Nº 3
Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília
Distribuição gratuita
Brasília, maio de 2012 Foto: Luciana Saade e María Ramasco
Ano 13
artefato
PLANO PILOTO É BENEFICIADO COM VARIEDADE DE BANCAS DE JORNAL, CINEMAS E TEATROs, enquanto POPULAÇÃO DAS RA’s sofre com a falta de opções
A carência cultural do DF Copa do Mundo
“Seu Valentim”
Brasília vai receber sete jogos do Mundial, mas será que os moradores do DF vão ganhar com os investimentos?
Por mês, cerca de 5 mil pessoas vão ao recinto de caridade Adolfo Bezerra de Menezes em busca de curas espirituais.
Págs. 16 e 17
Págs. 06 e 07
Foto: Mariana Lima
Págs. 12 e 13
ombudsKVINNA
carta dos editores
opinião
Carolina Alves*
E o Artefato chega a sua terceira edição. A capa chama a atenção para um assunto importante e polêmico. Será que a cultura e lazer se concentram no Plano Piloto? Referindo-se a lugares físicos como museus, teatros e salas de cinema, a resposta é sim. Em Brasília, há uma cena rap consistente nas regiões administrativas. Os saraus são assuntos recorrentes nas redes sociais e aproximam o brasiliense do mundo das palavras. E o teatro de rua pode e é feito em qualquer lugar. Claro que não é a situação ideal, muitas coisas precisam melhorar, inclusive a questão do investimento. E é importante a população saber o que é gasto e em que é gasto, mas não se pode continuar com essa “cegueira cultural”. É fundamental lembrar que o que é noticiado na mídia não reflete a realidade completa. “Meu pé de serra” mostra que há vida cultural fora do Plano Piloto. Agrada a abordagem leve e informativa, além dos personagens fantásticos, de “Família formada pela doença”. O repórter soube tratar o assunto com delicadeza singular. E mostrou que o HIV continua sendo um “bicho-papão” para alguns. A matéria transcorre pela vida dos personagens. Ainda assim, sente-se falta de dados sobre o HIV e a opinião de um médico sobre alguns casos. Há também a repetição de informação entre legenda e título, mas isso não anula o mérito do texto, pois o repórter fez o que todo jornalista deve fazer: colocar o pé na lama, observar, ouvir e contar uma história. “Um evento cheio de incertezas” traz bela foto e texto que faz o leitor refletir sobre o real ganho que a Copa irá trazer para os brasileiros. Agrada em todo o jornal o serviço disponibilizado, o que não acontecia na edição anterior, confirmando a ideia de que o Artefato é um grande e constante aprendizado. Lendo o jornal sente-se falta da gastronomia, a parte mais gostosa do jornal. É inevitável criar expectativa e a espera é frustrada. “Hora de criança ir pra cama” trata da classificação indicativa e opta por um jornalismo interpretativo, o que é bem interessante para um jornal como o Artefato. O leitor só fica sem saber que é o integrante do Intervozes. Não quis se identificar?
* Carolina Alves é estudante do 7o semestre de Jornalismo.
expediente Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 13 nº 3, maio de 2012
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Reitor: Dr. Cicero Ivan Ferreira Gontijo Diretora do curso de Comunicação Social: Prof.ª Angélica Córdova Machado Miletto Editores-chefe: Aline Sales e Augusto Soares Editores de arte: Flávia Fonseca e Luma Soares Editores web: Allan Virissimo e Mariana de Deus Alvarenga Editores de fotografia: Dimitri Alexandre e Tuane Dias Subeditores de fotografia: Altieres Losan, Jéssica Antunes e Samita Barbosa Editores de Texto: Alessandra Santos, Eric Zambon, Jônathas Oliveira, Jussara Meireles, Nilson Carvalho e Rodrigo Gantois Diagramadores: Gabriela Almeida, Mariana de Ávila, Natália Oliveira e Rick Astley
A FORÇA DE ACREDITAR Aline Sales e Augusto Soares
A cidade que aparece nas estatísticas do IBGE com um dos melhores índices de desenvolvimento humano do país não é mesma conhecida dos moradores. Os dados do papel não são os mesmos da prática. Basta isolar o Plano Piloto para perceber que o contraste da qualidade de vida entre as cidades do DF é maior do que parece. A matéria de capa mostra que o acesso à cultura e ao lazer para quem mora nas regiões administrativas é difícil. Aliás, para essa população, transporte público também não é fácil... Saúde? Nem se fala. Mas será que reclamar funciona? Em busca dessa resposta colocamos os serviços de ouvidoria do GDF à prova. No geral, o retorno não foi satisfatório. A conclusão é: entra governo, sai governo e a situação permanece a mesma. Não é só o famoso João de Deus da cidade de Abadiânia (GO) que pratica a medicina espiritual. Nesta edição também trazemos uma matéria sobre o doutor espiritual “seu Valetim”, que se dedica a curar pessoas que sofrem por causa de alguma doença. Independente de espiritualismo ou não, até essa medicina pode ter seu papel na recuperação dos pacientes do ponto de vista científico. Comida demais não é a maneira dos pais lidarem com a ansiedade dos filhos, principalmente diante do aumento da obesidade entre as crianças. E para quem quer encarar concurso público não precisa encarar estimulantes pra melhorar os estudos, boa alimentação é uma opção melhor. Aquele selo que sempre aparece antes dos seus programas favoritos começarem já gera polêmica há anos, e em 2012 o Supremo pode decidir se o Estado tem o direito de dizer o horário de exibição dos programas de televisão, e nossa matéria te leva a conhecer os dois lados do debate. A nossa terceira edição tem ainda mais, então boa leitura! ERRAMOS: na edição passada, as duas fotos da página 9 são de autoria de Felipe Vieira, e não de Mariana Lima.
Checadores: Mariana de Ávila e Maycon Fidalgo Repórteres: Ana Paula Freire, Augusto Dauster, Carina Lasneaux, Estela Monteiro, Iasmin Costa, Kleyton Almeida, Lane Barreto, Letícia Pires, Monalisa Santos, Paula Carvalho, Vinicius Rocha e Yale Duarte Fotógrafos: Ana Carolina Alves, Anna Cléa Maduro, Alana Letícia, Christian Kelly, Janine Martins, Joe Fonseca, Júnior Assis, Jussara Rodrigues, Luciana Saade, María Ramasco, Maria Rita Almeida, Mariana Lima, Michelle Brito, Nayara de Andrade e Percy Souza Professoras Resposáveis: Karina Gomes Barbosa e Sofia Zanforlin Orientação Gráfica: Prof. Dilson Honório Oliveira - DiOliveira Orientação de Fotografia: Profs. Thiago Sabino e Bernadete Brasiliense Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA EPCT QS 07 LOTE 1 Águas Claras - DF CEP: 71966-700 Tel: 3356-9237 - artefato@ucb.br
artefato
Cidades assistência
Pró-vítima ajuda famílias Foto: Joe Fonseca
A diferença que a ajuda pode fazer na vida de quem enfrentou traumas Natália Oliveira e Rick Astley
Em fevereiro do ano passado, o garoto Ítalo Matheus da Silva, 12 anos, foi assassinado durante uma briga de trânsito em Santa Maria. A confusão começou quando três homens – dois menores de idade – em um carro tentavam passar pela rua em frente à casa da família de Ítalo. O movimento na rua era atípico devido a uma festa. O carro de Anderson Santana, padrinho do menino, bloqueava a pista. Enquanto um veículo tentava passar, o outro impedia o caminho. Assim começou a discussão. Um adolescente de 17 anos, ocupante do carro que tentava passar pela rua, disparou contra Anderson. Ítalo entrou na frente do padrinho para protegê-lo e foi atingido pelo disparo. Ele não resistiu e morreu. Ao relembrar o dia da morte do filho, Hudson do Nascimento, 34 anos, e Walberliz Lima, 29 anos, deixavam transparecer a tristeza. Após a tragédia a família passou a contar com assistência do Pró-vítima, um programa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal criado em abril de 2009 que assegura os direitos das vítimas e das famílias que sofreram violência, por meio de atendimentos multidisciplinares e gratuitos, que envolvem assistência jurídica, psicológica e social. Graças ao Pró-vítima, os pais da vítima sabem que os crimi-
nosos foram presos e liberados uma semana após o crime. Eles aguardam o andamento do processo em liberdade. “Se não tivéssemos o auxílio do programa, não teríamos nenhum retorno ou conhecimento sobre o processo”, diz Hudson. O acompanhamento do advogado do programa facilita o acesso aos autos e ao caminho que o processo está tomando. “Quando íamos ao fórum ficávamos perdidos, agora o advogado explica tudo direitinho”, acrescenta. Ele também aceitou a ajuda psicológica oferecida pelo programa e frequenta as sessões todas as quartas-feiras. Para Hudson, as reuniões ajudaram a controlar a revolta que ele tem por ver os assassinos do filho impunes. Atendimento
Dados fornecidos por Valéria Velasco, Subsecretária de Proteção às Vítimas de Violência, indicam que desde a criação o Pró-vítima realizou cerca de 5 mil procedimentos, entre atendimentos psicológicos, jurídicos e sociais. Os casos atendidos são os de homicídio, tentativas de homicídio, latrocínio (roubo seguido de morte), sequestro (roubo com restrição de liberdade), violências no trânsito, sexual, doméstica e desaparecimento. O atendimento do Pró-vítima é realizado em três núcleos. Os casos que chegam são divididos em três tipos: o espontâneo, quando a pessoa vai ao Pró-
Hudson do Nascimento, pai do garoto Ítalo, assassinado após uma briga de trânsito em Santa Maria
-vítima em busca de ajuda; os encaminhados pelas escolas e pelo Ministério Público; ou os chamados de resgate, que são ocorrências enviadas pela polícia para que os profissionais do programa entrem em contato com os familiares. Não chega a todos
Em setembro de 2009, o restaurante Papa tudo, localizado na Praça do D.I., em Taguatinga Norte, foi palco de um homicídio. O jovem Rafael de Oliveira Santos foi vítima de bala perdida. Após a fatalidade, a família não recebeu nenhuma assistência do governo. A avó do jovem entrou em depressão profunda. Parou de comer, beber e ficou debilitada. Em quatro meses, morreu. Depois de perder mãe e filho, Marlene Oliveira Santos chegou a tomar remédios controlados e está depressiva. Ela conta que desconhecia o programa e apesar dos cinco mil atendimentos que
o Pró-vítima fez, nenhuma assistência chegou a ela. “Ninguém me procurou pra oferecer ajuda. Paguei R$ 1.000 para o advogado para me ajudar na Justiça.”
SERVIÇO Sede Secretaria de Segurança Pública Antiga Rodoferroviária Telefone: (61) 2104-1934 Núcleo 114 Sul Estação 114 Sul do Metrô, Subsolo Telefone: (61) 3905-1777; 3905-1434 Núcleo Paranoá Quadra 5, Conjunto 3, Área Especial D (atrás do Fórum) Fones (61) 3905-4720; 3905-1481
* no dia da entrevista ao Artefato, Marlene Oliveira Santos se interessou pelo programa, ligou no núcleo da 114 Sul e foi atendida em menos de uma semana. Ela disse que já está sendo ajudada pelo advogado e que tem consulta marcada com a psicóloga
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Cidades governo
Reclamar Funciona? Colocamos à prova os serviços de ouvidoria do GDF No papel e na teoria, o Governo do Distrito Federal oferece aos cidadãos mecanismos legais para os brasilienses se pronunciarem. A central 156 é o serviço de ouvidoria oficial do Governo do Distrito Federal (GDF) que atende basicamente todos os órgãos locais. Por meio dele, é possível obter diversas informações sobre o governo ou ainda registrar reclamações, sugestões e denúncias. Na ouvidoria, qualquer cidadão tem o direito de reclamar, solicitar, elogiar e denunciar. Há sempre o prazo de 15 dias para que o órgão se pronuncie. Caso esses 15 dias passem, o contribuinte deve retornar a ligação para realizar a reiteração. Em tese, esse deveria ser o procedimento, e no mundo ideal o problema seria solucionado. Tentando ver se a teoria funciona na prática, o Artefato se propôs a colocar os serviços à prova, e realizou sete reclamações sobre diversos problemas reais encontrados pela cidade. Os instrumentos usados nessa matéria foram a ouvidoria do GDF (156) e a ouvidoria da Secretaria de Saúde (160). Confira o resultado, nada alentador para o brasiliense que quer usar os mecanismos de cidadania disponíveis no GDF para fazer valer os seus direitos.
da quadra: um enorme buraco foi cavado e o muro da obra invadiu grande parte da calçada. A equipe do Artefato usou dois canais oferecidos pelo governo para reclamar. Em 27 de fevereiro, procuramos a Administração Regional de Taguatinga e protocolamos a reclamação junto à Ouvidoria Geral. No mesmo dia, a equipe fez queixa similar no GDF Direto, serviço acessado pela internet. Fomos informados que nos encaminhariam um e-mail posteriormente com o número do protocolo. O e-mail nunca chegou. Em 14 de março, a ouvidoria
do GDF nos aconselhou a entrar em contato com a Agefis. Ao telefonarmos para a Agência de Fiscalização, a resposta foi que ligássemos a partir de 22 de março, quando já haveria solução. Ligamos no dia marcado. A obra foi autuada e havia prazo de 30 dias para a regularização. Não tivemos acesso a detalhes sobre o número da notificação ou dados similares, em respeito ao sigilo fiscal. Ao fim do prazo imposto pela Agefis, fomos informados que a empresa possuía autorização para invadir a calçada. A permissão estava vencida e em fase de
Alvará para invasão
Há mais de quatro anos a empresa ACNT Construções deu início a uma obra na Quadra CSA 02 em Taguatinga Sul, que impactou a rotina dos moradores
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renovação até o fechamento desta edição. Resultado: invasão de área pública chancelada pelo governo. Dois problemas, uma resposta
O ônibus da linha 369 faz o trajeto P Sul -Taguatinga Sul, mas muitas vezes atrasa e enfrenta problemas de lotação. Em 27 de fevereiro, reclamamos no 156 sobre a demora do ônibus. Também indignados com o atraso e falta de horários da linha 092, que faz o trajeto Taguatinga Norte - Lúcio Costa, efetuamos em 5 de março uma outra reclamação no serviço. Após praticamente 30 dias,
Fotos: Anna Cléa Maduro
Gabriela Almeida
Pedestre tem que se aventurar na pista, pois a obra invadiu parte da calçada
Cidades Fotos: Ana Cléa Maduro
contando com a renovação das reclamações, o DFTRANS informou que já tinha iniciado as licitações para novos veículos que facilitarão o rastreamento dos veículos pela população e que, a partir de 2013, os veículos estarão circulando cumprindo os horários. Resultado: ficamos na promessa, mas sem solução.
PONTO DE VISTA Estela Monteiro*
Boa notícia
Ao tomar conhecimento do caso de Geraldo Magela Alves, contador 52 anos que já estava há mais de quatro meses na espera por uma consulta no oftalmologista, o Artefato entrou em contato com o Disque Saúde em 5 de março. Houve demora na resposta e tivemos que refazer o pedido. No dia 2 de abril, Geraldo finalmente recebeu uma ligação da Secretaria de Saúde, marcando a data e o local da consulta. Operação tapa-buraco
Para saber se as crateras das vias da cidade estavam fazendo aniversário ou são cobertos pela Novacap, nossa equipe fez queixas sobre três buracos nas ruas de Taguatinga. O primeiro local foi na QNC 07/08 e a reclamação foi feita no dia 27 de fevereiro. Passados 15 dias da solicitação, obtivemos a resposta de que o órgão responsável tomaria as providências o mais rápido o possível. No dia 21 de março a obra foi feita no local. A segunda solicitação foi para um buraco localizado na QSA 15, feita no dia 5 de março. Após 15 dias do contato com a ouvidoria, fizemos a primeira reiteração, já que o pedido não havia sido atendido. No dia 12 de abril fizemos a segunda reiteração. Finalmente, em 16 de abril a Administração de Taguatinga respondeu que repassou o pedido para a Novacap fazer o trabalho o mais rápido o possível. Até o fechamento, o buraco
imprensa do órgão publica apenas um parecer ao cidadão, muitas vezes justificando a ausência ou prometendo providências.
Em uma das poucas solicitações atendidas, o buraco na QNC 07-08 só foi tampado após quase 30 dias
ainda atrapalhava os motoristas. A terceira queixa, feita junto com a anterior, foi sobre uma série de buracos na CSA 02. No no dia 28 de abril, mais um mês depois, um único buraco foi tampado. E então, reclamar funciona?
Após todo o caminho percorrido pela equipe do Artefato por mais de três meses nos locais indicados pelo governo do DF para queixas, a resposta é: mais ou menos. As sete reclamações foram feitas e todas tiveram respostas, mas a maioria das repostas não foi satisfatória.
Outra conclusão é que o cidadão que deseja ser ouvido pelo governo e exercer seu direito, por intermédio de uma ouvidoria, deve ser dotado de algumas virtudes. Paciência, insistência e tempo são algumas delas. O Cientista Político e professor de Comunicação Social na Universidade Católica de Brasília, Aylê Salassie Quintão, explica que os órgãos públicos tratam as ouvidorias como um canal de relações públicas. Então ao invés da reclamação do cidadão virar uma denúncia ou até mesmo um processo, a assessoria de
A equipe do Artefato levanta uma questão que a população do DF quer saber: afinal, reclamar funciona? Após a prova dos nove, chegamos à conclusão que parecia óbvia, caso contrário a capital não estaria o caos, no que podemos considerar uma das piores gestões do DF nos últimos anos. Reclamar para as ouvidorias do GDF não funciona. O que recebemos em resposta às queixas, na verdade, é uma enxurrada de medidas paliativas, informações incompletas, empurra-empurra de um órgão para outro. A sensação que fica é a de que somos verdadeiros palhaços, vivendo da boa vontade e dependendo dos “favores” que os órgãos do governo nos prestam. Quem já passou pela via Estrutural, sentido Plano Piloto - Taguatinga, viu uma parada de ônibus improvisada com pedaços de tábua e papelão. Enquanto funcionários públicos matam o tempo jogando Paciência atrás do balcão, a população é assaltada à luz do dia, na capital e nas RA’s, construções invadem calçadas, buracos engolem os carros dos trabalhadores e pessoas morrem nas filas dos hospitais. Parece que a ordem geral das coisas está invertida. Quem precisa de Paciêcia, mesmo, é a população esquecida pelos políticos do DF. * Repórter do Artefato
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Cidades medicina
A força da cura pela fé Seu Valentim, doutor de corpos e almas aflitas, trabalha em conjunto com quase 60 médicos espirituais para tratar enfermos Fotos: Mariana Lima
Pacientes vão atrás de cura para câncer, aids, diabetes, esclerose múltipla e outras doenças sem solução na medicina comum Iasmin Costa
Há 47 anos, Brasília recebia Valentin Ribeiro de Souza. Ele veio trabalhar como funcionário de uma revenda de gás, mas tinha outro caminho a seguir: Seu Valentim, como é conhecido, atua como médico espiritual e, com o tempo, tornou-se popular pelos casos de cura relatados por pacientes. Hoje, seu instrumento de trabalho são as tesourinhas, com as quais ele faz cirurgias, bênçãos e tratamentos.
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Leonice Silva Rocha, 69 anos, é uma das pacientes que foi curada por Seu Valentim. Em 2008, exames comprovaram que o rim dela não estava funcionando. Teria de fazer hemodiálise, processo de filtragem que retira todas as substâncias indesejáveis acumuladas no corpo. Antes de começar a terapia, foi liberada pelo médico para passar quatro dias fora do hospital. Por medo, Leonice não apareceu no dia combinado e passou seis meses sem visitar os médicos. Nesse
período, a aposentada foi em busca de tratamento com Seu Valentim. A equipe que atendeu a paciente é composta por mais 60 médicos espirituais de diversas especialidades, como o dr. Adolfo Bezerra de Menezes, mentor do recinto de caridade, que leva seu nome, ginecologista, obstetra e homeopata; o dr. Aguiar Freitas, oncologista; e o dr. Capilé Siqueira Campos, oftalmologista e dentista. Os atendimentos são feitos gratuitamente e a casa se mantém
com doações dos pacientes. A mulher que buscava o tratamento no rim chegou ao Bezerra de Menezes com 30% do órgão funcionando. Seis meses depois de tratamentos com os médicos espirituais, voltou a fazer exames, dessa vez no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), e descobriu que 50% do rim voltara a funcionar. Hoje, ele funciona completamente. “O doutor Aguiar me mandou visitar os médicos físicos. O médico do HRAN ficou admirado com os
Cidades resultados”, conta a aposentada. Agora, ela frequenta o recinto de caridade todas as semanas por gratidão à cura. “Minha filha pergunta por que continuo vindo todos os dias ao Seu Valentim, já que estou curada. Digo a ela que, enquanto eu puder andar e ele viver, eu estarei aqui. Depois de Deus, foram ele e os médicos que me curaram.” Assim como Dona Leonice, milhares de pessoas vão ao Recinto de Caridade Adolfo Bezerra de Menezes, no Setor Sul do Gama, às segundas, quartas e aos sábados. Todos os meses passam por lá cerca de 5 mil pessoas com o objetivo de serem curadas e receber bênçãos. Quem fica grato com o feito se torna voluntário do recinto, passando a ajudar na organização dos atendimentos. Seu Valentim, homem de poucas palavras, esclarece que, para conseguir a cura, também é preciso seguir algumas restrições
alimentares. Não comer pimentão, carne de porco, abacaxi ou ingerir leite e bebidas alcoólicas estão na lista de recomendações. Além disso, o acompanhamento da medicina física é indispensável. “O tratamento terrestre e espiritual caminham juntos”, afirma o pernambucano de Custódia. Tratamentos
Na casa são oferecidos diversos tratamentos divididos por horário de atendimento e gravidade. Os primeiros a serem atendidos são as pessoas com doenças como câncer, fibromialgia, esclerose múltipla e doenças degenerativas, seguidos dos acompanhantes da radioterapia, das pessoas que vão pela primeira vez e da retirada de pontos da cirurgia espiritual. Às 7h, começa a palestra para as pessoas da radioterapia. Ali elas passam por preparação psicológica antes de receber a cura. “Para conseguir você também precisa estar com
Pessoas aguardam atendimento no centro de caridade Adolfo Bezerra de Menezes
o pensamento positivo. Pensamentos negativos atraem coisas ruins”, afirma Cherifa Mohamed, durante a palestra. A cirurgiã plástica também foi curada pela medicina espiritual. Hoje, é “braço direito” de seu Valentim e o auxilia diretamente em todas as tarefas. Após a palestra é o momento de iniciar as cirurgias. As pessoas depositam as esperanças no dr. Aguiar Freitas, o médico espiritual que incorpora em Seu Valentim. O médico italiano, que morreu na 2a Guerra Mundial, é responsável pelo tratamento portadores de câncer. Com uma pinça, mais parecida com uma tesourinha, o oncologista começa as cirurgias. Não há cortes, somente iodo e algodão são utilizados para o tratamento.
Segundo o médico espiritual, todas as doenças podem ser tratadas, inclusive o câncer. “Tudo na vida tem cura, só não tem cura pra morte”, afirma. De acordo com pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde, estima-se que em 2012, serão 520 mil novos casos do câncer no Brasil – muitos dos quais já têm cura. Segundo o oncologista chefe do serviço de oncologia do Hospital Universitário de Brasília, dr. Murilo Buso, existem relatos na literatura de regressão espontânea da doença. Ainda assim, é um percentual pequeno, menos de 2% dos casos. A possibilidade de cura espontânea não é algo em que a medicina aposta, por isso o tratamento é fundamental. Hoje, a quimioterapia, radioterapia Medicina espiritual x ciência e a cirurgia são os tratamentos Um grande número de pessoas oferecidos para o câncer, e para procura Seu Valentim em busca prescrever esses tratamentos de tratamento para o câncer. é necessária uma avaliação rigorosa do tipo de tumor e estágio em que ele se encontra. O oncologista afirma que a medicina não tem condições de confirmar se o tratamento espiritual pode ser bom ou ruim para o paciente, pois ainda não existem estudos com fundamentação teórica sobre o assunto. “Não tenho como criticar e nem dizer que é eficiente, pois não existem estudos sobre isso. Mas talvez os tratamentos não convencionais, como o espiritual, tenham um papel de suporte ao doente.” O médico explica que pacientes com o emocional mais equilibrado têm mais chances de serem curados. “Existem estudos que corroboram que o pensamento positivo ajuda a pessoa a conseguir a cura de doenças. Se a abordagem espiritual ajuda a melhorar a situação psico-comportamental do paciente, é possível que ela traga benefícios”, finaliza.
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Cidades trânsito
Estrada sem fim Construção da pista que liga Ceilândia a Samambaia começou em 2007 e até hoje não foi concluída Foto: Júnior Assis e Percy Souza
Mariana de Deus Alvarenga
As obras da rodovia DF 459, pista de ligação de Ceilândia à Samambaia, devem ser concluídas em breve. Em visita à obra no mês passado, o governador Agnelo Queiroz, juntamente com o vice, Tadeu Filippelli e o diretor-geral do Departamento de Estradas e Rodagens (DER), Fauzi Nacfur Junior previram o prazo final para o fim de maio. A construção, iniciada em 2007, foi paralisada em 2009 por suspeita de superfaturamento, segundo o DER. Em setembro do ano passado, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) constatou, após dois anos de investigação, a ausência de irregularidades e autorizou a continuidade da obra. “Estimamos que cerca A construção da pista que liga Ceilândia a Samambaia, paralisada por suspeita de superfaturamento, deve ser concluida esse ano de 40 mil usuários deverão ser A rodovia tem 2,6 quilômeO órgão disse ainda que engarrafamento na via Estádio beneficiados com essa pista”, – pista entre Ceilândia e Taguatros e começa próximo ao Setor a ponte já havia sido condisse a assessoria do DER. cluída na primeira etapa da tinga. Ela diz que a DF459 se- P Sul, em Ceilândia e segue até obra. Nesta segunda etapa, os ria uma ótima saída para que Samambaia, entre as regiões sul guard-rails (muretas de prote- o tráfego melhorasse. “Acho e norte. Segundo o especialisUma falha é ção) foram instalados, os dois que facilitaria bastante, por- ta em trânsito Arthur Moraes, a a ausência de lados da ponte foram asfal- que teríamos mais uma op- pista pode ser considerada posiciclovias. Isso tados e colocado meio-fio. A ção para chegar à Taguatinga”, tiva porque é uma opção para os desafogaria ainda mais o Companhia Energética de Bra- disse. Ela ressalta que com motoristas que seguem para Tatrânsito e é uma sília (CEB) irá providenciar a menos fluxo de carros por guatinga. No entanto, ele acredimedida para a ali, economizaria tempo para ta que, assim como outras pistas instalação de postes. sustentabilidade. chegar ao seu destino. Porém, do DF, faltou implantar cicloviArthur Moraes Engarrafamento Viviane já perdeu a esperan- as. “Uma falha é a ausência de A estudante Viviane Fernan- ça de que a pista fique pronta ciclovias. Isso desafogaria ainda des, moradora do Setor P Sul, logo. “Essa obra parece não mais o trânsito e é uma medida gasta meia hora no frequente terminar nunca”, comentou. para a sustentabilidade”, opina.
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cidades qualidade de vida
Desigualdade medida em números Allan Virissímo e Letícia Pires
O Distrito Federal é uma unidade atípica da federação. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Brasília possui o maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país (R$ 50.438) e a maior renda salarial média de R$ 2.245, contra R$ 1.116 do Brasil. Também é a primeira em qualidade de vida, conforme levantamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que usa o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aponta o DF como o líder do ranking no país, com 0,874, igual ao da Hungria e superior ao de países como Rússia (0,817) e Uruguai (0,865). Os indicadores, porém, não são motivo de comemoração para todos os brasilienses. Com 93% do PIB vindo do setor de serviços, pagos basicamente por servidores públicos bem remunerados, o DF depende do governo para sobreviver. Apenas 16,8% da força de trabalho local são de servidores, que devido aos altos salários detêm 40,8% da renda. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 1995 e 2008, o coeficiente de Gini do DF, medida utilizada para calcular a desigualdade, aumentou de 0,58 para 0,62. Estes números indicam que, além de não melhorar, a situação pode ter se agravado com o passar dos anos na uni-
Mesmo com indicadores socioeconômicos de primeiro mundo, Brasília não consegue distribuir os bons resultados de modo igualitário entre a população
dade da federação mais desigual do país. O contraste entre o centro da capital e a periferia é resultado da diferença em como o Distrito Federal é representado nas estatísticas. Pelo IBGE, “Brasília” é o conjunto das cidades do DF. Do ponto de vista administrativo, entretanto, Brasília corresponde somente aos 450 km2 do Plano Piloto e sua área rural, o que impacta nos indicadores do IDH. Maria do Socorro Almeida é empregada domestica e vive em Ceilândia. Com uma renda mensal de dois salários mínimos, ela depende de hospitais e escolas do estado. “Os serviços públicos são muito ruins. Até tem posto de saúde, mas ficamos horas
esperando atendimento. Nos hospitais, o que mais a gente vê é um bando de pessoas na fila de espera.” Sobre a segurança, a moradora conta que a situação também é complicada. “Quase não vejo policiais nas ruas”, disse. Raízes históricas
Em entrevista ao UOL, o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, explicou que quando Brasília foi projetada, Juscelino Kubitschek planejava atrair a indústria para o Centro-Oeste. “A partir do governo militar entenderam que essa região seria assentada na agricultura, que não gera empregos e renda suficientes”, explica. Como resultado, criou-se um cenário no qual
o DF se tornou dependente do Fundo Constitucional da União. Para o pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR) da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Jatobá, as desigualdades socioeconômicas no interior do DF se traduzem na forte segregação socioespacial que o caracteriza desde a sua origem. “Além das diferenças de renda per capita, há diferenças na quantidade e qualidade de equipamentos de educação e de saúde que afetam os indicadores de escolaridade e expectativa de vida”, afirma. Isso também acontece do DF em relação à sua periferia metropolitana e desta com as cidades pobres da sua região de influência, como o Entorno. Foto: Ana Carolina Alves
Mesmo com média de IDH alta no DF, qualidade de vida no Plano Piloto é muito diferente das outras cidades
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cidadania solidariedade
Família formada pela doença Foto: Jussara Rodrigues
Fotos: Michelle Brito
A Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista acolhe aproximadamente 180 pessoas que compartilham uma vida com HIV Maycon Fidalgo
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A Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale) acolhe mais de 180 pessoas portadoras do vírus HIV.
do, que era portador de HIV. No entanto, aos 18, descobriu que a ajuda seria para ela: “Ele me passou o vírus. Hoje, sei que há escolhas que nos prejudicam”, resume. “Já estive em quatro fases terminais. Por isso, gosto de ter criado meus filhos aqui. Se acontecer alguma coisa, eles terão ajuda”, conta. A filha mais nova de Cilma tem apenas 15 anos. Adolescente, se rebela com o que está vivendo. A menina é soropositiva e, hoje, não consegue andar e falar, devido a complicações do HIV no cérebro: “Ela está vivendo uma fase revoltada, perdendo aos poucos o movimento. Não consigo tratamento adequado para ela. Sofro pelo estado da minha filha”, lamenta. “Se alguém me falasse que poderia
me dar felicidade, falaria para fazê-la feliz em vez de mim”, revela. Família
Toca a sirene da refeição. As famílias se aglomeram na entrada do refeitório segurando pratos. A palavra é do Pastor, que faz uma breve oração. Depois, ele caminha pesadamente, mancando em direção ao escritório da Fale. Logo ele declara: “Tudo começou com um problema de tosse”. De espírito aventureiro, pretendia desbravar o Brasil e perambulou pelo país, buscando experiências e anseios de um jovem de 22 anos. Em Anápolis, porém, notou que não estava bem. Mesmo sendo usuário de drogas, nunca teve dores no peito. Porém, em 1990, não aguentava de dor: “Pensei
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Quando você olha a expressão do médico falando: ‘deu positivo’, você fica sem chão. Carlos Augusto
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O terreno é pouco iluminado. Dificilmente consegue-se distinguir um amontoado de terra de uma casa. É noite e não há luz na entrada. Há apenas vultos das 28 famílias que têm algo em comum: pelo menos um dos integrantes é soropositivo. Chegando mais perto, percebe-se dois meninos, três meninas e meia dúzia de adultos sentados em uma espécie de meio-fio, perto das casas. Os pequenos correm descalços no imenso terreno vermelho e jogam amarelinha, desenhada por meio de curvas tortuosas com giz branco, quase invisível. Mas as crianças parecem não se importar com alguns riscos falhos. Elas pulam as casas da brincadeira em direção ao céu, sob olhos atentos dos pais. A extensa área tem casas que acolhem de 10 a 12 pessoas. No total, são 180 moradores da Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale). Um deles, a coordenadora Cilma Araújo, 38 anos, vive no terreno há 20: “Não sei como seria minha vida sem a Fale. Na verdade, nem sei se eu estaria viva, moço”. Aos 16, Cilma procurava uma associação para ajudar o mari-
que fosse pneumonia. Mas, sabia que era mais que isso”, conta Carlos Augusto, 55 anos, mais conhecido como Pastor. Voltou para a cidade natal. No morro da Gávea, no Rio de Janeiro, onde morava, pastores presbiterianos o abordaram: “Já não tinha mais nada e tinha alguma coisa errada. Resolvi ouvi-los”. Com ajuda da igreja, foi encaminhado para uma casa de reabilitação, onde descobriu, depois de um tempo fazendo atividades religiosas,
cidadania
Benção
Aos 42 anos, Paula dos Santos sempre tem um sorriso no rosto. Descobriu que é soropositiva há 10 anos e, para ela, coisa melhor não poderia ter
acontecido na vida: “Foi uma o vírus há quase uma década benção”, enfatiza. Mas como nunca senti nada, nem tomei uma doença que tem 608.230 nenhum coquetel”, garante. casos registraViciada em acadedos no Brasil mia, ela malha das 18 Você aprende a se vae impede o às 21h, de segunda à lorizar mais e amar quem corpo de se sexta. Não deixa de está do seu lado. proteger pode lado o cuidado com o Paula dos Santos fazer alguém cabelo. Mantém semfeliz? “Você pre as madeixas loiras, aprende a se sem deixar que a raiz valorizar mais e amar quem apareça. “Aprendi a me amar.” está do seu lado”, responde O namorado de Paula não é soprontamente. ropositivo, mas isso não os imPaula vem de família circen- pediu de ter relação sexual: “É se: trabalhou como assistente simples. Só temos que ter cuide mágico por quase 27 anos. dado com os preservativos”. A saída aconteceu por um imprevisto: o marido, palhaço Surgimento do circo, morreu de complicaA tia Jussara, fundadora da ções derivadas da aids e, antes Fale, é uma mãe. Pelo menos do acontecimento, transmitiu de acordo com Cilma: “Ao meso vírus a ela. Ao contrário dos mo tempo em que ela acolhe e amigos, Paula nunca precisou conversa, estabelece limites tomar remédios e não tem ne- e regras. Ninguém se atreve a nhum problema. “Apesar de ter desrespeitar a tia”.
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que era soropositivo. “Quando você olha a expressão do médico falando: ‘deu positivo’, você fica sem chão.” A resposta foi imediata: saiu, “que nem um louco”, pelas ruas, procurando uma forma de aliviar a dor. Naquele momento tinha certeza da morte. Sem dúvidas do fim que o esperava, Pastor pensou: “Se morrer é certo, vou me drogar mais”. Mas ao sair do convívio religioso e encontrar a Fale, o Pastor refletiu: “Percebi que minha atitude só piorava a situação”. Hoje, criou vínculos difíceis de quebrar: “Sei que tenho uma família e nunca a abandonarei”.
Logo no início, a fraternidade era a casa de Jussara. “Sempre ajudava uma jovem que foi abandonada pela família e precisava de tudo: roupas, abrigo e comida. Porém, isso se expandiu e muitas pessoas começaram a me procurar. Eu oferecia a minha casa como lar”. Ela viu que eles precisariam de um novo local para abrigar os soropositivos. Em Goiânia, a Fale foi criada em 1991 e hoje acolhe cerca de 300 pessoas. “Lá, tudo funciona como em Brasília. Há regras e as pessoas respeitam. Ai delas se isso não acontecer”, brinca. Complicações
Cilma lembra que, apesar de Jussara ter ganhado o terreno do Governo do Distrito Federal (GDF), em 1995, quando a Fale foi fundada em Brasília, eles não têm auxílio governamental e carecem de doações. “Na época das eleições, muitos políticos nos visitam para trazer alimentos e brinquedos para as crianças. Mas ficamos um bom tempo sem contribuições e ajuda financeira.” Jussara lembra que há muita burocracia para eles conseguirem fazer mudanças na estrutura do lugar: “Não temos vínculos com o governo, mas isso não quer dizer que não queremos ajuda. Precisamos de dinheiro para pintar e reformar as casas. O problema é que esse dinheiro só vem em época de eleições”.
Foto: Michelle Brito
SERVIÇO
Carlos Augusto, conhecido como Pastor, recebeu ajuda da igreja e foi encaminhado para uma casa de reabilitação onde descobriu que era soropositivo
Para colaborar com a Fale, ligue no 3331-3556 ou 3273-6249. A fraternidade fica no Recanto das Emas. Endereço: Núcleo Rural Vargem da Benção, Quadra 108, Chácara nº 11.
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cultura carência
À beira do abismo Investimento na cultura e lazer do Plano Piloto é maior do que as demais regiões administrativas do DF de R$ 5 milhões, enquanto em Vicente Pires foram investidos Depois de 52 anos da inau- apenas R$ 5 mil. guração de um dos principais pontos culturais, o Cine BraFilmes e peças sília finalmente terá a primeiCom uma população de mais ra grande reforma este ano. O de dois milhões de habitantes, impacto será sentido em outro o DF tem atualmente 77 salas grande símbolo cultural do DF. de cinema e 15.175 lugares, O Festival de Brasília do Cine- contabilizando 33.285 habitanma Brasileiro, que sempre foi tes por sala de cinema. Só que realizado na maior sala de ci- dos 14 complexos de salas disnema da capital, terá novo des- poníveis para a população, sete tino enquanto as obras não ter- estão localizados no Plano. Em minam: o Teatro Nacional. Taguatinga, apenas dois shopSerão investidos mais de R$ 3 pings disponibilizam 11 salas milhões na reforma, que ainda com 2.039 lugares, para uma não darão conta de demandas população com mais de um antigas como praça de alimen- milhão habitantes, contando tação e salas para aulas e cine- com os moradores de Ceilânclubes. Enquanto o Cine Brasí- dia, Águas Claras e Samamlia ganha cara nova, o resto do baia, que se deslocam para TaDF sofre com a falta de inves- guatinga em busca dos filmes timento e com poucos espa- exibidos nas telonas. ços de cultura e lazer. PesquiCidades como Recanto das sa feita pelo Serviço Brasileiro Emas, Riacho Fundo, Santa de Apoio às Micro e Pequenas Maria e Gama também não Empresas (Sebrae) aponta possuem cinema. As quatro que 53% das pessoas que cos- regiões somam juntas mais de tumam frequentar atividades 500 mil habitantes, que, para culturais moram no Plano Pilo- poder assistir aos filmes, precito. O investimento do Fundo de sam ir para regiões mais próxiApoio à Cultura (FAC) foi, em mas ou para o Plano. 2011, de R$ 35 milhões. No PlaNos últimos seis anos, 37 sano Piloto, o valor superou mais las de cinemas foram fechadas no DF, entre elas algumas que diminuíam esse abismo, como Nos últimos seis anos, as do Gama Shopping e do Jar37 salas de cinema dim Botânico Shopping, resulforam fechadas no DF, tando em uma perda de aproe apenas 17 novas salas ximadamente seis mil lugares. foram inauguradas Apenas 17 novas salas e 3.154 na cidade. lugares foram inaugurados na cidade de 2008 a 2010 – e neLuma Soares
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Enquanto o cinema do Shopping Iguatemi disponibiliza 1.157 lugares, Shopping Top Mall, em Taguatinga Norte (foto), tem apenas 250
nhuma das salas mais novas é fora do Plano. Dados do portal Filme B apontam que em 2011 o público total de espectadores do DF superou a marca de 5 milhões e atingiu bilheteria de mais de R$ 58 milhões. Brasília ficou em terceiro lugar em bilheterias, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. O Plano Piloto liderou o ranking local, seguido por Taguatinga. “Já parou para pensar quantas cidades satélites têm sala de cinema? Mas se pensarmos em termos de DF é ainda mais crítico. Estamos vendo que a cada dia a manutenção de salas vem sofrendo um processo de declive acentuado. Investir na educação visual desde nossos primeiros anos é um excelente começo para criar a relação entre público e cinema. Quando tivermos espec-
tadores com tal estreitamento dentro desse campo, veremos pessoas que lutarão e pressionarão o governo para que haja fomento nessa área”, revela a cineasta Bruna Carolli, que há quatro anos trabalha na área de audiovisual em Brasília. Se a quantidade de salas de cinema é insuficiente para o número de habitantes do DF, a situação das videolocadoras é ainda mais crítica. Para Alexandre Costa, dono de quatro videolocadoras no Plano Piloto e vice-presidente do Sindicato das Empresas Videolocadoras do Distrito Federal (Sindivideo) nos últimos três anos, 80% delas fecharam as portas. Estima-se que em 2012, existam apenas 60 lojas abertas em todo o DF. Alexandre destaca que um dos fatores que vem influenciando o fechamento das videolocadoras é o avanço da inter-
Fotos: Luciana Saade e María Ramasco
Cultura
net e o aumento da pirataria de rua e digital. “Todos os dias uma loja é fechada em Brasília. Muitos cansaram de ficar brigando com a pirataria e fecharam as portas. Acredito que as videolocadoras ainda têm mais algum tempo pela frente, principalmente com o surgimento de novas tecnologias como o Blu-Ray e o 3D, que estão sendo muito procuradas”, afirma. Apesar de o encolhido mercado das videolocadoras ter se tornado restrito às RAs do DF, os teatros, em sua maioria, se acumulam no Plano Piloto, onde 24 deles estão localizados, com 17.879 lugares. Do total de 19.827 lugares oferecidos para a população de Brasília, apenas 1.948 estão distribuídos fora do Plano: em Taguatinga,Ceilândia, Gama, Sobradinho e Cruzeiro. “A gente tem teatro que vai às escolas, nas ruas e em vários ou-
tros lugares. Mas o que recebe atenção da mídia é o teatro que circula no mercado comercial, e o público é a classe média-alta do Plano Piloto”, declara Luana Proença, professora e atriz de teatro. Ela é otimista quanto à amplitude das artes cênicas na capital e defende que “o que está na mídia não é reflexo” do verdadeiro alcance do teatro. João Soares, 58 anos, morador de Ceilândia, sustenta a família com pouco mais de um salário mínimo e nunca teve condições de levar os filhos para passear fora da região. “Gostaria muito que meus filhos conhecessem os espaços culturais de Brasília, mas nas condições em que vivo, é muito difícil. As coisas custam muito caro.” Ele conta que, quando a família quer diversão, fica por ali mesmo. E o problema é justamente esse: “Seria muito bom se aqui tivesse mais opções de cultura e lazer com a mesma qualidade que tem no Plano”. Livros, revistas e jornais
Mesmo com um diversificado número de bibliotecas no DF, o número dos acervos ainda preocupa. Enquanto a Biblioteca de Ceilândia possui 78 mil exemplares, a de Águas Claras tem apenas três mil, para atender uma região que abriga mais de 100 mil moradores. Segundo estatísticas das bibliotecas públicas do DF, das 31 regiões administrativas de Brasília, 26 possuem bibliotecas. Em 2010 foram somados uma média de 520 mil exemplares e 320 mil usuários. Mas, ainda assim, Brazlândia, Santa Maria Sul e Sobradinho II são as regiões que possuem os menores números de acervos em relação às outras cidades. As únicas regiões que ainda não possuem bibliotecas públicas no DF são: Lago Sul, Lago Norte, Sudoeste/
Octogonal,Varjão, Park Way, SCIA, Jardim Botânico, SIA e Vicente Pires. A biblioteca Braille “Dorina Nowill” em Taguatinga, é a única projetada para deficientes visuais em todo DF. Além de o Plano Piloto ter o maior número de salas de cinema e teatros, 50% das livrarias também estão concentradas na região, revela o Sindicato do Comércio Varejista de Material de escritório, Papelaria e Livraria do Distrito Federal (Sindipel). Atualmente 190 livrarias estão distribuídas em Brasília. Planaltina é a única região que possui apenas uma livraria. De acordo com o Sindipel, em Brasília encontram-se 472 papelarias (que também disponibilizam livros didáticos) e 17 lojas do comércio varejista. O costume de comprar livros ainda não foi abandonado pelos brasilienses, mas sair cedo de casa para comprar jornal em uma banca mais próxima tem se tornado algo raro nos últimos anos. As vendas caíram mais de 60% em todo DF, e estão perdendo seu espaço para as novas mídias, principalmente para as assinaturas de jor-
nais pela internet. Segundo o Sindicato do Jornaleiro do Distrito Federal (Sindijor) ainda existem em Brasília aproximadamente 700 bancas de jornais, sendo que 150 estão no Plano. Ceilândia ainda possui 80 bancas, diferente de Santa Maria, que tem apenas três. “As bancas ainda tentam permanecer no mercado incentivando as pessoas a não abandonarem os conteúdos impressos”, afirma Adeigi Abadio Pereira, 50 anos, dono de uma das 15 bancas de jornal da Comercial Norte, em Taguatinga. Adeigi herdou a banca do pai e há 28 anos trabalha como jornaleiro. “As vendas caíram muito, tudo por conta da internet. Minha renda mensal diminuiu 40% nos últimos anos. O que ganho aqui é pouco, mas a necessidade da leitura é muito grande. Acredito que a presença viva das bancas de jornal continua sendo importante para a cultura das pessoas”, declara.
Adeigi trabalha como jornaleiro há 28 anos e acredita que mesmo com o avanço da internet as bancas de jornal continuam sendo importantes para as pessoas
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cultura centenário
no meu pé de serra Para comemorar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, artistas e representantes do forró promovem apresentações ao longo do ano No dia 25 de março os visitantes da Praça Central da Ceilândia puderam assistir a uma série de apresentações de forró feitas em um palco montado em cima de um caminhão. As bandas, formadas por grupos de três ou cinco integrantes, tocavam estilos como o baião, xaxado e xote. O evento foi a primeira edição do projeto “Itinerância Forrozeira”, coordenado pela Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal (ASFORRÓ), e realiza, ao longo do ano, apresentações de bandas de forró Pé de Serra do D. O projeto comemorao centenário de nascimento do músico Luiz Gonzaga, que consolidou o baião como um dos principais gêneros da música popular brasileira. O Pé de Serra é um gênero tradicional e reúne bandas de três ou mais integrantes que tocam os ritmos nordestinos com instrumentos como o triângulo, a sanfona e o pandeiro. Segundo o presidente da ASFORRÓ, Marques Célio, o projeto visa não apenas homenagear o legado de Gonzagão, mas apresentar aos jovens a cultura nordestina e dar espaço às novas bandas junto aos grandes nomes do Forró do Distrito Federal. “Queremos mostrar para os jovens e a sociedade, como o Pé de Serra circulava pelo Brasil afora de forma simples.” A estrutura do projeto conta com um palco montado em cima
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do chamado “pau de arara”, caminhão adaptado para transportar pessoas, bastante utilizado no nordeste. O formato dos shows lembra as antigas apresentações de forró na década de 40. Pistas de dança, praça de alimentação com comidas típicas, lojas de artesanatos e um centro de in-
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Queremos mostrar para os jovens e a sociedade, como o Pé de Serra circulava pelo Brasil afora de forma simples. Marques Célio
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Augusto Soares e Ana Paula Freire
formações sobre Luiz Gonzaga tocado com sua formação origicompletam o espaço itinerante. nal e mantido vivo” explicou. Em defesa do Pé de Serrá Com apresentações previstas A ASFORRÓ foi formada em para todo o ano, a última edição 2006 diante da queda da popu- do “Itinerância Forrozeira” será laridade do estilo musical e da no dia 13 de dezembro, data de criação de outros gêneros mais aniversário de Luiz Gonzaga, e novos, como o Forró eletrônico. dia nacional do forró. Luiz Gonzaga Rocha, conhecido como Luizão do Forró, é instrumentalista filiado e explica que a missão da entidade não é se SERVIÇO A próxima edição do opor às mudanças. “Minha forItinerância Forrozeira está mação é Pé de Serra, não tenho prevista para o mês de junho nada contra os outros, mas não na cidade de Samambaia. Para tenho pretensão de trocar. Não mais informações acessem: queremos voltar ao passado, só http://www.asforrodf.com.br queremos que o Pé de Serra seja
Ilustração: Hugo Araújo e Jéssica Paulino
comportamento serviço Foto: Alana Leticia
A amizade que surge no trabalho Uma relação de confiança, respeito e tempo são o segredo para secretárias do lar e patroas terem bom relacionamento
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Em 27 de abril, as “empreguetes” mais famosas do Brasil, Cida, Penha e Rosário, comemoraram com as empregadas domésticas de todo o país o Dia Nacional do Trabalhador Doméstico, voltado para trabalhadores que prestam serviços contínuos sem gerar lucro ao empregador. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2009 mostram que, no Brasil, uma em cada cinco mulheres da população economicamente ativa é trabalhadora doméstica. De acordo com o sindicato da categoria, no Distrito Federal existem 110 mil empregadas domésticas. Maria de Fátima de Souza, 29 anos, trabalhou 11 anos na casa de Maria Paula Andrade. Após um ano de serviço, Fátima foi morar durante dois anos no Rio de Janeiro. Quando retornou a Brasília com o intuito de voltar para o Maranhão, sua terra natal, recebeu da ex-patroa a proposta para voltar a trabalhar na casa dela. Fátima não hesitou. “Não era tratada como uma empregada, eles falavam que eu era da fa-
mília. Sempre recebia muitos presentes, inclusive no dia No nono mês de gestação, Fátima agora cuida da própria casa do meu aniversário”, explicou. Troca de papéis Fafá, como Fátima é conheciTodo esse envolvimento entre da, está grávida de nove meses e decidiu se desligar do empre- empregada e família tem uma go para acompanhar o primeiro explicação. A psicóloga Rosarita ano de vida do bebê. Ela espe- Medeiros esclarece que a vida ra que essa saída para ganhar moderna faz com que as muo bebê seja temporária, e que lheres assumam mais tarefas. “A logo volte a trabalhar com a fa- mulher, hoje em dia, desempemília. “Estou pensando em ficar nha uma gama de ocupações e um ano em casa cuidando do às vezes não sobra tempo para bebê. Mas volto a trabalhar com exercer papéis típicos da família, ela, se ela não tiver arrumado como levar o filho à escola ou à natação. Essas responsabilidaoutra”, brinca. des são transferidas para as secretárias do lar.” Esse fator era visível no relaO tempo é fundamencionamento entre Fátima e os tal para desenvolver um filhos da patroa. Paula Andravínculo de confiança e de, que é produtora, conta que amizade entre patrões e ficava tranquila quando deixaempregadas. A relação é va os filhos em casa com a emparecida com a amizade, pregada. Para a patroa, cuidar apenas com o tempo sadas crianças era o que ela fazia bemos se ela é verdadeira. de melhor no serviço. “Sempre Rosarita Medeiros confiei em deixar a Fafá com os meus filhos. Ela sempre os tratou com muito bem.”
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Eu não era tratada como uma empregada, eles falavam que eu era da família. Sempre recebia muitos presentes, inclusive no dia do meu aniversário. Fátima Souza
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Lane Barreto
Rosarita diz que para um bom relacionamento entre secretárias e patroas, o tempo é fator determinante. “O tempo é fundamental para desenvolver um vínculo de confiança e amizade entre patrões e empregadas. A relação é parecida com a amizade, apenas com o tempo sabemos se ela é verdadeira.” Para Fafá, uma das razões para a relação com a família ter sido tão duradoura, com certeza, foi a existência de um diálogo aberto entre todos. “Eu e a Paula nunca brigamos. Se existia algum mal entendido, nós sentávamos e conversávamos.”
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economia copa 2014
Um evento cheio de incertezas
Mercado de trabalho e projetos do Mundial no país geram controvérsias entre população, especialistas e governo Jônathas Oliveira
Passados 64 anos, a população brasileira receberá novamente o maior evento de futebol do mundo. O fato para muitos é motivo de orgulho, enquanto para outros a preocupação freia a euforia. De um lado do campo estão as pro-
postas de melhorias na infraestrutura, mobilidade urbana, segurança, educação e saúde. O adversário é a insegurança da utilização do dinheiro público, aliada à preocupação de as mudanças não serem mantidas a longo prazo. Soma-se a isso o receio de o país abrigar estádios paralisados ou com pouca
utilização depois da Copa*. As duas visões sobre o impacto do Mundial de futebol no Brasil ganharam força em 2010, com o fim da Copa na África do Sul. A empresa Ernst & Young Terco, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizou estudo* no primeiro semestre do Mundial anterior,
indicando que a Copa de 2014 irá multiplicar os investimentos diretos realizados no país da seleção canarinha, injetando R$142,39 bilhões na economia. Apesar dos números positivos, o economista e secretário-geral da organização não-governamental Contas Abertas, Gil Castello Branco, acredita que o Fotos: Christian Kelly
O técnico em segurança do trabalho, Silas Alves, não receberá benefícios para os jogos da Copa mesmo trabalhando na obra do Estádio Nacional de Brasília
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economia dio, mas não sei se Estratégicos e Negócios Invou ter condições ternacionais da Secretaria de financeiras para as- Desenvolvimento Econômico sistir às partidas. É do DF (Subinter/SDE), Apouma situação com- linário Rebelo. “Esperamos plicada”, relata. receber aproximadamente 60 Em contrapar- mil turistas, o que mobiliza o tida às críticas de governo a buscar qualificação Silas, o número profissional para setores de de empregos na atendimento médico, hoteárea industrial e laria e gastronomia.” A espede construção civil rança é fornecer de 7 a 10 mil deve aumentar. A vagas para novos serviços. O equipe do Artefato valor máximo de lotações é o entrou em conta- mesmo que o GDF espera de to, por telefone e pessoas a aderir o Qualificopa. e-mail, com a as- Até agora, o programa conta sessoria de comu- com a conclusão de 2 mil curnicação do Sistema sos profissionalizantes. de Federação das O sub-secretário da Subinter, Apolinário Rabelo, está Indústrias do DF Regiões Administrativas otimista com a realização da Copa do Mundo em Brasília (Fibra). A entidade Apolinário Rebelo acredita legado positivo deveria ser efe- aposta as fichas do crescimento que ainda é cedo para avaliar tivado sem depender do evento. econômico nas novas propostas os impactos da Copa nas Re“Os investimentos que ocorrem de trabalho que a Copa oferece- giões Administrativas (RAs) do nas capitais do país já deveriam rá. Com isso, a participação da DF. “Precisamos saber onde as ter sido feitos há muito tempo. indústria no Produto Interno seleções dos países serão instaO fato de acontecerem somente Bruto (PIB) do DF, que atual- ladas, além de fornecer a elas às vésperas da Copa do Mundo mente é de 10,2%, tem proje- áreas de treinamento. Esse fagera sensação de incerteza so- ção de ser elevada para 15% tor irá mobilizar a economia e bre como será tudo depois que até 2015. O programa Qualifi- o turismo, portanto, cada local os turistas partirem. A Copa tem copa, implementado pelo GDF precisa estar preparado para chances de dar certo, mas acre- para capacitar o mercado de ser bom anfitrião. A ideia do dito que o governo pensou mais trabalho com sete cursos di- Qualificopa é auxiliar a prepacom o coração do que com a ra- ferentes, é um dos fatores que ração dessas RAs”, explica o irzão para trazê-la até aqui”, afir- animam as estimativas do se- mão do ministro dos Esportes. Se a intenção de capacima Castello Branco. tor industrial. O pensamento positivo tar profissionais do DF para E na capital? também é seguido pelo sub- a Copa é boa, o mesmo não O Distrito Federal está nes- secretário de Investimentos pode ser dito das aulas minisse jogo de incertezas sobre os efeitos positivos e negativos que a Copa oferece. Silas de AraúSaiba mAIS jo Alves, 24 anos, é técnico em segurança do trabalho na construção do Estádio Nacional de * O valor das ações previstas para a Copa está em: R$1.857.700.000,00. Brasília. Apesar de trabalhar Para mais informações, confira o site de transparência da Controladoria diretamente na obra de maior Geral da União (CGU) impacto do Governo do Distrito www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/brasilia/ Federal (GDF), Silas conta que até o momento os operários * O estudo “Brasil Sustentável – Impactos socioeconômicos da Copa do não receberam benefícios para Mundo 2014” está disponível no Blog do Artefato. os jogos do Mundial, “Não exisAcesse: www.artefatoucb.blogspot.com te promoção de ingressos dos jogos para a gente. É legal saber que estamos levantando o está-
tradas no curso de Auxiliar Administrativo do Qualificopa. A crítica é da supervisora da escola de idiomas Wizard de Taguatinga Norte, Ranyele Lílian Lima, 24 anos. Ela tomou conhecimento do curso por meio de jornais e se inscreveu. A profissionalização durou um mês, com quatro horas diárias de segunda à sexta, e decepcionou. “Considerei o curso fraco e acho que perdi tempo. As aulas, a passagem, lanches e seguro de vida no período de capacitação eram gratuitos, mas os professores não eram qualificados”, reclama. Além disso, a estudante de Recursos Humanos alega: “Com certeza, as pessoas que eram da minha sala não gostaram do que fizeram. Terminei o curso no fim de outubro, mas recebi certificado apenas em fevereiro”, desabafa. Em entrevista ao Artefato, o administrador de Taguatinga, uma das maiores e mais antigas RAs do DF, Carlos Alberto Jales, explica que, com a vinda da Copa do Mundo, “não há como observar apenas o crescimento econômico de Taguatinga. O evento impacta todo o país por meio das capitais, se alastrando para as cidades ao redor”. O administrador cita a mobilidade urbana como maior benefício para a região, a exemplo da polêmica Faixa Exclusiva na via Estrada Parque Taguatinga (EPTG), que liga a RA III até Brasília. “Os efeitos serão observados a longo prazo, de modo que a conscientização das pessoas será a maior engrenagem do processo. Existem negociações com as empresas de ônibus para fornecer transporte de qualidade. O objetivo é reduzir o número de carros, amenizando o trânsito caótico para antes, durante e depois da Copa de 2014”, complementa Jales.
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política comunicação
Hora de criança ir pra cama A classificação indicativa é censura? Essa é apenas uma das polêmicas do tema
Mariana de Ávila
O selo colorido que aparece no início de programas televisivos há tempos alimenta debates públicos. Trata-se da classificação indicativa. De um lado, existem os grupos que defendem a iniciativa; de outro, aqueles que chegam a dizer até mesmo que é um ato de censura. A polêmica voltou para as rodas de discussão no ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou o julgamento de uma ação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O processo ganhou força, graças, em parte, ao pedido de amicus curiae da Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão (Abert). O STF deve bater o martelo ainda em 2012. O termo em latim significa “amigo da corte” e indica que pessoas, entidades e órgãos podem atuar como interessados no debate e servir como fontes. A ação do PTB, de 2001, não critica diretamente a classificação indicativa, mas sim o artigo 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que considera
Símbolo Classificação Indicativa
L
Livre
Características
Horário de exibição
Crianças e adolescentes não são expostos a conteúdos muito prejudiciais
Exibição em qualquer horário
10
Não recomendado para menores de 10 anos
Já pode aparecer um pouco de violência e linguagem pesada, mas a intensidade ainda é pouca
12
Não recomendado para menores de 12 anos
Já podem aparecer agressão física, consumo de drogas e insinuação sexual
Exibição a partir das 20h
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Não recomendado para menores de 14 anos
O conteúdo violento e a linguagem sexual são acentuados
Exibição a partir das 21h
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Não recomendado para menores de 16 anos
Conteúdos sexuais e violentos mais intensos
Exibição a partir das 22h
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Não recomendado para menores de 18 anos
Conteúdos violentos e sexuais extremos, que se repetem durante a obra
Exibição a partir das 23h
Exibição em qualquer horário
infração transmitir uma obra fora do horário autorizado ou sem o aviso da classificação – daí a polêmica com os selinhos coloridos. A pena prevista no ECA para quem infringir esse artigo é multa de cem salários mínimo. Em caso de reincidência, a programação da emissora pode ser suspensa por até dois dias. “O PTB não é contra a classificação indicativa, mas, sim, contra a punibilidade que o não cumprimento dessa classificação pode acarretar”, explica o advogado do partido Luiz Gustavo Pereira. Outra polêmica que rodeia o debate envolve o papel do Estado na educação de crianças e adolescentes. “O PTB entende que não cabe ao Estado essa
Exemplo
Discussão histórica
Provão MTV Emissora: MTV
Maria do Bairro Emissora: SBT
Avenida Brasil Emissora: Rede Globo
Pânico na Band Emissora: Band
Reality UFC em busca de campeões Emissora: Rede Globo
Do outro lado da questão* Emissora: Band
*O filme foi exibido no Cine Privê
Ilustração:Flávia Fonseca
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função, e sim aos pais, à família tutelar isso”, explica Luiz Gustavo. No Supremo, a ação foi parar nas mãos do ministro José Antônio Dias Toffoli. Ao declarar o voto, o ministro relator defendeu a posição do partido: argumentou que o Estado não deve atuar como protagonista na escolha do que deve ou não ser veiculado em determinado horário da televisão. O placar do julgamento já estava em 4 a 0 a favor da ação do PTB. No entanto, a decisão precisou ser adiada porque o ministro Joaquim Barbosa pediu vista, ou seja: um tempo maior pra analisar a papelada do processo. De acordo com a assessoria do ministro, a ação ainda está sendo analisada. O prazo regulamentar para pedidos de vista no STF é de 20 dias, e o ministro tem de pedir à Corte permissão para analisar por mais tempo. O debate é antigo. A classificação indicativa foi estabelecida em 1988, com a Constituição Federal. No entanto, só foi colocada em prática em 2000, por meio de uma portaria assinada pelo então ministro da Justiça José Gregori. Pouco tempo depois, foi suspensa por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Atualmente, existem duas formas para se fazer a classificação indicativa: a autoclassificação e a análise prévia. O primeiro caso é destinado à TV aberta e à TV por assinatura. A emis-
política
Adequação na obra
Foto: Nayara de Andrade
A polêmica da classificação indicativa envolve, principalmente, a questão da censura. De acordo com Alessandra Macedo, o ministério não tem nenhuma interferência sobre o conteúdo produzido pela emissora. “O máximo que pode acontecer é uma obra ser classificada como não recomendada para menores de 18 anos”, comenta. Quando uma emissora quiser que uma obra que recebeu classificação indicativa de 16 anos seja exibida às 14h, deve fazer adequação da obra, editar e enviar para o Ministério da Justiça analisar se o conteúdo está dentro dos critérios de 10 anos, por exemplo. “A gente não tem poder de cortar absolutamente nada”, afirma Alessandra. Sobre o cinema, ela garante: “Nenhuma criança ou adolescente é proibido de entrar no cinema para ver um filme de faixa etária superior à dele, desde que esteja acompanhado dos pais”. Para Alessandra, caso a ação do PTB em julgamento no STF saia vitoriosa, a política de classificação vai perder a eficácia. A justificativa de que o controle remoto está a uma esticada de braço não é suficiente
Para Daniella Rocha, a classificação indicativa consegue harmonizar liberdade de expressão com proteção da infância
sora inscreve um processo no Ministério da Justiça, envia a sinopse do programa e manda a classificação que acha que a obra deve receber. Depois da estreia do programa, o MJ tem até 60 dias para aceitar ou rejeitar a classificação. Para jogos e filmes no cinema e DVD funciona a análise prévia. Uma equipe multidisciplinar, de 30 pessoas, é responsável por assistir à obra, fazer o relatório e decidir o horário. A classificação é feita com base em três critérios: sexo, drogas e violência. Além disso, dois indicadores são levados em conta: fatores atenuantes e agravantes. Alessandra Macedo, coordenadora da Clas-
sificação Indicativa do Ministério da Justiça, explica que uma obra é analisada levando em consideração o contexto e não uma cena isolada – a não ser que a cena seja extremamente violenta e impactante. “Nesse contexto, existem atenuantes e agravantes. Aparece droga, mas existe o contraponto de que a droga faz mal, prejudica a vida, a saúde. Isso é atenuante. Se aparece um assassinato, o assassino se der bem ou se for o mocinho ou o cara com quem o telespectador vai se identificar, e não for punido, isso pode ser considerado agravante”, explica Alessandra.
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Nenhuma criança ou adolescente é proibido de entrar no cinema para ver um filme de faixa etária superior à dele, desde que esteja acompanhado dos pais. Alessandra Macedo
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Em março deste ano, o Ministério da Justiça lançou a campanha Não se engane. “O objetivo principal é atingir os pais. É alertá-los que os filhos, estando expostos à TV e a conteúdos inapropriados, podem copiar ao que assistiu na televisão”, completa.
para convencer os defensores da classificação indicativa de que é possível mudar de canal. “A gente fala que a classificação indicativa é uma das políticas públicas mais interessantes que o Brasil tem, porque consegue harmonizar, de forma muito eficiente, a liberdade de expressão com a proteção da infância”, comenta Daniela Rocha, coordenadora de políticas públicas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). O integrante do Coletivo Brasil de Comunicação (Intervozes) compartilha da opinião de Daniela, e acrescenta: “Em nenhum momento o conteúdo está sendo censurado. Só está sendo determinado em qual horário pode ser exibido”. Reclassificação
• Novela Corações Feridos. A classificação que tinha o selo de 10 anos passou a ser não recomendada para menores de 12 anos. • Minissérie Rei Davi. De não recomendada para menores de 14 anos passou a não ser recomendada para menores de 10. • Em 2011, de 5600 obras, 48 foram reclassificadas pelo Ministério da Justiça.
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esporte
atletismo
Correr é o melhor remédio
Idosos participam de corridas internacionais e se tornam atletas amadores Fotos: Rick Astley
Natália Oliveira e Rick Astley
Eles têm folego de sobra. Há quatro anos o grupo de idosos Seminovos já participou de várias corridas no Brasil e no mundo. Essa união já rendeu até hino. “É bom de praia, é bom de trilha e bom de rua, o Seminovos pode até chegar à lua”. É com este entusiasmo que 10 idosos se encontram todas as terças, quintas e domingos às 7h da manhã no Parque da Cidade. As segundas e quartas seguem para a Universidade de Brasília (UnB) onde praticam musculação e treinam na pista de corrida do Centro Olímpico. Eles já participaram de provas internacionais em Caracas, Santiago, Assunção, Punta Del Leste, Paris e Lima. De acordo com a aposentada Severina Lupercinio, 62 anos, cada um arca com os próprios gastos. Ela já participou de mais de 100 corridas e 18 maratonas. “Em abril de 2007 fiz minha primeira viagem internacional, fui correr a Maratona Internacional de Paris. A largada foi no Largo do Triunfo e passou pelos pontos mais bonitos da cidade. Foi uma aventura, completei a prova. Foi muito bonito”, conta Severina. Segundo a Professora Cláudia Beatriz Santos, que faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos (GEPAFI), o treinamento do Seminovos é baseado em aulas de musculação e exercícios específicos. O objetivo é a manutenção e melhora das capacidades físicas de cada um. “As atividades ajudam ao idoso a descobrir formas para se manter autônomo e ter autocontrole, mesmo com a presença de alguma limitação física”. Para professora de Educação Física da Universidade Católica de Brasília (UCB), Gislane Ferreira
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quentadas por mais de 100 alunos acima dos 50 anos. Em 2006 o projeto foi encerrado porque a empresa de telefonia decidiu acabar com o patrocínio para cortar gastos e a UnB acabou retirando os professores por falta de recursos. Mas um grupo de 22 alunos decidiu dar continuidade as atividades por conta própria, e assim surgiu o Seminovos. Eles começaram a intensificar as caminhadas praticadas no parque, avançaram para a modalidade trote leve e um ano após o início do projeto eles participaram da primeira corrida. A primeira prova com 5 km foi da Ermida Dom Bosco, no mesmo ano também fizeram a prova do Pão de Açúcar de 10 km e alguns participaram da São Silvestre.
Atletas do grupo de corrida Seminovos treinam no Parque da Cidade
de Melo, a prática de atividade física traz outras melhorias além do condicionamento físico. O convívio social que esse grupo tem no esporte, melhora a autoestima, diminui a ansiedade, o estresse e a chance de algum deles ter depressão. Severina concorda com a professora: “o maior ganho não é troféu, nem o peso mais baixo. O ganho é o bem estar emocional, o bom humor, além do grupo social e as amizades que a gente faz”, revela a aposentada. História O grupo foi formado em 2003 a partir de uma parceria entre uma empresa de telefonia e a Universidade de Brasília (UnB). O objetivo do projeto era melhorar a qualidade de vida de idosos pela prática de exercícios como Tai-shi-shuan, yoga, caminhada e dança de salão. Todas as atividades eram praticadas no Parque da Cidade e fre- Severina Lupercino, 62 anos, sempre faz alongamentos antes dos treinos
Saúde alimentação
Brasileirinhos mais gordos O número de crianças acima do peso, no Brasil, está sete vezes maior do que na década de 70 Alessandra Santos e Rodrigo Gantois
Em 39 anos, o índice de jovens de 10 a 19 anos com excesso de peso passou de 3,7%, em 1970, para 21,7%, em 2009. Os dados são da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada entre 2008 e 2009, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números apontam ainda que uma em cada três crianças com idade entre 5 e 9 anos estão com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. São, ao todo, 523.929 crianças e 136.631 adolescentes com obesidade grave no país. Letícia Noemi, de apenas 10 anos, faz parte desse índice. A mãe, Sônia Maria Roma, percebeu que a filha ficava cansada muito rápido, até ao fazer uma simples caminhada. Ao procurar um médico, soube que a situação era bem pior. “Descobri que ela estava com colesterol elevado, era pré-disposta a ter diabetes e estava acima do peso.” De acordo com a nutricionista Adriana Freitas, a principal causa da obesidade infantil é a má alimentação aliada ao sedentarismo. Ela ressalta que essa consequência é também culpa dos pais. “Com certeza os pais influenciam, oferecendo desde cedo refrigerantes, balas e doces.” Na vida de Letícia, a mudança de rotina foi imediata. Sônia
colesterol e glicêmicas muito altas, e isso não é bom. O ideal é que essa criança seja levada desde cedo para fazer exames e ter acompanhamentos médicos. Com isso, pode evitar problemas na fase adulta.” Para o médico, a criança acima do peso precisa de acompanhamento multidisciplinar, com pediatra, cardiologista, nutricionista, psicólogo e educador físico. Além de reeducação alimentar e prática de atividades físicas. “O obeso tem chance enorme de ter problemas como arteriosclerose, mas Na busca pelo peso ideal, crianças têm que adotar uma alimentação saudável se a criança praticar atividades conta que alterou a alimentação mento excessivo de peso. “Ela físicas desde cedo, essas chances diminuem.” de toda a família. Passaram a comia mesmo sem ter fome.” Letícia agora está com o colescomer em menos quantidade e Combate à obesidade alimentos mais saudáveis. “En- terol controlado, já emagreceu e O Programa Saúde na Escoquanto todos os meus colegas saiu da faixa de obesidade. “Cola (PSE), lançado em setemda escola comiam doces e sal- memos em média duas porções gados, eu levava sanduíche na- diárias de frutas e verduras. Foi bro de 2008, é resultado de tural. Achava muito estranho, com ela que toda a família mu- parceria entre os ministérios mas agora já me acostumei e até dou o hábito alimentar, porque da Saúde e da Educação, que percebemos que não adianta visa promover ações de pregosto”, disse. Além de fazer acompanha- fazer dietas, temos que nos ree- venção. De acordo com o MS, mento nutricional, psicológico ducar. Letícia foi apenas um in- um quinto da população infantil do país sofre de obesidae com o endocrinologista, agora centivo para começarmos.” de infantil, por isso, o prograLetícia pratica balé para ajudar ma tem como tema deste ano Acompanhamento do começo na perda de peso. A mãe conta Na opinião do cardiologista a Prevenção da Obesidade na que inicialmente houve dificuldade de adaptação. “No começo Ronaldo Benford, uma criança Infância e Adolescência. A quantidade de crianças de ela me enganava. Em vez de co- obesa provavelmente será um mer o lanche que eu mandava, adulto obeso. Ele explica que, 5 a 9 anos com excesso de peso comia doces e outras besteiras ao contrário do pensamento é de 34,8% de meninos e, de dos colegas de escola. Mas ela popular, bebê ou criança mui- meninas, é de 32%. Já a quanfoi percebendo que aquilo só a to gordinha não é sempre si- tidade de adolescentes (de 10 a prejudicava e agora aceita a sua nônimo de saúde. “Temos que 19 anos) com excesso de peso alimentação”. Sônia diz ainda deixar claro que uma criança é, atualmente, de 21,7% para que a ansiedade era um dos fa- bem gorda, na verdade, tem a o público masculino e 19,4% tores que influenciavam no au- possibilidade de ter as taxas de para o público feminino. Foto: Samita Barbosa
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Saúde nutrição
O importante é comer bem Monalisa Santos
Assim como o assunto da prova, a alimentação também deve estar ligada ao plano de estudos do concurseiro. A ansiedade e preocupação com o dia do “vamos ver” não podem servir de desculpa para o candidato não se alimentar direito e correr o risco de passar mal na hora da prova. “Não existe nenhum tipo de alimento que possa acelerar o processo de conhecimento ou ajudar na fixação do conteúdo, porém uma boa alimentação pode sim propiciar melhor rendimento”, explica o nutricionista Marcus Cerqueira, diretor do curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB). O professor Ernani Pimentel, especialista em alimentação oriental e presidente da Vestconcursos, aconselha que na hora de estudar, é importante não comer exageradamente. “Mantenha um pouco de fome, ou seja, coma menos. Procure não ingerir carne e comida gordurosa, principalmente a carne
vermelha, por conter muitas toxinas”, esclarece. Pimentel diz ainda que não é bom estudar com o estômago cheio, pois o sangue utilizado para fazer a digestão é o mesmo que oxigena o cérebro. Se a circulação estiver muito concentrada na digestão, pode atrapalhar e atrasar o processamento das informações. “Antes de fazer a prova da Polícia Federal, fui almoçar em uma churrascaria e achei melhor não exagerar no tamanho do prato, porque seu eu chegasse com o estômago muito cheio para fazer o concurso, não conseguiria me concentrar direito”, diz o concurseiro Thiago Honório. Remédios “mágicos” Pensando justamente em melhorar a fixação do conteúdo, muitos estudantes acabam apelando para o uso de remédios capazes de ajudar na memorização. Para o nutricionista Marcus Cerqueira, os estimulantes só fazem com que o cérebro fique mais ativado e não favorecem a memória.
Alimentação correta pode melhorar o rendimento na hora de estudar para concursos Foto: Altieres Losan Foto: Altieres Losan
Ao contrário do que muitos pensam, o uso de remédios ou energéticos não traz a concentração esperada, diz especialista
Ernani Pimentel completa. “Conforme a alimentação oriental, remédio já é erro. Se você se alimenta bem, o organismo já está equilibrado e não tem doença. Doença é desequilíbrio. Portanto, a alimentação correta suprime qualquer tipo de remédio.” No caso daqueles que gostam de passar a noite estudando, a melhor opção seria o uso de alternati-
vas naturais, como a ingestão, sem exagero, do pó de guaraná. Ainda assim, cuidado: médicos garantem que estudar na madrugada não é uma boa opção, porque depois de um longo dia ativado, o cérebro já não consegue absorver tão bem as informações. O melhor é ter uma boa noite de sono e programarse bem para estudar em horário mais confortável.
E no dia da prova? •
Se você vai fazer a prova de manhã é importante ter um bom café com carboidratos complexos, como pão e bolo.
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Se a prova é à tarde, não pule o almoço e coma também alimentos do mesmo grupo, como macarrão e lasanha, em quantidade que já está acostumado, pois metade do sangue vai para o cérebro e metade, fazer a digestão.
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Enquanto estiver fazendo a prova, opte por alimentos leves como frutas e água para se manter hidratado; o chocolate também é bom, pois faz parte do grupo de carboidratos simples, que servem de estimulantes para o corpo e são rapidamente absorvidos pelo organismo.
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Evite bebidas gaseificadas, pois podem causar desconfortos.
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Saúde exercícios
Circo como fonte de diversão e saúde De forma lúdica, as atividades contribuem para o desenvolvimento dos músculos e do cérebro Fotos: Janine Martins
Tuane Dias
Exercícios em tecidos, malabarismo, acrobacias aéreas e de solo. Esta lista de atividades não fazem apenas parte de uma apresentação circense, fazem também parte de uma atividade nova que apareceu no mercado fitness do Distrito Federal e virou alternativa para quem não deseja frequentar as academias de ginástica tradicionais. As aulas de circo podem proporcionar aos alunos maior flexibilidade, concentração e coordenação motora. “Cada aluno é tratado individualmente no desenvolvimento das suas habilidades, sempre sendo respeitados os limites físicos, psicológicos e ritmo pessoal. Uma turma pode ter, ao mesmo tempo, alunos de várias idades”. É o que explica a professora de aula circense da academia Aginoc, Tallyta Torres. Apaixonada pela prática desde os 13 anos, ela alega que qualquer pessoa a partir dos sete anos pode realizar atividades. As atividades circenses podem substituir exercícios can-
SERVIÇO Os interessados em praticar atividades circenses podem entrar em contato com: Academia Aginoc SHC/AOS 6/8 Conjunto B, Lote 3 Octogonal Informações: 3234-7256 Teatro Mapati SHCGN 707 Bloco K, Casa 5 Asa Norte Informações: 3347-3920
No tecido, as alunas usam de flexibilidade e leveza para executar movimentos acrobáticos que exigem prática
sativos e rotineiros de uma academia tradicional. “Eu entrei na academia para realizar outros tipos de exercício, e depois da aula experimental me apaixonei”. Afirma Leticia Lebedeff Rocha, 17 anos. Luz, cores e muita diversão são elementos que não podem
Momentos importantes das aulas são destinados ao alongamento. A flexibilidade e a força são essenciais para práticas circenses
faltar nas aulas de acrobacia aérea. Para ter uma vida saudável é importante a preocupação com o corpo e com a mente. As aulas de circo duram em média duas horas. Contam com um reforçado alongamento, exercícios preparatórios e específicos. A atividade proporciona momentos relaxantes e trabalha o condicionamento da mente. De acordo com o ortopedista do Hospital Santa Luzia, dr. Edgar Alves de Alencar Junior as aulas de circo podem proporcionar benefícios importantes e que contribuem para melhor qualidade de vida. “As aulas exigem treinos e alongamentos intensos, o que gera um fortalecimento muscular, protegendo as articulações e sustentando melhor a coluna”, explica o médico. Com todo o esforço realizado
Escola Circo Criativo Qnd 38 Lt 38/40 Taguatinga Informações: 3354-5537 no período de aula, os alunos conseguem alcançar objetivos além do esperado, seja ele emagrecer ou tonificar o corpo. Segundo Jade Araújo, 24 anos, os motivos são inúmeros para a realização dessa atividade. “Mesmo com toda a correria do meu dia, eu não deixo de participar. Por um tempo me afastei mais não resisti e voltei. As aulas me proporcionaram um condicionamento físico muito bom, além de muita flexibilidade”. Para realizar qualquer tipo de atividade física é preciso ter atenção e muita responsabilidade. “Quanto mais movimentos, maior será a lubrificação e a nutrição, tanto de cartilagem, quanto de tendões. Qualquer movimento anatomicamente correto traz benefícios”, concluí dr. Edgar.
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saideira
Dicionário irreverente sobre Brasília O Artefato entrevistou o autor do livro O bê-ábá de Brasília: dicionário de coisas e palavras da capital, que reúne 884 verbetes em 91 páginas. Com pitadas de humor, o baiano de leve sotaque relata sob sua ótica peculiaridades da nossa cultura e, como ele mesmo diz: “o que é e o que não é, por B + A, esse tal de bê-á-bá”.
estranhamento com lugares e gí- Existem coisas que se repetem rias brasilienses o motivou a es- em vários lugares. Piriguete, por exemplo, é um termo que nasceu Marcelo Torres é jornalista, crever o divertido glossário. provavelmente na Bahia, mas é cronista, já foi professor, juiz de Artefato - Qual foi o seu maior muito usado aqui. O nome parfutebol, e atualmente é funcionário público. Quando perguntado estranhamento quando chegou dal é falado em pelo menos 10 estados brasileiros, mas nasceu por que escolheu a capital para a Brasília? Marcelo – Localização e endeaqui porque os primeiros apareviver, ele rebate: “Brasília que me escolheu”. Foi *asanortista e já reços. Quem é de fora está habi- lhos foram instalados em Brasímorou em *Taguá, a cidade mais tuado a ruas com nomes de pes- lia. Esse apelido foi colocado pelo brasileira do DF, segundo ele. Seu soas. Passei por uma situação motorista do diretor do Detran, engraçada, visitei uma conter- genuinamente brasiliense. Quero rânea que mora na 309. Quando explicar que essas palavras não Foto: Joe Fonseca fui visitá-la passei pela 209 e caí são exclusivas de Brasília, mas para a 409. Perdido, liguei e ela são típicas daqui. Zebrinha, parme explicou que eu estava no eixinho de baixo, nas quadras Em 1991, na Bahia, pares, e que era para ir para o um amigo fez um dicioeixinho de cima para as ímpanário de baianês. Como res. Aí eu pensei: mas 209 não é sou curioso, vi que falpar, é ímpar! Até entender que o tava um dicionário de primeiro dígito é par foi uma trebrasiliense em Brasília. menda confusão. Marcelo Torres Artefato – E a cultura brasiliense? Marcelo - É a cultura brasileira, dal, tesourinha, L2, Asa Sul, eixão não existe uma identidade nasci- e eixinho só existem aqui. da aqui, mas existe uma identiArtefato - Você fez pós-gradudade de cada canto do país, cada ação na Universidade Católica estado está representado aqui. de Brasília, e o prefácio do seu Artefato – O que te incentivou livro foi escrito pelo professor a escrever o dicionário? da UCB Luiz Carlos Lasbeck. Marcelo - Pela minha experi- Como foi essa experiência? ência pessoal e pelo fato de esMarcelo – O professor foi meu tranhar determinados nomes, colega no banco, soube por ele palavras e expressões. Se eu mo- do curso de Gestão da Comunirasse no Rio ou em São Paulo, cação. Quando mandei uma précertamente iria juntar termos e via do livro, ele levou para sala de palavras de lá. aula e alunos fizeram sugestões Artefato – Defina o bê-á-bá de de nomes. Entrei na comunidade Brasília por A+B. dos alunos da Católica no Orkut e Marcelo – Se eu puder juntar li polêmicas e discussões que ajuduas palavras para defini-lo se- daram na construção do livro. ria: divertido e bem humorado. O Asanortista – Pessoa que objetivo foi esse, não tem estudo intelectual e acadêmico, eu ounasceu ou mora na asa via e anotava. Fiz pesquisas em norte, a SQN. anúncios, classificados de jornais, listas telefônicas, cardápios Taguá – Apelido de bares e restaurantes. Mandacarinhoso de Taguatinga va e-mails para várias pessoas, Marcelo Torres, autor do glossário O bê-á-bá de Brasília checava comunidades no Orkut. Carina Lasneaux
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