o limite da Zona Demarcada da Bairrada, dela fazendo parte com todo o mérito. Quase toda a produção do vinho de Ançã é encaminhada para a Adega Cooperativa de Cantanhede ou de Souselas, o que deixa em Ançã pouca quantidade, apenas servindo para consumo próprio ou de amigos dos produtores. Outra das culturas que ainda hoje é explorada é a da oliveira; um pouco abandonada face à escassez de mão de obra e à fraca produção, esta foi, no entanto, uma grande riqueza de outros tempos. Para o justificar poderemos afirmar que em Ançã houve quatro lagares de azeite a funcionar curiosa-
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Foto _16 (pag. 50) Vinha, uma das fontes de rendimento do povo de Ançã.
Ançã - Memória de um Povo
mente, todos estes lagares funcionavam movidos a agua ou por tracção animal, especialmente de gado bovino. Hoje apenas temos em funcionamento dois lagares movidos mecanicamente e só laborando em anos de muita produção, por vezes, com azeitona vinda do Alentejo.
Foto _17 Azeitona, outra fonte de rendimento.
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A PEDRA DE ANÇÃ
A PEDRA DE ANÇÃ
Desde sempre que Ançã foi conhecida através da sua pedra. Vários são os tipos de pedra existente em Ançã: A pedra branca muito dura usada para cantarias, uma outra muito mole usada para esculturas, dada a sua facilidade de ser trabalhada, sem esquecer a azulada, muito rija usada apenas como rachão. São algumas das variedades de pedra que constituem o subsolo de Ançã. Mas foi sobretudo a pedra mole que tornou célebre Ançã através de escultores como João de Ruão, Nicolau Chanterenne, Teixeira Lopes, João Machado, Mestre das Alhadas, entre outros, que fizeram da pedra verdadeiras obras de arte que poderemos encontrar nas nossas Igrejas e Monumentos um pouco por todo o nosso Portugal. Mas além fronteiras a Pedra de Ançã também pode encontrar-se, tendo sido exportada, via marítima, depois de se fazer transportar em carros de bois até à Quinta do Rol, de onde era transportada em barcaças, Mondego abaixo, até à Figueira da Foz para, daí, ser carregada em navios que a levavam até ao seu destino. São disso exemplo algumas esculturas de Galiza e do Portal do Hospital Real de Santiago de Compostela. Mário Nunes, numa comunicação feita aquando das Jornada sobre a Pedra de Ançã em Outubro de 1989, refere: “...Esculturas nascidas de pedra que os homens transformaram. E, contámos de repente: Alfaiates, Tabuaço, Santarém, Coimbra, Santar, Porto Penela, Espinhal, Podentes, Pombalinho, Pedrógão Grande Lisboa, Portei, Évora, Funchal, Arouca, Castelo de Vide Estremoz, Vila Flor, Coja, Santiago de Compostela, Jerusa-
Foto_18 (pag. 54) Pedreira em Ançã.
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A PEDRA DE ANÇÃ
lém Roma, Brasil, Japão, Goa, Guiné, Angola, Macau, etc., etc....”
Muitos foram os canteiros que, em Ançã, trabalharam a pedra e disso bem prova a nossa bela Igreja Matriz. Da existência deste tipo de calcário nasceu a Escola de Coimbra que, do Sec. XIV até à Renascença (Sec.XVI), deixou obras de arte no campo da arquitectura, especialmente, na escultura. São de salientar os nomes de João de Ruão que viveu em Coimbra vindo de França (Rohen), o de Tomé Velho e do empreiteiro José Carvalho que, no século XVIII, viveu em Portunhos, embora construísse em Coimbra. Mas João de Ruão foi atraído pelas encomendas de D. Jorge de Meneses, ao qual já lhe havia feito uma parte da ornamentação da Igreja de Atalaia do Ribatejo. Aqui, nos domínios de Cantanhede, haveria de levantar a Capela da Varziela, cerca do ano 1530, na qual, o mesmo fidalgo haveria de ter sepultura. Segundo o Dr. Nogueira Gonçalves, João de Ruão tinha um “estilo delicado, amoroso de seguidores florentinos dos mestres de meados de quatrocentos”. João de Ruão fixou-se em Coimbra, aqui casou, estabeleceu uma oficina formando discípulos, vindo a falecer a 28 de Janeiro de 1580. Mas não há bela sem senão, e a facilidade com que se trabalha a pedra mole e branca de Ançã também, a longo prazo, traz algumas consequências desagradáveis face à sua deterioração. Ensaios feitos pelo Gabinete Nacional de Engenharia Civil concluíram que essas alterações são causadas por via química, por via física e pela acção de organismos
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Foto _19 (pag. 56) Escultura em Pedra de Ançã.
Ançã - Memória de um Povo
vivos mas, que, sempre e só, se processam em presença da água. Para obviar este problema, aquando da construção da Igreja Matriz de Ançã, (consta nos seus arquivos) todas as pedras foram impregnadas de leite porque, dizia-se, a caseína do leite evitava a presença do salitre. A verdade é que na Igreja não há a mais pequena presença de salitre. Mas a Pedra de Ançã, apesar de tudo, vai resistindo durante muitos e muitos anos. Existe no Museu Machado de Castro, em Coimbra, uma lápide em Pedra de Ançã com mais de 1500 anos que foi feita em homenagem ao Imperador Romano Constâncio, pai do Imperador Constantino Magno, e que documenta o facto de Coimbra ser a antiga Aemínium. Diz o seguinte: AT AVCMENTUM REIPVBLICAE NATO DI LECTOQUE PRIN CIPI DOMINO NÔSTRUM FLAVIO VALERIO CONSTANCIO PI O FELICI INVICTO AV GUSTO PONTIFICI MAXIMO TRIBUNITIA POTESTARE PATRI PATRIE PROCONSOL CIVITAS AEMINIENSIS
Segundo José Pinto Loureiro, em “Coimbra no Passado”, quer isto dizer: “A nosso Senhor Flávio Valério Constâncio, Pio, Feliz invicto, Augusto, Pontífice Máximo, com o Poder Tribunício, Pai da Pátria, Proconsul - nascido para o en-
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A PEDRA DE ANÇÃ
grandecimento da República e Príncipe querido - a Cidade de Aemínium dedica este Monumento”.
Uma outra vertente da Pedra de Ançã, hoje completamente desaparecida, foi a sua cozedura em fornos preparados para o efeito onde, ao fim de alguns dias, se obtinha a cal branca viva que depois servia para a caiação das casas e para a construção civil. Uma outra forma de aproveitamento da pedra era a construção de pias para azeite onde, ainda hoje, se armazena este tão precioso líquido. Não resistimos à transcrição de um poema de Paulino Mota Tavares sobre a Pedra de Ançã: Pedra de Ançã calcário exacto grito e arte que na manhã gótica do mundo se inscreve e se resolve História e sangue Imagem, arco e geometria audácia poesia e espaço que o canto exultante preenche e santifica Pedra branca que tudo eleva e glorifica sinal de contradição poder do poder trono, pelourinho
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solidão agressiva de palácio morte, vaidade, cinza epitáfio da crueldade ou do amor testamento de Pedra e Inês em Alcobaça. Pedra antiga última lembrança que não passa a da gente que te embala no berço da terra e que te acorda para a vida e o rigor do cinzel pedra de alvar soleira, avental, lintel vem ser de novo o rasto inteira sem mágoa, sem idade, filha da Água, filha do povo Pedra de Ançã último grito de triunfo e liberdade.
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OS MOINHOS
OS MOINHOS
Para complemento da grande riqueza agrícola que o milho representou, desde sempre, em Ançã, era necessário que a sua transformação se fizesse também no seu seio. Assim, aproveitando uma outra não menor riqueza que é a água em grande abundância, a população construiu moinhos em que a energia para a sua laboração era a própria água. Logo a escassos metros da grande nascente foram construídos os primeiros moinhos. São talvez os mais antigos e a sua primeira citação remonta ao ano de 937.5 Neste documento, Eldara doa a Gundemiro Iben Dautri “...molino proprio que habemos in villa que cocitant anzana...” Alguns anos mais tarde, em 966, o Rei D. Sancho concede, entre outras coisas, ao prior do Mosteiro do Lorvão “... ilo molino Qui est in villa nostra anzana...”. Também os moinhos foram objecto dos inquiridores de D. Manuel. Os moinhos junto à fonte, uns da Coroa, outros do Mosteiro do Lorvão, eram obrigados a pagar à Coroa 360 réis por ano. O moinho do Rol, que era pertença do Mosteiro de Santa Cruz, pagava à Coroa um tributo de dois moios de trigo “... por tomarem agoa da terra dei Rey...”.6 Contudo, vários outros se construíram ao longo do curso da Vala de Ançã e assim, dizia Padre Cardoso, que “em menos de um quarto de légua eram movidas vinte pedras de moinho” o que equivale a dizer que isto se verificava entre a nascente e a Quinta do Rol.
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Portugaliae Monumenta Historia Foral Manuelino
Foto _20 (pag. 62) Moagem do milho.
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Ançã - Memória de um Povo
Mas dois tipos de moinhos existiram ao longo do curso: Os moinhos de rodízio e os de azenha. Ainda hoje toda a produção de milho de Ançã e, bem assim, das terras vizinhas, é transformada em farinha, muito procurada para a cozedura da Broa a que me referirei mais adiante. São dois os moinhos que ainda estão em laboração permanente, noite e dia, num total de 5 pedras, moendo o grão que vai caindo devagarinho no orifício que se encontra no centro da pedra superior. Foi o rodopiar dos moinhos por acção da água que motivou os poetas a dedicarem-lhes uma música muito viva, a que deram o nome de “Rodízio”, dançada sempre de roda, tal como os rodízios dos moinhos se movem em torno do seu eixo.
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O ARTESANATO
O ARTESANATO
Algumas das actividades dos ançanenses de outros tempos tinham por fim dois objectivos: a primeiro, uma forma de subsistência e o segundo, criar os instrumentos adequados para fazer face às necessidades do dia a dia. Assim se desenvolveram algumas artes, tais como a de ferreiro que fazia as ferramentas que os agricultores necessitavam, tanto para uso próprio (casos de enxadas, machados, ponteiros etc.), como para uso nos animais e neste caso estão as ferraduras para os cavalos, burros etc. e os canelas para os bois que depois, por sua vez, apoiavam uma outra profissão que era a de ferrador. O cesteiro fazia os cestos de vários feitios e tamanhos, cada qual para o seu fim, sendo os ceirões para os burros transportarem as uvas ou o estrume para as propriedades, mas tudo feito em vime ou verga. O tanoeiro que, desde a construção do vasilhame para o transporte das uvas - as dornas; aos balseiros para fermentação das mesmas, às pipas e tonéis para armazenamento do vinho, dos canecas para transporte da água da fonte para casa, aos baldes com que se deitava comida aos porcos ou tirava água dos poços “à cegonha” ou picota para regar as hortas, tudo era feito pelos artesãos. Hoje, ainda temos alguns artífices a trabalhar neste tipos de artesanato. O Manuel Tanoeiro, como é mais conhecido, é o único sobrevivente da arte da tanoaria. Tem levado, de norte a sul do país, a sua arte em feiras de artesanato onde tem participado. Foto _21 (pagina 66) Tanoeiro em actividade.
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O ARTESANATO
O latoeiro que fazia os cântaros de folha para transporte de água ou vinho ou mesmo mosto, os funis, as bacias de adega ou para fazer a panela em casa, os S. Tomés (medida com capacidade de cerca de dois litros que servia para vazar os mostos nas adegas) e as candeias de azeite para alumiar dentro de casa, tudo isto foram actividades que se desenvolveram em Ançã mas que hoje, sem necessidade daqueles objectos, fazem parte do artesanato que constitui o património rico de Ançã. Tais actividades ainda hoje existem. Ainda hoje é possível ver trabalhar todos estes artesãos ao vivo porque eles existem, muito embora estejam em vias de extinção se as medidas para a sua protecção não forem tomadas e criados incentivos para que outros lhes sucedam. Mas outras formas de artesanato, poderemos ainda encontrar em Ançã. Não nos poderemos esquecer que algumas indústrias caseiras ainda hoje sobrevivem de forma artesanal. Estou a lembrar-me do fabrico dos Bolos de Ançã que continuam a ser cozidos em fornos aquecidos a lenha. Sobre eles falaremos mais adiante. A confecção da broa de milho é também uma indústria artesanal que desde sempre teve uma grande importância em Ançã, não só como complemento da alimentação da população como também para escoar a produção de milho da região. Entretanto, alguns outros artesãos já deixaram de trabalhar. Estou a lembrar-me dos canteiros. Ançã teve alguns excelentes canteiros que fizeram obras de grande valor. Uns
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Foto _22 (pag. 68) Canteiro da Pedra de Ançã.
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já faleceram e destes lembramos o Ti Chico Vida; outros já deixaram de trabalhar porque a sua idade já não o permite - caso do Sr. José Teixeira que conseguia fazer, numa só pedra, uma pipa com todos os pormenores, assente sobre duas vigas que, por sua vez, estavam apoiadas em malhais. Uma verdadeira obra prima! Resta-nos apenas um canteiro a trabalhar a pedra de Ançã - o Zé Cristo - que, com a ajuda do filho, lá vai fazendo todo o trabalho que lhe é encomendado porque... segundo diz, pedra mole de Ançã, não falta.
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OS BOLOS DE ANÇÃ
OS BOLOS DE ANÇÃ
É obrigatório referir os Bolos de Ançã, pois tratam-se de uma indústria artesanal florescente que é bem representativa das gentes desta Vila. Quem não conhece os Bolos de Ançã? Provavelmente quase toda a gente ao passar por Ançã, ou mesmo em Coimbra onde são vendidos porta a porta, ou ainda nas praias de Mira ou da Figueira da Foz, durante a época balnear, já adquiriu um ou mais bolos para saborear o seu requintado paladar. Contudo, são vários os tipos de bolos que se fabricam em Ançã: Os mais conhecidos são os bolos de ovos, redondos, que são vendidos dentro de açafates de vime e que, para ficarem sempre tenros, são envolvidos num grande plástico azul. Depois, feitos de uma massa mais grosseira, há os Bolos de Cornos, em forma de um “S” alongado e que têm um paladar activo a canela e limão. São muito saborosos e encontram-se em três tamanhos. Por último, há os Bolos Finos; são geralmente feitos por encomenda, na época da Pás-
Foto _23 (pag. 72) Bolos de Ançã no forno.
Foto _24 Confraria do Bolo de Ançã.
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coa, para dar de folar aos afilhados, e também como oferta nos casamentos. Trata-se, como não podia deixar de ser, de um bolo mais rico. Tem mais ovos (caseiros de preferência) sendo o seu aspecto também diferente: São ovais e a parte superior é dobrada. Trata-se de um excelente embaixador de Ançã que identifica perfeitamente a sua origem. De salientar que o Grupo Típico de Ançã, nas suas deslocações de Norte a Sul de Portugal, leva sempre consigo alguns exemplares do Bolo de Ovos que fazem as delícias de quem tem o privilégio de os comer.
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HOMENS ILUSTRES
HOMENS ILUSTRES
Jaime Cortesão Sem dúvida que o homem mais ilustre que nasceu em Ançã foi Jaime Cortesão. Nasceu no dia 29 de Abril de 1884 e faleceu em Lisboa no dia 14 de Agosto de 1960. Era filho do médico, filósofo e Professor da Escola Normal de Coimbra, António Augusto da Silva Cortesão e de Norberta Cândida Zuzarte. Com 6 anos apenas, acompanha a sua família que vai fixar-se em S. João do Campo. Fez o seu Curso dos Liceus em Coimbra e matriculou-se na Universidade, em Grego, tendo concluído o primeiro ano com distinção. Frequenta seguidamente Direito, depois de hesitar entre este curso e o de Belas Artes. Mais tarde, abandona-o e matricula-se em Medicina. Transfere a sua matrícula para o Porto onde começa a desenvolver actividades literárias e políticas. Funda em 1907, com Leonardo Coimbra, Cláudio Basto e Álvaro Pinto, a revista de vida efémera “Nova Sylva” onde publica algumas das suas primeiras poesias e desenhos. Um ano mais tarde é-lhe confiada a importante missão política de ligação entre os republicanos do Norte e do Sul do País. Em 1909 matricula-se na Faculdade de Medicina de Lisboa, curso que termina um ano mais tarde com 18 valores, defendendo a tese sobre “Arte e Medicina (Antero de Quental e Sousa Martins)”. Publica então o seu primeiro livro de versos: “A Morte da Águia”, escrito em S. João do Campo, onde fixa residência e exerce também medicina. Em 1912 casa-se com a sua prima Carolina Ferreira Cortesão e instala-se no Porto. É nomeado professor de História
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Foto _25 (pag. 76) Jaime Cortesão e Augusto Abelaira.
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e Literatura no Liceu Rodrigues de Freitas e destaca-se como o principal impulsionador do movimento RENASCENÇA PORTUGUESA. Em 1916 estreia-se como autor dramático com a peça “Infante de Sagres”. Em 1917 oferece-se como voluntário e segue, em Agosto, para França, na qualidade de médico miliciano. É gaseado e cega temporariamente nas linhas da frente ao atender os feridos. O seu comportamento vale-lhe a Cruz de Guerra e Louvor. Em 1921 é eleito membro da Academia das Ciências e, no ano seguinte, faz parte da missão intelectual que vai ao Brasil com o Presidente António José de Almeida, a quando do Centenário da Independência deste País. Em 1952 é encarregado da Exposição Histórica de S. Paulo voltando definitivamente a Portugal em 1957 tendo-lhe sido, pouco antes, concedido o título de “Cidadão Benemérito de S. Paulo” em homenagem à maneira brilhante como organizara a Exposição Histórica do IV Centenário desta Cidade. É preso, com 74 anos, no Forte de Caxias juntamente com António Sérgio, Vieira de Almeida e Azevedo Gomes e solto, após vigorosa campanha de indignação e protesto da Imprensa Brasileira. Entre 1959/1960, e após uma convalescença demorada, é o início de um período de labor intelectual e literário intenso. A sua obra monumental “Os Descobrimentos Portu-
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HOMENS ILUSTRES
gueses” é começada nesta altura, tendo falecido precisamente quando completava 50 anos de actividade literária.
Foto _26 Jaime Cortesão.
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Augusto Abelaira Augusto Abelaira nasceu em Ançã no ano de 1926. Ainda menino vai com os seus pais para os Açores e aí começou a sua familiaridade com os livros. Seu Pai, José Abelaira Gomes, lia-lhe então os mais fáceis diálogos de Platão. De regresso, viveu em Lisboa, Ançã e Porto. Na adolescência começa a escrever poesia estreando-se com o poema sobre os Heterónimos de Fernando Pessoa, publicado no “O Primeiro de Janeiro”. De novo em Lisboa, faz licenciatura em Histórico-Filosóficas criando o hábito de estudar nos cafés, fugindo da solidão. Ainda hoje só escreve no café. Com 72 anos de idade é um Homem inteligente, culto e liberal. Mantém escrita no “Jornal das Letras” e é um dos romancistas mais importantes da nossa literatura. Urbano Tavares Rodrigues “vê” assim o escritor: “... a partir de 1959, data da publicação de A Cidade e as Flores, Augusto Abelaira é um dos autores que mais interferiu entre nós na renovação da literatura e, de certo modo, através desta, na transformação da vida, ou melhor, em algumas das alterações das relações sociais e, antes de mais, na relação homem/mulher. Escritor irónico, contestatário e perguntador, essencialmente problematizante, questionou desde o seu primeiro livro os estatutos do amor e do casamento, insurgindo-se inquieta e atormentadamente contra os conceitos de posse, fidelidade e perenidade dos sentimentos, tal como num ou-
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Foto _27 Augusto Abelaira.
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tro plano se levantava contra as ditaduras e as desigualdades económicas, empreendendo num e noutro domínios um percurso de irrestrita e espinhosa liberdade”. E, mais adiante: “...dotado de uma singular agilidade e vocação para o diálogo, Abelaira esquematizou pensamentos fulcrais em “A Palavra é de Oiro” e “O Nariz de Cleópatra”, sátiras brilhantes que ainda não conheceram no palco a difusão que merecem.” Termina Urbano Tavares Rodrigues: “...Abelaira diz hoje, como poucos escritores, a crise de um tempo, o da palavra escrita, embora naturalmente desse tempo vá já escorrendo a linfa sagrada de que outro jovem século, outro manancial há-de nascer.” São muitos os livros já escritos por Abelaira. Já me referi a alguns. No entanto, outros são igualmente importantes de que destacamos “Sem Tecto nem Ruínas”, “Triunfo da Morte”, “O Único Animal Que” e “Deste Modo ou Daquele” que foi o último livro, publicado em 1990.
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FESTAS E ROMARIAS
FESTAS E ROMARIAS
Sem dúvida que Ançã é, por excelência, a terra das festas. Começando pela Festa em Honra de S. Sebastião, que habitualmente se realiza no mês de Janeiro, segue-se a Festa em Honra de S. Bento na Terça-Feira seguinte ao Domingo de Páscoa, logo seguida da Festa de Aniversário dos Irmãos de S. Bento na Segunda-Feira de Pascoela. A Festa do Corpo de Deus, eminentemente religiosa, realiza-se habitualmente em Junho. Neste mesmo mês o Grupo Típico de Ançã costuma festejar o seu Aniversário, por alturas de S. João, efectuando um pequeno Festival Folclórico e as tradicionais Marchas Joaninas pelas Ruas de Ançã. Em Julho, tem lugar a maior Festa de Ançã - a Festa de S. Tomé - que se realiza sempre no dia 25. Mas não fica por aqui. Em Agosto, é altura da realização do Grande Festival de Folclore de Grupo Típico de Ançã sempre no segundo Domingo daquele mês. Em Setembro, uma outra Festa tem lugar em Honra do Senhor da Fonte. Não irei descrever todas estas festas de Ançã mas, tão somente, tentarei historiar as mais importantes.
Festa de S. Bento A Festa em Honra de S. Bento possui duas vertentes que importa destacar. A primeira respeita à festa religiosa em si e ao pagamento das promessas pelos devotos. Aqui, importa referir que S. Bento é um Santo muito querido das gentes de Ançã e não só. Sempre que o sofrimento de alguém é uma realidade, é costume pedir-se a S. Bento a graça para a cura
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Foto _28 (pag. 84) Imagem de S. Sebastião.
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dos seus males. É assim que, no dia da Festa, muitos devotos vêm pagar as suas promessas umas vezes em dinheiro, outras em valores (ovos, galinhas e, até ouro) e noutras com partes do Corpo Humano em cera que, para o efeito, se vende junto à Capela. A outra vertente diz respeito à Feira mais antiga do Baixo Mondego e das Gândaras (só precedida pela de Pereira em 1664) e que era realizada precisamente no dia da Festa em Honra de S. Bento, face ao grande número de visitantes que vinham até Ançã. A Feira de Ançã tem Alvará Régio passado em 29 de Julho de 1671 por D. Afonso VI de acordo com a petição formulada pelo Juiz, Vereadores e Procurador do Concelho da Vila. É do seguinte teor o Alvará Régio que cria a Feira de Ançã: “Eu Príncipe, etc., faço saber aos que este alvará uirem que o juis e uereadores e Procurador do Conselho da Vila de ançam me enuiaram dizer per sua petiçam que na dita vila ha hua hermida do Patriarcha S. Bento onde concorre muita gente a segunda oitaua da Paschoa dia em que se fas a festa ao mesmo santo e para maior solenidade dela, me pedião lhe concedesse pudessem faser hua feira e uisto o que alegão e constou para informaçam que se ouva pelo Prouedor da Comarca da Cidade de Coimbra e seo parecer hei por bem e me pras de lhe dar licença por que na dita vila no sítio da dita hermida se faça todos osannos hua feira de todo o género de mercadorias na segunda e terça oitaua de Paschoa de flores e mando ao dito Prouedor da Comarca e mais justiças officiais e pesoas a quem o conhecimento disto pertencer lhe cumprão e guardem este aluara como nele se conthem e ualera posto
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seo efeito haia de durar mais de hu anno sem embargo da ordenação Livro 2° título 4° em contrario e pagarão o nouo direito devendoo na forma das minhas ordens. Antº Marques a fes em Lisboa a uinte e nove de Julho de seis centos e setenta e hu António Rodrigues de Figueiredo a fes escrever.”
Festa de S. Tomé
Foto _29 Capela de S. Bento.
É, sem dúvida, a maior Festa de Ançã e arredores. Sempre realizada no dia 25 de Julho de cada ano, a Festa começa verdadeiramente na véspera quando o Juiz da Festa vai buscar as Bandeiras (da Festa e do Anjo) a casa dos seus fiéis depositários - a família Veloso Cortesão - como manda a tradição. É assim que, pela tardinha do dia 24, acompanhado da Filarmónica local o Juiz e os, seus convidados se deslo-
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cam para “levantarem” as Bandeiras. É oferecido um beberete a todos os que participam na cerimónia e ao som da Banda e do repenicar dos sinos, em uníssono com o estralejar dos primeiros foguetes, forma-se o cortejo até à casa do Juiz onde este oferece a todos quantos assistem à chegada das Bandeiras, uma piqueta, composta de pêras, bolachas, vinho tinto e branco e jeropiga, para as senhoras. As Bandeiras são expostas numa janela da sua casa, engalanada para o efeito, e alumiada com candeias de azeite. Aí ficam durante toda a noite até ao dia seguinte. No dia da Festa, logo pela manhã, a Banda vai a casa do Juiz onde se forma um cortejo de cavalhadas não sem antes ter sido oferecido a piqueta aos presentes para se formar o cortejo que levará as Bandeiras até à Capela onde se realizará a Festa. O Juiz da Festa e o Anjo (normalmente de promessa), montados em cavalos cobertos por uma côta de malha, abrem o cortejo logo seguidos da Banda e de muitos outros cavaleiros. Depois de percorrer as principais Ruas da Vila, dirige-se para a Capela onde dá as três tradicionais voltas quedando-se, frente à Capela, onde será feita a Benção do Gado pelo Pároco da Freguesia. Terminada a cerimónia, o Juiz da Festa entregará a Bandeira da Festa ao Prior que a depositará junto ao Altar da Capela onde permanecerá até ao fim da tarde à espera que um novo Juiz apareça e, ao pegar na Bandeira, assuma o compromisso de fazer a Festa no ano seguinte. Entretanto, bastará prender um simples lenço ao pau da Bandeira para que se respeite o compromisso e mais ninguém lhe pegue.
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À tarde, organizam-se então as cavalhadas que partirão da casa do Juiz, percorrendo as principais ruas da Vila, dirigindo-se para a Capela. Nelas se integrarão não só os cavaleiros mas também alguns carros alegóricos decorados com motivos vários mas quase sempre relacionados com a vida dos Ançanenses e muitas vezes com críticas à vida local, numa irreverência salutar. Chegado à Capela, o cortejo dá as três voltas de tradição, parando o Juiz frente a ela, à espera que o novo Juiz apareça com a Bandeira. Se tal não acontecer dará mais três voltas repetindo-se tantas vezes até que
Foto _30 (pag. 88) Imagem figurativa das cavalhadas de S. Tomé.
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um novo Juiz pegue na Bandeira que lhe será entregue pelo Prior. Então, o Velho Juiz desmonta do seu cavalo e, para este, monta o Juiz novo. Dão-se vivas aos dois Juizes após o que darão mais três voltas à Capela e rumarão para casa do novo Juiz. Aí chegados, será servida uma piqueta em tudo semelhante às outras e expostas de imediato as Bandeiras numa janela. No dia seguinte, à tardinha, acompanhados mais uma vez pela Filarmónica local, rumarão, apeados, até à casa dos “fiéis depositários” das Bandeiras onde as entregarão para que fiquem guardadas até ao ano seguinte. Claro que estes festejos duram sempre quatro, cinco e, por vezes, seis dias com noitadas no Terreiro do Paço até às tantas da madrugada. Por que se trata de uma Festa que requer muito trabalho e despesa, nos últimos anos tem sido assim as Associações de Ançã alternadamente são encarregadas pelo Juiz de organizar todo o programa lúdico, remetendo para o Juiz da Festa apenas a parte religiosa, com participando este nalgumas despesas complementares. Esta é uma maneira de também conseguir alguns fundos para a vida das Associações.
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FESTAS E ROMARIAS
Festa do Galo No Domingo Gordo as crianças da escola faziam a sua “Festa do Galo”. Consistia a festa num cortejo que desfilava pelas ruas de Ançã, normalmente depois do almoço em que as crianças iam vestidas com trajes regionais. Abria o cortejo o aluno mais pequeno que puxava um carro que transportava um galo que tinha sido comprado por subscrição dos alunos. Seguiam-se as raparigas. Ia à frente uma que levava à cabeça uma cesta de verga muito bem ornamentada. A cesta formava uma espécie de gaiola onde era metido o galo que as alunas tinham comprado, também por subscrição entre elas. Cada um dos grupos fazia questão de mostrar o maior e mais belo galo. Destinatários já tinham: Os Professores. Em tempos mais remotos os cortejos eram separados e faziam mesmo questão de não se encontrarem. Porém, nos últimos tempos em que se realizou a Festa o cortejo era já em conjunto. Durante o percurso havia recitais feitos pelas crianças, de que são exemplo os seguintes versos: Não haverá quem console Nesta tão triste sorte Esta noite se escreveu A minha sentença de morte
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Já que estou em meu juízo Testamento quero fazer Para os meus bens deixar A quem melhor me parecer Deixo a voz da garganta Aos galos meus companheiros Para que cantem de noite Em cima dos seus poleiros Deixo as penas do pescoço De várias cores pintadas Às meninas desta terra Para andarem enfeitadas Deixo as unhas dos pés Para as mulheres viúvas Se arranharem de noite Quando morderem as pulgas Em nome da benta hora Acudam todos e venham ver O que fez um pobre galo Pouco antes de morrer Em tudo quanto vos disse Tomai sentido e atento Que eu princípio agora A fazer meu testamento
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FESTAS E ROMARIAS
Deixo mais a minha crista Vermelhinha e tão bela Ao gato mais lambaruso Que pode ficar com ela Deixo as penas e o rabo Por serem as mais brilhantes Para as meninas solteiras Darem aos seus amantes O bico que me ia esquecendo Deixo ao galo mais fraco Para que quando armar bulhas Fazer mais um buraco O fígado e a moela É minha vontade inteira Que os coma logo assados Quem for minha cozinheira Deixo o miolo das tripas E toda a demais demasia À mulher mais rabugenta Que houver na freguesia o papo que toda a vida Me serviu de celeiro Deixo-o ao homem honrado Para a bolsa do dinheiro
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Dos mais galos que morram Peço a todos em geral Que não façam testamento Que este por todos vale7 Quando o cortejo chegava a casa dos Professores os galos eram-lhes entregues e os Professores ofereciam às crianças figos passados e jeropiga.
Foto _31 Ilustração de um galo.
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Alguns dos versos cedidos por José Malva Relva
AS ASSOCIAÇÕES
AS ASSOCIAÇÕES
Filarmónica A Associação mais antiga de Ançã foi fundada por escritura de 24 de Setembro de 1879.Trata-se da Phylarmónica Ançanense que, até aos nossos dias, tem pautado a sua actividade com muito brilhantismo. É do seguinte teor a escritura da referida Associação: “Saibam quantos este público instrumento de escripturé de Sociedade virem que sendo o Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos setenta e nove, ao: vinte e quatro dias do mês de Setembro, do dito anno neste Vila de Ançã, e em moradas do illustríssimo Francisco António das Neves Velloso, aqui estavam presentes os sócios benfeitore os illustrissimos José de Gouveia de Lucena Beltrão, solteiro, da Quinta da Loureira, Manuel José Corrêa Martha, casado, Francisco António das Neves Velloso, casado, José Fernandes Camazão, casado, os sócios múzicos: António Maria Lopes...” e, no seu Cap. I: “Da Sociedade - Artigo primeiro - A Sociedade denomina-se Philarmónica Ançanense - O seu fim é o recreio, instrução e mutuo auxílio dos associados...”. Custou esta escritura a módica quantia de 5$130! 8
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Cinco mil cento e trinta réis
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Foto _32 (pag. 96) Festival de Folclore.
Foto _33 Logotipo da Phylarmónica Ançanense.
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De então para cá, a Filarmónica tem desenvolvido um trabalho meritório destacando-se nos últimos tempos a criação de uma escola de música onde muitos jovens, de ambos os sexos, aprendem esta arte passando a integrar os quadros da Filarmónica, que apresenta cerca de 50 elementos. É justo referir alguns músicos já desaparecidos do reino dos vivos que deram o seu contributo no ensino e na regência da Filarmónica. Em primeiro lugar Artur Salguinho, paraplégico, que passou os últimos anos da sua vida a ensinar música e a compor músicas e canções de cariz popular, que se destinavam aos vários “ranchos” que todos os anos se formavam para dançar em pavilhões, ou para as Marchas dos Santos Populares que, na sua quadra, percorriam as ruas de Ançã. Depois, o Ti Guilherme que, enquanto pode, foi o Mestre da Banda mostrando sempre boa vontade e espírito de sacrifício. Actualmente, a Phylarmónica Ançanense respira saúde com excelentes executantes que são um garante de um futuro próspero. Um pouco da História desta Banda passa também por se saber como se iniciou a sua actividade e um pouco do seu percurso. Assim sendo, poderemos começar pela compra dos primeiros instrumentos. Foram comprados no Porto, na casa Custódio Cardoso Pereira, no dia 11 de Janeiro de 1880. Compraram-se, nessa altura, 29 instrumentos que custaram a módica quantia de 350$400. Contudo, acrescentando alguns acessórios como bandoleiras, estantes, palhetas, etc., gastouse a pequena “fortuna” de 336$295, tendo em
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consideração que obtiveram um desconto de 10%, o que equivaleu a 36$595. O primeiro Regente da Banda foi o Mestre Zacharias, que ganhava mensalmente 13$500, tendo passado a ganhar 15$000 em 1880. A primeira actuação foi na Festa de Sª. Marinha em Julho de 1880, onde a Banda foi ganhar 13$000, seguida da Festa de S. Tomé, no mesmo ano, onde ganhou 18$000. Contudo, a Filarmónica não começou a sua actividade com fardamentos. Os tecidos para os fardamentos foram comprados em Coimbra, na Loja de Fazendas Brancas e Modas, de António Maria Cardoso, sita na Rua da Calçada 4244, no dia 23 de Agosto de 1882 e, segundo tudo indica, teriam as cores de verde e azul. Tudo leva a crer que o alfaiate obreiro do primeiro fardamento terá sido o Sr. António Simões que recebeu, pela sua confecção, a quantia de 45$590,
Foto _34 Primeira foto da Phylarmónica Ançanense.
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no dia 5 de Outubro de 1882. Os bonés, com “liras finas”, foram comprados em Lisboa no dia 12 de Novembro de 1882, na loja de Francisco António Jorge Bello, na Praça de D. Pedro, 103. Compraram-se 28 “Quépis” importando, cada um, em 1$600. Foram trazidos para Ançã de Americano, que cobrou pelo “carreto” $050. Um outro dado importante é saber-se que foram mandadas fazer 26 fardas tendo, cada uma, importado em 6$725, importância essa que foi suportada pelos componentes. Outros Mestres teve a Banda. Depois do Mestre Zacharias, foi a vez do Mestre Nobre tomar conta da Banda em 1883, recebendo um vencimento fixo de 13$500 tendo direito a mais 10% sobre os cachets. No entanto, pouco tempo se manteve no cargo que, no mesmo ano, foi ocupado pelo Mestre Abel, nas mesmas condições do antecessor. Esta é um pouco da história, mais recuada, da Sociedade Filarmónica Ançanense que foi considerada instituição de Utilidade Pública por despacho do Senhor Primeiro Ministro de 26 de Fevereiro de 1998 e publicado no Diário da República de 18 de Março de 1998.
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Grupo Típico de Ançã O Grupo Típico de Ançã foi fundado em 28 de Maio de 1978, com o firme propósito de reviver e preservar os costumes, tradições, danças e cantares da histórica Vila de Ançã. É membro da Federação do Folclore Português desde 1984 e tem procurado que as suas danças sejam, tanto quanto possível, fiéis da vida das gentes de Ançã dos finais do Século passado e princípios do presente.
Foto _35 Entrada do Grupo Típico de Ançã em Festival.
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O Grupo Típico de Ançã é constituído por 50 elementos divididos em três actividades: 35 dançarinós, 5 cantores e 10 musicos. Várias foram as recolhas feitas pelo Típico de Ançã. Assim, é de destacar a “penhora da azeitona”, a “escamisada”, o “trabalho do arroz” e ainda alguns costumes antigos como o “ir buscar a sesta” e o “Serrar da Velha”. Algumas reconstituições de festas de cariz popular foram repostas na sua gênese primitiva, de que poderemos destacar a “Festa de S. Tomé”, que se encontrava totalmente desvirtuada, o “Cantar dos Reis”, o “Amentar das Almas” e ainda as “Marchas Joaninas” que se tinham perdido no tempo. O Património do Grupo Típico de Ançã é constituído pelo Museu Etnográfico, instalado numa casa setecentista que foi adquirida pelo Grupo e depois reconstruída com o apoio de alguns subsídios e de muitos Ançanenses que quiseram, com a sua ajuda económica ou de trabalho, colocá-la de pé. Encontrase recheado de todo um património recolhido e preservado, para ser mostrado aos muitos visitantes que o procuram. No 1.º andar foi reconstruída a casa típica de Ançã do Sec. XVIII e o rés do chão foi aproveitado para expõr todo o espólio do Grupo Típico oferecido nas suas muitas deslocaçães, tanto no País, como no estrangeiro. Poderão ver-se ainda alguns trajes e outros objectos pessoais, assim como alfaias agrícolas usadas há muitos anos atrás. A sobrevivência do Grupo Típico deve-se à carolice de todos os seus elementos, que nada recebem e ainda com-
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pram os trajes, ao muito trabalho que desenvolve, à realização de dois festivais anuais com fins lucrativos e ainda aos subsídios que, tanto a Câmara Municipal de Cantanhede, como a Junta de Freguesia de Ançã, lhes concedem anualmente. Nas danças predominam as modas de roda, viras e verde gaio que, normalmente, eram cantados nas Romarias de S. Tomé e de S. Bento, nos soalheiros no Largo da Igreja ou ainda no Largo da Histórica Fonte. Igualmente foram recolhidos cantares de trabalho: Nas vindimas, nas escamisadas, na ceifa do arroz, nas cavas da vinha, etc., de que se podem destacar: “Bate o Chinelo”, “Vassourinha”, “O Garoto do Boné”, “Se fores ao S. João’, “Ciranda” e, de Romaria: O “Estalado”. A predominância das músicas e danças que interpreta, abrangem toda a zona envolvente de Ançã com forte incidência no Baixo Mondego.
Foto _36 Grupo Típico de Ançã.
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O Grupo Típico de Ançâ apresenta instrumentos tradicionais, de que poderemos destacar os instrumentos de corda, como cavaquinhos, toeira, braguesa e viola, secundados por concertina, bombo e ferrinhos. Os trajes apresentados pelo Grupo Típico de Ançã são constituídos pelos trajes de Noivos, Lavradeira Rica, Meios Senhores, Romeiros de S. Tomé, Romeiros do Senhor da Serra, Negociante de Gado, Ver a Deus, Domingueiros, Almocreve, Vindimadores, Moleiros, Trabalho do Campo e da Eira, Trabalho do Arroz, Feirantes e Ir à Fonte ao Domingo.
Ançã Futebol Clube O representante do Desporto-Rei em Ançã é o Ançã Futebol Clube. Fundado em 1 de Maio de 1941, com o nome de Sporting Clube Ançanense, viu o seu campo de futebol inau-
Foto _37 Equipa da época 2008/2009
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gurado no dia 4 de Maio de 1941, o mesmo que ainda hoje possui, o Campo de S. Sebastião. Mais tarde mudou o nome para Ançã Futebol Clube designação que ainda hoje mantém, muito embora, na gíria futebolística, seja conhecido pelo “Ferry-Aço”, nome granjeado pela sua forte vontade de vencer e pela tenacidade que sempre colocou quando joga. Inicialmente, disputou alguns torneios com outras equipas das redondezas, até que se federou nos anos 60, começando a disputar os campeonatos distritais tendo mesmo permanecido na 3ª Divisão Nacional durante quatro anos. Presentemente, disputa a Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra e dispõe de um plantel constituído basicamente por jovens de Ançã, que nada ganham, mas que suam a camisola que vestem, obtendo resultados que lhes permite não sofrer sobressaltos na tabela classificativa.
Avança A Associação para o Desenvolvimento e Promoção da qualidade de Vida do Meio Rural de Ançã, fundada a 14 de Janeiro de 1998 com sede em Ançã tem actualmente cerca de 120 associados, e que como o próprio nome indica, pretende através de vários vectores contribuir para o desenvolvimento e promoção da Vila de Ançã. Para cumprir os desígnios a que se propôs, esta associação tem levado a cabo várias actividades de entre as quais destacamos a Feira do Bolo de Ançã, que já vai na sua nona
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edição, os cursos extra-escolares para adultos, a manutenção de uma Reserva de Asininos, que visa proteger mais este guardião das nossas ricas tradições, e naturalmente a prova de BTT. Um dos vectores em que pretendemos continuar a apostar é o desporto e em particular o ciclismo, quer na sua vertente de estrada quer no BTT. Tem sido nesta perspectiva que ao longo de toda a sua existência a AVANÇA, os seus órgãos sociais, os seus sócios e amigos, tem trabalhado e continuarão a trabalhar com espírito empreendedor e altruísta em todas as suas áreas de influência tentando sempre oferecer o melhor possível aos seus associados e restante população, ajudando assim ao desenvolvimento da Vila de Ançã.
Foto _38 Equipa BTT da época 2008/2009
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TRADIÇÕES
TRADIÇÕES
O Casamento Quando dois jovens pretendiam namorar, começavam por se encontrar normalmente a caminho da Fonte, nalgum bailarico ou mesmo no trabalho de campo que faziam juntos. “Conversavam” então sim, a caminho da Fonte, geralmente ao fim da tarde. Ela, de caneco ou cântaro à cabeça e ele, de mãos nos bolsos, trocavam as primeiras palavras de amor mantendo uma certa distância (por vezes mais de dois metros) que, à medida que o tempo decorria e o namoro se radicava, ia encurtando sem, contudo, se aproximarem demasiado para que as pessoas não julgassem mal a seu respeito. Só decorridos muitos meses, e às vezes anos, é que se aproximava o rapaz da casa da sua “conversada”, para namorarem à porta. Muito próximo do casamento, então sim, o rapaz tinha autorização para ir a casa da noiva e aí namorar, mas sempre sob os olhares “protectores” da mãe da noiva. Dias antes da data do casamento, começava a azáfama de fazer o arroz doce e os bolos (de cornos e finos pois cada um tinha o seu destino). Aos Padrinhos era dado, a cada um, um bolo fino, uma travessa de arroz doce e uma galinha assada com o respectivo arroz assado no forno. Aos demais convidados era dado a cada um, mesmo que fossem vários da mesma casa, um prato de arroz doce e um bolo de cornos. Ao Padre que iria celebrar o casamento era dado um bolo fino, uma travessa de arroz doce e uma galinha caseira assada. Foto _39 (pag. 108) Namoro na Fonte.
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Chegado o dia do casamento, e depois da cerimónia religiosa onde iam todos os convidados, à saída da Igreja os noivos eram “bombardeados” com pétalas de flores e trigo sem joio - que simbolizava a pureza da noiva. Chegados a casa da noiva onde habitualmente se realizava a Boda, procedia-se ao arremesso das amêndoas através de uma ou mais janelas. Começava então a noiva a desempenhar essa tarefa que terminava nos Pais e Padrinhos. Todos eles se muniam de sacadas de muitos quilos de amêndoas de açúcar que faziam o regalo das muitas dezenas de pessoas, jovens e adultos, que se acotovelavam e gritavam “p’ráqui, p’ráqui!” a fim de apanharem a maior quantidade possível no chão ou no ar, pouco importava, para levar para casa. Para as crianças, então, constituía uma festa o facto de poderem apanhar uma “bolsada“ de amêndoas porque quem mais apanhava seria o campeão. Por outro lado, também se avaliava a riqueza de um casamento pela quantidade de amêndoas que se deitava constituindo, tal facto, por vezes, um autêntico campeonato entre famílias. Servia-se depois o almoço que normalmente era constituído por uma canja de galinha caseira, e mais sete, oito ou nove pratos, na sua quase totalidade de carne, reservando-se para o prato de peixe uns filetes de pescada com arroz. Cozido à Portuguesa, Chanfana, terminando no leitão, tudo muito bem regado com vinho tinto, do bom, eram alguns dos pratos característicos da Boda que terminava com a sobremesa de arroz doce, Bolo de Ançã e fruta da época.
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À noite, voltavam os noivos, familiares e convidados a reunirem-se no mesmo local, para mais uma refeição já não tão completa como a do almoço mas, mesmo assim, composta pela sopa e mais dois ou três pratos. Findo o jantar, cada um dos noivos ia para casa dos seus Pais para se encontrarem, de novo e só, à hora do almoço com os convidados e demais família para nova refeição composta de sopa e mais dois ou três pratos de carne. Terminado o almoço então os noivos juntavam-se pela primeira vez para viverem a sua vida a dois. Curioso é verificar que, mesmo naqueles mais ousados e que se sabia terem tido já os seus devaneios, todo o ritual do casamento era cumprido à risca.
A dEscamisada Ançã, terra agrícola por excelência, desde sempre teve no cultivo do milho uma das suas principais actividades, em paralelo com a do cultivo do arroz. Qualquer destes cereais era objecto do trabalho da eira. No entanto o milho, pela sua especificidade, requeria outros trabalhos onde a mão de obra feminina estava presente em maior número. Referimo-nos, como não podia deixar de ser, às escamisadas que se faziam nas eiras e que consistiam na retirada da “camisa” às espigas. Juntavam-se grandes ranchos de raparigas e rapazes, à noite ao serão e, ao som de uma viola ou de uma “gaita de beiços”, cantavam ao desafio umas vezes, ou em conjunto, outras. Quando aparecia uma espiga de grãos vermelhos, quem a
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achava, se fosse rapariga, tinha que dar um beijo a todos os rapazes sendo, o inverso, também verdade.
Foto _40 Descamisada do milho.
As Malhadas Depois da escamisada as espigas eram espalhadas na eira, ao sol, para secarem. Quando isto acontecia, procedia-se, então, à malhada. Chamava-se malhada ao acta de bater com o malho (objecto de madeira muito rudimentar composto de um cabo com cerca de dois metros a que se dava o nome de mangual que, por sua vez, articulava por meio de uma correia ou duas entrelaçadas num outro pau, mais pequeno e mais grosso a que se chamava o piltro e que, esse sim, batia fortemente nas espigas para delas se separarem os grãos) em tarefa que habitualmente era praticada por homens.
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Um parêntesis apenas para referir que, no caso do arroz, a malhada era feita com a planta do arroz inteira tal qual era trazida do campo. Havia que ter aqui um certo cuidado que consistia em colocar as espigas, todas viradas para o meio para se poder concentrar a batida dos malhos. Para se proceder às malhadas eram necessários sempre quatro, cinco ou seis homens (por vezes até mais!) que, munidos do seu malho e colocados frente a frente, batiam alternadamente de um e do outro lado sobre as espigas. Todo este ritual era acompanhado de palavras ritmadas, para que as pancadas fossem devidamente compassadas e não houvesse atropelos. Quer as espigas de milho quer a palha do arroz eram, de vez em quando, mexidas para que ficassem ao de cimo as espigas que ainda tinham grão e se prosseguisse a actividade com a maior eficácia. Finda a malhada, retirava-se a palha, no caso do arroz e os “carolos” no caso do milho, ficando a nu os grãos do cereal que permaneciam espalhados na eira durante mais alguns dias, para secar convenientemente. Depois de devidamente secos, eram limpos com o auxílio de uma “tarara” que, fazendo vento por acção de umas pás que rodavam accionadas por uma manivela, retirava as sujidades mais leves do cereal, limpando-o para depois ser armazenado. Para o arroz, o trabalho não acabava aqui. Havia ainda uma outra tarefa que era normalmente efectuada em edifícios próprios. Referimo-nos ao descasque do arroz. O cereal ensacado era transportado em carros de bois para o descas-
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que e, então aí, com mós especialmente preparadas para o efeito, procedia-se à retirada da casca do grão ficando, então sim, pronto para ser cozinhado nas nossas casas.
Foto _41 Malho, utensilio usado para a descasca dos cereais.
A Penhora da Azeitona Ançã foi, noutros tempos, rica em azeitona bastando para o confirmar o facto de ter a laborar, simultaneamente, quatro lagares de azeite. A apanha da azeitona efectua-se normalmente no Inverno, muitas vezes com o chão coberto de geada o que dificulta consideravelmente a tarefa. Contudo, sempre o povo foi alegre e enquanto os homens varejavam a azeitona em cima das oliveiras, com o auxílio de varas, as mulheres apanhavam as “cabras” (azeitonas que iam cair fora dos panais de linhagem que eram colocados debaixo das oliveiras) e tinham
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TRADIÇÕES
sempre algumas cantigas ou uma desgarrada para cantar. Algumas cantigas eram mesmo só cantadas em determinados momentos, como é o caso da “vassourinha” que só era cantada quando o trabalho acabava. Entretanto, se durante o trabalho passava um caçador, o carteiro ou outra pessoa por perto, fazia-se a penhora dessas pessoas. Para isso, ia normalmente a rapariga mais jeitosa e mais descarada, munida de um ramo de oliveira com azeitoná, e, dirigir-se ao passante, dizendo-lhe algumas quadras de que são exemplo: Aqui vai esta penhora Com toda a consideração Mas não se adiante muito Pode prender o coração
ou ainda: Aqui vai esta penhora Que da minha mão se oferece Ela não é como eu quero Porque o senhor mais merece
ou outra ainda: Aqui vai esta penhora É muito à minha maneira É modesta como eu Foi o que deu a oliveira
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Foto _42 Ramo que poderia ser usado na penhora.
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O penhorado agradecia, muitas vezes em verso e dava algum dinheiro com o qual, no final da safra, os trabalhadores compravam um presente ao patrão. Alguns exemplos de respostas dadas pelos penhorados: Eu aceito esta penhora Que tem graça de sobejo Um abraço não é nada Para o meu grande desejo
ou ainda: Eu aceito esta penhora E com o maior prazer Um coração que está preso Já não se pode prender
Quando acabava a colheita da azeitona, os homens falavam a músicos e formava-se então um cortejo que ia até à casa do patrão. Era aberto pela rapariga mais engraçada, com traje de arraial que iria penhorar o patrão. A chegada do cortejo era assinalado com o lançamento de alguns foguetes sendo então penhorado o patrão e oferecido o presente que os trabalhadores lhe compraram com o dinheiro das penhoras e que consistia de café, açúcar e chá, embrulhados em cartuchos de papel, cónicos, que se dispunham numa bandeja, forrada com uma toalha de renda enfeitada com raminhos de oliveira e biscoitos de argolas, amêndoas e azeitonas a granel. A oferta era feita em verso ao que o patrão respondia também em verso. Depois de abraçar a ofertante e as
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acompanhantes, convidava todo o rancho a entrar para a sua casa onde era servido um jantar composto de sopa de “cozinha” e batatas com bacalhau. À mesa apenas se sentavam os trabalhadores, sendo então a vez dos patrões (marido e esposa) servirem os seus súbditos. Escusado será dizer que todo o repasto era acompanhado com vinho tinto e branco, servido em picheiras de barro. No final, havia baile que era aberto pelo patrão que dançava com uma das raparigas do rancho de trabalhadoras. O baile prolongava-se até altas horas e os foguetes estralejavam no ar como manifestação de alegria e do dever cumprido na colheita da azeitona.
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JOGOS TRADICIONAIS
JOGOS TRADICIONAIS
Especialmente os “miúdos” da Escola dedicavam-se, nos tempos livres, a fazer alguns jogos sendo alguns mais praticados pelas raparigas e outros, porque requeriam mais força, pelos rapazes.
Jogo do Pião O pião, era um brinquedo feito de madeira muito dura (os melhores eram os feitos em buxo), que se jogava com o auxílio de uma baraça. Esta, era muitas vezes feita pelos próprios rapazes onde, com o auxílio de um carro de linhas onde se pregavam 4 preguinhos em volta de um dos buracos, se tecia um fio de linha relativamente grossa que saía pelo orifício contrário do carrinho. Era rematado depois de ter o comprimento que se considerava necessário. Esta baraça, enrolava-se em volta do pião, a partir do bico e até ao bojo mais largo. Depois, segurava-se na mão com o bico voltado para cima e arremessava-se ao chão com força, fazendo-o girar. Podia depois agarrar-se, enquanto girava, colocando a mão aberta, de palma virada para cima e os dedos indicador e médio alargados, fechando-os rapidamente logo que o bico do pião ficasse muito próximo da ligação dos dedos, fazendo-o saltar para a palma da mão. Mas o jogo do pião consistia no seguinte: Traçava-se no chão uma circunferência para dentro da qual todos os jogadores teriam que lançar os piões mas de maneira que batesse dentro dela mas saísse para fora sem o auxílio de mais nada que não fosse a força e o efeito dado pelo jogador. Aquele que
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Foto _43 (pag. 120) Ilustração infantil do jogo da bilharda.
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não saísse ficava prisioneiro suportando o efeito dos golpes desferidos pelos piões dos outros jogadores até que, obrigado por essas pancadas, acabava por sair do círculo.
O Fito ou Malha O jogo do Fito ou da Malha era outro dos jogos praticados pelos rapazes. Para o realizar eram necessários dois fitos (bocados de madeira com cerca de 20 cm de altura e redondos) que eram colocados a uma distância combinada pelos jogadores e as malhas que, inicialmente, eram feitas de pedra lascada e arredondada e mais tarde de ferro. Tratava-se de um jogo que poderia ser praticado por dois ou mais jogadores sendo, neste caso, jogado por parceiros. Cada jogador tinha uma malha que arremessava de um para o outro fito com o intuito de o derrubar. Quando isto acontecia, marcava dois pontos mas, se tal não acontecesse, marcava um ponto quem conseguisse colocar a sua malha mais perto do fito. O jogo acabava quando um jogador ou uma equipe totalizasse 24 pontos.
O Lencinho Era jogado tanto pelas raparigas, como pelos rapazes. Colocavam-se todos os jogadores, de mãos dadas, fazendo uma roda e, por fora dela, corria um outro que levava um lenço na mão dizendo repetidamente “aqui vai o lenço, aqui fica o lenço”. Depois de dar duas ou três voltas, deixava atrás
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JOGOS TRADICIONAIS
de um dos que fazia parte da roda, a seus pés, o lenço sem que ele ou ela desconfiasse procurando dar uma volta completa até chegar junto desse companheiro. Se o conseguisse, batia-lhe nas costas e tomava-lhe o lugar, indo a “vítima” dar as voltas e deixar o lenço atrás de outro sem que ele desse por isso. Uma outra situação poderia ocorrer. O companheiro, atrás de quem tinham posto o lenço, descobria a sua presença. Então, apanhava o lenço e procurava, a todo o custo, apanhar quem lá o pôs. Se tal acontecesse, retomava o seu lugar e o jogador teria de encontrar outra vítima. Se não o apanhasse, o seu lugar era preenchido pelo primeiro e ele, de posse do lenço, procurava deixá-lo sem que dessem por isso.
A Macaca ou Aeroplano Trata-se de um jogo que se praticava nas escolas essencialmente por raparigas. Consistia em riscar no chão ou na calçada, com o auxílio de algumas ervas, oito rectângulos que faziam lembrar um papagaio. Depois com uma “pedisca” ou caco, cada jogadora ia arremessando a pedisca para cada um dos rectângulos começando pelo que ficava mais próximo. Depois, ao “pé cochinho’, ia saltitando por todas as casas só podendo colocar os dois pés nas duas casas que ficavam lado a lado e voltando em sentido contrário levantava a pedisca, saltando por cima da casa que a continha. Se, por ventura, pisasse o risco ou a pedisca ficasse em cima do risco, perdia. Finda esta parte do jogo, repetia-se a mesma ope-
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Ançã - Memória de um Povo
ração de lançamento da pedisca mas, desta vez, esta não era retirada com a mão mas sim empurrada pelo pé fazendo-a percorrer todas as casas até que saísse a última. Este “circuito” era feito também ao “pé cochinho”. Se colocasse ambos os pés no chão, se a pedisca ficasse em cima de algum risco - queimado - ou ainda se fosse tocada mais do que uma vez, perdia e dava a vez a outra companheira retomando o jogo, logo que ela perdesse, no local onde tinha perdido.
A Zoa ou Bilharda Era um jogo praticado essencialmente por rapazes. Traçava-se no chão um círculo para cada um dos jogadores. Cada um ficava no centro munido de um pau, normalmente de oliveira com cerca de 60 cm de comprimento. Um dos jogadores, lançava ao jogador da sua direita que distava cerca de 3/4 metros um outro pau afiado nas pontas com cerca de 15 cm - a zoa - para que este lhe batesse com o pau que segurava na mão. Procurava-se que, com esta pancada, a zoa fosse parar o mais longe possível tendo, o que arremessou a zoa, que a ir buscar o mais rapidamente possível. Enquanto isto acontecia, os outros companheiros iam à roda do que tinha lançado a zoa e, com o auxílio do pau, esburacar o mais possível transportando a terra para a sua roda. Andava à roda este arremesso da zoa e ganhava aquele que no final tivesse mais terra na sua roda trazida da dos companheiros.
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JOGOS TRADICIONAIS
Pau de Sebo O pau de sebo era um jogo tradicional que normalmente se praticava durante as festas, fazendo mesmo parte dos programas das mesmas. Tratava-se de um pau, em geral de eucalipto descascado que, depois de muito bem ensebado, era espetado no chão. Na ponta, normalmente colocava-se um bacalhau, batatas, alhos, etc., que seria ganho por quem conseguisse subir e chegar até ele.
Jogo das Cântaras de Barro Jogo que, normalmente, era feito por rapazes. Colocavam-se três cântaras de barro penduradas numa corda onde previamente se colocava dentro duma, cinza ou areia, de outra, água e da outra, um prémio que seria um casal de pombas. Os concorrentes, a quem eram vendados os olhos, depois de serem forçados a dar duas ou três voltas sobre si mesmo, munidos de um varapau, procuravam acertar na cântara que tinha o prémio. O que acontecia era, perante o gáudio dos presentes, acertarem noutra que lhes dava um banho de cinza ou de água.
Corrida das Rosquilhas Neste jogo só participavam os rapazes. Consistia no seguinte: Compravam-se, no padeiro, umas rosquilhas feitas de pão onde o buraco não fosse além de 3 ou 4 cm, que se
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Ançã - Memória de um Povo
penduravam numa corda que atravessava uma estrada, de preferência feita de calçada irregular para aumentar a dificuldade dos concorrentes. Depois, cada participante devia munir-se de uma bicicleta que, lançada de trás, passava por baixo das rosquilhas. O participante, levava na mão um pau fininho (que poderia ser de oliveira) e tentava enfiá-lo na rosquilha. Cada concorrente fazia algumas passagens a combinar e ganhava aquele que mais rosquilhas conseguisse acertar.
A Estaca Jogo que era feito só por rapazes. Contava este jogo com a participação de alguns rapazes que teriam de se munir com um pau (estaca), normalmente de oliveira, com cerca de 60 a 70 cm de comprimento e bem afiado numa das pontas. O jogo consistia no seguinte: Um jogador espetava a estaca no chão de maneira que ficasse bem fixa. O jogador que se seguia, tentava, com a sua estaca, não só derrubar a do companheiro que estava espetada como também, ao fazê-lo, que a sua ficasse espetada (condição fundamental). Se o conseguisse, batendo com a sua estaca na do companheiro, tentava jogá-la o mais longe possível e, enquanto o dono a ia buscar, espetava a sua estaca no chão tantas vezes, quantas lhe fosse possível, marcando assim, tantos pontos quantas as vezes que a conseguisse espetar no chão. Se não a conseguisse derrubar, outro companheiro que se seguia, tentaria o mesmo e assim sucessivamente até que, quando um o conse-
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JOGOS TRADICIONAIS
guisse, repetia-se o mesmo ritual de pontuação, podendo derrubar uma, duas ou mesmo todas as que estivessem espetadas. No final ganhava quem mais pontos tivesse conseguido.
A Moeda ou Botão Também um jogo que era praticado essencialmente por rapazes. Consistia no arremesso, de encontro a uma parede ou a uma cantaria, de uma moeda ou um botão com a finalidade de esta ficar o mais longe possível. Os outros companheiros, na sua vez, iam fazendo o mesmo de maneira que a sua moeda ficasse o mais perto possível da de um ou mais companheiros que já tinham feito o lançamento. Se a distância entre a moeda que arremessou e as que estavam no chão fosse igualou inferior a um palmo, ganhava um botão ao dono da ou das moedas que tivessem distância inferior a um palmo, ficando estes com a moeda “na mão”. Continuava a jogar até que a distância fosse superior e, quando perdia, continuava o arremesso os que tinham a moeda “na mão”.
1,2,3, Macaquinho do Chinês Colocavam-se todos em fila (rapazes ou raparigas) junto a um risco que se fazia no chão. Um deslocava-se alguns metros para a frente e, junto a uma parede, punha-se de costas para os companheiros e dizia:
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Um, dois, três Macaquinho do Chinês Enquanto ele dizia isto, os outros davam alguns passos em frente. Logo que acabava de dizer a lenga-lenga, virava-se rapidamente para tentar descobrir ainda alguém a mexer-se. Se isso acontecia, era penalizado voltando para o ponto de partida. Repetia-se tantas vezes quantas as necessárias até que um conseguisse atingir o companheiro da frente, tomando o seu lugar e recomeçando o jogo.
O Rapa O rapa era um jogo que era habitualmente feito por rapazes e que decorria da seguinte maneira: Havia um rapa (espécie de pião que, em vez de ser redondo tinha 4 faces, e cada uma delas com as letras R, P, T e D - rapa, põe, tira e deixa) que tinha uma espécie de coroa que se fazia rolar entre os dedos para o pôr em movimento. Depois de cada jogador fazer a sua aposta, um deles faziao rolar e a face que ficava virada para cima ditava a sorte do jogador do rapa. Se a face era o R ficava com tudo; se a face era um P colocava na “mesa” o mesmo valor que tinha apostado; se a face era o T o jogador tirava apenas o que lá tinha posto e se a face fosse o D deixava tudo na mesma. Cada jogador apenas jogava uma vez, rodando por todos os jogadores.
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JOGOS TRADICIONAIS
A Sardinha Um jogo a dois que tanto era jogado por rapazes, como por raparigas. Um dos jogadores estendia os braços virando as palmas da mão para cima, enquanto o outro se colocava em frente com as palmas da mão sobre as do adversário. Nesta posição, aquele que tinha as mãos por baixo procurava, com a maior rapidez possível, bater nas costas da mão do adversário que, como é evidente, procurava não ser atingido. Quando tal acontecia, perdia e invertiam-se as posições.
O Capado O Capado era um jogo que tanto era praticado por rapazes como por raparigas. Desenhava-se, com o auxílio de umas ervas, na soleira de uma porta ou noutra pedra qualquer, um quadrado e, seguidamente, traçavam-se as diagonais e as medianas. Cada jogador arranjava três pedras. De preferência, as dum jogador seriam, por exemplo, brancas e, as do outro jogador, por exemplo, acastanhadas (bocados de telha) para se diferençarem. O jogador que começava a jogar, colocava uma pedra no centro do quadrado e na qual não podia mais mexer até que o jogo acabasse. As outras pedras, iam sendo dispostas, uma a uma, alternadamente por um e por outro jogador, mas sempre impedindo’ que o seu adversário conseguisse preencher uma linha em qualquer dos sentidos com as suas três pedras. Para evitar isso, era permitido saltar uma, duas
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ou mais casas. Quando o objectivo do jogo fosse alcançado, (uma linha preenchida) o jogo terminava. O jogador que tivesse perdido, colocava a sua primeira pedra no meio.
A Pedrinha Trata-se de um jogo que, geralmente, era praticado por raparigas. Cada jogador arranjava cinco pedrinhas, normalmente redondas para facilitar o jogo e do tamanho de berlindes. Começava um jogador por atirar todas as pedrinhas ao ar, procurando que ficassem suficientemente alargadas umas das outras. Escolhia uma que atirava ao ar e, sem a deixar cair, agarrava uma pedra de cada vez até que todas fossem agarradas mas sempre sem tocar nas restantes. Esta operação era repetida sucessivamente procurando o jogador agarrar depois duas a duas, uma mais três e depois de ficarem todas na mão atiravam-se todas ao ar deixando cair 4. Atirava-se uma ao ar e apanhavam-se duas. Novamente se atirava uma ao ar e as que estavam na mão eram trocadas pelas do chão, acabando por apanhá-las todas. Finda esta primeira fase, jogavam-se todas as pedrinhas ao ar e depois de escolher uma, fazia uma “ponte” com a mão esquerda (ou direita se fosse canhoto) com os dedos médio e polegar para, ao mesmo tempo que lançava a pedrinha escolhida ao ar, fazer passar, primeiro, uma pedrinha de cada vez por dentro da “ponte”, depois duas a duas. Depois de novamente espalhadas no chão, perguntava ao companheiro: Qual quitas? Ao que o outro, apontando com o dedo, esco-
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lhia a que estivesse em posição mais difícil e essa seria a última a ser passada entre os dedos indicador e médio depois das out;as três terem passado como anteriormente. Todas estas manobras deviam ser conseguidas sem tocar nas outras e aí, a escolha da primeira pedrinha era importante. Para terminar o jogo, atiravam-se todas as 5 pedrinhas ao ar, que teriam que ser agarradas na “concha” feita com as costas das mãos, sem deixar cair nenhuma, fazendo-se, de seguida, a manobra inversa.
AS LENGA-LENGAS Corda Queimada Trata-se de um jogo que era normalmente feito por raparigas. Colocavam-se todos os jogadores de mãos dadas sendo as das pontas as comadres e, à medida que iam dizendo a lenga-lenga, Corda queimada Quem te queimou Foi uma velha Que por aqui passou No tempo da eira Fazia poeira Salta lagarto P’ró meio da eira
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ia uma das pontas passando por entre o primeiro e o segundo, por entre o segundo e o terceiro até que passava pelo último. Depois de todos entrelaçados, uma das comadres perguntava à outra: - “Comadre, empresta-me a corda?” Ao que a outra respondia: - “Não, porque está cheia de nós.” Respondia a primeira: - “Então vamos desmanchá-la.” Dito isto, puxavam cada ponta para seu lado até a corda partir acabando por ganhar a que mais elementos tivesse do seu lado. Minha Mãe, dá Licença? Também um jogo feito por raparigas. Colocavam-se todas as raparigas em fila e, em frente delas, uma outra rapariga que era a Mãe. Depois, uma da fila perguntava à Mãe: - Minha Mãe dá licença? Quantos passos? Então a Mãe dizia: - 2, 3 ou 4 os que quisesse mas dados de uma determinada maneira: À bailarina - dados a rodopiar À gigante - o maior possível À bebé - muito pequeninos À tesoura - abrindo e fechando as pernas em cada passo À caranguejo - dados para trás
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Assim, um pouco discricionariamente porque ganhava quem primeiro chegasse junto da Mãe, tomava o seu lugar para o jogo seguinte. Bom Barqueiro ou Falua Jogavam este jogo tanto os rapazes, como as raparigas. Consistia o jogo na presença de dois barqueiros (dois jogadores) que estavam afastados, mas de mãos dadas e que tinham combinado entre si o nome que cada um tinha adoptado (por ex. nomes de flores ou de frutos). Os outros jogadores faziam fila indiana, ao mesmo tempo que iam dizendo a lenga-lenga: Que linda falua Que lá vem, lá vem É uma falua Que vem de Belém Vou pedir ao senhor barqueiro Se me deixa passar Tenho filhos pequeninos Não os posso sustentar Ao que os barqueiros respondiam: Passarás, passarás Mas algum deixarás Se não for o da frente Há-de ser o de trás
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Então, baixavam os braços e prendiam o último da fila. Em segredo, perguntavam-lhe qual dos nomes (dos barqueiros) escolhia mas sempre sem que os outros ouvissem nem a pergunta nem a resposta. O “prisioneiro’ escolhia um, indo encaminhar-se para trás do escolhido. Assim continuava a fila até ao último. Das duas filas que se formavam, depois, cada uma puxava para seu lado vencendo quem mais força tivesse. As Escondidas Jogo praticado nas escolas tanto por rapazes como por raparigas. Consistia no seguinte: Um dos jogadores ficava “a dormir”, de olhos fechados e virado para a parede, contando em voz alta até 30, por exemplo batendo sempre com uma pedra no chão ou numa parede, segundo a seguinte lengalenga: Tena, cambena Cigarra em bico de pés Vai 1, 2, 3, etc. até 30 À ronda, à ronda Quem quiser que se esconda. Lá vou eu.
Enquanto se fazia a contagem, os outros jogadores iam esconder-se. Finalizada a contagem, o jogador ia à procura
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dos companheiros que se tinham ido esconder. Dois cenários podia ter o jogo: 1 - Descobrir um a um os que estavam escondidos e, logo que o fazia, batia três vezes com uma pedrinha no local onde esteve de olhos fechados. 2 - Os jogadores que se escondiam procuravam alcançar o local de partida “casa” sem serem apanhados por aquele que os procurava. Sempre que a “casa” era alcançada, o jogador ficava livre, depois de se apoderar da pedrinha e bater com ela três vezes no chão ou na parede. Quem não o conseguisse ou fosse agarrado, teria que, no jogo seguinte, ficar “a dormir”. Prega, Prega Frei Simão É uma lenga lenga que se recitava tanto por rapazes, como por raparigas: Prega, prega Frei Simão Com seu barrete na mão Uma espada de cortiça Para matar a carriça A carriça deu um berro Toda a gente se assustou Só uma velha ficou Embrulhada num sapato P’ra limpar o rabo ao gato
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Ou de outra forma: ... Embrulhada num sapato O sapato estava roto Foi levá-lo ao sapateiro O sapateiro não o quis Deu-lhe c’o ele no nariz
Cebulico Pico Pico Era um jogo que normalmente precedia o jogo das escondidas: Cada um dos intervenientes colocava uma mão com as costas viradas para cima ficando umas ao lado das outras fazendo uma roda. Um dos intervenientes então ia beliscando nas costas das mãos de cada um ao mesmo tempo que ia recitando a seguinte cantilena: Cebulico, pico, pico Meu compadre Camazão Foi ao rio duma vez Que te cabe a tua vez.
ou Salta a pulga na balança O piolho na tripeça Para a vaca chocalheira Come ovos sem manteiga Para a filha do Juiz Que é bonita sem nariz Atrás do muro da Dona Inês Está borracha, vinho e pês Vai lá tu que é tua vez 136
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Ou ainda: Sola sapata Rei e Rainha Vai ao mar buscar sardinha Os cavalos a correr As meninas a aprender Qual será a mais bonita Que s’irá esconder.
Aquele em cuja mão acabasse a lenga-lenga, ia esconderse dando, de imediato, nomes de flores ou de animais aos outros. Perguntava, então um do grupo ao que estava escondido apontando para um dos outros: Real Senhor! Em que cavalo quer vir? No melhor que lá estiver. Então quer vir na (por ex. rosa, cravo, malmequer ou orquídea?)
Se a resposta dada pelo que estava escondido acertasse num dos companheiros, o que tinha sido indicado teria de ir buscar o outro às cavalitas. Não acertando, porque tinha escolhido a sua própria flor, dizia-se: - Então vem pelo teu pé!
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Saricutim Saricutão Trata-se de um jogo normalmente praticado por rapazes. Consistia no seguinte: Um dos rapazes montava às cavalitas de outro que se mantinha de olhos vendados ou de cabeça escondida entre as mãos. O “cavaleiro” perguntava ao que estava a aguentar com ele em cima: - Saricutim, saricutão Quantos dedos tenho na mão? Ao que o de baixo respondia: Por exemplo 2 Enquanto fazia a pergunta, mostrava aos companheiros o número de dedos de uma só mão, bem à vista e então duas coisas podiam acontecer: Ou adivinhava e invertiam-se os papéis, ou não adivinhava e o companheiro dizia: - Se dissesses 3, Não perdias nem ganhavas. Saricutim, saricutão, Quantos dedos tenho na mão?
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BRINQUEDOS TRADICIONAIS
BRINQUEDOS TRADICIONAIS
Hoje, os brinquedos tradicionais praticamente desapareceram dando lugar a outros bem diferentes, feitos com outros materiais onde o plástico é rei e senhor. Antigamente os brinquedos eram feitos essencialmente de madeira, cortiça, lata e, muitas vezes, de carrasca de pinheiro bravo. Os próprios piões, muitas vezes, eram feitos de raiz de oliveira por ser mais fácil de trabalhar enquanto verde. Vamos referir alguns dos brinquedos que se usavam em Ançã começando pelo...
O Arco Tratava-se de um arco de pipo, pequeno, com cerca de 30 a 40 cm de diâmetro. Mais requintadamente e já adquirido por quem já tinha algumas posses, arranjava-se um arco de ferro, feito no ferreiro. Possuir este arco implicava ter uma “gancheta” que era constituída por um arame forte onde uma das pontas era dobrado em U sendo a outra extremidade mais comprida para se poder agarrar podendo ter, nalguns casos, um cabo de madeira. Dando um pequeno balanço ao arco, enfiava-se a “gancheta” que servia para o empurrar ao mesmo tempo que o guiava para onde o queríamos levar.
Gaitas e Nunus Para além dos assobios de madeira, faziam-se gaitas a partir de canas, paus de loureiro rachados com um pedaci-
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Foto _44 pag. 140) Pião de madeira ou “mona”.
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nho de folha de loureiro no meio que, soprando de determinada maneira, dava um som, à cana que, ainda verde, se ia escavando até que a película membranosa do seu interior ficasse à vista. Quando tal acontecia, tocava-se como quem canta, obtendo-se um som roufenho.
A Fisga ou Tiras Com um galho de oliveira em forma de V e o auxílio de dois elásticos que, normalmente eram obtidos a partir de câmaras de ar de bicicletas, construía-se uma fisga. Cada uma das tiras de borracha era presa a uma extremidade do galho com um bocado de cordão. Nas outras extremidades das tiras prendia-se um bocado de cabe dai que servia para aí serem colocadas as pedras que seriam arremessadas. Depois segurava-se a fisga na mão esquerda e, com a direita, esticavam-se as borrachas já com a pedra introduzida no apoio de cabe daI. Fazia-se pontaria e lá ia a pedra direita ao pássaro que era ou não atingido consoante a perícia do atirador.
O Estoque Cortava-se um pau de sabugueiro que normalmente se encontrava com facilidade junto às valas. Aproveitando apenas um bocado entre nós, retirava-se o seu miolo ficando um orifício cilíndrico. Seguidamente procurava-se um pau que tivesse o tamanho do do sabugueiro e mais uns 10 em. To-
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mando por medida o tamanho do do sabugueiro, desbastava-se o outro de tal forma que pudesse entrar com facilidade dentro do orifício ficando o restante para servir de cabo. Estava o estoque feito. Com o auxílio de bolas de papel humedecido que eram introduzidas no interior do orifício, empurrava-se de encontro ao peito. O ar comprimido dentro da câmara impelia a bola ou bucha arremessando-a a grande distância com um estalido característico.
A Carreta A carreta era usada exclusivitmente por rapazes que muitas vezes eram os seus próprios construtores. Duas modalidades de carretas havia: Uma, a mais sofisticada, era normalmente feita com a ajuda dos pais pois era feita de madeira. A outra, mais modesta, era feita pelos próprios. Comecemos por esta. Arranjavam-se duas pinhas de pinheiro manso, ainda verdes. Com o auxílio de um canivete fazia-se um orifício no local de inserção ao pinheiro e introduzia-se um pau que serviria de eixo de um rodado em que as pinhas eram as rodas. Depois, uma cana relativamente grossa era cortada em forquilha que iria enfiar no eixo do “rodado” e estava a carreta feita. Colocada a cana ao ombro, e a forquilha na outra ponta no eixo, era só correr. A carreta de madeira era mais sofisticada. Fazia-se uma roda de madeira e nela um orifício central por onde ia passar um eixo também de madeira. Arranjava-se um pau de vas-
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Ançã - Memória de um Povo
soura onde, na parte mais larga, se pregavam duas tabuinhas, uma de cada lado, de modo que saísse para fora do pau um bocado maior que metade da roda que já tinhamos feito. Em cada um dos extremos das tabuinhas fazia-se um furo semelhante ao que tínhamos feito na roda. Colocando a roda no meio das tabuinhas e fazendo coincidir os orifícios, enfiava-se o eixo. Estava a carreta feita. No entanto, algumas tinham ainda um “guiador” que era feito com uma tabuinha com cerca de 20 em pregada mais ou menos a meio do pau que servia para ali colocar as mãos.
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LENDAS DE ANÇÃ
LENDAS DE ANÇÃ
Lenda da Fundação de Ançã Diz a lenda que num dia de Verão, com sol escaldante, chegaram a Ançã oito monges enviados pelo Patriarca do Ocidente S. Bento. Fatigados da marcha acamparam à sombra de uma árvore, na mesma colina onde hoje se encontra erguida a Capela de S. Bento. Aí comeram o pão endurecido e o queijo cabreiro dos alforges. Depois de agradecerem a Deus a refeiçãq que acabavam de tomar, olharam em redor e admiraram a pequena ribeira que a seus pés corria, a fresca vegetação que os circundava e, ao sul, a mancha azulada da Serra da Lousã. Foi então que, por cima deles, passou um bando de corvos voando para Norte e que, a determinada altura, mergulharam numa abertura da floresta. Os Monges então não tiveram dúvidas de que tal seria um sinal do Senhor, mostrando-lhes o local exacto da nascente e as terras excelentes para a formação do povoado. Os Monges abateram as árvores, ergueram cabanas e assim surgiu Ançã.
Lenda da Construção da Capela de S. Bento Consta que um dia uma mulher ao deslocar-se à zona onde hoje existe a Capela, para trazer um pouco de “caeira”, (calcário um pouco arenoso com que se regularizava o chão das casas térreas) teve a visão de uma imagem de S. Bento que lhe apareceu quando se preparava para abandonar o lo-
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Foto _45 (pag. 146) Imagem de S. Bento.
Ançã - Memória de um Povo
cal. Atónita, correu para a Vila contando o sucedido. Organizou-se então uma procissão, tendo sido colocada na Igreja Matriz uma imagem do Santo. No dia seguinte, apavorados, os fiéis verificaram que a imagem do Santo tinha desaparecido. Procurada por toda a parte, foi encontrada na furna onde primeiramente tinha aparecido. Organizou-se então uma outra procissão para trazer de volta a imagem para a Igreja Matriz que, de noite, regressou inexplicavelmente ao mesmo local. Foi então que concluíram que o Santo queria mesmo ficar naquela colina, tendo sido erguido então a Capela que ainda hoje tem o seu nome.
S. Bento Milagreiro S. Bento é o Santo que, em Ançã, mais devotos tem ainda hoje. Quando se pretende alguma graça, pede-se a S. Bento e, desde que o pedido seja feito com devoção, a graça é concedida. É comum, ainda hoje, rezarem-se novenas a S. Bento para pedir algo que só mesmo a intervenção Divina pode conceder. Desde a cura para alguns males até ao arranjar um noivo, sem esquecer a eliminação dos “cravos” ou verrugas, tudo se pode pedir a S. Bento. Para isso, os interessados devem dirigir-se à Capela de S. Bento e, depois de rezarem ao Santo e lhe pedirem a graça, darem três voltas à Capela sem rir nem falar. Passado algum tempo a graça é concedida. Mas se tal não se verificar, terá de prender o Santo. Para isso, prende-se a ponta de uma li-
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nha ou cordel a uma das colunas da Capela, em volta da qual se dão três voltas com a linha, atando-a à primeira ponta e fazendo-se, de seguida, o pedido. O Santo ficará preso até que alguém o desprenda, sendo quase certo que a graça é concedida.
S. Bento livra Ançã da Peste No Sec.XVI, uma grande epidemia devastou muitos animais em toda a região centro. O povo de Ançã, muito devoto a S. Bento, pediu a sua intercessão para poupar os seus animais da peste. S. Bento escutou o seu povo devoto e os animais foram poupados. Os ançanenses, reconhecidos, ergueram então a Capela de que é orago, conforme se pode ler na inscrição existente sobre a porta principal: ESTA S(AN)TA CASA SE FEZ DE ESMOLAS NO ANNO DE 1599 NO QUAL AVENDO A PESTE GERAL EM TODO ESTE REINO HE DURADO NELE POR MVITO TEMPO NESTA VILLA POR INTENSÃO DO GLORIOSO/S. BENTO NÃO DVROV MAIS Q(UE) VINTE DIAS
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Relíquia do Pão e Queijo Esta lenda parece ter tido origem em tempos muito remotos, quando da festa do aniversário de S. Bento. Então os Senhores Padres, porque as cerimónias se prolongavam até muito tarde, levavam uma pequena merenda constituída por pão e queijo que repartiam pelas crianças que, esfomeadas, assistiam às cerimónias. Terá sido este facto que deu aso
Foto _46 Reliquias de pão e queijo.
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a que, depois das cerimónias, se distribuísse a todos os presentes, e não só às crianças, o pão e queijo. Esta dádiva tomou então o valor de relíquia e, como tal, é guardada por muitos fiéis com a particularidade de se conservar durante anos sem que apanhe bolor. Ainda nos nossos dias os “Irmãos de S. Bento”, depois de pagarem a sua quota e as suas promessas, se as tiverem, levam para casa as famosas relíquias do Pão e Queijo.
Lenda do Marquês de Cascais O Marquês de Cascais foi desterrado para Ançã, por D. Pedro lI, aqui tendo vivido os últimos anos da sua vida. Conta a lenda que, sentindo muitas saudades de Lisboa e, simultaneamente, procurando saber do andamento dos seus negócios na capital, um dia resolveu deslocar-se a Lisboa na sua carruagem, desrespeitando as ordens do Rei. Para tal, mandou cobrir o chão da carruagem com terra de Ançã e levou mais alguma para a capital tendo, logo à chegada, mandado espalhá-la pelas diversas salas do, seu palácio. D. Pedro, ao ter conhecimento que o Marquês abandonara o local do desterro, interrogou-o ao que o Marquês respondeu: - “Desde o meu desterro não deixei de calcar e pôr o pé na terra do degredo”.9
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Alberto Pimentel in “Sangue Azul” pag.99
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BIBLIOGRAFIA
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Índice
Índice Prefácio Nota de abertura A origem de ançã Os forais de ançã Donatários da vila de ançá Composição do concelho de ançã Extinção do concelho de ançã
3 5 7 13 19 23 26
Invasões francesas As fontes de ançã Monumentos de ançã Igreja matriz As imagens Cruzeiros e alminhas As capelas O pelourinho Casas brazonadas
27 31 34 37 41 42 44 46 47
Actividades económicas A pedra de ançã Os moinhos O artesanato Os bolos de ançã Homens ilustres Jaime cortesão Augusto abelaira
49 53 61 65 71 75 77 80
Festas e romarias Festa de s. Bento Festa de s. Tomé
83 85 87 155
Ançã - Memória de um Povo
Festa do galo
91
As associações Filarmónica Grupo típico de ançã Ançã futebol clube Avança
95 97 101 104 105
Tradições O casamento A descamisada As malhadas A penhora da azeitona
107 109 111 112 114
Jogos tradicionais Jogo do pião O fito ou malha O lencinho A macaca ou aeroplano A zoa ou bilharda Pau de sebo Jogo das cântaras de barro Corrida das rosquilhas A estaca A moeda ou botão 1,2,3, Macaquinho do chinês O rapa A sardinha O capado A pedrinha As lenga-lengas
119 121 122 122 123 124 125 125 125 126 127 127 128 129 129 130 131
Brinquedos tradicionais O arco Gaitas e nunus
139 141 141
156
Índice
A fisga ou tiras O estoque A carreta
142 142 143
Lendas de ançã Lenda da fundação de ançã Lenda da construção da capela de s. Bento S. Bento milagreiro S. Bento livra ançã da peste Relíquia do pão e queijo Lenda do marquês de cascais
145 147 147 148 149 150 151
Bibliografia Índice remissivo
153 158
157
Ançã - Memória de um Povo
Índice Remissivo A Alminhas 44, 45 ançanenses 69, 151 Antiana 11 artesãos 69, 71 Augusto Abelaira 82 azeitona 54, 104, 116, 119, 120
B Bolos de Ançã 71, 75
C Calvário 47 Cantanhede 31, 35, 45, 53, 59, 105, 155 canteiros 59, 71 Capela 39, 40, 41, 42, 44, 46, 47, 49, 50, 59, 88, 90, 91, 92, 149, 150, 151 Cascais 23, 24, 47, 48, 49, 153 Castros 49, 50 Coimbra 3, 5, 11, 12, 17, 18, 20, 28, 32, 41, 53, 57, 59, 60, 75, 79, 88, 101, 107, 155 Concelho 17, 23, 27, 28, 35, 48, 53, 88 Conde 12, 23 Cruzeiro 44, 45
D D. Carlota 24, 156 D. Fernando 12, 17, 23, 155 D. Manuel 18, 19, 20, 65
E Expectação 43
158
Índice Remissivo
F Fonte 35, 36, 44, 46, 49, 87, 105, 106, 111
I Igreja 24, 32, 39, 40, 43, 44, 45, 49, 59, 60, 105, 112, 150, 155 Imperador 60 Invasões 31
J Jaime Cortesão 79
M moinho 11, 35, 65, 66
P Pedra de Ançã 41, 57, 60, 61, 62, 155 Pelourinho 24, 44, 48 Phylarmónica 24, 99, 100 Portunhos 17, 27, 32, 36, 59, 155
S S. Bento 12, 43, 47, 87, 88, 105, 149, 150, 151, 152, 153 S. Sebastião 46, 87, 107
T Tentúgal 17
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