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A PLATEIA Sant’Ana do Livramento. Quinta-feira, 30 de julho de 2015

Edição comemorativa - Não pode ser vendido separadamente

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Sant’Ana do Livramento

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Foto: Roberto Lemos

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EDITORIAL Terra de valentes É sempre muito difícil resumir Livramento. Para cada um, pode-se dizer: uma Livramento. Mas se fosse possível, o que dizer? Livramento é terra para muitos, desde sua campanha até a cidade ela abraça cada visitante e cada filho. São 192 anos de história e sempre vale lembrar suas paisagens, sua história, suas figuras mais ilustres e suas pessoas simples, que fazem do cotidiano um prazer viver. A lição que fica para mais um aniversário é a daquele que cantou a sua terra num hino chamado de Cidade Diferente: “A terra que com os seus diferentes climas é capaz de formar, assim, pessoas valentes”. Sant’Ana do Livramento, terra de valentes.

NOSSA CAPA Foto de Marcelo Pinto, o registro é uma visão aérea da cidade percorrendo em especial a chegada pela BR e suas avenidas principais.

FOTO EDITORIAL

Registro de Roberto Lemos, a foto fala por si do calor e da imensidão que nos dá a cidade, recheada de mistérios, luz, tranquilidade e esperança; ao fundo o Cerro de Palomas.

Expediente Diretoria Editora-chefe EDIÇÃO Antônio Badra Elis Regina Cartaxo Elis Regina Kamal Badra Cartaxo

FOTOS

DIAGRAMAÇÃO Marcelo Pinto Jonathan Almeida Marcos Ozanan Hendrick Soares Jadir Pires

REVISÃO Michele Albuquerque

PROJETO GRÁFICO Sandra Marques Hendrick Soares

CONTATOS

elisregina@jornalaplateia.com editoriadearte@jornalaplateia.com 55 8446 8872 / 55 3242 2939


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Fronteira da Paz

Livramento, uma terra de geografias Sant’Ana do Livramento, por mais distante que esteja da capital, pode se orgulhar de ser uma cidade privilegiada. Ela está a uma distância de 498 km da capital Porto Alegre, a 500 km de Montevidéu (capital do Uruguai) e 634 km de Buenos Aires (capital da Argentina), três grandes polos de muita atividade e atrações turísticas. Embora no último censo realizado Livramento tenha apresentado um grande número de evasão populacional, a cidade possui uma área de 6 950,37km², sendo o segundo maior município gaúcho. Ela faz parte da Região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, destacando-se na pecuária (bovinos e ovinos) e na produção de arroz e soja. Mais recentemente, vem ampliando a produção frutífera, com destaque para a vitivinicultura. Em 2009, foi declarada oficialmente pelo Governo Brasileiro como a cidade-símbolo da integração brasileira com os países membros do Mercosul. Livramento, junto com sua cidade uruguaia vizinha, é conhecida como a Fronteira da Paz.


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100 quilômetros de fronteira

Uma terra de origens indígenas

Não dá para falar em aniversário e idade, sem referir-se um pouco ás origens. Os primeiros ocupantes conhecidos da região do atual município de Sant’Ana do Livramento foram os índios charruas e minuanos. Em seguida, vieram jesuítas espanhóis, depois ao longo do século XIX vieram imigrantes portugueses e italianos. Em 1810, a instabilidade política que levaria à independência das colônias espanholas na Bacia Platina motivou a vinda de tropas portuguesas para a região, com a finalidade de resguardar a fronteira luso-espanhola. Dessa mistura nasceu um povo hoje chamado santanense que continua a receber imigrantes de diversas regiões do país e do mundo. Sant’Ana do Livramento situa-se na fronteira do Brasil com o Uruguai; do outro lado da divisa seca (uma rua urbana), situa-se Rivera. Livramento registra mais de 100 quilômetros de faixa de fronteira seca com o Uruguai. Em 1912, passou a ter a primeira estação de trem do Brasil com tráfego internacional, entre Santana do Livramento e Rivera (Uruguai), fazendo com que os trens pudessem ligar Rio de Janeiro e São Paulo a Montevidéu e Buenos Aires. Atualmente, o Trem Internacional encontra-se desativado. Em Livramento a Estação de trem foi transformada da Estação Cultura que hoje recepciona diversas atrações artísticas. A área do município localizada entre o Rio Quaraí e o Arroio Invernada (denominada como Rincão de Artigas) é reclamada pelo governo do Uruguai desde 1934. Sua economia baseia-se no comércio, na agricultura, na pecuária e na viticultura.


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Novos ares

Praça Flores da Cunha e o renascimento Quase irmã com o Parque Internacional, a hoje conhecida Praça dos Cachorros surgiu na década de 30 como um local privilegiado do convívio fronteiriço, depois sendo batizada de Praça João Pessoa. Um espaço que antes era cedido para o estacionamento de ônibus urbanos e da antiga estação rodoviária. No início dos anos 70, já sob a ditadura militar, a praça foi renomeada como “General Antônio Flores da Cunha”, em homenagem ao santanense, chefe político do Partido Republicano Riograndense, herói da revolução de 1923 e prestigiado

governador do Estado. Depois de tantas reviravoltas e debates sobre a sua tomada por vendedores ambulantes e camelôs, a Praça passou a ser um centro de compras, perdendo inclusive suas características, contudo, entrou 2015 para o aniversário da cidade totalmente renovada. A Praça foi restaurada em todos os aspectos e hoje está livre da ação de vendedores (pelo menos do lado brasileiro). A Praça Flores da Cunha ganhou de novo o seu aspecto jovial e se tornou um lugar para encontros e passeios de família.


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Fronteira

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Um Centro de Compras Popular Falar em aniversário é falar do objeto. Aniversário de quem e o que é esse alguém. Livramento completa 192 anos de história e faz parte de sua história as mazelas, conquistas e fatos importantes. Um deles, que muito se relaciona com a nova Praça Flores da Cunha é a Conquista do Camelódromo ou Centro Popular de Compras. Depois que os vendedores saíram da Praça, todos receberam um espaço ao lado do Cinema Internacional para desenvolver suas atividades de comércio. O local ainda está recebendo melhorias e adaptações, contudo vem a ser uma alternativa para deter a clandestinidade. Em meio a controvérsias e uma chuva de opiniões, o Centro Popular de Compras também vem a ser história e motivo de orgulho para muitos trabalhadores. Para o santanense, fronteiriço e turista, dois ganhos: uma praça de volta e a manutenção das compras.


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Free Shops

A esperança vem livre de impostos

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isto pelos comerciantes gaúchos da fronteira com o Uruguai como a saída para dar novo fôlego ao varejo local, o projeto de lei que permite a criação de free shops em municípios brasileiros com cidades gêmeas em outros países traz oportunidades, mas também riscos. No Estado, pelo menos 10 cidades estariam habilitadas para receber as lojas francas que venderiam produtos nacionais e importados sem impostos. Livramento já tem sua Lei e espera apenas pela regulamentação para então instalar em território santanense àquilo que será a semente da oportunidade. Vistos como concorrência por uns e ainda com receio por outros, a chegada de lojas francas em áreas de fronteira no lado brasileiro simbolizam independente de qualquer coisa o fortalecimento da economia, a captação de recursos, geração de empregos e oportunidade para trabalhos indiretos. A compra dos free shops na cidade gêmea de Sant’Ana do Livramento é uma forma de se proteger de oscilações

econômicas. Apesar de o poder de compra uruguaio não ser grande, não há dúvidas de que os free shops brasileiros serão um bom negócio pela atração que os produtos mais baratos significarão para os consumidores do país vizinho. Após a chegada dos últimos anos de brasileiros atrás de preços baixos nos free shops uruguaios da fronteira, a possibilidade de lojas francas no lado de cá é considerada pelos comerciantes de cidades gaúchas como Sant’Ana do Livramento como uma oportunidade de recuperar parte das vendas. Uma estimativa da Associação Comercial e Industrial de Livramento (ACIL) indica que em 2011, estimulados pela valorização do real ante a moeda norte-americana, os brasileiros gastaram US$ 1,5 bilhão em bebidas, eletrônicos, perfumes e outros itens nas lojas francas fronteiriças do Uruguai. Nos cálculos da Fecomércio, a cifra chegou a US$ 2 bilhões, um movimento que determinou fechamento de lojas e perda de empregos. Livramento é uma terra que já ganha com o turismo que vem a Rivera, contudo, ganhando a chance de também poder vender produtos com a isenção de impostos dentro de uma cota será sem dúvida um atrativo que florescerá ainda mais a região. Esta é a vela de comemoração que muitos querem acender ao contrário de apagar.


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Um lugar para chamar de nosso

Ferradura dos Vinhedos: economia e turismo lado a lado

O projeto “Ferradura dos Vinhedos” incentivado pela Secretaria Municipal de Turismo de Sant’Ana do Livramento criou uma nova rota da uva e do vinho na região. Desenvolvido pelo Prof. Avelar Fortunato da UNIPAMPA, o projeto ganhou mais que o mundo acadêmico e se tornou referencial para pesquisas e visitas de turistas locais e da região que queiram conhecer mais de perto o campo, o processo e a casa de cada vinho que já faz parte da tradição da mesa de muitas famí lias. SÍTIOS DA FERRADURA DOS VINHEDOS: A rota, que tem formato de ferradura, 01 - Horto Vitivinícola - Localidade de Vigia - Estrada possui 4 vinícolas e recebe em média Estadual Robledo Braz, 4501 02 - Vinícola Salton - Estrada Estadual Robledo Braz, 7857 280 mil turistas por ano. Além das visitas 03 - Vinícola Nova Aliança - Localidade de Passo dos os turistas são convidados a provar o Guedes - Estrada do Japonês, 1500 sabor dos vinhos das casas, além de 04 - Cerro da Cruz - Estrada do Japonês – entroncamento poder desfrutar de almoços ou cursos com – Av. Palomas 05 - Cemitério da Cruz - Estrada do Japonês – de degustação. entroncamento com – Av. Palomas Além do potencial turístico para a cidade e 06 - Passo da Cruz - Av. Palomas região, o caminho revela belezas naturais, 07 - Horto Florestal – EMBRAPA - Av. Palomas atrativos culturais, riquezas históricas, 08 - Vinícola Almadén - Av. Palomas, 8690 09 - Vinícola Cordilheira de Sant’Ana religiosas e sociais, destacando seu 10 - Cerro de Palomas enorme patrimônio material e imaterial para além do vinho.


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Carnaval

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A folia do samba em veias gaúchas

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esta, desfile, tradição e muita irreverência banham os carnavais de Sant ’Ana do Livramento. A terra tem sua história de carnavais de muitos anos e muitos foliões contam e recontam como a tradição a tradição de celebrar a festa nas ruas começou. Sabe-se que muitos grupos surgiram de blocos de rua e com a ideia de fortalecer ainda mais a festa na cidade e região o Carnaval se tornou uma forma de celebrar a cultura também dos tradicionais desfiles, sem falar nos carnavais de clubes, onde cada um elege suas Rainhas e Princesas e numa mistura mais que especial o Carnaval transpassa fronteiras e numa mistura histórica o Carnaval Santanense também se encontra nos Clubes e festas riverenses. Depois de algumas crises, desde 2014, o Carnaval de Livramento ganhou novas forças e apoios e cada escola pode novamente sonhar com títulos e aplausos na passarela do samba. Cada vez mais profissionalizadas, os desfiles são preparados e nada fica de fora do que se tem em grandes centros urbanos de tradição carnavalesca. Tudo começa um mês depois de cada desfile. Almoços, festas, apresentações tudo é uma forma de cada escola atrair recursos para preparar o seu Carnaval. Além dos já famosos ensaios e apresentações das baterias. A tradição do Carnaval Internacional ainda não foi retomada, contudo, ninguém deixa de fazer a festa e para os fronteiriços o Carnaval tem sido em dose dupla. Nas duas últimas edições de carnavais da Fronteira da Paz, Acadêmicos e Tradição saíram como as vencedoras, títulos 2014 e 2015.


Energia eólica

Quando sopram os ventos da mudança Esta é com cer teza uma nova era para L i v ra m e nto e u m g ra n d e p re s e nte d e aniversário que perdurará por muitos anos. Os aerogeradores vieram para ficar. Na Fronteira, a paisagem já se misturou ao campo e deixa qualquer um de boca aberta. As estruturas estão em Livramento desde 2012 e em 2015 com um detalhe mais que especial: aerogeradores 100% brasileiros, feitos em fábrica brasileira, em Jaguarão do Sul – SC, marca WEG.

Negócio para além de turista ver Na área do Cerro Chato um Posto de Observação para turistas está sendo construído e se pretende um local para visitas diárias também de alunos de escolas, universidades, excursões e curiosos pela tecnologia. O espaço será uma casa ecológica, com energias renováveis, luz solar, tratamento de água, reservando espaço também para sala de exposições e auditório. O Complexo fica à aproximadamente 25 km do Centro da Cidade e apresenta potencial turístico de grande monta para gerar renda e desenvolvimento para a região.

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Uma ideia plantada para o futuro A planta foi inicialmente construída em área de oito mil hectares e possui capacidade instalada de 90 MW (em progresso), sendo possível atender o consumo de aproximadamente 500 mil pessoas, o equivalente a mais de seis vezes a população de Sant’Ana do Livramento.

O vento sopra e a comunidade se move junto A vida de Dona Jussara Martins Gomes mudou depois da chegada das torres (os grandes moinhos de vento). Jussara morava numa casinha pequena, no meio do campo e sobrevivia com a agricultura familiar dela e da família, acontece que agora uma torre foi instalada em terra de sua propriedade e isto significará ganhos para Dona Jussara. Jussara é só alegria e sonho com o que poderá ganhar e construir a partir dessa conquista. A vida no campo vai continuar, mas os ventos nunca mais serão os mesmos.


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Ao alto e além

Livramento + Semana Santa = Pandorgas Em 2015, o 40º Festival Internacional de Pandorgas aconteceu no Complexo Eólico Cerro Chato como uma atividade inédita. O evento atraiu diversos santanenses que não se importaram com a distância. Levantar pandorga, pipa ou papagaio é uma tradição da Fronteira e acontece em formato de festival sempre duramente a Semana Santa. Ela é uma característica da cidade e muitas pessoas personalizam a sua, seja com o time de futebol, bandeiras do Rio Grande do Sul ou mesmo com as cores de Brasil e Uruguai. Também existe em Livramento uma competição por categorias, seja tamanhos, cores, desenhos e criatividade, mas santanense que preze pela tradição não pode passar a Semana Santa sem a sua pandorga. O Festival ganhou também o forte apoio da Secretaria de Cultura da cidade. O Festival de Pandorgas é um dos eventos mais tradicionais de Livramento e reúne desde crianças às mais antigas gerações. Quanto à personagem principal: a Pandorga, esta ganhou outros formatos e tipos, das tradicionais às mais modernas.


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Ivo Caggiani

Um homem de história, filho de Sant’Ana Filho único dos uruguaios Nicolas Caggiani e Maria Ester Leites Caggiani, Ivo Nicolas Caggiani nasceu em 27 de maio de 1932 em Sant’Ana do Livramento, Rio Grande do Sul. Foi casado com Jurema Fernandes, com quem teve sua única filha, Ester. Foi historiador, jornalista, escritor, vereador líder da Bancada do MDB e professor. Iniciou seus estudos com docentes particulares, sendo depois matriculado no Colégio Santanense, dos Irmãos Maristas, onde concluiu o Ensino Elementar e cursou o antigo curso Ginasial. Mudou-se para Porto Alegre em 1950 para dar continuidade em seus estudos frequentando os colégios: Cruzeiro do Sul e Nossa Senhora do Rosário. Começou a trabalhar em sua cidade natal aos 12 anos de idade sendo entregador do jornal “O Republicano”, no qual seguiria carreira: foi revisor, repórter, correspondente em Porto Alegre e redatorchefe até 1952, quando o jornal fechou as portas. Na capital, foi estagiário do Museu Júlio de Castilhos,

anos mais tarde, em 25 de janeiro de 1952, ajudou a fundar em Sant’Ana do Livramento, o Museu Municipal David Canabarro, onde foi diretor até outubro de 1953. Como jornalista, trabalhou no jornal “A Plateia” e no “Diário do Sul” até o fim de 1954, quando, em sociedade com Sérgio Fuentes, fundou a “Impressora Limitada”. Em fevereiro de 1955 reabriu o jornal “Folha Popular”, do qual foi diretor-chefe por vários anos. Paralelamente a atividade jornalística desempenhou o papel de professor, de 1952 a 1958, no Instituto Livramento, da Igreja Anglicana, lecionando a disciplina de História, no então curso Ginasial. A partir de 1961, começou a ter problemas com os militares, pois fazia parte do Movimento da Legalidade comandado por Leonel Brizola, chegando a criar um comitê de resistência democrática em Sant’Ana do Livramento. Por ocasião do golpe em 1964, Caggiani passou a responder a diversos IPM – Inquéritos Policiais Militares e, por determinação dos militares, de 1964 a 1969, viu-se obrigado a deixar a direção do periódico, nesse período foi preso por várias vezes. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se ao resgate da memória santanense, reunindo documentos e objetos no Museu da Folha Popular. Escreveu diversos números dos chamados Cadernos de Santana, além de 26 livros dentre eles: Vultos de Santana (2 volumes); Sant’Ana do Livramento – 150 Anos de História (3 volumes) e O Poder Legislativo em Sant’Ana do Livramento. Foi biógrafo de diversos personagens históricos, destacando-se Carlos Cavaco; Vitélio Gazapina – Um Benemérito de Santana; João Francisco – A Hiena do Cati; David Canabarro, de Tenente a General; Flores da Cunha – Livro biográfico, e Rafael Cabeda – Símbolo de Federalismo. Ivo Caggiani faleceu no dia 19 de abril de 2000. Pesquisa realizada na Revista Genealógica Latina e Portal da Cidade Sant’Ana do Livramento.


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Uma cidade cinematográfica

Livramento, a Fronteira e seus cinemas Existem momentos da história quer não se pode falar apenas em Livramento sem esquecer-se da vizinha Rivera e da conturbação entre àquelas ganharam o nome de Fronteira da Paz. Em Santana do Livramento, na década de 20, funcionavam os seguintes cinemas: Teatro Brasil-Uruguai, na Rua dos Andradas; Teatro Internacional, na Avenida Ataliba Gomes; Cine Avenida, na Rua Uruguai e além do Teatro Sete de Setembro, localizado no prédio do antigo Fórum. Mais tarde, entra em funcionamento o cinema Duque, na Rua Salgado Filho, nº 169. Em 1960, o cinema possuía 500 lugares e utilizava um aparelho projetor para filmes de 35 mm. Na década de 50, entra em funcionamento o Cinema Colombo, na Rua dos Andradas, nº 611. Em 1960, era propriedade de Paulo Jobim de Moraes, o cinema possuía 750 lugares e utilizava um aparelho projetor para filmes de 35 mm. Em 1957, começa a funcionar o Cinema Internacional, na R. Ataliba Gomes. Em 1960 era propriedade de Paulo Jobim de Moraes, o cinema possuía 1425 lugares e utilizava aparelho projetor para filmes de 35 mm. A cidade contava ainda com o chamado cinema de bairro, que atendia a população mais pobre da cidade como o querido Cinema Hermes, que se localizava nas imediações do Beco do Maragato. Sem falar no Cine América, Astral e Grand Rex Hoje, em Rivera, as duas cidades contam comum cinema moderno de um dos Free Shops de mais destaque da cidade. * Informações do Blog Memorias da Fronteira.

Pois bem, falar em cinema é exatamente não separar o que eles tem tão em comum. Você sabe de todos os cinemas que fizeram história?


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Internacional

Um marco da história e da Fronteira No início do século 20, vera (Uruguai). havia entre Sant’Ana e Um projeto extraordinário Rivera um grande areal, para separação de terrionde hoje é o Parque Intórios. A Praça Internacioternacional, o espaço era nal possui 55.000m2 de usado para a área verde, prática de esflores, arbusportes, tênis, tos e muitas polo a cava- No primeiro plano, o árvores. Sua lo e futebol obelisco é triangular. A inauguração atraiam o pú- sua base é construída oficial foi no blico de am- em três degraus, o “petit d i a 2 6 d e bas as cida- pavê”, que apresenta fevereiro de des para um o d es e n h o d e u ma 1943. local usado corrente formada de O Parque In33 elos (o número 33 ter nacio na l para o lazer. Nos anos 40, é o grau máximo da foi projetado o marco de Maçonaria). em três pladivisa mos- E, finalizando, o obelisco nos. No pritrava o último surge por cima das meiro, está ponto onde correntes e aponta o monumeno divisor de para a imensidão azul to Obelisco, águas conse- do céu, simbolizando sí m b o l o d a guia ser loca- a L I B E R D A D E . O pa z e inte lizado, pois a obelisco foi doação gração entre partir do Are- da Maçonaria para o os povos; no al, as águas Parque Internacional. segundo, há se uniam nas u m a Fo n te Fronteiras. Luminosa, Na impossibicom águas lidade de didançantes, vidir, surge a signo da ideia da Praigualdade; no ça Internacioterceiro, base nal, um local e sustentacomo forma ção do cond e d e m a rjunto, a estácação dos tua da Mãe territórios de representa a Sant’Ana do pureza com Livram ento que sonha a (Brasil) e Rihumanidade.”

Obelisco

Fonte Luminosa No segundo plano está a Fonte Luminosa, local onde voltaram a dançar as águas depois de anos sem funcionar. Ela representa símbolo da IGUALDADE, que é a essência natural da vida e da pureza original e absoluta, às quais se elevam os espíritos superiores. A fonte foi inaugurada no dia 25 de agosto de 1953, apresentava no início 18 jogos de luzes, formando dezenas de variações de jatos de água.

Estátua da Mãe O terceiro plano seria a sustentação do conjunto, onde foi colocada uma estátua de bronze representando a MÃE, originalmente destinado à infância, que é a expressão da inocência livre de toda culpa, simbolizando, segundo pesquisadores e historiadores, a FRATERNIDADE, com que sonha toda a humanidade. A estátua A Mãe, obra do escultor uruguaio José Belloni, foi doada pelos Rotary Clubes de Sant’Ana do Livramento e Rivera e inaugurada no dia 24 de abril de 1960.

O Futuro Atualmente o Parque Internacional é palco para diversas atividades, desde práticas esportivas, lazer, cultura, música, dança e até mesmo casamentos. As duas cidades o rg a n i z a m d u ra nte todo o ano diversas atividades binacionais e celebram no Parque a diversidade cultural. Por ano também é realizado o famoso evento das trocas de bandeiras com a presença de militares dos dois países.


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Aquífero Guarani

De uma fonte de recursos a sua preservação Aquífero Guarani foi o nome que, em 1996, o geólogo uruguaio Danilo Anton propôs para denominar um imenso aquífero que abrange partes dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e principalmente Brasil, ocupando 1 200 000 km². Na ocasião, ele chegou a ser considerado o maior do mundo, hoje considerado o segundo maior, capaz de abastecer a população brasileira durante 2 500 anos. A maior reserva atualmente conhecida é o Aquífero Alter do Chão com o dobro do volume do Aquífero Guarani. Contudo, estudos mais detalhados concluíram que o Aquífero Guarani é menor do que os pesquisadores calculavam e, sobretudo, com volume e qualidade de água inferiores aos estimados inicialmente. Além disso, é descontínuo, como na região de Ponta Grossa (PR), de constituição complexa e heterogêneo. Um dos mais importantes estudos feitos sobre ele, “A redescoberta do Aquífero Guarani”, foi desenvolvido em 2006

pelo geólogo José Luiz Flores Machado, do Serviço Geológico do Brasil. Flores Machado afirma em seu estudo que, a rigor, não se trata de um único aquífero, mas de um “sistema aquífero”. Sendo assim, o correto seria chamá-lo de Sistema Aquífero Guarani. A maior parte (70% ou 840 000 km²) da área ocupada pelo aquífero — cerca de 1 200 000 km² — está no subsolo do centrosudoeste do Brasil. O restante se distribui entre o nordeste da Argentina (255 000 km²), noroeste do Uruguai (58 500 km²) e sudeste do Paraguai (58 500 km²), nas Bacias do Rio Paraná e do ChacoParaná. A população atual do domínio de ocorrência do aquífero é estimada em quinze milhões de habitantes. Os estudos mais recentes sobre o aquífero apontam que ele tem uma espessura m é dia de 250 m etros e um volum e de aproximadamente 45 000 km³. A profundidade máxima é por volta de 1 500 metros, com uma capacidade de recarregamento de aproximadamente 160 km³ ao ano por precipitação. É dito que esta reser va subterrânea poderia fornecer água potável ao mundo por duzentos anos. Todavia, devido a uma possível falta de água potável no planeta, que começaria em vinte anos, este recurso natural está rapidamente sendo politizado, tornando-se o controle d o Aquí fero Guarani c ada vez mais controverso e gerando debates muito além de sua preservação. Uma certeza é válida, é preciso conservar.


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Tradição

192 anos de história, cultura e fogo de chão

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ivramento é uma cidade conhecida no Estado pela sua tradição. O município é recheado por Centro de Tradições Gaúchas, Movimentos Tradicionalistas, Grupos, Galpões, Grupos de Danças Tradicionais e tantos outros que tem um único objetivo: cultivar a tradição do estado e estimular as práticas culturais desde os mais antigos aos mais jovens. Festejar os 192 anos de Livramento é também falar em tradição e cultura gaúcha com um dos povos que mais celebram e enaltecem a simbologia e raízes da terra. Como destaque está a sempre tão falada e esperada Semana Farroupilha. O desfile todos os anos segue pelas ruas do Centro da cidade com milhares de cavalheiros e atrai turistas de várias partes do estado além de santanenses e gaúchos do interior. O desfile é disputado e uma multidão se forma para assistir uma das atividades de mais tradição na Fronteira. Além do Desfile, muitas outras atividades compõe o tradicionalismo na Fronteira e mantém viva a chama da cultura do Estado.


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Campereadas santanenses

De tradição para culturas internacionais

As campereadas são tradição na Fronteira da Paz, dito assim, porque elas recebem a denominação de Campereada Internacional por reunir principalmente brasileiros e uruguaios, além de gaúchos de várias partes do país. O evento acontece tradicionalmente na Chácara da Prefeitura todos os anos e causa uma mistura de tradições e costumes. Livramento teve em 2015 a sua 33ª edição e contou com o apoio inclusive da Prefeitura Municipal na realização do evento e a Coordenadoria Municipal de Tradicionalismo. Participaram da última programação, diversas provas campeiras e atrações artísticas, como bailes e shows com os grupos Candieiro, Gaitaço Tchê, Tchê Chaleira, Julio Muniz e Grupo Campeirismo, Machado e Marcelo do Tchê, Vinicius Munhoz, Márcio Corrêa, Querência Nativa e Dudu da Gaita. Como novidade no ano de 2015, os gaúchos e demais participantes puderam contar com o Festival Nativista “Vento Xucro” que premiou participantes do evento.


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Figura Ilustre

De Livramento para todo o Estado

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oão Carlos D’Ávila Paixão Côrtes (nascido em Sant’Ana do Livramento, 12 de julho de 1927) é um folclorista, compositor, radialista e p esquisador gaúcho que conquistou o povo pela sua própria língua: a cultura gaúcha. Paixão Côr tes é um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista não só em Livramento, mas em todo o estado Orgulho de ser santanense do Rio Grande do Sul. Em 06 de novembro de 2013, numa Uma iniciativa do Tradicionalista Rui Junto com Luiz Carlos quarta-feira pela manhã, foi inaugurando Ferreira Rodrigues e do jornalista Duda um monumento em homenagem ao Pinto, o monumento nada mais é do Barbosa Lessa e Glauco tradicionalista Paixão Côr tes, em que uma homenagem e lembrança de Saraiva partiram para Sant´Ana do Livramento. quem deu e dá sua vida pela cultura de a pesquisa de campo, O Monumento está localizado na entrada seu povo. viajando pelo interior, da cidade e é uma homenagem do A obra, criada pelo arquiteto e artista para recuperar traços movimento tradicionalista, da prefeitura plástico Sérgio Coirolo, consiste em da cultura do Rio e da sociedade santanense ao cidadão um pedestal com degraus de acesso à que é considerado o símbolo do gaúcho. estátua de cerca de 3,5 metros. Grande. Em 1948, organizou e fundou o CTG 351 e, em 1953, fundou o pioneiro Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição. Paixão Côr tes ficou bem conhecido pela sua dedicação em resgate da cultura gaúcha que em 1992, através da estátua do Laçador, do escultor Antônio Caringi, para a qual Paixão Cortes posou em 1954, foi escolhida como símbolo da cidade de Porto Alegre. Em 2001, proferiu palestra sobre a música gaúcha no VII Encontro Nacional de Pesquisadores da MPB, realizado no Teatro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Paixão Côrtes foi também responsável pela abertura de mercado da ovinocultura no Rio Grande do Sul. Foi ele quem trouxe da Europa novos métodos e tecnologias de tosquia, desossa e gastronomia, além de incentivar o consumo de carne ovina. Paixão começou a trabalhar na Secretaria da Agricultura aos 17 anos como classificador de lã. Em 40 anos de serviço, passou pelas Estações Experimentais de Pelotas, Sant’Ana do Livramento e nos Campos de Cima da Serra e em Porto Alegre, também como professor dos cursos de classificação de lã, ovinotecnista e, por fim, chefe do Serviço de Ovinotecnia. Formado em 1949 em Agronomia, na UFRGS, Paixão Côrtes desenvolveu na Secretaria da Agricultura o trabalho de extensão no interior do Estado.


192 Anos

A PLATEIA Sant’Ana do Livramento Quinta-feira, 30 de julho de 2015

História Viva

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Composição: Agapito Prates Paulo Agapito tem 87 anos de idade e caminhou com dificuldade até a sala. “Lembro que a Câmara de Vereadores queria um texto para o Hino de Livramento e por intermédio do vereador e amigo, Ivo Caggiani, fiz a apresentação da letra que se tornou Hino cidade.” Esta história tem exatamente 33 anos e Agapito diz sentir muito orgulho de ser chamado santanense. Sobre a história do homem que escreveu o Hino de Livramento, ele mesmo diz: “Sou um Prates Paulo

Hino de Sant’Ana do Livramento

“Cidade Diferente” do Livramento, Sant’ Ana Padroeira te abençoou, pois a fraternidade e a liberdade brotaram nos teus campos com mais vigor.

Ó meu torrão querido, recanto leal, gentil, por todos reconhecido Cartão Postal do Brasil! As várzeas e canhadas e tuas coxilhas repetem maravilhas

dos teus heróis a um povo que te canta alegremente, “Cidade Diferente” de amor e paz. Ao mundo do progresso, em Livramento,

ao desenvolvimento continental abriu-se esta fronteira, milagre novo, realização de um povo sensacional. Composição: Agapito Prates Paulo

de um total de nove irmãos. Estudei para ser padre, mas não conclui. Sou casado com Maria Rita e pai de Sidney e Tânia e ainda tenho tempo para os netos”. Sobre o que Livramento poderia mais se orgulhar nesses 192 anos de história, Agapito disse que é da gente forte e resistente que a terra constrói com seus climas extremos, frio e calor, “se bem que esse inverno como está indo não vai criar gente muito valente não”, brincou ele. “Vejo um futuro impressionante e belo para Livramento e um lugar ainda melhor para se educar os filhos”. Na hora da foto, Agapito se mostrou ainda muito vaidoso e pediu para primeiro se arrumar. Como homenagem, o autor do Hino da cidade cantou um trecho da música em latim, sua segunda língua, como o disse.


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