Sem rumo
Situação das universidades estaduais preocupa professores e estudantes. Páginas 04 e 05
Ciências com fronteiras
Governo corta bolsas do Ciências sem Fronteiras. Página 06
Touchdown
Superliga Nacional de Futebol Americano começa em julho. Página 07
Curitiba, 30 de Junho de 2016 - Ano 20 - Número 284 - Curso de Jornalismo da PUCPR
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
Sem crise, é só R$1,99! Projeto Nossa Feira inaugura seis novos pontos em Curitiba.
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Cidades
Curitiba e suas novas feiras Por causa da crise, consumidores estão optando por fazer compras nas feiras e não nos mercados Maria Fernanda Gusso 1º período
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Prefeitura de Curitiba inaugurou seis novas feiras no projeto Nossa Feira nessa segunda-feira (27). Os bairros escolhidos para as inaugurações foram Uberaba, Novo Mundo, Campo de Santana, Xaxim, Parolin e Cidade Industrial de Curitiba (CIC), onde serão vendidas frutas e hortaliças por apenas R$1,99 o quilo. Cada vez mais é possível notar na cidade de Curitiba uma movimentação da população, que devido à crise, deixou de comprar em grandes supermercados e passou a procurar preços mais baratos em mercados de bairro. Esse fator vem ajudando muito a fomentar projetos como o Nossa Feira, agora presente em vários bairros da cidade. Curitiba oferece, atualmente, um total de 20 feiras do projeto, realizadas de segunda a sexta-feira em diversos locais da cidade, segundo o diretor da Secretaria Municipal do Abastecimento (SMAB), Onivaldo Vasconselhos.“Esse ano o número de feiras na capital sofreu um aumento significativo, subindo de 10 para 20 unidades, devido à demanda e aceitação da população”. Vasconselhos acrescenta que “o foco inicial era atingir o público das classes C e D, mas por conta da crise atual e do serviço ofertado, a classe B tem se interessado”. De acordo com o diretor, esse ano ainda não tem previsão para mais inaugurações. Sonia dos Santos nos conta que sempre participa dessas feiras porque as frutas são mais frescas do que as
encontradas no mercado. Ela ainda declara que as feiras são importantes para o orçamento familiar, pois os mercados estão bem mais caros e assim pode-se economizar. Beatriz Osário comenta que também visita a feira toda semana. “O atendimento é ótimo e a qualidade dos alimentos é sem comparação com o mercado, as frutas e verduras são excelentes”. A gestão das barracas é feita pelas próprias cooperativas, recebendo auxilio da Prefeitura apenas na implantação e organização inicial da feira. “Um tanto dos produtos vem da Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Solidária (Copasol), que recebe dos produtores de São José dos Pinhais, e o outro vem de outras cooperativas que mandam para a Central de Abastecimento Estadual (Ceasa) ”, conta Gisele Scolar, coordenadora da feira do Alto Boqueirão. Os clientes dessas feiras chegam a economizar aproximadamente 52% em relação ao preço normal de varejo, segundo dados da Prefeitura de Curitiba. Esse fato, além de atrair cada vez mais pessoas para comprar em tais pontos de venda, ajuda a manter a fidelidade dos que já compram. A Prefeitura também possui um controle de qualidade dos alimentos que são enviados para esses locais, assegurando a população de que estão recebendo produtos saudáveis e de qualidade.
Expediente Edição 284 - 2016 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR
REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Luciana Prieto FUNDADOR DO JORNAL Zanei Ramos Barcellos FOTO DA CAPA Maria Fernanda Gusso 1º período
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Cidades
Será o fim da Prefs? Redes sociais da Prefeitura de Curitiba ficarão suspensas durante período de campanha eleitoral Vinicius Scott 3º período
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erca de 1 milhão de seguidores ficarão a partir das 18h de hoje (30) sem acesso às redes sociais da Prefeitura de Curitiba. A suspensão é uma determinação do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), que veda a divulgação de campanhas e ações da Prefeitura até a realização da eleição municipal em outubro. A publicação de notícias no portal da entidade (curitiba. pr.gov.br) e a página no Facebook serão suspensas, além de ter todos os tweets no perfil do Twitter deletados. Segundo a analista de mídias sociais da Prefeitura, Larissa Jansen, a determinação entra em vigor a partir de 2 de julho, mas seu departamento decidiu antecipar a suspensão. Ela conta que até as eleições, os cidadãos podem se informar pelo Central de Atendimento (156), e a assessoria de imprensa da Prefeitura continuará atuando.
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Larissa conta que o bloqueio temporário desses meios de comunicação é importante para desvinculá-los do “partidarismo”. Além disso, a analista ressalta que esses meios são independentes da atual gestão e serão reativados após o resultado da eleição. Por fim, ela comenta que a suspensão é uma maneira de respeitar o público durante as campanhas eleitorais, já que as redes sociais da Prefeitura servem para informar e não fazer publicidade partidária.
Interesse público ou campanha eleitoral? Segundo o professor de Jornalismo Digital Renan Colombo, a medida legislativa é necessária para evitar riscos. “Há uma barreira muito tênue entre o que pode ser considerada uma campanha eleitoral e o que é uma mera divulgação de informações de interesse público”. Ou seja,
o bloqueio serve para evitar que a divulgação de notícias de um órgão público seja na verdade publicidade favorável para esta entidade. No caso de Curitiba, a suspensão serve para evitar possíveis campanhas por meio das redes sociais, já que o prefeito Gustavo Fruet (PDT) compete por uma reeleição este ano. Colombo ressalta que esse cuidado transpassa as redes, pois é necessário também evitar que a inauguração de obras públicas pela atual gestão não seja considerada campanha partidária. O professor conta que a interrupção das redes sociais da Prefeitura vai afetar principalmente os jovens, que gostam das publicações lúdicas e informativas da entidade. Ele ressalta, porém, que a medida legislativa é para um “bem maior”, já que com isso garante que as plataformas digitais não serão palco para campanhas políticas. Os fãs Vinicius Scott
das páginas devem seguir o conselho da analista de mídias, procurando se informar até a eleição por outros meios. A estudante Amanda Mann, seguidora da página no Facebook da Prefeitura, concorda com o professor. Ela alega que em tempos de campanha eleitoral, é necessário não ser tendencioso e que a isenção seria difícil caso as redes da entidade continuassem durante esse período. Amanda lamenta, porém, a suspenção das redes sociais, já que os perfis da entidade são uma fonte de informações importante para muitos jovens. Ela afirma que a Prefs deveria ter procurado um modo de continuar informando sem fazer campanha política.
Uma Prefs descontraída A Prefeitura de Curitiba começou a engajar-se nas redes sociais em 2013. Larissa conta que desde a inauguração das páginas, a Prefs (apelido da entidade dada pelos internautas) procurou se destacar por utilizar a linguagem das redes, por meio de emojis, memes e piadas. Ela ressalta que o objetivo era não tornar as redes sociais meros replicadores de conteúdo do portal da Prefeitura. O público das redes tem entre 18 e 35 anos, e a analista de mídias conta que a atuação online aumentou o engajamento dos curitibanos em campanhas sociais, como doação de sangue e arrecadação de livros.
Página da Prefeitura no Facebook tem cerca de 850 mil seguidores
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Especial
A luta das universidades estaduais do Paraná Falta de dinheiro é a principal dificuldade enfrentada pelas instituições Caroline Deina Sophia Cabral Thais Camargo 3º período
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m um ambiente que tem como princípio gerar conhecimento, produzir um pensamento crítico e autônomo, assim como formar não somente profissionais, mas também cidadãos que contribuirão para futuras transformações sociais, as universidades estaduais lutam para cumprir esta missão, enfrentando problemas como a infraestrutura precária por conta da falta de dinheiro que cresce a cada ano.
víduos em sociedade e levando em conta os desafios que muitas universidades enfrentam para cumprir esta função, o Comunicare apresenta um raio-x sobre o assunto.
O Paraná conta, entre públicas e privadas, com 14 universidades, sendo sete delas estaduais: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Incluindo graduação, especialização, mestrado, doutorado, idiomas estrangeiros e pós-doutorado, a UEM possui cerca de 26 mil alunos distribuídos em toda instituição. Segundo o assessor de orçamento da UEM, SIlvestre Alczuk, a universidade fechou o ano de 2015 com cerca de R$ 6,3 milhões para o custeio das atividades de ensino, pesquisa e extensão e manutenção do Hospital Universitário Regional - UEM. Já em 2016, através da Lei Orçamentária Anual (LOA), foram alocados cerca de R$ 6,5 milhões. Para Alczuk, os limites orçamentários não estão comportando a
Considerando a importância da educação como provedora do desenvolvimento dos indi-
O Comunicare Diário, a partir desta edição, terá sempre uma reportagem de cunho investigativo, nos seus próximos semestres.
Situação das Universidades
Ranking Universitário Folha 2015 2º
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
3º
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
6º
Universidade Estadual de Ponta Grosa (UEPG)
7º
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
10º
Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro)
15º
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
Classificação das estaduais no ranking das universidades paranenses
execução das despesas previstas até o final deste ano, e alega que há necessidade de uma demanda de créditos adicionais, principalmente nas despesas de pessoal e encargos sociais. Além dos problemas de orçamento, o assessor relata quais os principais desafios enfrentados pela UEM. “Os problemas referem-se tanto ao repasse do custeio para o pagamento dos servidores, manutenção das atividades diárias, reposição de equipamentos de laboratórios e de uso cotidiano, quanto ao quadro de pessoal e término da construção de obras que se encontram inacabadas, que são indispensáveis para garantir o funcionamento da universidade”, explica. O professor do Departamento de Física, Breno Ferraz, ministra aulas na instituição há cinco anos, e também reclama da falta de estrutura, principalmente com os blocos que estão inacabados. Contudo, Ferraz aponta pontos positivos. “Nos últimos anos a UEM tem melhorado, mas acredito que ainda falte melhorar um pouco mais. Apesar disso, todas as salas em que ministro aulas são equipadas com computador e projetor multimídia”. Na UEL, que foi reconhecida pelo Ranking das Universidades Folha (RUF), no ano passado, como a melhor universidade estadual do Paraná e a quinta melhor do país, as greves de 2015 afetaram o calendário acadêmico. Contudo, por mais que as aulas tenham começado somente em abril, a estudante de letras vernáculas, Thais Rodrigues, se diz a favor das paralisações.
“As greves mostram que os professores e funcionários estão enfrentando problemas”. Por outro lado, ela ressalta a existência de grandes benefícios na instituição, como a biblioteca setorial e a internet wi-fi aberta.Por sua vez, o professor de ciências sociais Eliel Machado, há 18 anos na universidade, criticou justamente a internet precária, e também reclamou da falta de equipamentos e manutenção dos atuais prédios. Já a liberdade e autonomia intelectual, juntos com o quadro de carreira são características positivas para o docente. A justificativa dos problemas, fornecida pela assessora de comunicação da universidade, Ligia Barroso, envolve a falta de verba repassada pelo governo. “Em 2015 nós solicitamos R$ 29 milhões. A LOA aprovou R$ 23 milhões, mas apenas R$ 18 milhões foram repassados e, obviamente, não foi o suficiente”. Nesses casos, Ligia relatou que a universidade solicita uma suplementação, para que o governo forneça o valor que foi aprovado em lei, o que costuma acontecer com frequência, segundo a assessora. Mesmo assim, a UEL fechou o ano anterior com um déficit de R$ 1,5 milhão. Porém, engana-se quem pensa que esses problemas são restritos a uma única universidade. De acordo com a estudante de ciências sociais da Unioeste, Elora Marques, a falta de dinheiro, como motivo da greve, é um fato recorrente na instituição com cerca de 12 mil alunos.
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Especial Por ser o menor, entre os cinco campus da Unioeste, Toledo, segundo Elora, acaba sendo prejudicado por ser “das humanas”. Com menos projetos voltados para essa área, a estudante relatou que “o campus sobrevive apenas com a verba que recebe do governo, sendo que os outros sobrevivem também com verbas de projetos internos, mas a falta do repasse é a mesma e isso faz com que nossas necessidades básicas não sejam tão bem cumpridas”. Como parte do corpo docente, Jacqueline Parmigiani, também do curso de ciências sociais, não relatou nenhum problema referente à infraestrutura. A professora também não observou um prejuízo no calendário acadêmico com a recorrência de paralisações na universidade. Para o diretor do campus Toledo, Remi Schorn, a expectativa para 2016 é que a verba do repasse aumente. Já sobre uma possível greve para este ano, Schorn não acredita nessa hipótese.
Caroline Deina
forma, o orçamento aprovado não é suficiente para bancar as despesas de custeio da instituição”. Apesar disso, ele afirma que não há previsão de greve para 2016. O professor de medicina veterinária, Maicon Alan Paiva dos Santos, afirma que existem alguns problemas na universidade referentes à estrutura. “Alguns prédios são muito antigos, apresentando rachaduras, outros têm a parte elétrica comprometida”. Com relação às greves, Santos diz que interferem nas aulas, já que comprometem todo o conteúdo programado. Esses problemas destacados pelo professor também são ressaltados pela estudante Jaíne de Souza. A graduanda acredita que além das questões dos prédios e da falta de melhorias em laboratórios e hospitais escola, o problema maior se dê pela má administração do repasse que é feito pelo Estado. “Isso afeta desde a falta de energia em sala de aula ao não recebimento dos salários dos funcionários”. Ela afirma também que essas
Os prédios antigos das universidades apresentam problemas como grades enferrujadas e rachaduras 1,38 bilhão em 2014 para R$ 1,66 bilhão em 2015”, intitulando o Paraná como o estado brasileiro que mais investe em educação. Na UEPG, por sua vez, o professor e coordenador de assistência e orientação ao estudante, Milton Anfilo,
motivação dos alunos assim como em seu aproveitamento acadêmico. O coordenador conclui relatando que a relação entre direção e corpo docente funciona de modo aberto na universidade e que não há previsão de greve para esse ano.
“O orçamento aprovado não é o suficiente para bancar as despesas da instituição” Na UENP são cerca de 5,2 mil estudantes entre todos os campus. Segundo o assessor de comunicação Tiago Angelo, as principais dificuldades enfrentadas pela instituição estão relacionadas à falta de recursos tanto financeiros como humanos. Em relação ao ano de 2015, ele afirma que houve atrasos no repasse dos orçamentos, além de uma greve de professores. Para esse ano, Angelo relata que o valor de recursos fixados para a universidade pela LOA reduziu-se a 42% do previsto anteriormente. “Dessa
dificuldades prejudicam a rotina dos estudantes, bem como a sua formação. “Sem laboratórios com as devidas melhorias, o conhecimento é passado pela ‘metade’.” Ainda assim, Jaíne destaca a qualificação do quadro docente como um dos principais pontos positivos da UENP. A assessoria de imprensa da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, relatou que “mesmo no momento mais crítico de influência da crise nacional, o orçamento das universidades estaduais foi ampliado de R$
afirma que a falta de servidores administrativos, recursos financeiros para a manutenção dos espaços, prédios e equipamentos e a falta de uma política de assistência estudantil, são as principais dificuldades enfrentadas pela instituição. Para o ele, problemas como a falta de recursos ou de equipamentos podem ser superados, através dos professores, sem prejudicar os estudantes. Por outro lado, Anfilo diz que as greves têm maior interferência nas aulas, já que a paralisação influencia na
Estudante de letras português/espanhol pela UEPG, Emelline Crissis diz que apesar dos problemas enfrentados, a universidade oferece um grande número de projetos que contribuem para a formação profissional. O caso da Unicentro, que possui cerca de 13,8 mil alunos, também é preocupante com relação ao orçamento. Segundo o coordenador de comunicação, Danny Jesse Falkemback, no ano de 2015, a universidade recebeu apenas R$ 10,2 milhões dos R$ 13,7 milhões aprovados pela LOA.
Já em 2016, do total de R$ 9,7 milhões aprovados, estão programados para serem liberados R$ 9,5 milhões. De acordo com Falkemback, as necessidades não serão supridas e as contas da universidade ficarão em aberto. Para a aluna de licenciatura em matemática Joyci Caroline Gomes, o principal problema enfrentado é a redução da verba destinada aos alunos, que serviria para a limpeza de novos materiais nos laboratórios, saídas para atividades extracurriculares, e também para a alimentação. A aluna também diz que há problemas de infraestrutura no campus de Irati, onde estuda, como por exemplo a falta de rampas nas calçadas para portadores de necessidades especiais. Apesar dos problemas, a estudante relata que a instituição possui vários programas de inclusão social aos acadêmicos, como consultas fonoaudiólogas gratuitas para estudantes e para a população, além de projetos de desenvolvimento agrícola destinados a alguns cursos da instituição.
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Política
Bolsas do Ciências sem Fronteiras são cortadas Governo Federal afirma que crise econômica brasileira foi o fator principal para o corte de bolsas Ivo Tragueto 3º período
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studantes que estão fazendo doutorado no exterior estão apreensivos, eles que são dependentes do programa Ciências sem Fronteiras, do governo federal, não tiveram suas bolsas de estudos renovadas. Um dos motivos, segundo o governo federal, é que é necessário realizar cortes de verbas por conta da crise econômica pela qual o Brasil passa atualmente. A Fundação Coordenação de
Foreign Language (TOEFL), em português Teste de Inglês como uma Língua Estrangeira, teve seu exame recusado pelo Ciências sem Fronteiras na última hora. Siriaki diz que escolheu a Holanda porque era o único país que oferecia o programa na língua inglesa, o estudante também conta que encontrou diversas diferenças entre o sistema de ensino brasileiro e o holandês.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entidade ligada ao Ministério da Educação, negativou a concessão das bolsas dos alunos beneficiados do Ciências sem Fronteiras. Anualmente, os doutorandos que estão no exterior precisam realizar a renovação da bolsa que consiste no envio de um relatório com as atividades feitas naquele ano para garantir a bolsa de estudos por mais um ano. O custo do investimento para manter um aluno nos Estados Unidos, por exemplo, é de US$ 1.700,00 (R$ 6.000,00).
“Em vez de aula todos os dias, eu tinha aula uma ou duas vezes na semana, mas como a carga horária do mestrado continua sendo alta, eu tive muito que estudar por mim mesmo. Os professores davam uma introdução do assunto durante a aula e davam quatro ou cinco artigos para serem lidos para a próxima semana, normalmente pedindo trabalhos todas as semanas”, conta o estudante. Apesar de já ter terminado o programa, o estudante está decepcionado com o corte das novas bolsas, já que menos pessoas terão a possibilidade, como ele, de mudar de vida.
O estudante Lucas Siriaki termina seu programa de intercâmbio de 10 meses no mês de junho e conta que após realizar o Test of English as a
Breno Sant’Anna estuda engenharia civil no Centro Universitário de Itajubá da Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá (FEPI), em Minas Gerais, e
estudou na University College Dublin (UCD), na Irlanda, entre julho de 2014 e junho de 2015 através do Ciências sem Fronteiras. O estudante relata que teve um curso de adaptação à vida em outro país e estava com bastante medo no começo de sua estadia. Sant’Anna morou em uma casa de uma família irlandesa e, de acordo com ele, foi bem recebido e era tratado como se fosse um membro da família.
As salas, grandes como auditórios, cheias e em absoluto silêncio”, relata.
“O clima era bem diferente do que estava acostumado, mas a faculdade nos integrava muito bem. O nosso governo foi elogiado lá e falaram que nós éramos os alunos mais bem pagos do campus, já que nossa bolsa abrangia tudo, moradia, alimentação e sobrevivência”, conta o aluno. Sant’Anna recebia do governo brasileiro € 700,00 (cerca de R$ 2,500,00) por mês, suficiente para viver no país.
Processo de Seleção
Ele diz que ficou decepcionado ao saber da diminuição e corte da verba do programa. O estudante espera que o Ministério da Educação veja a importância da troca de cultura pois, para ele, o intercâmbio pode trazer um melhor desenvolvimento na vida social e estudantil dos brasileiros.
“O intercâmbio pode trazer um melhor desenvolvimento na vida social e estudantil dos brasileiros”
O estudante diz que a forma de avaliação na UCD é diferente, os alunos tinham menos provas e mais iniciativas de trabalhos e pesquisas em comparação às universidades brasileiras. Sant’Anna diz que o contato com os professores também muda. “O respeito por eles é grande, são tratados como “senhores” e “senhoras”.
O processo de escolha do programa consiste em três fases de seleção: na universidade brasileira, no governo federal e na instituição do exterior. O critério depende de cada instituição, no caso dos estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) é exigido que o candidato tenha uma média geral acima de 7 e no máximo 5 reprovações, já o governo federal utiliza como base a média do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Após as aprovações no Brasil, os candidatos precisam escolher alguma instituição no exterior e mandar o histórico escolar traduzido no idioma da universidade junto com o certificado de proficiência da língua estrangeira.
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Esportes
Bola oval se reinventa no país A
Superliga Nacional de Futebol Americano vem com novidades, três times curitibanos e reedição da final do paranaense desse ano
partir do dia 9 de julho, começa a edição 2016 da Superliga Nacional de Futebol Americano. Três clubes curitibanos vão tentar trazer a taça da competição para a capital paranaense: Coritiba Crocodiles, Curitiba Brown Spiders e Paraná HP.
Yuri Braule 4º Período
Em 2016, a Superliga traz duas grandes novidades em relação ao ano passado. A primeira é que a Superliga será a única competição nacional de futebol americano, criada após a integração dos times do antigo Torneio Touchdown a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA), devido ao fim da competição. “A gente acredita que o nível vai melhorar bastante porque vai estar reunindo as melhores equipes, tanto do Torneio Touchdown quanto da Superliga, então não muda muita coisa, pois já tínhamos equipes bem fortes no Touchdown, mas o bom é que o nível técnico vai se elevar mais ainda”, analisa Nilo Tavares, Running Back (RB) do Paraná HP, time vindo do extinto torneio.
Divulgação
Logo da Superliga Nacional de Futebol Americano “A Superliga anteriormente já era muito forte, mas com a maioria dos times que vieram do Torneio Touchdown o que com certeza mudará serão os regionais, terão as conferências Nordeste, Oeste, Leste e Sul. Eram três conferências apenas, então agora dá pra se separar melhor”, diz Delmer Zoschke, Right Defensive End do Crocodiles, time que está na Superliga desde sua criação como
“O bom é que o nível técnico vai se elevar”
Com a entrada dos times do Torneio Touchdown, o número de times da Superliga foi ampliado de 15 para 30 times divididas em quatro conferências. A Liga Nacional, segunda divisão do torneio, também teve um acréscimo no número de participantes de 14 para 32 equipes, também divididas em quatro conferências.
Campeonato Brasileiro de Futebol Americano. No ano passado, o campeão da Superliga foi o João Pessoa Espectros, depois de derrotar o Coritiba Crocodiles na final por 23x22. No Torneio Touchdown, o campeão foi o Timbó Rex, após ter derrotado o Vasco da Gama Patriotas
por 28x9. Para as estatísticas oficiais, tanto os vencedores da Superliga quanto os do Torneio Touchdown serão considerados campeões nacionais de futebol americano.
Estreia terá reedição de final Com a divulgação da tabela da Superliga Nacional de Futebol Americano, já se sabe que a primeira rodada contará em sua estreia a reedição da final do Campeonato Paranaense, entre Paraná HP e Coritiba Crocodiles.A final foi disputada dia 19 deste mês no Campo do Imperial e teve um placar de 14x00 para o Paraná HP, conquistando o seu primeiro título e encerrando com uma sequência de 7 títulos seguidos do “Croco”. O RB do Paraná HP, Nilo Tavares, espera um bom jogo para a estreia do Campeonato, e aposta em outra vitória do HP. “Com certeza o “Croco” vai vir mordido porque aca-
bou de perder o título para a gente, mas estamos bem preparados para encarar. Sabemos que o Croco vai encarar esse jogo como uma revanche, mas estamos preparados para enfrentar eles que nem quando a gente chegou na final, de igual para igual”. Para Delmer Zoschke, Right Defensive End do Crocodiles, o que aconteceu na final desde ano foi mais por deficiências do time no jogo do que por habilidade do Paraná HP. “Eu tenho certeza que a gente vai reeditar isso, a defesa não vai jogar de uma maneira para gerar o ataque do HP e o nosso ataque desta vez, pois tem alguns reforços que já vamos contar para a Superliga já no primeiro jogo”.
Regulamento Na primeira fase, as 30 equipes serão divididas em quatro conferências, denominadas Nordeste, Oeste, Leste e Sul, este último com a presença dos times de Curitiba.Cada conferência contém dois grupos em cada, as equipes da mesma conferência se enfrentam, passando para os playoffs o melhor de cada grupo e mais os dois melhores da conferência para a próxima fase. Nos playoffs, as 16 equipes que passaram se fase se enfrentam em “mata-mata” até o Brasil Bowl, a final da Superliga, que será realizado no dia 17 de dezembro no estádio de quem tiver a melhor campanha entre os finalistas. O último colocado de cada conferência será rebaixado para a Liga Nacional.
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Cultura
Um lugar chamado Saibrera O odor, a visão, os sons, a sensação. Uma realidade envolta em tristeza e angústia. Histórias esquecidas que precisam ser lembradas Nicolle Heep 3º período
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odor. O odor que está no ar é uma mistura de fezes de cachorro com corpos que não são lavados há mais de três semanas e esgoto podre. De vez em quando sente-se um cheiro forte de mato queimado. O odor penetra as narinas e se espalha pelo corpo causando um arrepio involuntário dos pés à cabeça. Para elas não. Para essas crianças o odor já está tão impregnado que é como quando se usa o mesmo perfume todos os dias e a essência se mascara pelo costume. Pela vivência. A visão. A visão a frente é suja, dói. Dezenas de cachorros sarnentos e pulguentos deixando suas fezes por todo terreno. Casas bagunçadas, pequenas, caindo aos pedaços. Casas em morros altos, à beira da morte. No telhado plano de uma delas há alguns homens armados e sentados em cadeiras de descanso. Mas não descansam nunca, estão sempre observando. Dizem que eles é que fornecem o cheiro de mato queimado e alguns pós e líquidos diferentes. Todos que se aventuram a chegar perto deles parecem tremer um pouco. Os sons. De vez em quando pode-se ouvir gritos, mas que se abafam depois de um forte estrondo. Outras vezes ouve-se crianças brincando, tão inocentes. Ao fundo sempre tem um carro tocando músicas que não são apropriadas para essas crianças em volume máximo. A sensação. O frio passa pela fina camada de gordura, quase que inexistente e chega até os ossos, causando um súbito
sentimento de congelamento que se agrava conforme a noite chega. Alguns tentam se esquentar no sol que aparece de vez em quando, enquanto outros nem conseguem mais vê-lo nascer novamente. Todos os lugares são gosmentos. Em qualquer lugar tocado, mesmo que com uma pontada de culpa, sente-se a necessidade de lavar-se imediatamente. Mas isso não é possível, uma vez que se mais de uma pessoa por vez toma banho, a eletricidade acaba. Por isso o odor forte de corpo.
deu humildemente que sim, mas explicou que não tinha mais casacos.
Uma mulher já idosa, miúda, sem dentes, com a pele fina, enrugada e os olhos esbugalhados pela magreza excessiva, enrolada em um estreito cobertor, tremendo, tentando se proteger do vento gélido. Um homem adulto deitado com os cachorros, pele e ossos, fumando o mato queimado, exalando cheiros indescritíveis. Uma mulher nova, magra, mas barriguda, que já é avó e tem mais de quatro filhos. Um menino de 14 anos que já é pai. Uma garotinha pequena e delicada de oito anos apenas com uma blusa fina, batendo os dentes. Quando questionada se não sentia frio, respon-
estarão com ela pelo resto de sua vida. O garotinho ao seu lado tem alguns problemas de concentração e comportamento. Disseram que sua mãe batia muito forte em sua cabeça, pode ter sido por isso. Cada uma das 53 crianças tem uma história. Crianças inocentes, pelo menos até onde essa realidade permite. A realidade do local conhecido como Saibrera.
Foi isso que eu vi. Uma menininha de sete anos, com seu sorriso cheio de janelinhas e pontinhos pretos. Uma vez lhe perguntei se seus dentes haviam caído por causa da idade e ela contou que tivera os dentes arrancados por seu padrasto em um acesso de raiva, o mesmo homem que lhe tirara a inocência de forma violenta, deixando sequelas físicas e emocionais que
são difíceis de cicatrizar e deixam marcas profundas que nunca serão esquecidas. Apesar disso, o brilho de esperança nos olhos dessas crianças ainda não se apagou. Brilho esse que já não se vê nos olhos dos adultos há muito tempo. De vez em quando uma pequena faísca se acende em seus olhares quando alguém se importa. Quando alguém os vê. Para qualquer ação em seu favor, por menor que seja, eles mostram gratidão exacerbada, causando até um
“Na maioria dos nossos dias, vivemos como se essa realidade não existisse. Ignoramos, afinal isso é muito mais cômodo”
Alguns tentam ajudar da forma que é possível. Roupas, comida, cobertores, atenção e carinho. O último é o que eles mais procuram. Tentamos trazer alegria para essas crianças, mas algumas feridas
constrangimento passageiro. No entanto, essa gratidão não tem sua origem puramente na ajuda dada, mas no fato de que agora eles não são mais invisíveis. Crianças, jovens, adultos e idosos, vivendo como miseráveis sem nenhuma perspectiva de vida. Apenas tentando sobreviver a cada dia nesse ambiente hostil, da melhor forma que conseguem e esquecidos pela sociedade. Na maioria dos nossos dias, vivemos como se essa realidade não existisse. Ignoramos, afinal isso é muito mais cômodo.