

grupoahora.net.br

ANÁLISE, CURADORIA E OPINIÃO DE VALOR
Quinta-feira, 9 maio 2024 | Ano 21 - Nº 3562 | Edição digital
grupoahora.net.br
Quinta-feira, 9 maio 2024 | Ano 21 - Nº 3562 | Edição digital
Abastecimento de água e luz volta de forma gradual no Vale
Após mais de uma semana dos primeiros registros da falta de energia elétrica em decorrência dos temporais, há 55,2 mil clientes desabastecidos. Destes, 45,2 mil são na área da RGE e 10 mil na rede da Cer-
Poucas moradias provisórias prometidas após a cheia de setembro de 2023 foram entregues.
PÁGINA | 11
tel. No caso da cooperativa, mais de 400 profissionais se dedicam em reconstruir as redes atingidas. Para auxiliar nos trabalhos, técnicos de outras empresas e cooperativas integram as equipes.
Desta vez, déficit habitacional será maior. Equipes da Univates projetam apoio técnico a governos.
PÁGINA | 3
Odrama visto na enchente de setembro se repete, agora em uma dimensão maior. Cidades onde o nível do Rio Taquari atingiu marcas históricas, como Lajeado, Estrela, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul, tiveram bairros devastados. Com isso, o desafio da reconstrução se torna ainda mais complexo. Em primeiro momento, o foco de autoridades, órgãos de defesa e segurança e de voluntários se direciona à ajuda humanitária, além do restabelecimento de serviços básicos e acessos entre municípios e localidades. No entanto, profissionais e especialistas se movimentam no sentido de projetar futuras habitações.
A situação é grave, pois a falta de moradia adequada é uma questão urgente. Afeta a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.
Ainda não há dados concretos sobre a quantidade de propriedades destruídas na maioria dos municípios afetados pela cheia. A situação é grave, pois a falta de moradia adequada é uma questão urgente. Afeta a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Deste modo, é fundamental que os governos ajam com rapidez e eficiência para garantir o fim desta chaga social.
A enchente deixou um rastro de destruição, mas também revelou a força e a resiliência da comunidade. Agora, mais do que nunca, é preciso de esforço coletivo para superar as dificuldades. A reconstrução será um processo longo e difícil.
Cerca de 10 mil associados da Certel estavam ontem sem energia no Vale do Taquari. Estão previstos avanços, principalmente entre Forquetinha e Canudos do Vale
Após oito dias de intensas chuvas, alagamentos e regiões destruídas, pelo menos dez mil associados Certel estavam sem energia elétrica no Vale do Taquari.
Conforme o presidente da Certel, Erineo Hennemann, a atuação na reconstrução das redes obstruídas pela enchente catastrófica segue em ritmo acelerado e ininterrupto desde a semana passada e, hoje, haverá grande redução de clientes sem energia devido ao término dos trabalhos de reconstrução das redes. “Infelizmente, ainda temos grandes problemas entre Forquetinha a Canudos do Vale, na linha de transmissão que interliga a subestação de Canudos do Vale, além de
problemas em Capitão e Santa Clara do Sul”, ressalta.
Ainda de acordo com Hennemann, a maior dificuldade encontrada até o momento são os acessos bloqueados. “Aterros levados, deslizamentos, árvores centenárias caídas na rede, na estrada, isso tudo está dificultando nossos trabalhos”.
Nesta quarta-feira, estão previstos avanços, principalmente entre
Forquetinha e Canudos do Vale. Nessas localidades, o serviço deve ser restabelecido ainda hoje. São ao todo 61 equipes trabalhando, mais de 400 pessoas e, na manhã de hoje, chegam para auxiliar os trabalhos, duas cooperativas de Santa Catarina, cerca de 30 pessoas, e, “com a força solidária será possível em um curto espaço de tempo, diminuir o sofrimento dessas pessoas”.
Hennemann reforça que contam com o apoio das prefeituras para auxiliar na abertura dos caminhos e, assim, facilitar os acessos aos locais de maior dificuldade.
“Sabemos dos prejuízos e desconfortos, mas pedimos a compreensão de todos os associados, estamos fazendo o possível”.
Fundado em 1º de julho de 2002
Vale do Taquari - Lajeado - RS
Av. Benjamin Constant, 1034, Centro, Lajeado/RS grupoahora.net.br / CEP 95900-104
FAÇA SUA ASSINATURA 51 3710-4200
Editor-chefe da Central de Jornalismo: Felipe Neitzke
Contatos eletrônicos:
assinaturas@grupoahora.net.br comercial@grupoahora.net.br faturamento@grupoahora.net.br financeiro@grupoahora.net.br centraldejornalismo@grupoahora.net.br atendimento@grupoahora.net.br
Os artigos e colunas publicados não traduzem necessariamente a opinião do jornal e são de inteira responsabilidade de seus autores.
Diretor Executivo: Adair Weiss
Diretor Editorial e de Produtos: Fernando Weiss
Recuperação e limpeza começou na sexta-feira, 3, quando mercadorias molhadas começaram a ser retiradas para descarte. Trabalho foi encerrado na segunda-feira. “Vamos abrir da forma como conseguirmos”, diz o presidente Lauro Baum
LAJEADO
Fortemente atingido pela cheia do rio Taquari, o supermercado STR Lajeado retoma os atendimentos nesta quinta-feira, dia 9. Presidente da instituição, Lauro Baum concedeu entrevista ao progra-
ma Frente e Verso da Rádio A Hora, onde detalhou os prejuízos, o trabalho para reabilitar a unidade e como funcionará o atendimento. De acordo com Baum, a enchente alcançou parâmetros jamais pensados, tanto em Lajeado
quanto em Estrela, locais onde as unidades do STR foram atingidas. Segundo ele, em Lajeado faltou 20 centímetros para a água alcançar a loja principal, enquanto em Estrela a água invadiu o espaço em cerca de 50 a 60 centímetros. “Nosso refúgio para as mercado-
rias sempre é o estacionamento, mas eles acabaram totalmente cobertos.”
Na maior cidade do Vale do Taquari o trabalho de recuperação e limpeza começou na sextafeira, 3, quando as mercadorias molhadas começaram a ser retiradas para descarte. O trabalho foi encerrado na segunda-feira. “Vamos abrir da forma como conseguirmos.”
Já em Estrela a reabertura levará mais tempo. Conforme Baum, o rio entrou na unidade e carregou praticamente todas as mercadorias. “Ficaram 4 ou 5 pallets de produtos”, afirma. As equipes da empresa começaram a atuar assim que as águas baixaram e alguns funcionários dormem no local por questões de segurança. Neste momento, o STR trabalha para reconstruir a loja de forma a retomar os atendimentos no menor tempo possível, mas ainda não há previsão de abertura.
Aliada das gestões municipais e estadual em setembro, Univates deve colocar novamente a disposição equipes das áreas de engenharia e arquitetura no auxílio a elaboração de projetos. Só Cruzeiro do Sul já anunciou planos para aquisição de área às futuras moradias
Oito meses após a enchente de setembro, famílias vivem novamente o drama da perda de suas casas. E em um número ainda maior. Cidades onde o nível do Rio Taquari atingiu marcas históricas, como Lajeado, Estrela, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul, tiveram bairros devastados. Com isso, o desafio da reconstrução se torna ainda mais complexo.
Num primeiro momento, o foco de autoridades, órgãos de defesa e segurança e de voluntários se direciona à ajuda humanitária, além do restabelecimento de serviços básicos e acessos entre municípios e localidades. No entanto, profissionais e especialistas se movimentam no sentido de projetar futuras habitações às pessoas impactadas.
Parceira de governos municipais e do Estado no episódio de setembro, a Univates estará mais uma vez na linha de frente. A equipe do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Semeia-Emau) se mobiliza para auxiliar as administrações. O cenário mais amplo, com boa parte da região atingida, aumenta o trabalho.
“Essa parte de reconstrução habitacional demanda algumas análises e diagnósticos dos municípios afetados. Nós estamos engajados a auxiliar em diversas frentes e pensar, por exemplo, possibilidades de casas que sejam feitas de modo muito rápido, com tecnologias alternativas”, pontua a coordenadora do Semeia-Emau, Jamile Weizenmann.
Agilidade
Um dos objetivos da assessoria prestada pelo Semeia-Emau é de que as novas habitações sejam construídas de forma ágil e também garantam a segurança das pessoas. “E que também possam ser casas permanentes em termos de qualidade. Por isso, vamos ajudar os grupos a
Nós estamos engajados a auxiliar em diversas frentes e pensar, por exemplo, possibilidades de casas que sejam feitas de modo muito rápido”
pensarem sobre isso e buscar recursos, tanto federais quanto da iniciativa privada”, comenta Jamile.
Em 2023, o escritório acompanhou equipes técnicas dos municípios para definição de áreas que receberiam as novas moradias. São territórios distantes da margem do rio e fora das zonas de risco de inundações.
“Ainda precisamos de imagens de cima, daquelas de satélites ou de drones, para começarmos uma ajuda aos municípios na confecção de documentos. Como o cenário é mais amplo, ainda pensamos como poderia ser a estratégia de atuação, com diferentes parceiros de outros locais”.
Áreas de municípios que foram totalmente devastadas pela cheia devem ser repensadas, segundo Jamile. Um exemplo é o Passo de Estrela, um dos bairros mais populosos de Cruzeiro do Sul, onde a maioria das edificações ruíram com a força da correnteza.
“Essas áreas precisam ser reflorestadas, com uma ação muito forte na recomposição dessa mata ciliar. E, na sequência, precisam de algum tipo de fomento para que sejam ocupados por espaços públicos, como parques”, cita, destacando o
Cruzeiro do Sul contabiliza mais de mil casas destruídas em virtude da enchente
São os prejuízos no setor habitacional no RS até o momento
exemplo do Parque Ney Santos Arruda, em Lajeado. “Por mais que tenha danos, ele serve para absorver essa água”.
Ainda não há dados concretos sobre a quantidade de propriedades destruídas na maioria dos municípios afetados pela cheia. Governo e Defesa Civil de Bom Retiro do Sul divulgaram um levantamento preliminar ontem. Pelo menos 37 moradias na localidade de Beira do Rio foram devastadas.
O levantamento dos danos foi possível após o recuo total das águas do rio Taquari, quando a ERS-129 e a estrada principal do Faxinal começaram a receber os serviços de máquinas pesadas para desobstrução das vias pelos entulhos.
Em Cruzeiro do Sul, o prefeito
LAJEADO
– 1,2 mil abrigados
(O governo inicia o cadastramento de pessoas que tiveram suas casas atingidas pela enchente e estão alojadas junto a parentes e amigos);
ARROIO DO MEIO
– 13 mil pessoas atingidas
– Mais de 400 pessoas nos abrigos
VENÂNCIO AIRES
– 265 pessoas abrigadas em três locais
– 23 mil pessoas atingidos
– Cerca de 8 mil pessoas seguem fora das suas casas
ESTRELA
– 8 mil pessoas desalojadas
– Cerca de 700 pessoas nos abrigos
ENCANTADO
MUÇUM
– 208 pessoas em oito abrigos
– Mais de 650 pessoas em casas de amigos e parente
ROCA SALES
– 145 pessoas nos abrigos do município
BOM RETIRO DO SUL
– 11 pessoas em abrigos
– Mais de 2,5 mil pessoas afetadas
CRUZEIRO DO SUL
– Mais de 5,2 mil pessoas estão fora de suas casas
TEUTÔNIA
– 150 pessoas fora de suas casas
– Destas, duas estão em abrigo
(*) A reportagem não obteve informação até o fechamento desta edição
João Dullius anunciou a aquisição de uma área para construir casas às famílias atingidas. “Juntamente com os vereadores, decidimos que não vamos esperar pelo governo federal. Vamos adquirir imediatamente uma área nova para alocar essas pessoas”. O local escolhido deve ser nas imediações do bairro Célia, próximo à ERS-130.
Após o episódio de setembro de 2023, o governo gaúcho prometeu 200 casas provisórias, numa parceria com o Sinduscon. As primeiras foram entregues apenas em abril, em Arroio do Meio. Já o governo federal oficializou mais de 500 moradias pelo Minha Casa, Minha Vida Calamidade, sendo 360 para áreas urbanas e o restante para unidades rurais.
Enquanto isso, Arroio do Meio utiliza balsas e trajetos alternativos para viabilizar a logística regional
Lideranças regionais mobilizam esforços para construir uma nova ponte entre Lajeado e Arroio do Meio. As duas pontes de acesso ao município caíram durante as cheias. A nova estrutura pretende ser montada ao lado da Ponte de Ferro, que teve grande parte da estrutura destruída.
Na tarde de segunda-feira, 6, o prefeito Marcelo Caumo compartilhou o momento de uma reunião, sobre a parte da
estrutura que resistiu à enchente do rio Forqueta. Participam do grupo de trabalho, empresários, gestores dos municípios, CCR Via Sul e entidades. A ideia é viabilizar em tempo recorde uma nova ponte em estrutura metálica que permita o trânsito de veículos de passeio e carga.
“Tudo isso depende da avaliação dos engenheiros, que já iniciaram os trabalhos no projeto. Nós religaremos a nossa região com a ajuda da nossa comunidade local”, afirma Caumo.
Enquanto isso, a ligação entre Lajeado e Arroio do Meio é feita por meio de uma balsa, que chegou à região nessa quartafeira, 8. Antes disso, a travessia foi feita por quatro barcos que levam pessoas e mantimentos
Em trecho onde a ponte sobre o Rio Forqueta ruiu, la se forma para travessia com pequenas embarcações
doados por voluntários.
Na terça-feira, 7, cerca de 2 mil pessoas usaram a embarcação para chegar ao lado oposto. Segundo os barqueiros, a maioria para trabalhar.
A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) também prepara uma licitação que visa reconstruir a ponte sobre o Rio Forqueta, na ERS-130, que também foi destruída pelas enchentes. A medida faz parte do plano de ação para a recuperação de pontes e rodovias impactadas no estado.
Após a avaliação da estrutura remanescente e o levantamento detalhado, a equipe técnica está trabalhando na preparação da licitação para contratar uma empresa que reconstruirá a nova ponte, com previsão de conclusão em oito meses.
O prefeito de Forquetinha, Paulo Grunewald, também afirma que a Ponte dos Bauereck será reconstruída até o fim do ano. A estrutura foi arrancada pela força
– ERS-129, entre Encantado e Guaporé: bloqueada no km 96, em Vespasiano Corrêa, devido à queda de barreira.
– RSC-453, entre Garibaldi e Estrela: liberada com restrição de fluxo no km 75 da RSC-453, em Boa Vista do Sul.
– ERS-128, entre Teutônia e Fazenda Vila Nova: liberada sem restrição de fluxo na ERS-128, em Teutônia.
– RSC-453, entre Lajeado e Venâncio Aires: tráfego sem restrição de fluxo na ERS-453, entre Lajeado e Venâncio Aires.
– RSC-453, entre Garibaldi e Estrela: tráfego liberado com restrição de fluxo no km 75 da RSC-453, em Boa Vista do Sul.
– ERS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio: bloqueada devido à queda da ponte no Rio Forqueta.
– RSC-287 em Vila Mariante, Venâncio Aires: liberada desde a tarde dessa terça-feira, 5. Contudo, trecho segue com bloqueios devido aos estragos no asfalto.
– ERS-332, entre Encantado e Doutor Ricardo: com obras e trânsito restrito.
– BR-386, entre Soledade e Marques de Souza: liberação parcial da rodovia com pontos em pare/siga.
– BR-386, entre Marques de Souza a Lajeado: pista liberada, porém com troca de faixas em pontos por queda de barreiras.
– BR-386, na ponte do Taquari (Lajeado): liberada a pista interior/ capital para o fluxo nos dois sentidos (veículos leves).
– BR-386, de Estrela a Nova Santa Rita: liberada, mas com bloqueio no acesso a Canoas e à BR-448 (Rodovia do Parque).
– Alternativa para Arroio do Meio é a estrada por Colinas e Roca Sales.
– ERS-423, entre Marques de Souza e Progresso apresenta rachaduras e está com pontos em meia pista.
– Estrada da Barra do Fão que liga Travesseiro a BR-386 apresenta pontos com bloqueio por deslizamento. Alternativa é via Arroio do Meio.
das águas do Arroio Forquetinha durante a tarde de terça-feira, 30. Todo o município foi muito atingido pelas cheias e a cidade também apresenta acessos bloqueados. Segundo o prefeito, quem vem pelo Conventos tem acesso livre até Canudos do Vale,
Boqueirão do Leão e Sério. Quem se desloca pelo pórtico enfrenta dificuldades devido à situação das vias.
Ele afirma que estão sendo feitas obras nas cabeceiras de pontes. No total foram seis pontes danificadas.
ERS-322 COM BLOQUEIO PARCIAL ENTRE ENCANTADO E DOUTOR RICARDO SOMENTE VEÍCULOS AUTORIZADOS E LEVES.
PONTE EM VILA MARIANTE, VENÂNCIO AIRES, FOI LIBERADA. CONTUDO, TRECHO DA RSC-287 PERMANECE BLOQUEADO POR DANOS NA PISTA.
ACESSOS ENTRE MARQUES DE SOUZA E TRAVESSEIRO, E ENTRE LAJEADO E ARROIO DO MEIO SEGUEM INVIÁVEIS POR CONTA DE QUEDAS DE PONTES. TRECHO DA RSC-287 PERMANECE BLOQUEADO. NA ERS-129, ENTRE MUÇUM E VESPASIANO CORRÊA, QUEDA DE PARTE DA PISTA BLOQUEIA PASSAGEM.
UMA VIA DA PONTE NA BR-386, SOBRE O RIO TAQUARI, FOI LIBERADA PARA TODOS OS VEÍCULOS. TRECHO DE MARQUES DE SOUZA A POUSO NOVO TAMBÉM FOI LIBERADO.
ACESSO ALTERNATIVO ENTRE LAJEADO E ARROIO DO MEIO SE DÁ POR MEIO DE ESTRELA, COLINAS E ROCA SALES. SOMENTE VEÍCULOS LEVES NO MOMENTO.
Arealidade do Vale do Taquari mudou do dia para a noite. Vejamos o exemplo da última edição impressa do jornal Nova Geração, de Estrela, periódico que também pertence ao Grupo A Hora. A foto de capa daquela sexta-feira, dia 26 de abril, mostra a imagem aérea do complexo portuário às margens do Rio Taquari e a expectativa, por parte do governo municipal, de finalizar o complexo processo de municipalização do porto. “Município é autorizado a receber complexo”, citava a manchete. Outra manchete alertava para o fechamento de um acesso na BR-386 e o quanto isso ameaçava um novo investimento em Bom Retiro do Sul. Após a tragédia, porém, as
rodrigomartini@grupoahora.net.br
RODRIGO MARTINImanchetes já não fazem mais tanto sentido. O porto praticamente não existe mais e o Executivo projeta, inclusive, a extinção da Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log). E a polêmica do acesso ficou pequena diante de tantas avarias e impactos junto à nossa rodovia federal. De fato, a vida é um sopro.
Não foram poucas as matérias cobrando investimentos e retratando a angústia dos moradores e comunidades próximas à ERS129, no trecho de estrada de chão entre Roca Sales e Colinas. Pois bem. Após a tragédia causada pela inédita elevação do Rio Taquari, o tão falado e debatido trecho da rodovia estadual passou a ser a
principal ligação rodoviária entre as regiões alta e baixa do Vale do Taquari. É por lá que o escoamento da nossa produção e o abastecimento das nossas empresas e indústrias têm condições de passar neste momento mais crítico. E a omissão do passado, claro, já compromete a solução paliativa do presente.
Uma tragédia como essa pode servir para os atuais gestores angariarem mais eleitores em um momento de luto e desespero. Da mesma forma, pode ser um combustível e tanto para os opositores crucificarem quem está à frente das prefeituras. Dito isso, é importante o eleitor manter a serenidade e prestar muita atenção nas atitudes e intenções dos interlocutores. Não podemos ser injustos e, tampouco, ingênuos. E também não podemos ser levados por fakenews e boatarias.
Foi assim em setembro e novembro de 2023. Governador e presidente da República garantem que o Vale do Taquari e praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul não serão vítimas da burocracia que ainda impera no Brasil, um país que costuma gerenciar suas normas e trâmites sob a perspectiva da má-fé dos contribuintes. Pois bem. Em relação às enchentes do ano passado, o Vale do Taquari foi vítima, sim, da burocracia do Estado e da União. As casas temporárias, por exemplo, ainda não saíram do papel. Da mesma forma, uma boa parte dos recursos anunciados ainda não chegou às mãos de quem sustenta – e com muito suor e resiliência – milhares de empregos. Tomara que mude.
O Ministério Público investiga eventuais aumentos abusivos de preços em meio ao pior desastre natural da nossa história, especialmente de itens básicos e necessários à sobrevivência e dignidade das pessoas mais impactadas pela trágica enchente da semana passada. O mesmo deve ser feito em breve pelo Procon/RS. E precisa ser feito. Além de desumano, a ânsia pelo lucro em cima de uma catástrofe precisa ser devidamente punido por parte de quem fiscaliza tais movimentos.
Na manhã de ontem eu cruzei o Rio Foqueta entre Lajeado e Arroio do Meio a bordo de um pequeno barco. É um trabalho idealizado e proporcionado por bravos voluntários. Mas é uma solução paliativa e, por vezes, insegura. Especialmente em dias de chuva, como foi a tarde dessa quarta-feira. Diante disso, empresários se uniram e garantiram uma pequena balsa para agilizar o transporte de pedestres e garantir mais segurança. Mas as novidades não param por aí. No início da noite de ontem, e por meio de uma interação entre o vereador lajeadense, Isidoro Fornari (PP), e o Secretário Institucional da Secom do governo federal, Maneco Hassen (PT), o ponto deve receber um “passadeiro” (foto) utilizado pelo Exército – espécie de passarela junto ao leito do
rio – para a travessia de mantimentos e, claro, trabalhadores. Ah, e no fim da noite de ontem, uma outra ideia acalentadora. Um grupo de voluntários anunciou a criação do Movimento pelo Vale, e hoje mesmo ocorre o lançamento da campanha “Juntos Pela Ponte”, em um ato simbólico programado para às 14h, em ambos os lados da antiga ponte de ferro entre Lajeado e Arroio do Meio.
As pontes sobre o Rio Taquari resistiram à enchente. Mas ainda não estão em condições plenas para receber o fluxo de veículos que costuma cruzar pela nossa região. A ponte no sentido capital-interior segue interrompida e sem previsão para a liberação. Por ora, o trânsito (para ir e para voltar) ocorre somente na ponte no sentido interior-capital, e isso gera um inevitável afunilamento em ambos os lados da travessia. Há relatos de motoristas que aguardaram quase duas horas para cruzar o trecho urbano de Lajeado e Estrela. E isso não pode continuar. A produção precisa de muito mais agilidade para o escoamento, sob o risco de perdermos ainda mais competitividade no sul do país.
Dezenas de profissionais se colocam à disposição para atender vítimas das cheias no Vale e destacam a importância de cuidar da saúde mental
Perda de vida, de residências, de bens materiais. Traumas, lembranças dos resgates, desesperança diante da necessidade de reconstrução.
Após a maior tragédia do Vale do Taquari, a saúde física e mental das pessoas atingidas pelas cheias ou daquelas que estão na linha de frente em cada município, entra em alerta, e voluntários se disponibilizaram a ajudar.
Na região, são dezenas de profissionais da saúde, como médicos e psicólogos que oferecem atendimento gratuito à comunidade. Além disso, pessoas de outros estados e até mesmo de fora do país também prestam o serviço aos gaúchos.
Médico psiquiatra, Olivan Moraes destaca que em uma tragédia desta proporção, muitas
Nos deparamos com colegas que têm o ímpeto de sair correndo ajudando, trabalhando horas e horas e que não percebem que também estão na condição de precisar de ajuda”
OLIVAN MORAES MÉDICO PSIQUIATRAvezes é difícil identificar o lado que cada pessoa se encontra, se está na posição de ajudar ou de ser ajudado.
“Nos deparamos com colegas que têm o ímpeto de sair correndo ajudando, trabalhando horas e horas e que não percebem que também estão na condição de precisar de ajuda”, ressalta o profissional. Por outro lado, diz nunca ter presenciado uma movimentação tão grande de voluntários, tanto na área da saúde, quanto da comunidade em geral.
De acordo com Moraes, o primeiro passo é identificar a condição da própria saúde e, depois, se colocar à disposição naquilo que se sabe fazer de melhor, seja unindo os conhecimentos profissionais, ou de mão de obra e doações.
“Esse primeiro momento afeta as pessoas de formas diversas. Embora possa parecer que seja igual nessa questão de querer ajudar, de se colocar à disposição, se mobilizar. Mesmo assim, não é igual para todo mundo”.
O médico diz que cada pessoa vai ter uma reação. “Às vezes as pessoas vão se cobrar porque não estão se mobilizando ou sentido o que deveriam sentir. Outras não conseguem se movimentar ou fazer algo que imaginam que deveriam ter feito, é normal que coisas assim aconteçam”.
Segundo Moraes, o momento é também de observar o comportamento das pessoas, em especial das que perderam tudo para a enchente, que passam por um trauma e que possam precisar de ajuda.
Ao mesmo tempo, destaca a
Pro ssionais da saúde disponibilizam atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito aos atingidos pelas cheias
Olivan Moraes destaca que em uma tragédia desta proporção é difícil identi car o lado que cada pessoa está
importância de respeitar a dor de cada um e não obrigar ninguém a falar de algo que talvez não esteja pronto para compartilhar. “Às vezes a pessoa teve uma perda e ela não quer falar sobre isso naquele momento. A gente também tem que ter essa sensibilidade e servir como um conforto”, reforça.
Segundo o médico psiquiatra, um evento traumático como a tragédia que o Vale vive pode ser observado em diferentes estágios no comportamento das vítimas. O primeiro deles também pode ser chamado de reação aguda ao estresse, percebido em grande parte das pessoas atingidas. Mas, depois de 30 dias, a maioria das pessoas não evolui para o conhecido transtorno de estresse pós-traumático.
“A maioria das pessoas não vai desenvolver esse quadro, que merece uma atenção muito importante. A gente precisa respeitar o tempo de cada um, mas não negligenciar os sinais”, destaca. E, em casos em que é percebida uma desesperança ou tristeza extrema, por exemplo, é necessário o encaminhamento a profissionais especializados.
Outro ponto destacado pelo médico, é o cuidado com os medicamentos. Segundo o profissional, remédios de tarja preta, como o Rivotril e o Alprazolam, por exemplo, devem ser evitados, porque podem reforçar as memórias traumáticas.
Por outro lado, quem já fazia algum tratamento deve continuar com a medicação. Por isso, o Conselho Regional de Medicina, junto ao Conselho Regional de Farmácia se uniram
Primeiros cuidados psicológicos:
- Entenda o funcionamento do local onde você está.
- Converse com o coordenador da ajuda local para saber onde você pode ajudar.
- Entenda as alternativas disponíveis de apoio (cuidados básicos, médicos, psicológicos, etc).
- Identifique como atender as necessidades básicas que as pessoas podem ter antes de começar a atender.
- Apresente-se e pergunte se a pessoa precisa de ajuda. Use sempre o primeiro nome e tenha preferência pelo tratamento formal (Sr./Sra.), a não ser que se trate de um jovem, quando é mais indicado usar “você”.
- Para pessoas que desejam ajuda, tente achar um local reservado, sempre que possível. Mantenha o olhar direcionado a quem fala, evite cruzar os braços e fique atento às suas expressões faciais.
- Escute as pessoas, sem pressionálas a falar.
- Cuide para não presumir coisas sobre a pessoa ou o que ela está passando.
- Mantenha a curiosidade sobre as histórias de quem você entrará em contato.
- Não fale demais. Especialmente no início do encontro, é muito importante deixar a pessoa falar sem interrompê-la.
para possibilitar que receitas conhecidas como azuis e amarelas sejam disponibilizadas de forma digital e provisória aos pacientes. Ainda, foi disponibilizada uma cartilha sobre “Protocolos para Organização do Cuidado Local em Emergências ou Desastres”. O material detalha como fazer os primeiros cuidados psicológicos e assistência de saúde mental em crises, destinado a indivíduos envolvidos no apoio local em situações de emergências e desastres. Foi elaborada para fornecer assistência imediata às vítimas das enchentes ocorridas no estado do Rio Grande do Sul em maio de 2024.
“O que eu tinha pra perder, eu perdi em setembro”
O bairro Carneiros de Lajeado foi afetado pela enchente mais uma vez. Na limpeza de uma das casas, próxima ao rio Taquari, estava Milton da Silva, 64. A residência dele já tinha sido atingida em setembro, depois em novembro e, nessa enchente, ficou destruída.
“O que eu tinha pra perder, eu perdi no ano passado, quando minha esposa morreu. Ela foi resgatada por um helicóptero e caiu na água, sem colete salva-vidas. Assisti ela morrer aqui de casa”, conta.
Dessa vez, Silva saiu às pressas com um frigobar e umas peças de roupa no carro, não conseguiu um caminhão para tirar os móveis de casa. Apesar da perda da residência e dos bens materiais, Silva diz que não se sente triste por isso. “Tudo que eu tinha para sofrer, eu chorei em setembro. Essa minha casa não tem importância, a gente tem que valorizar as pessoas. Isso aqui a gente pega uma pá e arruma”, enfatiza.
Milton trabalha na limpeza como forma de carinho ao local onde criou os sete filhos e os 19 netos, mas não pode retornar para a moradia. “Voltar aqui sempre vou, essa casa é uma lembrança da minha vida. E ainda vou fazer uma homenagem ali na
Essa minha casa não tem importância, a gente tem que valorizar as pessoas. Isso aqui a gente pega uma pá e arruma”
frente, onde minha esposa morreu. Sei que vou ter saudades desse lugar.”
Com botas de borracha, limpava o lodo do chão. “Farei isso quantas vezes forem necessárias. Se Jesus carregou a cruz e passou por aquilo tudo, quem sou eu para reclamar de um pouco de lama? Se essa é a minha cruz, eu vou carregar.”
Silva fez aniversário no dia 29 de abril, semana em que a enchente começou. “Acho que foi um presente que a natureza me deu. Tudo poderia ser muito pior, eu poderia não estar aqui. Então agradeço.”
Mesmo em meio à tragédia, ele mantém o ânimo. “Adianta ficar bravo com uma coisa dessas? O negócio é resolver, não brigar. Precisamos cuidar do rio, da natureza, da pessoa humana. Deus está onde tem alegria, ele não mora na tristeza. Ele está aqui comigo, embora eu esteja sofrendo para tirar essa lama toda”, brinca.
“Foi questão de segundos, se salvaram por muito pouco”
O produtor de suínos, Fábio Orlandini, viu a propriedade do irmão ir embora em um deslizamento. Morador de Linha Azevedo, interior de Encantado, relata que a família nunca tinha visto algo semelhante na localidade.
“Meu irmão perdeu tudo. Ele me ligou minutos antes, disse que estava entrando água na casa dele. Vim ajudar, abrimos valeta e voltei para casa, para ver como estava a situação por lá”, relembra. Não
Na
Orlandini, à direita, avalia o desbarrancamento na propriedade do irmão Fábio, morador de Encantado
deu muito tempo, Orlandini foi avisado por um vizinho que a casa do irmão tinha ido embora, a terra tinha descido.
“Vim desesperado, dei a volta pelo perau até o outro lado do barranco. O casebre do meu pai ainda estava de pé, a porta arrombada. Meu pai é cadeirante, então vi marcas de roda, segui elas e cheguei até meu irmão, minha mãe e meu pai, estavam todos vivos. Meu irmão disse que foi questão de segundos, se salvaram por muito pouco”, conta.
As imagens do resgate do casal Irineu da Silva e Simone Waitzmann percorreram o mundo. Eles foram salvos depois de 12 horas em cima do telhado, em Cruzeiro do Sul. Estavam ao lado da chaminé. Irineu levava na mochila rosa fósforos e luzes para sinalizar aos helicópteros. Uma semana após o resgate, o casal permanece abrigado no Ginásio do Montanha, em Lajeado. “Eu rezei a madrugada inteira. Quando a garganta secava, colhia a chuva com as mãos para molhar a
boca e continuar orando”, conta Irineu. O helicóptero resgatou o casal na manhã de quarta-feira, 1º. A casa caiu logo em seguida.
A mochila rosa que Irineu segurou durante toda a madrugada instigou a curiosidade da comunidade. Simone esclarece que pegou a mochila durante o desespero da noite e colocou roupas íntimas, fósforos e sinalizadores. A mochila continua com eles no ginásio, ajudando a contar a história.
O operador de máquina Valmir Togni trabalha na obra de uma ponte provisória na RS-332, que liga Encantado a Arvorezinha. Togni é morador de Nova Bréscia e relata as dificuldades que as comunidades no pequeno município de 3,3 mil habitantes enfrentam.
“Nós não temos água e nem luz no interior. O pessoal recolheu água da chuva, mas ‘tá’ terminando. Pelo menos se a luz retornasse para bombear as caixas”, descreve. Com as chuvas intensas, Nova Bréscia registrou vários deslizamentos. “É muito triste, só vendo para entender. Quem está fora de casa nessas encostas não pode voltar. Tem previsão de chuva nos próximos dias e os morros ‘tão’ todos descalços, é um perigo”, alerta. No trabalho em cima da máquina, Togni vê muitas pessoas passarem pelo trecho.
“Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada.”
Togni também cita que alguns tentam tirar vantagem nessas horas, furtando as pessoas. “A gente tem que se ajudar nesses momentos. Se você perdeu suas coisas, alguém vai vir te ajudar, não precisa ir roubar”, reflete.
O aposentado Telvi Capelari reencontrou a filha nesta terça-feira à tarde, 7, depois de dias sem notícias. Ele mora em Doutor Ricardo e a filha em Relvado, municípios próximos, mas que estavam sem ligação por estradas. “Fomos lá ver se ela ainda estava viva, não tínhamos contato desde sábado. É um alívio saber que está tudo bem, que ela está trabalhando”, comemora. Capelari diz que a preocupação é inevitável quando a família está espalhada e sem contato. “É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”
É complicado não poder conferir se estão bem. Mas agora a gente vai pra casa e dorme melhor, ela está viva.”
Está tudo um caos, mas tem que ter calma. Porque se apavorar não leva a nada”
A cuidadora Graziane Zeni, 34, morava em Muçum em setembro de 2023, quando a enchente invadiu a casa dela. Meses depois, ela se mudou com o filho pequeno para Relvado, numa casa próxima à família.
A residência da mãe ficava ao lado e as duas foram atingidas pela enchente. Quando a água baixou, somente a casa de Graziane ficou de pé, mas estava dez metros mais para frente.
A construção de madeira está condenada depois das águas arrastarem a estrutura.
Abalada, sintetiza: “Não sobrou nada. Meus familiares moram aqui nas redondezas e perderam tudo. Ninguém saiu ileso”, conta. No dia mais crítico da cheia,
ela estava em casa. “Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa. A correnteza era tão forte que nem consegui abrir a porta, tive que pular a janela. Mas a família está bem, estamos vivos.”
Naquele momento, a gente só pensou na vida, em sair de casa.
“O povo daqui vai se reerguer”
É assim que Rudemar Borges da Silva, o Borginho, morador de Linha Jacaré, encara a destruição da comunidade onde ele vive, no interior de Encantado. Às margens da rodovia 332, conta que a casa onde mora não foi atingida, somente a empresa que é dono.
“Foi feio o negócio, nunca esperei que a água chegaria onde chegou. Eu tinha feito aqui um pavilhão e só ficou a base. A água veio com uma força inacreditável”, descreve.
Na noite de quarta-feira, 1º, ele e a esposa foram dormir cedo, a água já tinha começado a baixar e o casal pensou que a situação tinha melhorado. “Acordamos de madrugada e água já tinha subido, estava na empresa. Eu e minha esposa pegamos os carros para ir embora, mas teve queda de barreira e ficamos presos, ilhados. Ficamos em casa, mas estávamos prontos para ir embora só com a roupa do corpo”,
conta.
O irmão de Borginho tinha uma plantação de morangos nas imediações da rodovia, não resta mais nada. “Quando fui falar com ele, respondeu que iria refazer tudo. Disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’. Por isso sei que o povo daqui vai se reerguer de novo”, finaliza.
BORGINHO MORADOR DE ENCANTADO Meu irmão disse pra mim: ‘a água só levou o que era material, o que tenho aqui na minha cabeça está intacto’.
No abrigo do Ginásio Montanha, em Lajeado, o clube de mães do bairro e a comunidade tem sido fundamental para acolher as famílias que estão alojadas no complexo. O carinho vem em forma de lanches. “As mães estão trazendo sanduíches, cachorro quente e bolos”, afirma a coordenadora do abrigo, Josiani Pezzi. No Montanha, estão acolhidas 67 pessoas resgatadas das enchentes em Cruzeiro do Sul, Estrela e dos bairros Hidráulica e Centro. Durante as chuvas, o ginásio chegou a lotar. Nesta semana, 40% dos abrigados voltaram aos seus locais de origem ou foram para a casa de familiares.
Os afetados recebem café da manhã, marmitas no almoço e ao jantar e durante todo o dia, no balcão de entrada do ginásio, estão os lanches. A comunidade se reveza na entrega dos bolos da tarde.
Diferentemente do Parque do Imigrante, em que as famílias são divididas por barracas, no Montanha, o espaço de cada “lar provisório” é delimitado por cadeiras, que criam linhas divisórias imaginárias a fim de manter a privacidade. Conforme a coordenadora, o abrigo ficará aberto por tempo indeterminado.
As mulheres do clube de mães estão trazendo sanduíches, cachorro quente e bolos”
JOSIANI PEZZI COORDENADORA DO ABRIGO DO MONTANHAEm Relvado, o operador de máquina Elisandro Radaelli trabalha na limpeza da cidade. Cita que, dessa vez, a catástrofe teve um impacto maior em Relvado, com os deslizamentos de terra nos morros.
“Tem bastante lama, casas quebradas, valas, desabamentos, o estrago é muito grande. Eu trabalhei em Muçum durante uma semana em setembro, mas dessa vez tem destruição aqui em Relvado”, comenta.
Apesar da falta de contato, Radaelli sabe que a família está bem, mesmo após um deslizamento ocorrer bem perto à casa do pai. “Aqui na cidade tem muita coisa para limpar, quem puder vir ajudar, será bem-
Eu trabalhei em Muçum durante uma semana em setembro, mas dessa vez tem destruição aqui em Relvado”
ELISANDRO RADAELLI
MORADOR DE RELVADO
vindo. Precisamos de máquinas, caminhão caçamba também, é muita demanda por limpeza”, diz.
O eletricista Leonardo enfrentou sete horas de fila em Arroio do Meio para abastecer o carro. Na cidade, um posto recebeu 10 mil litros de gasolina, para 500 veículos, nesta quarta-feira, 8. A falta de energia comprometeu o abastecimento normal e resultou em horas de espera. Leonardo foi um dos que enfrentou a fila. O carro é imprescindível para continuar com os serviços na área elétrica da cidade, que tem muita demanda. “O meu trabalho depende do meu carro. Então vale a pena esperar”, comenta. Natural de Roca Sales, mas morador de Arroio do Meio, teve a casa no bairro Bela Vista atingida pela enchente. “Só ficou a
É algo que atingiu tantas outras pessoas, não somos só nós com di culdades”
LEONARDO MORADOR DE ARROIO DO MEIO
família fora da água, o resto perdi tudo.” Ele e a esposa pretendem continuar na cidade, só aguardam o retorno da água para limpar a residência. “A gente fica bastante abalado, mas vê que é algo que atingiu tantas outras pessoas também, não somos só nós com dificuldades”, lembra.
Há 55,2 mil clientes
desabastecidos.
Destes, 45,2 mil são na área da RGE e 10 mil na rede da Certel
Após mais de uma semana dos primeiros registros da falta de energia elétrica em decorrência dos temporais, há 55,2 mil clientes desabastecidos. Destes, 45,2 mil são na área da RGE e 10 mil na rede da Certel.
No caso da cooperativa, mais de 400 profissionais se dedicam em reconstruir as redes atingidas e
proporcionar o retorno do serviço o mais breve possível. Para auxiliar nos trabalhos, técnicos de outras empresas e cooperativas, inclusive de Santa Catarina, integram as equipes em campo.
As prefeituras também são grandes parceiras ao cooperarem com a cedência de máquinas e profissionais para a limpeza de acessos. No caso da RGE, há impactos nos seus 381 municípios da área de concessão. Segundo a empresa, ao todo, 212 mil clientes estão sem energia.
A maioria está em áreas alagadas ou em locais com impedimento de acesso das equipes. As regiões mais afetadas são Metropolitana (76,9 mil), Vale do Sinos (46,5 mil), Vale do Taquari (45,2 mil), Vale do Rio Pardo, (29,3 mil) Serra (4 mil) e Central (3,7 mil).
A RGE alerta que a população
Equipes das companhias de energia trabalham para restabelecer as redes danificadas pelos temporais
deve ficar longe de fios partidos ou galhos de árvores que estejam caídos sobre a rede elétrica. A orientação nesses casos é acionar imediatamente a RGE e o corpo de bombeiros e aguardar o atendimento.
O retorno gradual de energia elétrica gera alívio às famílias. Na noite de terça-feira, 7, moradores celebraram com o retorno da luz em Estrela. A expectativa é que mais localidades tenham acesso ao serviço até o fim desta semana.
Com as redes danificadas pelos temporais, a falta de energia se estende por oito dias em muitas localidades do Vale. No interior de Progresso, o casal Vanessa e Ernani Dalbosco, não consegue fazer a ordenha automatizada do plantel. Sem local para armazenar e refrigerar o leite, acabam tendo de descartar em média 80 litros por
dia. A propriedade também possui 11 mil aves que estão sem ração há mais de uma semana.
A Corsan/Aegea ainda trabalha para restabelecer a água em todos os bairros de Lajeado. Há pelo menos quatro localidades sem o serviço. A expectativa é que até o fim de semana todos os clientes sejam atendidos.
Números divulgados
pela Defesa Civil divergem das autoridades locais 33
ADefesa Civil do RS divulgou na manhã dessa quarta-feira, 8, um novo relatório sobre as ações de resgate no estado. Os números do órgão mostram, que dos 497 municípios, 417 sofreram danos com as cheias e 1.456.820 pessoas foram afetadas, 158.992 desabrigadas, 131 desaparecidos e 100 óbitos. No Vale do Taquari, são 33 mortes confirmadas e 46 desaparecidos. Entretanto, há um conflito entre os números divulgados pela Defesa Civil e pelas autoridades locais. O Executivo de Roca Sales, registra oito mortes, enquanto a proteção civil contabiliza duas.
Familiares se despedem das primeiras vítimas da enchente na terça-feira, 7. Em Cruzeiro do Sul, ocorre velório do casal Lothar Schmitt e Lúcia Ramos
Christallina, na igreja Matriz de Cruzeiro do Sul. Sepultamento no Cemitério Municipal. O município foi um dos mais devastados com a última enchen-
te que assolou o Vale do Taquari. São mais de mil casas destruídas. Em média, 40% do total de moradias de Cruzeiro do Sul. Há
5,2 mil pessoas desalojadas em abrigos do município. “As que não foram destruídas, apresentam avarias. Tubulações inteiras
Desaparecidos: 46
Cruzeiro do Sul: 12
Lajeado: 11
Roca Sales: 10
Relvado: 4
Muçum: 4
Arroio do Meio: 2
Putinga: 1
Marques de Souza: 1
Encantado: 1
óbitos desaparecidos
óbitos desaparecidos No RS
Primeiras vítimas sepultadas são de Cruzeiro do Sul
da Corsan arrancadas, algumas localidades sem qualquer acesso por terra”, descreve o prefeito João Dullius.
Óbitos: 33
Cruzeiro do Sul: 8
Roca Sales: 8
Venâncio Aires: 3
Lajeado: 5
Paverama: 2
Forquetinha: 2
Capitão: 2
Encantado: 2
Putinga: 1
Reunião entre entidades empresariais e representantes do governo gaúcho definiu prioridades para salvar atividade produtiva
ESTADO
Ogoverno gaúcho promoveu na tarde de ontem reunião com entidades representativas do setor produtivo. Com mais de 90 integrantes, o encontro virtual debateu medidas emergenciais em proteção às empresas afetadas pelas enchentes e teve participação de representantes do setor bancário –fundamental para a obtenção dos recursos necessários para o socorro ao setor empresarial.
Secretário do Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo iniciou o painel abordando o quadro caótico enfrentado no Rio Grande do Sul. Segundo ele a prioridade do governo no momento é salvar vidas, em um trabalho conjunto com empresas, entidades dos mais diferentes segmentos, a União e as administrações municipais. “Precisamos de um grande esforço de toda
Precisamos de um grande esforço de toda a sociedade para voltar às condições mínimas.”
ERNANI POLO
SECRETÁRIO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
a sociedade para voltar às condições mínimas.”
Para que as ações de recuperação da economia sejam efetivas, o governo do estado articula, em parceria com o Sebrae-RS, uma pesquisa para determinar o tamanho do prejuízo às empresas atingidas. Conforme Polo, por determinação do governador Eduardo Leite, objetivo é criar uma base única de dados com apoio das entidades, governo, Assembleia Legislativa e a bancada gaúcha no Congresso. “Usamos como base a mesma planilha desenvolvida para compilar os dados do Vale do Taquari após as enchentes de 2023.”
Presidente da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT) e da Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACI-E) Ângelo
Fontana reforçou a necessidade de incluir a Secretaria de Logística e Transportes nos esforços de recuperação. Segundo ele, a infraestrutura logística do Estado precisa ser restabelecida de forma célere para que as demais frentes possam funcionar.
“Temos oferta de empresas querendo ajudar na infraestrutura de mobilidade, o que é fundamental para que possamos focar somente nas necessidades dos CNPjs”, destaca. Vicepresidente da CIC-VT e da Federasul, Adelar Steffler afirma que as regiões atingidas pela enchente precisam de itens básicos, como a alimentação, mas que nada funcionará sem estradas em condições de rodagem.
“Se não vier matéria-prima para nossas indústrias, podemos receber dinheiro e isenção de impostos que não teremos condições de recuperação”, aponta. Durante a reunião, os titulares das secretarias de Desenvolvimento Econômico e Fazenda também apontaram as medidas já adotadas pelo governo para tentar mitigar os prejuízos às empresas.
Crédito e suspensão de pagamentos
Ernani Polo afirma que o
prorrogação do vencimento do ICMS, tanto para empresas do Simples quanto das que fazem a apuração em outras modalidades de enquadramento. “Os vencimentos de abril e maio ficam postergados, podendo ser pagos em junho sem juros ou multa.”
O governo também aprovou isenção de ICMS tanto para compra de ativo imobilizado como para peças e equipamentos de reposição, além da dispensa do pagamento do ICMS para produtos que estavam em estoque e foram perdidos. “São medidas que valem para a área de abrangência do decreto de calamidade pública.”
Os prazos processuais administrativos e contenciosos de primeira e segunda instância foram suspensos e a exigência de nota eletrônica de produtor rural foi postergada para janeiro de 2025. “Alguns produtores não conseguem emitir nota fiscal e nesse caso, a empresa pode emitir a nota de entrada dos produtos e regularizar quando voltarmos a normalidade”, aponta. De acordo com Pereira, a Receita Estadual ainda executa um levantamento específico com demandas de cada setor para definir novas medidas de exceção.
O governo também aprovou isenção de ICMS tanto para compra de ativo imobilizado como para peças e equipamentos de reposição
governador assinou documentos com pedido de standstill, ou seja, de paralisação de cobranças de financiamentos em curso a órgãos como o BNDES, Finep e Fungetur. Parte dos pedidos foram autorizados e novas reuniões devem definir os demais.
“Também formalizamos pedido de reuniões com Finep e BNDES, BID e o Banco Mundial para tentar buscar recursos com menor custo possível e até a fundo perdido”, relata. Conforme o secretário, a ação é necessária diante do grande número de microempreendedores que perderam tudo e precisam receber recursos para se reerguer.
Secretário adjunto da Fazenda, Ricardo Neves Pereira destacou ações emergenciais da pasta em benefício dos empresários atingidos. Entre elas estão a criação de um corredor humanitário fiscal para agilizar a chegada de doações ao Estado e evitar a retenção de produtos pelo Fisco.
Também foi definida a
A Receita Estadual determinou trânsito livre nos postos fiscais do Rio Grande do Sul. Isso significa que todos os veículos de cargas circulam livremente e não são parados, tanto na entrada quanto na saída do Estado. Também está suspensa a exigência de documentos fiscais.
A orientação vale para as equipes de todos os postos, localizados em Barracão, Marcelino Ramos, Nonoai, Iraí, Vacaria e Torres, na divisa com Santa Catarina. Conforme a Receita, outros Estados podem adotar regras diferentes sobre o funcionamento de seus postos fiscais.
O governo gaúcho também contribui com a divulgação do Saque Calamidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A modalidade que permite ao trabalhador sacar até R$ 6.220 do saldo da conta do FGTS por necessidade decorrente de desastre natural. O direito à retirada depende da habilitação do município em situação de emergência ou estado de calamidade pública.
O intervalo entre saques, atualmente, não pode ser inferior a 12 meses. Porém, a proposição é para que o prazo seja excepcionalizado, pois algumas cidades do Vale do Taquari atingidas nas enchentes em 2023 utilizaram o recurso.
Todas as famílias da Beira do Rio e Faxinal, foram amplamente afetado pelas cheias
BOM RETIRO DO SUL
Um levantamento preliminar do governo municipal e a Defesa Civil de Bom Retiro do Sul aponta que mais de 37 propriedades na localidade de Beira do Rio, foram destruídas pela enchente ocorrida entre 1º e 7 de maio no Vale do Taquari.
O levantamento dos danos foi possível após o recuo total das águas do Taquari a partir da terçafeira, 7, quando a ERS-129 e a estrada principal do Faxinal começaram a receber os serviços de máquinas pesadas para desobstrução das vias pelos entulhos.
Todas as famílias da Beira do Rio e Faxinal, foram amplamente afetado pelas cheias e saíram de
suas residências com antecedência e foram para casas de familiares e locais de abrigo seguros.
O município disponibilizou um PIX para os interessados em doar e auxiliar no atendimento aos atingidos pelas cheias. A chave é CNPJ da prefeitura: 87.242.707/0001-92. A contribuição é espontânea.
O ponto de coleta de doações no município é o pavilhão da Secretaria de Saúde, na rua Mathias Klein, número 191, no centro de Bom Retiro do Sul.
São aceitas doações de água, itens de higiene pessoal, colchões, cobertores, limpeza e alimentos não perecíveis, que não estejam vencidos.
Estradas foram refeitas em, pelo menos, seis comunidades do interior
MATO LEITÃO
Quase 500 famílias foram diretamente atingidas pelas cheias de arroios e chuvas dos últimos dias em Mato Leitão. Os prejuízos chegam próximo dos R$12,9 milhões, apenas, no setor primário no munícipio. Os maiores danos envolvem a cultura do milho, num montante de aproximadamente R$ 5,4 milhões, quebra de 20%. Esse é balanço de um relatório elaborado pelas secretarias da Agricultura e Assistência Social, em conjunto com Emater e Defesa Civil Municipal.
“Com as perdas no milho para silagem e pastagens a alimentação
do gado leiteiro está comprometida, ocasionando custos adicionais aos produtores e quebra de produção futura”, informa o governo municipal. Na cultura de soja, segundo o relatório, os danos chegam a 30% nas lavouras não colhidas, prejuízo de aproximadamente de R$ 3,6 milhões.
A produção de hortaliças, legumes e frutas, envolvendo 80 famílias, terá perda de 50% pelo excesso de chuva. Parte desta produção é destinada para Ceasa, merenda escolar e mercados regionais e estaduais.
Em paralelo, equipes da Secretaria Municipal de Obras, Viação e Trânsito de Mato Leitão intensificaram o trabalho de recuperação de trechos de estradas pelo interior do município. Em algumas situações,
o bloqueio das vias vicinais chegou a ser total. Dentre as comunidades priorizadas estão Boa Esperança
Alta, Sampaio Baixo, Arroio Bonito, Sampaio, Boa Esperança Alta e Palanque Pequeno.
Os maiores danos são em propriedades rurais e nos acessos das localidades do interior
thiagomaurique@grupoahora.net.br
Oesforço para garantir o abastecimento de água à população atingida pelas cheias em todo o Estado encontra forte engajamento na indústria de bebidas. Assim como a Fruki, que além de priorizar a produção de Água da Pedra também doou mais de 4 milhões de litros de água mineral e potável aos atingidos, companhias como Lactalis, Ambev, e a catarinense Baly adaptaram suas linhas para tentar suprir uma das necessidades mais básicas de quem vive nos mais de 400 municípios afetados. Em Teutônia, a Lactalis agora preenche embalagens de leite com água, com objetivo de distribuir 1 milhão de litros. A empresa mantém a coleta e produção de leite, ao mesmo tempo em promove campanha de auxílio aos colaboradores e produtores aferados. A Ambev parou a produção de cerveja na fábrica de Viamão para
Mesmo após ser novamente atingida pela enchente, a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) continua trabalhando em prol da recuperação dos setores produtivos do Vale do Taquari. Presidente da entidade, Joni Zagonel convocou reunião onde foram definidas reivindicações de nas esferas econômico e tributária.
A entidade sofreu perda total nas instalações com o desastre e está sensível à prioridade de salvamento e manutenção de vidas, mas entende como fundamental a adoção de medidas de reconstrução econômica. O documento será enviado aos gabinetes da Presidência da República, Governo do Estado e Prefeitura de Lajeado.
envasar e doar água potável em latas. Por dia, são 850 mil unidades de 473 ml.
Em parceria com a Tubarão
Saneamento, a Baly também destinou parte da linha de produção, localizada na cidade de Tubarão (SC) para envasar água mineral em embalagens PET de 2 litros –que serão enviadas em 35 carretas para as áreas afetadas.
Outra iniciativa que merece destaque vem do litoral norte gaúcho. O parque Acqua Lokos passou a produzir e doar água potável em
campanha que ganhou atenção de influenciadores como Felipe Neto – que contratou empresas gaúchas para levar os donativos às áreas afetadas. A Fruki foi uma das primeiras empresas a disponibilizar caminhões para a campanha do parque aquático. Essas e muitas outras iniciativas se somam em um esforço gigante para tentar reduzir um pouco do sofrimento enfrentado por todos nós.
Totalmente destruída pela fúria do rio Taquari, a Lajeadense Vidros direciona o trabalho na reconstrução das casas dos cola-
boradores atingidos e no apoio à comunidade. A empresa, que trabalha na construção de uma nova fábrica em área não inundá-
vel, destinou uma chave Pix para receber e destinar recursos aos funcionários. Interessados em colaborar podem enviar doações para o Pix 03302508093 – Roberta Lopes Arenhart.
A decisão de sair da rua Bento Rosa ocorreu após as enchentes que assolaram a região no ano passado. As obras iniciaram em abril, em uma área de 30 mil metros quadrados no bairro Imigrante, próximo a BR-386, nas imediações do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). A fábrica terá um pavilhão de 11,3 mil metros quadrados, quase o dobro dos 7 mi metros quadrados da estrutura atual.
A entidade pede a prorrogação urgente de todas as obrigações tributárias acessórias e a suspensão dos parcelamentos e acordos tributários nos âmbitos municipal, estadual e federal. Ao governo gaúcho, também é solicitada a prorrogação do pagamento do ICMS e ICMS-ST, nos moldes das medidas adotadas pelo Governo Federal e o não estorno do crédito de ICMS das mercadorias extraviadas/ danificadas e do ativo imobilizado atingido. A entidade ainda pede concessão de crédito presumido de ICMS temporário, no percentual de 17%, limitado ao valor da recompra do estoque ou de recebimento por transferência de outra unidade da empresa, com contrapartida da manutenção de empregos e concessão de crédito presumido temporário de ICMS a pagar, no percentual de 20%.
Em âmbito federal as medidas sugeridas incluem aumento no prazo da prorrogação do recolhimento do FGTS, restituição do tributo pago no regime do Simples Nacional nos últimos 6 (seis) meses e o reconhecimento dos créditos presumidos concedidos pelo Estado do Rio Grande do Sul como subvenção de investimentos para fins dos créditos financeiros previstos na Lei n. 14.789/2023.
É fundamental a oportunidade de as pessoas voltarem a trabalhar para recuperarem as perdas e voltarem à qualidade de vida que tinham antes do desastre ambiental. É essencial manter as empresas em funcionamento e promover ações para manter a economia saudável neste momento tão dramático.”
• STR Lajeado reabre – Fortemente atingido pela cheia do rio Taquari, o supermercado STR Lajeado retoma hoje os atendimentos. O trabalho de recuperação e limpeza começou na sexta-feira, quando as mercadorias molhadas começaram a ser retiradas para descarte, e encerrado na terça-feira, 7. A abertura ocorrerá de forma emergencial, com estrutura e quadro funcional reduzido. De acordo com o presidente do STR, Lauro Baum, a enchente atingiu os supermercados em parâmetros jamais pensados, tanto em Lajeado quanto em Estrela – onde a água inundou cerca de 60 centímetros da loja. As equipes trabalham para restabelecer as condições de atendimento em Estrela o mais rápido possível, mas ainda não existe previsão para a reabertura da unidade.
• Benefícios antecipados – O INSS antecipará o pagamento de aposentadoria, pensão e Benefício de Prestação Continuada (BPC) nos municípios que tiveram calamidade pública decretada no Rio Grande Sul. Os benefícios de maio e junho serão pagos de forma conjunta, a partir de 24 de maio. A medida inclui o 13º salário, que havia sido antecipado para todos os beneficiários por decreto. Para receber o valor, no entanto, é preciso solicitar o adiantamento do benefício no banco onde recebem a renda previdenciária mediante assinatura de termo de opção. Por enquanto, não terão direito ao adiantamento os segurados que recebem benefícios temporários, como auxílio-doença, salário-maternidade e auxílio-reclusão.
Unidade de Roca Sales passa por manutenção e deve retomar atividade de corte em duas semanas
Afábrica de Calçados Beira Rio S.A, em Roca Sales, suspendeu suas atividades devido a enchente que assolou o município. Em oito meses, esta é a terceira vez que a unidade é atingida. Segundo o presidente da Calçados Beira Rio, Roberto Argenta, ainda é difícil estimar o valor total do prejuízo, mas ele deve alcançar a marca dos R$100 milhões.
Localizada na Região Alta de Roca Sales, a filial 12 é uma
importante fonte de emprego e renda do município. Por isso, os esforços estão sendo redobrados para retomar as atividades nos próximos dias. “Já estamos fazendo as reformas necessárias. Mais duas semanas começamos a operar com o corte e, ao longo do tempo, vamos integrar a montagem e expedição”, explica Argenta.
Apesar dos prejuízos recorrentes, o presidente afirma que a fábrica permanecerá no local e manterá suas atividades. Inicialmente, a unidade dará prioridade à fabricação de produtos de fácil confecção, até que os demais maquinários sejam restaurados.
Em comunicado oficial, a Calçados Beira Rio informou que está com as outras 10 unidades produtivas em pleno funcionamento. Além de Roca Sales, Argenta salientou que as filiais de Candelária, Igrejinha e Novo Hamburgo também tiveram alguns prejuízos. Porém, nestas foi possível retomar as atividades de imediato.
VENÂNCIO AIRES
Com a previsão de mais chuvas nas próximas horas, a Defesa Civil emitiu alerta para risco “muito alto” de ocorrência de novos deslizamentos de terra na região serrana de Venâncio Aires, nessa quarta-feira 8. Portanto, os motoristas que estiverem transitando na ERS-422 devem ter atenção redobrada neste momento.
O prefeito Jarbas da Rosa destaca que a Defesa Civil local aguarda a chegada de profissionais, destinados pelo Estado, para fazer uma avaliação no local. Os geólogos passarão, principalmente, pelos distritos de Deodoro e do Vale do Sampaio. Além disso, em Linha Alto Sampaio, já estão em isolamento por conta da destruição de estradas e pontes mais de 20 famílias.
Além de comunicados via redes sociais e rádio, autoridades estiveram presentes pessoalmente para contatar as famílias em áreas de maior risco. Orientações também foram repassadas de moto-som
TEUTÔNIA
APromotoria de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul recomenda a evacuação imediata da área de Linha Harmonia Alta e Fundos. O comunicado chegou ao Município na manhã dessa quartafeira, 8, por meio do promotor coordenador regional da Defesa
Civil, Sérgio Diefenbach.
Desde a terça-feira, 30, o município, por meio da Defesa Civil, orienta aos moradores a saída do local. Além de comunicados via redes sociais e rádio, autoridades estiveram presentes pessoalmente para contatar as famílias em áreas de maior risco. Orientações também foram repassadas de moto-som.
A região apresenta movimentação de massa em virtude do alto volume de chuva registrado entre o fim de abril e os primeiros dias de maio. Apesar do tempo seco do começo desta semana, equipes técnicas avaliaram o solo e constataram que a área segue se deslocando. E a preocupação se agrava em virtude da previsão de chuvas para os próximos dias.
Diante da recomendação do Ministério Público, o Município organiza novo plano de ação.
Ainda na manhã desta quartafeira, equipes da Prefeitura, acompanhadas de policiais da Brigada Militar, se deslocarão até a região para notificar as famílias residentes nas áreas de risco. Além disso, haverá novamente circulação de moto-som.
Além da evacuação imediata, a Promotoria de Justiça alerta os moradores que só deverão retornar às suas residências com laudo definitivo que ateste a segurança do local.
A equipe da Secretaria de Assistência Social e Habitação está preparada para acolher as famílias no ginásio da Emef Professor Guilherme Sommer, no Bairro Canabarro.
Deslizamentos:
• CRUZEIRO DO SUL
Três pontos com riscos diversos. Erosão, afundamento de solo (solapamento), rachadura no chão (rastejo) e deslizamentos de terra e pedras.
Rua Rubens Feldens
Risco: Solapamento
Atinge: 7 imóveis
Caminhar nas áreas atingidas, conversar sobre as angústias e relatar o sofrimento pelo qual passam as pessoas atingidas pela maior catástrofe natural da história do Rio Grande do Sul. No jornalismo, contar histórias é o pilar da profissão. Em cima disso, uma qualidade importante é jamais perder a capacidade de se emocionar, entender a dor, compartilhar sentimentos e se colocar no lugar do outro. No parque do Imigrante, em Lajeado, a cada helicóptero que chegava com pessoas resgatadas, se via famílias em choque. Imagina só, por quantas horas essas pessoas esperaram? Elas vivenciaram situações críticas. Um pesadelo sem fim. Passaram frio, fome e muito medo.
Odesastre sobre o Rio Grande do Sul, em especial sobre o Vale do Taquari, traz a dura constatação do despreparo da sociedade frente a eventos adversos. Começa com a ineficiência dos modelos de previsibilidade, monitoramento, alerta e socorro, passa pela dificuldade de comunicação com pessoas em áreas de risco, descrença da população quanto ao risco iminente e pela ausência de equipamentos (botes e helicóptero) nos momentos derradeiros.
Esse trauma permanece na alma para sempre. Jamais poderemos apagar essas memórias. Precisamos, a partir de agora, ser muito mais vigilantes, para nunca mais perdermos vidas assim.
A natureza implacável cobra um preço alto. Talvez tenhamos subestimado a força dessa enchente. Talvez tenhamos ficados “moles” demais com as facilidades que a existência contemporânea nos proporciona. Quem sabe? De fato, há muitas pontas soltas. O saldo triste da enchente obriga um melhor preparo de todos.
a 25 metros no Porto de Estrela.
As imagens vindas da parte norte do RS, de cidades com rios que fazem parte da bacia hidrográfica do Taquari, mostravam que o cenário seria muito complicado. Muitas das famílias que estão nos abrigos afirmam que desconheciam o risco de enchente. Essa informação é relevante. Como pode, centenas de famílias não terem sido avisadas do risco em potencial? Claro que as rádios estavam dedicadas neste trabalho. Agora, houve passagem de carros de som pelas ruas? Houve um trabalho mais efetivo de avisos?
desabrigados, pelo menos 20 mil imóveis atingidos. Todos dados ainda subestimados, pois nem mesmo quem está na linha de frente no atendimento às famílias sabe ao certo o tamanho da calamidade.
Não foi uma simples cheia. A força da correnteza arrancou o que tinha pela frente. Trouxe, mais uma vez, o apagão de dados com relação ao comportamento das águas. Em Muçum, às 19h de segunda-feira, já não havia atualização sobre como estava o nível do rio.
peculiaridades, o sofrimento é o mesmo. Quem sobreviveu agradece a Deus pela vida, pela chance de recomeçar.
Movimento de massa descendente em encostas desencadeado pela infiltração de água no solo. Quanto mais íngreme, maior a probabilidade.
Rachaduras:
Causado por vários fatores. Como a retração do solo, com a perda de umidade pode se contrair e desenvolver rachaduras. Esse movimento tem relação com o tipo de minerais presentes, que podem se expandir quando úmidos e contrair quando secos.
Afundamentos:
Ocorre com a extração de água subterrânea, em que a remoção excessiva de água do subsolo pode levar ao colapso do solo, resultando em afundamentos.
Rastejos:
O rastejo é um movimento lento e contínuo de solo em encostas.
Áreas monitoradas
Risco para 28 pessoas
Vila Itália
Escorregamento de solo e de pedras
Atinge: 30 casas
Risco para 120 pessoas
No centro, próximo a Casa do Morro
Risco: Rastejo
Atinge: 20 casas
Alerta para 80 pessoas
• ENCANTADO
Quatro pontos. Riscos de deslizamento, queda de rochas e erosão
Bairro São José, rua David Ceregatti Deslizamentos
Atinge: 7 imóveis
Alerta para 28 pessoas
Bairro Jacarezinho
Risco muito alto
Deslizamento e queda de rochas
Atinge: 16 imóveis
Alerta para 64 pessoas
Bairro Lajeadinho (dois locais)
Estrada da Santinha
Os sistemas de alerta
Essa conjunção de fatores resulta, até agora, em 33 mortos confirmados, pelo menos 46 desaparecidos, mais de dez mil
Há quem diga, inclusive, que não é hora de buscar responsabilização, apontar para as falhas e cobrar respostas. Talvez estejam certos. É preciso compreender o momento de luto da comunidade. Junto com isso, da necessidade de garantir o básico às vítimas, daqueles que perderam o que tinham.
No Grupo A Hora, começamos o plantão da enchente ao meio-dia de segunda-feira. Naquele momento, a previsão era de uma cheia média, com perspectiva do rio chegar
Nas ruas atingidas, ouvi de muitos atingidos o drama, a aflição e um fio de esperança. De que não serão esquecidos e terão ajuda prometida pelas autoridades.
Em Encantado, o instrumento eletrônico também sumiu. Restou a análise manual por um tempo. Quando superou os 25 metros no porto de Estrela ainda às 23h da segundafeira, ficou claro que não se tratava de uma enchente como as outras.
As histórias das famílias, de cada pai, mãe, avô, avó, por vezes se aproximam. Ainda que com
Uma senhora, com o celular na mão e lágrimas nos olhos, me mostrou como era a casa dela: –Olha como era bonita. Aqui tinha o meu jardim e íamos fechar a garagem e construir mais um quarto para o meu neto.
A necessária previsibilidade foi falha. Isso, por si só, não seria suficiente para mitigar estragos nas estruturas. Mas, talvez, vidas poderiam ter sido salvas caso houvesse uma comunicação mais e controle mais assertivo.
Agora não tem mais casa. Assim como ela, centenas, talvez milhares de pessoas, tiveram sonhos e planos desfeitos.
Todas as cidades precisarão ser repensadas. Ficou claro que não há como negociar com a natureza. Construções de moradias em locais próximos ao rio devem ser proibidas. Outro ponto também nas encostas de morros. O paradigma sobre obras de infraestrutura, em especial construção de pontes, também terá de ser recalculado. A engenharia considera dados das enchentes históricas. O patamar era 1941. Neste ano, agora, todas passagens sobre os rios terão de considerar maio de 2024.
Adaptação climática
Chega de politizar conceitos como mudanças climáticas e aquecimento global. Todo o abalo ambiental ao longo da última década são provas de como a ação humana interfere na vida do
planeta. Velhos hábitos de produção, consumo, uso dos recursos naturais e lucro acima da sustentabilidade vão levar todos ao abismo. O relógio não para. Só existe um planeta conhecido para abrigar a vida. Ou cuidamos dele, ou conde-
namos a todos os seres. É preciso se valer da ciência. A comunidade científica alerta faz muito tempo do momento derradeiro. Não existe espaço para discussão ideológica. Os sinais estão na nossa cara, negá-los não os farão desaparecer.
Relatório feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) entre 2013 a 2023. Tabuladas entre risco alto e muito alto para movimentos de massas. O critério adotado é de áreas habitadas, onde os efeitos podem atingir imóveis e moradores.
Os deslizamentos são fenômenos comuns no Vale do Taquari. A diferença é que não se via. Hoje, os celulares captaram diversos episódios que impressionam ao longo da semana de pesadelo. Casas varridas pela mistura de terra e rocha em vídeo chegaram na Central de Jornalismo. Estudo do Serviço Geológico do Brasil, feito entre 2013 a 2023, afirma que mais de 3,3 mil pessoas moram em áreas de risco de soterramento. Quase 900 imóveis construídos em encostas. Com a chuva acima da média, ocorrem mudanças na compactação do solo. De modo resumido, os movimentos de massa são efeitos de quando o solo é raso sobre as rochas, com grandes declives. Encantado, Muçum e Roca Sales estão entre as mais atingidas. Em Estrela, áreas de margem do Rio Taquari apresentam erosão acelerada.
Deslizamentos, queda de rochas
Atinge: 8 imóveis
Risco para 32 pessoas
Na mesma localidade, em área próxima
Erosão e deslizamentos
Atinge: 12 imóveis
Risco para 48 pessoas
• ESTRELA
Seis áreas com alertas
Maiores riscos são de erosão e restejo (afundamento)
Bairro São José/Rua Maria Schwartz
Restejo
Atinge: 15 imóveis
Risco para 60 pessoas
Boa União/ Rua João Lino Braun
Erosão fluvial
Atinge: 14 imóveis
Risco para 56 pessoas
Centro/Marechal Hermes
Erosão da margem
Atinge: 150 imóveis
Risco para 600 pessoas
Bairro Cristo Rei
Erosão
Atinge: 50 casas
Risco para 100 pessoas
Linha Figueira
Erosão
Atinge: 20 casas
Risco para 80 pessoas
Distrito de Costão
Erosão
Atinge: 8 imóveis
Risco para 32 pessoas
• LAJEADO
As áreas ficam em três bairros
Riscos de erosão, solapamento, escorregamento do solo e deslizamentos.
Santo Antônio
Escorregamento do solo
Atinge: 20 residências
Risco para 80 pessoas
Morro 25
Erosão e solapamento nas margens
Atinge: 11 imóveis
Risco para 44 pessoas
Conservas
Escorregamento do sola
Atinge: 70 casas
Risco para 280 pessoas