Revista CDM Impressa #39

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ano 14 - edição 39

maio de 2016

revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR

Profissão Esperança

Profession Hope

Famílias fogem de guerra na Síria e buscam um recomeço em Curitiba Families fleeing war in Syria and seek a fresh start in Curitiba Jornalismo PUCPR Revista CDM

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EXPERIÊNCIAS QUE TRANSFORMAM CARREIRAS. O estudante da Pós-Graduação da PUCPR conta com a possibilidade de viver experiências que transformam a realidade de sua carreira. Seja através do networking vivenciado em sala de aula ou pelas oportunidades que a Pós PUCPR oferece ao estudante. São cursos de Extensão, de Idiomas, Complexo Esportivo, Palestras Nacionais e até Internacionais, que possibilitam ao estudante de Pós experimentar uma real transformação que vai além da sala de aula.

OFESSORA GISELLE & LARYSSA, ESTUDANTE DA PÓS PUCPR.

INSCRIÇÕES ABERTAS

PUCPR.BR/POS 2

Revista CDM Jornalismo PUCPR



Corpo da matéria Ano 14 - Edição 39 - Maio de 2016 Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR REITOR

Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Eliane C. Francisco Maffezzolli

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO

Julius Nunes

COORDENADOR EDITORIAL

Julius Nunes

COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL

Prezado leitor, a partir desta edição a revista CDM traz a matéria de capa também em inglês. Esta é mais uma das ações de internacionalização do curso de Jornalismo, que tem como objetivo tornar o estudante da PUCPR mais preparado para uma atuação global. A tradução é uma parceria entre estudantes de Jornalismo e de Letras. Esperamos que goste da novidade!

Paulo Camargo (DRT-PR 2569)

COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO

Rafael Andrade

Julius Nunes Coordenador do Curso de Jornalismo

Alunos - 6º Período Jornalismo PUCPR Alana Dombrowski Lima , Aline Silva Bonn , Aryane Linhares Monteiro , Beatriz Lima de Castro , Beatriz Peccin Macota , Bruna Caroline Santos Cavalheiro , Bruna Martins Oliveira , Caio Porthus Knopik Roemers , Camila Beatriz Costa , Daniel Ramalho Malucelli , Daniele Dalla Libera Alcoléa , Gabriel de Almeida Sawaf , Gabriel Moreira Massaneiro , Gabriela Dolores dos Santos Fialho , Hélcio José Weiss Junior , Julia Baggio Pastre , Kauany da Rocha Miguel , Lana Gillies , Lara Pessoa Rego , Leonardo Dulcio , Luciano Galvão Simão , Manuella Niclewicz Saddock de Sa , Michel de Alcantara Machado , Monique Raquel Benoski , Natalia de Moraes da Rosa , Pedro Henrique de Melo , Roberto Rohden Godefroid , Vithor Allan Marques , Vitor Augusto Maoski Da Cruz , Aliny Amaral Santos Gohenski , Amanda Penteado da Silva , Anna Julia Ramos Lopes Tomio , Bruna Stefanie Kurth , Daniela Karoline Gusso , Dayanne Catherine Wozhiak de Lima , Fernanda Novaes Buffa , Gabriel Snak Firmino , Guilherme Albert Becker , Jonatan de Jesus Lavor , Karyna Rodrigues do Prado , Luana Kaseker da Silva , Luciana Prieto Ribeiro , Marcos Eduardo Sudoviski da Silva , Marina Biilow Creplive , Thauane Mayara Neris de Jesus , Jordana Figueiredo Machado

Imagem de capa: Daniel Malucelli - 6ºP Jornalismo

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SOCIEDADE

Oficina Saeed

Saeed’s Service Garage

Entre roms, sintis e calons

Witmarsum hoje e amanhã

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CIDADES

A morte lhes cai bem

Os sons de Curitiba

APAE: uma casa de amor

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SAÚDE

Ó pátria amada (e medicada)

A vida em montanha russa

46 52

COMUNICAÇÃO

Profissão: repórter

Cidades de sucata

58 64

EDUCAÇÃO

Longe de casa

70

TECNOLOGIA

Geração Z

74

ENTRETENIMENTO

Bombou no youtube

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CULTURA

Made in Curitiba

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TURISMO

É de casa

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ESPORTES

As cores de Campo Largo

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Jornalismo PUCPR Revista CDM

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sociedade

Oficina Saeed Imigrantes são refugiados da guerra na Síria, que depois de verem suas casas e cidades devastadas, tentam recomeçar a vida em Curitiba Texto: Caio Porthus e Daniel Malucelli Diagramação: Michel de Alcantara

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Daniel Malucelli


sociedade Daniel Malucelli

Antranig enxerga na oficina mecânia de Elia um recomeço para sua família.

E

ra uma madrugada fria e um clarão iluminou o céu de Alepo, província mais populosa da Síria. Bombas explodiam por todas as partes da cidade, lançadas em mais um ataque aéreo. Esta história é apenas mais um capítulo da triste rotina no Oriente Médio, que afeta a vida de milhões de pessoas que apenas queriam viver em paz, mas convivem diariamente armas, bombas e tanques de guerra. Antranig Karajian, 52 anos, dormia depois de um árduo dia de trabalho. O estrondo das explosões o acordou. Sua oficina mecânica havia sido atingida em um atentado terrorista. Tudo o que foi conquistado e construído, ao lado de seu irmão Garbis, foi dizimado em segundos. Sobraram apenas os destroços. Sua casa em breve seria atacada, e sua família estava em risco. “Eu perdi tudo. Graças a Deus não tinha ninguém na oficina no momento dos ataques. Eram 18 funcionários. Fazíamos o reparo de carros do governo, e por isso,

fomos atacados pelo Estado Islâmico. Alepo está sobre ruínas. Somos católicos e estamos sendo caçados pelos terroristas na Síria. Se eles encontrassem minha família, iriam nos decapitar”, explicou Karajian fazendo aquele gesto da mão no pescoço.

fez o contato e recebeu a resposta que seria bem recebido. Os altos custos com passagens fizeram Karajian partir de Alepo com uma missão: trabalhar para trazer sua família ao Brasil, enquanto eles se escondiam na

“Se coloque no lugar deles. Você está fugindo. Tem guerra e perseguição religiosa. Se o Estado Islamico te pega, você é jogado na vala.” - Elia Amma, dono da oficina A sua única opção era fugir. E o abrigo foi encontrado em uma cidade chamada Curitiba, no sul do Brasil. Um conhecido de Karajian havia sido abrigado por Elia Amma, um comerciante sírio-brasileiro, que estava recebendo refugiados de guerra em sua casa na capital paranaense. Mesmo sem conhecer Amma, ele

Síria. Em Curitiba, o fugitivo foi recebido por Amma, que teve uma ideia. Abrir uma nova oficina mecânica para Karajian, e seu irmão Garbis, e ajudá-los a trazerem seus familiares. O plano saiu do papel, e Garbis também desembarcou no Brasil. Aos poucos, e contando com do Jornalismo PUCPR Revista CDM

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sociedade Gabriel Massaneiro

Elia Amma (à esquerda) abrigou Antranig e mais de 70 sírios refugiados. ações de descendentes e sírios que vivem aqui, os irmãos Karajian conseguiram trazer seus filhos e suas esposas para a nova casa. Hoje, a oficina é formada por refugiados de guerra, que agora

comida, roupas e remédio”, disse o comerciante sírio-brasileiro, que já abrigou mais de 70 desertores. Aprender a língua é muito difícil para os imigrantes sírios, principalmente os mais velhos. As aulas

“Estamos sendo caçados pelos terroristas na Síria. Se eles encontrassem minha família, iriam nos decapitar.” - Antranig Karajian, mêcanico estão diante de uma nova batalha. “Imagine você ter a sua vida, ganhar o seu dinheiro, e do dia para a noite viver de doações de

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de português são caras e a maioria não tem condições de bancar. Com a dificuldade na comunicação, muitos recém-chegados não

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conseguem emprego e sobrevivem por meio de doações. Para realizar esta reportagem, a comunicação teve que ser feita com a tradução de Amma. “Está sendo muito difícil. Na Síria, eu tinha minha história, minha vida. Imagine você ter o seu lar, e tudo isso acabar do dia para a noite. Minha casa foi destruída. Aqui, eu não sou ninguém. Não falo português e vejo os meus conterrâneos que chegam passando por muitas necessidades. É muito triste”, contou Karajian em árabe.

O Anfitrião Era o início da década de 70 quando Elia Amma decidiu vir


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ao Brasil em busca de oportunidades. O futebol brasileiro o fascinava e Pelé era seu ídolo. Construiu sua vida em Curitiba trabalhando com todo o tipo de comércio e é pai de 12 filhos. A cada reportagem vista na tevê sobre sua terra natal, ele sentia uma pontada no peito. Ao contar sobre sua terra natal, sua voz vai ficando rouca e seus olhos cheios de lágrimas. “A guerra devasta meu povo. Por que na Síria nossas canções são tristes?”, ele questiona. “Nosso povo sofre. Os sírios querem a paz e não a guerra. Mas o que podemos fazer? Estão matando a nossa gente. Cantamos para superar a nossa dor”, conta Elia, com a voz cansada.

Tudo começou em 2013. “Isaac foi o primeiro. Era um conhecido de um conhecido na Síria. Me pediram ajuda pela rede social. Não tive dúvidas. Como vou negar? Ele ficou oito meses na minha casa. Depois veio sua família inteira, tios, primos, todo mundo. 20 refugiados só de uma vez. Então, foi chegando mais gente. Chegaram mais oito... depois mais seis... depois mais quatro. Ao todo foram mais de 70. Eu não conhecia nenhum deles. A maioria é de Alepo, e chegou só com a roupa do corpo. Arranjei comida, locação, tudo o que você pode imaginar. Agora estou com uma dívida de mais de R$ 200 mil no banco, mas quando deito a cabeça no traves-

seiro, durmo em paz”, contou o sírio-brasileiro. Sua vida se transformou. Levava uma rotina calma, até o momento em que se viu mergulhado em sua missão. Pessoas fugindo da morte, desembarcando em um país desconhecido, sem falar uma palavra sequer de português, em suas mãos. Não podia nem abrir sua rede social, que recebia pedidos de ajuda de famílias inteiras desesperadas. Seu coração, que sentia aquela dor profunda a cada notícia sobre seus conterrâneos, não suportou. Enquanto trabalhava na oficina, Elia viu o céu escurecer e apagou. Acordou no hospital com um Daniel Malucelli

Garbis conseguiu trazer sua familia meses depois de desembarcar em Curitiba. Jornalismo Jornalismo PUCPR PUCPR RevistaRevista CDM 9CDM

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cateter cardíaco. “Não tenho mais condições físicas, financeiras e mentais. Nunca passei na minha vida o que passei nesses últimos dois anos. Dor, tristeza. Se coloque no lugar deles. Você está fugindo. Tem guerra e perseguição religiosa. Se o Estado Islâmico te pega, você é jogado na vala. Mas minha parte está feita. Precisamos da ajuda dos brasileiros. Eles precisam ser acolhidos para recomeçar suas vidas. O Brasil é um país acolhedor, é por isso que eles estão aqui”, apelou Amma.

De 2011 até agosto de 2015, de acordo com dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 2.077 sírios já foram acolhidos pelo Brasil. E devem chegar mais imigrantes. Um dos fatores os atrai é a grande comunidade sírio-libanesa e de descendentes árabes no país. A professora de História Márcia Martinello destaca também outros motivos de o Brasil receber esse número de sírios. “Atualmente, nós recebemos mais sírios do

Entenda o caso dos refugiados sírios Desde 26 de janeiro de 2011, a Síria está em guerra civil. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 220 mil pessoas já morreram e quatro milhões fugiram, seja para outros locais internos ou espalhados pelo mundo. São os refugiados de guerra, inocentes em busca de paz. E o número de mortes não para de aumentar, entre elas, de muitas mulheres e crianças. A pergunta é: quais os motivos que originaram essa guerra? A situação é complexa. O doutor em História Ulisses Galetto explica: “A guerra na Síria é fruto de várias circunstâncias. É um reflexo da Primavera Árabe, iniciada em países do Oriente Médio em 2010, mas também de condições derivadas de zonas de influência dentro de um contexto geopolítico”. Os protestos contra Bashar Al-Assad, presidente da Síria que se está no poder desde 2000, começaram pacíficos, mas sofreram forte repressão do governo, que reprimiu os rebeldes com muita violência, utilizando força militar. A revolta contra Al-Assad se espalhou pelo país, que entrou em

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que os Estados Unidos, os países da América Latina e até mesmo alguns europeus, como a Grécia e a Espanha, que têm dificultado a chegada de refugiados. Isto ocorre porque, em 2013, o Conare criou uma norma que facilita a concessão de vistos a imigrantes da Síria; de lá para cá, mesmo com a distância, as pessoas estão preferindo vir ao Brasil do que correr risco de enfrentar problemas na Europa.”

guerra armada. O conflito gerou o interesse político de diversos grupos e países, já que a Síria é vista como um país de excelente localização no Oriente Médio, além de possuir boas fontes de petróleo. O número de rebeldes combatentes contra Assad é de cerca de 100 mil homens, espalhados em diversas facções, entre moderados, radicais, e militares que se rebelaram contra o Exército. No início de 2014, o grupo religioso jihadista autodenominado Estado Islâmico (EI), criado a partir da facção terrorista Al-Qaeda, e que controla territórios na Síria e no Iraque, entrou em cena. Inicialmente, o EI entrou no conflito apoiando os rebeldes contra o presidente. Mas hoje, o grupo luta tanto contra o ditador quanto seus opositores, a fim de dominar toda a região e criar um estado teocrático. Um dos opositores é o peshmerga, nome dado as forças de autodefesa curdas que combatem o Estado Islamico. Os curdos são um grupo étnico pertecente a países do Oriente Médio, como Irã, Iraque, Turquia, Armênia, Geórgia e a própria Síria. Vários países também entraram

na disputa com diversos interesses, como Arábia Saudita, Irã, Iraque, Turquia, França, Reino Unido, além dos Estados Unidos e da Rússia. Os americanos apoiam os rebeldes moderados e são contra o EI, os rebeldes radicais e o ditador Assad. Já os russos apoiam o governo sírio, e opõem-se ao EI e os rebeldes. “Os interesses entre Estados Unidos e Rússia estão em jogo na Síria. A justificativa de que Bashar Al-Assad é um ditador sanguinário foi o estopim para o início de um conflito que logo em seguida extrapolou os limites e interesses internos daquele país. Hoje, a guerra na Síria é muito mais uma disputa de hegemonia no Oriente Médio, com todas as suas implicações econômicas e políticas”, explicou Galetto. Com todas essas disputas, o povo sírio é quem paga a conta. “Há o estereótipo do ‘árabe terrorista’, construído por uma cultura irresponsável e conservadora do Ocidente. Esse mito destrutivo contribui, e muito, para o acirramento da intolerância e da violência em relação a qualquer diferença. E os sírios são as vítimas dessa onda conservadora baseada na ignorância”, finalizou o historiador.


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Conflito na Síria Mapa mostra as zonas de dominação e conflito no país. Além da guerra interna, entre o Exército, os rebeldes opositores e os curdos, o Estado Islâmico avança pelo território sírio. Estados Unidos e Uniào Européia também combatem os terroristas planejando ataques na Síria.

TURQUIA

Alepo Idlib Hamah

IRAQUE Homs

SÍRIA LÍBANO

Damasco

ISRAEL

JORDÂNIA Governo Oposição Estado Islamico (ISIS) Curdos FONTE: NASA/Microsoft, FRONTLINE dados de fevereiro de 2014 Jornalismo Jornalismo PUCPR PUCPR RevistaRevista CDM 11 CDM

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Tradução Beatriz Mira estudante de Jornalismo Claudine Duarte estudante de Letras Luara Dittrich estudante de Letras Revisão da Tradução Lucia kremer professora de Letras Julius Nunes professor de Jornalismo

Saeed’s Service Garage After seeing their cities and homes devastated by the Syrian war, refugees attempt to start a new life in Curitiba Text: Caio Porthus e Daniel Malucelli Layout: Michel de Alcantara

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Daniel Malucelli


society Daniel Malucelli

Antranig finds in Elia’s service garage a fresh start for his family.

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t was a cold night when the sky of Alepo, which is the most populated city in Syria was lit up by the blinding flashes of bombs exploding after another air strike. This story is just another heartbreaking chapter in the lives of millions of Middle Eastern people who desperately long for nothing but peace. After a hard day of work Antranig Karajian, 52, was awaken by the deafening sound of sudden explosions. His service garage had just been destroyed by a terrorist attack. Everything he had built and fought for, along with his brother Garbis, was gone in a matter of seconds, leaving nothing but debris. His home was about to be attacked and his family was in peril. “I lost everything. Thank God there was no one in the service garage at the moment of the attack. There were 18 employees in charge of fixing government cars, which was the reason we

were a target for the Islamic State. Alepo is in ruins. My family and I are catholic and now we are being hunted by terrorists in Syria. If they ever found us, we would be beheaded”, explained Karajian while sliding his hand along his neck.

The plane tickets were expensive, so Karajian left Alepo with a mission: work to bring his family to Brazil, while they were forced to hide in Syria. Once Karajian arrived in Curitiba, Amma came up with the idea of opening a new service garage for the refugee

“Put yourself in their shoes. You’re running for your life. There’s a war and religious persecution. If the Islamic State catches you, you’re thrown in a ditch.” - Elia Amma, service garage owner He had no option, but to flee. Shelter was found in Curitiba, a southern city in Brazil. Karajian knew someone who had been taken in by Elia Amma, a Syrian Brazilian businessman, whose home welcomed refugees. Karajian contacted Amma who gave him a positive reply.

and his brother Garbis, so that their families could be reunited. Little by little, and with the help of other Syrian Brazilian residents, the Karajian brothers managed to bring their kids and wives to their new home. Today, the service garage is filled with war refugees facing a new Jornalismo PUCPR Revista CDM

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society Gabriel Massaneiro

Elia Amma (left) housed Antranig and more than 70 Syrian refugees. battle now. “Imagine yourself in your own life, getting your own money, and out of the blue, you have to live off food, clothes and medicine donations” said the Syrian-Brazilian businessman

elderly. Brazilian Portuguese lessons are way too expensive and most of them are under the budget for that. Due to this lack of communication, there are several unemployed immigrants

“We’re being hunted by Syrian terrorists. If they found us, my family and I would be beaheaded.” Antranig Karajian, mechanic who took in more than 70 refugees. Learning the language is extremely hard for Syrian immigrants, especially for the

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surviving on donations. For this report to be done Amma’s help with translation was needed. “It’s been really tough. In Syria I had a past, my own life. Imagine

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yourself in your home and suddenly it’s taken from you and is completely destroyed. Here I’m nobody. I don’t speak Portuguese and I often see my countrymen going through hard times. It’s heartbreaking”, said Kajian in Arabic.

The Host It was in the early 70’s when Elia Amma came to Brazil pursuing opportunities. Brazilian soccer fascinated him and Pelé was his idol. He established his life in Curitiba working with all sorts of business, and he is the father of 12 kids. In every report that Amma saw about his homeland he felt a pinch in his heart. While talking


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about his country his voice goes weak and his eyes are filled with tears. “The war is devastating my people. Why Syrian songs are always so sad?”, he questions. “Our people suffers, we want peace, not war. But what can we do about it? They are killing us all, we sing to overcome the pain.”, he said in a tired voice tone. It all began in 2013. “Isaac was the first one. He was an acquaintance of someone I knew in Syria. They asked for help through social media. I had no doubts, how could I say no? He spent eight months with me before his family arrived. Uncles, cousins, everyone. They

totalized twenty refugees. After that, another eight came… and six more … and then four. In the end, they were over 70 people. I didn’t know any of them, they were mostly from Alepo and got here with nothing else but the clothes they were wearing. I managed to give them food, a home and everything that you can possibly imagine. Now I owe two hundred thousand reais to the bank. But when I lay my head to sleep at night, I feel peacefull”, told the SyrianBrazilian His life was transformed. His calm routine was interrupted in the moment that he saw himself diving into his mission. People

running away from death, stepping out in a new country, knowing not even a single word in Portuguese, were under his protection. He couldn’t check his social network without receiving messages asking for help from entire families. Deep in his heart he could feel the pain that was attached in each of those messages from his fellow countrymen, and he just couldn’t stand it. While working at his service garage Amma blacked out and woke up in a hospital with a cardiac catheter. “I’m no longer physically, mentally and financially able to do this anymore. Put yourself in their Daniel Malucelli

Garbis managed to bring his family months after arriving in Curitiba. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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shoes, you’re running away from war and religious persecution. If the Islamic State gets you, you’re thrown in a ditch. My part is done, we need Brazilians to help now. They need to be welcomed to restart their lives. Brazil is an open-hearted country, and that’s why they are here”, cried Amma. According to the National Comitee for the Refugees (Comitê Nacional para os Refugiados - Conare), 2.077

Syrians were welcomed in Brazil from 2011 to august 2015, and more are yet to come. One of the main reasons for their preference is the huge Syrian Lebanese community and the Arabic descendants living in the country. The History Professor, Marcia Martinello also points out other reasons why Brazil is getting all these Syrians. “Nowadays, we receive more Syrians than the USA, Latin American countries

Understanding Syrian refugees’s case Since January 26th 2011, Syria has been in civil war. According to the United Nations (UN), 220 thousand people have already died and four million fled, some of them are internally displaced within Syria, and others are refugees outside the country. They are war refugees, innocent people in search of peace. The number of casualties keeps rising, and among them there are many women and children . The question is: what motivated this war? The situation is complex. Ulisses Galetto, PhD in History explains: “The Syrian war is the result of several circumstances. It is not only a reflex of the Arab Spring, originated in Middle Eastern countries in 2012, but also of some conditions derived from zones of influence within a geopolitical context”. The Protests against the Syrian President Bashar Al-Assad, who has been in power since 2000, started peacefully, but got a strong response from the government, which repressed the rebels with violence through the use of military forces. The

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and even some European countries, such as Greece and Spain, which have been inhibiting the coming of such refugees. This is due to the fact that, in 2013, the Conare created a norm that facilitates the grant of visas to Syrian immigrants. From that time to now, even with the distance, people would rather choose Brazil than run the risk of facing trouble in Europe.”

rebellion against Al-Assad spread over the country, resulting in an armed conflict. Being Syria an excellent location in the Middle East and a rich source of oil, the war caught the political eye of many countries and groups. The number of rebels fighting against Assad is about 100 thousand men, spread out in different factions, among them moderates, radicals and military men who are now against the Army. At the beginning of 2014, came into play the jihadist religious group self-named Islamic State (IS), which controls territories in Iraq and Syria, and was originated from the terrorist group Al-Qaeda. At first, the IS supported the rebels against the government, but now they are fighting against both of them, the dictator and the opposition forces, in order to take control over the whole region and create a theocratic state. Among the opposition forces, there are the pashmerga, the selfdefense Kurd forces that combat the Islamic State. Kurds are an ethnic group from several Middle Eastern countries, such as Iran, Iraq, Turkey, Armenia, Georgia, and Syria as well.

Many countries joined the dispute driven by different interests: Saudi Arabia, Iran, Iraq, Turkey, France, the United Kingdom, the United States and Russia. Americans support the moderate rebels and are against the IS, the radical rebels, and Assad, whereas the Russians support the Syrian government, and are against the IS and the rebels. “America’s and Russia’s interests are at stake in Syria. The fact that Bashar Al-Assad is a bloodthirsty dictator triggered a conflict that soon surpassed the internal affairs and boundaries of that country. Today, the war in Syria is a lot more like a hegemony dispute in the Middle East, with all its political and economical implications”, stated Galetto. Among all these disputes, it is the Syrian people who pay the price. “There is the stereotype of the ‘terrorist Arab’, devised by a conservative and irresponsible Western culture. This destructive myth contributes a great deal to the incitement of intolerance and violence related to any kind of difference. And the Syrians are the victims of such conservative wave based on ignorance”, wrapped up the historian.


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The conflict in Syria This map shows the domination and conflict zones in the country. Besides the internal war among the army, the opposition rebels and the Kurds, the Islamic State moves forward throughout the Syrian territory. The United States and the European Union also fight the terrorists planning attacks in Syria.

TURKEY

Aleppo Idlib Hamah

IRAQ Homs

SYRIA LEBANON

Damascus

ISRAEL

JORDAN Government Opposition Islamic State (ISIS) Kurdish SOURCE: NASA/Microsoft, FRONTLINE dados de fevereiro de 2014 Jornalismo PUCPR Revista CDM

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Descendente do cl達 dos roms, Claudio Iovanovitchi faz parte da terceira gerac達o de ciganos no sul do Brasil.

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Entre roms, sintis e calons

A saga dos ciganos em Curitiba na luta contra o preconceito e pela inclus達o social Jordana Machado e Thauane Mayara

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M

uito disposto e simpático, Claudio Iovanovitchi, presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci) nos recebe em sua residência, e ao abrir o portão, com um sorriso no rosto, num tom de brincadeira, solicita os nossos passaportes. Estamos na embaixada cigana. Iovanovitchi prontamente nos pede para entrar e sentar em sua sala e, em meio a tapeçarias, objetos dourados, baús ciganos prateados com pedras incrustradas e um aroma singular de incenso e tabaco, pergunta:

Um misto de curiosidade e receio toma conta do ambiente e, em um sinal afirmativo, ele nos conta sua história. ‘’Engana-se quem pensa que os ciganos são todos iguais.” A etnicidade do povo cigano é tão variada quanto as suas características culturais. Existem três clãs principais, os roms, os sintis e os calons, sendo que dentro deles, há ainda inúmeros subgrupos. A principal forma de distinguir os clãs é por meio da forma com a qual cada um deles adota na hora de se vestir.

No caso dos calons, o visual adotado pelos homens remete ao estilo sertanejo, com uso corrente de botas, galochas, cintos e chapéu de cowboy. Já as mulheres utilizam vestidos longos e muito coloridos. Por Claudio Iovanovitchi outro lado, os roms se vestem

– Quem são os ciganos?

“Um povo sem registros, sem documentos, escrita, endereço, nem conta bancária.”

de forma bem vistosa, gostam de cores brilhantes, acessórios chamativos e roupas estampadas, sobretudo em festas como casamentos, quando a noiva, além do tradicional vestido branco, usa um lenço na cabeça. “Entre o clã dos roms e dos calons existe uma rivalidade histórica”, nos conta Iovanovitchi. Pertencente ao clã dos roms, Iovanovitchi narra com muito entusiasmo a história de seu avô, que chegou ao Brasil oriundo da Bósnia, no Leste Europeu, no início do século XX, com a ideia inicial de chegar ao país e fixar moradia no Rio Grande do Sul, porém, por motivos desconhecidos, preferiu se estabelecer em Curitiba. E há cem anos dão origem à comunidade cigana da cidade que hoje é composta por aproximadamente 300 pessoas. No Paraná, estima-se que são cerca de 40 mil ciganos entre fixos e itinerantes; Thauane Mayara

Típica vestimenta rom em casamentos.

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sociedade arquivo pessoal

no Brasil, esse número chega a 600 mil integrantes. Iovanovitchi explica ainda que o próprio termo “cigano” não é correto, pois carrega uma carga pejorativa muito grande. O ideal seria utilizar a terminologia rom, que significa cigano em romani, o idioma oficial do seu clã. Já em solo verde-e-amarelo, é comum os ciganos se referirem aos outros não-ciganos como gadgés ou apenas como “brasileiros”. “Eles representam um povo sem nação, migram não somente por filosofia de vida.” Iovanovitchi explica que esse pensamento popular é um mito criado no imaginário coletivo para poetizar a problemática vivenciada pelos ciganos ao longo da história. Eles vão e vem pelo único motivo de ser um povo que nunca foi bem-vindo em lugar nenhum, e constantemente são expulsos dos lugares aonde chegam, sendo assim necessário se mudarem constantemente como verdadeiros nômades, já que não recebem nenhum tipo de apoio do governo e da sociedade. – A marginalização faz com que os ciganos não sejam considerados como cidadãos e é por esta razão que centenas deles vivem nas ruas morando embaixo de pontes, como ocorre por exemplo no viaduto do Café Damasco, na Rodovia do Café em Curitiba. “Um povo sem registros, sem documentos, escrita, endereço, nem conta bancária”, diz ele. Na cultura cigana, os conhecimentos são passados de pai para filho, de geração a geração, sendo essa a forma que acontece a perpetuação de um legado tão rico. Em uma tradição na qual nem eles mesmos sabem a diferença entre o real e a lenda, o imaginário e o mítico, a nação cigana tem uma relação diferente no que diz respeito ao tempo – para eles não existe horário, nem dia nem noite, meses ou anos, apenas vivem o

hoje, o agora. Iovanovitchi tem em sua casa – diga-se de passagem uma construção de alvenaria muito bonita e não uma tenda de lona, como se espera de uma moradia cigana – um acervo de documentos, roupas, fotografias e vestimentas que são verdadeiros tesouros de herança de uma família tradicional cigana, o que é algo raro, já que eles não costumam guardar nem documentar nada de sua história. Na coleção, há inclusive a passagem do navio que trouxe a sua família até o Brasil no século passado, tudo muito bem conservado e cuidado com esmero. Em um momento muito pessoal durante a conversa, Iovanovitchi nos conta que um dos seus grandes sonhos é conquistar um espaço na cidade que homenageie a cultura cigana, onde as famílias possam ter um museu para dividir sua história com outras pessoas. “Existe pouco interesse do governo em nossa causa, eles poderiam nos ceder uma praça abandonada, um espaço para o nosso povo, mas infelizmente não há interesse público”, lamenta.

Dificuldades O preconceito é o grande desafio que os ciganos enfrentam hoje em dia. Por conta disso eles acabam encontrando cada vez mais dificuldade na integração com a sociedade, fato que pode ser exemplificado pelos altos índices de analfabetismo e de doenças que poderiam ser prevenidas. “As mulheres ciganas são as que mais sofrem devido ao alto índice de desenvolvimento do câncer de mama por não poder de qualidade”, afirma. O que impede os ciganos de estudar e utilizar os serviços dos hospitais é, principalmente, a falta de documentos originais, como RG e CPF, algo que para os curitibanos pode ser tão simples e acessível, mas que para o povo

Duchan Iovanovitchi, avô de Claudio. cigano é muito burocrático; a falta de um CEP, por exemplo, impede que pais matriculem seus filhos nas escolas, além de não permitir que os mesmos tenham acesso ao sistema único de saúde (SUS) por falta de informações em seus cadastros. Desde cedo, os ciganos são acostumados a lidar com situações de preconceito às quais são submetidos desde crianças. Iovanovitchi conta que durante a infância, tanto sua filha como sua neta foram vítimas de preconceito racial em escolas por onde passaram quando pequenas, situação que dificultou ainda mais a integração das meninas com o restante das crianças. Para o cantor sertanejo Santhiago Piemonte, ser cigano significa “ser usado”. O genro de Iovanovitchi, descendente do clã calon, conta que por várias vezes se sentiu explorado por outras pessoas em diversas situações, principalmente em contextos que envolviam dinheiro e até mesmo o próprio preconceito contra a etnia cigana. “Por várias vezes, fui julgado por terceiros, por pessoas que achavam que, por eu ser cigano, Jornalismo PUCPR Revista CDM

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eu agiria de má fé em questões profissionais através de corrupção ou até mesmo de roubo, já que essa, infelizmente, é a forma com que o meu povo é identificado – como ladrões e aproveitadores”, conta.

O desafio Engajado numa causa que tem como objetivo principal desmitificar a crendice popular instilada no inconsciente coletivo das pessoas em relação a seu povo, Iovanovitchi desenvolveu, em parceria com Denize Carvalho, coordenadora da Secretaria de Estado da Educação (SEED), um curso ministrado por meio de palestras que ocorrem em diversas instituições de ensino. O programa conta também com a apresentação de uma peça de teatro com foco em diluir o preconceito estigmatizado. “Atualmente, o público-alvo são professores, pedagogos, jornalistas, advogados e formadores de opinião em geral, para que possam se preparar e conhecer mais sobre a cultura cigana”, afirma Denize.

Donos de uma das culturas mais misteriosas do mundo, a fama de ladrões e trapaceiros descrita em obras literárias como A Ciganinha, de Miguel de Cervantes (1547-1616), são fortemente criticadas por transmitir uma imagem equivocada sobre o povo cigano. Com a peça teatral, Iovanovitchi tem o intuito de dissolver o estereótipo incutido no imaginário da população sobra a cultura cigana. A integração das crianças ciganas dentro das escolas é um outro anseio não apenas de Iovanovitchi, como também de todos os 600 mil ciganos que vivem em solo brasileiro. “Meu objetivo é que as criancas entrem dentro das escolas e sejam alfabetizadas pois, sem a educacão, não existe futura para o cigano e o futuro não é construído através da leitura de mãos como muitos pensam, mas sim, pela corrida através de seis sonhos e objetivos”, finaliza Iovanovitchi.

Clãs Rom Provenientes dos países balcânicos, principalmente da Romênia, falam romani. Consideram-se os “ciganos autênticos”.

Sinti Populares na Italia, França e na Alemanha. Falam a língua sintó, uma variante do romani. Não há uma presença significativa desse grupo no Brasil.

Calon ou Kalé Originários da Espanha e de Portugal, porém, se espalharam por toda a Europa e América do Sul. São os criadores do flamenco. Falam a língua caló e são bastante populares no Brasil.

Thauane Mayara

O cobre é a principal materia-prima utilizada na confecção de objetos que eram produzidos e negociados pelos ciganos como fonte de renda ao longo de sua história.

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Witmarsum hoje e amanhã

Como a tradição influencia na escolha do futuro dos jovens da colônia menonita em Palmeira Texto e fotos por Thauane Mayara

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Ricardo Philippsen estudou Administração de Empresas em Curitiba, mas preferiu voltar a viver em Witmarsum. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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ntrar na faculdade, obter uma graduação, conquistar o emprego dos sonhos e ser bem-sucedido é o sonho da maioria dos jovens brasileiros quando ingressam no ensino médio, ou em alguns casos, este desejo vem desde cedo — do berço de quem aprende com a família a importância de projetar um futuro de sucesso. Para Ricardo Philippsen, de 31 anos, isso não foi diferente. Filho de pais com ascendência alemã, como o próprio sobrenome sugere, Philippsen nasceu e cresceu na pacata Witmarsum, colônia germânica localizada no município de Palmeira, nos arredores da Grande Curitiba. Desde pequeno, Philippsen aprendeu com os ensinamentos de seus pais, embasados nos princípios da cultura menonita, a estabelecer um objetivo e focar em seu sonho. Porém, com o passar dos anos, o jovem não conseguia escolher uma carreira para seguir quando adulto; a única certeza que tinha era a de que queria viver e construir uma família dentro de Witmarsum, à qual seu coração sempre pertenceu.

e, para piorar a situação, sentia muita falta da família. “Quando somos adolescentes vivemos uma grande contradição. Assim como os jovens da cidade pensam, os jovens do campo também têm preocupações, dúvidas e anseios sobre o que ‘ser quando crescer’. Tentamos nos enquadrar no padrão imposto pela sociedade de conquistar bens e um espaço, porém, quando migramos para as cidades e encontramos dificuldades, acabamos retornando para a nossa realidade”, conta. E foi exatamente isso o que aconteceu com Philippsen – após se formar na faculdade, o jovem decidiu imediamente voltar para Wit-

cidade grande e permanecer na colônia, trabalhando nas cooperativas das famílias foi sempre um dilema presente na vida dos adolescentes e jovens que moram em Witmarsum desde muito tempo atrás. Professor de Alemão há mais de 30 anos, Kliewer afirma que os jovens da colônia são muito bem preparados desde cedo para enfrentar as escolhas que terão de fazer no futuro. “Há jovens que optam em permanecer na colônia e seguir o ofício dos pais nas cooperativas e nos negócios de famílias, mas há também aqueles que optam por uma formação superior para enfrentar o mercado de trabalho. Exemplo

“Assim como os jovens da cidade pensam, os jovens do campo também têm preocupações, dúvidas e anseios sobre o que ‘ser quando crescer.”

Quando chegou finalmente ao terceiro ano do ensino médio, Philippsen, que durante toda Ricardo Philippsen, administrador a sua adolescência estudou no único colégio da colônia, a tradicional escola menonita Fritz marsum, depois de travar uma disso são alguns jovens que deixaKliewer, teve de decidir o que luta com problemas pessoais em ram a colônia para trabalhar em faria dali para frente. Certo dia, que precisou até mesmo de ajuda grandes empresas alemãs dentro e durante uma conversa com seus médica para perceber que voltar fora do país, porém, eles sempre pais, Philippsen decidiu que viria para a colônia seria a cura para a acabam voltando para cá depois para Curitiba cursar Adminiscrise de estresse pela qual estava de um tempo, seja para visitar os tração de Empresas em uma passando e que o levou até mesparentes ou para ficar de vez de faculdade e a partir daí começaria mo ao início de uma depressão Witmarsum”, relata. a construir a sua carreira. Dito e por estar longe de sua família. feito. O jovem então migrou para Com um subsídio recebido do a capital paranaense e durante Porém, Philippsen não é o consulado alemão, os jovens da quatro anos estudou e morou único jovem que passou por colônia Witmarsum recebem esse momento de dúvida em sua em Curitiba, até o momento em educação e ensino de qualidade vida. De acordo com o professor que as dificuldades começaram a desde cedo, mesmo antes de Hans Ulrich Kliewer, filho dos aparecer. entraram na escola. As crianças fundadores do colégio tradicional descendentes de pais alemães Ricardo não se sentia plenamente menonita, escolher entre uma herdam o idioma germânico que feliz e realizado estando na capital carreira com emprego fixo na os acompanha no dia a dia em

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conversas que misturam o dialeto local com a língua oficial e um pequeno toque de português para que sempre se lembrem de que estão em solo brasileiro. Segundo Kliewer, os jovens recebem desde cedo uma formação sólida, pois todos são muito aplicados no que fazem — “Os alunos são muito bem-educados, contam com uma formação de qualidade, a maioria

carreiras, seja aqui na colônia ou até mesmo na cidade”, enfatiza.

PARA QUEM DECIDE FICAR A opção de ficar ou retornar a Witmarsum acaba sendo a escolha da grande maioria dos jovens que nasceram na colônia. Ter o apoio e a presença da família nas

natural, sem agrotóxicos. A qualidade de vida das pessoas que vivem em Witmarsum também é umas das vantagens apontadas por Ricardo. “As pessoas aqui gostam de cultivar a amizade uns com os outros. Sempre que é possível fazemos debates sobre os mais variados assuntos, seja na mesa da família ou na reunião Thauane Mayara

Hans Ulrich Kliewer, filho dos fundadores do colégio Fritz Kliewer. toca algum instrumento musical, lê muito e está muito bem preparada para o mercado de trabalho”, afirma Hans com orgulho. Porém, há sempre o outro lado da moeda. A globalização e a inserção das novas mídias dentro de sala de aula tem sido objeto de discussão entre os professores e coordenadores do colégio Fritz Kliewer. Segundo a professora Annaele Pauls, as novas mídias facilitam a aprendizagem dos alunos, porém há ainda muitos que, por conta dessa facilidade, permanecem em sua zona de conforto e não conseguem traçar um plano de carreira para as suas vidas. “Hoje em dia, a maioria dos adolescentes não quer nada com nada, não sonham, não lutam para ter um futuro promissor. A preguiça e a falta de interesse pela aprendizagem têm levado muitos jovens ao fracasso de suas

decisões mais importantes da vida é uma das motivações dos jovens em querer permanecer em meio aos 2 mil habitantes que moram na região. E essa foi a opção de Philippsen. Quando retornou à sua terra natal, o jovem iniciou um projeto com base no ecoturismo, em que realiza passeios com turistas pela colônia, que inclui desde a visita ao museu até atividades de aventura na natureza. Outro projeto desenvolvido por Philippsen são workshops de agricultura que ministra para crianças e adolescentes vindos de outras cidades. O rapaz procurar viver uma vida saudável e natural, sendo que uma das formas com que faz isso é tentar passar todo o seu conhecimento para a nova geração – em sua plantação, pode-se encontrar mais de 40 espécies de tomates e outros frutos que são cultivados de forma 100%

do grupo da igreja. Os jovens adoram filosofar e compartilhar ideias e pensamentos. Isso faz o grupo crescer e manter os laços ainda mais fortes”, destaca. Com os princípios menonitas enraizados no dia a dia dos moradores e vividos à flor da pele, a comunidade de Witmarsum mantém-se unida nos valores de um povo que luta por seus direitos de conquista e que não abre mão de seus ideais há mais de quinhentos anos – um povo guiado pelos ensinamentos da moral e da ética bíblica que pretende continuar transmitindo sua tradição e suas convicções para as futuras gerações, assim como Philippsen, que redescobriu na vida simples, na riqueza de colher seus alimentos e de conversar com os amigos ao final do dia a felicidade e o verdadeiro sentido da vida. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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Os menonitas Descendentes de povos germânicos da região da Prússia, onde atualmente encontra-se o território da Alemanha e da Polônia, os menonitas herdaram traços fortes da cultura alemã que unem a disciplina e a fidelidade aos princípios da ética e da moral cristã. O teólogo holandês Mennon Simons, durante o século XVI foi o grande precursor e difusor dos ensinamentos anabatistas, que alcançaram parte da população germânica que viveu na Idade Média, grupo que mais tarde foi denominado “menonita” como homenagem ao grande mestre. Por rejeitarem a ordem constituída e o contato com o mundo secularizado, os menonitas, mesmo sendo considerados pacifistas, foram alvo de perseguições por outros povos europeus durante vários séculos, o que os levou a passar anos

peregrinando pela América, até estabelecerem moradia fixa em três países principais: Estados Unidos, México e Brasil. Instalados em solo brasileiro no início da década de 1930, os menonitas migraram para estados do Nordeste (Bahia) e do Sul (Paraná e Santa Catarina). No Paraná, os imigrantes menonitas fundaram no ano de 1950 a Colônia Witmarsum, localizada no município de Palmeira, na Região Metropolitana de Curitiba.

que, para eles, é essencial para guiar a vida em todas as áreas, desde as atividades que serão decididas pela família durante o café da manhã até a escolha da profissão dos jovens. Na colônia, a comunidade menonita encontrou na atividade agrícola e no trabalho dentro das cooperativas a forma de ganhar o sustento de cada dia, fundamentados sempre nos princípios tradicionalistas do cristianismo e da política da boa vizinhança.

Em uma comunidade que herdou a pontualidade e a seriedade dos povos germânicos, tudo precisa ser muito bem planejado e feito com responsabilidade e agilidade. Na colônia Witmarsum, composta por cerca de 2 mil habitantes, 60% da população é descendente de alemães, um povo que preza pela organização e planejamento Thauane Mayara

Da janela do único museu da colônia é possível ver os silos da cooperativa.

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A MORTE

LHES CAI BEM Os profissionais que lidam com a finitude da vida no dia a dia falam sobre suas rotinas de trabalho.

Fotos: Natália Moraes

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Texto: Luciano Simão

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Edição: Aline Bonn


Natรกlia Moraes

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e você morresse hoje, atingido por um raio ou uma bala perdida, o agente funerário Fábio Henrique Gomes poderia ajudar a escolher o seu último leito. Relógio no pulso, terno escuro, sapatos marrons, aperto de mão firme, um ar de sobriedade que condiz com a profissão. Curiosamente, lembra um pouco o presidente Barack Obama quando sorri. – A venda do caixão, o transporte, o auxílio, toda a parte difícil quando a família está enlutada: esse é o trabalho do agente funerário – explica, adotando um tom suave e cortês. Se a família não possui lote para o falecido, Gomes oferece um no cemitério particular da funerária, em Almirante Tamandaré, ou a opção do serviço de cremação. Pois, embora atue em situações delicadas, o agente funerário é basicamente um comerciante, algo que Gomes compreende bem – especialmente após nove anos atuando no mercado da morte.

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Gomes negocia os caixões: de R$ 246 a

Natália Moraes

R$ 50 mil à vista ou no crédito.

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Aos 22, auxiliava nos velórios e fazia o café. Virou motorista. Não era fácil: motorista de funerária é aquele que busca os corpos, os veste, faz a ornamentação floral da urna. Ele ainda lembra com um nó na garganta de uma criança gordinha que mal entrava no caixão – “parecia que estava dormindo”. De motorista para agente funerário, hoje Gomes é gerente de plantão. Na sala ao lado, Gomes exibe os caixões enfileirados, claros e escuros, de cerejeira ou maciço de pinus, altos e baixos, estreitos e largos, dois modelos infantis discretos no canto, pequenos e brancos e tristes. Se têm Cristo em relevo dourado, não servem para os evangélicos. Já os muçulmanos preferem o modelo básico de R$ 246, pois o descartam após o transporte e sepultam o corpo embrulhado em lençóis. Os modelos mais caros, que chegam aos R$ 50mil, têm alças banhadas a ouro ou prata. O valor pode ser parcelado. Para as cinzas, as urnas dispostas na estante: há as mais tradicionais, as multicoloridas que lembram baleiros, o modelo de bronze de R$ 7mil,uma Pietà, uma Bíblia, um balanço, um carrosselzinho branco com pequenos cavalos imóveis. Os caixões, as urnas, os túmulos e lápides, tudo está à venda, tudo tem seu preço. Porém, mais do que habilidades comerciais, um bom agente funerário precisa de tato e delicadeza para lidar com o luto. – Cada caso é um caso. Alguns dão risada, outros choram, outros

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chegam desesperados. Algumas famílias buscam culpar o agente, o hospital, qualquer um para não lidar com o que aconteceu. Por isso dizemos: “Respeito a quem vai, respeito a quem fica, respeito sempre”. Apesar do contato direto com a morte, Gomes não pensa muito no próprio fim. Acredita no céu e no inferno e que o corpo é apenas corpo, tanto faz sepultar ou cremar, mas não pretende ficar no cemitério não, prefere ser cremado. – Já que do pó a gente veio, vamos pro pó mais rápido, né?

Tanatologia Terminadas as negociações, o preparo para o velório. Em seu tanatório (instalações onde os corpos são preparados) reluzente, as mãos enluvadas de CarlosHenrique Pereira devolveriam a forma e a cor ao seu rosto dormente. Trajando um branco estéril, da camisa polo justa às sandálias Crocs nos pés, o jovem tanatólogo fala sobre a morte com naturalidade. Sua voz é calma, tem olhos verdes vivazes escondidos detrás de um par de óculos de armações avermelhadas. Se o biólogo é o estudioso da vida, o tanatólogo – do grego Tânato, a temível encarnação da Morte – é o especialista que lida com os mortos. – Você passa a dar mais valor à vida – diz o jovem, animado. “Quando uma pessoa é viva,

ela tem seu valor. Quando ela morre, ela vale mais ainda para a família.” Pereira começou a carreira há apenas um ano e hoje é um dos profissionais que fazem a limpeza e o preparo de cadáveres enviados pelas funerárias à Pró Tanato, no bairro São Francisco. Cristiane, sua colega, é a mais experiente dos dois, uma mulher risonha com maquiagem e brincos discretos e um traje tão branco quanto o dele. Tem experiência em hospitais e necrotérios. Quando adolescente, assistia escondida a aulas de Anatomia do curso de Medicina para ver os cadáveres de perto. – Enquanto os outros estavam lá incomodados com o corpo, eu queria era saber por onde tinha entrado a bala – dá gargalhadas. Pereira também ri. Os dois têm uma dinâmica peculiar. Sem acanhamento, detalham a rotina um tanto mórbida de um tanatólogo. Primeiramente, vestem o branco. Ao chegar um corpo, pegam os aventais e as botas, removem as ataduras que os hospitais às vezes colocam, tiram as roupas, põem o cadáver na mesa. Checam o atestado de óbito. É necessário ser preciso, saber há quanto tempo morreu e por quanto tempo será velado para dosar a diluição dos produtos químicos que garantirão a preservação necessária. Aspiram os líquidos corporais por meio de uma perfuração no abdômen e fazem o tamponamento (algodão nas narinas, ouvido e garganta), visando sempre à conservação temporária e à putrefação natural do organismo, de uma maneira


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que não produza necrochorume e contamine os lençóis freáticos. E não, eles não roubam os órgãos. Tudo é reposto no devido lugar.

favorito da falecida ou exigindo que seja feita uma maquiagem chamativa – o que não agrada Cristiane, que prefere a discrição.

– O que a gente faz aqui é a total descontaminação do corpo – explica Cristiane.

– Tem gente que pede pra pintar as unhas de verde fosforescente, de amarelo-cheguei. Outro dia ligaram pedindo um esmalte cor de areia. E por acaso isso aqui é um salão?

– É a eliminação dos odores e bactérias – completa Pereira.

– Toda pessoa morre com um sentimento, de tranquilidade ou ódio ou com alguma dívida qualquer, e por estar ali mexendo tanto no corpo você acaba absorvendo isso – diz o jovem, que toma um banho de ervas e sal grosso semanalmente para se livrar das energias negativas.

“Enquanto os outros estavam lá incomodados com o corpo, eu queria era saber por onde tinha entrado a bala.” Acabaram de finalizar o tratamento de um senhor diabético falecido em seu domicílio. Um dia calmo no tanatório é aquele em que tratam “apenas” três corpos. Em dias corridos, o número chega a oito ou dez. O preço mínimo do serviço é de R$ 1mil.

Esmalte Após a limpeza, Pereira e Cristiane dão os toques finais: a “maquiagem cadavérica”, termo utilizado pelos técnicos. É um processo complexo que pode envolveruma extensa reconstrução facial. Utilizam substâncias especiais para mascarar os danos ao rosto, além de vários produtos específicos, pós que misturam para obter o tom de pele exato da face do morto. Não é incomum que as famílias façam pedidos mais exóticos, levando o esmalte

Na vida social, é complicado explicar aos outros o que fazem. “Quer dizer que vocês ficam lá lavando defunto?” é a pergunta que mais ouvem. Alguns demonstram estranhamento e repulsa, outros se recusam a cumprimentá-los com um aperto de mão. Os tanatólogos acham graça nisso, porém até entendem o porquê. Para Cristiane, o tanatório é um ambiente carregado de ares pesados e muita negatividade, e tudo deve ser esquecido ao deixar o trabalho para não contaminar a vida pessoal. Já Pereira, que não se considera umbandista embora siga à risca os conselhos de um amigo médium, acredita que o local está repleto de espíritos que, por não conseguirem desprender-se do corpo, ainda não encontraram seu rumo.

Flores Depois de tudo isso, o velório, as lágrimas, um orador e algumas palavras reconfortantes, e, por fim, o enterro e o adeus. Mas o fim do seu mundo não seria, lamento, o fim do mundo. O tempo passa e a vida segue em frente. A Terra continua a girar. À sombra do cemitério, Inês de Jesus venderia flores fúnebres aos seus entes queridos, como o faz há 42 anos. Com um lenço multicolorido enrolado no pescoço, escolhe a dedo as flores mais belas ao som chiado do velho televisor escondido atrás do balcão. O luto e a morte já não a perturbam, pois tudo o que faz é pelo amor às flores.

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Para os tanatólogos Pereira e Cristiane, um dia

Natália Moraes

parado envolve “apenas” três cadáveres.

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Para enfeitar sua última morada, ela sugeriria os crisântemos, as mais tradicionais, disponíveis em todas as formas e tons. Cada família tem suas preferências, mas para ela todas as cores importam. - Afinal, o que seria do azul se não fosse o amarelo? – indaga sorridente. E os crisântemos lhe fariam companhia, adornariam sua lápide enquanto alguém neste mundo ainda selembrasse de você. Enquanto os mortos aguardam visitantes, o pedreiro-coveiro Roberto Brasil limpa e faz a manutenção geral do cemitério, abrindo e selando as sepulturas quando necessário. Já teve pesadelos com as coisas que dormem lá dentro, mas não mais. Hoje trabalha cantarolando e com um cigarro na boca, chapéu de palha e chinelo de dedo nos pés, e uma única luva verde, cujo par deve ter perdido em algum lugar. O radinho à pilha aos seus pés toca “Tô Voltando”, da dupla Gino e Geno, embora ninguém ali pareça estar voltando para ninguém. Mas mesmo nos dias mais parados, o cemitério não é um lugar solitário. Durante o dia, o guarda que patrulha o local vigia os túmulos, impedindo ladrões de roubarem o cobre e outros metais

usados nos letreiros e porta-retratos das lápides. À noite, góticos e outras tribos urbanas apaixonadas pelo mórbido e profano pulam os muros para beber e divertir-se em meio aos mortos. Nos fins de semana, a guia especializada conduz os turistas curiosos, discorrendo em tons didáticos sobre a história dos túmulos mais antigos, belos e estranhos... Para toda essa gente, a morte é um mercado, uma maneira de ganhar a própria vida.Mas nós, que não convivemos com ela, não costumamos considerá-la algo assim tão tangível, concreto. Sabemos que é inevitável, mas no fundo conservamos a esperança de que jamais virá para nós. Por mais que seja impossível saber quando chegará e o que virá depois, não devemos evitar pensar a respeito. “Você passa a dar mais valor à vida”, disse o tanatólogo Carlos Pereira, e todos deveriam ouvi-lo. Afinal, é o ponto final quem determina se uma história terminou bem resolvida. É a própria morte quem confere valor inestimável à vida.

Mesmo cercado de mortos, o coveiro Roberto já não tem mais pesadelos. Natália Moraes

– É mais fácil lidar com essas coisas quando a gente já perdeu alguém, aí você sabe o que os outros estão sentindo também – diz Inês,mexendo inconscientemente nas flores ao falar: puxa uma folha, toca na terra, ajeita um caule, acaricia uma pétala.

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Os sons de Curitiba Personagens e hist贸rias que ajudam a construir a identidade sonora da capital paranaense Daniela Gusso, Dayanne Wozhiak, Luciana Prieto e Marina Creplive

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Não é novidade que os sons têm um poder especial de remeter os indivíduos a diferentes espaços, épocas e pessoas. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Neurociência, localizado em Turim, na Itália, isso acontece porque a parte do cérebro que elabora os sentidos também é responsável, em parte, por guardar memórias emocionais. Nas cidades, ainda que de maneira involuntária, esses sons habitam o imaginário da população e ajudam na construção da paisagem sonora local. Para o professor e mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcos Torres, essa paisagem compõe a identidade da cidade e é fruto

Dayamme Wozhiak

turitibano que é curitibano, ao andar pela Rua XV de Novembro, com certeza já ouviu a voz de uma senhora que vende bilhetes do jogo do bicho, as flautas de bambu de um grupo boliviano, ou os acordes do violão de Plá. Do sofá, já ouviu ao longe um “olha ai freguesia, é o carro do sonho que está passando” ou as inconfundíveis notas de Beethoven, em “Für Elise”, quando o caminhão de gás aponta na esquina de casa.

Após anos vendendo bilhetes de loteria, Teresinha dos Santos ficou conhecida como Borboleta 13. eles fazem ali passa a constituir identidade daquele lugar”, afirma.

bilhetes de loteria na Rua XV de Novembro.

Do Santa Cândida ao Pinheirinho, do apito do trem aos sinos da Catedral, são inúmeras as melodias e os ruídos que ajudam a compor a paisagem sonora da cidade. Entre tantas histórias, está a de uma senhora de sorriso fácil, olhos claros, já pequenos, com a raiz dos cabelos revelando

O trabalho com a voz começou há 40 anos. Com filhos para dar de comer, ela precisava de um trabalho e, ainda, um trabalho que lhe permitisse cuidar dos filhos o dia todo. Foi então que ela conheceu uma mulher que lhe indicou vender os bilhetes. Rapidamente, a senhora simpática conquistou público. Algumas pessoas, inclusive, dizem que ela traz sorte.

“O som cria a marca de um lugar. Curitiba tem diversos personagens que podem ser classificados como marcos sonoros.” Marcos Torres, professor e mestre em Geografia da associação que se faz entre determinada melodia e o espaço geográfico em que ela se dá. “O som cria a marca de um lugar. Curitiba tem diversos personagens que podem ser classificados como marcos sonoros, que são pessoas que se fixam em um lugar, e a partir de então o som que

a pintura e um batom cor de rosa nos lábios. Quem vê de longe, não acha nada demais. É só uma senhora. Mas se o som da sua voz for ouvido, já de longe qualquer curitibano que se preze, sabe: é ela. Teresinha dos Santos, que ganhou o apelido de Borboleta 13, ficou conhecida por vender

Não é à toa. Até prêmios de R$ 500 mil ela já distribuiu. Mas a sorte só começou a virar em 1985, quando Teresinha se mudou para a casa construída com muito suor. Se é que se pode chamar de sorte. Os 38 anos trabalhados com o “bicho” lhe serviram para guardar dinheiro suficiente para conquistar o seu cantinho. E foi somente

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Daniela Gusso

há quatro anos, que ela regularizou sua situação com a Cohab. Quanto ao trabalho, também mudou. Há oito anos, Teresinha trabalha em uma ótica, ainda no Centro. Mas mesmo trocando o posto e a narrativa, ninguém a esqueceu. Segundo a própria senhora, ainda há quem a procure, perguntando quando é que ela voltará a vender os bilhetes. “Onde estão as cobras e as borboletas?”, perguntam as pessoas. Porém, ela não pretende voltar. Apesar de ter os filhos já crescidos, ela aceitou a proposta dada pela ótica, pois significava ganhar um pouquinho mais. “Eu precisava de uma oportunidade melhor. Aqui é bom, porque eu não preciso gastar para ganhar, eu só ganho”, conta. Hoje ela fica na Desembargador Westephalen. Quem passa por lá, continua não tendo dúvidas. “Borboleta e cobra corre hoje”, nunca mais se ouviu. Mas os anúncios de promoções de óculos ganharam outro sentido ao som da voz da Borboleta 13.

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Umberto Ramirez embala as tardes nas praças curitibanas ao som de sua flauta de pan.

Praça de Palco Os traços indígenas do avô levaram o pequeno Ramirez não somente a tocar a flauta de pan, instrumento de sopro tradicional em sua aldeia, mas também a carregar consigo, não importa onde estivesse, a cultura e os ensinamentos de sua tribo localizada em Quito, no Equador. Foi este sentimento de pertença que levou o garoto, anos mais tarde, a percorrer boa parte do mundo expondo sua arte. Umberto Ramirez, de feições cansadas e traços indígenas que certamente lembram o avô, tem a Praça Carlos Gomes como palco para sua cultura. Desde 2008, as árvores altas e os passos apressados de quem não perde o ônibus se acostumaram com sua presença. Ele chega cedo e monta seu espaço junto com outras pessoas

que o acompanham. Os filtros dos sonhos pendurados recebem cores vivas e os CDs com suas composições encontram-se prontos para serem vendidos. De longe, ouve-se o som da flauta, hora em melodias autorais, ora interpretando músicas que já estão de costume na boca do povo. Independentemente do que se ouve, o som já é conhecido de quem passa, fazendo parte da rotina dos sons que cercam a cidade. “As pessoas gostam da música e compram, quando gostam do artesanato, também compram, isso é importante para a nossa sobrevivência”, conta. Embora o flautista queira aproveitar o máximo de tempo no Brasil, sabe que em algum momento vai ser hora de voltar para casa.


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Bike e violão Cantor, mas muito mais ainda, ativista, Ademir Antunes dos Santos viu, entre festivais e auditórios, a rua como o melhor palco para mostrar seu trabalho. Formado em música pela Universidade Estadual do Paraná – FAP (Faculdade de Artes do Paraná) e ainda com mais um ano de Musicoterapia no currículo, o Plá começou a apresentar seu trabalho na rua em 1984. Desde então, não há quem passe pela Rua XV e não pense estar ouvindo um cover de Raul Seixas. Mas não é. As músicas são autorais e têm sempre um chamado a uma certa revolução, seja contra o capitalismo ou a favor da sustentabilidade. As bicicletas, então, já lhe renderam três CDs e até sucesso fora de Curitiba. Ele foi ao Rio de Janeiro no último semestre e se sentiu lisonjeado ao ouvir a música “Pra Andar de Bicicleta Tem Que Ter Moral”, dele, sendo cantada em um movimento a favor das bikes. Entre 57 CDs gravados, 13 livros e o reconhecimento do público,

o que mais importa para Plá é passar sua filosofia. “Sempre digo que vivo aquilo que faço, e não do que eu faço. O importante não é ganhar dinheiro, e sim a causa. Eu passo a minha filosofia e o retorno vem naturalmente”, diz. A causa é transmitida também em suas roupas: as camisetas dele são feitas com o tecido rabiscado pelas pessoas que passaram por ele. O objetivo é apenas um: tentar fazer do mundo um lugar mais agradável através de sua mensagem. A vida o transformou em um poeta com causa e, diante de um universo que ele acredita ser tétrico e racional, imerso no automatismo, o jeito é colaborar de alguma forma. Todos os dias, com exceção de quando o músico está viajando, é possível encontrá-lo por volta do meio-dia na Rua XV. O Largo da Ordem também é palco para o artista aos domingos. “Sem pretender, eu sinto que faço mesmo parte da identidade sonora de Curitiba. Muita gente me conhece da rua, da música, e isso faz o meu som ser popular por aqui.”

Olha aí, freguesia! “É o carro dos sonhos que está passando.” Conhecido pela maioria dos curitibanos, o jingle da Sonhos Alfa ultrapassa gerações e conquista os curitibanos há mais de 15 anos. Diariamente, 5 mil sonhos saem do forno e invadem as ruas da capital ao som da famosa trilha sonora. São mais de 20 veículos que circulam pelos quatro cantos da cidade, levando sonhos sempre fresquinhos e com os mais diversos sabores.

Velho conhecido das ruas da capital paranaense, Plá já possui 57 CDs e 13 livros.

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APAE: uma casa de amor A instituição traz serviços gratuitos para crianças especiais e conta com a colaboração de quem quiser ajudar

Vithor Marques

Vithor Marques

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“A

APAE, como o nome diz, é o segundo pai”, brinca a professora Eliani Bezerra, mãe de Ana Valentina, de 2 anos, uma das crianças assistidas pela casa. Foi descoberta a Síndrome de Down logo no nascimento, quando Ana teve que ficar uns dias internada, devido a um problema no coração. “A gestação foi normal, sem problema nenhum. A Ana nasceu toda inchada, com graves problemas no coraçãozinho dela. Ela teve que ficar internada por sete dias, quando descobriram que ela tinha Síndrome de Down. No começo foi um choque, mas logo compreendi que era algo normal, nem doença é”, conta. Depois da descoberta, uma especialista do Hospital de Clínicas foi quem indicou o trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) para Eliani. “Como a síndrome afeta a capacidade de aprendizagem da criança, é importante que ela seja estimulada através de atividades especiais para elas. É tudo personalizado”, afirma Andréia Freitas, pedagoga da APAE Curitiba. Hoje, Ana faz todo o trabalho de acompanhamento, como fisioterapia, fonoaudiologia, acompanhamento pedagógico e também psicológico para as famílias. Eliani não sabe mensurar o tamanho que a APAE tem na sua vida, bem como para a sua filha. “Não sei o que seria de mim

e dela sem a APAE. Nós vemos uma evolução na sua desenvoltura, bem como pessoa mesmo, pois sei que ela vai ser alguém na sociedade, mesmo com todos os preconceitos”, afirma. Outro portador da Síndrome de Down teve sua vida mudada com os serviços prestados pela APAE. O estudante Bruno Dulcio tem 29 anos e hoje vive uma vida normal, como qualquer pessoa. Ele passou 15 anos frequentando a instituição, até sentir que poderia ir a um colégio não especial. “Hoje vivo uma vida normal. Trabalho, estudo, vou a baladas, e me comunico tranquilamente, muito pelo trabalho que a instituição fez comigo. Foram importantes as estimulações e as atividades, pois eu me sinto especial”, comenta Bruno.

dos Estados Unidos, membro do corpo diplomático norte-americano e mãe de uma portadora de Síndrome de Down. No seu país, já havia participado da fundação de mais de 250 associações de pais e amigos; e admirava-se por não existir no Brasil algo assim. Até 1962, surgiram outras APAEs. No fim de 1962, 12 das 16 existentes, nessa época, encontravam-se, em São Paulo, para a realização da primeira reunião nacional de dirigentes apaeanos, presidida pelo medico psiquiatra Stanislau Krynsky. Pela primeira vez no Brasil, discutia-se a questão da pessoa com deficiência com um grupo de famílias que trazia para o movimento suas experiências como pais de deficientes e, em alguns casos, também como técnicos na área.

“Não sei o que seria de mim sem a APAE.” - Eliani Bezerra, professora História da APAE A APAE nasceu no Rio de Janeiro em 1954, com a chegada ao Brasil de Beatrice Bemis, procedente Vithor Marques

Síndrome de Down A Síndrome de Down ou Trissomia do cromossomo 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra, total ou parcialmente. Ela é caracterizada por uma combinação de diferenças maiores e menores na estrutura corporal. Geralmente, a síndrome está associada a algumas dificuldades de habilidade cognitiva e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. Geralmente, é identificada no nascimento.

Ana Valentina já está dando os primeiros passinhos Jornalismo PUCPR Revista CDM

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cidades

A partir dali, o número de APAEs cresceu na proporção em que a síndrome era conhecida, e preconceitos eram desmitificados. Em 2013, surgiram boatos de que as APAEs terminariam, algo que graças à força e à luta de pais e funcionários foi rechaçado.

Trabalho do dia a dia Margareth Alcântara é diretora da APAE Curitiba. Ela explica como é feito o trabalho. “As crianças são encaminhadas pelos hospitais depois do diagnóstico. A partir dali, é traçado todo o perfil da criança, como questões psicológicas da família. Alías, a família é de fundamental importância para as estimulações. Ela deve estar presente em todos os momentos, pois ajuda no desenvolvimento da criança”, afirma. A APAE hoje conta com a ajuda de empresas, organizações não governamentais e governamentais.

Os pais não têm custo nenhum, mas só é pedido uma contribuição mensal para as despesas da instituição, além de eventos para angariar fundos.

Sedes em Curitiba

“Há muitas famílias carentes que não podem trazer suas crianças para a instituição. Para isso, a APAE disponibiliza o transporte para a criança, deixando o mais perto possível da sua residência”, ressalta a diretora.

Escola de Estimulação e desenvolvimento (CEDAE)

A APAE Curitiba oferece serviços clínicos terapêuticos como neurologia, psicologia, musicoterapia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, serviço social e nutricionista. Para contribuir com a APAE, a pessoa pode doar através da conta de luz. Para isso, basta ligar para o número 0800 722 2723, ou entrar em contato direto com a APAE. Em Curitiba, são cinco escolas, mais nove casas-lares. Divulgação

Público: crianças de 0 a 6 anos. Endereço: Alferes Angelo Sampaio, 1.597 - Batel. Telefone: (41) 3222-8884. Escola Luan Müller Público: pessoas de 6 a 16 anos. Endereço: João Argemiro Loyola, 220 – Seminário. Telefone: (41)3244-9166. Escola Agrícola Escola de Integração e Treinamento de adulto Escola Vivenda Público: 16 anos em diante. Endereço: Rua Orlando Peruci, 1.472 – Santa Felicidade. Telefone: (41)3372-2625.

Uma das principais atividades é a aula de artes.

Linha do Tempo

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1954

1962

1962

Surge a primeira APAE do Brasil, no Rio de Janeiro.

É criada a APAE Curitiba.

Realizada a primeira reunião nacional de dirigentes apeanos.


coluna

“MOSTRA PARTICULAR” Beatriz Peccin

Pedro Melo

D

ois buracos em cima, um no meio, e embaixo dele o maior de todos os buracos: está é a composição básica daquilo que todos nós temos. A minha e a sua são diferentes é fato, mas garanto a você que nós dois temos. Esse mistério todo é para falar do rosto. E por mais miscigenado que a população mundial seja, mesmo com traços particulares a cada um, tenho certeza, há outro rosto parecido com o meu entre os outros 7 bilhões por aí. Com uma probabilidade gigantesca de rostos parecidos (para não dizer iguais), o que nos singulariza afinal? O que faz de mim ser quem sou e o que faz você único no mundo? Mais que o DNA e jeito tosco de agir e pensar, àqueles dois buracos em cima que abrigam aquelas esferas brilhantes e de engenharia complexa são nossa identidade. E que por mais que os olhos variem numa tonalidade infinita de cores do preto ao azul e em outras mil combinações de desenhos, eles continuam sendo únicos. Você já viu transplante de olhos? Até o momento o sistema visual está limitado ao transplante de córneas e não duvido que os

chineses não consigam este feito daqui poucos anos, mas até lá continuaremos com a nossa identidade intacta e intransferível. A biometria da íris pode ser um bom começo para nossa conversa: ao invés de senhas ou da primeira falange do seu polegar direto, a biométrica do seu olho é muito mais segura e precisa para garantir a autenticidade do indivíduo.

realmente muito valorizado em muitas culturas. Eu gostos dos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” e Capitu – passei horas imaginando como seria aquele olhar que Bentinho se apaixonou por Capitolina; também o olhar da menina Malala quando superou o tiro do Talibã e pode voltar a estudar – refugiada paquistanesa na Inglaterra; Olhar gélido e mortífero de Caronte - agente

“Estamos ficando caolhos. Muitos já estão cegos.” Perceba que o conjunto de estruturas oculares de córnea, cristalino, íris, pupila e retina não me intrigam por mais curioso que seja a física imperando os seus princípios de refração, reflexão o e projeção. O que que é singular a cada um é o mistério particular de cada olhar. Esta intriga pelo olho/olhar é milenar. O olho é elemento místico e ambíguo desde a Grécia de Aristóteles. O mistério dos olhos já passou entre os turcos, egípcios, gregos, católicos, budistas, maçons.

funerário e assassino no livro As Esganadas de Jô Soares; e o olhar de cômico de Carlitos - personagem de Charlie Chaplin em Luzes da Cidade.

De amuleto da sorte a símbolo sagrado de um povo o olho é

Estamos ficando caolhos. Muitos já estão cegos.

Parece que de tanto usarmos os olhos em meio a era da informação e de conexão sem desconexão já estamos cegos e passamos desapercebido pelo olhar entusiasmante da criança ou o olhar sábio do velho. Estamos tornando tudo o que é essencial à margem de nossa atenção.

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Ó pátria amada (e medicada)

Como o zeitgeist brasileiro deu à luz a geração do Rivotril natália moraes

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TEXTO

Luciano Simão FOTOS Natália Moraes EDIÇÃO Aline Bonn

A

s gargalhadas de Marcela* ecoam diariamente pelo escritório onde trabalha, no coração do Batel. Alta, magérrima, fã de Star Wars, 007 e dos filmes da Marvel, a técnica administrativa de 36 anos tem um sorriso que ocupa metade do rosto, ainda sem rugas. De sua mesa próxima ao sagrado cafezinho, conversava em tom alto e incessante com a amiga no outro extremo da sala. Enquanto discutiam os spoilers do episódio final de Hannibal, Marcela mexia na bolsa em busca de uma bala ou chiclete. Foi então que percebeu: “Ai meu Deus. Guria, acabou meu Rivotril”, disse, vasculhando a bolsa em vão. O sorriso sumira de súbito. Algo havia mudado em seu tom. Puxou o celular do bolso e discou o número do marido. “Você ainda tá em casa?”, suspirou aliviada. “Preciso que você passe na farmácia pra mim, eu estou sem a receita. Tá na cômoda, segunda gaveta. Passa lá, por favor.” Ao desligar o telefone, parecia mais calma. Do sorriso de outrora, no entanto, não restavam resquícios. Então, a amiga cruzou a sala e foi até ela. Sacou da própria

bolsa um comprimido branco, pequeno e redondo. “Não tem problema, amiga”, disse ela. “Você pode tomar do meu”. Farmacolândia Naquela noite, ao me deparar com um colorido comercial de Neosaldina na TV (“Chama a Neusa!”, proclamava o anunciante, como um padre pregando a salvação), não consegui evitar pensar em Marcela. Sempre me parecera uma mulher tão alegre – jamais imaginara que passava o dia todo medicada, todos os dias. Que aqueles sorrisos, no fundo, não eram realmente seus. Uma rápida busca no Google trouxe dados espantosos: de acordo com levantamento da consultora IHS Health, o clonazepam (princípio ativo do Rivotril) é o 2.° medicamento mais vendido do Brasil, que, por sua vez, é o maior consumidor da substância no planeta. Somente em 2015, foram vendidas 23 milhões de caixas do tal “remédio-milagre” no país. A receita para o medicamento tarja-preta, segundo relatos de usuários, é distribuída em abundância pelos médicos – principalmente os ginecologistas (é o caso de Marcela).

De repente, não conseguia mais ver meu país de nascença com os mesmos olhos. Deixamos para trás o estereótipo holywoodiano de uma terra de sol e sorrisos e nos tornamos uma espécie de Farmacolândia – os reis do remédio. Para todo problema, uma pílula. Para todo drama, uma drágea. No centro desse cenário, persistem as perguntas: como surgiu essa legião de Marcelas, ingerindo comprimidos como gomas de mascar? Por que precisam – ou sentem que precisam – tanto dos fármacos para serem felizes? A resposta, é claro, não é simples. Mesmo no país dos medicados, nada é preto e branco. A Lua de Camboriú Eram quase quatro horas da manhã quando Breno* enfim terminou seu relato. “Até hoje eu não sei o que eu estava fazendo lá. Eu acho que eu só queria mesmo ver a Lua”, riu, tragando um cigarro já no fim. Estávamos sentados na calçada em frente à república estudantil onde ele morou por três anos. Lá dentro, a festa continuava, sem música alta para não perturbar os vizinhos – ninguém ali queria problemas com a polícia. Na

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parede da sala onde os outros estavam reunidos, há um único retrato: uma Monalisa moderninha, de olhos vermelhos e baseado na boca. Compreendi rapidamente por que Breno, hoje com 24 anos e trabalhando como designer gráfico, quisera sair de lá. Enquanto me contava sua história, sua namorada fingia não ouvir. Era parte de um passado que preferia ignorar. Aos 19, Breno foi passar um feriado estendido com os colegas de curso em Camboriú, em Santa Catarina. É claro que havia bebida, “muita bebida”: cervejas long neck, vodca barata, cachaça Ypióca sabor guaraná. Certa hora, a dona da casa lhe ofereceu uma cartela de clonazepam. “Minha irmã consegue à vontade”, dissera-lhe a menina, que supostamente tomava o remédio para acalmar uma ansiedade constante. Breno, já bêbado, ingeriu vários de uma vez – “nem lembro quantos, derrubei alguns no chão” – e depois disso não sabe bem o que aconteceu. Perdeu-se dos amigos a caminho de outra festa, e então tem a vaga lembrança de caminhar sozinho até a praia para (talvez) ver a lua melhor. Acordou estatelado na areia com o olho direito inchado e sangrando. Um mendigo cutucava seu pé para acordá-lo. O sol estava prestes a raiar. “Foi a pior noite da minha vida”, finalizou, jogando a bituca no bueiro. O maquinário bioquímico Eram seis da manhã e eu ainda estava intrigado com o relato de Breno. Como podia o mesmo remédio produzir efeitos tão distintos nesse maquinário bioquímico que é o corpo humano? Peguei o celular e abri o WhatsApp.

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Cliquei na foto de meu irmão, Felipe, doutorando em Bioquímica na Universidade de Genebra, e disparei as perguntas, esperando que já estivesse acordado por lá. Logo vieram as respostas, metade em texto, metade em áudios gravados no trem:

compulsiva que só os bêbados sabem chorar. Meses depois, liguei para ele:

“O Rivotril é um benzodiazepínico. Ele aumenta o efeito de um neurotransmissor. A mudança nos impulsos nervosos reduz a ansiedade (efeito anxiolítico). Em doses altas, pode causar dissociação e amnésia anterógrada.”

“Qual?”

Quando lhe questionei sobre os efeitos do clonazepam misturado com álcool, foi curto e enfático: “o álcool potencializa o efeito do remédio, que também potencializa o efeito do álcool. É perigoso pra c*****. Pode até matar.” Perguntei sobre o potencial viciante do remédio. Felipe respondeu com a elegância habitual: “A tarja preta não tá ali de enfeite, p****”. Mais tarde, chegou outra mensagem: “O pior nem é o vício. É o efeito paradoxal – quando o remédio psiquiátrico causa justamente o efeito contrário do que deveria.” Essa informação me deixou curioso, mas não quis mais perturbá-lo. Logo ia querer começar a cobrar pelas respostas. Não precisei usar a imaginação por muito tempo, pois minha próxima fonte sabia exatamente do que se tratava o tal paradoxo. Hambúrgueres e paradoxos Quando me contou que sofria de depressão, Daniel* estava embriagado. Chorava da maneira

“Você tá tomando algum remédio?”, perguntei. “Sim”, respondeu.

“Ah, aquele que todo mundo toma – Rivotril.” Bingo. Enquanto devorava um enorme hambúrguer artesanal, com bacon e bechamel escorrendo pelas bordas, Daniel detalhou o tratamento que iniciara havia seis semanas. Raro mestiço de mãe negra e pai japonês, fala numa mistura peculiar de sotaque carioquês e gíria curitibana (“Os piás” vira “ush piáish”, e assim por diante). “O pior de tudo é que esse remédio não tem feito diferença nenhuma na minha vida”, queixou-se. “Se fico sem tomar por uns três dias, meu cérebro entra em pane. Perco o equilíbrio de repente e estou sempre enjoado. E mesmo tomando, me sinto ainda mais ansioso. Tem toda uma pressão em cima de você: o remédio tem que te ajudar. É pra isso que ele serve. Se ele não funciona, parece que a culpa é sua. Aí você fica cada vez pior.” Após devorar as fritas, começou um discurso contra a indústria farmacêutica: “Os laboratórios enfiam isso goela abaixo do povo com a ajuda dos médicos. Mesmo minha mãe, que é super honesta, ganha pilhas de remédios de graça. Até viagem os laboratórios querem pagar para ela. Nunca gastei um centavo em remédios.”


saúde

Perguntei o que ia fazer, se o tratamento não estava indo como o planejado. Um pouco constrangido, Daniel respondeu: “Vou ter que trocar de remédio, né?” “Isto é uma porta” Silvina e Antonio Godino Cabas são psicanalistas com um senso de humor. Perturbados por vizinhos pretensiosos, cujas portas são adornadas com placas douradas proclamando títulos como “Dr. Barroso, desembargador”, o casal decidiu retrucar. Abaixo do olho mágico, colocaram uma pequena plaqueta. Diz o letreiro: “Isto é uma porta”. Refugiados no Brasil durante a ditadura argentina, falam um português eloquente, tingido de um leve sotaque castelhano.

“Essa é uma peculiaridade da medicina contemporânea: sua excessiva medicalização”, discorreu Godino, revirando um isqueiro e um cachimbo apagado nas mãos. “O paciente não é mais aquele que vem pedir uma cura, e tampouco alguém disposto a fazer um tratamento de longa continuidade. O paciente contemporâneo é um impaciente.” Para o psicanalista, há um panorama epistêmico complexo por trás da cultura da prescrição medicamentosa excessiva. Nas últimas décadas, desde a descoberta dos neurotransmissores e da febre do Prozac, a eficácia do remédio psiquiátrico passou a ser tão inconteste quanto a de um implante ortopédico. A confiança na ciência se transformou na confiança absoluta na técnica. “Tornou-se suficiente dar uma

solução à queixa – não à doença! – do paciente. A medicina contemporânea é um verdadeiro western em países como o Brasil. A questão é quem é o mais rápido do faroeste, o mais rápido em remediar o mal. O objetivo imediato do médico passou a ser a melhora do ânimo do paciente”, disse Godino. “Não são todos os médicos. Não sejamos maniqueístas”, interrompeu Silvina. O marido aproveitou a deixa para dar três tragadas lentas no cachimbo. “Muitas vezes, a medicação psiquiátrica é necessária. É possível que a análise não consiga reduzir certos graus de angústia que não permitem à pessoa dormir, comer, viver. Aí você tem que entrar com o remédio.” “E é preciso considerar o panorama econômico: colocar um

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médico para acompanhar um paciente é muito caro”, Godino enfatizou. “Se você puder substituir o médico por um técnico e um técnico por um produto químico, você faz uma considerável economia. E a medicina privada não ocupa esse nicho, porque tem como limite o impaciente que a consulta. O impaciente quer uma solução já. Ele vai insistir até encontrar o que procura – e vai encontrar. Isso está no espírito do nosso tempo.” Por uma saída Enquanto escrevo estas palavras, pensando em Marcela, Breno, Daniel e todos os milhões de brasileiros como eles, me dou conta do absoluto poder do zeitgeist

descrito por Godino. Pois também cresci na cultura dos remédios, numa família com tantos médicos quanto hipocondríacos, em que muitos não dormem sem auxílio farmacológico. Anos atrás, passei por um período depressivo terrível, do qual consegui sair graças ao apoio de algumas pessoas próximas. Ainda hoje, sofro de episódios esporádicos dessa melancolia paralisante. Por isso, conheço de perto a angústia de quem busca conforto na química. Sei o que é estar diante de um gigantesco Nada, um vazio que te persegue até em sonhos, uma massa de morte com fome de você.

Seria tão fácil arranjar uma receita com médicos conhecidos, ou ir a certas farmácias ou grupos no Facebook, ou então acessar a deep web em busca de medicamentos contrabandeados – mas não. Porque há outra saída. Ainda tenho esperanças de ver a cultura mudar. Que mais pessoas busquem tratar as causas, que mais médicos olhem além das queixas, e que a medicação possa desempenhar seu verdadeiro papel: o de salvar quem realmente precisa.

* Nomes ficticios usados a pedido dos entrevistados.

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gazeta do povo

coluna

IDEIAS

URBANAS

O desenhista Como o arquiteto Abrão Assad fez de Curitiba sua tela viva O arquiteto Abrã Assad na rua XV de novembro - uma de suas obras. Fernanda Novaes

E

le vê Curitiba como uma folha em branco. Desenha sua silhueta moderna. Colore a vida dos cidadãos. Enxerga a alma das ruas, das calçadas e dos prédios. Entende todo o mecanismo que faz pulsar o coração da capital paranaense. Tanto entende que desenhou uma parte de sua principal artéria, a Rua XV de Novembro. Palco de artistas, a Rua das Flores é o trecho inicial da Rua XV, a primeira grande via pública exclusiva para pedestres do Brasil. Inaugurado em 1972, o caminho das flores percorre um total de 3.300 metros. A extensão procura atender às funções sociais, econômicas e culturais dos curitibanos e, ao longo do caminho, exibe suas flores, cores e mosaicos portugueses que foram dispostos pedra a pedra no chão. Ocoração exige trabalho! Imagina traçar outras partes do corpo. Ele

aceitou o desafio. O desenhista fez a restauração do Teatro Paiol. Não foi fácil, a estrutura estava quase cedendo e o desenho teve que ser completamente a mão livre para poupar tempo. Nesse processo, a liberdade revelou-se uma obra-prima. As características únicas, representadas com traços arquitetônicos romanos em forma circular, foram mantidas e em 1971, 220 espectadores puderam contemplar o show de inauguração, com Vinícius de Moraes e Toquinho. Depois, o foco virou-se para a natureza. O desenhista quis sentir as diferentes formas e texturas naturais. Desejou que o vento carregasse os aromas e guiasse sua mão. À procura desse encantamento, projetou o Jardim Botânico de Curitiba, que foi inaugurado no dia 5 de outubro de 1991. A criação era ambiciosa, misturava a geometria dos jardins franceses com uma estrutura

metálica, estilo art nouveau, inspirada em um palácio de cristal que existiu em Londres, no século 19. Na época, as terras dominadas por araucárias recebiam um toque europeu que se tornaria um dos principais cartões-postais de Curitiba e do Brasil. Para o desenho ficar completo, só faltou o sangue circular para desfrutar todo o potencial do organismo cheio de vida. O desenhista então criou as estações tubo, pontos de paradas de ônibus que protegem os cidadãos enquanto eles aguardam o veículo que os levará aos seus destinos. Quem é o desenhista? O arquiteto Abrão Assad, responsável pelo olhar que transformou Curitiba e fez dela uma cidade modelo de planejamento urbano. Abrão e Toquinho compartilham uma filosofia: “Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo”.

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saúde

A vida em montanha russa Conhecida com mal do século, a depressão tem atingido cada vez mais pessoas, devido ao ritmo que a rotina lhes impõe. Para atender a essa e outras tantas demandas de pessoas com transtornos mentais, faz-se necessário um serviço de qualidade. A Prefeitura de Curitiba traz os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS) como alternativa aos hospitais psiquiátricos para reinserção desses pacientes na sociedade. Reportagem: Bruna Martins Oliveira Fotos: Alana Dombrowski Lima

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saúde

O

atende a população das regionais próximas a ele, assim como da região sul de Curitiba.Um pátio razoavelmente grande, árvores e uma horta cuidada por seus frequentadores. Bancos de madeira, alguns inteiros, outros apodrecendo. Cadeiras espalhadas no espaço. Olhares inquietos, tímidos e alguns penetrantes. Expressões de dor, felicidade, tristeza. Homens e mulheres com idades e histórias diferentes, mas que, por algum motivo, tiveram suas trajetórias entrelaçadas a esse lugar. Alguns têm a sorte de ter o apoio da família, outros sequer se lembram do próprio nome e de ter alguém próximo. Os portões ficam abertos, característica da nova forma de pensar e atender a esse público que, em anos de história, teve o isolamento como principal companhia. Não que isso ainda

não exista, porém, aqui, tudo (ou quase) é mais livre. Médicos e funcionários permanecem com as salas de reuniões abertas. Várias salas compõem os corredores, são consultórios, espaços de terapias e oficinas de música, artesanato e pintura, entre outras atividades. Em cada canto, uma peculiaridade. Alguns se reúnem em roda e compartilham cigarro livremente, outros choram, falam sozinhos, brigam, riem, independentemente do diagnóstico, todos os pacientes compartilham o mesmo espaço. Aparentando pouco mais de 25 anos, barbudo, calça preta, blusa de moletom e boné, um homem anda impaciente de um lado para o outro. Balança o corpo e as mãos, enquanto desvia o olhar para o chão. Ele caminha em direção da sala de administração e entra aflito. Uma funcionária,

Os leitos nos CAPS são em número reduzido, apenas para casos extremos.

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lhares inquietos e desconfiados são características comuns à maioria dos pacientes que frequentam os Centros de Atendimento Psicossocial. Esquizofrênicos, bipolares, depressivos, portadores da Síndrome do Pânico. Mais do que um diagnóstico, essas pessoas carregam uma história e, na maioria dos casos, vivem nos extremos, em uma montanha russa de emoções, limitações e dificuldades por causa da doença. Com 14 anos de existência no país, o serviço dos CAPS nasceu como uma alternativa aos hospitais psiquiátricos tradicionais que, na maioria das vezes, desperta o imaginário social com imagens de dor e sofrimento pelas condições de atendimento. Na capital paranaense, há 12. Sendo quatro destinados para transtornos mentais. Um deles é o CAPS do Boqueirão, que funciona 24 horas e

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saúde Alana Dombrowski Lima

Durante o tratamento, é essencial uma infraestrutura que atenda às necessides dos pacientes.

delicadamente sorri, perguntando o que ele deseja. Com a respiração ofegante e as mãos trêmulas, o paciente pede à moça: — Ô, tem um sabonete líquido pra me arrumar, enfermeira? É que tá faltando ali no banheiro. Quero um, porque preciso lavar a minha mão. Ela faz sinal para que ele espere. Entra na salinha e revira o armário. E o rapaz continua inquieto, a aguardando. Ao retornar, a mulher entrega em suas mãos o sabonete líquido em um copo plástico. Ele sorri e desce as escadas apressadamente. O movimento é intenso. Enquanto muitos vão embora, outros chegam. Nas sessões de psicoterapia, é comum que todos se sentem em círculo e o terapeuta peça para que cada um compartilhe suas experiências da semana, suas angústias e incertezas. Sempre no meio da manhã, à tarde ou à noite, todos os presentes são convidados a ir ao refeitório. Logo uma fila considerável se forma e auxiliares distribuem as refeições.

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Enquanto alguns vêm e vão embora, outros, geralmente em estado de crise, permanecem nos escassos leitos. Os quartos são simples: uma cama, cobertas finas, travesseiros, armários para guardar os pertences e uma decoração ou outra na parede. Elisabeth* é uma das mulheres que dependem do atendimento na instituição. Ex-professora de História, ela passou 25 anos lecionando no estado e hoje não suporta a ideia de entrar em uma sala de aula. Consciente de seu estado, ela sofre de depressão. No momento, seu quadro é estável, mas ela reclama: — De quatro meses que faço acompanhamento aqui, faz dois que estou esperando uma consulta com o psiquiatra. E a receita, fazem o quê? Dão para o terapeuta, não sei até que ponto isso adianta, já que eles nem têm contato com a gente”. Assim como Elisabeth, outros pacientes (cujo número pode variar entre 300 e 400 para esse tipo de CAPS) também demoram para conseguir uma consulta

Alana Dombrowski Lima


saúde

com um especialista, já que, em média, dois ou três psiquiatras estão disponíveis para atuar nos centros, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde Mental. Enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas também compõem a equipe e, geralmente, acabam avaliando os que ali estão de uma forma descentralizada.

que de repente, alguém entre uma crise e precise de uma interferência profissional que pode variar de uma conversa seguida de medicação ou até uma contenção,

e os Centros de Atenção Psicossocial são, muitas vezes, o lugar de refúgio dos que sofrem com as próprias confusões, com olhares estranhos, com o estigma e, mui-

“Ô, tem um sabonete pra me arrumar? É que tá faltando ali no banheiro. Preciso lavar a minha mão.” Paciente do CAPS

A intensidade e a agitação fazem parte da rotina desses locais. Assim como muitos enfermos se encontram numa situação estável, não é incomum

como confirma a maioria dos enfermeiros. Dia após dia, as cenas se repetem

tas vezes, com a invisibilidade. *A entrevistada pediu que seu sobrenome fosse omitido

A dor compartilhada e o papel da família Ter o apoio familiar quando se passa por problemas psiquiátricos faz muita diferença na recuperação do paciente, como comprovam vários estudos da área. A universitária Jaqueline Santos acompanha de perto a rotina de sua mãe que lida com a bipolaridade há 16 anos. A filha, acostumada a ver a mãe em fases depressivas e eufóricas que resultaram em seis internamentos, revela a preocupação. “Eu tenho uma ligação forte com ela e quando ela estava em crise ficava muito triste, até deixei um emprego para cuidar dela. Acho o tratamento importante, mas alguns lugares dopam os pacientes e nem se preocupam com a reação ao remédio e é importante que esses locais se

preocupem em fazer reunião com os familiares.” Assim como Jaqueline, a história da estudante Thayná Andrade (nome fictício) é parecida. Há 15 anos, a mãe da jovem foi diagnosticada com depressão e passou por internações, sendo a última há 8 anos, quando o médico informou que na realidade ela tinha transtorno bipolar. O companheirismo e apoio familiar fazem diferença. “Eu tento sempre mostrar que eu estou ao lado dela e a apoio. Hoje ela está bem e trabalha normalmente. Acho fundamental o apoio da família para que a pessoa não se sinta abandonada. Só quem passa por isso, ou tem um familiar que passou, sabe que não é frescura e nem loucura como muitos dizem.”

Além da família, a humanização no atendimento dos pacientes é uma preocupação cada vez maior desde a reforma psiquiátrica e a implantação de tratamentos diferenciados. É o que explica Karin Gabardo, terapeuta ocupacional e coordenadora do CAPS Portão 3. “Você tira um pouco o foco do diagnóstico e passa a olhar o paciente como um sofrimento mental, uma pessoa que tem um contexto social. Não é todo depressivo que vai agir da mesma maneira. A gente não coloca o transtorno mental dentro de um saco, a gente considera vários aspectos, envolvendo a vida e o contexto que a pessoa vive”, diz.

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Contradições A década de 80, no Brasil, não deu apenas força para os movimentos em defesa da reforma psiquiátrica e do atendimento humanizado aos pacientes psiquiátricos, como influenciou a criação dos CAPS, serviço que foi intensificado em 2001 com a aprovação da lei 216, que prioriza o atendimento fora dos hospitais psiquiátricos tradicionais. No Paraná, desde 2005 houve uma redução de 36% dos leitos psiquiátricos. Em 2013, 182 leitos foram descredenciados enquanto 67 foram criados nos CAPS, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.

tratamento. Porém, não há uma estrutura de apoio como ambulatórios, alas psiquiátricas em hospitais gerais, em Curitiba só há seis leitos. Falta ambulatórios, falta suporte”, pontua. Apesar de a ideia de atendimento multiprofissional ser disseminada nos CAPS, a falta de especialistas é outro ponto que interfere na eficácia do tratamento.

A medida divide opiniões. Para o presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, André Rotta, por mais que a lei seja positiva no sentido de humanizar o atendimento, pontos importantes estão sendo esquecidos.

Para Rotta, os CAPS são insuficientes para a demanda e os pacientes, que eram acompanhados em ambulatório, foram encaminhados para as Unidades de Saúde e geralmente são atendidos por um médico da família que é orientado por especialistas por matriciamento, ou seja, um especialista orienta esses médicos . É muito difícil dar um suporte adequado para o paciente dessa forma. A situação tende a piorar cada vez mais.

“A lei não está sendo cumprida em algumas situações. Infelizmente, há um fechamento significativo de leitos psiquiátricos, até mesmo de hospitais que têm condições de manter esse

Outra discussão é o tratamento porta aberta e a autonomia do paciente. “Muitos pacientes, antes internados, saíram de alta praticamente obrigados e estão na rua. Alguns não têm condi-

Número de internamentos psiquiátricos em Curitiba 2015

2014 247

231

186 199

190

176 Jan

Mai

Fonte: Central de Leitos Psiquitátrica

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ções e discernimento sobre o que está acontecendo, pode estar psicótico, por exemplo”, alerta Rotta. Em resposta ao novo modelo de saúde mental e a eficácia dos CAPS, a secretária municipal de Saúde Mental Luciana Savari justifica: “Curitiba entende que hospital psiquiátrico é um ponto da nossa rede e não é lugar para ninguém morar. A gente não quer prescindir desse serviço, porém, a ideia é atender a essas pessoas em uma rede conforme a necessidade do caso. Para Curitiba, a gente conseguiu avançar pouco em hospitais gerais, porém, a proximidade que eu tenho com os hospitais psiquiátricos possibilita a construção de um plano terapêutico com esse olhar da humanização no atendimento”.

Em 2013, 182 leitos foram descredenciados, enquanto 67 foram criados nos CAPS.


defenda-se Pelos Direitos das Crianças e dos Adolescentes

Com as férias se aproximando, meninos e meninas ficam mais vulneráveis à violência. Aproveite este período para mostrar às crianças a série de vídeos da Campanha Defenda-se, disponível no site www.defenda-se.com, e colabore para o enfrentamento do abuso e da exploração sexual.

Organização:

Denuncie:

Centro Marista de Defesa da Infância

Prêmios:

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comunicação

Profissão: repórter

A reportagem da CDM conversou com alguns dos jornalistas que participam da cobertura da maior investigação política do país, a Operação Lava Jato Texto: Beatriz Peccin Fotos: Roberto Rohden e Vitor Cruz

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comunicação Vitor Cruz

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orre para o aeroporto amigo!” é uma frase dita com frequência aos motoristas de táxi no dia a dia de jornalistas que cobrem eventos fora de suas cidades. Eles estão sempre em trânsito, indo e vindo em busca de novas informações, novos furos, novas descobertas para manter você bem informado. As rotinas de Felipe Igreja, 27 anos, jornalista da rádio CBN de Brasília; de Ricardo Brandt, 39 anos, jornalista do jornal Estado de São Paulo; de Rafael Coimbra, 45 anos, jornalista da Globo News; de Vladmir Netto, 42 anos, jornalista do Jornal Nacional, da Rede Globo, e de outros profissionais da imprensa não são muito distintas entre si. Eles são repórteres especiais em veículos de comunicação e têm vindo com regularidade a Curitiba, sede da investigação da operação política mais famosa do país. A reportagem da CDM acompanhou a rotina produtiva destes jornalistas durante uma semana intensa para a Operação Lava Jato. É comum ver nos carros, principalmente na capital paranaense, os adesivos de apoio à operação e ao juiz Sérgio Moro. Para o jornalista Vladimir Netto, que vem com regularidade à cidade,

a operação é hoje um motivo de esperança para o brasileiro contra a corrupção. – Às vezes, as pessoas me param na rua e um dia uma senhora, aqui em Curitiba, me disse: “Você que é o Vladimir ?”. Eu disse: “Sim, pois não ?”. Ela disse: “Muito obrigada pelo o que você está fazendo. Respondi que não estou fazendo nada, que sou apenas um mensageiro, que não era eu quem estava fazendo a mudança. Ela, então, me falou: “Mas eu me emociono quando vejo tudo aquilo na TV, eu já fui vítima da corrupção”. Ela chorou e eu também. Além da comoção popular e do sentimento de justiça, Vladimir atribui o “sucesso” da operação às ações do juiz, que está encaminhando o caso, Sérgio Moro. – Devido à maneira que ele conduz o processo – seguindo o que está dito na Constituição – a Lava Jato vai mais longe do que outras operações como essa foram. Com a transparência da operação, a imprensa alimenta a cobertura e conseguimos explicar melhor para a população dando o retrato de toda a investigação e não somente de um determinado ponto de vista, como era antes.

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Operação Lava Jato A operação Lava Jato teve início em 17 de março de 2014, após investigação de denúncia do empresário de Londrina, Hemes Magnus, em 2008 sobre um esquema de lavagem de dinheiro entre o ex-deputado José Janene (Partido Progressista/ Paraná) morto em 2010 e o doleiro Alberto Youssef. Depois da denúncia do empresário, a Polícia Federal colocou os olhos no doleiro e chegou a um outro esquema de Youssef em Brasília, um posto de gasolina na capital federal que servia como ponto de distribuição de proprina

Corre Corre A investigação contra a corrupção está balançando o Brasil. Desde de março de 2014 você tem semanalmente notícias sobre a Operação Lava Jato. O trabalho jornalístico de investigação e divulgação das novas apreensões, prisões, delações premiadas, nome de novos investigados e a divulgação de novas quantias desviadas de órgãos públicos é fundamental para o conhecimento e apoio da população à Polícia Federal e à Justiça Federal. Este é o maior trabalho dos jornalistas que vem à cidade cobrir operações e eventos específicos para os grandes veículos de imprensa em que trabalham. A jornalista paranaense Thaís Skodowski foi correspondente do jornal carioca O Globo sobre a operação e define a Lava Jato como “um prazeroso e cansativo desafio”. Para ela “é muito legal ver seu trabalho na capa de um jornal nacional, é uma responsabilidade enorme para dar todos os dados corretos (e é muita coisa), tentar ser o mais imparcial possí-

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à políticos e servidores públicos. Com o início da operação o doleiro, que morava e trabalha em Curitiba, foi preso e depois de um acordo de delação premiada – técnica de investigação legal que consiste na oferta de benefícios pelo Estado àquele que confessar e prestar informações úteis esclarecedora de um fato investigado e criminoso – muitos outros nomes foram envolvidos no maior escândalo de corrupção do país.

MPF são mais de 60 investigados entre parlamentares, ex-executivos de grandes empresas do setor público e empresários das maiores empreiteiras do país. Há investigação sobre esta operação na Justiça Federal do Paraná e no Supremo Tribunal Federal, devido ao envolvimento de parlamentares nos esquemas criminosos.

Atualmente, segundo o vel, saber lidar com esse momento de Fla-Flu político em que se você escreve sobre a esquerda, a direita acha que você é da direita e vice-versa”. A importância da cobertura de uma investigação desta proporção e com vários nomes de alto escalão político marca a carreira de todos os jornalistas que estão fazendo parte desta cobertura, seja pela experiência, seja pelo relacionamento com as fontes ou pela dedicação a uma investigação tão notória. O trabalho é complexo e desafiador até para os mais experientes. “A notícia está nas entrelinhas e você tem que está muito atento. É um trabalho em que você tem de saber tudo o que já aconteceu e tudo que está acontecendo, porque é uma operação muito grande. É uma coisa insana! ”, diz com um sorriso no rosto o repórter Vladimir Netto – que já realizou várias coberturas de investigações políticas entre elas o Mensalão do PT entre 2005 e 2010.

O jornalista da rádio CBN de Brasília Felipe Igreja está na cobertura da operação desde o começo e já veio quatro vezes à Curitiba em 2015, para cobrir a operação. Mesmo não se autodenominando jornalista especializado em política ou na Lava Jato, ele diz ter mais afinidade com o tema e explica que o trabalho não é de um homem só “há outros dois colegas que também dividem o trabalho comigo e contamos com um banco de dados recheado na redação para nos auxiliar neste trabalho”. O jornalista é calmo e com voz serena em meio à multidão de jornalistas zanzando de um lado para o outro no hall da Justiça Federal. É mais um dia de depoimentos e o repórter tem que entrar ao vivo na programação da rádio a cada meia hora com atualizações sobre o assunto. “A cobertura é densa. Tenho uma mesma rotina. Fico hospedado no mesmo hotel na Praça Osório, e vou do hotel para a Justiça Federal, de lá para a Policia Federal e volto para o hotel” diz o jornalista.


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Vitor Cruz

Thaís Skodowski é correspondente do jornal O Globo em Curitiba.

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O material produzido durante a CPI é enviado instantaneamente aos veículos de comunicação.

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O jornalista Ricardo Brandt cobre a Operação Lava Jato durante a CPI em Curitiba.

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O tempo em que os repórteres especiais passam nas cidades realizando a cobertura de uma determinada pauta ou evento é ocupado pelas entrevistas com as fontes e pela apuração dos novos

Unidos Venceremos O ambiente de maior concentração de jornalistas por metro quadrado foi a CPI (Constituição Parlamentar de Inquérito).

“O almoço de domingo é sempre uma reunião de pauta.” - Vladimir Netto, repórter acontecimentos. O jornalista especializado Ricardo Brandt do jornal paulista O Estado de São Paulo está fazendo parte , nesta cobertura, da equipe do Blog do Fausto – blog no canal online do jornal especializado em investigações políticas. Ricardo conta que sua rotina como repórter especial é “a cada hora (nós) estamos em uma cidade. Como fico para fazer coberturas especiais, fico muito no hotel, nos locais em que acontecem as investigações e depoimentos, e entre entrevistas com fontes e amigos jornalistas. Não curto a cidade. Fui ao museu (MON) em Curitiba quando levaram as obras apreendidas pela operação”. A realidade de pressa e agitação é comum para todos os jornalistas. Rafael Coimbra é repórter do canal Globo News há 18 ano e cobriu golpe de estado, Copa do Mundo, eleição americana entre outras reportagens especiais. Hoje está cobrindo a Lava Jato e revezando com alguns colegas de emissora. Rafael é um jornalista multitarefa e por isso sua “equipe” é menor que as demais equipes de TV. Ele conta com a ajuda de seu operador de câmera para fazer as entradas ao vivo na programação do canal informativo. “Tenho uma relação constantecom a minha redação. Eu passo as novas informações daqui e eles me fornecem outras de lá”, diz.

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Nessas horas, o ambiente entre os jornalistas é silencioso, a não ser pelo barulho do teclar sem parar no notebook. Às vezes se ouve um pedido de licença para correr atrás do sinal de internet ou de uma declaração do advogado do investigado que acabou de sair sob escolta policial. Às vezes, é para dar uma corridinha ao toalete ou comer um pacote de biscoito, porque já são quase quatro horas da tarde e ainda não houve intervalo entre as sessões. O trabalho em equipe dos jornalistas sempre foi comum, mas o acolhimento e compartilhamento de informações factuais surpreende Christianne Machiavelli, assessora de imprensa da Justiça Federal. – Temos um grupo no whatsapp com quase 50 jornalistas e meu telefone apita o dia inteiro. Ali, eu e eles compartilhamos áudios de advogados, mudança de horários de CPIs, reuniões e coletivas. Mesmo em veículos concorrentes eles sempre acabam se ajudando e trabalhando em conjunto – diz ela. O jornalista especializado do Estadão chega com um sorriso tímido, cumprimenta alguns colegas e senta ao fundo junto à colega Julia Affonso. A colega é parceira de Fausto Macedo e, junto com Ricardo, auxilia na produção do

Curitiba A grande cobertura de investigação política dos últimos anos acontece na nossa cidade. Para o jornalista do Jornal Nacional, este fato contribui muito para a idoneidade do processo: – Quando eu cheguei na Lava Jato, eu imaginei que era apenas mais uma operação. Eu me surpreendi! A Lava Jato é uma operação diferente das outras. Eu cobri muitas investigações que iam do início espetacular ao fim melancólico. Em Curitiba, eu percebi que ela ia mais longe. O fato de ser aqui no Paraná é crucial para o sucesso da Lava Jato. Se fosse realizada em outro estado, ela não teria esse alcance e não teria sido feita desta maneira, diz Vladimir Netto.


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Blog do Fausto. Brandt mantém contato diário com o jornalista Fausto Macedo – cujo o blog leva o seu nome – para a apuração de informações e produção de notícias sobre as novidades na Lava Jato. “Há uma equipe dentro do jornal que só faz a Lava Jato. Eu e o Fausto, por exemplo, ficamos trocando figurinha o tempo inteiro”, comenta Ricardo.

De Família Vladimir Netto é daqueles jornalistas que inspiram qualquer estudante de Jornalismo. Talvez seja pela criação – ele é filho de

Miriam Leitão e Marcelo Netto – ou pelo interesse de desvendar os mistérios e contar uma boa história. Ele percebe essa investigação como diferente de todas que já cobriu, e coloca a Lava Jato como a mais importante realizada até agora – Às vezes, faço uma comparação um pouco imprecisa, mas que gosto: É como se o Mensalão fosso o plano cruzado – a primeira tentativa mais forte de estabilização da economia brasileira -, e a Lava Jato, o plano real – uma lição que funcionou. Porque, as lições que foram apreendidas no

plano cruzado foram aplicadas no plano real. Assim como as lições que foram apreendidas no Mensalão foram aplicadas na Lava Jato. A família é cheia de jornalistas consagrados no país. Por estar cobrindo a operação na cidade, nos momentos em família também também surge comentários sobre a Lava Jato: “O almoço de domingo é sempre uma reunião de pauta”, revela.

Roberto Rohden

O repórter Vladimir Netto vem ã cidade para a cobertura pol[itica e diz gostar muito de curitiba.

Internacional Segundo a assessoria da Justiça Federal, há 64 veículos de comunicação (entre veículos de distribuição local, nacional e internacional) realizando a cobertura da Lava Jato. Veículos como Wall Street Jornal, New York Times, Der Spiegel e as agências internacionais Agência France Press e Reuters. O correspondente alemão Jens Glüsing mora há 24 anos no Rio de Janeiro. Em

reportagem especial para a revista alemã, o jornalista veio a Curitiba para estudar a Lava Jato. “Para mim, é a cidade mais europeia do Brasil, e o tempo chuvoso e as temperaturas amenas que peguei na última vez que vim me lembrou bastante da minha cidade, Hamburgo”.

2005, alerta para a visão mundial sobre o Brasil: “A operação Lava Jato deixa uma imagem boa, porque mostra que pelo menos esta parte do judiciário está funcionando. Por outro lado, a crise e o escândalo em geral, deixam uma impressão muito ruim no exterior”, relata.

O jornalista, que recebeu o maior prêmio de jornalismo, O Embratel, na categoria correspondente em

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cidades

CIDADES DE SUCATA Daniela Gusso, Dayanne Wozhiak, Luciana Prieto e Marina Creplive

Descartável para muitos, o lixo pode ser tanto um meio de sobrevivência quanto matéria-prima para obras de arte

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Dayanne Wozhiak

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m 2014, Curitiba recolheu cerca de 29,4 mil toneladas de lixo pela coleta seletiva – sem levar em conta as 511 mil toneladas recolhidas pelo sistema convencional. Motivo de descarte para alguns, o lixo é sobrevivência para outros. Em tempos de crise, uma alternativa? Em meio a tanto lixo, uma solução? Dizem os dicionários que reciclagem é o ato ou efeito de se recuperar a parte útil dos dejetos e de reintroduzi-la no ciclo de produção de que eles provêm. Já recuperar tem outro significado: promover a restauração de algo ou reintegrar alguém na sociedade. O que é preciso para que o processo de reciclagem seja totalmente introduzido no Brasil – e no mundo? Segundo Felipe Mazza, mestre em Meio Ambiente Urbano e Industrial, engenheiro ambiental e ex-professor de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, três aspectos têm de ser levados em consideração: conscientização, tecnologia e mercado.

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Depois desta etapa, é a hora de vender. Para isso, o mercado precisa estar mais aberto, afinal “de que adianta as pessoas separarem o lixo, a indústria processá-lo, se ninguém comprar o produto reciclável?”, indaga o engenheiro. Os preços mais altos são um fator importante, enquanto um pacote de papel A4 alcalino com 500 folhas custa R$ 15,50, um de papel reciclado com a mesma quantidade e da mesma marca sai, em média, por R$ 19,30. Segundo Mazza, esse aumento é desnecessário. “A questão da reciclagem é passar a aproveitar os descartados para que eles voltem ao mercado e ajudem a empresa a lucrar. Mas não lucrar por um preço mais alto, e sim por uma despesa mais baixa. Se materiais reciclados são mais baratos, a empresa já está ganhando”, diz. Há ainda, no entanto, uma luz no fim do túnel: Curitiba é a única cidade na América Latina incluída em um ranking de cidades eco-friendly – ecologicamente corretas –, divulgado em dezembro de 2014 pela rede britânica BBC. Parte da conquista desse título deve-se principalmente aos catadores de lixo espalhados pela cidade. Peças fundamentais deste

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Dayanne Wozhiak

Conscientização talvez seja o mais difícil de todos. Por que é importante? “Torna o trabalho do catador mais fácil, mais seguro, livre de contaminação, com menos vetores de doença”, ressalta Mazza. Mas, como transformar um hábito de anos? O argumento mais válido é dado todos os dias: a reciclagem ajuda o planeta e as pessoas, melhora a vida, só não se convence quem não quer. A tecnologia é necessária para a evolução em um meio competitivo, já que cada vez mais surgem empresas de reciclagem. É a partir da inovação que os resultados melhoram e, consequentemente os produtos produzidos.

processo, muitos deles encontram diversas dificuldades para realizar seu trabalho. Na região metropolitana, a Associação dos Catadores Unidos de Fazenda Rio Grande foi criada há cerca de nove anos, com o objetivo de oferecer melhores condições a esses trabalhadores. Lá, o lixo chega até eles através dos caminhões de coleta seletiva da cidade e de catadores não associados. Os funcionários apenas separam o material recebido, e além de não precisarem percorrer longos trajetos atrás de materiais nas ruas, eles também contam com uma rotina de trabalho, um espaço próprio para separação, salário proporcional e três refeições ao dia. Já para os profissionais que entregam o material – e não fazem parte da associação –, o programa Troca Verde entrega vales, que podem ser trocados por frutas ou verduras em feiras da cidade. O objetivo é evitar a compra de bebidas ou drogas com o dinheiro da coleta. Segundo Renato Jorge de Cristo, presidente da Associação dos Catadores Unidos de Fazenda Rio Grande, um dos maiores problemas enfrentados pelos profissionais é a mistura de lixo

reciclável e orgânico. “Incomoda quem não separa em casa, por conta do orgânico. Tem gente que joga cocô de cachorro junto. É perigoso porque o catador sai prejudicado, podendo pegar uma doença”, afirma. “As pessoas melhoraram muito. No começo, vinha muita sujeira e pouco material para reciclar. Aí trabalhávamos 15 dias para receber apenas R$ 50”, afirma Regina de Lima, que está na associação desde que ela foi criada, e também é catadora de rua. Atualmente, a situação é um pouco melhor. Como as pessoas estão separando mais o lixo, e chega mais material no caminhão para ser reciclado e vendido, os mesmos 15 dias dão o equivalente a R$ 320. Mas para receber isso, eles trabalham oito horas por dia, de segunda a sexta-feira, e mais quatro horas no sábado. Sueli Lopes da Silva, que também faz parte da entidade e é catadora de rua, diz que apesar de vir mais materiais, ainda vêm muitos potes de margarina, por exemplo, sujos, o que os faz perder tempo limpando. Mas, apesar do trabalho árduo, não o troca por nenhum outro. Já foi diarista e trabalhou na indústria, mas a reciclagem a faz mais feliz. “Sinto que estou limpando a cidade.”

Regina de Lima conta que desde que a Associação foi criada, houve muitas mudanças e automatização de processos, como uma prensa para amassar latinhas que antes eram amassados nos pés.


cidades Dayanne Wozhiak

Ferro velho Ser o rei da sucata não é coisa de novela. Ali, no município de Fazenda Rio Grande, Marcelo Pszybylski encontra no ferro velho a matéria-prima para suas esculturas. Ele conta que sempre se interessou por arte, principalmente a que é feita em metal, com a qual teve contato aos 12 anos, após ver um senhor esculpindo no Largo da Ordem. Quanto à sustentabilidade, o artista confessa que só teve consciência dela, efetivamente, ao começar a fazer suas primeiras obras. A primeira peça foi uma guitarra, que ele quis dar de presente ao neto. Pszybylski era sócio em uma oficina de lataria e pintura e começou a usar os materiais que eram jogados fora para fazer essa peça. Ele diz que, a cada objeto que poderia ir para o lixo, ele imagina uma escultura diferente – o que faz parte do processo de trabalho dele. Ele idealiza as esculturas, sem desenhá-las. Ao ser muito elogiado pelos amigos, resolveu criar mais obras, participou de algumas exposições, como uma na sede municipal do Senai e outra na prefeitura.

“Meu trabalho é só um grão de areia no mar, mas ele faz as pessoas terem consciência de que dá para resgatar o que seria jogado fora e poluiria, ou que dá para doar para alguém que possa reaproveitar. É preciso usar a imaginação e ter força de vontade.” Marcelo Pszybylski, artista

Pouco a pouco, o artista resolveu que era hora de investir somente nisso. Há mais ou menos um ano, começou a vender suas peças e, hoje, tem um espaço na feira do Largo da Ordem. “Lá na feira eu levo as peças menores, que as pessoas têm mais condições de adquirir. As maiores são mais para exposições mesmo, porque para comprar seriam mais caras. Elas levam mais tempo para serem construídas, e têm de ter giro de mercado”. Ele acredita que com a visibilidade que está tendo no Largo, poderá tornar a arte com materiais reaproveitados sua fonte de renda. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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cidades Luciana Prieto

Nテグ EXISTE LIXO ONDE EXISTE ARTE

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Luciana Prieto

Foi aos 11, talvez 12 anos, que um garoto de Santos encontrou em uma sacola de brinquedos quebrados sua alma de artista. Toda vez que os patrões de sua mãe – empregada doméstica da casa – davam brinquedos novos às crianças da família, os quebrados viravam lixo. Mas, nas mãos de Rodrigo Marques Gouveia, eles viravam possiblidades. O garoto juntava peças, incrementava com outros objetos e, no fim, tinha modelos próprios, até mesmo mais interessantes dos que ele cobiçava nos comercias da marca Estrela. Marques, como prefere ser chamado, foi crescendo e a brincadeira de garoto foi ficando para trás, dando lugar a atividades mais sérias. Na adolescência, envolveu-se com drogas e somente aos 21 anos é que a sucata virou refúgio, agente transformador da sua história. “Umas das coisas que me tiraram da cocaína foi justamente a minha arte. Ela transforma, une pessoas, abre a mente. Ela vicia e dá tanto ou mais prazer do que qualquer droga”, comenta. O reciclável, o ferro, os materiais dispensáveis se tornaram instrumento. O que começou com quadros e objetos de decoração para o seu próprio quarto, passou a despertar o interesse de mais gente. “Com o passar dos anos, amigos me disseram que eu deveria levar isso mais a sério, daí fui ver o que era essa tal de arte”, lembra. Na Cidade Industrial, uma garagem recebe a placa com frase “Não existe lixo onde existe arte”, pendurada ao lado do letreiro feito de madeira com letras em negrito escrito “Artemarques”. É ali onde ele expõe e cria seu trabalho. Embora tenha sua obra reconhecida, ainda é pouco para sustentar-se somente com ela. Assim, também trabalha na construção civil.

Marques Gouvêa transformou sua infância difícil em um caminho para arte.

A arte que Marques achava ser exclusividade de museus, ou uma atividade intelectual, sempre esteve presente em sua vida, desde os brinquedos quebrados até os quadros e esculturas com sucata que hoje são sua forma de, além de contribuir para o meio ambiente, ajudar no seu sustento. E é essa arte que ele usa para mudar o mundo ao seu redor. Há dois anos, Marques iniciou um projeto para unir artistas autônomos para coleta de material e criação coletiva. Além disso, promovia oficinas com crianças e as ensinava a arte da sucata, com o intuito de tirá-las das drogas, da mesma maneira que um dia ele próprio foi tirado. “Estamos na luta para transformar não só o ‘lixo’, mas as pessoas”, afirma. O projeto foi interrompido, por ter despertado o ódio dos traficantes da região, porém o seu maior desejo é reintegrar as crianças e dar continuidade ao projeto,

contando com incentivos fiscais e o apoio de gente que acredita nessa transformação. “Atualmente, estou criando e reciclando móveis também, a partir do que jogam em terrenos baldios, becos, e matas próximas ao bairro, e estamos planejando um vídeo que mostre a gente no lixão, retirando, depois levando para casa, limpando, e transformando em arte. Nós o colocaremos no Youtube, afim de promover essa ideia, que já existe, é claro, mas queremos fortalecê-la ainda mais”, conta. Em seus futuros projetos, o que permanece intacto é a vontade de fazer arte e gerar transformação, seja contribuindo para a preservação do meio ambiente, ou expandindo a ideia de que o lixo não acaba na lixeira, mas pode ganhar vida e ser usado como um contribuinte para um mundo melhor. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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Guilherme Becker

educação

Longe de casa Desafios de escolher uma universidade em outra cidade preocupa jovens, mas também abrem oportunidades para novos caminhos

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Anna Julia Lopes

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scolher qual profissão seguir e qual universidade cursar não é tarefa fácil. Principalmente quando essa escolha vem acompanhada de outra decisão importante: estar na universidade que sempre desejou, mas ter que mudar para uma cidade maior ou muito distante, ficar longe dos familiares e amigos para seguir na jornada que poderá determinar o rumo profissional de uma vida. Muitos jovens passam por isso no começo de sua vida universitária. Saem da zona de conforto para estudar em uma cidade desconhecida, tendo que conviver com novos hábitos e fazer novos amigos. Adaptar-se a uma nova cidade pode ser um desafio, mas para Gabriel Tschoke, 23 anos, que veio de Criciúma (SC) a Curitiba para estudar Engenharia Mecânica na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o tempo foi um fator importante para se habituar com essa nova fase de sua vida. “Curitiba foi bem difícil no começo, eu não queria voltar para a minha cidade, mas eu ia todo fim de semana para lá, porque meus amigos eram de lá, todo mundo era de lá. Depois do primeiro ou segundo ano que eu parei de voltar para a minha cidade e comecei a sair mais com o pessoal de Curitiba”, conta.

PUCPR conta atuelmente com mais de 900 alunos de outros estados.

O futuro engenheiro gostou tanto da mudança que recentemente embarcou rumo à uma nova fase: foi complementar seus estudos por meio de um intercâmbio na Nova Zelândia. Para quem está pensando em viajar, Gabriel dá dicas para uma melhor adaptação. “Recomendo mudar de cidade com certeza porque mudança é sempre bom, ir de cabeça aberta para novas amizades. Focar muito no estudo, no motivo pelo qual você se mudou. Você vai ter uma ótima experiência, além de aprender a se virar sozinho”, finaliza. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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Para Mariana Werpel, 20 anos, a história foi parecida. A estudante saiu de Juiz de Fora (MG) para cursar Técnico em Prótese Dentária na Universidade Positivo (UP) mas, diferentemente de Gabriel, ela tinha tios que já moravam na capital paranaense. Mas quem pensa que isso tornou a mudança menos difícil, se engana. “Eu não conhecia ninguém em Curitiba além dos meus tios, foi muito difícil ficar longe dos meus pais e meus amigos. O frio também foi outro fator que dificultou minha adaptação. No começo eu ia visitar meus pais todos os fins de semana e tinha vontade de voltar, mas agora fiz amizades e comecei a namorar aqui, então vou só de vez em quando”, explica.

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Algumas universidades de Curitiba oferecem serviços que ajudam estudantes de fora a se

“No começo eu ia visitar meus pais todos os fins de semana e tinha vontade de voltar.” Mariana Werpel, estudante adaptar ao novo ambiente, como é o caso da PUCPR, que recebe esses alunos por meio do Serviço de Apoio Psicopedagógico (Seap). “Nós somos uma equipe composta por quatro psicólogas e uma pedagoga. Quando recebemos um aluno, nós fazemos uma entrevista prévia para saber o que está acontecendo. Procuramos fazer com que esse aluno desenvolva algumas estratégias

para começar a se sentir mais à vontade, interagir com a sua turma, desenvolver questões de autoestima, mostrar para ele que ele não precisa ser igual, não precisa competir. Você não necessita virar do avesso para ser aceito, isso é muito importante” expõe a Psicóloga Coordenadora do Serviço de Apoio Psicopedagógico da PUCPR, Maria Elizabeth Nickel Haro.

Para matar a saudade dos amigos, Gabriel Tschoke utiliza da tecnologia para diminuir a distância.

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educação

Foi o que aconteceu com a estudante de engenharia ambiental Hanna Carolina Cordeiro. Ela veio de Itajaí (SC) para Curitiba para estudar Engenharia Civil e não conseguiu se ajustar à cidade. Além do clima muito diferente de Santa Catarina, a saudade dos pais e amigos, somada com a insatisfação com o curso, fez com que Hanna voltasse para casa após o fim do primeiro semestre. “Não consegui me acostumar muito com o frio e foi muito difícil ficar longe de todo mundo em Itajaí, além de eu não ter gostado muito do curso. Foi muito difícil o semestre que fiquei longe. Eu poderia ter pedido transferência para outro curso na PUC, mas preferi voltar para casa e tentar em uma universidade de lá”, comenta.

fora de Curitiba que procuram nossos cursos. Além de receber bem os alunos brasileiros, a PUC tem como objetivo se tornar uma world class university (universidade de classe mundial), recebendo alunos do mundo inteiro” afirma. Atualmente, a sede da capital paranaense da universidade conta com cerca de 23 mil alunos de graduação, sendo 921 deles de 22 estados fora do Paraná. Em razão da proximidade, São Paulo e Santa Catarina são os estados que mais têm estudantes na universidade paranaense. “Neste segundo semestre, contamos com 384

alunos de São Paulo e 276 alunos de Santa Catarina. Mato Grosso do Sul e Mato Grosso também possuem uma representatividade grande no percentual de alunos em nossa universidade”, declara. Para alguns, uma mudança é um processo complicado e até um pouco assustador. Para outros, é uma aventura, um meio de conhecer novas culturas e buscar novos conhecimentos. Para atender todos os perfis de estudantes, as universidades buscam criar suportes para tornar essa experiência acadêmica a melhor possível.

Para Mariana, o maior problema para se adaptar longe de casa foi a saudade da família.

Além de serviços de apoio psicopedagógicos, algumas universidades contam com diretorias específicas para o relacionamento com alunos que vêm de outras cidades. A coordenadora da Diretoria de Relacionamento da PUCPR, Silvana Hastreiter, ressalta a importância de receber alunos de outras localidades e oferecer uma ótima estrutura para recebê-los. “Nós, cada vez mais, procuramos abrir as portas para estudantes de Jornalismo PUCPR Revista CDM

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Aliny Gohenski

Segundo a coordenadora, o impacto psicológico causado no aluno vai depender de sua estrutura. “Alguns alunos vêm mais preparados para enfrentar essa saída de casa, o início da independência e autonomia deles e conseguem se adaptar mais fácil. Outros vêm muito despreparados ainda, muito imaturos, sem noção do que eles vão enfrentar. Às vezes até um pouco iludidos com uma ideia fantasiosa sobre o que é viver fora de casa, muitos não conseguem se adaptar com facilidade, sofrem muito, alguns chegam a entrar em depressão ou até desistem do sonho de curso, de vida que eles tinham e retornam para as suas casas” relata.


tecnologia

Z Geração

Karyna Prado e Luana Kaseker

Tecnologia é elemento indispensável na formação da nova geração. O novo ciclo da infância de crianças e adolescentes 74

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tecnologia

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utebol, amarelinha, pião, bets, queimada, esconde-esconde, pega-pega são brincadeiras tradicionais da infância que acabaram se perdendo em meio ao avanço da tecnologia. Crianças e adolescentes passam seu primeiro ciclo de vida conectadas em seus tabletes, computadores e celulares, ou perdem boa parte do seu tempo ligadas na televisão e com os seus vídeogames. As crianças da chamada Geração Z, que nasceram a partir da segunda metade dos anos 90, têm mais afinidade com a tecnologia. Porém, essa superexposição aos aparelhos tecnológicos pode trazer riscos tanto para a saúde mental e física, como dificuldades de aprendizagem, déficit de atenção, atrasos cognitivos, perda de sono, obesidade e o risco de dependência. Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, o Cetic.br, entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, cerca de 82%, ou seja, oito em cada dez crianças, e jovens brasileiros entre 9 e 17 anos, usuários de internet, costumam acessar a rede

Karyna Prado

pelo celular todo ou quase todos os dias. Nicoly Sanguino tem 13 anos e comprova a pesquisa. Ela posta fotos, atualiza as redes sociais, comunica-se com amigos e familiares durante boa parte do dia. Segundo a jovem, ela gasta muito tempo conectada. “Fico com o celular quase o dia todo, só não uso no período da manhã, horário no qual eu estudo. Muitas vezes, eu acabo passando muito tempo conectada e esqueço das minhas prioridades. Hoje, eu não consigo ficar longe de alguma tecnologia, pois parece que tudo gira em torno delas”, afirma a adolescente. O uso moderado de computadores e videogames parece não afetar o desenvolvimento social da criança. É o que afirma o psicólogo Tonio Dorrenbach Luna, que não vê o avanço tecnológico como um prejuízo para a Geração Z. “Necessariamente, não acontece um prejuízo se não houver um excesso de uso da tecnologia, em detrimento de outras atividades. Penso na ideia de troca de brincadeiras de rua, pela internet, como um fator inevitável, talvez uma pena para quem é da geração de brincadeiras de rua. As crianças de hoje em dia precisam ser estimuladas a fazerem outras atividades”, disse o psicólogo. Cada vez mais cedo os pais precisam estimular essas atividades. No caso de Leonel Maccari, de 4 anos, a paixão é pela televisão. Desde pequeno, o garoto teve contato com desenhos por conta da mãe, a jovem Iáskera Maccari. De acordo com ela, o fato de querer entretê-lo enquanto fazia os serviços de casa acabou influenciando o menino a assistir mais TV. No entanto, a jovem busca balancear as brincadeiras externas com o tempo em função da tecnologia.

“Eu mostrava alguns desenhos para ele desde pequeno. E hoje ele não fica necessariamente com celular ou tablet, mas em frente à TV. É o tempo todo. Assiste desenho o dia inteiro se deixar. Por muitas vezes já fui com ele até a rua de casa, para brincar de bicicleta, skate ou qualquer outra brincadeira, mas ele se interessa pela brincadeira por, no máximo, 30 minutos”, conta a mãe.

Leonel tem 4 anos e já troca os brinquedos pela tecnologia.

Recursos Em contrapartida, a utilização precoce dos aparelhos tecnológicos pode auxiliar no processo de aprendizagem de crianças e adolescentes. “Existe um aprendizado crescente no uso da internet. Novas gerações já estão nascendo em ambiente tecnológico. Existem várias vantagens, especialmente nos processos educacionais. Recursos como vídeos, entre outros, facilitam muito a aprendizagem”, explica Tonio Dorrenbach Luna. O pensamento do psicólogo vai de encontro com o de Iáskera Maccari. Para ela, é impossível que Leonel não fique exposto à tecnologia, mas ela fará o possível adiar e dosar esse contato. “Sou adepta da opinião que criança tem que ser criança, tem de aproveitar o que a infância proporciona. Não digo que ele jamais terá seu próprio celular, só afirmo que o máximo que puder adiar isso, adiarei”, finaliza. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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entretenimento

Bombou

no

Youtubers curitibanos conquistam seu espaço e atraem cada vez mais vizualizações em seus canais. Tutoriais, músicas, filmes, seriados, peças teatrais e até novelas fazem parte do conteúdo da rede social Gabriela Fialho, Julia Baggio e Monique Benoski

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á alguns anos, a única plataforma que fazia com que pessoas anônimas se tornassem nacionalmente conhecidas era a televisão. Jamais poderíamos imaginar que o YouTube ou outras ferramentas

(câmeras, computadores, aplicativos e conexão digital), novos rostos conhecidos surgiram e ganharam seu espaço. Sofia Oliveira, Tesão Piá e Jessica Belcost têm algo em comum.

Sejam desde as gravações mais simples ou até aquelas que pedem cenários e edições com uma grande produção, essas personalidades encontraram uma forma de se destacar dentro deste cenário que, hoje, está repleto de novidades. A

“Tem que ter um planejamento e acima de tudo fazer o que gosta.” Cadu Scheffer, comediante. digitais se tornariam um meio de comunicação tão abrangente e democrático. Ao longo dos anos 2000, a produção de vídeos amadores transformou-se. Com o avanço das tecnologias da informação

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Três perfis distintos, três tipos de conteúdo, porém uma mesma paixão. De modo despretensioso, esses canais curitibanos ganharam milhares de fãs e seguidores fiéis em pouco tempo desde suas criações.

criatividade e o cuidado com os detalhes, precisam ser aliados de quem pretende manter um canal no YouTube, porém, a vida de Sofia Oliveiras, Jessica Belcost e dos integrantes do Tesão Piá nem sempre funcionou desta forma.


entretenimento

Gabriela Fialho

Jessica Belcost, a vlogueira Jéssica Belcost Inscrito Adicionar a

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Ela criou sua conta no YouTube, em 2011, por pura brincadeira. Jéssica Belcost, de 27 anos, conquistou seu público na internet falando sobre moda, beleza, vida pessoal e fazendo tutoriais criativos. No início, gravava e editava os vídeos no seu próprio celular, sem nenhum tipo de tecnologia apropriada. Com o passar do tempo, adquiriu câmeras de melhor qualidade, luzes e equipamentos. O canal abriu também possibilidades para a criação de seu blog Keep Calm and DIY. Os principais vídeos do canal são gravados no seu próprio quarto, o que se encaixa no perfil de proximidade que a youtuber tenta passar para quem assiste. “O que as pessoas querem ver na internet, é vida pessoal. Se elas quiserem ver notícias podem buscar outros meios de comunicação. Os vídeos fazem você ficar muito íntimo das pessoas”, afirma. Trabalhar com o YouTube torna-se um trabalho sério e a fideliza-

Mais

ção do público requer uma credibilidade que se constrói com o tempo. Por esse motivo, a rotina semanal de Jéssica gira em torno de suas produções que vão ao ar todo domingo e quinta-feira. Quando falamos sobre dicas para quem pretende seguir o mesmo caminho, a youtuber brinca e diz que seus conselhos são um tanto quanto desmotivadores, pois esse tipo de mercado ,atualmente, já está bem disputado e existem milhares de canais e blogs surgindo todos os dias. “Se a pessoa quer se destacar, ela tem que fazer um conteúdo muito diferente e de boa qualidade. Dificilmente vai conseguir ‘bombar’ de primeira, por isso, se você está decidido a fazer, não desista, pois é um processo lento e de muita paciência”, explica. Quando o assunto é conciliar a vida pessoal com a profissional, Jéssica afirma ainda ter certa dificuldade. Ter que se dividir entre seu canal e seu namorado é como ter que escolher entre dois

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amores. “Estou namorando há quatro meses e acho que ele ainda está num processo de entender o que é o meu trabalho. Esses dias, por exemplo, estávamos jantando e eu estava respondendo algumas leitoras, e ele disse ‘Larga isso’. Sei que preciso me controlar, e saber dividir as horas para cada coisa, mas ele também tem que compreender que é o meu serviço (risos).”

Serviço YouTube / 1VanillaGirl Facebook /KeepCalmDIY Twitter @ JessicaBelcost Instagram @jessicabelcost

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entretenimento

Gabriela Fialho

Tesão Piá, os humoristas Tesão Piá Inscrito Adicionar a

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Djanho, piá, dolangue, vina, japona, penal, gengibirra, carro dos sonhos, Oil Men, toró, no galeto, migué, larguei os bets, chineque. Essas são algumas das expressões que só quem é curitibano ou vive em Curitiba entende e que ditam o roteiro do grupo Tesão Piá, que conquistou mais de 90 mil inscritos no canal do YouTube e ultrapassam 138 mil curtidas na página do Facebook. Os youtubers Cadu Scheffer, Fagner Zadra, Jéssica Medeiros, Luana Roloff e Samuel Machado formaram o grupo com o objetivo de fazer humor regional e retratar o cotidiano e a personalidade dos curitibanos. O grupo, que não estava esperando tanta repercussão com seus vídeos, começou a fazer as produções para a internet em 2013. O primeiro vídeo do grupo, ‘’Como se fala em Curitiba’’, viralizou e caiu na graça do povo. Logo na estreia contabilizou mais de 100 mil curtidas. Cadu, Fagner e Luana já trabalhavam no meio

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artístico, Jéssica e Samuel tinham uma rotina “normal”, mas após o sucesso decidiram largar o que faziam para focar somente nessa área. Para a equipe, o YouTube é mais que entretenimento, é um negócio, uma boa forma de ganhar dinheiro. “Atualmente, vejo pessoas largando profissões e carreiras para trabalhar com a internet e se tornar um profissional nisso. Porém, não devem se frustrar ‘de cara’. Tem que correr atrás, ter um planejamento e, acima de tudo, fazer o que gosta”, relata Cadu. Quando o assunto é quem pretende seguir no ramo, o grupo deixa uma dica. “Achamos primordial ter sempre um roteiro bem produzido e com conteúdo bastante interessante. O foco da internet hoje em dia é principalmente o entretenimento. Não existe uma fórmula para o sucesso, mas existem vários fatores que ajudam muito nesse quesito. É preciso ter paciência, foco e

8.043 determinação em tudo aquilo que você deseja.” Manter o canal sempre com novidades é a grande preocupação dos colegas, que também têm um bom trânsito entre as crianças e, por isso, evitam palavrões. “Nosso grupo tem em comum acordo a questão de evitar os palavrões porque, na maioria das vezes, são desnecessários”, relata Zadra.

Serviço YouTube / tesaopia Facebook /TesaoPia Twitter @tesaopiaoficial Instagram @tesaopia

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entretenimento

Gabriela Fialho

Sofia Oliveira, a cantora Sofia Oliveira Inscrito Adicionar a

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Ela não pode ver um violão que já sai tocando e quando canta contempla a casa toda com sua voz. Sofia Oliveira, 16, já ultrapassa 700 mil seguidores em seu canal de covers no YouTube e já soma mais de 2 milhões no Facebook. A jovem, que se considera tímida, conquistou seus fãs com seu talento e carisma. Seus primeiros vídeos contavam com as curtidas mais intimas de amigas, pessoas da escola e de sua família. Há um ano, gravou e postou uma cup song com a música da cantora Anitta e, diferentemente de seus primeiros vídeos, viu seu canal estourar em um dia. “Minha rotina mudou de um dia para o outro. Em novembro do ano passado, o vídeo explodiu e eu demorei um tempo para me acostumar, foi um pouco difícil e agora aos poucos eu estou me adaptando”, explica. As críticas que antes incomodavam a youtuber, hoje servem de estimulo para amadurecer. Ela conta também com conselhos

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de seu pai, que sempre a ajuda e acredita que “é melhor você dar atenção para quem gosta de você do que para quem só está ali para aparecer.” A jovem entrou no YouTube a fim de realizar seu sonho de se tornar cantora. Hoje, ela enxerga o que antes era um hobby como um trabalho. “Muitas marcas me confundem com uma blogueira, mas tenho tentado inovar meu canal, para me diferenciar entre as demais. Eu sou procurada por muitas para divulgação. Normalmente já escolho as que eu conheço e sei como são”, afirma. O público de Sofia é formado por fãs de sua idade e por isso a jovem pensa muito antes de postar qualquer conteúdo. O assunto chega a ser tão sério que ela prefere falar ao telefone com suas amigas a mandar mensagens que possam lhe comprometer futuramente. “Uma vez tive que gravar um vídeo duas vezes, porque na minha camiseta estava escrito um palavrão em inglês”, conta.

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Os ambientes de sua casa servem como cenários para a maioria de seus vídeos, mas seu quarto e o de sua irmã são seus locais preferidos. A jovem cantora tenta manter a vida de uma adolescente normal, se organiza para trabalhar de segunda a sexta e para ter um tempo livre no fim de semana para aproveitar com a família, amigos e namorado.

Serviço YouTube Sofia Oliveira Facebook /SofiaOliveiraOficial Twitter @sofioliveiraa Instagram @sofia

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Divulgação

cultura

Made in

Curitiba

Artistas paranaenses ganham popularidade e se destacam no cenário da música nacional Por Manuella Niclewicz e Lara Pessôa

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o contrário dos grandes teatros, as casas noturnas se tornaram palco de artistas paranaenses. Por mais que o mercado da música nacional esteja saturado, Curitiba consegue se destacar no lançamento de grandes nomes da área que reúnem, há tempos, diversos admiradores espalhados pela cidade. A mistura de ritmos é outro fator importante para a cidade ter se tornado influente espaço para grandes personalidades da música. É artista para todos os gostos e estilos: sertanejo universitário é sensação entre o público mais jovem enquanto o rock and soul atrai os mais velhos e, por incrível que pareça, até o rap – não tão popular em terras mais conservadoras – vira batida de sucesso. Entretanto, o rumo ao estrelato não é tão glamuroso quanto parece, na medida em que um artista passa por diversas dificuldades antes, durante e depois de garantir a fama.

Do Boqueirão à Champs Elysées Durante uma semana agitada de shows no São Paulo Fashion Week, voltando de uma turnê na Europa e se preparando para seguir em direção à Austrália, a rapper curitibana Karoline Rodrigues dos Santos, conhecida como Karol Conká, tem energia para dar e vender. “As pessoas reclamam demais da vida!”, alerta. Aos 15 anos, apresentou um rap na escola inspirada em uma música dos Racionais que havia ouvido no rádio. “Na escola, o pessoal curtiu o trabalho que eu fiz e, desde então decidi, é isso que vou fazer da minha vida!”, conta. Em um primeiro momento, sua mãe não gostou da ideia, pois achava o ritmo muito pesado. “Mas eu sempre tive uma garra presa aqui dentro que só consegui soltar quando comecei a fazer rap”, reflete Karol. A cantora sofreu discriminação


Marcos Willian

cultura

Karol Conká iniciou com o rap em um trabalho da escola.

desde os 5 anos, principalmente na escola, onde foi chamada de “negra favelada” e “macaca” até por professores. “Aos poucos fui criando uma personalidade libertária e o intuito de despertar nas pessoas a vontade de ser quem elas são! E é com este objetivo que sigo em frente até hoje”. “Além de aguentar a discriminação também vi muita coisa! Eu conhecia os meninos que mexiam com droga na região onde eu morava, mas por sorte nossa família nunca teve este problema. Creio que por causa da educação que os meus pais deram. Mas a violência é algo que marca”, discorre Karol. A desgraça, no entanto, atingiu a família de outra forma. O pai, Odair, sucumbiu ao alcoolismo com apenas 34 anos. Foi recolhido bêbado na rua e carregado para casa. Ao levantar do sofá, tropeçou e, no chão, acabou asfixiado pelo próprio vômito. Karol tinha 14 anos. “É a sombra que me acompanha. Eu me senti culpada, mas fui entendendo aos poucos que era uma doença”, confessa. Ela lembra que, ao andar de ônibus, colocava a cabeça para fora da janela e imaginava que estava “fazendo um clipe”. Estudou em Curitiba até o terceiro ano do ensino médio quando percebeu que não adiantava ficar escrevendo e cantando para os amigos e decidiu se aventurar em São Paulo.

“A escola sempre foi uma tortura para mim, eu precisava me libertar e tentar a vida de artista”. Aos 19, Karol assumiu o papel de

Artista Revelação, concorrendo com nomes como Anitta e teve a faixa “Toda Doida” eleita como uma das dez melhores músicas do ano pela versão brasileira da revista Rolling Stone. Além disso, a canção “Boa Noite” foi escolhida para fazer parte da trilha sonora do game Fifa 14. “Estou levando o meu nome e o da minha cidade a lugares que pouca gente chegou. Eu falava que as pessoas iriam comentar do Boqueirão e me tiravam pra louca”, diz Karol. A aposta dela, no momento, é o seu novo álbum - Tombei. A curitibana entrou para os estúdios, gravou 3 músicas em Paris e está estudando novas sonoridades, como música angolana, house e a história dos negros no mundo.

“Estou levando o meu nome e o da minha cidade a lugares que pouca gente chegou. ” Karol Conká, cantora mãe de Jorge, seu único filho. O que muitos acreditavam ser o fim da trilha do rap para a curitibana foi somente uma parada estratégica. Alguns anos depois, amadurecida pela maternidade, serena e bem-humorada, retomou os exercícios com as palavras. Não demorou muito para chamar atenção. Integrou o conjunto Agamenon, em seguida fez parte do Upground Beats. Ainda sem ganhar dinheiro com a música, Karol trabalhou como atendente de telemarketing e secretária até 2011. Enquanto isso, encontrou como aliado o produtor Nave, igualmente curitibano, com quem elaborou o CD Batuk Freak. Em abril de 2013, ela lançou o álbum que, em uma semana, obteve mais de 20 mil downloads na internet. No mesmo ano, ganhou o Prêmio Multishow na categoria

Também pintaram convites para a artista participar de filmes. “Tenho muitos planos ainda. Se acontecer, será maravilhoso, mas o que eu quero mesmo é ser a Oprah Winfrey brasileira”, dispara, rindo.

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cultura

Diretamente da Vila Sandra, comunidade carente no Campo Comprido, Michele Mara jamais imaginou alçar voos tão altos e ter o reconhecimento de milhares de admiradores. A artista, que venceu o concurso “Maior Imitador da América Latina”, interpretando músicas da Aretha Franklin, iniciou a carreira musical bem cedo quando, aos 10, esbanjava seu vozeirão em uma banda da igreja. Com uma família de músicos, Michele seguiu no grupo até completar 27 anos. Formada em Canto Popular pelo Conservatório de MPB de Curitiba, a jovem foi convidada, em 2007, para participar de um show da banda Seven Side Diamond em tributo ao Pink Floyd e foi assim que as casas noturnas da cidade entraram em sua vida. Após o convite, a cantora montou o Black Mi Ma, trio composto por ela, Karol Conká e Gisele Mariah, focado no estilo musical soul. Ao ser questionada sobre as dificuldades que enfrentaram, Michele garante que houve várias e que “uma vez ganhamos um cachê de R$ 9,90”. Atualmente, cursa Musicoterapia na Faculdade de Artes do Paraná (FAP) e sente-se realizada profissionalmente. Entretanto, se engana quem pensa que o percurso para Michele alcançar a merecida popularidade foi simples. Ela já foi vítima de preconceitos, passou por momentos delicados na família e até sofreu agressões físicas. Com um histórico bastante semelhante ao de Karol, Michele perdeu o pai, também músico, quando tinha 16 anos, em decorrência do alcoolismo. A relação da cantora com o pai, Gilson Domingos, era muito próxima. “Ele tocava samba naquelas rodas de viola e a nossa relação era realmente demais. Era muito boêmio e, na verdade, foi a boêmia que o matou.”

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Para tentar amenizar a saudade e, em forma de homenagem, Michele carrega o sobrenome do pai tatuado no punho direito. “Sinto muita falta e, como ele nunca me viu cantar, acho que

que sua vida mudou depois de ter participado de programas de televisão. “Ganhei um destaque no mercado, foi um salto muito grande. Uma cantora desconhecida de Curitiba cantar Aretha?

“Uma vez cheguei a receber um cachê de R$9,90 .” Michele Mara, cantora ficaria bastante orgulhoso em ver em quem eu me tornei. Sempre será o meu herói.” Aos 23, Michele resolveu mudar o rumo de sua vida. “Tive um casamento que deu todo errado. Meu ex-marido passou a ser agressivo pelo uso de drogas e cometia violência doméstica quase todos os dias. Depois que me separei, queria mudar e, por isso, me dediquei aos estudos”, afirma. Sem dinheiro para se vestir e, muitas vezes, tendo que dividir comida, Michele garante

Mudou tudo! Fui criada pra ser dona de casa, não tinha uma perspectiva de vida boa pra mim”, comenta. Outro segredo da vida pessoal da curitibana é que ela ama cozinhar. “Como moro sozinha, preciso me alimentar e gosto de comer comida boa, amo me aventurar na cozinha. Macarrão pra mim é a coisa mais gostosa do mundo, minha comida preferida”, revela. A cantora, que namora um africano, ensina um molho típico da Nigéria, o qual diz ser o seu

MOLHO AFRICANO Ingredientes: - 5 tomates - 1 cebola - 1 pimentão vermelho - 200ml de água

Modo de Fazer: - Bata os tomates, a cebola e o pimentão no liquidificador e misture com a água. Depois, tempere com sal e com a pimenta.

- Sal e pimenta-do-reino a gosto

Michele Mara ensina a preparar o seu prato favorito.

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Manuella Niclewicz

Vila soul Sandra


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preferido. “Intitulei de ‘molho africano’ pois foi ele que me ensinou, é um molho muito fácil de fazer e é bem saboroso também.” Guerreira e bastante religiosa, hoje, aos 34 anos, Michele se considera completa. A artista também já testou outros talentos e teve a experiência de gravar um longa-metragem - ainda não lançado - ao lado de Tiago Abravanel e protagonizar musicais nos teatros de São Paulo. “O nome do filme é Amor em Sampa, uma comédia romântica musical que conta cinco histórias que vão se entrelaçando até chegar na minha. Acabei descobrindo um outro lado da Michele Mara”, diz, aos risos.

Julio Garcia

Michele Mara, ícone na capital paranaense, é exemplo de superação e conquista. A jovem, que enfrentou preconceitos, passou por momentos delicados na família e chegou até a sofrer agressões físicas, hoje se sente realizada em todos os sentidos. Jornalismo PUCPR Revista CDM

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cultura

O Embaixador da Boa Vontade

Dani Martins e Deise R

De portas abertas, com muita simpatia e sorro. Foi assim que Zé Rodrigo recebeu a equipe da CDM em sua casa no bairro Campina do Siqueira, em Curitiba. Psicólogo de formação e músico por opção, Zé abriu mão de sua graduação pelo desejo de se tornar artista. “Até cheguei a ir para fora do país visitar universidades para fazer mestrado, mas percebi que eu estava a 3% do caminho para me tornar um bom psicanalista e a 30% de conseguir seguir uma carreira musical. Então, por que não seguir esse sonho?”, argumenta. Apaixonado pelo que faz, Zé Rodrigo não obteve o apoio de seu pai na decisão de se tornar um artista. Advogado e bastante conservador, o pai acreditava que o filho não obteria futuro nesse ramo. “Felizmente, a gente sempre tem uma coisa facilitadora na vida chamada mãe!”, brinca, ao ser questionado sobre como lidava com a situação. Gente como a gente, o músico garante não se arrepender da escolha que fez. A paixão pela música veio ainda na infância, quando simulava tocar bateria com colheres de pau nas panelas de sua mãe somente pelo prazer de fazer sons. Aos 12 anos, ganhou sua primeira bateria de verdade, instrumento que aprendeu a tocar sozinho antes do violão e da guitarra. Aos 17, Zé integrava uma banda e já realizava shows em todo o estado. “Saía de casa com os amigos em uma van, viajávamos para as cidades vizinhas, tocávamos e voltávamos no mesmo dia”, lembra. O trajeto era corrido porque tudo tinha que ser sempre escondido do seu pai. “Ele pensava que eu estava indo às baladas até o dia

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Zé Rodrigo abriu mão da psicanálise para se tornar um artista.

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“Infelizmente, a música no Brasil é vista como entretenimento e não arte e cultura como na maior parte dos outros países. ” em que me viu em uma matéria sobre a banda no jornal”, conta. Em 1989, foi convidado para se tornar o baterista da tradicional banda curitibana Metralhas Beatles Again, a qual foi o primeiro músico a integrar o grupo depois da formação original. Em decorrência do convite, o pai de Zé passou finalmente a reconhecer o trabalho seu trabalho, afinal, o conjunto era referência para sua geração. Quanto à atividade musical, o fã de Renato Russo explica que a grande dificuldade para quem não escreve músicas autorais aqui no Brasil, é que as pessoas não valorizam a profissão de intérprete em nosso país. Ainda assim, acredita que, entre todas as dificuldades, a mais alarmante de todas é a de que “o Paraná não tem ídolos e não reconhece os seus artistas locais”.

Estados Unidos como novo palco para sua carreira. Na mesma época chegava em Curitiba a World Sports Alliance (WSA), instituição intergovenamental com o objetivo de desenvolver projetos culturais para a Copa do Mundo de 2014. O encontro de Zé Rodrigo com a WSA rendeu a ele a nomeação como embaixador da boa vontade, título concedido a artistas como Angelina Jolie, Bono Vox e Harrison Ford, por meio do qual ele representa o Brasil nas decisões da instituição. Com algumas viagens a Nova York, o curitibano se lançou no

Agora, com 45 anos , o novo empreendimento dele na capital é o The Original Soul Rock Club, um bar que conta com o objetivo de unir música e gastronomia, reforçando a proposta de dar mais atenção e espaço aos músicos locais. Mas, a maior novidade da agenda do intérprete está nas apresentações semanais no Hard Rock Café do Brasil, às terças-feiras. Tempo livre? Quando tem, é exclusivamente dedicado à namorada, idas ao cinema e, claro, para sua coleção de guitarras. “Sou uma criatura meio osmótica”, finaliza, aos risos. Zé Rodrigo e Michele Mara também são grandes amigos desde suas épocas mais díficeis. Além disso, ela é atração confirmada no bar de Zé em quase todos os finais de semana.

Divulgação/QUIDesign

Zé Rodrigo, cantor

mercado internacional e mostrou o seu talento em importantes casas noturnas por lá. “Infelizmente, a música no Brasil é vista apenas como entretenimento e não arte e cultura como em outros países”, admite.

Em 2013, era a hora de Zé Rodrigo conquistar novas fronteiras e ampliar seus horizontes. Para isso, escolheu os Zé Rodrigo e Michele Mara: amizade além da música Jornalismo PUCPR Revista CDM

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coluna

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lugares para

comer barato Quando bate a fome, quem vem a Curitiba, ou até mesmo quem mora na cidade modelo, encontra um grande leque de opções de bares e restaurantes. Mas se o dinheiro está curto, fica sempre aquela dúvida “onde eu vou?”. Para quem pensa que a melhor escolha é ir para casa ou que para comer bem é preciso gastar muito, nós separamos quatro opções de restaurantes com aquele “precinho camarada”.

Dayanne Wozhiak, Daniela Gusso, Luciana Prieto e Marina Creplive

Divulgação

Whatafuck Hambúrguer é uma delícia americana que já se tornou tradição no Brasil! Com diversas casas espalhadas por Curitiba, o Whatafuck chega como opção para quem deseja saborear o prato e gastar pouco, que sai por apenas R$ 10,00. O estabelecimento também segue a moda de comida na calçada, além de chamar os pedidos de um jeito bem humorado por meio de um microfone. E tem mais: os hambúrgueres chegam ao balcão descendo por um escorregador! O chopp também é um diferencial, contando com diversas opções e estilos para os amantes da bebida. A última dica é pra anotar na agenda: toda quarta-feira o bacon é free!

Avenida Vicente Machado, 845, Batel Telefone: (41) 3408-7336 Horário de funcionamento: Quarta a domingo: a partir das 18h.

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coluna

La Santa Bar e Cocina Mexicana Quem passa pela Rua Paula Gomes estranha a quantidade de pessoas comendo comida mexicana ali, na rua mesmo. Desde 2013, o La Santa Bar e Cocina Mexicana carrega um “espíritu libre” e oferece a seus clientes a cozinha mexicana por um preço camarada e a vivência da cidade como experiência gastronômica. Divulgação

Com pinturas marcantes nas paredes e uma atmosfera que nos leva ao México, o cardápio com nachos e tortilhas complementa a experiência. Além disso, os drinks e cervejas são boas opções para curtir a noite curitibana. Com menos de R$20, você pode dizer que viveu um pouquinho do México sem sair do seu país. R. Paula Gomes, 485 - São Francisco Telefone: (41) 3232-8899 Horário de funcionamento: Terça a domingo: 18h às 0h

Chicken House Chicken House Cenário inspirado no Rock n’ Roll, comida e bebida por um preço justo. Esse é o Chicken House, vizinho do La Santa Bar e o queridinho quando se trata de frango frito – o prato principal da casa. Para quem é fã de rock clássico, à lá Pink Floyd e Kiss, as referencias estão por toda a parte, das paredes à música. Como há variedade entre pratos e bebidas, os sócios Thiago Moura e Rogério Furtado estão sempre disponíveis para dar dicas de combinações, para não errar. Além disso, na página de facebook do bar, diariamente é possível conhecer as promoções do dia, como combos de sanduíche e cerveja a R$ 13,00. Rua Paula Gomes, 481 - São Francisco Telefone: (41) 9689-6898 Horários de funcionamento: Terça a quinta: 18h às 23h; Sexta e sábado: 18h às 0h; Domingo das 18h às 23h.

Pizza Outro estabelecimento que carrega um olhar jovem e um ambiente despojado é o Pizza. A fatia sai por R$5, além de contar com vinhos, sucos e cervejas que custam entre R$8 e R$15.

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O ambiente caiu no gosto do público jovem que aproveita a informalidade do local para degustar a pizza na calcada, além disso, o Pizza é o lugar perfeito para quem sai com fome dos bares e baladas da região.

R. Trajano Reis, 289 – São Francisco/R. Vicente Machado, 787 Telefone: (41) 3117-5121 Horário de funcionamento: Terça a quinta: 19h às 1h; Sexta e sábado: 19h às 03h

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turismo

É de casa Um hostel é mais do que um local de hospedagem. É um ambiente de convívio, troca de experiências e muita aprendizagem Texto: Aryane Monteiro

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m hostel (estrangeirismo, frequentemente sinônimo de albergue) é um tipo de acomodação que se caracteriza pelos preços convidativos, quartos e banheiros compartilhados. Apesar de já encontrarmos alguns lugares com quartos duplos ou com suítes para casais, os espaços têm como principal característica áreas inteiramente dedicadas ao convívio entre os hospedes. Foi o que descobriu o gaúcho Evandro Consul, que há dois meses e meio chegou a um hotel no centro de Curitiba e sua reserva não havia sido feita. Como já era tarde, o taxista o levou ao Curitiba Backpackers Hostel, no bairro São Francisco, dizendo que na manhã seguinte voltaria para, juntos, encontrarem um hotel melhor. Ele chegou por acaso e descobriu que o lugar tinha bem mais do que hospedagem a oferecer, e sim, uma experiência. “Eu nem sabia o que significava hostel. Cheguei e quando fui dormir estranhei o fato de os quartos serem compartilhados. Mas, como eu estava cansado, tudo bem. Quando eu acordei e vi o pessoal tomando café, eu já senti uma coisa diferente, como se eu estivesse em casa.” O gaúcho conta que a primeira sensação que teve foi que não teria muita liberdade, mas que hoje já mudou completamente de opinião. “O pessoal se respeita

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muito. Quem está assistindo a um filme no quarto, não vai assistir ao filme, ou ouvir uma música, muito alto. Muitas vezes dividimos quartos com estudantes que vêm para alguma prova e precisam descansar. Então, a gente consegue manter cada um no seu quadrado, por mais aglomerado que esteja o quarto com seis ou sete pessoas.” O ambiente é muito colorido, organizado e sustentável. O lugar tem wi-fi gratuito e café da manhã. Além dos quartos compartilhados, oferece para aqueles que pagarem um pouco mais um quarto privado para casais. Tem ainda uma sala de TV, uma cozinha, onde as comidas guardadas na geladeira são etiquetadas com o nome de cada um para que um não coma o que é do outro.

Aryane Monteiro

Mesmo longe do Rio Grande do Sul, Evandro não deixa de tomar um chimarrão. Aryane Monteiro

A limpeza também é por conta do hospede e o lema é: “Usou, limpou, guardou”. Uma diarista é contratada para manter a limpeza geral, mas cada um é responsável pelas suas próprias coisas. Os hóspedes ajudam a cuidar até mesmo da estrutura do lugar. Fazem serviços como pintar o deck, lixar e montar novas camas, de forma colaborativa. Segundo Evandro, quem está bastante tempo hospedado acaba se sentindo na responsabilidade de ajudar. Ninguém gosta de ver seu amigo trabalhando sozinho sabendo que também pode contribuir. “No hostel, a gente aprende a

Além de cuidar da secretaria, Heloise prepara as camas para os novos hóspedes.


turismo

Aryane Monteiro

mostra muito feliz com os amigos e as experiências que vive no ambiente. “Eu e meu amigo da França ficamos um tempo em um apartamento no Centro de Curitiba, mas eu não me sentia bem. Estamos aqui há quatro meses e eu tenho tudo como se fosse uma casa. Fiz muitos amigos, tem festa, churrasco. Tive a oportunidade de escolher ficar em uma casa com 25 franceses, mas acredito que aqui aprendo muito mais.”

A decoração é um dos principais atrativos. viver com pessoas de culturas e ideologias diferentes, tem liberdade, em um hotel você fica preso no quarto. Nós temos um tempo de trabalho, mas também temos muito tempo vago, então ajudar se torna até uma terapia. Eu, que antes pagava para fazerem estas coisas para mim, como lixar uma cama, hoje faço por livre espontânea vontade, para colaborar”, disse. Muita experiência, aprendizado e muita amizade. Amizade que chama atenção é a do gaúcho com os franceses Mathis Floury-Besnard e Thomas Bachelé. Os dois vieram do norte da França para estudar na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e têm Evandro como se fosse um pai dentro do hostel. “O gaúcho é muito divertido e famoso aqui. Ele tem 50 anos e agora está em um hostel. Ele gosta muito de estar aqui e eu gosto muito quando ele está”, conta Mathis. Esta também é a primeira vez que Mathis fica em um hostel e se

super amigos e, quando ele foi embora, foi bem triste”, conta Heloise. Evandro e Mathis preferem não pensar como vai ser quando tiverem que ir. “Eu vou sentir falta de tudo, mas principalmente das pessoas que conheci aqui”, afirma o francês. Já o gaúcho não tem dúvidas em afirmar: “Todas as próximas viagens vou ficar hospedado em hostels”.

Aryane Monteiro

A interação não fica só por conta dos hospedes. Quem trabalha também faz parte da família. Heloise Flores de Andrade é estudante de Hotelaria e a “faz-tudo” no hostel e, apesar de estar trabalhando no Backpackers há apenas dois meses, parece conhecer o lugar e as pessoas há muito tempo. “Eu já me sinto parte da galera mesmo. As relações são muito mais próximas do que em um hotel, onde você tem certa distancia do hospede. Em hostel, a gente se torna uma grande família.” Ela destaca o bom senso como a principal atitude para que as pessoas possam conviver bem dentro do espaço. “A gente aprende aqui a lidar com culturas e eu acho que bom senso é muito importante. Por ser um ambiente de muita liberdade, ter bom senso de saber respeitar, não só culturas diferentes, como os horários, o espaço de cada um, é fundamental.” As experiências são contadas em meio a risadas e muita diversão, mas quando o assunto é ir embora do hostel o sentimento expressado por todos é o mesmo: a tristeza. “Toda semana meu coração se parte um pouquinho. Por exemplo, teve um hóspede que chegou para ficar quatro dias e acabou ficando três semanas, ficamos

Thomas e Mathis usam os computadores do hostel para estudar.

Como escolher Listamos quatro motivos para você escolher um hostel na hora de viajar é um gran1 Odepreço atrativo na hora

da escolha, você vai economizar.

novas 2 Conheçerá culturas e fará novas amizades

vai se sentir 3 Você em casa outras ma4 Terá neiras de passar o

tempo que não seja só vendo tv dentro de um quarto

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coluna

Thauane Mayara

Gruta do Bacaetava

Circuito alternativo

E quem disse que nas redondezas da Grande Curitiba não é possível encontrar rotas que reservam verdadeiros mistérios e muita aventura? Localizada no município de Colombo, o Parque Municipal da Gruta do Bacaetava é uma dessas atrações que surpreendem aos olhos de quem contempla as maravilhas da natureza que foram esculpidas em pedra bruta durante milhões de anos. Descoberta pela família tradicional família italiana Gasparin em meados do século XIX, a gruta oferece aos visitantes que fazem o Circuito Italiano de Colombo uma das melhores experiências que une história, aventura, mistério, adrenalina e uma paisagem de tirar o fôlego!

5 destinos para conhecer perto de Curitiba que reservam atrações de encher os olhos

texto por Jordana Machado e Thauane Mayara

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Colônia Witmarsum

Thauane Mayara

Povoada por imigrantes vindos da Alemanha no início do século XX, a Colônia Witmarsum pode ser considerada o cantinho mais germânico do Paraná. Localizada no município de Palmeira, a cerca de 50 km de Curitiba, Witmarsum reserva diversas atrações especiais para quem gosta de história e natureza. Idealizada pela comunidade menonita paranaense, o local oferece um roteiro exclusivo que conta com belas paisagens, pousadas, museus, cafés, além da receptividade e hospitalidade de uma comunidade tradicional alemã que possui cerca de 2 mil habitantes.


Thauane Mayara

Thauane Mayara

coluna

Morretes e Antonina Um pouco mais distante da capital, indo em direção ao litoral paranaense, Morretes e Antonina são paradas obrigatórias para quem deseja conhecer mais sobre a cultura tradicional paranaense. As cidades irmãs reservam atrações marcadas por diversos pontos turísticos famosos, como o pitoresco centro de Morretes que conta com restaurantes, praças e o coreto; já em Antonina, a grande atração fica por conta da Ponta da Pita, que guarda um visual vislumbrante para quem deseja contemplar um belo pôr-do-sol ao fim do dia. O acesso as duas cidades pode ser feito pela BR 277 ou pela Estrada da Graciosa, outro ponto turístico indicado para quem deseja viajar admirando as belas paisagens naturais que podem ser encontradas na beira do caminho. Para quem vai a Morretes o passeio pode ser feito também por trem, uma opção a mais para quem não abre mão de muita aventura e de um trajeto alternativo. Os trens partem da Rodoferroviária de Curitiba todos os dias oferecendo opções de acomodação para todos os gostos e bolsos.

Prainha (Pontal do Sul) E já que estamos falando em ir em direção ao litoral, que tal dar uma passadinha em uma das praias naturais mais belas (e até então secretas) da nossa orla litorânea? Em Pontal do Sul, antes de chegar ao trapiche que leva os turistas à Ilha do Mel, encontra-se a “Prainha”, balneário localizado em uma região conhecida como Mangue Seco. Próximo a Ponta do Poço, a Prainha é um local de águas claras e tranquilas, um destino perfeito para quem gosta de mar, sol e esportes náuticos. Na pequena orla que tem seu acesso facilitado por trilhas percorridas a pé, os turistas podem aproveitar a calmaria e o sossego da região em diversos pontos repletos de árvores, sombra e um mar tranquilo que agrada desde crianças, até quem gosta de praticar esportes como stand up paddle e caiaque. Da areia é possível avistar, a direita, o trapiche de Pontal do Sul e, logo em frente, o espetáculo fica por conta da vista que se tem da ilha mais doce do mundo – a nossa Ilha do Mel.

No município de São José dos Pinhais, para quem quer fugir da agitação da cidade, uma boa opção é reservar um fim de semana para conhecer a Colônia Muricy, que fica a 10 km do centro do centro da cidade. Fundada em 1978, sua origem remonta à história de dois povos vindos da Europa - os poloneses e italianos. Lá, uma das grandes atrações é o famoso Caminho do Vinho, trajeto que percorre toda a colônia e que oferece atrações turísticas como vinícolas, café coloniais, igrejas e várias fazendas.

Thauane Mayara

Colônia Muricy

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esportes

As cores de Campo Largo Maior clássico futebolístico do município, o duelo entre Fanático e Internacional completa 70 anos Aliny Gohenski, Guilherme Becker, Karyna Prado e Luana Kaseker

H

istórias, gols, rivalidade entre torcidas, vitórias heroicas, derrotas amargas e títulos inesquecíveis. Esses são alguns ingredientes que abrilhantam os clássicos de futebol. No Paraná, quando se fala em rivalidade é impossível não lembrar do duelo entre Atlético Paranaense e Coritiba. Entretanto, longe dos holofotes e a aproximadamente 30 quilômetros da capital do estado, um clássico amador com 70 anos de história tem os mesmos elementos que os grandes dérbis mundiais precisam ter. Fanático e Internacional são duas equipes de tradição de Campo Largo e completaram, em 2015,

70 anos de um dos maiores clássicos do Paraná. Os clubes da região central da cidade disputam campeonatos oficiais desde 1945, quando a Liga Campo-larguense de Futebol foi fundada. Durante estas sete décadas de muita rivalidade o que não faltam são histórias e lembranças do clássico Interfan. “No primeiro clássico oficial entre Fanático e Internacional, em 1945, o campo era cercado de madeira, com tábuas em pé e foi onde começou a rivalidade. O jogo foi o primeiro clássico federado e, na ocasião, a partida não terminou. Houve incidentes para o início da rivalidade, desavenças dentro de campo e, a partir daí,

começaram a definir quem seria torcedor de quem”, conta Alceu Mocelin Ferreira, atual presidente da Liga Campo-larguense. De um lado, o Fanático fundado no dia 29 de dezembro de 1944 e que tem em seu escudo as cores vermelho, azul e branco. O Leão da Baixada, como é conhecido pelos seus torcedores, tem 20 campeonatos Campo-larguenses e sete Taças Paraná, principal campeonato amador do estado. A torcida apaixonada torce, acompanha o dia a dia do time e faz exigências como em uma equipe profissional, como explica o presidente do clube, Braz Bianco. “A maioria que torce para time Guilherme Becker

Fundado em 1945, o Internacional tem 28 títulos da Liga de Campo Largo. 92

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Guilherme Becker

esportes

Fundado em 1944, o Fanático tem 20 campeonatos campo-larguenses.

da capital, torce para equipe daqui do mesmo jeito. É nítido o sentimento a cada partida. Então não podemos criticar a torcida de vir protestar, chutar porta e fazer exigências. É paixão”, revela Bianco. Assim como nos grandes clubes, os times amadores também contam com torcedores apaixonados que seguem as cores onde quer que estejam. Nelso (sem “n”) Nascimento, de 72 anos, acompanha o Fanático desde 1975 quando chegou à cidade de Campo Largo. Ele conta que a paixão começou após assistir a uma partida entre Fanático e Ferraria. Porém, para ele, nenhum jogo se compara à emoção de um clássico Interfan. “Todos os clássicos contra o Internacional são marcantes. Os jogos são sempre equilibrados, com altos e baixos. Uma hora a gente ganha, uma hora eles ganham. Mas nossa rivalidade é sempre dentro de campo, fora dele nós somos todos amigos”, lembrou o fanático torcedor.

Como em clássicos de proporções nacionais, os confrontos entre Fanático e Internacional movimentam o munícipio de Campo Largo. A rotina muda, as emoções ficam à flor da pele e a ansiedade toma conta daqueles que, principalmente, dedicam algum tempo a torcer pelos dois principais clubes da cidade.

2 a 0, os torcedores rivais foram recepcioná-los na entrada de Campo Largo.

“O clássico mexe com Campo Largo. É uma semana em que você dorme uma hora e não consegue dormir mais. Começa a pensar, a lembrar, amanhece o dia acordado. Então, é uma preocupação tremenda nessa semana, não é fácil”, afirma Nascimento, que já passou várias noites em claro na ansiedade de uma partida.

“A turma do Internacional foi recepcionar a gente lá no viaduto, com camisa e bandeira. Nós chegamos debaixo de chuva, todos chorando e o rival ainda abriu os portões do estádio, acendeu os refletores e queimou dez minutos de foguete. Eu estou contando e querendo chorar de tristeza, mas isso está engasgado e vai ter volta. Eu não sou um cara vingativo, mas a torcida estava toda esperando a gente, ia ser uma festa linda. O Internacional poderia estar torcendo pela gente, porque é a cidade, não, mas, eles queriam que nós perdêssemos”, relembra, com mágoa, Braz Bianco.

Apesar de toda magia que envolve um clássico regional, o presidente Braz Bianco revela que sua maior decepção no futebol até hoje, não foi após um clássico e sim por uma atitude do clube rival. Ele conta que quando o Fanático perdeu a final da Taça Paraná de 2014, para o Bandeirantes, por

A poucos quarteirões do estádio Angelo Antonio Cavalli, está a sede do Internacional. Clube fundado em 30 de maio de 1945, o Alvinegro de Campo Largo também arrasta uma multidão de seguidores apaixonados. Na história, o time preto e branco tem mais títulos regionais que seu

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esportes

Guilherme Becker

Nelso Nascimento viveu sete títulos da Taça Paraná. rival, totalizando 28 taças, porém, venceu apenas seis vezes a Taça Paraná, uma a menos do que o Tricolor. Com um grande equilíbrio na galeria de troféus, os torcedores do Internacional também têm motivos de sobra para se orgulhar de vestir o “manto” preto e branco. Após três títulos seguidos da Taça Paraná e igualar o adversário no número de conquistas, o ano de 2015 iniciou de maneira amarga após o Fanático faturar mais uma edição e novamente se posicionar a frente do Inter. A diferença mínima de taças entre os clubes reflete nos duelos dentro de campo. O torcedor Juarez Butture de Oliveira, de 57 anos, afirma que o clássico tem uma energia diferente, as equipes podem estar em situações distintas, mas, mesmo assim, fazem jogos equilibrados e sem favoritos. “Sempre entendi clássico como sendo o jogo da incógnita, porque você nunca sabe quem vai ganhar, independentemente da condição de um e outro. Parece que as forças emergem do nada. Aquele que está no chão se supera e derruba o outro. Todos os clássicos apresentam um perrengue, porque a paixão fala a flor da

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pele”, contou Butture. O torcedor que assumiu em 2007 o cargo de diretor de esportes da equipe já viveu histórias memoráveis com as cores do Inter. Desde alegrias, levantando troféu, até dias de tristeza, após derrotas doloridas. Porém, apesar das dificuldades de comandar uma equipe do futebol amador, Juarez explica como são os sentimentos às vésperas de um duelo com o maior rival. “Antes de um clássico a ansiedade toma conta, mas temos que nos manter serenos. Precisamos passar Guilherme Becker

para os atletas a tranquilidade. Você vai a uma guerra, mas não para matar ninguém. Tem que fazer com que ele brigue pelo título, mas sem deixar a ansiedade dominar. Mas é claro que também ficamos nervosos”, destacou o dirigente. Apesar dos recursos limitados dos quais o futebol amador dispõe, o que sustenta o clássico Interfan há 70 anos é a paixão de seus torcedores. Fanaticanos e Internacionalistas dividem Campo Largo, mas se doam igualmente em prol da tradição de um dos maiores clássicos do futebol paranaense.

Juarez Butture destacou importância de Tico Gionédis para a história do Inter.


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Nada mais atual do que preparar para todas as provas da vida. Descobrir o mundo, fazer novas amizades, aprender em equipe e chegar ao vestibular. A tradição de quase 200 anos dos Colégios Maristas continua atual nos dias de hoje pois tem uma base sólida de valores humanos, éticos e solidários. Para o Marista, não há nada mais atual do que trilhar uma jornada de desafios com os alunos, tornando-os protagonistas de suas próprias conquistas.

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Quase faltou braço pra trazer

tantos

troféus pra

Mas trouxemos casa.

mesmo assim. O Curso de Jornalismo da PUCPR é o grande campeão do 20º Prêmio Sangue Novo, com 18 trabalhos premiados. Parabéns a todos que participaram desta conquista!

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