Nós Os projectos dos pais no regresso às aulas Escolas As angústias e os projectos das famílias e dos dirigentes que os representam junto de professores, coordenadores e responsáveis autárquicos. Faltam voluntários, mas sobra entusiasmo. Sempre em prol das crianças Cláudio Garcia Insegurança, défice de pessoal auxiliar e indefi nição do corpo docente. Três matérias que preocupam outros tantos dirigentes de associações de pais no momento em que o novo ano lectivo dá os primeiros passos. Mais uma vez, não vai ser tarefa fácil construir a ponte entre as salas de aula,
os gabinetes administrativos e as famílias dos alunos. Isto porque os voluntários rareiam, enquanto as resistências abundam. Mas o Agrupamento da Batalha já tem muito que contar. E um projecto estrela: a voz dos pais. “Estas reuniões têm permitido perceber no terreno quais são as dificuldades e colmatar de imediato pequenos défices. Tem sido
muito enriquecedor e tem dado frutos muito importantes”, refere Nuno Monteiro, sobre os encontros que a associação promove com encarregados de educação, directores de escola e elementos da autarquia. O presidente da assembleia geral identifi ca rapidamente as suas principais angústias neste regresso às aulas. “O que nos preocupa mais é esta indefinição com o corpo docente”, explica, criticando também “toda a pressão sobre a classe dos professores” e “a burocracia a que estão sujeitos”. Entretanto, as carências das instalações ao serviço do ensino básico e secundário continuam na ordem
do dia. Há ideias de investimento, mas não é certo que a obra avance. “O principal papel de uma associação de pais é estar muito atenta a questões pedagógicas e defender intransigentemente os interesse dos alunos”, conclui Nuno Monteiro. Manter vivo o elo entre famílias e escola já foi mais fácil. Essa é, pelo menos, a opinião de Paulo Ramalho, presidente da Associação de Pais do 1º ciclo e Jardim de Infância da Gândara dos Olivais, onde a insegurança e o insuficiente número de funcionárias auxiliares são motivo de apreensão. “É com grande tristeza que vejo o papel das associações de pais cada vez mais marginalizado”, lamenta o dirigente. Desenvolver projectos? “Cada vez mais difícil”. Paulo Ramalho acredita que as associações deviam ter “uma participação mais activa” na definição do projecto educativo, das turmas, dos horários. Na prática, afirma, “somos os bombeiros voluntários para acudir às necessidades dos professores e coordenação da escola”. PUBLICIDADE
38
Região de Leiria — 9 Setembro, 2011
Outra freguesia, as mesmas queixas. “Preocupa-me a falta de solidariedade de alguns professores para com iniciativas que fujam ao horário lectivo”, confessa Filipe Loureiro, presidente da Associação de Pais dos Capuchos, dando conta de uma “resistência sem lógica de professores e auxiliares às iniciativas” dos encarregados de educação. “Mas recordo o seguinte”, conclui, “se a associação de pais não existir, quem assegura a chegada das crianças à escola de manhã? E os almoços? E as actividades extra-curriculares à tarde? E o ATL em Julho? E as férias da Páscoa?”. Atento ao preço dos manuais e à forma como a sua venda está organizada, mas também vigilante quanto à segurança das instalações, Filipe Loureiro mostra-se convicto de que “os poderes dos pais vão diminuir”, fruto de factores diversos, incluindo os “poderes concentrados pela autaquia” e “o profundo desinteresse da grande maioria dos pais”, que raramente aceitam “passar das palavras aos actos”. Nada que tenha impedido a Associação dos Capuchos de apresentar trabalho nos últimos dois anos: requalificação do espaço exterior do jardim-de-infância, criação de site, facebook, programas de férias e biblioteca, oferta de mobiliário, entre outras iniciativas. “Com forte empenho de todos e graças às parcerias criadas”, sublinha Filipe Loureiro. Agora, o sonho é a construção de um refeitório para o 1º ciclo. A legislação em vigor, revista pela última vez há cinco anos, confere um amplo raio de acção às associações de pais, num conjunto alargado de domínios, incluindo o direito de se pronunciarem sobre a política educativa da escola ou do agrupamento, de reunir com os órgãos de administração e de participarem na gestão dos estabelecimentos de ensino. claudio.garcia @regiaodeleiria.pt