Revista Garage

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Esta revista é suplemento integrante da edição nº 3763 de 30 de Abril de 2009 do semanário REGIÃO DE LEIRIA. Não pode ser vendida separadamente.

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Edifício “Garage” ganha nova vida 1



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Um estilo, um conceito, marcar pela diferença

Há pouco mais de três anos, um dos mais emblemáticos edifícios do centro da cidade de Leiria apresentava sinais de degradação preocupantes, sendo um péssimo cartão de visita a quem visitava a cidade. Cientes de estar ali uma oportunidade de negócio excelente e, ao mesmo tempo, uma forma de reabilitar e rentabilizar o próprio imóvel, promotor, a Soproi, e proprietário, Pedro Faria, colocarão mãos à obra e desenvolveram um projecto que confere à cidade uma nova imagem. A Soproi, igualmente responsável pela reabilitação do edifício “O Paço”, entregou à Monterg a responsabilidade da reconstrução do imóvel e à arquitecta Sara Soares o desafio de desenhar um novo edifício, misturando estilos arquitectónicos diferentes. O resultado final muda a imagem da principal artéria de Leiria, a Av. Heróis de Angola, onde as fachadas dos dois edifícios mais emblemáticos, “O Paço” e “Garage”, mostram como é possível misturar arte antiga com conceitos mais vanguardistas. No caso do “Garage”, aproveitaram-se as fachadas em Arte Nova e construi-se uma parte totalmente nova, com o exterior a ser forrado em telhas, num conceito inovador, diferente e já algo de vários elogios. O resultado final foi de tal modo bem conseguido que o edifício irá participar num prémio ibérico de arquitectura, o prémio Enor, que no final irá dar origem a um livro com as 100 melhores propostas, onde o “Garage” tem todas as hipóteses de figurar.

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requalificação custou cinco milhões de euros O novo edifício tem duas novas lojas, Massimo Dutti, já em funcionamento, e a Bershka, que ainda não tem data prevista de abertura. Para além das lojas e das caves para estacionamento, o “Garage” dispõe de quatro apartamentos para habitação. Num local privilegiado da cidade, os quatro apartamentos oferecem qualidade acima da média, com materiais nobres e excelentes acabamentos. O projecto de requalificação do “Garage” foi um investimento na ordem dos 5 milhões de euros e irá ajudar na revitalização do centro histórico da cidade e no comércio tradicional, através de duas lojas de grande superfície, que certamente irão atrair mais pessoas ao actual centro nevrálgico da cidade.


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Os apartamentos O novo “Garage” dispõe de quatro apartamentos para habitação. As tipologias são T2, T3, T4 e T5. O T4 já está vendido, enquanto o T2 já está reservado. Os preços variam entre os 390 mil euros para o T2 e os 790 mil euros para o T5. Estes valores acabam por ser justificados pela localização privilegiada do edifício, a panorâmica geral, mas, acima de tudo, pela qualidade dos acabamentos. Para além de uma arquitectura de excelência, o interior dos apartamentos é composto por materiais nobres e de qualidade. Na sala, quartos e zonas de circulação os pavimentos são em tiras de madeira maciça tipo carvalho, tal como os rodapés, os tectos com estuque pintado em cor branco e o tecto falso em gesso cartonado, pintado em cor branco com iluminação embutida, e os roupeiros com portas de abrir em madeira lacadas a branco, interiores em madeira, tipo carvalho. Nas instalações sanitárias e cozinhas, o pavimento, rodapés e paredes são rectificados “ Soho Grey “, da Marca Marazzi. Quanto às louças sanitárias são das marcas Laufen, ASD e Hansgrohe, faltando ainda definir os equipamentos de cozinha. Também os puxadores e batentes do chão mereceram cuidados especiais, com materiais da marca CBC, tal como as tomadas eléctricas, que são da Berker.

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“O “Garage” tem merecido Leonel Filipe, da Soproi, o promotor do edifício Garage, fala nas dificuldades de reconstrução deste imóvel, os problemas gerados pela crise económica e os elogios que tem recebido pela escolha arquitectónica na reconstrução. A Soproi tem apostado forte na cidade de Leiria. Depois do edifício “O Paço”, que objectivos pretendem atingir com este novo empreendimento? O nosso objectivo tem sido fazer coisas diferentes, que se destaquem principalmente neste local tão importante de Leiria como é o centro da cidade. Com a actual crise económica, não é um risco apostar num projecto desta dimensão? Quando começámos este edifício a crise ainda não era evidente nem se previa chegar ao cenário actual. Lembro que este projecto entra na câmara em 2006, portanto há três anos. Nesses três anos, o que sucedeu para o projecto final só agora estar perto da sua conclusão? A primeira fase deste projecto foi a contenção das fachadas an-

tigas e fundações com 2 pisos de cave, o projecto definido para as fundações foi baseado num estudo geotécnico, estudo este que se veio a revelar insuficiente devido à instabilidade dos solos. Foram precisos mais estudos geotécnicos e, na sequência destes, definir um projecto de fundações que garantisse eficazmente a posterior construção do projecto. Ao mesmo tempo, nesse período de três anos, a chegada da crise económica alterou a procura que tinham pelos apartamentos? O que é que acontece com os apartamentos? Quando começámos esta obra, tínhamos uma lista de clientes para todas para todas as tipologias e ainda não tínhamos começado as obras. Para o T2 cheguei a ter mais de 20 pessoas. Entretanto, surge a crise e a procura baixou, mas continua a haver negócios em curso. Já existem apartamentos vendidos? Já temos o T4 vendido e o T2 está reservado. O T2 continua a ter muita procura, assim como o T5 que é um apartamento com terraços, vistas e uma sala magníficas, um apartamento sem comparação em Leiria. Até ao final do mês, quando todos os trabalhos


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bastantes elogios” estiverem concluídos, esperamos fechar negócios. E em relação às lojas? As lojas foram, talvez, a razão principal para avançar com este projecto. O valor dos espaços comerciais nesta parte da cidade está bastante valorizado. Existe um claro contraste de arquitectura do edifício. Foi uma decisão consensual? A grande dificuldade da arquitecta foi, precisamente, conjugar com o edifício existente um outro edifício com uma arquitectura actual, mantendo, em destaque, a nobreza do edifício existente. O resultado é consensual e tem merecido bastantes elogios. A opinião geral é favorável a esta solução final? Na generalidade as pessoas gostam e têm existido várias entidades a sugerir a participação em prémios de arquitectura. Estamos a falar de investimento total de quanto? O investimento total, com terrenos e tudo, deverá ultrapassar os cinco milhões de euros.

leonel filipe, da soproi

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“As obras de recuper são o ADN da Mon Leiriense convicto, António Pinto, administrador da Monterg, fala com grande carinho da obra de recuperação do edifício “Garage”. Refere que o projecto apresentou dificuldades de maior no momento das fundações, fala no momento difícil em que atravessa o sector da construção e projecta o futuro, através de novos projectos e do desejo da empresa, trabalhar cada vez mais, nas obras de recuperação. A reconstrução do edifício Garage teria de manter as fachadas intactas. À primeira vista, parece algo difícil de concretizar, até porque aproveita uma traça antiga e junta-lhe algo de novo. De quem é o mérito? O mérito todo, primeiro, é da arquitecta. Sendo uma arquitecta bastante jovem, foi um grande desafio pegar num edifício que, mais central, não existe em Leiria. A parte do edifício já existente, fez um restauro integral do edifício, não há ali praticamente nada de novo. Fez uma excelente integração entre a parte nova e a anti-

ga e não retira a beleza que tinha o edifício antigo. Para a Monterg, o que representou ter efectuado a recuperação de um edifício tão emblemático de Leiria? Para nós, como construtores, o projecto não foi mais fácil, nem mais difícil que os outros, mas foi acarinhado de uma forma diferente, quer pelo facto de eu ser de Leiria, quer pelo facto da génese, do ADN da Monterg estarem as obras de recuperação e de reabilitação. É aquilo que efectivamente gostamos de fazer, apesar de termos vocacionado a Monterg para outro tipo de obras, porque o mercado assim nos obrigou. Em 2000, quando arrancámos com a empresa, pensámos que o mercado da reabilitação e recuperação iria também arrancar. Efectivamente isso não aconteceu. O mercado da reabilitação no nosso país, neste momento, não ultrapassará os 10 por cento de todo o volume de construção. Não é possível a nenhuma empresa dedicar-se apenas à reabilitação. Acredito que este mercado vá aumentar porque já percebemos que andar a construir novo, quando temos dentro das nossas cidades tanta coisa por recuperar, vai deixar de ter sentido. No “Garage” encontraram algumas dificuldades iniciais devido à instabilidade dos terrenos. Foram essas as maiores condicionantes à reconstrução do imóvel? O projecto inicial tinha uma solução de fundação por sapatas directas ao terreno e, devido à quantidade de água e à qualidade do terreno que se veio a encontrar, tivemos que mudar para uma solução que se chama o ensoleiramento geral. Nesta solução foi colocada uma laje de betão em toda a área do edifício, com 1,20 metros de altura, que está assim a descarregar as cargas do edifício para o terreno. Ainda assim, para fazer essa operação, tivemos que fazer um muro com um sistema de construção que não é tão tradicional. Trata-se de um muro enterrado a toda a volta, que passa ainda para baixo dessa fundação, e que vai a mais de 10 metros de fundo, nalguns pontos. Este sistema consiste numa máquina que abre esse muro no terreno, é cheio com uma espécie de lama, que não deixa que as terras tapem esse buraco, e depois é deitado o betão que faz com que essa lama saia e fica o betão a preencher o terreno. Foi assim que se fez aquela cave. Quanto aos apartamentos, quais as principais preocupações que colocaram na construção? Apesar da comercialização não passar por nós, somos meros executantes, devo ressalvar que, devido ao posicionamento que os apartamentos têm, os materiais escolhidos são de altíssima qualidade. Os acabamentos interiores acompanham, na totalidade, o aspecto que é visto por fora. A arquitectura do edifício é do período da Arte Nova, muito austero e com um traço muito sólido, e o interior também é assim. Apesar de serem materiais nobres, madeiras, pedra, cerâmicas, são muito na linha dos melhores empreendimen-


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ação terg”

antónio pinto, da monterg tos, com aquela arquitectura muito actual, muito despida, muito minimalista, para utilizar uma terminologia de arquitecto. Além do “Garage”, a Monterg tem efectuado diversas obras em Leiria e noutros locais do país. Qual delas é a mais emblemática para a empresa? Neste momento, estamos a acabar um edifício em Lisboa, que é, para nós, o nosso ex-libris. Trata-se da recuperação da Sociedade Nacional das Belas Artes, uma obra que ronda um milhão de euros, e irá dar a visibilidade que, nós a Monterg, gostaríamos que tivesse associado a este tipo de obras. Em Leiria, para além do Garage, temos também o edifício do restaurante Pontuel, em que fizemos a demolição total e a reconstrução, mantendo exactamente a mesma traça; acabámos agora o edifício Ateneia, que foi onde nasceu o jornal “Região de Leiria”, situado ao cimo do Terreiro. Já terminados há mais tempo temos o Atelier Cunha Fonseca, na Praça Rodrigues Lobo, e numa escala maior, o edifício onde é a clínica Cedile. O que está a Monterg a projectar no futuro? Em termos de reabilitação, vamos ter um edifício que foi adquirido recentemente, próximo da Praça Rodrigues Lobo. Um imóvel já com alguma dimensão, com cerca de mil metros quadrados, e neste estamos a desenvolver o projecto. Estamos ainda a desenvolver alguns projectos em Lisboa, e um edifício na cidade de Portalegre.

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“Encontrou-se uma solução arquitectón Com cerca de 100 anos, o edifício Garage é um marco da construção e da arquitectura da Leiria antiga. Pedro Faria é o proprietário do imóvel, estando na sua família há várias gerações. Fala-nos na história do “Garage”, nas obras de recuperação e na importância em mudar o centro histórico da cidade. O edifício Garage é um edifício com passado, em Leiria. Que história é que pode contar daquele imóvel? Daquilo que me contam, o prédio foi construído pelo meu bisavô paterno, avô do meu pai, por volta de 1908, não sei agora precisar exactamente qual é a data. Tinha no rés-do-chão lojas, nomeadamente uma padaria, e os andares, por cima, eram de habitação. Tinha também a famosa garagem, famosa no sentido em que acaba por dar o nome do edifício, apesar de na realidade, na altura, ser conhecido por edifício Sequeira, porque era o nome desse meu bisavô. Sei que para além dessa garagem, esteve instalada uma oficina de automóveis e sei também que naquele edifício, decorreram sessões de cinema. Depois, com a morte prematura desse meu bisavô, a minha avó e tia-avó continuaram a viver nesse edifício, explorando a padaria. E, anos mais tarde, a padaria integrou-se na panificadora e deixou de produzir pão, passando a ser só um posto de venda dessa mesma panificadora até há alguns anos atrás. Situado numa zona central da cidade por que é que o edifício ficou estes anos todos praticamente sem utilidade, sem utilização? Porque o edifício, apesar de ser bonito, interiormente tinha uma construção pouco sólida e rapidamente se teve a noção, que após estes anos todos, necessitava de uma grande alteração e que seria escusado investir nele, só numa recuperação tradicional. Havia que fazer algo de completamente novo. Essa é uma certeza que temos já há muitos anos. E por isso houve uma política, sobretudo do meu pai, de não trazer coisas novas para o edifício, com o objectivo de, mais dia menos dia, o demolir, enfim, no seu interior e fazer um edifício novo, que é o que exactamente o que aconteceu agora. Esta foi a única solução encontrada? Ou seja, colocar lojas e habitação ou existiriam outras soluções? Não. É curioso porque este edifício quase que cresce ou quase que nasce ao contrário daquilo que é usual. É perante uma solicitação dos dois grupos que aqui estão, a Inditex e do grupo Regojo, para terem duas lojas numa zona central em Leiria, e pela abor-

dagem do senhor António Soares, que surge a ideia de fazer ali lojas com as dimensões que lá estão. E o resto da recuperação do edifício acontece dentro desse espírito. Com estas obras de recuperação e tendo em conta que é um edifício histórico de Leiria, colocou alguma condição ou algumas condições para essa recuperação, como proprietário? Não. A única condição que ali existia era preservar as paredes exteriores, das duas fachadas que interessavam, o que era não só uma exigência camarária como um desejo também nosso. Portanto, juntou-se aqui a pretensão de ambas as partes, tanto a autárquica como a nossa. E agrada-lhe a solução final que foi encontrada, em termos de arquitectura? Sim. É sempre difícil casar uma construção antiga com características muito peculiares, neste caso concreto Arte Nova, com qualquer outra coisa. Eu sou favorável a que isso seja feito de uma forma drasticamente diferente. Não haja qualquer dúvida, nem faz sentido fazer hoje a continuação de um edifício também em Arte Nova, não estamos nesse tempo. E a ser diferente que seja radicalmente diferente. Julgo que a solução encontrada é agradável à vista e, portanto, é uma boa solução arquitectónica. Tendo em conta que optou por recuperar aquele edifício, situado na parte antiga, que importância dá a essa acção, uma vez que outros edifícios estão devolutos naquela zona da cidade e que, se calhar, a recuperação poderia dar uma maior vitalidade ao coração de Leiria? O centro de Leiria, sobretudo o centro histórico, esteve durante muitos anos abandonado e encontrava-se muito degradado. E isso não se consegue alterar de um momento para o outro. Mas julgo que se têm feito muitos projectos no sentido da recuperação, não só da própria autarquia, em termos de infra-estruturas, como dos particulares nos seus próprios prédios. E julgo, portanto, que esse é caminho. A Câmara, por exemplo, de que forma é que apoia os proprietários nessas recuperações? Eu julgo que há aqui dois tipos de apoio. Um, que já foi feito a alguns anos atrás, que foi providenciar todas as infra-estruturas enterradas da área, como os esgotos, águas pluviais, saneamentos, a parte eléctrica, cabo, telefones, etc. E para além disso, em determinadas áreas da cidade, a requerimento dos interessados, a Câmara faz, ou pode fazer, reduções que são muito importantes nos custos, nas taxas que pratica.


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pedro faria, proprietário do edifício garage


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a ser diferente que seja radicalmente diferente. REGIÃO DE LEIRIA pedro faria, proprietário do edifício garage

uma excelente integração entre a parte nova e a antiga antónio pinto, da monterg

O resultado é consensual e tem merecido bastantes elogios leonel filipe da soproi


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