A Hora - 18 e 19/05/24

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ANÁLISE, CURADORIA E OPINIÃO DE VALOR Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 | Ano 21 - Nº 3569 | R$ 5,00 (dia útil) R$ 9,00 ( m de semana) grupoahora.net.br 51 99253.5508 51 3710.4200 FAÇA SUA ASSINATURA SAÍDAS EM
AO
O CAMINHO PARA O VALE SE RECUPERAR DA MAIOR CATÁSTROFE NATURAL DA HISTÓRIA ALDO LOPES
MEIO
CAOS

A devastação das enchentes

Afúria das águas no Vale do Taquari deixou um rastro de destruição sem precedentes. Casas, empresas, lavouras e cidades foram destruídas. São pelo menos 36 óbitos na região e há mais de 30 ainda desaparecidos. A velocidade da correnteza foi implacável, e o Rio Taquari alcançou um recorde histórico, batendo 34 metros em Estrela. Diante dessa calamidade, a necessidade de ações governamentais torna-se evidente. O governo, em todos os seus níveis – municipal, estadual e federal – tem o dever de minimizar os danos e facilitar a recuperação.

Toda a urbanização regional precisará ser revista, sob pena de em um futuro próximo, novos eventos repetirem o drama vivenciado em 2024”

A suspensão da dívida do RS com a União por três anos, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um passo importante nessa direção. Essa medida, juntamente com outras ações, como a antecipação do pagamento do abono salarial de 2024 e a criação de um escritório de projetos para acelerar obras de infraestrutura, precisam ser ágeis para aliviar o fardo financeiro e acelerar a recuperação. Em cima disso, todos os esforços precisam ser conjuntos. A reconstrução do Vale é uma tarefa que requer a cooperação de todos – governos, empresas, organizações não governamentais e cidadãos. Cada um tem um papel a desempenhar e cada contribuição, por menor que seja, é valiosa. O caminho será árduo. Não existe solução pronta. A tragédia de maio expõe o quanto é necessário evoluir em modelos de prevenção. Toda a urbanização regional precisará ser revista, sob pena de em um futuro próximo, novos eventos repetirem o drama vivenciado em 2024.

“Precisamos doar. Estender a mão”

Morador do bairro Carneiros há 30 anos, Milton Alves da Silva, conhecido como“Seu Presença”,foiatingidopelas enchentes de setembro e novembro de 2023, e de abril e maio de 2024. Na primeiradelas,perdeua esposaMariadaConceição AlvesdaSilvaenquantoera resgatadapelosbombeiros. Com64anoscompletados no dia 29 de abril, ainda achaforçasparamanter o sorriso e o bom humor, tendo virado um dos símbolosdesuperaçãono ValedoTaquari.

Caetano Pretto caetano@grupoahora.net.br

O quanto você foi impactado pelas enchentes?

Dia 5 de setembro de 2023 eu perdi a minha esposa. Agora eu não perdi nada. Agora foram só bens materiais. A casa foi embora, quase tudo foi embora, mas nada perto do que eu perdi na enchente de setembro. O que eu tinha que sofrer, eu sofri lá. A perda de uma pessoa humana. Isso tem valor. Quanto aos bens materiais, isso se reconstrói, se faz de novo. Limpa. Chorar por perda material? Eu não choro. Chorar eu chorei quando perdi minha esposa bem na minha frente.

Você sempre viveu nesta casa?

Quem era a sua esposa?

Maria da Conceição Alves da Silva, a Mariazinha, como era conhecida. Caiu do helicóptero por uma imprudência incalculável. Eu vi tudo. Ajudei a amarrar ela, vi ela subir, cair, e morrer afogada. Depois fui até o antigo campo do Lajeadense, onde ela foi levada, e dei um último beijo. Ela era uma mulher do Pará, acostumada a nadar. Mas no apavoro, na falta das condições ideais, ela não sobreviveu.

Você foi resgatado ou conseguiu sair de casa antes da cheia?

Eu saí às pressas antes. Tirei umas coisinhas. Coloquei o que coube no carro e fui embora. Tem coisas que ainda ficaram dentro da casa e vai dar para recuperar limpando bem. No futuro espero voltar aqui apenas para fazer o meu churrasquinho. É de rir para não chorar.

O senhor ainda consegue manter o bom humor após tudo isso?

Filiado à Fundado em 1º de julho de 2002 | Vale do Taquari - Lajeado - RS

Contatos eletrônicos: Av. Benjamin Constant, 1034, Centro, Lajeado/RS grupoahora.net.br / CEP 95900-104

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Editor-chefe da Central de Jornalismo: Felipe Neitzke

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Os artigos e colunas publicados não traduzem necessariamente a opinião do jornal e são de inteira responsabilidade de seus autores. Impressão Gazeta do Sul

Fazia 30 anos. Agora é reconstruir devagarinho. Tenho problema nas costas, mas nada me abala. Eu criei sete filhos, tive dois casamentos. 19 netos. Tudo aqui na minha casa. Que praticamente não existe mais. Agora eu não posso mais ficar aqui. Até tem como voltar, para fazer um churrasco, uma homenagem à minha esposa. Mas morar aqui não tem mais como.

Depois disso você voltou para casa, e agora foi atingido novamente?

Refiz toda a casa depois de setembro. Depois ainda peguei um vendaval, perdi o telhado. Veio a enchente de novembro, construí a casa novamente. Agora não tem mais como morar aqui. O homem também não pode tentar resistir a tudo. Vou deixar a lembrança aqui, sempre será o meu lugar. Mas morar, não tem mais como.

Adianta ficar brabo? Adianta brigar? Adianta chorar? O negócio é resolver. É plantar. Cuidar do rio. O mesmo rio que nos tira tudo, nos dá alimento. Precisamos cuidar da natureza, preservar a pessoa humana. Precisamos doar. Estender a mão. Pensar no próximo. Levar alegria no peito. Deus está na alegria. Eu estou aqui, feliz, estou vivo. Quantas pessoas não estão mais vivas. Nos deixaram nessa tragédia. Eu só posso agradecer.

2 | A HORA EDITORIAL
ABRE ASPAS
Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Diretor Executivo: Adair Weiss Diretor Editorial e de Produtos: Fernando Weiss
3710-4200
51
LOPES
ALDO

O que o Vale precisa fazer daqui para frente

Não existe milagre. Muito planejamento, trabalho e decisões objetivas serão essenciais

Uma tragédia sempre impõe decisões difíceis. No nosso caso, a natureza abateu o RS e, em especial, o Vale do Taquari. E desafia a todos. Estamos diante de ameaças severas, decisões complexas, trabalho árduo e lições para sermos mais sustentáveis e menos vulneráveis daqui para frente.

De todas as urgências, devolver a digna moradia às famílias desalojadas é a mais premente. Sem esta condição, a violência e a criminalidade tendem alcançar picos inimagináveis na região. Isso também refletirá na ausência de profissionais no trabalho e dos estudantes na escola. Quando existe um lar para voltar, a vida se ajeita.

Urge realocar as famílias, mas sem cometer os erros do passado. Devemos restringir os espaços para ocupação urbana, sob pena de sofrermos tudo outra vez. Outro passo importante é mobilizar os empreendedores. Primeiro, para não desistirem, depois apoiá-los e buscar alternativas para crédito financeiro acessível. Nenhum empreendedor quer algo de graça, quer apenas condições viáveis para seguir o seu negócio. Para isso, linhas especiais, nas quais o governo precisa dizer a que veio e interceder via BNDES, etc. As cooperativas de crédito também devem sacrificar suas margens neste período. Sem isso, o desemprego e a falta de renda de parcela vital da sociedade ficará às margens. E, o PIB despencará ou, no mínimo, estancará por muito tempo. Por derradeiro, tudo isso reforça a criminalidade. Precisamos criar um movimento consistente para qualificar mão-de-obra. Pensar na inclusão de jovens pobres, principalmente. Será uma resposta concreta à inevitável evasão de talentos e menos interesse externo que enfrentaremos. Este tema deve pautar o público e o privado. Se ergue estratégica uma ação para qualificar esta garotada das vilas e bairros carentes. Incluí-los por meio de um programa prático. Fiergs, Federasul e CIC devem se debruçar, incansavelmente. Nossa vulnerabilidade na infraestrutura foi desnudada

Ameaças

nestas enchentes. Ficamos sem luz, sem comunicação, sem água e sem mobilidade. Viramos ilhas, da noite para o dia, às escuras, sem comida, sem água e sem eco. Não fosse o rádio a pilha, muitos mais teriam sucumbido com a vida. Francamente, não pode ser assim.

Criar alternativas e, literalmente, construir novas pontes, mais altas e em locais seguros. Sem este horizonte, seremos pouco atraentes aos olhos de empreendedores locais, tão pouco aos externos. Ferrovia e um aeroporto regional, além de pequenos aeródromos para pousos emergenciais - como em Doutor Ricardo – se incluem nesta pauta. Novos desastres virão. E o risco de repetir e ampliar os prejuízos reforça nossa preocupação para criar um plano eficiente de contingência e prevenção, urgente. Precisamos nos valer de mecanismos externos e internos, sobretudo, decidir fazer. Menos discurso e mais ação.

A dragagem para limpar o leito dos nossos rios e arroios se impõe

• Violência e criminalidade

• Evasão de talentos e mão-de-obra

• Perda na atração de investimentos

• Queda e estagnação do PIB regional

• Novos desastres e prejuízos

• Vulnerabilidade logística e de infraestrutura

Nossa vulnerabilidade na infraestrutura foi desnudada nestas enchentes. Ficamos sem luz, sem comunicação, sem água e sem mobilidade. Viramos ilhas, da noite para o dia, às escuras, sem comida, sem água e sem eco. Não fosse o rádio a pilha, muitos mais teriam sucumbido com a vida.”

Desafios

• Construir moradias para todos com urgência

• Não repetir erros e replanejar ocupação urbana

• Mobilizar os empresários locais a investirem

• Preparar mão de obra quali cada

• Desencadear um plano e ciente de prevenção

• Resolver questões ambientais (dragagem)

• Alternativas logísticas e de infraestrutura

• Criar unidade de articulação regional

vital. Um plano sustentável deve orientar a iniciativa privada para entrar nisso. Os ambientalistas precisam ser parceiros e mostrar como fazer. Não atrapalhar.

Afinal, os leitos dos nossos mananciais estão cheios de lixo corrosivo e maléfico para nossas águas que captamos para o consumo. Por último, necessitamos criar unidade de articulação regional. Nossos líderes precisam deixar de lado os egos e vaidades. Infelizmente, eles ainda persistem. Pessoalmente, me incomoda muito, ao ponto de já ter pensado em expor publicamente quem insiste e prioriza a “espetacularização do eu”. Espero que não seja necessário fazê-lo. Conveniamos. Precisamos de unidade de ação, inclusive, para pressionar,

desburocratizar e cobrar. Podemos divergir nas ideias e pensamentos, mas devemos exaurir diferenças e promover acordos estratégicos, buscar apoio de todos em prol do pragmatismo e das necessidades impostas. Compreender que juntos resolveremos mais rápido os desafios desta catástrofe ambiental, política, econômica e social. Exatamente isso. Um lastro destruidor permeia todas as searas da nossa sociedade organizada depois destes fenômenos naturais que voltarão. Reafirmo minha convicção nesta terra desbravada há quase dois séculos pelos antepassados. Aqui vieram e acreditaram, em meio a enormes desafios. Agora é a nossa vez de mostrar nossa resiliência, unidade e sabedoria.

A HORA | 3 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Compre o que é nosso!

Foi assim na pandemia, e precisa ser assim após a catastrófica enchente que matou 36 pessoas e deixou ao menos 31 desaparecidos só no Vale do Taquari. É primordial alimentar a economia estadual para estancar a sangria e salvar o que restou. E a forma mais eficaz é consumir produtos locais e prestigiar os serviços dos profissionais gaúchos. Neste sentido, o Grupo A Hora iniciou a campanha Vale Vivo para provocar novos investimentos e potencializar o empreendedorismo regional por parte de quem não sofreu – ou sofreu menos – com a cheia. Um movimento importante, e que pode ser expandido a

rodrigomartini@grupoahora.net.br

O colapso e as rotinas

todo o Rio Grande do Sul. Aliás, é possível romper as barreiras do estado. E vejam só. Há bons exemplos em Santa Catarina,

Como serão as

eleições?

Conversei com diversos agentes políticos e muitos compactuam com uma dúvida: afinal, como serão as eleições municipais de outubro? Diante da vitrine colossal disponibilizada aos atuais gestores – e por consequência aos eventuais candidatos à sucessão –, e das cifras milionárias que serão entregues para os prefeitos manusearem, alguns líderes partidários sugerem a suspensão do pleito. Outros sustentam a necessidade de protelar em poucos meses o aguardado dia da votação – e eu concordo –, e assim devolver um mínimo de isonomia e equilíbrio entre situacionistas e opositores. E há quem não veja empecilho em manter o dia seis de outubro

como o dia “D” para a escolha dos futuros prefeitos e vereadores. Da mesma forma, e diante da possibilidade de milhares de eleitores ainda restarem desalojados, os marqueteiros reavaliam as estratégias. Fato é: tudo vai mudar a partir da trágica enchente. Inclusive as coligações, é claro. Aliás, um lembrete: na quarta-feira passada as empresas ou entidades cadastradas no TSE para prestar serviço de financiamento coletivo de campanhas foram autorizadas a arrecadar recursos. A prática também é conhecida como crowdfunding ou “vaquinha virtual”. Mas será que há clima para tal? E para usar o Fundo Eleitoral?

onde alguns supermercados (na foto, um estabelecimento em Garopaba) já fomentam o apoio ao aguerrido povo gaúcho.

“Lugar bonito é lugar perigoso”, mesmo!

A frase acima foi título do artigo publicado no dia 20 de fevereiro. Mas a descomplicada frase não é de minha autoria. Ela pertence a um dos mais renomados especialistas em desastres naturais e cuja palestra realizada dias antes daquela publicação, em Muçum, chamou a atenção de poucas pessoas. “Lugar bonito é lugar perigoso”, avisava o japonês Masato Kobiyama, nascido em Kitakata, no Estado de Fukushima, e “brasileiro” desde 1991. Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Ufrgs, ele também faz parte da coordenação da Comissão Técnica de Desastres da Associação Brasileira de Recursos Hídricos. E ele foi direto. Além das inundações, avisou, precisamos estar muito atentos aos deslizamentos de terra, especialmente com a urbanização junto às encostas. Eu só não imaginava que a realidade bateria tão cedo – e tão forte – em nossa porta…

Os engarrafamentos precisam servir de combustível para uma mudança cultural. Enquanto não retomarmos as conexões entre cidades será necessário mudar rotinas. Uma das ações é rever utilização dos veículos. Em um momento de colapso logístico, é aconselhável o compartilhamento do transporte. Ou seja, buscar ou oferecer carona. Outra sugestão é a mudança de horários em determinadas indústrias, empresas e, também, na Universidade do Vale do Taquari (Univates). Não é plausível esperar que todos se desloquem em um mesmo momento para “bater o cartão”.

Informação, alerta e cotas

Não é momento de apontar culpados e aclarar os erros e movimentos negligentes por parte de quem deveria garantir um mínimo de segurança à população em âmbito estadual e federal. Haverá tempo e momentos mais oportunos para desenhar os graves lapsos. Mas, e diante da proximidade assustadora entre os eventos de setembro de 2023 e abril/ maio de 2024, é preciso correr para garantir modelos eficazes de monitoramento dos afluentes e do Rio Taquari. Não podemos aceitar tanto amadorismo e imprecisão. Sem falar na mediocridade dos alertas e na pachorra do socorro.

TIRO

• Não foram poucas as matérias cobrando pavimentação na ERS-129 entre Roca Sales e Colinas. Pois bem. Após a tragédia, a rodovia estadual passou a ser a principal ligação rodoviária entre as regiões alta e baixa do Vale do Taquari. E a omissão do passado compromete a solução do presente.

• A Empresa Pública de Logística Estrela, a E-Log, cuja missão era devolver movimentação ao porto e ao Aeródromo Regional localizados em Estrela, perdeu o sentido com a destruição de ambas as estruturas. E o chefe do Executivo já sinaliza com a provável extinção.

• O Ministério Público investiga eventuais aumentos abusivos de preços em meio ao pior desastre natural da nossa história, especialmente de itens básicos e necessários à sobrevivência e dignidade das pessoas mais impactadas pela trágica enchente da semana passada.

• O governo de Estrela oferece cerca de quatro mil metros quadrados de área seca (ou não inundável) dentro do antigo prédio da Cervejaria Polar para novos – ou velhos – empreendimentos.

• Já o governo federal prometeu R$ 50 bilhões entre repasses e empréstimos aos gaúchos. Ainda é pouco. Mas é um avanço. Além disso, anuncia a suspensão do pagamento da dívida do RS com a União pelo período de 36 meses. Também é pouco. Mas é outro avanço.

• “Vale Vivo”, “Juntos pela ponte”, “Reconstruir Cruzeiro do Sul”, “Uma casa por dia” e outros tantos movimentos populares serão de suma importância para restabelecer a ordem e a pujança do Vale do Taquari. Parabéns e todos os voluntários que pensam e agem neste momento de dor.

• Arquitetos ligados ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio Grande do Sul assinam um manifesto com sugestões para a reurbanização das cidades mais atingidas pelas enchentes de 2023 e 2024. Entre as providências, destaque à criação de um Plano Diretor Regional.

• Em tempo, e por ora, a 31ª Expovale está confirmada para novembro, no Parque do Imigrante.

4 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Tudo é muito triste. Muito. Mas já aprendemos, nessas duas últimas semanas, que a superação do desafio passa pelo empenho e determinação de todos nós

Nossa força é o desenvolvimento regional. Não por acaso, o Grupo A Hora adotou este slogan em 2015. O jornalismo profissional é uma ferramenta singular para estimular o crescimento e a evolução de uma comunidade e das pessoas. Quando orientado a um formato propositivo, questionador e incisivo, ele presta um serviço determinante para a sociedade.

Em casos extremos (como foi durante e após a tragédia de maio) este trabalho se ergue ainda mais fundamental, senão vejamos: o rádio a pilha foi o único canal de comunicação a funcionar durante o apagão elétrico e digital. Sofremos, choramos e imploramos juntos. Em muitos momentos, mandamos –voluntariamente – às favas os protocolos e os manuais de boas práticas da profissão em nome de salvar vidas. A elegância e a polidez características dos homens e mulheres do rádio deram espaço para cobranças fortes, pedidos de socorro, expressões de desespero, entre outros. Tudo numa tentativa insistente de ecoar o drama do Vale do Taquari ao Brasil e ao mundo.

O silêncio costumeiro do estúdio de rádio e as combinações que antecedem os programas e as entrevistas, deram espaço ao improviso e transformaram o estúdio da rádio A Hora num QG da Defesa Civil. Um entra e sai provocado por milhares de informações que chegavam de todo lado e requeriam, acima de tudo, checagem e curadoria que sustentam o jornalismo profissional. Afinal, informar errado é desinformar. Foram ininterruptas horas de transmissão multiplataforma para milhões de ouvintes, telespectadores e internautas, viabilizada por um gerador a gasolina e internet via satélite, enquanto no morro Roncador, um gerador a diesel continuava a mandar o sinal para os mais de 50 municípios da região.

O jornalismo, o nosso propósito e o futuro

E como já sabemos, o ser humano aprende sobremaneira de duas formas: pela dor ou pelo amor. Dessa feita, é pela dor da perda, do sofrimento e do prejuízo.”

O cansaço e a exaustão da equipe eram superados a cada nova história de medo e sofrimento de quem estava nos telhados das casas, dos chiqueiros e dos galpões vendo a morte bater a porta como nunca antes. É nessas horas que o jornalismo assume seu papel mais essencial: prestação de serviço.

Foi, e é por isso que o Grupo A Hora mobilizou – e continua mobilizando – toda sua capacidade produtiva e mergulhou fundo nessa cobertura que segue a impressionar e chocar a todos nós.

E daqui pra frente?

Um dia após o outro e vamos superando. Impreciso arriscar o que será do futuro. Sequer sabemos o tamanho do prejuízo, nem mesmo do número de mortes que a tragédia provocou. 36 já estão confirmadas e 31 seguem desaparecidos na região.

Estamos diante do maior desafio da nossa história. De repente, o rio Taquari atinge quase 34 metros em Lajeado, sendo que 8 meses antes,

imaginávamos que os 29 de 1941 jamais se repetiriam. Ledo engano e ignorância coletiva. Que possamos tirar as lições necessárias para não insistir nos mesmos erros que nos trouxeram até aqui.

O Grupo A Hora continuará empenhado e convicto do seu propósito de produzir conteúdo relevante e de valor, capaz de contribuir para o Vale superar o momento. Mesmo com

todas as adversidades, não podemos fraquejar. Não temos direito de fraquejar. E como já sabemos, o ser humano aprende sobremaneira de duas formas: pela dor ou pelo amor. Dessa feita, é pela dor da perda, do sofrimento e do prejuízo. Vamos em frente, sem procurar culpados ou vilões. Nem esperemos salvadores da pátria, ainda que a ajuda externa, seja da onde vier, é imperiosa para acelerar a reconstrução.

A parte que nos cabe, seguiremos. Informar, questionar, provocar, inovar. É hora de cada empresa, cada empreendedor, cada cidadão, prefeito ou vereador dar o seu melhor. Encorajar quem está ao lado, dar o ombro a quem precisa e acolher quem pede afeto. A dor e o sofrimento são coletivos. E será justamente o empenho coletivo que vai recolocar o Vale do Taquari no seu lugar. E o Grupo A Hora quer e vai contar essa história, afinal “Nossa força é o desenvolvimento regional”.

A HORA | 5 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

ABALO REGIONAL

A FÚRIA DEVASTADORA DAS ÁGUAS

Rio Taquari alcança recorde histórico, bate 34 metros em Estrela. A velocidade da correnteza destrói casas, empresas, lavouras e cidades quase inteiras. São pelo menos 36 óbitos na região e há mais de 30 ainda desaparecidos

Filipe Faleiro filipe@grupoahora.net.br

VALE DO TAQUARI

“Não teve o que fazer. Quando eu vi, a água estava entrando dentro de casa. Tive de sair só com uma mochila e algumas roupas”, relembra o morador de Lajeado, Israel Wolf. “Minha vó ficou dois dias em cima do telhado em Cruzeiro do Sul. Eu fiquei desesperada, achei que ela não ia resistir”, conta Fernanda Friedrich. “Aqui em casa a água

“Não teve o que fazer. Quando eu vi, a água estava entrando dentro de casa. Tive de sair só com uma mochila e algumas roupas”

ISRAEL WOLF

nunca tinha chegado. Não pensei que ia subir tanto”, lamenta Suan Pablo. “Aquele cenário de guerra de novo, como de setembro. Mas foi ainda pior”, compara a moradora de Roca Sales, Cecília Magedanz.

As quatro histórias são uma fração de todo o drama vivido pela comunidade do Vale. Entre o fim de abril até 6 de maio, os rios e arroios da bacia hidrográfica do Taquari\Antas alcançaram recordes de vazão de água e consequente nível de inundação.

“Minha vó cou dois dias em cima do telhado em Cruzeiro do Sul. Eu quei desesperada, achei que ela não ia resistir”

FRIEDRICH

Como resultado, mais de 60 mil pessoas foram atingidas pelas enchentes, com pelo menos 30 mil imóveis atingidos. Conforme apuração nos municípios, cerca de 23,3 mil pessoas ficaram desabrigadas. Até agora, são pelo menos 36 óbitos confirmados e ainda há mais de 30 desaparecidos. No dia 2 de maio, o Rio Taquari bateu o recorde de elevação. Passou dos 34 metros em Estrela, na medição topográfica feita pela administração municipal.

30 DE ABRIL (TERÇA-FEIRA)

No Vale do Taquari, acumulado de chuva passou dos mil milímetros do dia 25 de abril até 15 de maio. Excesso trouxe perdas humanas, sociais, econômicas e ambientais. Mais de 30 cidades da região decretaram calamidade

2 DE MAIO (QUINTA-FEIRA)

O número de mortes aumenta. Foram mais 19 óbitos em 24 horas. Parte da ponte da ERS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio, é levada pela força do Rio Forqueta.

A Ponte de Ferro, também entre os dois municípios, foi destruída.

A cabeceira da ponte seca, entre Lajeado e Estrela é danificada.

A água chegou na ponte da BR-386 entre Lajeado e Estrela. Uma balsa atinge a proteção da passagem.

O Rio Taquari atingiu nível histórico, com 34,05 metros em Estrela (Em Lajeado, foi de 33,35)

A enchente supera as marcas registradas em setembro de 2023.

25 DE ABRIL (QUINTA-FEIRA)

A MetSul Meteorologia alerta para um cenário de grave risco com chuva extrema.

29 DE ABRIL (SEGUNDA-FEIRA)

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de volume elevado de chuva. As chuvas intensas e contínuas começaram a afetar áreas no Vale do Rio Pardo. As primeiras imagens da inundação aconteceram em Sinimbu. No dia, a região tem quedas de barreira em diversos pontos, entre elas na ERS-129, em Encantado.

As inundações começam na parte baixa do Vale do Taquari. No dia, a medição no Forqueta, entre Progresso e Travesseiro tem o maior volume de chuvas da região. São mais de 150 milímetros no Rio Forqueta. A água invade os municípios de Marques de Souza, Travesseiro, Forquetinha, Arroio do Meio e Progresso.

A ponte entre Marques de Souza e Travesseiro foi destruída. Na parte alta, o Rio Taquari começou a subir mais de um metro por hora em Roca Sales.

Neste dia, houve a queda de uma barreira na BR-386, em Pouso Novo.

À noite, a cota foi de 22,85 metros na medição em Estrela e Lajeado.

As primeiras cinco mortes da tragédia foram registradas. Duas na região, em Paverama.

1º DE MAIO (QUARTA-FEIRA)

Ao todo, 31 cidades do Vale do Taquari decretam calamidade pública.

O governador Eduardo Leite liga para o presidente Lula e pede socorro imediato.

A chuva intensa é registrada em mais de 340 cidades gaúchas. Deste total, 265 tiveram decreto de calamidade pública.

3 DE MAIO (SEXTA-FEIRA)

O governo federal anunciou o aporte de R$ 4,1 milhões para a reconstrução da ponte que interliga os municípios de Marques de Souza e Travesseiro.

Estudo preliminar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) apontou que mais de 60 mil pessoas da região foram atingidas pelas enchentes.

O número de domicílios afetados passou dos 30 mil.

As inundações afetaram mais de 80% da atividade econômica do RS. Depois de 24 horas, o nível do Rio Taquari caiu para 29,20 metros em Lajeado.

7 DE MAIO (TERÇA-FEIRA)

O Rio Taquari baixa, chega no nível normal de 13 metros em Estrela, e revela um cenário de devastação.

Cidades como Muçum, Roca Sales, Marques de Souza, Estrela, Lajeado e, em especial, Cruzeiro do Sul, foram devastadas pela força da água.

No RS, um total de 207,8 mil deixaram suas casas, sendo 48,8 mil em abrigos e 159 mil desalojados (pessoas que estão nas casas de familiares ou amigos).

6 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Do aviso à tragédia

10 DE MAIO (SEXTA-FEIRA)

O repique. As chuvas voltam a castigar a região. Neste dia, a Defesa Civil do estado e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden) informaram que a situação deve se agravar, com inundações severas e possíveis deslizamentos.

O governo federal prometeu R$ 6,7 milhões para a reconstrução da ponte entre Lajeado e Arroio do Meio.

11 DE MAIO (SÁBADO)

O Rio Taquari subiu 6 metros em 24 horas e voltou a ultrapassar a cota de inundação.

A previsão é de mais uma enchente histórica, com chance de passar dos 29 metros.

12 DE MAIO (DOMINGO)

Municípios voltam a ter interrupção no abastecimento de água e de energia elétrica. Chuva continua forte durante todo o dia. Por volta das 17 horas, reduz de intensidade nas cabeceiras da bacia hidrográfica do Taquari\Antas. Por volta das 23 horas, reduz de intensidade na parte de Lajeado e Estrela.

Na última medição do domingo, Rio Taquari chega a 27,15 metros.

13

DE MAIO (SEGUNDA-FEIRA)

Na madrugada, as leituras mostram elevações cada vez menores. Por volta das 5h, chega no pico de 27,78 metros. Entre 6h e 7h, começa a baixar.

A programação de retorno das aulas em Lajeado é transferida. Ao longo do dia, a água baixa. De forma mais lenta do que o normal, devido ao represamento no Rio Jacuí.

15 DE MAIO (QUARTA-FEIRA)

O Rio Taquari volta ao nível normal no Porto de Estrela.

Movimentos de massa, deslizamentos, queda de barreiras, danificaram estradas e fizeram vítimas

Vale ilhado

As principais rodovias tiveram danos diversos. Na BR-386, a queda de barreiras fechou a ligação de Lajeado até Soledade. Foram pelo menos três pontos de deslizamentos na serra de Pouso Novo. Além disso, houve danos na ponte seca, em Lajeado, e na principal, até Estrela. Inclusive uma balsa atingiu a proteção da estrutura. Foi necessário esperar a água baixar, para ser feita a limpeza e a análise de engenharia da CCR ViaSul sobre a integridade dos pilares. Durante dois dias, foi autorizada apenas a passagem de pedestres entre os dois municípios.

No início da enchente, entre 30 e 1º de maio, a microrregião de Encantado teve diversas estradas fechadas, inclusive a ERS-332, em direção a Arvorezinha. Rochas também interromperam a ligação na ERS-129, de Muçum a Vespasiano Corrêa. A ligação entre Marques de Souza e Travesseiro também foi destruída.

Durante dois dias, a passagem entre Lajeado e Estrela foi autorizada apenas para pedestres. Voluntários auxiliam levando itens de primeira necessidade e trazendo equipamentos, como antenas de internet por satélite

Pontes

O mais complexo foi a ligação para a parte alta por Arroio do Meio. As duas pontes ruíram devido a força do Rio Forqueta. “Passamos o momento mais difícil da nossa história. Ficamos ilhados, sem lado para sair ou chegar. Demoramos a receber suprimentos e isso causou muita angústia a todos”, frisa o prefeito Danilo Bruxel. Hoje, toda a circulação para chegada de produtos é feita por barcos. O deslocamento de pedestres ocorre por uma passagem suspensa, montada pelo Exército. “Precisamos restabelecer essa ligação o quanto antes. O prejuízo para a nossa comunidade é gigantesco”, cobra o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo.

A HORA | 7 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
ALDO LOPES FábIO KuhN
FELIPE NEITZKE

Arroio do Meio e Lajeado. Soluções em pequeno, médio e longo prazo

Os municípios trabalham com três opções, de curto, médio e longo prazo. A mais rápida é a instalação de uma ponte provisória, pela rua Romeu Júlio Scherer. A estrutura é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e pode ser instalada no máximo em uma ligação com 60 metros. Em Lajeado, será necessário abrir pelo menos um quilômetro de rua e avançar com aterro sobre o Rio Forqueta para reduzir a distância com Arroio do Meio.

A segunda opção é reconstruir a Ponte de Ferro. Inclusive há uma mobilização comunitária em curso. Pelo PIX novapontedeferro@gmail.com, já foram arrecadados mais de R$ 1,3 milhão. O governo federal promete encaminhar R$ 6,7 milhões à obra. A estimativa é que o custo passe dos R$ 12 milhões. Por último, está a reconstrução da ponte da ERS-130. A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), concessionária responsável pelo trecho, pretende lançar o edital de reconstrução na segunda-feira.

Sem água, luz e comunicação

No ápice da inundação, mais de 90 mil pontos da região ficaram sem luz e sem água. Também a comunicação foi afetada. Redes de telefone celular pararam de funcionar. “Foi o rádio que nos manteve informado e nos fez companhia”, diz Bernardo Costa, de Taquari. Ele ficou ilhado na propriedade da família. “Ainda bem que a casa fica em área mais alta.” Conforme a RGE, concessionária com a maior parcela de atendimento no Vale, o

total de residências (economias) sem luz passou dos 66 mil. Postes, redes rompidas, transformadores destruídos foram alguns dos problemas dentro da área de atuação da companhia.

Na área da Certel Energia, também houve danos graves tanto em subestações quanto nas redes de alta e de distribuição. Para garantir a retomada da luz, foi estabelecida uma parceria com a RGE, após cinco dias de apagão para quase 45 mil residências.

Com a permissão para religar a energia na rede da concessionária, a Certel conseguiu atender cerca de 25 mil economias. Com as reconstruções, o dado mais recente aponta 200 pontos sem energia. No abastecimento de água, houve problemas em todas as regiões atendidas pela Corsan\Aegea. A maior dificuldade foi em Lajeado. As bombas de captação de água, no bairro Carneiros, ficou submerso. Foram oito dias até as equipes conseguirem chegar na estação.

Equipe para manutenção da estação para captar água, em Lajeado, só conseguiu chegar no local após a água baixar

8 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Comitiva do governo federal visitou a Ponte de Ferro nesta semana para avaliar modelo de reconstrução Equipes ainda atuam em postes e redes para restabelecer a energia elétrica na região
Faleiro
Filipe Faleiro
Filipe
Filipe Faleiro

Os motivos para a chuva intensa

A conjunção de fenômenos atmosféricos de 28 de abril até 5 de maio passaram dos 600 milímetros de chuva em diversos pontos do RS e do Vale do Taquari. Entenda o que aconteceu:

Ventos (cavados atmosféricos):

- É uma depressão na alta atmosfera que provoca uma corrente intensa de vento.

- Atua como um canal para o deslocamento de sistemas meteorológicos, contribuindo para a instabilidade do tempo.

- No caso específico, o cavado atuou sobre a região Sul, intensificando a formação de nuvens de tempestade.

Corredor de umidade da amazônia

- Também conhecido como “rios voadores”, são fluxos de ar carregados de umidade provenientes da Floresta Amazônica.

- Esses corredores podem transportar umidade para outras regiões, como o Sul do Brasil, aumentando o potencial para chuvas intensas.

3

Bloqueio atmosférico:

- Ocorre quando um padrão de alta pressão impede o avanço de frentes frias ou sistemas de baixa pressão.

- No período em questão, um bloqueio atmosférico causado por uma onda de calor no centro do país resultou em condições secas e quentes nessa área. Com um “domo” de calor, a corrente de umidade amazônica foi deslocada para o extremo sul do país..

- Esse sistema de baixa pressão resultou em um acúmulo extremo de chuvas sobre quase todo o RS por dias seguidos.

4

5

Frentes frias:

- São zonas de transição entre uma massa de ar frio e uma de ar quente.

- A interação entre essas massas de ar gera instabilidade e favorece a formação de nuvens carregadas e chuvas.

- Durante o período mencionado, várias frentes frias vindas da Argentina e do Uruguai foram impedidas de se dissipar devido ao bloqueio atmosférico.

El Niño e as mudanças climáticas: O aquecimento do Oceano Pacífico muda o padrão das chuvas no sul do continente americano.

A comunidade científica alerta que os fenômenos extremos têm ocorrido com mais frequência e intensidade.

Volumes de chuva

(em milímetros o acumulado de 29 de abril ate 5 de maio)

Encantado: 708 mm

Santa Tereza: Linha José Júlio: 725,4 mm

Por região

Vale do Taquari: No geral, passou de 500 mm em três dias

A HORA | 9 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
1
Nova Bassano Santa Tereza Farroupilha Rio Guaporé Rio Carreiro Rio da Prata Rio Turvo Nova Roma do Sul Rio Taquari
2
Rio Fão Rio Forqueta Arroio Forquetinha

FATO NOVO

Muito além das enchentes: os perigos ocultos do Vale

Deslizamentos e afundamentos de terra revelam vulnerabilidades regionais e interrompem a rotina de cidades inteiras

Jéssica R. Mallmann jessicamallmann@grupoahora.net.br

Filipe Faleiro filipefaleiro@grupoahora.net.br

Os episódios de deslizamentos, movimentos de massa, queda de barreiras e afundamentos de solo no Vale do Taquari revelam que os perigos das catástrofes climáticas não se limitam apenas às enchentes.

A chuva acima da média histórica também mostrou que a compactação do solo na região teve mudanças significativas e revelou um cenário muito semelhante aos acontecimentos de novembro do ano passado, em Gramado, na Serra Gaúcha. No episódio, o bairro Três Pinheiros precisou ser evacuado e estradas foram bloqueadas para garantir a segurança das pessoas. Cena que se repetiu em muitas cidades do Vale.

A exemplo, municípios como Colinas, Encantado, Marques de Souza, Muçum, Teutônia e Roca Sales foram pegos de surpresa com a interrupção das principais estradas e se viram diante de grandes desafios de locomoção pela região. Onde antes ficavam trajetos movimentados por

carros, ônibus e caminhões de todos os cantos do país, agora são percursos incertos. Os meios de transporte habituais foram substituídos por balsas, barcos e até mesmo passadeiras do exército para permitir a circulação da população de um município a outro. No entanto, ainda há comunidades inteiras que aguardam ansiosas pela desobstrução das vias.

Mais de 3,3 mil pessoas moram em áreas de risco

Contrapondo ao que muitos imaginam, os deslizamentos são fenômenos comuns no Vale do

Taquari. A diferença é que antes eles não atingiam as regiões urbanas. Parte deste novo cenário acontece devido às características geológicas das cidades e as construções em encostas de morro, que podem intensificar os episódios.

“O Vale tem condições propícias para movimentos de massa. Tanto que temos episódios cada vez mais frequentes”, alerta o gerente de hidrologia e gestão territorial do Serviço Geológico Brasileiro (SGB)/CPRM, Franco Turco Buffon.

Em síntese, os movimentos de massa ocorrem quando o solo repousa superficialmente sobre as rochas, em áreas com acentuado declive. Com o acúmulo de água, essa camada se desprende

O Vale tem condições propícias para movimentos de massa. Tanto que temos episódios cada vez mais frequentes”

e desencadeia fenômenos naturais como deslizamentos, desmoronamentos e erosões.

Entre os serviços realizados pelo SGB/CPRM estão as análises geológicas e o mapeamento dos municípios com maior incidência destes fenômenos. No Vale do Taquari, somente nove cidades (com inclusão de Venâncio Aires) foram analisadas. Destas, Taquari e Venâncio Aires foram as únicas que não apresentaram alertas para deslizamentos em locais com moradores. Muito pela característica das cidades, por serem terrenos planos, em áreas de várzea.

As análises foram feitas entre 2013 e 2023 e adotam como critério locais habitados. Ou seja, desconsideram pontos da zona rural sem proximidade com propriedades, ou mesmo encostas de rodovias.

Pelo acompanhamento do serviço geológico, foram identificadas pelo menos 33 áreas na região com risco alto ou muito alto de episódios como deslizamentos, erosão, afundamentos e rachaduras. Nestes pontos, são mais de 900 imóveis, com uma população estimada de 3,3 mil.

Um novo capítulo para o Vale

Na tarde da última quartafeira, 15, a Univates promoveu uma formação específica para engenheiros, geólogos, equipes de Defesa Civil, bombeiros e servidores municipais. Mais de 180 pessoas acompanharam a programação no Auditório do Prédio 11.

O curso foi ministrado por Masato Kobiyama, professor

Serviço geológico estima que mais de 900 imóveis estão em área de risco

Deslizamento de terra causa o bloqueio da ERS-129, entre Muçum e Vespasiano Corrêa

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenador do Grupo de Pesquisa dos Desastres Naturais, do Instituto de Pesquisas Hidrológicas (IPH).

“A topografia do Vale do Taquari é favorável para movimentos de massa. Visitei Encantado há alguns meses. É um lugar muito bonito. Fui nos locais, e comecei a apontar. Aqui o solo desliza, aqui pode cair rocha… e fui fazendo um monitoramento”, conta Kobiyama. Segundo ele, “é nas vistorias que vamos entender o grau de risco às pessoas”. Além de ministrar o curso, o especialista levou os participantes a saídas de campo e visitas técnicas em três locais de Santa Clara do Sul. “A inundação acontece superficialmente, mas o deslizamento resulta da dinâmica subterrânea. Para entender coisas internas, só teoria na sala de aula não é suficiente. Por isso, a aprendizagem em campo é fundamental”, salienta Kobiyama.

“Precisamos de segurança nas informações”

Para a secretária de meio ambiente e infraestrutura do estado, Marjorie Kauffmann, o encontro confirma a necessidade urgente de identificação de

10 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
FRANCO TURCO BUFFON GERENTE DE HIDROLOGIA DO SGB Queda de barreiras provocaram destruição, vítimas e transtornos DIVULGAÇÃO

pontos de risco de movimentos de massa e deslizamento. Ainda que o Serviço Geológico tenha o mapeamento de alguns locais, ele não é suficiente.

“Reunimos voluntários, e muitos trabalham nos municípios atingidos como técnicos ou ainda na Defesa Civil, para traçar e discutir diretrizes básicas para identificar novas áreas”, explica Marjorie. A ideia, segundo a secretária, é construir um banco de dados destes locais no estado e incorporá-lo àquele já fornecido pelo SGB.

Promotor de justiça, Sérgio Diefenbach, ressalta a importância da formação técnica para fundamentar medidas ágeis em situações críticas. “O que nós, Ministério Público, precisamos é segurança nas informações. Laudos assinados com responsabilidade técnica são essenciais para orientar a população e os gestores municipais quanto à possibilidade de permanecerem nesses locais ou a necessidade de evacuação”, enfatiza. Munidos destes laudos, de acordo com Diefenbach, as autoridades municipais podem agir por conta própria no que diz respeito à evacuação de moradores de área de risco. “Havendo necessidade de evacuação, eles podem proceder com suas próprias forças, inclusive com o uso de força policial. Não há a necessidade de uma ação judicial”. Fato que contribui para as ações em prol da segurança da comunidade.

Municípios com mais deslizamentos

Pelo menos dez cidades da região registraram deslizamentos de terra. O caso mais grave foi em Roca Sales com vítimas devido aos soterramentos.

Entenda mais sobre movimentos de massa

DESLIZAMENTOS:

Movimento de massa descendente em encostas. Diversos fatores podem desencadear, entre eles:

In ltração de água no solo: pode reduzir a coesão entre as partículas, tornando-o mais suscetível.

Declividade: Quanto mais íngreme, maior a probabilidade.

RACHADURAS:

Causas diversas, como:

Retração do solo. A perda de umidade pode se contrair e desenvolver rachaduras.

Expansão e contração. Há minerais presentes no solo que podem se expandir quando úmidos e contrair quando secos, levando à formação de rachaduras.

AFUNDAMENTOS:

Os afundamentos do solo podem ocorrer devido a:

Extração de água subterrânea: A remoção excessiva de água do subsolo pode levar ao colapso do solo, resultando em afundamentos. Subsidência: Atividades humanas, como mineração, podem causar subsidência do solo à medida que as camadas subterrâneas são retiradas.

RASTEJOS:

O rastejo é um movimento lento e contínuo de solo em encostas, que pode ser causado por:

Umidade: A água presente no solo reduz a coesão dos materiais. Inclinação: isso pode facilitar o rastejo, especialmente em solos argilosos.

SÉRGIO

DIEFENBACH PROMOTOR DE JUSTIÇA

O que nós, MP, precisamos é segurança nas informações. Laudos assinados com responsabilidade técnica são essenciais”
A HORA | 11 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Venâncio Aires Boqueirão do Leão
ANDRÉ CONCEIÇÃO/DIVULGAÇÃO

MORTOS E DESAPARECIDOS

Entre o luto, a destruição e os traumas da enchente

Tragédia soma 36 mortes, mais de 30 desaparecidos e 26,2 mil pessoas desalojadas no Vale

Já chovia desde o sábado, 27, em grande volume. Mas as águas do rio Taquari começaram a subir na segunda-feira, 29. O medo de uma nova enchente proporcional ou maior do que a que a comunidade viveu em 2023 era temida. E um novo fator, os desmoronamentos, se uniram aos perigos causados pelos temporais.

O Taquari atingiu o pico no dia 2 de maio, às 13h30min, com 33,35 metros. E, desde a enchente de 2020, pelo menos, além da evacuação das casas, as mortes também fizeram parte do retrato da tragédia. Em setembro do ano passado, foram 54 vidas perdidas pelas águas, e quatro pessoas desaparecidas. Desta vez, desde o início de maio, o Vale contabiliza 36 mortos e 32 desaparecidos.

A primeira morte foi em Paverama, quando um veículo com dois passageiros, Delmar Waldomiro Sandres e Nelson Schaeffer, foi arrastado pela enxurrada no fim da tarde de segunda-feira, 29, na localidade de Morro Azul.

Em Forquetinha, o casal de idosos Adanário Fuchs, 75, e Celi Fuchs, 74, tiveram a residência atingida pela cheia em Barra do Forquetinha e também morreram, vítimas dos temporais.

Com o passar dos dias, mais óbitos foram registrados em Lajeado, Cruzeiro do Sul, Venâncio Aires, Capitão, Travesseiro e Putinga. Os desmoronamentos de terra ainda

Na enchente passada, a água invadiu a nossa casa, perdemos algumas coisas, mas desta vez foi horrível. Estamos muito mal”

Quando vimos as casas caindo, as casas dos vizinhos, dos meus pais, a parte velha da nossa casa, nós decidimos todos nos jogar na água”

CAROLINE RAMOS SILVA

DO SUL

vitimaram 10 pessoas em Roca Sales, além de duas em Marques de Souza e uma em Encantado, identificada como Josaine Machado.

A pior das perdas

Familiares e amigos se despediram de Josaine, de 46 anos, na manhã de quinta-feira, 16. A filha, Isabela Caroline Andreoli, 20, conta que no dia do acidente, todos estavam em

Corpos são encaminhados para o Departamento Médico Legal de Lajeado. Registros de pessoas desaparecidas, além de serem feitos na Polícia Civil, também devem ser feitos no DML para possível identi cação das vítimas

casa, ela, o irmão Arthur, o avô e a mãe. Era meio-dia, e família tirava alguns pertences de dentro do carro, porque pretendiam dormir no veículo em outro ponto da localidade, após receberem os avisos das autoridades sobre o risco de deslizamentos.

Isabela lembra que enquanto estavam fora da casa, ouviram um barulho e viram a casa dos vizinhos ser levada pelas terras. Arthur estava dormindo dentro da residência deles e Isabela correu para acordá-lo. “Quando eu olhei para o lado para

ver a minha mãe, em segundos, o morro do lado esquerdo também tinha desmoronado e tinha levado ela junto”.

Isabela diz que os irmãos chegaram a encontrar a mãe com vida, debaixo do tronco de uma árvore. A família e os vizinhos chamaram ajuda, mas não havia mais passagem para a localidade.

“Naquela tarde, minha mãe não resistiu e faleceu. O corpo ficou com a gente naquela noite e mais um dia, até os bombeiros conseguirem chegar”.

Depois de 16 dias, a família conseguiu sepultar Josaine no cemitério de Jacarezinho.

“Decidimos nos jogar na água”

Com a subida do nível do rio, vieram os pedidos de resgates. Pessoas ilhadas, nos telhados, em casas de vizinhos. A Defesa Civil iniciou a busca por moradores em risco com barcos, mas logo o trabalho se tornou impossível. Até chegarem os helicópteros do governo, as pessoas continuaram pedindo ajuda. Aeronaves particulares também foram colocadas à disposição para os resgates.

“Estamos vivos por um milagre de Deus, a gente desceu para salvar os cachorro, meus pais, todo mundo, achamos que ia ser uma enchente igual a todas as outras”, contam Annes Mattei e Caroline Ramos Silva. Moradores do bairro São Miguel, em Cruzeiro do Sul, os empresários aguardaram até sexta-feira, 3, à tarde, para serem retirados da água, junto da família.

“Quando vimos as casas caindo, as casas dos vizinhos, dos meus pais, a parte velha da nossa casa, nós decidimos todos nos jogar na água”, conta Caroline.

O casal e os familiares ficaram à espera do resgate por 36 horas.

“Quando pensei que ia perder a vida, minha maior força foi pensar que eu tinha um emprego. Pensei que não podia desistir, eu já estava com hipotermia, não ia aguentar se não fosse resgatada na tarde de sexta”, conta a empresária. Ela também pensava no emprego das funcionárias e que precisa estar viva para cuidar dos pais.

No tempo em que passaram na água ou agarrados aos troncos das árvores, Annes conta que o cunhado fazia a chamada dos familiares e, de 10 em 10 minutos, perguntava se todos estavam bem. “A gente lutou um pela vida do outro. Fomos nos afogando, nos

empurrando, até acharmos um pé de butiá. Um tronco muito grande que nos salvou”, conta Caroline. A família ainda conseguiu chegar em um galpão a cerca de 30 metros da casa deles, onde passaram outra noite antes de serem salvos.

Sem moradia

Mesmo aqueles que tiveram suas vidas salvas, lidam com a tragédia. O processo de limpeza foi árduo e passou por uma nova enchente na madrugada de segunda-feira, 13, quando o Taquari atingiu 27,78 metros e atrapalhou os trabalhos com rodos e lava jatos. Os temporais deixaram mais de 26,2 mil pessoas desalojadas na região. Diferente de outros temporais, não há previsão para muitas dessas famílias deixarem os abrigos. E os municípios

12 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
DO
VALE
TAQUARI
CARLOS BUSCH MORADOR DE MARQUES DE SOUZA Morador de Marques de Souza, Carlos Busch teve parte da casa destruída pelas cheias e diz nunca ter presenciado algo semelhante Bibiana Faleiro bibianafaleiro@grupoahora.net.br FIILIPE FALEIRO FELIPE NEITZKE

Resgates continuam sendo feitos em localidades onde houve desmoronamentos ou com registros de pessoas desaparecidas

Annes Mattei e Caroline Ramos Silva relatam como sobreviveram após terem casa destruída pela enchente em Cruzeiro do Sul

buscam alternativas temporárias de moradias, ou novas áreas para a construção.

Cenário de destruição

O cenário de destruição se estende por Marques de Souza. Moradores como Carlos Busch testemunharam a força das águas. Ele relata o impacto do desastre em sua residência, onde toda a mobília foi perdida e parte da estrutura da casa comprometida.

“A casa dentro, os móveis, perdemos tudo”, lamenta. “Estamos mal, muito mal”, desabafa. Busch ainda tentava recuperar algumas roupas que restaram após a inundação ter

levado embora portas, janelas e pertences preciosos.

Com 14 anos de residência na região, ele afirma nunca ter presenciado uma catástrofe semelhante. “Na enchente passada, a água invadiu a nossa casa, perdemos algumas coisas, mas desta vez foi horrível”, recorda. Moradora da localidade de Faxinal Silva Jorge, em Bom Retiro do Sul, Regina Dornelles também teve a residência atingida. Mesmo tendo levantado os móveis e saído de casa, ela viu a estrutura ser tomada pelas águas, perdeu o que tinha no interior dos dois pisos da residência e diz não querer voltar. “Eu digo, quem é mais novo, que saia daqui. A partir de agora eu não pretendo ficar”.

desalojadas

A tragédia em números

Números no estado

Municípios afetados: 461

Pessoas em abrigos: 78.165

Desalojados: 540.192

Afetados: 2.281.830

levantamento por meio de um

famílias e

Pessoas desalojadas: município faz mais de 1 mil 4 e 5 mil

Feridos: 806

Desaparecidos: 98

Óbitos confirmados: 154

Pessoas resgatadas: 82.666

Efetivo: 27.688

Viaturas: 4.085

Aeronaves: 21

Embarcações: 289

Mortes e desaparecidos no Vale

(Conforme Defesa Civil do Estado)

Óbitos (36)

Lajeado: 2

Cruzeiro do Sul: 10

Paverama: 2

Forquetinha: 2

Venâncio Aires: 4

Capitão: 2

Roca Sales: 10

Putinha: 1

Encantado: 1

Casas destruídas: mais de 1 mil

MARQUES DE SOUZA

Dados ainda são contabilizados

TAQUARI

Pessoas desalojadas: 817 famílias

Eu digo, quem é mais novo, que saia daqui. A partir de agora eu não pretendo car”

REGINA DORNELLES

MORADORA DE BOM RETIRO DO SUL

Pessoas em abrigos: 143 famílias

VENÂNCIO AIRES

Pessoas desalojadas: não há dados divulgados

Pessoas em abrigos: 270

Travesseiro: 1

Taquari: 1

Desaparecidos (31)

Roca Sales: 6

Relvado: 2

Poço das Antas: 1

Marques de Souza: 1

Cruzeiro do Sul: 9

Lajeado: 6

Encantado: 2

Arroio do Meio: 1

Teutônia: 3

Familiares e amigos se despediram de Josaine na manhã de quinta-feira, 16. A mulher de 46 anos foi a primeira vítima de Encantado

A HORA | 13 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
DIVULGAÇÃO MATHEUS LASTE ALDO LOPES

IMPACTO ECONÔMICO

Com prejuízos ainda inestimados, setor produtivo tenta se reerguer

Entraves logísticos, acesso a crédito subsidiado e preocupação com êxodo de mão de obra dominam debates do setor empresarial

Além do drama enfrentado pelas famílias que perderam de entes queridos a bens materiais, o Vale do Taquari também sofre os efeitos dos danos à atividade empresarial. Uma das maiores forças da região, o setor produtivo ainda não conseguiu contabilizar os prejuízos, mas já trabalha para mitigar os efeitos da maior tragédia ambiental e climática da história do Rio Grande do Sul.

Presidente da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari, Ângelo Fontana destaca pontos fundamentais para a reconstrução das empresas atingidas diretamente, e também da infraestrutura necessária para a normalização da produção e dos empregos em todo o segmento. “São as empresas que geram renda para a população e fazem toda a roda da economia girar.” Conforme Fontana, o primeiro gargalo a ser solucionado é a infraestrutura de mobilidade.

É preciso corrigir o que não deu certo. Se o governo conseguir cumprir metade do que está sendo negociado, estaremos bem”

Sem a recuperação das condições de logística, seja para receber insumos, equipamentos e funcionários, ou para escoar a produção, as indústrias não terão condições de se recuperar, mesmo se houver recursos para a retomada.

O segundo pilar é a garantir de moradia e acomodação para as famílias de trabalhadores.

Fontana defende a criação de distritos industriais e loteamentos em áreas com topografia favorável, de forma a garantir que as empresas e trabalhadores tenham tranquilidade para desempenhar suas atividades.

“Precisamos de investidores que montem esses condomínios, porque as empresas não terão condições de imobilizar seus

recursos com obras, diante da necessidade de investir em maquinários e na operação”, aponta. Dessa forma, acredita ser possível evitar o êxodo de trabalhadores e empresas da região para fora do RS.

Por fim, Fontana ressalta a necessidade de medidas efetivas por parte do poder público, em especial do governo federal, de socorro ao setor empresarial. Nas enchentes de setembro e novembro os recursos acabaram não chegando às maiores empresas atingidas pelas águas. “É preciso corrigir o que não deu certo. Se o governo conseguir cumprir metade do que está sendo negociado, estaremos bem.”

Segundo ele, um dos principais entraves para a efetividade das ações governamentais ainda dependem da mensuração dos prejuízos. Por meio de parceria com o Sebrae-RS, o governo do Estado realiza pesquisa com os empresários para determinar os danos, nos moldes do trabalho bem sucedido na região após as enchentes do ano passado. Porém, diante da dimensão da tragédia, e como algumas regiões ainda estão em baixo d’água, não há previsão de conclusão desse trabalho.

Motivação para seguir

Uma das empresas mais atingidas pelas últimas enchentes que assolaram a região, a Vidraçaria Lajeadense suspendeu temporariamente as operações no

município. De forma provisória, a indústria opera em um galpão alugado na cidade de Estrela, enquanto constrói uma nova sede em Lajeado, longe das margens do rio Taquari.

Responsável pelo marketing da empresa, Roberta Arenhart afirma que os prejuízos dessa última cheia ainda não foram estimados, principalmente porque a força da água destruiu todos os prédios. “É uma empresa com 66 anos de história e cada pavilhão foi construído pelo meu pai. Sentimos a dor de uma vida inteira que se foi.”

Mesmo com a retomada do trabalho de forma provisória, a vidraçaria ainda enfrenta dificuldade no acesso a clientes devido a destruição da infraestrutura logística do Estado. “Estamos na metade do mês e ainda não conseguimos fazer nenhum tipo de medição ou entrega de produto.” Apesar das dificuldades, a

É uma empresa com 66 anos de história e cada pavilhão foi construído pelo meu pai. Sentimos a dor de uma vida inteira que se foi.”

ROBERTA ARENHART

RESPONSÁVEL PELO MARKETING DA VIDRAÇARIA LAJEADENSE

empresa familiar mantém a motivação para recomeçar e continuar cumprindo o importante papel de gerar emprego e renda na região. “Acreditamos nos nossos sonhos, como família, como empresa e para as mais de cem famílias que dependem desse negócio.”

14 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 VALE DO TAQUARI
ÂNGELO Thiago Maurique thiagomaurique@grupoahora.net.br

Ainda não temos como dimensionar os prejuízos da Dália porque nossa prioridade é cuidar das pessoas”

MAURÍCIO

FONTANA

DIRETOR COMERCIAL DA FONTANA S.S.

Tivemos ações de prevenção que ajudaram a minimizar as perdas da empresa, mas jamais esperávamos um evento tão extremo”

Escoamento da produção

Uma das empresas mais tradicionais da região alta do Vale do Taquari, a Fontana S.A. também enfrenta os efeitos de grandes enchentes em curto período. Diretor Comercial da empresa, que completa 90 anos de história em 2024, Maurício Fontana ainda contabiliza as perdas provocadas pela água, que alcançou instalações intactas nas outras cheias.

“Tivemos várias ações de prevenção que ajudaram a minimizar as perdas da empresa, mas jamais esperávamos um evento tão extremo”, afirma. Além do trabalho de limpeza, desobstrução, desentulhamento, lavagem, e recuperação dos equipamentos para restabelecer a produção, ainda existe o entrave da infraestrutura logística. Com pontes destruídas e estradas obstruídas, tanto a chegada de

Paredes caíram, a empresa cou totalmente submersa até o telhado. A água tomou forte velocidade e agressividade.”

JANAÍNA MARTINEZ

DIRETORA DA VINAGRES PRINZ

insumos quanto o envio dos produtoes fica prejudicado.

Para Fontana, o grande desafio será fazer com que todos acreditem que é possível habitar o Vale do Taquari e reconstruir com segurança. “Precisamos de um trabalho de prevenção de cheias, e obras que tragam essa

Após ser atingida por quatro enchentes em oito meses, Lajeadense Vidros desativa unidade às margens do Rio Taquari

tranquilidade. Acreditamos na transformação do Vale em uma região ainda mais mais forte.”

Mudança de endereço

Empresa com 99 anos de história, a Vinagres Prinz, de Lajeado, enfrentou a quarta enchente na fábrica localizada no Centro da cidade. A Diretora Janaína Martinez afirma que os danos da enchente desse ano superaram as das enchentes anteriores e tornaram inviável manter a empresa no mesmo

endereço. “Paredes caíram, a empresa ficou totalmente submersa até o telhado. A água tomou forte velocidade e agressividade.”

Além dos prejuízos financeiros, Janaína destaca o abalo psicológico dos diretores e funcionários, que agora trabalham na limpeza do espaço. “Somos uma empresa familiar muito unida e temos gratidão pelas pessoas que estiveram conosco em todos os momentos de dificuldade. Nós estamos ao lado deles também, tentando fazer com que reconstruam suas casas e suas vidas.”

Apesar das dificuldades, Janaína destaca o foco em restabelecer o negócio e manter o atendimento aos clientes da marca, líder no mercado gaúcho. Segundo ela, o setor empresarial precisa ter acesso ao crédito com juros subsidiados e condições facilitadas, conforme promessa do Governo Federal. “Vamos fazer 100 anos em 2025 e estamos muito organizados e focados na retomada. Vamos conseguir porque não há outra alternativa.”

Entrave logístico

Com plantas fabris em diferentes cidades atingidas pelas

cheias da região, a Dália ainda contabiliza graves prejuízos enfrentados pelos produtores integrados. Presidente do Conselho Administrativo da cooperativa, Gilmar Piccinini afirma que os problemas das indústrias são pequenos frente aos danos provocados pelas enchentes no campo.

“Ainda não temos como dimensionar porque nossa prioridade é cuidar das pessoas”, aponta. Conforme Piccinini, a água não chegou a invadir a indústria de laticínios e provocou poucos danos nas plantas de aves e suínos. Com exceção da queijaria, localizada no bairro Aimoré, em Arroio do Meio, a previsão é de retomar as atividades da indústria forma gradativa, já na segunda-feira, dia 21.

Piccinini afirma que a principal preocupação está na infraestrutura logística para garantir tanto a alimentação dos animais quanto o posterior escoamento da produção, além da mobilidade dos funcionários. “Vamos entrar em uma discussão muito forte na questão estrutural do Estado. Precismos definir as prioridades para manter a região viva e garantir os empregos.”

A HORA | 15 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
PRESIDENTE DA DÁLIA
GILMAR FELIPE NEITZKE

COLAPSO NO VALE

TEMPOS DE “COLÔNIA” CAOS LOGÍSTICO

REGRIDE MOBILIDADE REGIONAL AOS

Problemas em rodovias resultam em desvios e longas rotas alternativas, elevam custos ao setor e abalam economia local. Desafio é reconstruir pontes e acessos em um curto tempo para restabelecer ligações e projetar investimentos futuros para diminuir dependência de trechos como a BR-386

Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br

Pontes destruídas. Ruas e estradas danificadas. Asfalto arrancado de trechos pavimentados. Ferrovias impactadas. Dentre os efeitos devastadores da enchente histórica do começo deste mês, o caos logístico é um dos que mais impressiona e dificulta a retomada do Vale do Taquari. É como se a região tivesse regredido aos tempos

O volume de cargas disponíveis para serem transportadas no RS teve uma redução significativa. Ou seja, ao mesmo tempo em que o custo aumenta, as cargas diminuem. Isso é muito negativo para o setor”

de “colônia” em determinadas localidades.

Um dos grandes desafios às autoridades públicas e privadas neste pós-catástrofe se apresenta na reconexão entre cidades. Muitas ligações, hoje, estão comprometidas ou nem existem

Aqui está a prova. Quem chega a região hoje, se chegar pela BR-386, não dá. Se nós quisermos continuar falando em Vale do Taquari, temos que olhar para a frente”

mais. Caso da ponte da ERS130, entre Lajeado e Arroio do Meio. Nada restou da estrutura, arrastada pela força das águas do Rio Forqueta, no dia 2 de maio.

Da Ponte de Ferro, histórica estrutura e cartão-postal da região, sobrou uma pequena

Parte da ponte

parte. Ao menos a travessia de pedestres foi amenizada nos últimos dias. Primeiro, com barcos, balsa e botes do Exército. Mais recentemente, a construção de uma passadeira facilitou a passagem por terra das pessoas entre um município e outro.

O estrago poderia ter sido ainda maior. A ponte sobre o Rio Taquari, na BR-386, resistiu e virou símbolo da força da região e sinônimo de esperança de dias melhores. Ainda que o fluxo de veículos não esteja normalizado na rodovia, as perspectivas são de uma liberação total nas próximas semanas, a depender também de avaliações técnicas.

Transtornos e custos elevados

Uma viagem de menos de 15 minutos, mas que hoje leva quase duas horas. Ir de Lajeado a Arroio do Meio (e vice-versa) nunca pareceu tão desafiador após a queda da ponte da 130. Esse é um dos vários problemas decorrentes do caos logístico dos últimos dias no Vale do Taquari e no RS.

Diretor de logística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT) e vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística do RS (Setcergs), Diego Tomasi, estima um aumento de 30% no custo das transportadoras nas últimas semanas, em virtude dos problemas logísticos no Estado. Cita dois problemas que o setor enfrenta, sendo o mais impactante a questão das rodovias. “Os bloqueios nas principais estradas do RS aumentaram muito a distância percorrida, devido aos desvios de rota. Além disso tem os congestionamentos, como ocorre na ponte do RIo Taquari. O custo logístico está muito maior devido a essa situação”, frisa.

Volume menor

O outro problema apontado por Tomasi é o impacto das cheias sobre clientes das

Com danos nas cabeceiras do viaduto da Bento Rosa e da ponte do Rio Taquari liberação das pistas na BR-386 é parcial. Situação gera longos congestionamentos

transportadoras. “O volume de cargas disponíveis para serem transportados no RS teve uma redução significativa e importante. Ou seja, ao mesmo tempo em que o custo aumenta, as cargas diminuem. Isso é muito negativo para o setor”. Como alternativa, neste primeiro momento, destaca a existência das rotas alternativas – embora o custo seja maior –. E, principalmente, a movimentação da Setcergs junto à classe política para que as ligações destruídas ou parcialmente afetadas sejam restabelecidas o mais rápido possível.

“Entendemos o motivo de catástrofe, mas agora não podemos perder para a burocracia. Uma ponte que poderia ser recuperada em um mês não pode demorar meio ano, um ano. Precisamos de ações efetivas e rápidas”.

Estruturas elevadas

Um debate necessário em meio ao caos logístico é sobre as novas pontes que serão planejadas, ou das estruturas a serem reconstruídas. A perspectiva é

16 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
VALE DO TAQUARI
DIEGO TOMASI DIRETOR DE LOGÍSTICA DA CIC-VT
ELMAR SCHNEIDER PREFEITO DE ESTRELA FELIPE NEITZKE
entre Travesseiro e Marques de Souza foi levada pela força das águas

de que, com a enchente histórica de maio, as futuras travessias tenham uma elevação.

“Essa grande catástrofe mostra a importância de termos estruturas e obras viárias bem resistentes. Essa ponte entre Lajeado e Arroio do Meio jamais poderia ter caído. É preciso investimentos mais consistentes, pois podemos ter novas enchentes como essa”.

A engenheira civil e especialista em pontes, Rebeca Schmitz, aponta para a necessidade de projetos bem elaborados que considerem o impacto da cheia histórica. Em Lajeado, o nível do Rio Taquari chegou a 33,35 metros na tarde do dia 2 de maio, a maior marca em 150 anos.

“Quando se faz projeto de uma ponte, é preciso considerar a cota de cheia do rio. A partir disso, se faz uma análise de todo o histórico desse rio. E a ideia é que se trabalhe com uma enchente com probabilidade de ocorrer uma vez em 100 anos”, afirma.

Alternativas

As imagens da ponte sobre o Rio Taquari praticamente submersa assustaram a comunidade. Ainda que a estrutura tenha se mantido em pé, mostrou que o Vale não pode continuar dependente de apenas uma travessia no trecho de maior

movimento de veículos de toda a região. É preciso pensar em alternativas.

A construção de uma segunda ponte entre Lajeado e Estrela, algo há anos, de voltar ao centro das discussões. Seja entre os gestores públicos ou em representantes da iniciativa privada e da sociedade civil, as conversas existem.

“Aqui está a prova. Quem chega a região hoje, se chegar pela BR-386, não dá. Se nós quisermos continuar falando em Vale do Taquari, temos que olhar para a frente”, afirma o prefeito de Estrela, Elmar Schneider. Segundo ele, Lajeado e Estrela devem se unir para liderar um projeto junto ao governo federal. “No mínimo vamos começar com

o projeto. Não estou dizendo que os municípios precisam pagar ele, mas temos que começar a definir algumas prioridades. Uma delas é a necessidade clara de termos mais uma opção”.

Seis meses

A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) projeta entregar

Quando se faz projeto de uma ponte, é preciso considerar a cota de cheia do rio.

A partir disso, se faz uma análise de todo o histórico desse rio”

a ponte da ERS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio, em seis meses. A partir de novas análises a estatal reduziu a estimativa, que antes era de oito meses. O edital será publicado na segundafeira, 20, e as propostas já serão conhecidas na sexta-feira, 24. Mais detalhes sobre a obra devem ser anunciados pelo governador Eduardo Leite, que cumpre agenda no Vale do Taquari neste sábado, 18. Um dos locais a serem visitados é justamente o ponto onde houve a queda da estrutura. Há exemplos bem sucedidos de pontes construídas em tempo recorde no RS. Em janeiro de 2010, a ponte sobre o rio Jacuí na RSC-287, em Agudo, veio abaixo após um período de sucessivas chuvas e elevação do nível do rio. A obra da nova estrutura iniciou três meses depois e a conclusão ocorreu em dezembro daquele ano.

Outros modais

Não foi só a malha rodoviária da região que acabou castigada pela enchente. O imponente Porto de Estrela, em um momento de avanços nas tratativas pela municipalização, foi devastado. Pouco sobrou da estrutura que também sedia eventos como a Multifeira. O Aeródromo Regional de Estrela também sofreu danos profundos. Para Diego Tomasi, o cenário de destruição nestes espaços não pode enfraquecer a discussão sobre o fortalecimento de outros modais no Vale do Taquari. Por isso, entende que é possível alternativas para as duas situações.

“O alerta é que esses modais precisam ser projetados para suportar enchentes. O Aeródromo pode ser trocado de endereço, mas o Porto talvez necessite de uma estrutura de contenção que o faça resistir. Não dá para desistir deles”.

A HORA | 17 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
SCHMITZ ENGENHEIRA CIVIL ESPECIALISTA EM PONTES
REBECA
ALDO LOPES FELIPE NEITZKE Queda da ponte entre Lajeado e Arroio do Meio colapsa acesso com cidades da região alta. Travessia para pedestres foi improvisada

Onde os problemas logísticos ficaram mais evidentes

Lajeado e Arroio do Meio

– Ponte entre Lajeado e Arroio do Meio foi levada pela força da correnteza do Rio Forqueta. Como a Ponte de Ferro também foi destruída, a ligação entre as regiões baixa e alta do Vale do Taquari ficou comprometida;

– Para minimizar a dificuldade em deslocamentos e não deixar desamparadas as pessoas que se deslocam diariamente de uma cidade para outra, o Exército instalou uma passadeira, que permite a travessia a pé. Barcos e botes também são opções;

– Há problemas também no trecho de estrada de chão da 130, entre Cruzeiro do Sul e Venâncio Aires. Casas e empresas às margens rodovia foram devastadas pela cheia;

ERS-129

– Queda de barreira entre Muçum e Vespasiano Corrêa interrompeu totalmente o tráfego na rodovia, que liga Encantado a Guaporé. A rodovia também é um corredor alternativo do Vale do Taquari para a Serra Gaúcha;

– Como alternativa, a EGR propôs a pavimentação de uma estrada vicinal, paralela à rodovia, de três quilômetros. A ideia é reconectar as duas cidades. A previsão é de concluir os trabalhos até o fim do mês;

– Mais abaixo, o trecho entre Colinas e Roca Sales se tornou a principal ligação entre Lajeado e Estrela com Arroio do Meio e a região alta. Contudo, uma parte do trecho não é asfaltada e as enchentes pioraram as condições da pista;

– O fluxo de veículos na estrada é tão grande que, em alguns momentos, se faz necessária uma interrupção para manutenção. Motoristas relatam levar até duas horas para se deslocar de Lajeado e Roca Sales.

BR-386

(Forquetinha – Marques de Souza – Pouso Novo)

– Rodovia teve diversos pontos de bloqueio ao longo das últimas semanas, em virtude dos deslizamentos de terra. Alguns trechos tiveram o asfalto totalmente comprometido, como na subida da serra, o que exigiu ações emergenciais na recuperação da pista;

– Outros pontos ficaram totalmente alagados durante os períodos mais críticos da enchente. O acesso a Forquetinha pela rodovia federal, por exemplo, chegou a ser interrompido em mais de uma ocasião devido ao transbordo do Arroio Forquetinha;

– Nos últimos dias, o fluxo até Marques de Souza cresceu, em virtude da rota alternativa de Lajeado a Arroio do Meio, passando por Coqueiro Baixo, Nova Bréscia e Capitão.

BR-386 (Ponte do Rio Taquari)

– Estrutura ficou submersa com a enchente histórica. Além disso, ponte Norte (sentido Estrela/Lajeado) foi atingida por balsa e sofreu danos;

– A liberação para fluxo de veículos levou três dias após as águas do Taquari baixarem. Hoje, funciona em três faixas, sendo que os sentidos se alternam conforme a demanda;

– Em horários de maior movimento, a lentidão é grande. Caminhoneiros relatam levar até três horas para fazerem a travessia entre Lajeado e Estrela;

18 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
FELIPE NEITZKE ANDRÉ CONCEIÇÃO/DIVULGAÇÃO FÁBIO KUHN
ALDO LOPES

ERS-332

– Deslizamento de terra causou bloqueio em Doutor Ricardo, dificultando o acesso de Encantado a região ervateira, a Soledade e à BR-386. O trecho foi liberado inicialmente para veículos leves. Agora, há possibilidade de travessia para caminhões com carga de até 57 toneladas;

– Já em Encantado, o trecho próximo ao Moinho Sangalli também foi danificado devido à cheia do Rio Guaporé, que levou uma parte da cabeceira da ponte. Depois de muito trabalho e transtornos, houve liberação para veículos leves e também pesados.

OUTROS

RSC-287

– Trecho de Venâncio Aires foi um dos mais impactados da rodovia que liga a região central com Porto Alegre. Há pontos de bloqueio que impedem a chegada até a ponte de Vila Mariante, na divisa com Bom Retiro do Sul;

– Como alternativa, a concessionária Rota de Santa Maria prepara o asfaltamento de um desvio de três quilômetros até que o trecho seja totalmente consertado, o que deve demorar alguns meses.

– Ponte que liga Marques de Souza a Travesseiro, sobre o Rio Forqueta, também teve sua estrutura comprometida, com uma parte sendo arrastada pelas águas. A travessia, inaugurada em 2006, deve ser reconstruída com recursos federais e também doações da comunidade

Impacto também ao turismo

Uma das principais atrações turísticas da região, o Trem dos Vales, foi impactado pelas fortes chuvas. Deslizamento de terra compromete a estrutura da Ferrovia do Trigo. Conforme o coordenador dos passeios, Rafael Fontana, os danos são levantados por equipe especializada da Rumo Logística, responsável pela concessão do modal.

Devido aos impactos, a conclusão deve demorar. Aós avaliação engenheiros e técnicos vão determinar o tempo necessário e o investimento exigido para a recuperação completa do trajeto do trem. Atualmente, a ferrovia não tem condições adequadas para o trânsito de carga devido a desmoronamentos nos trilhos e erosão causada pela água.

“Além das rodovias e pontes nas cidades, a ferrovia foi bastante prejudicada. Houve desmoronamento nos trilhos, e em outros a água passou por baixo e levou a terra. Teve uma série de impactos. Todos são solucionáveis, mas demandam um trabalho de recuperação”, disse o coordenador.

Devido aos problemas estruturais, a temporada de 2024, que estava programada para iniciar em julho, está comprometida. Fontana ressaltou que uma decisão oficial sobre os passeios será comunicada assim que estiver disponível, mas reconheceu que ainda é cedo para discutir a retomada das operações.

A HORA | 19 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
DIOGO FEDRIZZI RENAN ZARTH/DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

FORÇA PARA RECONSTRUIR

Solidariedade que vem

Iniciativas de empresários e comunidade ganham força e se tornam um dos principais meios de reconstruir a região

Atragédia no Rio Grande do Sul ganhou os portais de notícias de todo o país e de parte do mundo. Encartou reportagens nos maiores jornais e mobilizou milhares de pessoas que, de forma voluntária, se disponibilizaram para ajudar.

Os municípios gaúchos mais atingidos pelos temporais, por exemplo, foram apadrinhados por prefeituras de outros estados. A Iniciativa busca agilizar a reconstrução e a arrecadação de donativos para as comunidades. No Vale do Taquari, onze municípios já foram adotados e recebem ajuda para a reconstrução.

O movimento começou por meio de um desafio lançado nas redes sociais do humorista Badin Colono, natural de Erechim. A ideia é que as prefeituras de todo Brasil “adotem” os municípios gaúchos a fim de oferecer recursos e maquinário. Santa Catarina é o estado que mais abraçou a campanha, até o momento. Na região, municípios como Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Estrela, Lajeado, Marques de Souza, Roca Sales, Travesseiro, Bom Retiro do Sul, Forquetinha e Muçum recebem o auxílio.

Desvinculados das prefeituras, outros voluntários de fora do estado chegam para ajudar na limpeza das casas, na produção de alimentos, entre outras necessidades básicas.

Veja a relação de cidades gaúchas e seus “padrinhos”

Arroio do Meio – Chapecó (SC) e Mondaí (SC)

Bom Retiro do Sul – Água Doce (SC)

Cruzeiro do Sul – Pomerode (SC) e Rodeio (SC)

Estrela – Osasco (SP) e Blumenau (SC) Forquetinha – São Bento do Sul (SC)

Lajeado – Blumenau (SC)

Marque de Souza – Araquari (SC)

Muçum - Seara (SC)

Roca Sales – Jaraguá do Sul (SC) e Luzerna (SC)

Taquari - Santa Rosa (RS)

Travesseiro - Cunhataí (SC)

Uma casa por dia

O auxílio chega de todo o lugar. Mas ainda é preciso muito para que as cidades se estruturem. E, mais do que solicitar recursos estaduais e federais, os próprios moradores da região, assim como a iniciativa privada, se unem para criar alternativas e viabilizar construções.

Um exemplo é o projeto “Uma casa por dia”, que visa a construção de lares dignos para famílias que perderam tudo durante as cheias. A iniciativa envolve a Agência de Inovação Local (Agil), Pro_Move Lajeado, Univates, empresários, Promotoria Regional Ambiental do Ministério Público, Gira e Observatório de Marcas.

As moradias serão destinadas para pessoas que vivem nos municípios do Vale atingidos pela catástrofe climática. Com recursos da iniciativa privada, as cidades que aderirem ao projeto se comprometem com a infraestrutura de serviços públicos essenciais.

Os terrenos ou áreas serão afastados de locais sob risco de inundação. Esses, por sua vez, poderão ser doados ou adquiridos pelos governos. As estruturas

terão entre 46m² e 48m² com a possibilidade de ampliação. De acordo com o Promotor de Justiça Sérgio Diefenbach, as casas serão construídas em espaços seguros e distantes da passagem da cheia. “Isso vai implicar em uma movimentação grande de todo o Vale, incluindo

recursos federais, estaduais, da iniciativa privada”, destaca o promotor.

Diefenbach diz que esse movimento busca suprir uma lacuna e utilizar a agilidade da iniciativa privada para a construção e entrega rápida das moradias. “Vai depender da nossa

mobilização”, afirma. A verba para as construções é arrecadada por meio do pix umacasapordia@agil.org.br. “Precisamos do seu apoio para que possamos, de forma ágil e rápida, providenciar a construção dessas casas”, destaca o Diretor Executivo da Agil, Tiago Guerra.

20 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
DO TAQUARI
VALE
Bibiana Faleiro bibianafaleiro@grupoahora.net.br DIVULGAÇÃO FELIPE NEITZKE Prefeitura de Osasco (SP) mobilizou seus moradores em prol de doações para cidades gaúchas atingidas pelas cheias

daqui e de fora do RS

Empresários unidos

A ação de um pequeno grupo de empresários de Lajeado se transformou em um projeto de proporção nacional. Em parceria com o Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade do Vale do Taquari (Sincovat), a iniciativa arrecada valores e donativos entregues às famílias atingidas pelos temporais.

“Quando vimos, havia centenas de pessoas ajudando. De uma aeronave, foi para seis. Tudo com ajuda da iniciativa privada e dos cidadãos. Ficamos muito felizes. Quem faz a diferença mesmo é o cidadão que está engajado na causa. O Brasil inteiro se uniu”, destaca um dos voluntários, o empresário Gian Martini.

faz

Juntos pela ponte

Também por meio da iniciativa privada, outro projeto foi criado na região. Lançada pelo Movimento Amigos do Vale, a campanha “Juntos Pela Ponte” busca reconstruir a Ponte de Ferro, entre Lajeado e Arroio do Meio, que foi destruída pela força das águas do Rio Forqueta durante as cheias.

Para a campanha, o humorista e influencer Eduardo Gustavo Christ, o Badin, anunciou que vai destinar R$ 500 mil para reconstruir a estrutura. Ele arrecadou mais de R$ 73,3 milhões em vaquinhas online.

O grupo tem protagonismo coletivo de lideranças e pessoas da comunidade empenhadas em solucionar os problemas de acessos viários mais urgentes.

A obra é considerada a mais importante neste primeiro momento.

A campanha busca captar recursos para a construção da

nova estrutura da forma mais ágil possível, de forma a considerar a importância estratégica da ligação entre as partes baixa e alta do Vale do Taquari.

A iniciativa é uma organização da sociedade civil, que conta com a participação dos prefeitos municipais de Lajeado e Arroio do Meio e apoio do Rotary Club Lajeado Engenho e Rotary Club Arroio do Meio.

As ações são planejadas com base no exemplo bem-sucedido de Nova Roma do Sul no ano passado, que com doações comunitárias, arrecadou R$ 7 milhões e em quatro meses inaugurou uma nova ponte na divisa com Farroupilha, na Serra Gaúcha.

A população pode acompanhar as novidades por meio do Instagram @juntospelaponte e auxiliar pela doação para o pix novapontedeferro@gmail.com. Até o momento, a campanha já arrecadou mais de R$ 1,3 milhão.

Ele explica que as arrecadações são feitas por meio de pix destinado ao caixa do Sincovat, que reverte os valores em itens básicos aos atingidos.

O presidente do Sincovat, Luciano Muller, relembra que o

sindicato sempre esteve envolvido em ações de solidariedade e menciona que até hoje mantém contato com as vítimas da cheia de setembro de 2023. “As ações de auxílio aos necessitados nunca parou. Os volumes só mudaram conforme as demandas”.

A tesoureira Nicole Schneider enfatiza “nosso intuito é fazer uma entrega rápida e efetiva para quem precisa”. As ações do sindicato não se limitam à região

Reconstruir Cruzeiro do Sul

do Vale do Taquari, ela atende todos os municípios que tenham a necessidade de amparo. Nicole ainda frisa que os itens mais importantes hoje são cobertores e roupas de inverno. “É necessário pensar no inverno. Precisamos de roupas compridas, colchões, travesseiros e cobertores. Tem gente dormindo no chão”. Voluntários podem ajudar com as doações ou doar pelo pix CNPJ - 90803974000104.

A Associação Comercial e Industrial de Cruzeiro do Sul (ACICS), junto a empresários do município e comunidade, também se unem e criam o “Movimento Reconstruir Cruzeiro do Sul”. A iniciativa busca organizar, captar recursos e garantir que as pessoas desalojadas tenham um lar em um local seguro, para que possam reconstruir suas vidas. O projeto foi criado após os danos causados pelas cheias na cidade, onde 42% da população está desalojada. Já foram contabilizadas mais de 1 mil casas totalmente destruídas, e outras 1 mil comprometidas. Entre os objetivos do

movimento, está a busca de recursos de forma independente para alocação em projetos elencados pelo grupo por meio do pix 05.992.335/0001-57, da Associação Comercial e Industrial Cruzeiro do Sul. Além de apoiar o poder público e auxiliar na utilização dos recursos recebidos do governo no âmbito estadual e federal da melhor forma possível.

O grupo ainda objetiva direcionar as famílias atingidas pela enchente que perderam suas moradias e comércio, a não voltarem a morar em zonas de risco, criando um plano de ação a médio prazo para a realocação dessas famílias.

A HORA | 21 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
ALDO LOPES FÁBIO KUHN FOTOS DIVULGAÇÃO

FUTURO DAS HABITAÇÕES

Após devastação, o desafio: reconstruir cidades e reabrigar pessoas no Vale

Iniciativas, como em Cruzeiro do Sul, buscam auxiliar o município na realocação de famílias e até de empresas para áreas seguras. Outras sugestões apontam para um Plano Diretor regional. Locais destruídos devem ter outra destinação

VALE DO TAQUARI

Aenchente de setembro já havia deixado um rastro de destruição em diversos municípios da região. Cidades como Muçum e Roca Sales sofreram com a inundação do Rio Taquari. Desta vez, o fenômeno foi mais generalizado. E a cheia de 33,35 metros foi capaz de varrer bairros do mapa, como ocorreu em Cruzeiro do Sul. Por conta da inundação histórica, cidades precisam se replanejar. Áreas antes ocupadas por residências e comércios não terão mais condições de habitação. Famílias precisarão ser realocadas em locais distantes das zonas de risco. Este é um trabalho, no entanto, que

Não temos esse dinheiro ainda, mas estamos no caminho e precisamos da ajuda dos empresários”

Se necessário, será preciso construir uma nova Cruzeiro do Sul. Em espaço seguro, e distante da zona de passagem da cheia”

da falta de residências para as vítimas da cheia de forma mais urgente, representantes do projeto “Uma casa por Dia” buscam apoio do Deutsche Bank, banco alemão, e consulado dos Estados Unidos.

O diretor-executivo da Agência de Desenvolvimento e Inovação Local de Lajeado (Agil), Tiago Guerra, e o mestre em filosofia política Gabriel Goldmeier, lembram que o presidente norte-americano, Joe Biden, também já demonstrou interesse em doar ao estado.

“Não temos esse dinheiro ainda, mas estamos no caminho e precisamos da ajuda dos empresários”, ressalta Guerra.

demandará tempo, planejamento e amplo aporte financeiro.

Em paralelo à necessidade de recursos estaduais e federais para garantir novas habitações, municípios também contam com o voluntariado e iniciativas da sociedade civil organizada. Nos últimos dias, movimentos significativos e com grande alcance surgiram com este propósito, como o “Uma casa por dia”.

Há, ainda, movimentações específicas com o propósito de reconstruir cidades. Cruzeiro

do Sul é um dos municípios onde o empresariado se articula para auxiliar o Poder Público no processo de replanejamento urbano a partir da ocupação de áreas afastadas das margens do Taquari. O grupo passou a se reunir no começo dessa semana e segue mobilizado.

“Estamos no caminho”

Para solucionar o problema

A Agil, trabalha junto a diferente órgãos para que se possa viabilizar a construção dessas moradias. Goldmeier ressalta que não serão moradias temporárias, mas sim dignas, sustentáveis e fora de áreas inundáveis.

O projeto é uma parceria entre o poder público e privado, de forma que o governo cede terrenos público, e por meio de recursos privados, é realizada a contratação de uma construtora para edificação das casas de forma rápida. As residências serão pagas com dinheiro de doações de grandes empresas e fundos internacionais.

Soma de esforços

Bairros como o Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul, praticamente não existem mais

Especialistas defendem destinação de áreas atingidas para uso público, como parques

O grupo, juntamente com a Associação Comercial e Industrial de Cruzeiro do Sul (Acics) quer somar forças com a população, num movimento sem interesse político, para organizar, captar recursos e garantir que as pessoas voltem a ter um lar em um local seguro, para que possam reconstruir suas vidas.

O objetivo é buscar recursos de forma independente para alocação em projetos elencados pelo grupo por meio do PIX 05.992.335/0001-57 (Associação Comercial e Industrial Cruzeiro do Sul). A meta é apoiar o poder público e utilizar os recursos recebidos da melhor forma possível. O foco também é criar um plano de ação a médio prazo para a realocação dos atingidos pela enchente.

Proprietária da Irrigat Sistemas de Irrigação e apoiadora do movimento, Alessandra Hendler,

acredita no potencial do projeto, principalmente por ele aproximar empresários, poder público e comunidade.

“Cruzeiro do Sul nunca teve uma voz enquanto coletivo. O que a gente fez aqui foi reunir o comércio e a indústria, a sociedade e elementos importantes para pensar em um movimento de apoio”, frisou, em entrevista à Rádio A Hora. O projeto foi criado após os danos causados pelas cheias na cidade, onde 42% da população está desalojada. Já são 10 mortes confirmadas, nove desaparecidos, mais de mil casas totalmente destruídas e outras mil comprometidas.

Promotor de Justiça e apoiador do projeto, Sérgio Diefenbach afirmou que, se necessário, será preciso reconstruir uma nova Cruzeiro do Sul. “Porém, em espaço seguro, adequado e distante da zona de passagem da cheia, onde tem arraste e destruição”.

22 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
GUERRA DIRETOR-EXECUTIVO DA AGIL
TIAGO
DE JUSTIÇA
SÉRGIO DIEFENBACH PROMOTOR
FELIPE NEITZKE

Plano Diretor regional

A partir da visão de que o rio não passa por um município, mas por todos e a ajuda precisa ser unificada, a elaboração e integração de um Plano Diretor Regional é defendida por especialistas, pois traria um planejamento mais adequado para momentos de catástrofes ambientais.

Conforme o arquiteto e urbanista Rodrigo Spinelli, devido a presença de áreas ambientalmente vulneráveis, principalmente nas encostas do rio, não há como trabalhar de forma mais isolada. “Sabemos que o Vale é a segunda região do estado em produção agrícola, nesse sentido, também existe uma forma de preservar essas regiões, a agricultura faz parte do espírito do Vale do Taquari.” Ele ressalta que uma ferramenta para poder pensar que esse plano diretor integrado possa realmente ocorrer já existe na previsão do governo federal até por questões de lei e regramento. “Estamos recebendo muitos recursos do governo federal para poder desenvolver planejamentos, reparos e, para isso, talvez seja fundamental criar um grupo de trabalho na região”, frisa. Outra ideia, conforme Spinelli, é fazer um consórcio dos municípios para que possam contratar profissionais técnicos habilitados para trabalhar nessa organização desse plano regional.

“É algo que pode ser pensado para os próximos 30 anos”.

Ocupação das áreas

Áreas de municípios que foram totalmente devastadas pela cheia devem ser repensadas, segundo a professora da Univates e coordenadora do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Emau), Jamile Weizenmann. Um exemplo é o Passo de Estrela, um dos bairros

Sabemos que o Vale é a segunda região do estado em produção agrícola. Nesse sentido, também existe uma forma de preservar essas regiões, a agricultura faz parte do espírito do Vale do Taquari.”

ENTREVISTA

AUGUSTO ALVES • arquiteto e urbanista e professor da Univates

"Localmente, necessitamos de projetos bem elaborados”

Profissional detalha como deve ocorrer o processo de reconstrução das cidades e alerta para que novas áreas a serem habitadas não dificultem acesso das pessoas a serviços básicos

Como devemos iniciar a reconstrução num momento onde as famílias não tem para onde ir?

Esse processo deve ser feito por etapas e com certa urgência. Num primeiro momento tivemos toda essa importância do resgate e da ajuda humanitária. Agora precisamos pensar nisso. Sabemos que não dá para essas famílias ficarem para sempre nos abrigos, que não tem a infraestrutura adequada, e agora vem o inverno, o frio. Isso é terrível. Então, devemos ter urgência nisso.

mais populosos de Cruzeiro do Sul, onde a maioria das edificações ruíram com a força da correnteza.

“Essas áreas precisam ser reflorestadas, com uma ação muito forte na recomposição dessa mata ciliar. E, na sequência, precisam de algum tipo de fomento para que sejam ocupados por espaços públicos, como parques”, cita, destacando o exemplo do Parque Ney Santos Arruda, em Lajeado. “Por mais que tenha danos, ele serve para absorver essa água”.

O cenário é devastador em diversas cidades. O que fazer com essas áreas destruídas?

Ficou claro e evidente que esses locais não podem voltar a receber habitações. E aqui falamos do Passo de Estrela (Cruzeiro do Sul), Navegantes (Arroio do Meio), onde antes se cogitava uma reabitação. Agora não resta dúvida. Por mais que possa doer para as pessoas deixarem seus bairros. E, em áreas inundadas, mas que não houve destruição, muitos

resistem a sair, pois é o único imóvel que possuem.

De que forma as cidades devem planejar as novas áreas que receberão habitações?

Em um evento desta magnitude, com certeza precisamos de aporte financeiro da União, pois falamos de milhares de casas destruídas. E, localmente, necessitamos de projetos bem elaborados. Na enchente de setembro, muitos municípios não conseguiram acessar verba federal, pois não tinham estrutura alguma de planejamento, nem equipe técnica. O governo federal não vai sair distribuindo dinheiro assim. É preciso dar suporte para que sejam feitos bons projetos. E há situações que não podem se repetir, de colocar casas muito distantes da área central, como o caso do Nova Morada, em Estrela. Projetos assim não são a solução.

O governo federal não vai sair distribuindo dinheiro assim. É preciso dar suporte para que sejam feitos bons projetos”

A HORA | 23 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
RODRIGO SPINELLI ARQUITETO E URBANISTA ALDO LOPES FELIPE NEITZKE

LIÇÕES DA TRAGÉDIA

Prevenção inicia pela consciência e aprendizado

A maior enchente da história gaúcha deixou cicatrizes em toda a população do estado. Mais uma vez confirmou o despreparo das instituições públicas e dos moradores em lidar com situações extremas. Grupo

A Hora prepara o “Educame”, programa voltado a educação ambiental nas escolas municipais

Filipe Faleiro filipe@grupoahora.net.br

VALE DO TAQUARI

Os formatos de monitoramento dependentes do sistema eletrônico do Serviço Geológico do Brasil (SGB\CPRM), as previsões subestimadas da intensidade da chuva e da elevação do rio, criou um lapso de tempo para aplicação de planos de contingência.

Soma-se a isso o desconhecimento das pessoas em como

agir e se preparar para o pior cenário possível resultou em uma catástrofe sem precedentes. São pelo menos 36 óbitos no Vale do Taquari e dezenas de desaparecidos.

O nível do Rio Taquari alcançou uma cota inacreditável e mudou os paradigmas quanto à urbanização das cidades, áreas de inundação e modelos de construção. Como forma de mitigar novos episódios extremos, especialistas em recursos hídricos e catástrofes ambientais apontam dois caminhos: por meio das medidas estruturantes (construções de diques, barragens e reservatórios de retenção) e as não-estruturantes (campanhas de conscientização, regramento sobre uso e ocupação do solo, educação ambiental).

“No Brasil existem muitos atores. Choram depois da tragédia. Mas passa um tempo e esquecem. Não fazem nada para mudar”, aponta o pesquisador japonês, radicado no Brasil há 30 anos, Masato Kobiyama.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o cientista fundou o Grupo de Pesquisa sobre Catástrofes Climáticas, ligado ao Instituto de Pesquisas Hidrológicas (IPH\

MASATO

KOBIYAMA

PESQUISADOR

No Japão, há desastres com muito mais frequência. Agora o Rio Grande do Sul começa a sentir os efeitos das mudanças climáticas. O problema é que ninguém está preparado o suficiente.”

Ufrgs).

“No Japão, há desastres com muito mais frequência. Agora o Rio Grande do Sul começa a sentir os efeitos das mudanças climá-

Áreas urbanas atingidas e demora nos resgates faz com que o número de vítimas chegasse a 36 óbitos

ticas. O problema é que ninguém está preparado o suficiente”, frisa Kobiyama. Para ele, o primeiro passo para reduzir os danos provocados pelos eventos climáticos extremos é comportamental. “A educação é o melhor caminho. Cada família, cada pessoa, tendo seu plano de reação e preparada com antecedência”, acredita.

Do ponto de vista da organização regional, o pesquisador acrescenta a importância de melhorias no monitoramento e comunicação entre autoridades políticas, forças de segurança, defesas civis e também de líderes comunitários e empresariais.

Mais conhecimento

A tônica voltada à educação apontada pelo professor Kobiyama é enaltecida por outros especialistas. A engenheira ambiental, doutoranda em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Sofia Moraes, também acredita que medidas não-estruturantes devem ser o início, junto com isso, pondera a importância de apro-

“Não podemos mais ignorar a importância de estarmos atentos à questão ambiental. Temos uma visão antropocêntrica, de que tudo gira em torno do homem. Temos que mudar para uma forma biocêntrica.”

fundar os conhecimentos sobre o comportamento dos mananciais hídricos.

Na avaliação dela, o sistema do SGB\CPRM precisa ser ampliado. “Há muitas críticas ao trabalho, mas é o que temos hoje. O serviço tem suas limitações, é preciso reconhecer. Antes de desacreditar o sistema, é preciso melhorá-lo.”

Essa qualificação, diz, passa por mais réguas, sejam de leitura digital quanto de formato visual – a chamada redundância nas leituras. O formato atual do serviço geológico tem 15 aparelhos, com medições nos rios Guaporé,

24 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
SOARES PUBLICITÁRIO E ESCRITOR
GILBERTO

Destruição da enchente histórica serve como evidência para melhoria dos sistemas de monitoramento, previsão e socorro, dizem especialistas

Medidas não-estruturantes para controle

Estrutura atual no Vale do Taquari

RAFAEL

ECKHARDT

PROFESSOR DA UNIVATES

Pela característica da bacia hidrográfica, precisamos reduzir as limitações. Entre elas, está a previsibilidade da chegada da enchente nas áreas habitadas. Temos de conviver melhor com o rio.”

• Regulamentação do uso e ocupação do solo, com delimitação de áreas sujeitas a inundações.

• Educação ambiental para preparo das comunidades para eventos extremos.

• Sistemas de alerta e previsão de inundações.

• Incentivos fiscais para uso prudente da área de inundação.

• Medidas estruturantes para controle de enchentes

• Canalização e obras correlatas para acelerar o escoamento da água.

SOFIA MORAES

PROFESSORA DA UNIVATES

“Há muitas críticas ao trabalho (do CPRM), mas é o que temos hoje. O serviço tem suas limitações, é preciso reconhecer. Antes de desacreditar o sistema, é preciso melhorá-lo.”

Essa ferramenta traria melhores condições de avaliação sobre o previsto e o que de fato choveu. “Pela característica da bacia hidrográfica, precisamos reduzir as limitações Entre elas, está a previsibilidade da chegada da enchente nas áreas habitadas. Temos de conviver melhor como rio.”

Clima como disciplina escolar

Após a enchente de setembro (a maior até o episódio de maio), instituições de ensino, líderes locais e representações do poder público formaram um comitê para estudar medidas para mitigar os efeitos das cheias.

Este grupo elaborou uma carta do Vale do Taquari, com ações e responsabilidades sobre monitoramento, prevenção e contingências nos momentos críticos. O documento foi escrito após o Seminário Pensar o Vale Pós-Enchentes, promovido pelo Grupo A Hora.

Forqueta, Carreiro, Antas e Taquari. Também pega alguns efluentes menores, vindos de Vacaria e do parque Aparados da Serra. Alguns trechos ficam no escuro, ressalta Sofia. Como efeito, as enchentes vindas de arroios, como o Sampaio, Castelhano, Engenho, Boa Vista, não são possíveis de medir quando encontram o Rio Taquari.

O mestre em geoprocessamento e sensoriamento remoto, Rafael Eckhardt, acrescenta a necessidade de estações pluviométricas, responsáveis por confirmar o volume de chuva que cai sobre os mananciais.

Entre as ações, o grupo aponta a necessidade de tornar o assunto das catástrofes ambientais mais presente nas salas de aula. Conforme o diretor executivo, Adair Weiss, o programa “Educa-me” visa complementar os aprendizados para que as próximas gerações tenham mais repertório e resiliência frente aos abalos ambientais.

A iniciativa terá o lançamento de um livro voltado aos professores e de uma cartilha para alunos. “Não podemos mais ignorar a importância de estarmos atentos à questão ambiental. Temos uma visão antropocêntrica, de que tudo gira em torno do homem. Temos

Equipamentos em uso do SGB\ CPRM e modelo de atuação

MONITORAMENTO

São 30 pluviômetros (medir a quantidade de chuva) e 16 réguas (nível do rio) na bacia Taquari/Antas

MUNICÍPIOS ATENDIDOS

Saiba mais

A bacia hidrográfica do Taquari/Antas tem 119 municípios

É a maior bacia do país em número de cidades

Representa 9% da área do Rio Grande do Sul

São 27 mil quilômetros quadrados de área total

Pega rios da parte alta (Carreiro, Guaporé, Prata, Antas, Forqueta, além de vários córregos e arroios). Todos se unem ao Taquari

O Rio Taquari tem uma extensão de 156,6 quilômetros

Passa por um total de 37 municípios (mais de 360 mil habitantes)

que mudar para uma forma biocêntrica, ou seja, a humanidade estar incluída dentro da natureza, com o menor impacto possível no ambiente”, diz o publicitário e escritor, Gilberto Soares. Ele é o autor do livro que será uma das bases do “Educa-me”. Em um primeiro momento, o alcance será regional, voltado às redes públicas municipais. “O programa inicia de forma pioneira no Vale do Taquari, voltado às cidades da região, com todo um caminho possível para se estender para outras localidades.”

Pelo cronograma do projeto “Educa-me”, o lançamento oficial será em 5 de junho. Enquanto o livro será apresentado em 5 de setembro.

• Reservatórios para reter temporariamente água durante tempestades.

• Restauração de calhas naturais para retardar o fluxo de água.

• Recomposição de cobertura vegetal e controle de erosão do solo.

• Construções de barragens e diques para reduzir a velocidade das inundações.

Monitoramento e previsão: Santa Tereza; Muçum; Encantado; Estrela; Lajeado; Bom Retiro do Sul; e Taquari. Apenas com sistema de monitoramento: Roca Sales; Colinas; Arroio do Meio; e Cruzeiro do Sul.

SISTEMA DE ALERTA

São cinco etapas: previsão Meteorológica, monitoramento hidrológico, estimativa de vazão (previsão hidrológica), emissão de boletins de alerta e interação com a Defesa Civil. Quanto maior o tempo de antecedência da previsão, maior a incerteza sobre o tamanho do evento.

A HORA | 25 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Área central de Lajeado. Enchente foi mais de três metros acima em relação a setembro

“VALE VIVO”

Campanha estimula investimentos e empreendedorismo na região

Projeto busca auxiliar na reconstrução do Vale do Taquari após tragédia das últimas semanas.

Movimentação favorece surgimento de novas oportunidades às pessoas em um momento de retomada

Retomar o desenvolvimento e o protagonismo regional depois da maior catástrofe natural da história do Rio Grande do Sul. Esse é o propósito de uma iniciativa encampada pelo Grupo A Hora, que busca envolver toda a sociedade para reerguer o Vale do Taquari, tanto no aspecto econômico quanto no social.

Batizada de “Vale Vivo”, a campanha tem como pilar principal a união de esforços para a reconstrução da região, a partir do consumo nas empresas localidades no Vale e também do incentivo ao empreendedorismo. Toda essa movimentação fortalece quem gera emprego e renda e movimenta a economia local.

Conforme o diretor executivo do Grupo A Hora, Adair Weiss as águas da histórica enchente do começo deste mês devastaram a região, mas não o seu povo. “Queremos despertar e potencializar o espírito empreendedor que o Vale sempre teve, todo o seu brio e espírito aguerrido de fazer as coisas. Agora traduzido em um momento histórico de construção e reconstrução”, frisa. Weiss lembra que, neste momento tão delicado enfrentado pela região, todas as frentes atuam de forma engajada para garantir a volta por cima de uma das regiões mais dinâmicas do RS, com localização estratégica e acesso facilitado a Porto Alegre e grandes centros do interior. “Não tenho dúvidas que essa é mais uma das muitas ações que estão por vir para deixar o nosso Vale do Taquari cada vez mais forte. Com isso, vamos tirar soluções e nos potencializarmos para o futuro”, aponta Weiss.

Integração

Em meio ao caos vivido nas duas últimas semanas, alguns aspectos positivos são destacados. A integração entre diferentes

Iniciativa busca auxiliar no processo de reconstrução do Vale

atores da sociedade em prol do apoio humanitário às famílias atingidas pela enchente mostra o caminho para a retomada regional.

“Ninguém está se furtando neste momento: empresários, poder público, voluntários e sociedade civil organizada. O Vale está mais agregado, mais integrado e unido do que nunca. Isso se verifica nos pequenos detalhes, em cada ato voluntário, ação comunitária, envolvimento empresarial. Estamos vendo e vivenciando um Vale estruturado, pronto para se reerguer e ser o que sempre foi”.

Novos negócios

Um dos pontos-chave da campanha, reforça Weiss, é o incentivo ao empreendedorismo, direcionado principalmente àqueles que pretendem investir na região. Lembra que novos negócios criam oportunidades para as pessoas.

“Se planejava fazer isso mais adiante, faça agora. Isso gera trabalho, gera renda, gera possibilidades para as nossas pessoas. O nosso Vale vive forte outra vez e você é chave nisso”.

“Precisamos cuidar das pessoas e trabalhar mais para manter os negócios”

Mesmo sem ter a unidade de Lajeado atingida pela cheia, a Docile contabiliza 27 colaboradores que perderam tudo. Pelo menos, 150 tiveram perdas parciais. Além de auxiliar internamente, a empresa promove ações sociais para amenizar os impactos causados pelas últimas enchentes.

“Temos que fazer força para manter os negócios e os empregos. Trabalhar mais agora do que antes. Fazer sempre o nosso melhor”, afirma o sócio-diretor da Docile, Ricardo Heineck.

O psicológico da população atingida sofre abalos. “Temos o nosso comitê de crise para dar apoio a essas pessoas, com médicos, psicólogos. Ainda, distribuímos um produto que desperta sorrisos, levamos doces para as crianças que estão abrigadas em espaços públicos.”

Além de todos os problemas enfrentados pelos funcionários, a empresa enfrenta dificuldades na logística. “O que realmente está vendendo? Vamos focar nosso pessoal para essas linhas que estão tendo melhor saída, ver o que é mais importante e que vai fazer a diferença tanto no aspecto social, como nos demais. Quem está no papel de liderança precisa

Os empresários não atingidos precisam se envolver e apoiar no desenvolvimento regional. Primeiro, o ser humano precisa viver em comunidade”

RICARDO HEINECK

SÓCIO-DIRETOR DA DOCILE

focar nisso, manter o negócio para manter os empregos.”

Heineck destaca que ainda não foi possível medir quantas moradias foram perdidas ou danificadas em todo o Vale e a possível falta de emprego que essa tragédia pode causar – situação que preocupa os empresários da região. “Os empresários não atingidos precisam se envolver e apoiar no desenvolvimento regional. Primeiro, o ser humano precisa viver em comunidade, a gentileza faz muito mais bem para a gente do que para quem recebe. Numa

tragédia como agora, cada vez mais espírito solidário com as pessoas.” E complementa, “precisamos agir juntos e não ter ações isoladas. Administrar os egos e ter uma visão comunitária muito forte neste momento.”

Sobre o projeto “Uma casa por dia”, Heineck descreve como desafiador. “Iniciativas que dependem de prefeituras em disponibilizar áreas e infraestruturas, precisam de uma gestão muito forte. Depende de muito recursos e de pessoas que possam contribuir.”

26 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
FILIPE FALEIRO

A campanha

– Incentivo às pessoas a consumirem em empresas sediadas na região;

– Valorização de produtos e serviços locais;

“Manter empregos é a maneira mais digna

de ajudarmos”

O diretor da Folhito e sócio do Residencial Sunday Village Care, Ito Lanius entende que o mais importante para os empresários neste momento é fazer a economia girar e manter empregos. “Precisamos canalizar energias de forma positiva para resultados que sejam benéficos a todos. Se eu conseguir gerar recursos e fazer a economia girar será bom para todos. Por isso, manter os empregos, na minha opinião, é a maneira mais digna de ajudarmos.”

Essa é mais uma das muitas ações que estão por vir para deixar o nosso Vale do Taquari cada vez mais forte”

– Apoio ao empreendedorismo. Novos negócios geram oportunidades de emprego e contribuem para o aumento da renda da população. ADAIR WEISS

Lanius descreve que não teve impactos diretos em suas empresas, mas indiretamente, todos serão impactados, pois 25% da região foi atingida. Grandes empresas buscam a retomada para manter os empregos. “Falando em logística, na Folhito, com 570 toneladas de resíduos/dia, isso virou um caos. O meio ambiente deixou de reciclar, pois parou a planta de várias empresas, tudo está interligado. No agronegócio, um impacto muito grande.”

Conforme Lanius, a Folhito, com plantas distribuídas em

várias cidades como, Venâncio Aires, Cristal, Minas do Leão, além de agropecuárias em lugares distantes, terão dificuldades em colher parte do arroz, da soja, porém, esses impactos serão bem menores comparados com outros. Cada pessoa se adaptando e se reorganizando com a realidade. “É preciso reagir. O que sobrou e o que ainda temos à disposição. Temos recursos importantes à disposição que é a nossa capacidade de reação, estamos um pouco querendo nos adiantar devido à emoção, falando com os governos federal e estadual e essas questões na sequência precisam chegar nos operacionais e parece que essa equação precisa ainda ser montada para depois ser operacionalizada. Estou um pouco preocupado com o aparato nacional que veio ao estado, o que gera altos custos e, na maioria das vezes, não são alocados em lugares e momentos certos e vamos acabar dispendendo muitos valores e que vão faltar lá na frente para os empresários poderem reconstruir.”

Precisamos canalizar energias de forma positiva para resultados que sejam bené cos a todos. Se eu conseguir gerar recursos e fazer a economia girar será bom para todos”

Descreve ainda que em uma situação como essa enfrentada pela população, é preciso ter calma em montar a equação, deixar a emoção um pouco de lado. “Por outro lado, quero exemplificar, penso que a operacionalização da passagem da ponte da BR-386, na minha opinião como empresário, poderia ser gerenciada de uma forma muito mais eficiente, primeiro em arrumar essas pequenas coisas que precisam ser feitas, não querendo ignorar os técnicos,

mas o trânsito já deveria ter sido liberado. O tempo é um recurso escasso e importante”. Em relação ao projeto Sunday Village Care, Ito Lanius comenta que está localizado em Fazenda Vilanova, um projeto autossustentável, com poço artesiano – autonomia de água, geração de energia própria com geradores. “A previsão é de que na virada do ano seja iniciada a operação. Cerca de 20% dos terrenos já vendidos, além de lofts disponíveis para venda”.

A HORA | 27 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
DIRETOR EXECUTIVO DO GRUPO A HORA

ENTRE PROMESSAS E ANÚNCIOS

RS necessita de aporte financeiro histórico à reconstrução

Estimativa inicial do governo gaúcho apontava necessidade de R$ 20 milhões para retomada, mas valor pode aumentar. União garante que não faltarão recursos, mas região ainda aguarda verbas referentes à cheia de setembro

Depois da catástrofe climática e do amplo trabalho de salvamento e resgate de vítimas, a hora da reconstrução se aproxima. E, para isso, municípios necessitarão de um grande aporte financeiro para superar os desafios que se avizinham. Com dificuldades orçamentárias, o Estado conta com a sensibilidade da União para dar a volta por cima. Desde os primeiros dias de maio, promessas se renovam para o Vale do Taquari. Muitos anúncios também foram feitos, com liberação de recursos principalmente às famílias e trabalhadores que tiveram suas casas inundadas ou destruídas pelas cheias. Agora, esperase um olhar mais atento às empresas, das micro e pequenas às grandes indústrias afetadas. Até agora, o conjunto de medidas de apoio ao RS anunciado pelo governo federal

foi considerado insuficiente por líderes empresariais do Vale. O pacote prevê aporte de cerca de R$ 50 bilhões, dos quais mais de R$ 40 bilhões são destinados à recuperação das empresas.

Desse total, R$ 30 bilhões são referentes a crédito por meio do Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), com aporte de R$ 4,5 bilhões por parte do governo como garantias aos bancos. Outro R$ 1 bilhão será aplicado para subvenção de juros dos financiamentos.

As medidas incluem R$ 500 milhões no Fundo Garantidor de Investimentos para o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (FGI-PEAC). Com a iniciativa, o governo projeta a concessão de R$ 5 bilhões em

crédito para miro e pequenas empresas, além de Micro Empreendedores Individuais (MEIs). Também está prevista suspensão, por até 12 meses, dos pagamentos de contrato de crédito com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Apoio às famílias

Entre as medidas de apoio ao Rio Grande do Sul anunciadas nesa quarta-feira, 15, em São Leopoldo, pelo governo federal, está o pagamento de um auxílio financeiro para as famílias atingidas pela catástrofe do começo deste mês.

O depósito de R$ 5,1 mil será feito via Pix pela Caixa Econômica Federal, em parcela

única. A estimativa da União é de que pelo menos 200 mil famílias afetadas diretamente pelas inundações sejam contempladas.

A comprovação se dará apenas pelo endereço em que a família reside, com o objetivo de repor equipamentos e outros bens perdidos no evento climático.

O impacto inicial previsto é de que sejam movimentados R$ 1,2 bilhão com a medida.

Outros anúncios foram feitos durante a visita da comitiva federal no RS. Na área habitacional, o governo federal vai entregar uma casa gratuitamente para famílias que perderam seus imóveis e se encaixam nas faixas de renda do Minha Casa, Minha Vida.

Dívida suspensa

Um anúncio celebrado pelo Estado foi a suspensão do pagamento da dívida com a União por três anos. Os valores que seriam destinados ao pagamento serão redirecionados para um fundo cujo principal objetivo é implementar medidas que minimizem os impactos das enchentes no estado.

Não haverá cobrança de juros nem multa sobre a suspensão.

O montante total das parcelas por ano chega a R$ 3,5 bilhões.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad destacou a disponibilidade de R$ 11 bilhões de fluxo financeiro para os próximos 36 meses, afirmando que a renúncia de juros anunciada ultrapassa esse valor, chegando a R$ 12 bilhões.

Veja o que já foi anunciado

DO RS

SAÚDE

– O governador Eduardo Leite anunciou a liberação de aproximadamente R$ 70 milhões em recursos para a Saúde, destinados para a rede hospitalar, saúde mental e atenção primária, além de R$ 12 milhões para qualificar a infraestrutura dos abrigos.

– O repasse para a melhoria de abrigos será feito aos municípios. O valor será proporcional ao número de pessoas abrigadas em cada cidade. O governo do Estado destinará R$ 150 por pessoa acolhida.

– Serão encaminhados R$ 45,1 milhões para a rede hospitalar, R$ 12 milhões para a contratação de equipes multiprofissionais de saúde mental e R$ 12,7 milhões para a atenção primária em todos os municípios gaúchos.

28 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 ESTADO
Mateus Souza mateus@grupoahora.net.br Eduardo Leite e Lula: reuniões constantes entre os executivos estadual e federal Entre as demandas, recursos para a construção de moradias aos atingidos FELIPE NEITZKE

BANRISUL

CLIENTES PESSOA FÍSICA

* Isenção de tarifa de abertura de cadastro para contratação de empréstimo.

* 12 meses de isenção nos pacotes de tarifas de novos clientes, podendo chegar a 60 meses.

* Isenção de tarifas para novos clientes com abertura de conta via aplicativo.

* Isenção de anuidade no cartão de crédito Libre.

* Isenção de mensalidade de pacotes de tarifas e redução na taxa de juros do cheque especial para clientes com aplicações financeiras.

CLIENTES EMPRESARIAIS

* Isenção da cobrança de tarifa de emissão de contrato para linhas de capital de giro.

* Isenção de seis meses no pacote de tarifas para empresas que abrirem conta corrente.

* Isenção de 12 meses no pacote de tarifas para empresas que abrirem conta corrente com credenciamento Vero.

* Isenção de cobrança na emissão/registro de boleto bancário para novos credenciados, incluindo tarifa reduzida a partir de R$ 0,30 na liquidação.

* Isenção de mensalidade de pacotes de tarifas e redução na taxa de juros do cheque especial para clientes com aplicações nanceiras.

DA UNIÃO

AUXÍLIO RECONSTRUÇÃO

– Todas as pessoas que recebem até R$ 4,4 mil e que perderam suas casas vão receber um imóvel novo do governo federal, até a faixa I e II do Minha Casa, Minha Vida; – Também foi criado o Vale Reconstrução de R$ 5.100, que será concedido para a compra de bens perdidos. A estimativa é de que cerca de 240 mil famílias sejam bene ciadas, a partir de um investimento de R$ 1,2 bilhão.

TRABALHADORES ASSALARIADOS

– Antecipação do cronograma de pagamento de abono salarial 2024 – impacto previsto de R$ 758 milhões; – Liberação de duas parcelas adicionais do segurodesemprego para os desempregados que já estavam recebendo antes da decretação de calamidade, ao nal da última parcela – impacto previsto de R$ 495 milhões;

– Antecipação do pagamento da restituição do Imposto de Renda para o RS – impacto previsto de R$ 1 bilhão;

BENEFICIÁRIOS DE PROGRAMA SOCIAIS

– Liberação do calendário para pagamento dos programas Bolsa Família e Auxílio-Gás, antecipando os pagamentos do mês de maio – impacto previsto de R$ 380 milhões;

ESTADO E MUNICÍPIOS

– R$ 200 milhões de aporte para fundos de estruturação de projetos – impacto previsto R$ 200 milhões, com grande impacto na rápida estruturação de projetos para retomada dos investimentos;

– Constituição de força-tarefa para acelerar a análise de crédito com aval da União para municípios, com

Cidades com Saque Calamidade liberado

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO

– Anta Gorda

– Arroio do Meio

– Arvorezinha

– Bom Retiro do Sul

– Dois Lajeados

– Encantado

– Forquetinha

– Guaporé

– Lajeado

– Muçum

– Paverama

– Putinga

– Roca Sales

– Santa Tereza

– Taquari

– Teutônia

– Venâncio Aires

impacto previsto de R$ 1,8 bilhão, sendo R$ 1,5 bilhão em operações externas e R$ 0,3 bilhão em operações internas;

EMPRESAS

– Aporte de R$ 4,5 bilhões para concessão de garantias de crédito no Fundo Garantidor de Operações, Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) – impacto previsto de R$ 4,5 bilhões de aporte, com potencial de alavancagem de R$ 30 bilhões;

– R$ 1 bilhão para subvenção de juros no Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) – impacto previstos de R$ 1 bilhão para desconto de juros no Pronampe até o limite de R$ 2,5 bilhões de créditos concedidos;

- R$ 500 milhões no Fundo Garantidor de Investimentos para garantir a alavancagem de crédito no Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (FGI-PEAC);

– impacto previstos de R$ 500 milhões em aporte de garantias no Fundo Garantidor de Investimentos para alavancar até R$ 5 bilhões em concessão de crédito;

– Prorrogação por no mínimo 3 meses dos prazos de recolhimento de tributos federais e Simples Nacional –impacto previsto de R$ 4,8 bilhões;

– Dispensa da apresentação da Certidão Negativa de Débitos para facilitar o acesso ao crédito em instituições nanceiras públicas – prazo de 6 meses (maio a novembro);

PRODUTORES RURAIS

– R$ 1 bilhão para subvenção de juros ao Pronaf e Pronamp – impacto previstos de R$ 1 bilhão para desconto de juros no Pronaf e Pronamp até o limite de R$ 4 bilhões de créditos concedidos.

A HORA | 29 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 MAURÍCIO
TONETTO/DIVULGAÇÃO

Os campings do Vale precisam de ajuda 365 VEZES NO VALE

365vezesnovaledotaquari@gmail.com

Desde os tradicionais campings banhados pelo rio Forqueta, em Marques de Souza, até estruturas de veraneio montadas em riachos de pouca vazão. Praticamente todos os empreendimentos desse setor foram duramente impactados pela catástrofe climática no início de maio. Nesta coluna, me atenho a dois pontos turísticos que pedem ajuda para recomeçar.

Com menos de três anos em atividade, Camping dos Vales já chamava atenção dos turistas em Arvorezinha

Camping dos Vales

Instalado na Linha Lajeado Ferreira, interior de Arvorezinha, o Camping dos Vales teve toda a estrutura levada pelas águas. O espaço de lazer tinha banheiros com chuveiro quente, quiosques comunitários, pias, churrasqueiras, pontos de luz e campo de futebol. Na semana passada, o proprietário Samuel Campanha divulgou nas redes sociais um vídeo emocionante pedindo ajuda para recomeçar. O camping foi aberto há apenas dois anos e sete meses, mas já era muito querido pelos seus frequentadores. Interessados podem auxiliar o camping através de doações pela Chave pix celular: (51) 98015-4175.

Reconstrução de um símbolo

A Ponte de Ferro sempre foi muito mais que apenas travessia entre Arroio do Meio e Lajeado. Se trata de um dos cartões-postais do Vale com cenário maravilhoso da junção dos rios Forqueta e Taquari. Por isso, o movimento “Juntos pela ponte” carrega consigo um simbolismo que vai além da importante questão logística. Doações podem ser feitas pela chave pix e-mail: novapontedeferro@gmail.com.

Camping Paraíso Tropical V13

Nos pés do famoso Viaduto 13, em Vespasiano Corrêa, o Camping Paraíso Tropical V13 teve sua área desfigurada pela correnteza. A água arrasou o jardim onde ocorriam os acampamentos, além de impactar a estrutura física composta pelo restaurante e cabanas para hospedagem. Com o apoio da Terratrips Aventuras, o empreendimento iniciou uma vaquinha para angariar recursos à reconstrução. As doações podem ser feitas pela chave pix CNPJ: 21.828.772.0001.96.

30 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
FÁBIO KUHN
Publicação no Instagram mostra como era e como cou o Camping Paraíso Tropical V13 FÁBIO ALEX KUHN
A HORA | 31 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

FILIPE FALEIRO

Qual futuro?

Nos abrigos, cada vítima da inundação busca explicações, tentam entender os motivos para uma cheia tão devastadora. Entendo que o propósito seja situar os pensamentos frente a essa dor tão presente.

“Isso é Deus varrendo a terra”, diz uma senhora que se aproxima de mim enquanto faço fotografias e tento agendar algumas ligações no

Parque do Imigrante, em Lajeado. “A humanidade deixou de seguir suas regras, desrespeita a natureza e agora saberemos a força do Nosso Senhor”. Como resposta, me limito a um: “não duvido”.

A fé, religiosidade e espiritualidade de cada pessoa deve ser respeitada. Aquela senhora sente aquilo de verdade. Duro é a incerteza. Qual é o futuro? Falta perspectiva para

esses milhares de desabrigados, mas não só para eles. Onde estarão mês que vem? Quanto tempo até voltarem para casa? Existe casa? Onde reconstruir? E quanto aos filhos, netos e bisnetos? Qual planeta eles vão herdar? Quando falta perspectiva, os sonhos deixam de ter sentido. O amanhã é um grande ponto de interrogação.

Voluntários para mapear áreas de risco

Servidores municipais, engenheiros, geólogos, integrantes das defesas civis dos municípios, coordenados por pesquisadores, entre eles o professor da Ufrgs Masato

Kobiyama, unem esforços para ampliar o mapa de áreas propícias para deslizamentos.

Além da formação teórica, o grupo inicia uma série de visitas a campo. O contato direto

Aquecimento global e adaptação

As temperaturas da terra sobem de maneira contínua e ininterrupta. No mundo, os maiores cientistas do clima esperavam que os oceanos ficassem 1,5ºC mais alto em 2035. O estudo feito entre 2017 e 2018 foi atualizado entre 20 e 21. E esse número foi reduzido para 2027. No entanto, os oceanos já tiveram essa elevação na temperatura prevista para os próximos anos em 2023. Nos Estados Unidos, na Europa e no centro do Brasil, os termômetros passaram dos 40ºC por dias consecutivos.

Essas ondas de calor estão no centro dos motivos para as inundações no Rio Grande do Sul. No fim de abril, todo o centro-oeste do país, pegando São Paulo, indo até a costa com o Espírito Santo, havia um domo de calor. Essa massa de ar quente desviou toda a umidade da Amazônia para o sul do continente.

Foram mais de 600 milímetros de chuva em menos de quatro dias. Pegou tanto as cabeceiras do Taquari quanto a área mais baixa. Os especialistas alertam: a frequência e a intensidade desses eventos têm aumentado devido às mudanças climáticas. Isso representa um risco significativo para as comunidades locais, que muitas vezes não estão preparadas para lidar com esses desastres.

A necessidade de ação

É crucial que sejam adotadas medidas para mitigar os efeitos extremos. Isso inclui a redução das emissões de gases de efeito estufa, a adaptação às novas condições climáticas e a construção de resiliência nas comunidades mais vulneráveis. As mudanças climáticas são uma ameaça. Chega de negacionismo.

Caos no RS e a chuva de fake news

nos municípios, a análise dos movimentos de massa e o contato direto com a comunidade serão fundamentais para ampliar o conhecimento sobre pontos de riscos para deslizamentos.

Um perigo invisível. As inundações são uma tragédia por si só. No entanto, a situação é agravada pela disseminação de notícias falsas. Essas narrativas distorcidas desviam a atenção e os recursos necessários para lidar com a situação. O uso sistemático das redes de computadores para disseminar informações falsas são nocivas por vários motivos. Podem criar pânico e confusão, dificultando os esforços de resgate e ajuda às vítimas. Além disso, também ocasionam ações inadequadas ou prejudiciais em

momentos de crise.

O antídoto para essa pandemia de desinformação é o jornalismo profissional. Esses disparos parecem sistemáticos e organizados. Partem de grupos estruturados para levar aquela ideia do “quanto pior, melhor”. Há interesses muito claros para o uso desses artifícios em meio a maior catástrofe do Rio Grande do Sul.

Uma delas é de Lajeado. A mentira da vez usa imagem do IML do município, como se fosse de Canoas, e que teria dois mil corpos para serem identificados.

32 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
FOTOS: FILIPE FALEIRO
A HORA | 33 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Publicações Legais

34 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
(51) 3710-4200
A HORA | 35 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Prefeitos do Vale cobram Estado por recuperação de rodovias

Reunião online entre gestores e representantes do governo do RS teve pedidos por intervenções urgentes em estradas estaduais

VALE DO TAQUARI

Prefeitos solicitaram intervenções urgentes do governo estadual em rodovias do Vale do Taquari. O tema foi tratado com o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella, e representantes do Daer e EGR durante reunião online na manhã de sexta-feira, 17. Os pedidos são de obras que permitam o fluxo de veículos, especialmente de carga, em pontos bloqueados e melhor trânsito nas estradas parcialmente liberadas. Após as enchentes e deslizamentos, a malha ficou com muitos problemas estruturais que impactaram na logística regional. Os pedidos que mais se repetiram foram para reconstrução da ponte sobre o Rio Forqueta, na ERS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio. O secretário Juvir Costella projetou que em seis meses a estrutura será disponibilizada novamente.

Durante a reunião houve discussão entre o prefeito de Vespasiano Corrêa e presidente da Associação de Municípios do Alto Taquari (Amat), Thiago Michelon, que pediu autorização para concentrar

A ERS-332 vai estar destruída em pouco tempo. Sejam humildes e peçam ajuda. Antes de tudo isso o estado não conseguia fazer as obras necessárias”

ADELAR STEFFLER PRESIDENTE DA VALE LOG

máquinas do município na desobstrução da ERS-129, entre Muçum e Vespasiano Corrêa. “Me deixe limpar este acesso, secretário, depois os engenheiros podem analisar. Temos produtores preocupados com frangos, suínos e perus que estão morrendo”, reivindicou. Costella justificou que a liberação do trecho não será autorizada por representar risco de novos deslizamentos. “Já perdemos 154 vidas, não podemos aumentar a tragédia”, disse. Michelon pediu que Costella gravasse um vídeo em que assumisse a responsabilidade pela decisão. Os demais pedidos foram acessos aos municípios como a ligação entre Roca Sales e Colinas pela ERS-129, ERS-332 de Encantado em direção a Doutor Ricardo e rodovias em Putinga, Imigrante e outras cidades. Prefeitos também solicitaram a ava-

liação de engenheiros do estado em diversos pontos que apresentaram rachaduras na pavimentação das estradas e desbarrancamentos de pequena proporção. Ainda citaram a necessidade de recuperação do asfalto em trechos com buracos que dificultam a trafegabilidade.

Recursos federais

O presidente da Vale Log e representante da CIC-VT, Adelar Steffler, apresentou demandas e disse a Costella que pedisse ajuda federal, pela necessidade de liberar estradas e escoar a produção de suínos, aves, leite. “A ERS-332 vai estar destruída em pouco tempo. Sejam humildes e peçam ajuda. Antes de tudo isso o estado não conseguia fazer as obras necessárias.”

Costella rebateu: “Aceitamos ajuda, mas o recurso financeiro do governo federal não chegou. O governo federal pode mandar máquinas, dinheiro.” E completou: “O dinheiro do governo federal não chegou aqui ainda. O presidente (Lula) veio duas ou três vezes, mas estamos nos virando com o dinheiro do estado”, pontuou.

Costella ainda sugeriu que os municípios façam cadastro no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. “O Estado fez sete cadastros para construção de pontes.” E finalizou: “Não mediremos os esforços para reconstruir o estado e todo o possível para não perder mais vidas.”

36 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 INFRAESTRUTURA REGIONAL
ser a principal via da
Com bloqueios na ERS-129, a Rota da Erva-mate (ERS-332) passa
a
região alta
DIOGO
FEDRIZZI

RELATOS DOS SOBREVIVENTES RELATOS DOS SOBREVIVENTES

RELATOS DOS SOBREVIVENTES RELATOS DOS SOBREVIVENTES

momento delicado”, coordenadora da Slan

“É

um momento delicado”, diz coordenadora da Slan

pela setembro de 2023, Atendimento à Adolescente – Slan atingida pelas passada, marcas de ao teto da Com grande umidade, com ajuda limpar e

Depois de passar pela enchente de setembro de 2023, a Sociedade de Atendimento à Criança e ao Adolescente – Slan foi outra vez atingida pelas cheias. Na semana passada, a água superou as marcas de setembro e chegou ao teto da unidade no Centro. Com grande acúmulo de lodo e umidade, a instituição conta com ajuda de voluntários para limpar e reerguer o espaço.

famílias e funcionários que também foram atingidos.

famílias e funcionários que também foram atingidos. “Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando”.

Slan, Sandra equipe móveis e instituição. preocupação é com

De acordo com a coordenadora da Slan, Sandra Pretto, desta vez, a equipe conseguiu retirar móveis e outros materiais da instituição. A maior preocupação é com

“Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando”. De acordo com Sandra, assim que a água e a energia elétrica retornarem aos outros centros da Slan, a ideia é que as crianças possam ser atendidas nos outros locais. A equipe acredita que o processo de limpeza será lento, mas Sandra garante o funcionamento da entidade o mais rápido possível.

De acordo com Sandra, assim que a água e a energia elétrica retornarem aos outros centros da Slan, a ideia é que as crianças possam ser atendidas nos outros locais. A equipe acredita que o processo de limpeza será lento, mas Sandra garante o funcionamento da entidade o mais rápido possível. No momento, diz que a maior necessidade é a limpeza.

No momento, diz que a maior necessidade é a limpeza.

Exemplo de solidariedade

Moradores de Taquari resgatam sobreviventes

Moradores de Taquari

resgatam sobreviventes

Cruzeiro do Sul

pessoas, foi de domingo, acordo com prefeitura, três cidade foram até a do Rio para propriedade, já notícia de que o rio subir. utilizaram um volta, no represa, filho, Cruzeiro do Sul, que segundo eles,

desde quarta-feira, 1. Eles caíram na água quando a casa foi levada pela correnteza durante a cheia, enquanto esperavam por socorro. Um outro homem, esposo e padrasto, respectivamente, também estava na casa, mas foi levado pela água para outro lado do rio.

Outros moradores contam que as vítimas foram encontradas próximo a uma igreja. O filho havia recém passado por cirurgia e precisou ser levado ao barco com uma maca improvisada em meio aos escombros da localidade.

No abrigo do Ginásio Montanha, em Lajeado, o clube de mães do bairro e a comunidade têm sido fundamental para acolher as famílias que estão alojadas no complexo. O carinho vem em forma de lanches. “As mães estão trazendo sanduíches, cachorro quente e bolos”, afirma a coordenadora do abrigo, Josiani Pezzi. No Montanha, estavam pessoas acolhidas de Cruzeiro do Sul, Estrela e dos bairros Hidráulica e Centro. Durante as chuvas, o ginásio chegou a lotar. Nas últimas semanas, 40% dos abrigados voltaram aos seus locais de origem ou foram para a casa de familiares.

Os afetados recebem café da manhã, marmitas no almoço e ao jantar e durante todo o dia, no balcão de entrada do ginásio, estão os lanches. A comunidade se reveza na entrega dos bolos da

tarde.

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando.”

SANDRA PRETTO COORDENADORA DA SLAN

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando.”

SANDRA

Diferentemente do Parque do Imigrante, em que as famílias são divididas por barracas, no Montanha, o espaço de cada “lar provisório” é delimitado por cadeiras, que criam linhas divisórias imaginárias a fim de manter a privacidade. Conforme a coordenadora, o abrigo ficará aberto por tempo indeterminado.

coloca roupas à disposição

Brechó atingido

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar móveis. É um momento delicado que todo estado está passando”.

Estabelecimento doa calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil para pessoas afetadas pelas cheias

pelas cheias

coloca roupas à

O brechó AJK Estilo, no Centro

Estabelecimento doa calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil para pessoas afetadas pelas cheias

Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso.”

ANA JÚLIA KNACK

Algumas peças

estão

úmidas, mas todas em boas condições de uso.”
ANA JÚLIA KNACK

As mulheres do clube de mães estão trazendo sanduíches, cachorro quente e bolos”

O brechó AJK Estilo, no Centro de Lajeado, está colocando mil peças de roupas à disposição para pessoas que foram afetadas pela enchente. O local, situado na Avenida Benjamin Constant, teve a estrutura atingida pela inundação na terça-feira, dia 30. A proprietária Ana Júlia Knack conseguiu salvar as peças, mas perdeu todos os seus pertences, móveis e eletrodomésticos. “A água inundou o terceiro piso”, salienta.

Ana Júlia estava com a mãe,

a cabeleireira Diná Knack, e o filho de 4 anos quando teve de se retirar. Ela organizou as doações de roupas de acordo com os tamanhos. Há calçados, roupas

disposição

a cabeleireira Diná Knack, e o filho de 4 anos quando teve de se retirar. Ela organizou as doações de roupas de acordo com os tamanhos. Há calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil à disposição. “Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso”, garante. A Ana também precisa de ajuda, pois está sem emprego por conta da inundação na sua casa e loja de roupas. O brechó deixará de existir no local. Ana Júlia procura um imóvel para locar, tarefa complicada neste momento porque as residências à disposição estão com preços inflacionados, segundo ela.

A HORA | 37 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 A HORA | 7 Quarta-feira, 8 maio 2024
PROPRIETÁRIA DE BRECHÓ
SLAN
PRETTO COORDENADORA DA
Local: Avenida Benjamin Constant, 270, Centro de Lajeado Peças: masculina, feminina e peças selecionadas de vestuário infantil
Onde
ca o brechó SANDRA PRETTO COORDENADORA DO SLAN
COORDENADORA DO ABRIGO DO MONTANHA
JOSIANI PEZZI
“Não

consigo nem pensar como vou recomeçar”

“Não

“Não consigo nem pensar como vou recomeçar”

consigo nem pensar como vou recomeçar”

comerciante Lúcia Jussara Silva, 59, relutou em sair de casa, no Centro de Lajeado, no meio da tragédia. O Rio Taquari atingia a cota acima de 30 metros

Lúcia Jussara se apegava à esperança de que as águas estacionariam antes do segundo piso sua residência. Estava errada, mesmo após ter vivido uma dezede enchentes.

A comerciante Lúcia Jussara da Silva, 59, relutou em sair de casa, no Centro de Lajeado, no meio da tragédia. O Rio Taquari atingia a cota acima de 30 metros e Lúcia Jussara se apegava à esperança de que as águas estacionariam antes do segundo piso de sua residência. Estava errada, mesmo após ter vivido uma dezena de enchentes.

quenos detalhes da vida cotidiana, tudo coberto pela lama.

A comerciante Lúcia Jussara da Silva, 59, relutou em sair de casa, no Centro de Lajeado, no meio da tragédia. O Rio Taquari atingia a cota acima de 30 metros e Lúcia Jussara se apegava à esperança de que as águas estacionariam antes do segundo piso de sua residência. Estava errada, mesmo após ter vivido uma dezena de enchentes.

Ela, a sobrinha e a mãe de 89 anos foram retiradas às pressas pelo filho, buscando abrigo na casa de parentes no bairro Jardim do Cedro.

Ela, a sobrinha e a mãe de 89 anos foram retiradas às pressas filho, buscando abrigo casa de parentes no bairro Jardim do Cedro.

quenos detalhes da vida cotidiana, tudo coberto pela lama.

Além da casa, Lúcia Jussara perdeu também a estrutura do mercado, fonte de renda da família. Enquanto aguardam a chegada da água para auxiliar na limpeza da lama mais espessa, Lúcia e sua sobrinha Maria Eduarda, que está com ela, se banham com água da chuva em canecas.

Além da casa, Lúcia Jussara perdeu também a estrutura do mercado, fonte de renda da família. Enquanto aguardam a chegada da água para auxiliar na limpeza da lama mais espessa, Lúcia e sua sobrinha Maria Eduarda, que está com ela, se banham com água da chuva em canecas.

Ela, a sobrinha e a mãe de 89 anos foram retiradas às pressas pelo filho, buscando abrigo na casa de parentes no bairro Jardim do Cedro.

Lúcia visitou a casa após as águas baixarem e avistou o montante de entulhos. Nos escombros, um volume de 15 toneladas de lixo molhado, estava toda sua história de vida: móveis, eletrodomésticos, e porta-retratos, pe-

Lúcia visitou a casa após as águas baixarem e avistou o montante de entulhos. Nos escombros, um volume de 15 toneladas lixo molhado, estava toda sua história de vida: móveis, eletrodomésticos, e porta-retratos, pe-

Lúcia visitou a casa após as águas baixarem e avistou o montante de entulhos. Nos escombros, um volume de 15 toneladas de lixo molhado, estava toda sua história de vida: móveis, eletrodomésticos, e porta-retratos, pe-

quenos detalhes da vida cotidiana, tudo coberto pela lama. Além da casa, Lúcia Jussara perdeu também a estrutura do mercado, fonte de renda da família. Enquanto aguardam a chegada da água para auxiliar na limpeza da lama mais espessa, Lúcia e sua sobrinha Maria Eduarda, que está com ela, se banham com água da chuva em canecas.

No seu mercado, referência no bairro, a limpeza já começou, mas a luta contra o prejuízo é árdua. Lúcia ainda enfrenta o peso de um empréstimo bancário de R$ 150 mil tomado na enchente de setembro de 2023, que ela começaria a pagar em breve. “Nem comecei a pagar e está tudo destruído novamente”, desabafa. Ela afirma que não vai se entregar. É o pilar da família.

No seu mercado, referência no bairro, a limpeza já começou, mas a luta contra o prejuízo é árdua. Lúcia ainda enfrenta o peso de um empréstimo bancário de R$ 150 mil tomado na enchente de setembro de 2023, que ela começaria a pagar em breve. “Nem comecei a pagar e está tudo destruído novamente”, desabafa. Ela afirma que não vai se entregar. É o pilar da família.

No seu mercado, referência no bairro, a limpeza já começou, mas a luta contra o prejuízo é árdua. Lúcia ainda enfrenta o peso de um empréstimo bancário de R$ 150 mil tomado na enchente de setembro de 2023, que ela começaria a pagar em breve. “Nem comecei a pagar e está tudo destruído novamente”, desabafa. Ela afirma que não vai se entregar. É o pilar da família.

Voluntários adaptam escolinha em abrigo

Voluntários adaptam escolinha em abrigo

Voluntários adaptam escolinha em abrigo

Doutores Palhaços levam experiência de hospital para o Parque do Imigrante

Doutores Palhaços levam experiência de hospital para o Parque do Imigrante

Doutores Palhaços levam experiência de hospital para o Parque do Imigrante

Com um lenço vermelho amarrado ao estilo francês no pescoço e uma boina preta na cabeça, o professor Cristiano Pereira se apresentava para as crianças, pronto para alegrar a criançada.

Com um lenço vermelho amarrado ao estilo francês no pescoço e uma boina preta na cabeça, o professor Cristiano Pereira se apresentava para as crianças, pronto para alegrar a criançada.

Com um lenço vermelho amarrado ao estilo francês no pescoço e uma boina preta na cabeça, o professor Cristiano Pereira se apresentava para as crianças, pronto para alegrar a criançada.

Em meio à realidade do abrigo provisório no Parque do Imigrante, ele integra um grupo de doutores palhaços e, neste domingo, ajudou a semear sorrisos pelos

Em meio à realidade do abrigo provisório no Parque do Imigrante, ele integra um grupo de doutores palhaços e, neste domingo, ajudou a semear sorrisos pelos

Em meio à realidade do abrigo provisório no Parque do Imigrante, ele integra um grupo de doutores palhaços e, neste domingo, ajudou a semear sorrisos pelos

Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”

pavilhões. Com frases engraçadas, piadas improvisadas e interações lúdicas, os palhaços proporcionaram descontração para as crianças que ali se refugiam. Os voluntários fazem parte do projeto “E seu Sorrir”, da Univates. Desde 2015, o grupo atua em hospitais, levando aos pacientes e familiares, leveza e acolhimento. A equipe decidiu

pavilhões. Com frases engraçadas, piadas improvisadas e interações lúdicas, os palhaços proporcionaram descontração para as crianças que ali se refugiam. Os voluntários fazem parte do projeto “E seu Sorrir”, da Univates. Desde 2015, o grupo atua em hospitais, levando aos pacientes e familiares, leveza e acolhimento. A equipe decidiu

Usamos nossa capacidade de improviso para levar o carinho em forma de descontração.”

Usamos nossa capacidade de improviso para levar carinho em forma de descontração.”

Usamos nossa capacidade de improviso para levar o carinho em forma de descontração.”

CRISTIANO PEREIRA

PROFESSOR VOLUNTÁRIO

PROFESSOR VOLUNTÁRIO

usar a experiência de teatro e o humor usado em hospitais para impactar o domingo das crianças afetadas pelas cheias. “Usamos nossa capacidade de improviso para levar o carinho em forma de descontração”, salienta Pereira.

Uma escolinha de crianças no Parque do Imigrante chama a atenção de quem leva donativos e passeia pelos pavilhões. Instalado em um dos primeiros setores do

pavilhões. Com frases engraçadas, piadas improvisadas e interações lúdicas, os palhaços proporcionaram descontração para as crianças que ali se refugiam.

usar a experiência de teatro e o humor usado em hospitais para impactar o domingo das crianças afetadas pelas cheias. “Usamos nossa capacidade de improviso para levar o carinho em forma de descontração”, salienta Pereira. Em meio às adversidades, o humor possui um poder transformador e reduz a distância emocional. “Já é o segundo dia que estamos aqui e, ao nos verem chegar, as crianças nos chamaram imediatamente”, observa o professor. Ele se apresenta como “Doutor Pierrê”, um médico francês, formado em “besteirologia”. Essa imagem divertida ajuda a aliviar as tensões do público.

usar a experiência de teatro e humor usado em hospitais para impactar o domingo das crianças afetadas pelas cheias. “Usamos nossa capacidade de improviso para levar o carinho em forma descontração”, salienta Pereira. Em meio às adversidades, o mor possui um poder transformador e reduz a distância emocional.

Em meio às adversidades, o humor possui um poder transformador e reduz a distância emocional. “Já é o segundo dia que estamos aqui e, ao nos verem chegar, as crianças nos chamaram imediatamente”, observa o professor. Ele se apresenta como “Doutor Pierrê”, um médico francês, formado em “besteirologia”. Essa imagem divertida ajuda a aliviar as tensões do público.

A turma de palhaços doutores brincou com as crianças da escolinha adaptada no Parque do Imigrante durante a tarde inteira e deve fazer novas incursões pelos abrigos de Lajeado.

A turma de palhaços doutores brincou com as crianças da escolinha adaptada no Parque do Imigrante durante a tarde inteira e deve fazer novas incursões pelos abrigos de Lajeado.

“Já é o segundo dia que estamos aqui e, ao nos verem chegar, as crianças nos chamaram imediatamente”, observa o professor. Ele se apresenta como “Doutor Pierrê”, um médico francês, formado em “besteirologia”. Essa imagem divertida ajuda a aliviar as tensões do público.

Casal negocia travessia de bebê de cinco dias a Estrela

Os voluntários fazem parte do projeto “E seu Sorrir”, da Univates. Desde 2015, o grupo atua em hospitais, levando aos pacientes e familiares, leveza e acolhimento. A equipe decidiu

Casal negocia travessia

de bebê de cinco dias a Estrela

O consultor de vendas Edson

Leandro da Silva vai ter muita

A turma de palhaços doutores brincou com as crianças da escolinha adaptada no Parque Imigrante durante a tarde inteira e deve fazer novas incursões pelos abrigos de Lajeado.

Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”

história para contar à filha Maitê, de cinco dias.

GILMARA SCAPINI COORDENADORA DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS

GILMARA SCAPINI

COORDENADORA DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS

Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”

O consultor de vendas Edson Leandro da Silva vai ter muita história para contar à filha Maitê, de cinco dias.

lanches e atenção dos monitores, todos voluntários.

GILMARA SCAPINI

do Taquari. Foi uma cesariana necessária e antes do tempo, porque as contrações iniciaram horas antes.

Casal negocia travessia de bebê de cinco dias a Estrela

Pela manhã, ele tentava, abaixo de chuva, negociar a travessia da esposa Angelina Britzner da Silva e da sua bebê para o lado de Estrela. Eles moram no Bairro Boa União.

O consultor de vendas Edson

Pela manhã, ele tentava, abaixo de chuva, negociar a travessia da esposa Angelina Britzner da Silva e da sua bebê para o lado de Estrela. Eles moram no Bairro Boa União.

do Taquari. Foi uma cesariana necessária e antes do tempo, porque as contrações iniciaram horas antes.

Leandro da Silva vai ter muita história para contar à filha Maitê, de cinco dias.

COORDENADORA DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS

parque, o cercado com grades, cadeiras, pequenas mesas, bolas, tatames e brinquedos, estava lotado de crianças de dois a cinco anos de idade. Os pequenos recebem

lanches e atenção dos monitores, todos voluntários.

Angelina fez o parto na terçafeira, dia 30, no Hospital Bruno Born (HBB), quando a tempestade começava a assombrar o Vale

Uma escolinha de crianças no Parque do Imigrante chama a atenção de quem leva donativos e passeia pelos pavilhões. Instalado em um dos primeiros setores do

parque, o cercado com grades, cadeiras, pequenas mesas, bolas, tatames e brinquedos, estava lotado de crianças de dois a cinco anos de idade. Os pequenos recebem

A Rede de Apoio Psicossocial de Lajeado (RAP), em parceria com a Parceiros Voluntários, estimularam o voluntariado da cidade para adaptar a escola, uma espécie de “creche” para as crianças abrigadas. “Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”, salienta a coordenadora da Parceiros Voluntários, Gilmara Scapini.

A Rede de Apoio Psicossocial de Lajeado (RAP), em parceria com a Parceiros Voluntários, estimularam o voluntariado da cidade para adaptar a escola, uma espécie de “creche” para as crianças abrigadas. “Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”, salienta a coordenadora da Parceiros Voluntários, Gilmara Scapini.

Angelina fez o parto na terçafeira, dia 30, no Hospital Bruno Born (HBB), quando a tempestade começava a assombrar o Vale

lanches e atenção dos monitores, todos voluntários.

A Rede de Apoio Psicossocial de Lajeado (RAP), em parceria com a Parceiros Voluntários, estimularam o voluntariado da cidade para adaptar a escola, uma espécie de “creche” para as crianças abrigadas. “Decidimos criar o projeto para entreter as crianças e amenizar o contexto”, salienta a coordenadora da Parceiros Voluntários, Gilmara Scapini.

O ambiente de colégio, torna mais leve o dia a dia em meio às barracas. Mônica é uma das 18 voluntárias que se revezam nos três turnos, para atender às crianças.

Pela manhã, ele tentava, abaixo de chuva, negociar a travessia da esposa Angelina Britzner da Silva e da sua bebê para o lado de Estrela. Eles moram no Bairro Boa União. Angelina fez o parto na terçafeira, dia 30, no Hospital Bruno Born (HBB), quando a tempestade começava a assombrar o Vale

Após dias na casa dos cunhados, Edson negociou a travessia em cima da ponte. A CCR Via Sul providenciou uma maca e quatro pessoas para transportá-la. O casal, por sua vez, seguiu de carro até o local, acompanhado por uma ambulância e pela PRF, que prestou o suporte necessário.

Após dias na casa dos cunhados, Edson negociou a travessia em cima da ponte. A CCR Via Sul providenciou uma maca e quatro pessoas para transportá-la. O casal, por sua vez, seguiu de carro até o local, acompanhado por uma ambulância e pela PRF, que prestou o suporte necessário.

do Taquari. Foi uma cesariana necessária e antes do tempo, porque as contrações iniciaram horas antes.

Após dias na casa dos cunhados, Edson negociou a travessia em cima da ponte. A CCR Via providenciou uma maca e quatro pessoas para transportá-la. O casal, por sua vez, seguiu de carro até o local, acompanhado por uma ambulância e pela PRF, que prestou o suporte necessário.

“Atendemos cerca de 50 crianças neste domingo. Aqui elas recebem lanches e diversão.” Além do Parque do Imigrante, o abrigo no Bairro São Cristóvão também conta com um espaço adaptado para crianças, promovendo a interação entre os pequenos de diversos bairros que estão alojados no mesmo local.

O ambiente de colégio, torna mais leve o dia a dia em meio às barracas. Mônica é uma das 18 voluntárias que se revezam nos três turnos, para atender às crianças. “Atendemos cerca de 50 crianças neste domingo. Aqui elas recebem lanches e diversão.” Além do Parque do Imigrante, o abrigo no Bairro São Cristóvão também conta com um espaço adaptado para crianças, promovendo a interação entre os pequenos de diversos bairros que estão alojados no mesmo local.

O ambiente de colégio, torna mais leve o dia a dia em meio às barracas. Mônica é uma das 18 voluntárias que se revezam nos três turnos, para atender às crianças.

“Atendemos cerca de 50 crianças neste domingo. Aqui elas recebem lanches e diversão.” Além do Parque do Imigrante, o abrigo

38 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 A HORA | 9 Quarta-feira, 8 maio 2024
A HORA | 9 Quarta-feira, 8 maio 2024
A HORA Quarta-feira, 8 maio 2024
CRISTIANO PEREIRA

luz retornasse para bombear as caixas”, descreve. Com as chuvas intensas, Nova Bréscia registrou vários deslizamentos. “É muito triste, só vendo para entender. Quem está fora de casa nessas encostas não pode voltar. Tem previsão de chuva nos próximos dias e os morros ‘tão’ todos descalços, é um perigo”, alerta. vê muitas pessoas passarem pelo trecho.

Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se

Mesma dor pela segunda vez

Muito trabalho pelos morros

Muito

trabalho pelos morros

O operador de máquina Valmir Togni trabalha na obra de uma ponte provisória na RS-332, que liga Encantado a Arvorezinha. Togni é morador de Nova Bréscia e relata as dificuldades que as comunidades no pequeno município de 3,3 mil habitantes enfrentam.

O operador de máquina Valmir Togni trabalha na obra de uma ponte provisória na RS-332, que liga Encantado a Arvorezinha. Togni é morador de Nova Bréscia e relata as dificuldades que as comunidades no pequeno município de 3,3 mil habitantes enfrentam.

A cuidadora Graziane Zeni, 34, morava em Muçum em setembro de 2023, quando a enchente invadiu a casa dela. Meses depois, ela se mudou com o filho pequeno para Relvado, numa casa próxima à família.

“Nós não temos água e nem luz no interior. O pessoal recolheu água da chuva, mas ‘tá’ terminando. Pelo menos se a luz retornasse para bombear as caixas”, descreve. Com as chuvas intensas, Nova Bréscia registrou vários deslizamentos.

A busca por notícias

“O

A busca por notícias

povo daqui vai se reerguer”

É assim que Rudemar Borges da Silva, o Borginho, morador de Linha Jacaré, encara a destruição da comunidade onde ele vive, no interior de Encantado. Às margens da rodovia 332, conta que a casa onde mora não foi atingida, somente a empresa que é dono.

“Nós não temos água e nem luz no interior. O pessoal recolheu água da chuva, mas ‘tá’ terminando. Pelo menos se a luz retornasse para bombear as caixas”, descreve. Com as chuvas intensas, Nova Bréscia registrou vários deslizamentos.

A residência da mãe ficava ao lado e as duas foram atingidas pela enchente. Quando a água baixou, somente a casa de Graziane ficou de pé, mas estava dez metros mais para frente.

A construção de madeira está condenada depois das águas arrastarem a estrutura.

“É muito triste, só vendo para entender. Quem está fora de casa nessas encostas não pode voltar. Tem previsão de chuva nos próximos dias e os morros ‘tão’ todos descalços, é um perigo”, alerta. No trabalho em cima da máquina, Togni vê muitas pessoas passarem pelo trecho.

Abalada, sintetiza: “Não sobrou nada. Meus familiares moram aqui nas redondezas e perderam tudo. Ninguém saiu ileso”, conta. No dia mais crítico da cheia,

“É muito triste, só vendo para entender. Quem está fora de casa nessas encostas não pode voltar. Tem previsão de chuva nos próximos dias e os morros ‘tão’ todos descalços, é um perigo”, alerta. No trabalho em cima da máquina, Togni vê muitas pessoas passarem pelo trecho.

ela estava em casa. “Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa. A correnteza era tão forte que nem consegui abrir a porta, tive que pular a janela. Mas a família está bem, estamos vivos.”

“Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada.” Togni também cita que alguns tentam tirar vantagem nessas horas, furtando as pessoas. “A gente tem que se ajudar nesses momentos. Se você perdeu suas coisas, alguém vai vir te ajudar, não precisa ir roubar”, reflete.

“Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada.”

Togni também cita que alguns tentam tirar vantagem nessas horas, furtando as pessoas. “A gente tem que se ajudar nesses momentos. Se você perdeu suas coisas, alguém vai vir te ajudar, não precisa ir roubar”, reflete.

Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada”

Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa.

VALMIR TOGNI MORADOR DE NOVA BRÉSCIA

Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada”

ZENI

Mesma dor pela segunda vez

MORADORA DE RELVADO

VALMIR TOGNI MORADOR DE NOVA BRÉSCIA

Mesma dor pela segunda vez

A cuidadora Graziane Zeni, 34, morava em Muçum em setembro de 2023, quando a enchente invadiu a casa dela. Meses depois, ela se mudou com o filho pequeno para Relvado, numa casa próxima à família.

A residência da mãe ficava ao lado e as duas foram atingidas pela enchente. Quando a água baixou, somente a casa de Graziane ficou de pé, mas estava dez metros mais para frente.

ela estava em casa. “Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa. A correnteza era tão forte que nem consegui abrir a porta, tive que pular a janela. Mas a família está bem, estamos vivos.”

O aposentado Telvi Capelari reencontrou a filha nesta terça-feira à tarde, 7, depois de dias sem notícias. Ele mora em Doutor Ricardo e a filha em Relvado, municípios próximos, mas que estavam sem ligação por estradas. “Fomos lá ver se ela ainda estava viva, não tínhamos contato desde sábado. É um alívio saber que está tudo bem, que ela está trabalhando”, comemora. Capelari diz que a preocupação é inevitável quando a família está espalhada e sem contato. “É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”

O aposentado Telvi Capelari reencontrou a filha nesta terça-feira à tarde, 7, depois de dias sem notícias. Ele mora em Doutor Ricardo e a filha em Relvado, municípios próximos, mas que estavam sem ligação por estradas.

“Foi feio o negócio, nunca esperei que a água chegaria onde chegou. Eu tinha feito aqui um pavilhão e só ficou a base. A água veio com uma força inacreditável”, descreve.

Na noite de quarta-feira, 1º, ele e a esposa foram dormir cedo, a água já tinha começado a baixar e o casal pensou que a situação tinha melhorado. “Acordamos de madrugada e água já tinha subido, estava na empresa. Eu e minha esposa pegamos os carros para ir embora, mas teve queda de barreira e ficamos presos, ilhados. Ficamos em casa, mas estávamos prontos para ir embora só com a roupa do corpo”,

conta.

O irmão de Borginho tinha uma plantação de morangos nas imediações da rodovia, não resta mais nada. “Quando fui falar com ele, respondeu que iria refazer tudo. Disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’. Por isso sei que o povo daqui vai se reerguer de novo”, finaliza.

“Fomos lá ver se ela ainda estava viva, não tínhamos contato desde sábado. É um alívio saber que está tudo bem, que ela está trabalhando”, comemora. Capelari diz que a preocupação é inevitável quando a família está espalhada e sem contato. “É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”

É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”

TELVI CAPELARI MORADOR DE DOUTOR RICARDO

É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”

TELVI CAPELARI MORADOR DE DOUTOR RICARDO

BORGINHO

MORADOR DE ENCANTADO Meu irmão disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’.

“O povo daqui vai se reerguer”
“O povo daqui vai se reerguer”

onde mora não foi atingida, somente a empresa que é dono. “Foi feio o negócio, nunca esperei que a água chegaria onde chegou. Eu tinha feito aqui um pavilhão e só ficou a base. A água veio com uma força inacreditável”, descreve.

Na noite de quarta-feira, 1º, ele e a esposa foram dormir cedo, a água já tinha começado a baixar e o casal pensou que a situação tinha melhorado. “Acordamos de madrugada e água já tinha subido, estava na empresa. Eu e minha esposa pegamos os carros para ir embora, mas teve queda de barreira e ficamos presos, ilhados. Ficamos em casa, mas estávamos prontos para ir embora só com a roupa do corpo”,

É assim que Rudemar Borges da Silva, o Borginho, morador de Linha Jacaré, encara a destruição da comunidade onde ele vive, no interior de Encantado. Às margens da rodovia 332, conta que a casa onde mora não foi atingida, somente a empresa que é dono.

conta.

Disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’. Por isso sei que o povo daqui vai se reerguer de novo”, finaliza.

“Foi feio o negócio, nunca esperei que a água chegaria onde chegou. Eu tinha feito aqui um pavilhão e só ficou a base. A água veio com uma força inacreditável”, descreve.

Na noite de quarta-feira, 1º, ele e a esposa foram dormir cedo, a água já tinha começado a baixar e o casal pensou que a situação tinha melhorado. “Acordamos de madrugada e água já tinha subido, estava na empresa. Eu e minha esposa pegamos os carros para ir embora, mas teve queda de barreira e ficamos presos, ilhados. Ficamos em casa, mas estávamos prontos para ir embora só com a roupa do corpo”,

BORGINHO

MORADOR DE ENCANTADO Meu irmão disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’.

O irmão de Borginho tinha uma plantação de morangos nas imediações da rodovia, não resta mais nada. “Quando fui falar com ele, respondeu que iria refazer tudo. Disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’. Por isso sei que o povo daqui vai se reerguer de novo”, finaliza.

Meu irmão disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’.

BORGINHO MORADOR DE ENCANTADO

A construção de madeira está condenada depois das águas arrastarem a estrutura.

Abalada, sintetiza: “Não sobrou nada. Meus familiares moram aqui nas redondezas e perderam tudo. Ninguém saiu ileso”, conta. No dia mais crítico da cheia,

A cuidadora Graziane Zeni, 34, morava em Muçum em setembro de 2023, quando a enchente invadiu a casa dela. Meses depois, ela se mudou com o filho pequeno para Relvado, numa casa próxima à família. A residência da mãe ficava ao lado e as duas foram atingidas pela enchente. Quando a água baixou, somente a casa de Graziane ficou de pé, mas estava dez metros mais para frente.

A construção de madeira está condenada depois das águas arrastarem a estrutura.

Abalada, sintetiza: “Não sobrou nada. Meus familiares moram aqui nas

ela estava em casa. “Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa. A correnteza era tão forte que nem consegui abrir a porta, tive que pular a janela. Mas a família está bem, estamos vivos.”

Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa.

GRAZIANE

Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa.

A HORA | 39 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 A HORA | 9 Quinta-feira, 9 maio 2024
ZENI MORADORA DE RELVADO
O irmão de Borginho tinha uma plantação GRAZIANE
A HORA Quinta-feira, 9 maio 2024

Pretto, desta vez, a equipe conseguiu retirar móveis e outros materiais da instituição. A maior preocupação é com garante o funcionamento da entidade o mais rápido possível. No momento, diz que a maior necessidade é a limpeza.

Moradores de Taquari resgatam sobreviventes de Cruzeiro do

Sul

Moradores de Taquari resgatam sobreviventes de Cruzeiro do Sul

O resgate de duas pessoas, vítimas da enchente, foi registrado na tarde de domingo, 5, em Taquari. De acordo com informações da prefeitura, três moradores da cidade foram até a localidade de Beira do Rio para ver o gado na propriedade, já que tiveram a notícia de que o rio poderia voltar a subir. Os moradores utilizaram um barco a motor e, na volta, no ponto conhecido por represa, encontraram mãe e filho, moradores de Cruzeiro do Sul, que estavam no local, segundo eles,

Moradores de Taquari resgatam sobreviventes de Cruzeiro do Sul

O resgate de duas pessoas, vítimas da enchente, foi registrado na tarde de domingo, 5, em Taquari. De acordo com informações da prefeitura, três moradores da cidade foram até a localidade de Beira do Rio para ver o gado na propriedade, já que tiveram a notícia de que o rio poderia voltar a subir.

O resgate de duas pessoas, vítimas da enchente, foi registrado na tarde de domingo, 5, em Taquari. De acordo com informações da prefeitura, três moradores da cidade foram até a localidade de Beira do Rio para ver o gado na propriedade, já que tiveram a notícia de que o rio poderia voltar a subir.

Os moradores utilizaram um barco a motor e, na volta, no ponto conhecido por represa, encontraram mãe e filho, moradores de Cruzeiro do Sul, que estavam no local, segundo eles,

Os moradores utilizaram um barco a motor e, na volta, no ponto conhecido por represa,

desde quarta-feira, 1. Eles caíram na água quando a casa foi levada pela correnteza durante a cheia, enquanto esperavam por socorro. Um outro homem, esposo e padrasto, respectivamente, também estava na casa, mas foi levado pela água para outro lado do rio.

desde quarta-feira, 1. Eles caíram na água quando a casa foi levada pela correnteza durante a cheia, enquanto esperavam por socorro. Um outro homem, esposo e padrasto, respectivamente, também estava na casa, mas foi levado pela água para outro lado do rio.

desde quarta-feira, 1. Eles caíram na água quando a casa foi levada pela correnteza durante a cheia, enquanto esperavam por socorro. Um outro homem, esposo e padrasto, respectivamente, também estava na casa, mas foi levado pela água para outro lado do rio.

Outros moradores contam que as vítimas foram encontradas próximo a uma igreja. O filho havia recém passado por cirurgia e precisou ser levado ao barco com uma maca improvisada em meio aos escombros da localidade.

Outros moradores contam que as vítimas foram encontradas próximo a uma igreja. O filho havia recém passado por cirurgia e precisou ser levado ao barco com uma maca improvisada em meio aos escombros da localidade.

Outros moradores contam que as vítimas foram encontradas próximo a uma igreja. O filho havia recém passado por cirurgia

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando.”

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando.”

SANDRA PRETTO

DA SLAN

Temos alguns que perderam a casa, outros que não conseguiram tirar os móveis. É um momento delicado que todo o estado está passando.”

Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso.”

Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso.”

ANA JÚLIA KNACK

Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso.”

Brechó atingido pelas cheias coloca roupas à disposição

Brechó atingido pelas cheias coloca

roupas à disposição

Peças:

Brechó atingido pelas cheias coloca roupas à disposição

Estabelecimento doa calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil para pessoas afetadas pelas cheias

Estabelecimento doa calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil para pessoas afetadas pelas cheias O brechó AJK Estilo, no Centro de Lajeado, está colocando mil peças de roupas à disposição para pessoas que foram afetadas pela enchente. O local, situado na Avenida Benjamin Constant, teve a estrutura atingida pela inundação na terça-feira, dia 30. A proprietária Ana Júlia Knack conseguiu salvar as peças, mas perdeu todos os seus pertences, móveis e eletrodomésticos. “A água inundou o terceiro piso”, salienta.

O brechó AJK Estilo, no Centro de Lajeado, está colocando mil peças de roupas à disposição para pessoas que foram afetadas pela enchente. O local, situado na Avenida Benjamin Constant, teve a estrutura atingida pela inundação na terça-feira, dia 30.

A proprietária Ana Júlia Knack conseguiu salvar as peças, mas perdeu todos os seus pertences, móveis e eletrodomésticos. “A água inundou o terceiro piso”, salienta.

Ana Júlia estava com a mãe,

Ana Júlia estava com a mãe,

Estabelecimento doa calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil para pessoas afetadas pelas cheias O brechó AJK Estilo, no Centro de Lajeado, está colocando mil peças de roupas à disposição para pessoas que foram afetadas pela enchente. O local, situado na Avenida Benjamin Constant, teve a estrutura atingida pela inundação na terça-feira, dia 30. A proprietária Ana Júlia Knack conseguiu salvar as peças, mas perdeu todos os seus pertences, móveis e eletrodomésticos. “A água inundou o terceiro piso”,

a cabeleireira Diná Knack, e o filho de 4 anos quando teve de se retirar. Ela organizou as doações de roupas de acordo com os tamanhos. Há calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil à disposição. “Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso”, garante. A Ana também precisa de ajuda, pois está sem emprego por conta da inundação na sua casa e loja de roupas.

a cabeleireira Diná Knack, e o filho de 4 anos quando teve de se retirar. Ela organizou as doações de roupas de acordo com os tamanhos. Há calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil à disposição. “Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso”, garante. A Ana também precisa de ajuda, pois está sem emprego por conta da inundação na sua casa e loja de roupas.

a cabeleireira Diná Knack, e o filho de 4 anos quando teve de se retirar. Ela organizou as doações de roupas de acordo com os tamanhos. Há calçados, roupas femininas, masculinas e peças de vestuário infantil à disposição. “Algumas peças estão úmidas, mas todas em boas condições de uso”, garante. A Ana também precisa de ajuda, pois está sem emprego por conta da inundação na sua casa e loja de roupas.

O brechó deixará de existir no local. Ana Júlia procura um imóvel para locar, tarefa complicada neste momento porque as residências à disposição estão com preços inflacionados, segundo ela.

O brechó deixará de existir no local. Ana Júlia procura um imóvel para locar, tarefa complicada neste momento porque as residências à disposição estão com preços inflacionados, segundo ela.

O brechó deixará de existir no local. Ana Júlia procura um imóvel para locar, tarefa complicada neste momento porque as residências

infantil

Horário: a partir dessa segunda, às 10h Contato: (51) 9 8182 7028 (Ana Júlia Knack) Instagram: @anajknack

selecionadas de vestuário infantil Horário: a partir dessa segunda, às 10h Contato: (51) 9 8182 7028 (Ana Júlia Knack) Instagram: @anajknack

Local: Avenida Benjamin Constant, 270, Centro de Lajeado Peças: masculina, feminina e peças selecionadas de vestuário infantil

Horário: a partir dessa segunda, às 10h Contato: (51) 9 8182 7028 (Ana Júlia Knack) Instagram: @anajknack

40 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
ANA JÚLIA KNACK PROPRIETÁRIA DE BRECHÓ
ca o brechó
Onde
A maior preocupação é com necessidade é a limpeza.
SANDRA PRETTO COORDENADORA DA SLAN ANA JÚLIA KNACK PROPRIETÁRIA DE BRECHÓ Local: Avenida Benjamin Constant, 270, Centro de Lajeado Peças: masculina, feminina e peças selecionadas de vestuário
Onde ca o brechó
Local: Avenida Benjamin Constant, 270, Centro de Lajeado masculina, feminina e peças Onde ca o brechó
A HORA | 41 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

mann, uma das proprietárias da Brinquedos Piá. Ela foi resgatada pela Defesa Civil junto a mais 19 pessoas, e cruzou a eclusa de lancha para chegar a Bom Retiro do Sul.

informações divulgadas na rádio. Quando ouviram sobre a possibilidade das águas subirem ainda mais e talvez chegarem à cota 40, como foi divulgado pelo vice-

Com a luz, um pouco de alegria

Os moradores de Lajeado que estão abrigados no ginásio do bairro Conservas comemoraram a volta da energia elétrica no local. O abrigo ficou cinco dias sem luz e, nesta semana, um gerador foi instalado no espaço.

Um dos alojados é Percival Gaspar dos Santos, morador do bairro, que teve a casa inundada pelo rio. Ele comemorou o estabelecimento da luz. “Agora tem até uma televisão para ver as notícias”, cita. Ele, assim como muitos, perdeu tudo o que tinha. É a terceira enchente que enfrenta.

“Vamos ficar vários dias aqui, não sabemos para onde ir. Coloquei as coisas na casa do vizinho de cima, mas a água chegou igual, perdemos tudo. Não temos mais

Vamos car vários dias aqui, não sabemos para onde ir”

PERCIVAL GASPAR DOS SANTOS

MORADOR DE LAJEADO

nada além da roupa do corpo e do carro”, conta. Percival e a esposa deixaram o lar antes da água chegar e buscaram abrigo no ginásio.

A estrelense relata que nas proximidades da residência da família, parou uma lancha presa às árvores, que tinha gasolina e a chave dentro. “Meu filho nunca tinha andado

residem com outros familiares em uma casa alugada na Linha Glória, para onde levam móveis ou pertences que ainda conseguiram salvar depois da cheia.

Quem decide não voltar mais

O bairro Oriental, em Estrela, está entre os mais devastados pela cheia. O morador José Claudiomir residia há dois anos em um prédio junto da esposa e outras quatro famílias. Essa foi a terceira vez que perdeu tudo na enchente, a água chegou até o telhado do prédio, somente a chaminé e a antena parabólica ficaram de fora. “Minha esposa saiu antes da água fechar o portão aqui do prédio, na terça-feira de tarde ainda. Mas eu fiquei até quarta de noite, junto com o cachorro, até ser resgatado pela defesa civil”, conta. Juntos, Claudiomir e a esposa decidiram que não vão mais retornar ao bairro. “Não tem mais como ficar na nossa casa, caiu todo

Não tem mais como car na nossa casa, caiu todo o forro”

JOSÉ CLAUDIOMIR MORADOR DE ESTRELA

o forro, a água levou embora”, cita. “Vamos tentando nos reerguer. Por enquanto, estamos na casa do meu filho, depois vamos para novo local.”

42 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Em 50 anos, a primeira vez

Morador do bairro Conservas há 52 anos, Sadi Luis Pereira, 63, viu pela primeira vez a água do Rio Taquari invadir a casa dele. A residência de dois andares, na rua João Avelino Maria, foi completamente coberta pela enchente. A estrutura permanece de pé, apesar de umas rachaduras, mas as conquistas de uma vida inteira foram levadas embora pelo rio.

Em Lajeado, o Conservas foi um dos locais mais atingidos, grande parte dos moradores estão alojados nos ginásios. A comunidade ficou mais de dez dias sem energia elétrica.

Pereira, que está abrigado na casa de amigos, foi conferir o estado da própria moradia. “É uma experiência triste, trabalhei uma vida inteira para ter essa casa, o que eu tinha dentro dela. Mas ela ainda tá de pé, isso é bom”, diz.

Ele mora no local junto da esposa e do filho. “Nós não fomos resgatados, saímos antes da água chegar. A vida é a coisa mais importante. Em uma situação de risco, a gente precisa sair e preservar a vida”, enfatiza.

Quase 40 horas de pesadelo

Na localidade de Arroio do Ouro, em Estrela, Silvio Gregory, 57, passou duas noites e dois dias em cima do telhado da casa, à espera de um resgate. “Eu estava sintonizado na Rádio A Hora o tempo todo, porque o sinal de telefone e internet tava muito fraco aqui”, relata.

A vida é a coisa mais importante. Em uma situação de risco, a gente precisa sair e preservar a vida”

“Dá uma tristeza voltar e ver todos os móveis estragados, as roupas. Mas não tem o que fazer, agora é tentar se reerguer dentro do possível. Tem muita gente ajudando também. A esperança é poder voltar para casa e reconstruir”, finaliza.

“Tem que lembrar que estamos vivos, tem gente que não tá”

O morador do Morro 25, em Lajeado, Alirio Evaldir Brandão, 54, perdeu tudo que tinha na casa na rua Bernardino Pinto. Ele e a esposa residiam no endereço há pouco mais de três anos. Pela primeira vez a enchente alcançou a residência e cobriu até o teto. Até então, a água tinha chegado nas proximidades, em setembro, circundou a casa, mas nunca invadiu.

“A gente colocou os móveis numa parte mais elevada do terreno, na esperança que água não chegaria ali”. Brandão e a esposa saíram de casa só com a roupa do corpo, antes da água invadir a

Para reconstruir não vai ser fácil, mas a gente não pode desanimar”

ALIRIO EVALDIR BRANDÃO MORADOR DE LAJEADO

casa.”Para reconstruir não vai ser fácil, mas a gente não pode desanimar. Tem que lembrar que estamos vivos, tem gente que não tá.”

Morador próximo do rio, acompanhou o movimento das águas o dia inteiro. “Eu já estava ilhado na minha casa e parecia que iria estabilizar”.

Mas então escutei no rádio um depoimento de um homem de Santa Tereza, dizendo que a água chegaria com muita força por aqui. Nesse momento, soube que teria de me preparar. Separei roupas, mantimentos e fui para o telhado”, conta.

Isso foi na quarta-feira à tarde, 1º. O resgate de Gregory só foi feito na sexta-feira, 3, no fim da manhã. “Foram os piores momentos da minha vida, em especial, à noite. Eu sabia que a água não alcançaria o telhado, me criei por aqui, conheço o Taquari.

Mas meu medo era de que a casa não fosse aguentar. Quando vi a garagem quebrando pela força da correnteza, tive medo”, relembra. Choveu o tempo todo durante a primeira noite, a única luz eram os relâmpagos. “Quando chegou quinta-feira de tarde e eu percebi que teria que passar outra noite assim, foi muito difícil. Naquele momento, a água já tinha infiltrado a capa de chuva e a única coisa que me aquecia era uma garrafa de cachaça”, lembra. Na manhã de sexta-feira, ele conseguiu um resquício de sinal e enviou mais um pedido de socorro ao filho. A casa de Gregory ficava circundada por uma área verde, o que dificultava que os helicópteros avistassem ele. O barulho do rio tornava os gritos por socorro inaudíveis. “Quando chegou sexta-feira, o rio estava baixando. Ali eu sabia que não ia mais morrer, mas não sei como teria sido se tivesse que esperar mais tempo por resgate.”

“Meus pais não conseguiram ser salvos”

“Era madrugada, pelas 4h15min, minha mãe ainda conseguiu me ligar. Ela disse ‘filha, nós vamos morrer afogados, a água já está batendo’. Nós ligamos para todo mundo para pedir resgate. Mas, infelizmente, meus pais não conseguiram ser salvos”. O relato é de Iara Maria Mallmann que, além de ter ficado um dia inteiro no telhado de casa pedindo ajuda, também perdeu os pais, João Arlindo, 80, e Valéria Maria Gregory, 77, para as cheias.

Os pais moravam no bairro Bom Fim, em Cruzeiro do Sul, onde mais de 300 pessoas foram resgatadas. Ela era moradora de Passo de Estrela, também no município, bairro que possui, hoje, quase nenhuma casa de pé.

“A água simplesmente devastou o nosso bairro, muita gente morreu, alguns conseguiram se salvar de helicóptero, outros de barco. A gente agora está tentando levar a vida, para resgatar um pouquinho da dignidade que sobrou para reconstruir”, diz Iara.

Ela ficou no telhado de casa com o marido até ser resgatada por um

vizinho, de barco. Conta ter visto a água passar com muita força e velocidade. “Tinha gente em cima das árvores, dos telhados, a gente via casas desabando, era uma tristeza. A gente debaixo de chuva gelada. Estava tudo desabando, só faltava nós”, recorda. Ela também vive os traumas da tragédia. Além das vidas, perdeu a casa, a casa do filho e dos pais. Morando com a família em outro bairro da cidade, Iara diz ter chorado tudo o que podia nos primeiros dias e, agora, busca

colocar um sorriso no rosto e gosta de lembrar dos momentos que viveu com os pais. João e Valéria foram velados na Igreja Matriz de Cruzeiro do Sul e sepultados no cemitério do Bom Fim. A ideia dos três filhos do casal é reconstruir a residência deles e manter viva a memória e história construída no local. Iara ainda pede que as autoridades olhem para o Passo de Estrela e não esqueçam da comunidade que, por décadas, construiu sua vida na localidade.

A HORA | 43 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

“Ninguém acreditava que vinha o rio dessa forma”

Em Arroio do Ouro, no interior de Estrela, outro relato comovente é de Regina Mallmann, uma das proprietárias da Brinquedos Piá. Ela foi resgatada pela Defesa Civil junto a mais 19 pessoas, e cruzou a eclusa de lancha para chegar a Bom Retiro do Sul.

Regina conta que quando a água começou a subir, a família ficou atenta às informações divulgadas na rádio. Quando ouviram sobre a possibilidade das águas subirem ainda mais e talvez chegarem à cota 40, como foi divulgado pelo vice-

Com a luz, um pouco de alegria

governador do Estado, Gabriel Souza, se desesperam.

A estrelense relata que nas proximidades da residência da família, parou uma lancha presa às árvores, que tinha gasolina e a chave dentro. “Meu filho nunca tinha andado

Meu lho nunca tinha andado em uma lancha, subiu e veio faceiro dizendo que era a nossa salvação”

em uma lancha, ele foi até lá buscar, subiu e veio faceiro dizendo que era a nossa salvação”. O filho então usou a embarcação para buscar familiares na vizinhança e levar para a casa de Regina. Lá, no segundo andar, 20 pessoas foram resgatadas pela Defesa Civil de Bom Retiro do Sul.

“O resgate aqui foi difícil porque ninguém acreditava que vinha o rio dessa forma, carregando tudo”. A moradora conta que quando a água baixou, a família voltou à residência em Arroio do Ouro. Ela e o marido de mãos dadas, enquanto os filhos iam à frente. “Deixamos o carro no asfalto e viemos caminhando, vendo essa destruição. Vim chorando até aqui”.

A casa de Regina permaneceu de pé, enquanto a de muitos amigos foi totalmente destruída. Agora estão no processo de limpeza, recebendo ajuda de muitos voluntários. Mesmo assim, não sabem se vão voltar a morar na localidade. Por enquanto, residem com outros familiares em uma casa alugada na Linha Glória, para onde levam móveis ou pertences que ainda conseguiram salvar depois da cheia.

Quem decide não voltar mais

O bairro Oriental, em Estrela, está entre os mais devastados pela cheia. O morador

José Claudiomir residia há dois anos em um prédio junto da esposa e outras quatro famílias. Essa foi a terceira vez que perdeu tudo na enchente, a água chegou até o telhado do prédio, somente a chaminé e a antena parabólica ficaram de fora.

“Minha esposa saiu antes da água fechar o portão aqui do prédio, na terça-feira de tarde ainda. Mas eu fiquei até quarta de noite, junto com o cachorro, até ser resgatado pela defesa civil”, conta.

Juntos, Claudiomir e a esposa decidiram que não vão mais retornar ao bairro. “Não tem mais como ficar na nossa casa, caiu todo

Não tem mais como car na nossa casa, caiu todo o forro”

JOSÉ CLAUDIOMIR

MORADOR DE ESTRELA

o forro, a água levou embora”, cita. “Vamos tentando nos reerguer. Por enquanto, estamos na casa do meu filho, depois vamos para novo local.”

Os moradores de Lajeado que estão abrigados no ginásio do bairro Conservas comemoraram a volta da energia elétrica no local. O abrigo ficou cinco dias sem luz e, nesta semana, um gerador foi instalado no espaço.

Um dos alojados é Percival Gaspar dos Santos, morador do bairro, que teve a casa inundada pelo rio. Ele comemorou o estabelecimento da luz. “Agora tem até uma televisão para ver as notícias”, cita. Ele, assim como muitos, perdeu tudo o que tinha. É a terceira enchente que enfrenta. “Vamos ficar vários dias aqui, não sabemos para onde ir. Coloquei as coisas na casa do vizinho de cima, mas a água chegou igual, perdemos tudo. Não temos mais

Vamos car vários dias aqui, não sabemos para onde ir”

PERCIVAL GASPAR DOS SANTOS

MORADOR DE LAJEADO

nada além da roupa do corpo e do carro”, conta. Percival e a esposa deixaram o lar antes da água chegar e buscaram abrigo no ginásio.

44 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024 12 | A HORA Sexta-feira, 10 maio 2024
REGINA MALLMANN MORADORA DE ESTRELA

FABIANO CONTE

Rádio: a voz que salvou vidas na enchente

Confesso que, em 30 anos de profissão, nunca vivenciei uma situação tão impactante. Já cobri inúmeras enchentes, tanto no estúdio quanto nas ruas, mas esta foi a mais impressionante e avassaladora. Houve momentos em que me senti impotente diante do microfone, sabendo que meus apelos talvez não fossem suficientes. No entanto, a persistência valeu a pena, e agora entendo o reconhecimento da importância do rádio, do nosso trabalho, e da capacidade única desse meio de comunicação de salvar vidas. A maior enchente da história do Vale do Taquari e de outras regiões, que se tornou a tragédia ambiental mais devastadora do Rio Grande do Sul, revelou o papel indispensável do rádio em situações de emergência. Durante esse evento catastrófico, o rádio emergiu como um salvador, oferecendo um meio crucial para que as pessoas pedissem ajuda e se comunicassem. Foi através das ondas do rádio que muitas pessoas conseguiram solicitar socorro. Em meio ao caos, sem acesso à internet e com a energia elétrica comprometida, o rádio, especialmente os rádios

a pilha, permitiram que indivíduos isolados pelas águas comunicassem suas situações desesperadoras.

Além disso, foi por meio do rádio que muitos puderam tranquilizar seus familiares e amigos, informando que estavam bem. Nós, da Rádio

A Hora, desempenhamos um papel incansável e vital durante esta crise.

O empenho de nossa equipe de radiojornalismo, composta por jornalistas, repórteres, técnicos, produtores e equipe de retaguarda, foi excepcional. Trabalhamos dias a fio, muitas vezes utilizando geradores próprios devido à falta de luz e enfrentando condições precárias de internet.

Mesmo assim, nossos colegas

ARTIGO

Empreendedor e comunicador, apresentador do programa “O Meu Negócio”, da Rádio A Hora 102.9

Vendas reerguem empresas

Aconseguiram capturar e transmitir imagens e áudios de forma ininterrupta, mantendo o rádio no ar e funcionando como um canal essencial de comunicação para a população. Sem a presença do rádio, o número de vítimas poderia ter sido ainda maior. As transmissões constantes apelavam por ações das autoridades, pela defesa civil, por helicópteros e botes de resgate, muitas vezes sendo a única esperança de socorro para aqueles em perigo. Em uma era digital onde muitas vezes subestimamos os meios de comunicação tradicionais, esta tragédia mostrou que o rádio permanece insubstituível em situações de emergência.

A resiliência do povo gaúcho

Após duas semanas sem escrever minha coluna, retorno em meio a um cenário de desolação, mas também de esperança, para refletir sobre a necessidade urgente de resiliência do povo gaúcho. As enchentes que devastaram o Vale do Taquari e outras regiões do Rio Grande do Sul deixaram marcas profundas, tanto na infraestrutura quanto na alma dos seus habitantes. Ao visitar diferentes localidades afetadas, me deparo com uma paisagem de destruição. O termo “aquilo que sobrou” é mais do que apropriado para descrever o estado atual de muitas ruas e bairros. Diante de tanta perda, é fácil sucumbir ao desânimo e à sensação de impotência, como se tudo estivesse perdido.

No entanto, há algo que renasce das ruínas e que se mostra ainda mais forte: a solidariedade e o espírito de comunidade. A cada canto que olho, encontro pessoas dedicando seu tempo e esforço, seja em ações voluntárias, seja no apoio logístico oferecido por empresas e pelo poder público, não apenas do nosso estado, mas de todo o Brasil e além. Esse esforço conjunto me faz acreditar que a resiliência é a chave para superar este momento difícil. Que possamos olhar para este desafio como uma oportunidade de nos fortalecer, de unir nossos esforços em prol de um futuro melhor. Que a resiliência gaúcha seja, mais uma vez, o farol que nos guia rumo à reconstrução e ao renascimento.

sistematização de um plano de vendas é essencial para a recuperação dos negócios locais no Vale do Taquari. Quando falamos em vendas, estamos falando de produtos e serviços que atendem às necessidades ou soluções importantes para os clientes. Portanto, vender ajuda a melhorar a vida das pessoas, tanto para quem vende quanto para quem compra.

Aproveitando a experiência de profissionais de vendas seguem nove boas práticas: O que e como fazer, úteis e simples de estruturar: 1-Levantamento da Situação: Estoque: Realize um inventário dos itens disponíveis. Estabeleça pontes com fornecedores para garantir reposição, considerando a logística e a disponibilidade de produtos. Fornecedores: Negocie prazos e condições especiais para a reposição de estoque. 2. Levantamento da Situação dos Clientes : Contato: Desenvolva uma estratégia para entrar em contato com seus clientes. Utilize watts, e-mails, telefonemas e redes sociais para atualizar seus clientes sobre o estado atual do seu negócio e como você pode atendê-los. Informações: Colete informações importantes sobre as necessidades e preferências dos clientes para ajustar suas ofertas 3. Plano de Vendas: Equipe de Vendas: Informe e motive toda a equipe de vendas. Realize reuniões frequentes para atualizar sobre as metas e estratégias. Objetivos: Defina metas claras e atingíveis. Essas metas devem ser específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazo definido. 4. Plano de Ação de Vendas: Ofertas: Decida o que oferecer aos clientes e como. Utilize diversos canais de comunicação, mídia, redes sociais, e-mail marketing e demais ferramentas disponíveis. Promoções: Crie ações promocionais para girar o estoque. 5. Organização da Logística de Entrega: Entrega Física: Planeje a logística de entrega, seja própria ou por terceiros, considere parcerias para agilizar o processo. 6. Cuidados com Aspectos Financeiros: Cobrança: Estabeleça um sistema eficiente de cobrança, garantindo a liquidez do negócio. Negocie prazos de pagamento e monitore o fluxo de caixa (use planilha Excel). 7. Acompanhamento: Metas: Estabeleça metas semanais, mensais e por vendedor. Utilize indicadores de desempenho simples para acompanhar. 8. Medir Resultados: Volume de Vendas: Acompanhe o volume de vendas e o lucro (vendas menos custos). Utilize o retorno sobre o investimento (ROI) para medir a eficácia das campanhas de marketing e promoções. Contas simples que o contador pode ajudar a fazer. 9 Reconhecimento da Equipe: Motivação: Implemente ações de reconhecimento e motivação, como bônus por desempenho, premiações e reconhecimento público, criando um ambiente de trabalho saudável.

A reconstrução exige esforço e determinação e um bom plano de vendas para salvar e reerguer os negócios locais envolvidos no Vale do Taquari.”
A HORA | 45 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
Jornalista e radialista

A maior enchente da história 1956

1873

Nos quase 200 anos de colonização do Vale do Taquari, não se tem registro de uma enchente tão grande e destrutiva quanto à deste mês. Como falar do passado, quando o presente é a história?

O rio alcançou os 33,35 metros em Lajeado no dia 2 de maio, superando a marca histórica de 1941, de 29,92 metros. Em 2018, a engenheira ambiental

Sofia Moraes elaborou um estudo que analisava as enchentes nos últimos 36 anos.

Se o Taquari seguisse o mesmo comportamento, a probabilidade de ocorrer uma cheia que superasse os 30 metros era de 0,01%. Isso vai ao encontro do imaginário popular de que uma enchente maior a de 1941 jamais aconteceria.

Além disso, um estudo

Ninguém acreditava que a enchente de 1941 poderia ser superada. Em Lajeado, relatos citam que a água do rio Taquari teria chegado até a rua Borges de Medeiros, quase no Colégio Madre Bárbara. Neste ano, o rio alcançou quase dois metros dentro da escola e avançou duas quadras além. Poucas pessoas viveram as duas enchentes, separadas por 83 anos. Moradora de Lajeado, Ernesta Kerta de Souza Pfaff, 96, conhecida como Dona Guerta, é um dos raros exemplos. Hoje, ela não mora em área de risco, mas, a cada vez que as chuvas intensas chegam ao município, ela relembra de 1941, quando, aos 13 anos, ajudou a subir os móveis na casa da avó, no centro da cidade. Naquela época, com pouca habitação, os danos não foram tão severos. Ela lembra que a água

era limpa e as crianças brincavam no rio. A destruição teve uma proporção bem menor, já que Lajeado era ainda um pequeno núcleo urbano.

Em 1941, choveu no Rio Grande do Sul por 20 dias seguidos entre abril e maio. Não somente a bacia Taquari-Antas transbordou, como em Porto Alegre, o Guaíba também inundou a cidade, chegando aos 4,7 metros. Fotos mostram barcos na rua das Andradas. Neste ano, a água subiu até os 5,25 metros na capital. Na capa do jornal O Taquaryense de 10 de maio de 1941 a percepção da época: “Os habitantes desta cidade assistiram, com a atual cheia do Rio Taquari, um espetáculo doloroso que jamais se apagará da memória dos que tiveram a ventura ou desventura de assisti-lo.”

recente aponta que a tradicional metragem de 29,92 metros estaria incorreta e que, na verdade, em 1941, o rio Taquari teria chegado somente aos 28,87 metros. De acordo com o estudo, as três maiores cheias da história da região teriam acontecido no período dos últimos nove meses e, por isso, também reconfiguram a probabilidade de inundações desse porte.

Pesquisas citam que uma grandiosa enchente avançou sobre a região em 1873. Até o início deste mês, esta inundação era uma das maiores que se tinha registro. O historiador Wolfgang Collischonn considera possível que, em 1873, o fundador de Lajeado, Antônio Fialho de Vargas, tenha anotado os pontos até onde a enchente chegou. Talvez, Fialho tivesse levado em consideração essas marcas ao doar os terrenos para a praça, a igreja e o cemitério da cidade. Já que, nas cheias de 1941 e de setembro de 2023, as águas não alcançaram esses locais.

A grande enchente de 1873 também pode ter motivado a criação da Paróquia Santo Inácio de Loyola, em 1881. As constantes cheias impediam que os padres, residentes em Estrela, viessem atender a pequena vila de Lajeado. Assim, uma igreja própria foi construída ainda no século XIX. Além disso, foi essa inundação que incentivou a construção da Casa do Morro de Cruzeiro do Sul. Em 1873, a casa da família Azambuja, próxima ao rio, foi destruída pela força das águas. Assim, o Coronel Primórdio Centeno Xavier de Azambuja ergueu uma nova estrutura no alto do morro, longe do rio.

Naquele ano, Roca Sales foi um dos municípios mais atingidos, as ruas centrais ficaram inundadas pelas águas. Conforme o jornal A Voz do Alto Taquari de 1956, em Roca Sales, a enchente superou a de 1941.

No mesmo jornal, datado de abril, um relato que muito se assemelha à tragédia deste ano. “O povo de Lajeado ficou consternado. As ruas se encheram de curiosos. Nas esquinas se viam grupos de famílias pobres, sem lar, sem nada.”

Maiores enchentes

1ª - 2 de maio de 2024 –33,35m*

2ª - Maio de 1941 – 29,92m**

3ª - Setembro de 2023 –29,62m***

4ª - Novembro de 2023 –28,94m

5ª - Abril de 1956 – 28,86m

6ª - 13 de maio de 202427,78m

7ª - Janeiro de 1946 – 27,40m

8ª - Julho de 2020 – 27,39m 9ª - Setembro de 1954 –27,35m

10ª - Outubro de 2001 –26,95m

11ª - Julho de 2011 – 26,85m

12ª - Outubro de 2008 –26,65m

*Medição conforme dados do Governo de Lajeado.

**Medição clássica, porém um novo estudo aponta que a medição correta seria de 28,87 metros, classificando a cheia de 1941 em 4º lugar.

***Medição conforme dados do Governo de Estrela. Demais dados são do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da engenheira ambiental Sofia Moraes.

46 | A HORA Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
1941
Em Lajeado, na rua Santos Filho, a água quase alcançou a rua Júlio de Castilhos Em 1941, a água chegou até a esquina da Avenida Benjamin Constant com a rua Borges de Medeiros em Lajeado. Na foto, aparece a rua Marechal Deodoro e o antigo Cine Avenida

Compare o nível na Escadaria de Estrela 2010

2023

Entre as maiores cheias da região, está a enchente dos rios Forqueta e Fão de 2010, que devastou as cidades de Marques de Souza e Travesseiro. O dia era 4 de janeiro, por volta do meio-dia, quando o nível da água começou a subir de forma rápida.

Relatos da época contam que a água invadiu as casas em menos de 1h e impossibilitou a retirada de materiais. O grande volume de precipitações aumentou o nível dos rios, que arrastaram casas. Apesar dos prejuízos, nenhuma morte foi registrada. Relatos falam que só não houve óbitos porque a enchente veio durante o dia. Os campings, famosos em Marques de Souza, ficaram irreconhecíveis. Uma das cenas mais chocantes foi o Cemitério Católico de Tamanduá, onde as covas foram reviradas. Crânios e ossos estavam espalhados pelo terreno. Na época, os governos municipais falavam que eram necessários mais de R$ 20 milhões para recuperar pontes, estradas e pinguelas afetadas pela cheia.

Em setembro do ano passado, o rio Taquari chegou aos 29,62 metros, ainda 30 cm abaixo da cota máxima da cheia de 1941. Entretanto, um estudo recente publicado por historiadores e especialistas na área, como Sofia Moraes, Walter Collischonn, Franco Turco Buffon e Rafael Rodrigo Eckhardt, ratifica a informação.

Em setembro de 2023, as águas do Taquari alcançaram a Avenida Benjamin Constant em Lajeado pela primeira vez, na esquina com a rua Santos Filho

O documento “Revisão e consolidação da série histórica dos níveis das cheias do rio Taquari em Lajeado de 1939 a 2023”, mostra que houve um erro na estimativa da posição da régua que existia na época para a mediação do rio. De acordo com os especialistas, caso a cheia de 1941 ocorresse hoje, ela mediria 28,87 metros na régua atual.

É isso que se observa no Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) de Lajeado. Nos anos 1960, a escola ampliou sua estrutura e levou em consideração o alcance das águas de 1941.

“Diziam que nenhuma enchente superaria aquela. A laje mais baixa do prédio respeitou o nível máximo que a água chegou, de 29,92m”, conta o professor Ladair Rahmeier, que acompanhou a construção na época. Em setembro, no entanto, a cheia superou em quase 80 cm a altura do prédio do Ceat.

A HORA | 47 Fim de semana, 18 e 19 maio 2024
1941 2023 2024
Foto de 1956, em Estrela. O atual Parque Princesa do Vale estava coberto de água. Ao fundo, a Escola Vidal de Negreiros Os campings, famosos em Marques de Souza, caram irreconhecíveis

Fim de semana, 18 e 19 maio 2024

Fechamento da edição: 19h MÍN: 9 | MÁX: 16

A previsão do tempo para sábado é de Sol com muitas nuvens durante o dia e períodos de céu nublado. Noite com muitas nuvens.

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