19 minute read
Propostas de atividades 2
1) Tema: A oposição entre loucura e sanidade apresentada em O Alienista.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
Advertisement
(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.
(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
Conteúdo: A oposição entre equilíbrio e desequilíbrio mental e o sentido desta oposição na teoria científica de Simão Bacamarte sobre as patologias humanas e na composição da narrativa em O Alienista.
Objetivos: Capacitar e incentivar nos alunos a reflexão sobre os sentidos que os elementos que opõem insanidade e equilíbrio das faculdades mentais imprimem sobre a compreensão do enredo de O Alienista.
Justificativa: O enredo de O Alienista é dividido em diferentes planos narrativos e em subcapítulos que organizam as diversas reviravoltas inesperadas e jocosas na consolidação do projeto de Simão Bacamarte e a construção da casa de orates (hospício) para Itaguaí. As etapas destas reviravoltas são três, cada uma revelando revisões e desdobramentos da grandiosa teoria:
Na primeira, Bacamarte afirma que a saúde mental está no equilíbrio perfeito das faculdades e que tudo que escape disso é insanidade e desvio do bom funcionamento psíquico. Sendo coerente com o que identifica nesta visão de mundo, quase toda a cidade é presa e se instala o terror na cidade, termo que dá nome ao mais longo dos capítulos da narrativa. Na segunda etapa, Simão inverte o sentido da primeira e conclui que é o desequilíbrio das faculdades mentais que indicam normalidade, sendo agora o perfeito equilíbrio indicador de anormalidade psicológica. Agora, como dita a lógica, manda soltar os desequilibrados e prende os equilibrados. A cidade responde com alívio, pois agora é apenas uma minoria que está presa. Como processo de cura, o tratamento clínico consiste em infundir defeitos e desvios disponíveis no meio social na mente equilibrada dos novos doentes. Na terceira etapa, o alienista, bajulado pelo cordão de aduladores de autoridade, passa a acreditar que é um homem sem nenhum defeito, e então, empurrado pela própria lógica, tranca a si mesmo no asilo, onde morre sozinho depois de um tempo.
Como se vê, a oposição e reversibilidade entre insanidade e equilíbrio mental são os elementos que ditam os momentos decisivos da progressão da narrativa, transformando a teoria de Simão Bacamarte em momentos que revelam o sentido das guinadas da fábula central. Ao exercitar a capacidade de distinguir estes momentos e o que eles revelam sobre o que está sendo narrado em cada momento, se esclarece melhor para um público não iniciado o que está sendo mobilizado pela narrativa.
Metodologia: Formar entre os alunos duplas ou trios. Propor aos estudantes a leitura das páginas 49 e 50, que compõem o capítulo XI, “O assombro de Itaguaí”, quando são lidas as alterações firmadas pelo alienista sobre o funcionamento da Casa Verde e o critério das internações. Proponha que escrevam ou formulem para ser relatado depois para a sala o que de decisivo está se desdobrando neste capítulo.
Na orientação para a atividade, enfatize e incentive a atenção sobre os aspectos narrativos e gráficos na forma de exposição deste momento de guinada da narrativa. São úteis as questões: Como a narrativa escolhe expor o conhecimento da população sobre a nova situação? Como é apresentado nos quadrinhos essa nova situação? O que a mudança apresentada revela sobre a teoria de Simão Bacamarte sobre a insanidade e normalidade das pessoas? O que uma mudança tão brusca revela sobre a seriedade dos pressupostos científicos nos critérios das internações na Casa Verde? Por que um coletivo de pessoas é apresentado na página 49 como forma de expor a nova situação? Qual a importância da exposição da câmara municipal neste momento da narrativa? Por que o narrador aponta que com as novas medidas a população sente assombro e alegria?
Esta será uma oportunidade para recapitular os acontecimentos da narrativa usando um momento decisivo de guinada como pretexto para organizar acontecimentos passados e refletir sobre o que se desdobrará depois. Assim, a loucura e a sanidade tal como concebidas nas teorias de Simão Bacamarte não serão pensadas apenas como conceitos abstratos ou dimensões antitéticas de uma teoria, mas também elementos que ditam o andamento da narrativa e os momentos de guinada da fábula. Desta forma, as diversas questões políticas, científicas, socais e culturais que os temas da narrativa despertam não estarão separados do movimento interno da narrativa.
A loucura não é apenas uma teoria sobre uma patologia atribuída cientificamente, mas também um impasse coletivo, e o reconhecimento da loucura, um dilema ético e político. Discutindo como se organiza a teoria enquanto momentos de reviravolta de enredo, também se discute as posturas e reações de alívio e apreensão de toda uma cidade que se indigna de maneira oportunista sobre quem pode e não pode ser colocado em isolamento por não questionar a autoridade do discurso científico.
Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.
2) Tema: A oposição entre província e metrópole retratada em O Alienista.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.
(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.
(EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfico.
Conteúdo: A oposição entre elementos de cultura universal europeia, índices de modernidade e progresso, e elementos de cultura local de país periférico de fortes tinturas coloniais ainda distante dos critérios de progresso nacional tal como percebidos na narrativa de O Alienista.
Objetivo: Capacitar e incentivar alunos a exercitarem a leitura de elementos centrais sobre os dilemas políticos e culturais que Machado busca satirizar em sua narrativa a partir da oposição entre cultura e ciência universal e cultura local de país ex-colônia tornado recém-independente.
Justificativa: É marcante na apresentação do personagem Simão Bacamarte a oposição entre cultura local e cultura europeia. Afinal, Bacamarte é apresentado como “filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas”, tendo estudado em Coimbra e Pádua e tendo recusado o cargo de regente da Universidade de Coimbra ou administrador dos negócios da Coroa. O que motiva essa recusa? Esclarece o respeitado cientista de sangue nobre: “A ciência é meu emprego único: Itaguaí é meu universo”.
Há implícita, portanto, uma identidade entre Itaguaí e o universo, que para o personagem são o mesmo. Nesta postura há algo de paródico, mas não é tão evidente do que se dá risada ao se perceber a ironia. Há algo de sincero e algo de absurdo na posição expressa, pois soa como indício da mais pura ingenuidade provinciana e ao mesmo tempo parece exprimir a sensata compreensão de que o universal está em todo lugar e que não se pode acessar o universal senão pelo local.
Com esta breve fala de Simão Bacamarte o leitor é confrontado com uma linha mestra de toda a prosa madura de Machado de Assis, que são as continuidades e descontinuidades entre cultura local de ex-colônia e aspirações universais do liberalismo europeu que serve de modelo a jovens nações. Itaguaí é descrita como cidade pertencente a um país de hábitos ainda de ares coloniais, mas que é confrontada com a última moda do mundo moderno da ciência, que é relacionada à missão de modernização e civilização de hábitos sociais.
Não é apenas no personagem de Simão Bacamarte que se expressa essa questão, mas em diversos pontos da narrativa, como, por exemplo, a comparação entre o processo de aplicação dos procedimentos de internação da população na Casa Verde e diferentes momentos da história da Revolução Francesa, como o Terror e a Queda da Bastilha. Será de grande proveito para a compreensão da narrativa explorar o sentido destas comparações.
Metodologia: Com alunos em pares ou individualmente, propor a leitura detida da página 32 da adaptação em quadrinhos, em que são apresentadas a palavra de ordem “Bastilha da razão humana” e que a revolta dos Canjicas leva o narrador a comparar Itaguaí com os acontecimentos revolucionários de Paris. Após a leitura da página, pedir por impressões dos estudantes em relação ao que se desdobra ao longo deste momento da narrativa. Diversas questões podem servirem de facilitadoras para a reflexão: O que a comparação com a Bastilha faz o leitor entender sobre a situação apresentada? Qual a diferença entre a reação do vereador Sebastião Freitas com a comparação e o momento em que o barbeiro a concebe? O que há de coerente e o que há de absurdo na comparação?
Num primeiro momento pode parecer que a paródia da Revolução Francesa com o protótipo de sanatório de Itaguaí seria uma maneira de caçoar do provincianismo brasileiro com aspirações impróprias dos acontecimentos heroicos franceses. Mas a questão é mais complexa que isso, pois o contrário também pode ser lido na forma de conceber a comparação. O ceticismo machadiano mostra que a grandiloquência romântica das glórias do centro do mundo de então, ou seja, a Europa, na verdade guardava similitude com o caráter provinciano de Itaguaí. Tanto um quanto outro dependem de interesses políticos, jogos de aparências e pretensões não expressas, bem como formas de insurreição cuja dignidade depende de compreensão de situações políticas concretas a despeito das consequências últimas.
Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.
3) Tema: A ambiguidade entre ciência e ideologia em O Alienista como paródia de costumes.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.
(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
Conteúdo: O estatuto ambíguo entre ciência, que se quer objetiva e imparcial, e ideologia, ou seja, o que é parcial e subjetivamente determinado por interesses socialmente motivados, e a maneira como esta ambiguidade serve de mecanismo satírico sobre convenções sociais da cultura brasileira recém-urbanizada.
Objetivo: Capacitar e incentivar nos alunos a identificação e reflexão sobre o uso do estatuto ambíguo da relação entre ciência e ideologia como elemento mobilizador da fina ironia machadiana para retratar hipocrisias sociais e convenções hipócritas sobre a relação entre vida pública e arbítrio cego do poder.
Justificativa: As guinadas na teoria de Simão Bacamarte sobre as patologias humanas dão ao conto uma organização clara. No entanto, no interior da primeira guinada, quando quase toda a cidade vai presa, surge uma força de reação coletiva na cidade de Itaguaí que resulta numa revolta popular comparada vagamente com a Revolução Francesa. Aqui é apresentado o segundo princípio de organização do conto. O primeiro é a teoria psicológica, o segundo é o levante popular. Este se volta contra o arbítrio que dá a Bacamarte ares de déspota. Com a vitória do alienista sobre os revoltosos, seus desmandos prevalecem e sua teoria da loucura evolui ao ponto de pautarem a liberação dos internos da Casa Verde por conta das mudanças nas prescrições de sua lógica. Neste sentido, como diferentes críticos já notaram, a revolta popular não se faz força principal ou dominante na organização do conto, mas imprime às teorias da insanidade um papel balizador de conflito social, sendo que este as enriquece em termos de faceta literária, redimensionando as teorias científicas do alienista como ideologias.
Neste sentido, a adesão ou não adesão aos princípios teóricos do experimento científico, que se traduzem como desmandos de um soberano informal, revelam lastros de submissão ou não adesão a uma estrutura de poder e uma hierarquia social entre os que exercem o puxa-saquismo sobre o alienista. Levando-se em conta a relação entre estas camadas de composição do conflito central do enredo, o jogo de salão recheado de comentários elogiosos e aduladores para o médico e sua esposa não são gratuitos. As atribuições de caráter e de juízo moral sobre ações humanas sendo lidados como patologias a serem tratadas como doença mental digna de internação ganham sentido de comentário social. A reação titubeante de certos personagens com os momentos de radicalização da internação e liberação de pacientes revelam um teor paródico sobre a submissão acrítica ao poder de Bacamarte apenas pelo prestígio e pela vantagem por relacionar-se com o lado mais forte do confli-
to social. Ao explorar em sala de aula estas relações complexas, se tornará mais claro os desdobramentos da narrativa adaptada nos quadrinhos e o alcance da lâmina da ironia machadiana.
Metodologia: Forme pares ou trios entre os alunos e proponha a leitura das páginas 41 e 42, em que é apresentado por completo o capítulo VIII, “As Angústias de Crispim”. Leia com os alunos as duas páginas aproveitando para tirar dúvidas de vocabulário e questões que talvez não tenham ficado claras sobre as diferentes guinadas do enredo. Ao fim da leitura, proponha aos pares ou trios que formulem suas interpretações sobre o que consistiria a angústia do personagem, os motivos que o levam a uma tortura moral e como interpretam a adesão de Crispim à revolta dos Canjicas. Podem acompanhar as orientações sobre esta atividade perguntas como: O que a dúvida de Crispim revela sobre a natureza da amizade com Simão Bacamarte? Por que, ao aceitar tomar o partido dos Canjicas, diz que nunca havia pensado em outra coisa? Que tipo de cálculo de vantagens é feito pelos altos funcionários do novo poder municipal ao receberem Crispim como adepto? O que esta relação entre Crispim e o novo poder estabelecido revelam sobre os pactos políticos dentro do enredo de O Alienista?
A mesma atividade poderia ser feita a partir das páginas 61 e 62, mas desta vez dando a ênfase sobre os posicionamentos do Padre Lopes em relação ao que pensa sobre Simão Bacamarte, primeiro descrevendo-o como pessoa admirável, depois como único verdadeiro louco de Itaguaí. Com esta volubilidade de opiniões que se alteram conforme a balança de poder se altera e o cálculo de vantagens muda de direção, é possível indicar a ambiguidade política da teoria da loucura como um poderoso artifício literário para compor uma paródia de costumes.
Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.
4) Tema: Os elementos da filosofia positivista parodiados em O Alienista.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
(EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.
(EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identi cando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
Conteúdo: Os temas, jargões e argumentos expostos em chave de paródia pertencentes à doutrina filosófica do Positivismo no enredo de O Alienista.
Objetivo: Exercitar e capacitar alunos para a compreensão e identificação dos elementos do enredo de O Alienista que permitem entender posicionamentos expressos e implícitos no conto sobre a doutrina filosófica do Positivismo.
Justificativa: Quando Machado de Assis compôs o conto O Alienista, o positivismo e o evolucionismo como doutrinas científicas gerais da sociedade tornavam-se moda e aos poucos passavam a circular ao ponto de quase tornarem-se consenso na classe letrada, sendo pautados acompanhados de aspirações de poder. Os elementos da doutrina positivista no enredo de O Alienista são traços da recepção crítica desta doutrina. Concebido por Auguste Comte, o método positivista apresenta uma fundamentação sobre a desigualdade natural entre os homens, uma “física social” elaborada com base em preceitos biológicos da época. É este o preceito básico que condiciona a submissão ao poder médico e científico no enredo do conto de Machado de Assis, compondo-se o médico e cientista como portador de ocupação do homem superior que presta um serviço à humanidade. Simão Bacamarte é apresentado como individuo excepcional, apto, portanto, para prescrever os critérios de aceitação ao progresso social como um fim realizável.
Há no conto um tratamento irônico com pressupostos positivistas da medicina higienista brasileira e sua forma de conceber uma desigualdade natural entre os homens e os sexos. Atribuições morais ganham peso de objetividade patológica, juízos sobre caráter tornam-se indícios de insânia, e a autoridade científica é incontornável não apenas pelo peso de verificação da verdade, mas pelo status de pessoa seleta portadora de saberes científicos que apenas alguns poucos possuem.
A abnegação de Simão Bacamarte, sua resiliência e implacabilidade na condução de experimentos científicos são formas de lidar com a objetividade ingênua implícita na condução de procedimentos científicos sob ideais positivistas. A determinação biológica na argumentação sobre condutas morais, a prévia imposição de hipóteses científicas que pautam o critério sobre a vida prática, e não o contrário, revelam aspectos claros do positivismo. Ao enfatizar estes temas e estes elementos de composição no enredo de O Alienista, se tornará possível lidar com aspectos decisivos sobre o comentário social organizado no conto, bem como sobre debates ideológicos fundamentais sobre época retratada na narrativa.
Metodologia: Propor em sala a leitura detida da página 43 da adaptação em quadrinhos. Nela é retratada a abertura do capítulo IX, “Dois lindos casos”, quando o barbeiro e líder revolucionário Canjica, diante da rendição de Simão Bacamarte, ao invés de arrematar a demolição da Casa Verde, propõe um pacto de conciliação entre o novo governo e a funcionalidade do hospício. Nesta conversa, é preciso que esteja claro o fato de que mesmo quando acontece o auge da revolta dos Canjicas, quando a câmara dos vereadores é dissolvida e a autoridade é tomada, a autoridade científica prevalece, pois não se reconhece como procedente algo como a “abolição da loucura” e não se veem aptos para avaliar quem é louco e quem não é, pois isto só é possível pelo juízo de especialistas da ciência.
Feita a leitura, proponha a divisão entre pares e trios uma reflexão sobre a seguinte questão: Por que a Casa Verde não foi dissolvida? Reserve um período para que elaborem suas respostas. Após o tempo de elaboração, proponha que cada dupla ou trio coloque para a sala seus argumentos e que se debata as possíveis divergências entre as diferentes respostas, ou que se integre e se complementem as respostas que caminhem na mesma direção.
Ao longo da discussão, será proveitoso apontar a relação entre o alienista e o barbeiro tornado líder de insurreição como não apenas uma relação entre indivíduos, mas também como um acordo entre forças sociais, possibilitando entender os personagens como alegorias que representam autoridade e poderes sociais. Bacamarte representa a Ciência e Canjica representa o Estado. Quando um pacto é proposto entre os dois, a Ciência explicita-se como portadora de força equânime ao poder do Estado, fundamentando-se, portanto, as condições de sua soberania. Percebe-se a primazia da ideologia positivista quando se percebe que de alguma forma o poder do estado deve se curvar à vontade da ciência, que se confunde com a vontade comezinha de um indivíduo particular, tido como excepcional.
Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos