Nova Geração - Especial STR 60 Anos

Page 4

ESPECIAL 60 ANOS

Seis décadas a serviço do trabalhador rural

Conheça a história de lutas do STR Estrela

Página 11

Entidade como referência aos produtores

Página 12

Relembre a trajetória voltada aos jovens rurais

Página 13

10 Sexta-feira, 5 de maio de 2023

História de força, lutas e conquistas

Ao longo das seis décadas de existência do STR, a união da classe trouxe melhorias para a vida dos produtores. Força do movimento sindical garantiu aposentadoria aos trabalhadores, entre outras conquistas

OSindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Estrela surgiu da necessidade dos produtores terem uma referência para atendimentos e defesa dos seus direitos. No início, a entidade ofertava consultas médicas e odontológicas, além do apoio técnico para o campo. Em 1963, a associação de pequenos agricultores do município originou o sindicato, fundado em 6 de maio.

Nos primeiros anos, a sede foi em um prédio antigo, “uma casa simples”, de acordo com os registros do sindicato, que já existia na esquina das ruas Venâncio Aires e Tiradentes. Em meados dos anos 1970 iniciou a construção da nova estrutura, que foi inaugurada em 1975. Muitos dos associados antigos ajudaram a construir o local e ofereceram mão de obra gratuita.

“O sindicato é uma entidade de classe que visa auxiliar os associados, em seus anseios e dificuldades”, diz a secretária Ana Beatriz Eidelwein. A formação do STR em Estrela é anterior, por exemplo, à criação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), fundada em outubro de 1963, o que destaca a tradição da associação no município.

Mobilizações

nas ruas

A força do sindicato fica evidente quando são lembradas as conquistas ao longo dos 60 anos. No entanto, as mobilizações recentes despontam como as mais marcantes. Uma delas é a luta contra a reforma da previdência, entre 2016 e 2017. “Fomos para

Antiga sede do sindicato foi utilizada desde a fundação, até a construção de um novo prédio, em 1975

as ruas e fizemos alguns manifestos aqui na região e também em Porto Alegre e Santa Cruz. Assim conseguimos manter a idade para a aposentadoria dos nossos trabalhadores rurais”, relembra o presidente do STR, Rogério Heemann.

Antes disso, as lutas garantiram aposentadoria integral para os homens que recebiam meio salário mínimo, enquanto as mulheres sequer tinham direito ao benefício. Por outro lado, nos últimos três anos, as graves

Eventos mobilizam produtores rurais ao longo das seis décadas, tanto em assembleias, quanto em ocasiões festivas

Festa do colono e do motorista leva centenas de pessoas às ruas, em desfiles com caminhões e máquinas agrícolas decoradas

vimentos que pediam maior agilidade do poder público para amenizar os prejuízos dos produtores.

Três décadas de confiança

Funcionária mais antiga do sindicato, Lilian de Castro, 60, completará 30 anos no atendimento ao públi-

GALERIA DOS PRESIDENTES

co em julho deste ano. Ela fala com orgulho do período e das inúmeras oportunidades de auxiliar os produtores. “Nunca fui tão certeira em algo como em trabalhar aqui. Mesmo sem saber quem tu vai atender, quais os problemas que a pessoa vai trazer, ou no que a pessoa precisa de ajuda, é muito gratificante quando conseguimos resolver.”

Funcionária mais antiga do sindicato atua há 30 anos no local, com foco no atendimento aos associados

Residências aos produtores

Alguns momentos de maior demanda são recordados por Lilian. A criação da Cooperativa Habitacional da Agricultura Familiar (Coohaf), no início dos anos 2000, vinculado ao Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) é um deles.

Estrela teve quatro casas construídas, dentro das regras determinadas pelo governo federal, que indicava tamanho e períodos para eventuais ampliações, mediante fiscalização. O programa foi pioneiro no Brasil e utilizava como contrapartida a terra e a mão de obra dos agricultores.

Festa para a categoria

Comemorado em 25 de julho, o Dia do Colono e do Motorista voltou a figurar no calendário do sindicato em 2014, após alguns anos de ausência. “O padre Azabido Ludwig nos desafiou a retomar a festa”, recorda Ana Beatriz. Desde então, interrupção apenas em 2020 e 2021, por causa da pandemia.

No evento é entregue o Troféu Frontino Caye, uma homenagem ao primeiro presidente do STR. A honraria vai para agricultores que se destacam em oito categorias. Durante a festa também ocorre o desfile com máquinas agrícolas e caminhões enfeitados.

11 Sexta-feira, 5 de maio de 2023
Frontino Caye 1963-1964 Balduino E. Collet 1964-1970 Hugo A. Ruschel 1971-1976 Erny Heinrich 1976-1982 Theobaldo H. Walter 1982-1983 Hedo Thies 1983-2004 Lécio A. Gregory 2004-2012 Rogério Heemann 2013-2025 FOTOS: ARQUIVO/STR ESTRELA JHON WILLIAN TEDESCHI

ENTREVISTA

“Quem está no meio rural é porque gosta mesmo”

Jornal NG: Como você vê o cenário da mão de obra no meio rural?

Rogério Heemann: Temos uma concorrência com as indústrias, as fábricas. Lá se trabalha de segunda a sexta, no máximo até sábado. No campo tem que trabalhar de segunda a segunda, não tem férias, não tem 13º salário, faça chuva, faça sol, com ou sem estiagem. Eu digo que quem está no meio rural é porque gosta mesmo, senão vai procurar outra profissão. Hoje quem produz o alimento é o nosso agricultor, a agricultura familiar. Então, se a cidade consome produtos de qualidade, é graças ao produtor e as agroindústrias. É o que a gente sempre diz: “se

Há dez anos na presidência do sindicato, Heemann é responsável por organizar os serviços disponibilizados e as iniciativas coletivas do setor. Ele valoriza as melhorias estruturais no interior e projeta um uso cada vez mais frequente da tecnologia, sobretudo para estimular a permanência dos jovens no campo. para os mais idosos mexerem em um celular ou sistema diferente é complicado. Então tem que ter um filho ou neto para auxiliar nessas questões. Temos que ser realistas, não adianta querer produzir como era a quarenta ou cinquenta anos. A tecnologia existe para melhorar também a qualidade de vida do nosso agricultor.

o agricultor não planta, uma cidade não almoça e não janta”.

NG: Qual a relação entre os avanços tecnológicos e a atividade no interior?

Heemann: A tecnologia vem para auxiliar os produtores e cada vez temos menos mão de obra. Com a idade avançada dos nossos agricultores e às vezes

NG: Como as melhorias na estrutura do município podem incentivar a permanência dos jovens nas propriedades rurais?

Heemann: Em Estrela nós temos uma estrutura boa no interior, com asfalto chegando em praticamente todas as comunidades. Energia

elétrica hoje está em condições melhores. Telefonia, água potável... Aquilo que antes só a cidade tinha, o interior também tem. São melhorias que acontecem no meio rural, junto com a tecnologia. Hoje temos vacas ordenhadas por robôs. Antes era à mão e depois veio a ordenhadeira. Em propriedades melhor instaladas, é possível produzir mais, com menos mão de obra. Tudo tem seu custo, mas são incentivos a mais para os jovens permanecerem no interior.

NG: Quais as conquistas do seu período à frente do sindicato e quais os desafios para os próximos anos?

Heemann: Uma das maiores

conquistas que tivemos foi o Programa de Incentivo ao Jovem Empreendedor do Campo. Este é um projeto do governo municipal que, para participar, é necessário estar associado ao sindicato. As parcerias com Emater, Sicredi, administração do município, são trabalhos em conjunto porque o público é o mesmo. Temos que nos unir para sempre poder dar mais condições para a agricultura produzir. O principal desafio é manter o sindicato ativo e mostrar para o agricultor quais os benefícios e vantagens que ele tem em ser associado. O produtor tem que manter sempre a confiança na diretoria e nos funcionários.

Ponto de referência aos trabalhadores rurais

Prestação de serviços, qualificação e alternativa comercial. Atividades no sindicato se consolidam entre os associados e geram a manutenção do vínculo com o meio rural

A atuação do sindicato vai além da representatividade do setor produtivo no município. O local serve para os agricultores buscarem informações e consultoria em aspectos técnicos, jurídicos e burocráticos. Alguns dos serviços são o apoio no recadastramento junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e na declaração do Imposto Territorial Rural (ITR).

Hoje o STR possui em torno de 850 associados e a estimativa do presidente Rogério Heemann é que cerca de 85% deles tenham mais de 60 anos. No início da gestão, em 2013, havia cerca de 1,2 mil pessoas vinculadas ao sindicato.

“Qualquer dúvida que o agricultor tenha, ele vem no sindicato para pegar orientação dos funcionários ou da diretoria. Então estamos sempre abertos para orientar ou pelo menos tentar ajudar o associado a ir para o caminho certo. Temos nossa assessoria jurídica também é consultada quando necessário, mas já tentamos dar todas as informações necessárias dentro do sindicato”, pontua o presidente.

O desafio de enfrentar três fortes estiagens é um teste para a capacidade de recuperação do setor. Existe uma preocupação quanto ao custo de produção e o preço dos insumos, sobretudo as sementes. “Faz parte dos desafios, com certeza”, afirma Heemann. Uma das funções do sindicato é ofertar aos associados um direcionamento nesse sentido, para incentivar a permanência no setor.

Formações

A instituição oferece aos associados a oportunidade de se qualificar em vários segmentos. A parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) é estratégico neste sentido.

Além do espaço na sede da entidade, para situações no âmbito teórico, em vários momentos o aprendizado ocorre na prática.

Os últimos cursos promovidos foram na área da segurança na atividade rural, nas normativas 31, 33 e 35. “As vezes o

Festa dos 60 anos do STR Estrela

A comemoração ocorre no sábado, 6, no Centro Comunitário São Pedro Apóstolo, no Distrito de Del na. A recepção começa às 9h, com diversas atividades, almoço e baile, com animação da Super Banda Santa Cruz.

pessoal acha complicado sair da propriedade por três ou quatro dias, mas o aprendizado é importante. Até para cursos de manutenção de motosserras, roçadeiras, tratores, etc. Além de ganhar tempo, muitas vezes é uma coisa mais simples que eles conseguem resolver em casa”, relata Heemann.

Comercial STR

O sindicato possui um espaço comercial, junto à sede. No início comercializava sementes, rações, fertilizantes, ferramentas, entre outros. Hoje possui linha de bazar, como se fosse um mini-shopping. A abertura foi em 1977, após a construção do novo prédio do STR. Inclusive, o local da loja deveria ser um estacionamento. “O sindicato buscava mais uma fonte de renda e uma forma de beneficiar os associados”, acrescenta Heemann. O comércio faz entregas periódicas no interior, a partir das encomendas dos sócios.

12 Sexta-feira, 5 de maio de 2023
PARABENIZAMOS O STR DE ESTRELA PELOS SEUS 60 ANOS
Sede atual foi inaugurada em 1975 e contemplou a implantação de um centro comercial, além do espaço para atendimentos JHON WILLIAN TEDESCHI

Participação histórica dos jovens do campo

Associação que reunia a juventude do interior de Estrela manteve atividades por quase duas décadas e remonta a uma época de protagonismo

Entre as décadas de 1980 e 2000, a atuação dos jovens tinha grande destaque nas comunidades do interior do município. A criação da Associação das Juventudes Rurais de Estrela (Ajure) surgiu da necessidade da uma melhor organização dos movimentos já existentes nas localidades. A parceria com o STR Estrela perdurou durante toda a existência do grupo.

No documento que regia as funções da Ajure, destacavam-se as finalidades, realizações e o objetivo geral, que aparecia em apenas uma frase: “viabilizar a jovens rurais capacitação e inserção produtiva para obtenção de renda própria, garantindo sua permanência e desenvolvimento

no meio em que vive”.

A origem foi em 1987, com 14 grupos que formavam a associação, com 450 jovens ao todo. Ao longo dos 18 anos de existência, a Ajure promoveu cursos de capacitação, atividades culturais, intercâmbios e participou de Encontros Es-

taduais da Juventude Rural.

Meio de convivência

Fora as atribuições específicas à rotina dos jovens no campo, a Ajure teve momentos onde proporcionou lazer e diversão. A criação do grupo

tinha como um dos objetivos arrecadar recursos para viagens ao litoral na temporada de verão, além da organização de jogos e torneios esportivos.

Outro ponto alto no âmbito social era a realização do Baile da Ajure, que elegia uma corte com rainha, princesas, além de representantes de simpatia e melhor torcida.

A primeira rainha da Ajure foi Cleusa Maria Heinrichs Garcia, hoje com 57 anos. Ela representava o Clube 25 de Julho, da Linha Ano Bom, no então distrito de Corvo – hoje município de Colinas. As lembranças são do processo até o momento da escolha da corte. O primeiro baile foi em 1985. “Além do desfile, tínhamos entrevista com jurados, onde precisávamos saber coisas do município e ter conhecimentos gerais”, recorda. “Foi um orgulho muito grande ser escolhida e representar os jovens do interior”, acrescenta.

Nas memórias de Cleusa, a força dos grupos de jovens. “Era um tempo sem redes sociais, pessoal no interior esperava pelo fim de semana para se reunir, encontrar os amigos.” E a expectativa por um possível retorno. “Quem sabe daqui a pouco não seja possível remodelar e voltar a fazer esse tipo de coisa?”, conclui.

13 Sexta-feira, 5 de maio de 2023
Cleusa (segunda da esquerda para a direita) lembra com orgulho do período em que foi a Rainha da Ajure arquivo pessoal

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.