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O gênero

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A obra

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O GÊNERO Passando-se, uma novela

Passando-se é muitas vezes mencionado como um romance “realista” ou “moderno” mas é melhor definido como de outro gênero de narrativa: a “novela”, a exemplo das obras O alienista de Machado de Assis e A metamorfose, de Franz Ka a. O gênero literário “novela” é bem próximo dos gêneros “romance” e “conto”, com os quais muitas vezes é confundido, e é comum ser definido, simplificadamente, como um “meio-termo entre um conto e um romance”. Não obstante, alguns estudiosos distinguem os romances das novelas apontando neste último gênero algumas características distintas:

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“Novela” vem do italiano novella, com o significado de “novidade, notícia”, o que indica que as novelas, originalmente, tinham o compromisso de narrar um acontecimento ou situação. É italiana, também, a obra que teria inaugurado esse gênero, Decamerão, reunião de novelas de Giovani Bocaccio, no século 14.

Ao contrário do que acontece com o conto, a novela pode desenvolver vários enredos ao longo

da narrativa (sempre com poucos personagens), que podem estabelecer conexões entre si (pluralidade dramática). Em contraste com o romance, a novela tem um ritmo mais acelerado, geralmente menos contemplativo e mais cadenciado nas ações dos personagens, o que torna fácil a sua dramatização e adaptação para outros meios e explica a origem do termo “telenovela”.

São também marcas da novela a delimitação clara do espaço e do tempo em que se passa a história. Em Passando-se a autora ambienta as cenas em cenários bem enunciados, como um hotel de Chicago em um dia de verão, ou as ruas do Harlem novaiorquino em um dia de vento invernal. Também estão bem claros os códigos da época em que se passa a trama, com a menção explícita de marcos culturais, como peças de teatro em cartaz, ou a descrição de vestidos e outros elementos da moda que situam a história fortemente nos últimos anos da década de 1920. Também a linguagem é fator de identificação, com a autora reproduzindo o linguajar elaborado e um tanto pernóstico que ela provavelmente ouvia de seus amigos nas rodas intelectuais da chamada “Renascença do Harlem”, um movimento cultural que propunha a afirmação da arte criada por negros nos Estados Unidos.

Como recurso dramático e estilístico, a autora empregou, para determinados trechos do livro, a narrativa epistolar, isto é, a troca de cartas entre as personagens. Ao contrário dos romances epistola-

res, no entanto, a autora não se furtou a expressar os sentimentos da personagem ao ler as cartas.

No caso de Passando-se, como curiosidade, podemos observar ainda uma aproximação ao gênero teatral ou dramático: sua estrutura é composta em três seções e um epílogo, que correspondem perfeitamente à estrutura de três atos e um finale trágico, típico de uma ópera como Madame Butterfly ou Dama das Camélias.

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