Jornal Artefato 03/2017

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Ano 17 - N° 9 - Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília - Distribuição Gratuita - Maio/Junho de 2017

DESAPARECIDOS Mais de 3 mil pessoas sumiram no DF em 2016

Fotos: Divulgação

Pág 12 e 13

BOEMIA

INFÂNCIA OBSCURA

SAÚDE

Cervejas gourmet conquistam paladar do brasiliense Pág 22 e 23

Sonhos e mistérios de meninas prostitutas Pág 14 e 15

Veganos, vegetarianos e macrobióticos: uma filosofia Pág 20 e 21

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EDITORIAL

EXPEDIENTE

Para a capa desta edição, escolhemos contar o drama dos desaparecidos do Distrito Federal e entorno: mais de 3 mil sumiram apenas em 2016, como se oficialmente, desaparecesse uma pessoa por hora a cada dia. Os desaparecidos, por vezes, são invisíveis para o Poder Público. No processo, foi necessário lidar com a indiferença da polícia, que não atendeu às chamadas das alunas-repórteres, e seguir adiante. Os percalços inspiraram as futuras jornalistas na nossa “profissão repórter” de cada dia.

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 18, nº 9, maio/junho de 2017 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Chefe de Gabinete da Reitoria: Prof. Dr. Dilnei Lorenzi Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação: Prof. Drª. Christine Maria Soares de Carvalho Coordenador de Curso de Jornalsimo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Profa. Drª. Renata Giraldi Professor Auxiliar: Fernando Esteban Orientação de Fotografia: MsC. Bernadete Brasiliense Apoio: Álef Calado e Larissa Nogueira Apoio Técnico: Sued Vieira Monitora: Jéssica Luz

As alunas-repórteres tiveram o desafio de atualizar os dados em mutação permanente. Foi preciso conter a emoção diante da dor de uma mãe à procura da filha, relembrar os meninos sequestrados de Luziânia e ouvir relatos de quem espera há anos um sinal de vida. Duas repórteres-alunas também se embrenharam pelas noites do Plano Piloto e de Taguatinga para conhecerem de perto os segredos e os mistérios que cercam meninas, com menos de 18 anos, que se prostituem. Foi tenso, difícil e doloroso estar ao lado de crianças e adolescentes que deveriam estar nas escolas, com as famílias e se divertindo, mas não, estão nas ruas por sexo. As dificuldades nos instigam a querer ir além dos nossos limites. É o que nos faz persistir na profissão por nós escolhida. O Artefato foi um desafio: propor a pauta, trabalhar cada detalhe da matéria, sofrer à espera dos retornos das fontes e também com as críticas do texto, a escolha de fotos e arte - é o fazer jornalístico. Essa é a terceira edição do primeiro semestre do Artefato 2017, um jornal laboratório que, por anos, impõe a cada um a meta de dar o melhor de si. Cada pauta que propomos é uma forma de dizer “eu sou repórter e posso ser tão grande quanto um Caco Barcelos”. Mas diante de tanto desejo e vontade de ser grande há uma barreira que nos faz estar com o pé atrás, o título de ESTUDANTE. Não é fácil conciliar o jornalismo e a vida de estudante. Uma sempre vai esbarrar na outra e algo pode dar errado e complicar ainda mais a matéria: é a fonte que não responde, personagem que evita falar porque não vai ter a mesma proporção, autoridades públicas que ignoram as nossas demandas. É que na lista de prioridades das fontes, o estudante sempre vai ser e talvez será sempre - o último. E esta posição machuca muito. Fere a alma e a nota também... E tem mais. O tempo, sempre falta tempo. Os desafios sempre vão estar conosco, como jornalistas já formados ou em processo de formação. A diferença é que um, conta com a experiência e a influência, enquanto o outro tem a juventude e a vontade de crescer. No jornalismo, o importante é superar as barreiras e “matar um leão” a todo momento. Durante o processo, esbarramos ainda com a crise política deflagrada pela JBS, adaptamos algumas matérias e discutimos a questão. Gostamos disso. Avante guerreiros, não podemos deixar a pauta cair nem a história se perder!

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Editores-chefes: Letícia Ziemann e Virgínia Barbosa Editores de arte: Enoque Aguiar e Patrícia Moura Editores de texto: Hellen Resende e Leticia Viana Diagramadores: Beatriz Ribeiro, Carolina Militão, Evelin Mendes, Guilherme Costa, Germana Gabriella Brito, Karine Santos, Maria Gabbriela Veras, Patrícia Moura e Tatiana Castro. Editores de fotografia: Anthony Machado, Douglas Ramalho e Emanuelly Fernandes Editores de web: Ello Romanin e Layla Andrade Social mídia: Ello Romanin, Guilherme Costa, Layla Andrade e Thiago Siqueira Repórteres: Alan Rios, Alinne Castelo Branco, Anderson Miranda, Beatriz Ribeiro, Carolina Militão, Danilo Queiroz, Douglas Ramalho, Ello Romanin, Evelin Mendes, Germana Gabriella Brito, Giovanna Ferreira, Guilherme Costa, Gustavo Mamede, Hudson Portella, Karine Santos, Layla Andrade, Maria Gabbriela Veras, Natália Martins, Péricles Lugos, Rafael Procópio, Tatiana Castro e Thiago Siqueira. Checadores: Alinne Castelo Branco, Anna Paula Fernandes, Danilo Queiroz, Ello Romanin, Hudson Portella e Natália Martins. Fotógrafos: Brenda Santos, Emanuelly Fernandes, Francyellen Magalhães, Larissa Lago, Layla Andrade, Poliana Fontenele e Thiago Siqueira. Ilustrações: Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPTC QS 7, Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefones: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Jornal online: issuu.com/jornalartefato Facebook: facebook.com/jornalartefato Site: artefatojornal.wordpress.com Snapchat: @artefato Instagram: @jornalartefato


ARTIGO

Em quem votar em 2018? A instabilidade política provoca um cenário imprevisível para as eleições

Danilo Queiroz

do Mundo” do ministro-relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin composta por 226 pessoas e empresas delatadas – e da bombástica delação do empresário do Grupo JBS, Joesley Batista, em que relata pagamento de propina para o presidente Michel Temer destinado a comprar o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria negociado R$ 2 milhões. Segundo Joesley, foi repassado mais de R$ 1 bilhão entre doações, notas frias e subornos. A delação de Joesley Batista causou uma turbulência no país: Temer tem condições de continuar na Presidência? Ele deve renunciar? O país sobrevive a outro processo de impeachment? Como ficará daqui para frente? Eleições indiretas? A ressalva é importante porque a divulgação e tramitação dos inquéritos certamente fará com que vários précandidatos envolvidos em escândalos nem entrem na corrida presidencial. Uma

possível queda ou renúncia de Temer – que inicialmente provocaria eleições indiretas - aumentaria ainda mais a insegurança dos eleitores para 2018. Com o vai e vem, é preciso que o eleitor comece a avaliar o cenário, pesar os prós e contras na balança e desde já, buscar respostas para suas prioridades. Quanto a mim? Em quem votarei em 2018? Não conto com o embasamento de institutos renomados, mas posso garantir o seguinte: os próximos acontecimentos políticos envolvendo os presidenciáveis certamente me farão repensar várias vezes se esse ou aquele candidato merece a confiança e a responsabilidade de meu voto. Para quem pensa que um voto não faz diferença, respondo com dados: somos 142.822.046 eleitores em todo país! Portanto, observe os fatos, discuta e defina com calma e sabedoria em quem confiar a partir de 2019.

Dúvidas e incertezas cercam o eleitor às vésperas das eleições majoritárias no próximo ano

Foto: Elza Fiúza/ABr

As eleições de 2018 já estão batendo à porta e os eleitores se vêem com um grande dilema: quem escolher para comandar o país já que estão com um pé atrás em relação aos nomes colocados na disputa. A resposta para tanta desconfiança é simples: a onda de escândalos na política nacional. A cada dia, os eleitores são surpreendidos com uma nova “bomba” na política: o rol de denúncias parece sem fim! Pela última pesquisa Ibope, simulando o desempenho com os principais nomes para 2018, todos os políticos possuem uma elevada rejeição. Os oito pré-candidatos citados têm percentuais negativos que superam os de aprovação. A liderança no item “rejeição” é do presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), mencionado por 62% dos entrevistados. Na sequência vêm outros dois tucanos: o senador paulista José Serra, com 58%, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que recebeu 54% das indicações negativas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece em quarto lugar com 51% de rejeição. A candidata derrotada nas últimas eleições pela Rede, Marina Silva, ficou em quinto lugar com 50%. Já em sexto, é citado o ex-ministro Ciro Gomes com 49%, e em sétimo o deputado federal do PSC do Rio de Janeiro Jair Bolsonaro, que é citado por 42% dos entrevistados, enquanto em último lugar está o prefeito de São Paulo, eleito pelo PSDB, João Doria com 36%. É preciso levar em conta que os números acima foram levantados antes da revelação da “Lista do Fim

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CIDADES

Lixo embaixo do tapete Na região do Aterro de Samambaia, há queixas pelo descaso público

Após mais de dois anos de atraso ao custo de quase R$ 45 milhões, a primeira etapa do Aterro Sanitário de Samambaia foi entregue sob críticas e polêmicas de moradores da região. Nos três primeiros meses de funcionamento, houve abaixo-assinado virtual e mobilizações contrários pelo fim do aterro.Antes da entrega da obra, o Ministério Público cobrou do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) a finalização da obra. Pouco depois, precisou mediar o diálogo entre poder público e moradores da região. Na primeira etapa, o Aterro de Samambaia receberá apenas o material que já passou pela triagem e não pode ser reciclado. Ao todo, serão 900 toneladas diariamente. Mas nas quadras 800 e 1000 da Samambaia, moradores reclamam do aumento de moscas e do mau cheiro no local. Morador da região, Douglas Borges, de 19 anos, desabafou: “A situação está feia, agora tem muita mosca e barata, dizem que é o tempo, só que sempre teve esse tempo, mas nunca teve desse jeito aqui”. Para Wesley Neyva, comerciante da região, a situação piora à noite, informando que o mau cheiro também chega ao seu comércio, dependendo da direção e da intensidade do vento. “Sinal de que tem alguma coisa errada porque quando mosca voa à noite, normalmente ela se fixa em algum lugar e ali fica, agora tem até que bater veneno a noite”, afirmou. Para o Movimento Fora Lixão, formado por moradores e comerciantes da região contrários à construção do aterro em Samambaia, defende

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Foto: Thiago Siqueira

Thiago Siqueira

Por dia, são 900 toneladas de lixo dispejadas na área do Aterro de Samambaia

a adoção de uma série de medidas, como a revisão da localidade, a abertura dos estudos para a sociedade civil e discussão pública sobre o tema. Desde 2007, ofícios e notificações foram enviados para o governo, mas as respostas não chegaram. “Vale lembrar que o aterro ainda não está operando com capacidade total; no Titanic havia uma frase que dizia

o seguinte ‘nem deus me afunda’, não quero ser pessimista, contudo, havendo negligência por parte do GDF qualquer cidadão poderá processar o Estado pedindo reparação por danos sofridos e bastará imprimir os documentos do Fora Lixao e levá-los a qualquer defensor público”, arrematou o líder comunitário Edy Carlos.


Foto: Thiago Siqueira

O lixo a céu aberto provoca uma série de queixas, como a atração de insetos indesejados e mau cheiro no ambiente e arredores

Remendos pode perguntar, nenhum [morador] vai saber te dizer o que é essa contrapartida, tem gente que nem sabe que vai ter isso”. Limpeza Urbana (Sindlurb-DF) informa que o desconhecimento é geral. O diretor de Comunicação do sindicato, Cloadoaldo Santos, queixa-se da falta de diálogo. “Tanto o sindicato quanto os moradores não

sabemos o que são as contrapartidas. Quanto vai custar para o governo nem nada. Só sabemos que a qualidade de vida da região está em risco”, disse. * Apesar da insistência do Artefato, o Serviço de Limpeza Urbana não respondeu às questões relacionadas às queixas nem detalhou sobre as contrapartidas para a população.

Foto: Thiago Siqueira

Outra discussão é sobre como compensar os moradores da região por eventuais perdas causadas com a instalação no aterro no local. Na Licença de Instalação o Serviço de Limpeza Urbana concorda em compensar o Instituto Brasília Ambiental com o repasse de R$ 771.310 reais no prazo de 60 dias, sem prorrogação. O objetivo é utilizar o dinheiro para minimizar danos do aterro, reconstruir uma escola, que próxima à área e instalar placas de “Perigo – Não entre”. O Ministério Público recomendou ainda ao Ibram o cumprimento de prazos na emissão do termo de referência, por exemplo, a elaboração de um plano de compensação ambiental ao parque Gatumé e também para os moradores, além de campanhas de conscientização. Mas os moradores se queixam que nada está explicado. Moradora antiga da região, Edna Rocha de 28 anos, reclama da ausência de informações. “Ninguém sabe de nada, aqui na rua mesmo

No entorno do aterro, os moradores apelam por compensação dos eventuais perdas e prejuízos

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TRABALHO

Juventude workaholic

Sobrecarregados, os jovens se dedicam exclusivamente aos estudos e trabalho Alan Rios Danilo Queiroz

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Acordar sem ânimo, passar o dia à espera do momento de dormir e quando chega a hora de deitar, nada de conseguir, porque as preocupações com o trabalho e os estudos não permitem. Essa é uma rotina para muitos jovens, segundo a agência paulista de pesquisa TNS Serviços de Mercado Limitada. De acordo com o levantamento, as gerações Y e Z estão dispostas a trabalhar mais

eu não consegui fazer nenhum esporte, nem tinha quaisquer distrações.” O dia do educador do Centro Educacional Maria Auxiliadora é duro. Desde às cinco da manhã, quando acorda, até às duas horas da madrugada, quando dorme, o trabalho é o foco, seja na sua escola, nas salas dos cursos de pré-vestibular que dá aula ou até mesmo em casa, quando se dedica a

maior, o que faz com que as gerações Y e Z não recusem propostas de crescimento profissional. Vagas em Agências Júnior são agarrada com força, assim como as oportunidades de atividades complementares da faculdade, o desconto no curso de línguas, a oportunidade de estágio, a flexibilidade de um workshop online e assim por diante.

do que seus pais, mesmo à noite, fins de semana e feriados. Constatação que chegou ao mercado de trabalho a partir da observação do comportamento dos jovens, que se impõem a obrigação de somar experiências, acumulando a faculdade com vários cursos paralelos, estágios, trabalhos e atividades não remuneradas. A justificativa? Enfrentar a crise de emprego. Porém, ser um workaholic – aquele que é viciado em trabalho ou trabalhador compulsivo – ainda na juventude, tem um preço caro. Elias Júnior, 24 anos, tem amor pelo trabalho como professor de matemática, mas algo tão grande como essa paixão já o impediu de fazer o que gosta: ele foi diagnosticado com acúmulo de estresse e início de depressão. “Foi um momento bem difícil para mim, pensei até em largar a educação. Em alguns momentos, pelo acúmulo de trabalho

se especializar e criar alternativas para melhorar suas metodologias. As consequências desse esforço são positivas e negativas, como conta: “Perdi convivências com família, amigos e relacionamentos por conta de trabalho. Hoje vejo que tudo tem seu tempo, cada um tem de saber até onde pode ir. Mas se quero ter um tempo livre maior, preciso me aperfeiçoar cada vez mais”. Elias faz parte de um grupo cada vez maior de jovens que se dedicam ao máximo a sua carreira se preocupando com o futuro: “Tudo que faço é pensado, estou caminhando para os 30 anos e não quero chegar com escolhas mal planejadas. E além de tudo, sou apaixonado pelo meu trabalho, esse é meu segredo”. No Brasil de 12,3 milhões de desempregados, o esforço para o trabalho tem que ser cada vez

Prazer Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Estágios (Abres), em 2016, com base no censo Inep/ MEC 2015, mostra que o Brasil conta com cerca de 8 milhões de estudantes matriculados no ensino superior. Dos quais, 740 mil - ou 9,2% - fazem estágios remunerados formalmente. O jornalista recém-formado Elijonas Maia, de 23 anos, já acrescentou muito a esse número, pois trabalhar em mais de um estágio sempre foi parte da rotina diária. Durante toda a graduação, ele conciliou dois estágios e a faculdade. Nos quatro anos de curso, passou por experiências no Jornal Satélite, Correio Braziliense, Diário do Poder, na Rede Record e em algumas empresas de assessoria de imprensa. O ápice de todo esse processo foi


Foto: Poliana Fontenele Aos 24 anos, o professor Elias Júnior, depois de ser diagnosticado com estresse, mudou de hábitos e conseguiu ter uma vida mais equilibrada e feliz

quando tinha um trabalho pela manhã, estágio à tarde, faculdade à noite e uma atividade de freelancer nos fins de semana. Detalhe: mesmo com a rotina frenética, o jornalista ainda encontrou tempo para tocar um projeto pessoal, produzindo todo o conteúdo do portal Brasília Pop. “Não me arrependo de nada. Se não tivesse feito os estágios eu não estaria empregado hoje”, contou Elijonas, que após se formar, voltou a trabalhar na Record e em outra empresa de assessoria criada por pessoas que ele conheceu nos primeiros estágios, ou seja, foi recontratado após o reconhecimento de seus ex-chefes. “É um ciclo de esforço e dedicação que fiz durante a faculdade e que foi recompensado”, garantiu. Entre redações de TV, de jornais impressos e assessorias de imprensa, Elijonas sempre se manteve voltado totalmente ao trabalho, mas ele destaca que tudo era feito por prazer. “Realmente gosto muito de trabalhar, eu não consigo ficar sem fazer nada. Sempre tive dois estágios para poder pagar a faculdade e porque gostava muito de trabalhar”, contou.

Saúde mental De acordo com a psicóloga Isabela Parente, esse comportamento workaholic, que faz com que jovens gostem de estar constantemente sobre a pressão do trabalho, é explicado pela liberação de neurotransmissores que os mobilizam para a execução dessas atividades: “Em psicologia, nós chamamos de operação estabelecedora. É essa situação de estresse que gera condição para executarmos as coisas”. Porém, Isabela Parente ressalta que é preciso manter uma harmonia entre assuntos profissionais e pessoais, pois “se o peso não está sendo equilibrado, a gente acaba perdendo saúde”. O corpo muitas vezes dá sinais que alertam para o excesso de trabalho, como aquele pensamento ao acordar que diz “eu não queria ir trabalhar” ou “eu não queria ir para a faculdade”, que são indícios de comprometimento da saúde mental, quando repetidos com frequência. Para a psicóloga, é fundamental monitorar esses desgastes: “É preciso tatear muito bem o nosso estado. Não estar conseguindo dormir, mas ter sono o dia inteiro, ter muitos pesadelos, isso sinaliza que o estresse não está saudável. A gente vai se arrastando e quando percebe, o corpo desmaia, sofre

uma gastrite, uma enxaqueca, dores na coluna, que são doenças muito comuns de estresse no trabalho”. No cenário atual que prioriza cada vez mais um currículo extenso e a dedicação quase total ao trabalho, Isabela Parente diz que é preciso repensar algumas visões, como o entendimento de que sucesso é estar bem financeiramente, e quem acumula vários cursos e experiências são impreterivelmente bons profissionais. Porém, a psicóloga alerta: “Se eu tenho uma faculdade de manhã, um estágio à tarde e um curso de formação à noite, eu não terei horário para me dedicar aos estudos complementares de cada uma dessas atividades ou para descansar. É importante colocar um horário de almoço, se deslocar do trabalho durante 15 minutos para um lanche, um momento à noite para fazer uma meditação, tomar um banho demorado, navegar na internet, somente por lazer.”

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SOCIEDADE

Volta às aulas

Foto: Guilherme Costa

Pessoas que redescobrem a vocação após carreira consolidada, casamento e filhos

Anna Gabriella Brink, 21 anos, e a mãe Adriana Brink, 49, prestaram juntas o exame para a obtenção do registro da Ordem dos Advogados do Brasil Guilherme Costa

Olhando para as fotos expostas na parede da sala, as semelhanças entre mãe e filha são nítidas. Além de traços característicos e de um laço maternal, Adriana de Souza Brinck Cerilo, 49 anos, e Anna Gabriella de Souza Brinck Cerilo, de 21, também compartilham uma paixão pelo curso de Direito. Para a filha, este sempre foi o projeto principal de carreira. Já para a mãe, é um amor recente.

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Bancária, casada há 24 anos, mãe de duas filhas, graduada em Geografia e com uma pós-graduação em seu currículo, Adriana se reinventou ao encarar novamente a sala de aula. Inicialmente, sua principal motivação foi a vontade de se manter ativa após se aposentar. Agora, com o diploma em mãos, Adriana já fala em prestar serviços de advocacia e abrir seu próprio escritório.

Enquanto a mãe iniciava a segunda graduação, a filha concluía o Ensino Médio e se preparava para o então temido vestibular. Certa de sua escolha, Anna possuía apenas uma opção de curso e um plano de carreira, tornarse promotora de justiça. Quase cinco anos depois, as duas compartilharam o mesmo local de prova para prestarem exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para a mãe, o exame


teve um final feliz, já a filha, terá que refazer a prova. Apesar do revés, as semelhanças entre as duas continuam; Ambas almejam atuar na advocacia penal enquanto seus maiores projetos não se realizam. Para a Adriana, apenas um sentimento é capaz de descrever todas essas coincidências. “É uma alegria muito grande ela ter a mesma percepção, o mesmo direcionamento, estudar, querer concluir o curso e atuar nesta área”, afirmou. Já para a filha, esta foi uma situação engraçada. “É interessante dividir o mesmo sentimento de ir para a sala de aula, ter que encarar uma prova e um cartão de respostas com a minha mãe. De muitas coisas que temos em comum, o direito foi mais uma delas”, concluiu Anna. História semelhante tem a recémformada em medicina veterinária Raquel Florentino, 35 anos. Após consolidar sua carreira como administradora em

uma empresa de jogos, Raquel optou por não virar refém da estabilidade e foi atrás de um sonho antigo. “Sempre tive vontade de fazer veterinária, mas como sempre trabalhei na área administrativa e tive oportunidade de emprego, acabei cursando Administração. Quando terminei a faculdade vi que eu não queria trabalhar nessa área pelo resto da minha vida. Então fiz o vestibular pra ver como eu sairia. Acabei passando no vestibular e fui fazer veterinária que era o que eu realmente queria fazer”, disse. Apesar da realização profissional, Raquel não deixa de memorar as pedras em seu caminho. Além do desafio de se voltar às aulas após anos fora de sala, a veterinária se submeteu a três vestibulares antes de ser aprovada no curso. Longos 16 anos separaram seu ensino médio de sua profissão ideal e atualmente, sua maior ambição de é montar um consultório veterinário próprio.

Acima dos 35 anos O último Censo da Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) apontou que o número de estudantes acima dos 35 anos de idade no Brasil era superior a 600 mil alunos. Estudantes entre 18 e 21 anos somas 2,3 milhões, de acordo com o Censo. São Paulo é o estado que mais possui maduros em sala de aula, contudo, a pesquisa indicou também que o Brasil possui 2.324 Instituições de Ensino Superior (IES), entre universidades, centros universitário e faculdades. A mesma estatística revelou que as possibilidades quase infinitas de graduação, visto que o Ministério da Educação (MEC) reconhece mais de 33 mil cursos de Ensino Superior e oferece cerca de sete milhões de vagas todos os anos.

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SAÚDE

Meninas que se tornam mães Só em 2015, 5.589 jovens com menos de 19 anos tiveram bebês no DF

Giovanna Ferreira

Um dia antes de completar 17 anos, Letícia Cortês descobriu que estava grávida do namorado Ronaldo Rodrigues, de 24. Ela está com oito meses de gestação de Valentina, não largou os estudos e segue firme no Ensino Médio. “Achei melhor não me atrasar na escola, tive que me esforçar em dobro por causa das faltas e do mal-estar da gravidez. Mas minhas notas estão sendo boas, não tenho muito que reclamar, não está sendo tão difícil como imaginei”, disse a adolescente. Mas Letícia é uma exceção entre as jovens mães, pois a maioria muda radicalmente a rotina e abandona a sala de aula. Pelos dados da Secretária de Saúde, 5.589 jovens, com menos de 19 anos, foram mães no Distrito Federal em 2015. O Centro-Oeste é a terceira região com maior incidência de gestantes adolescentes no país, atrás apenas do Norte, que é o campeão e o Nordeste (ver informações no Box). Desde 2008, o Ministério da Saúde implantou o Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas em parceria com várias organizações, secretarias estaduais e municipais para disponibilização de métodos contraceptivos. Há, ainda, programas governamentais que podem auxiliar no atendimento às mães e pais adolescentes, como o Primeira Infância Melhor (PIM), Programa Saúde na Escola (PSE) e a Rede Cegonha.

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Na adolescência, a gravidez é vivida por todos na família, como conta Letícia Cortês, de 17 anos. “Fiquei com muito medo da reação da minha família, foi o que mais me desesperou, mas me surpreendi

Fonte: Ministério da Saúde. DATASUS

muito e percebi o quanto tenho sorte de tê-los”, disse ela, que aconselha as meninas de sua idade a se prevenirem e se cuidarem. “Não que eu esteja arrependida, mas se eu pudesse adiaria esse momento da minha vida”. Situação bem diferente viveu Drielly Evelim, de 16 anos, que engravidou aos 15. “Minha família até aceitou bem, mas meu pai ficou


Foto: PIXABAY

surpreso e então passou um mês sem falar comigo”, desabafou ela, que abandonou os estudos durante por um ano e não está mais com o pai do bebê, com quem namorou por dois anos. “Ele não quis assumir a gravidez e a família inteira ficou do lado dele. Ele não é tão presente como deveria ser”, disse a adolescente mãe de Laura Valentina, de um ano. “Minha vida mudou totalmente. Hoje não penso só em mim, mas, sim em uma pessoa que depende do que eu faço para tudo”. Segundo a psicóloga Eliane Gomes, de 45 anos, as reações da família quando há uma adolescente grávida tendem a ser contraditórias, mas o comum é a sobreposição de sentimento de revolta, abandono e aceitação do “inevitável”. “Cada família terá sua dinâmica e resolverá a situação de acordo com seu entendimento”, disse a especialista. Se formos levar em consideração as crenças, os valores, a cultura familiar e o modo como age cada família perante esse tipo de situação, ou seja, considerando as potencialidades e os limites da família em relação a gravidez precoce, não é possível afirmar que há uma influência direta da família neste caso, mas também não se pode negar que possa haver situações que pareçam “positivas” ao entendimento da adolescente, inclusive o desejo de ser mãe. Também aos 15 anos, Maria Eduarda Silva, de 16, descobriu a gravidez: “Levei um susto. Só minha irmã que não reagiu muito bem, mas não tive problemas com a minha família e a do meu exnamorado, com quem fiquei durante dois anos. Apesar de tudo, ele é bastante presente na vida do meu filho”. Assim como Drielly, ela deixou os estudos. “Muitas coisas mudaram na minha vida, mas, prefiro assim. Afastei de várias pessoas e hábitos, hoje é tudo melhor”, afirmou a mãe de Kauê Felipe, de quatro meses. A psicóloga Eliane Gomes sugere um esforço conjunto – da família, escola e profissionais de saúde – na tentativa de evitar a gravidez precoce. De acordo com ela, a base é o estímulo ao diálogo, às reflexões e aos debates em busca do esclarecimento de causa e consequências referente a vida sexual ativa na adolescência. Para a pedagoga Cacilene Alves, que lida com adolescentes e jovens, a educação sexual poderia ser mais discutida nas escolas públicas e privadas. O principal temor dela é que, na maioria dos casos, as adolescentes grávidas abandonam a sala de aula por falta de maturidade, instrução e apoio. “Sei que não se pode generalizar, porém, não se pode também fazer de conta que é diferente porque não é, acredito que seja por isso que a maior idade está demorando um pouco mais a chegar, os adultos estão mais pertinentes com atitudes nada saudáveis”, afirmou a pedagoga, lembrando que as adolescentes grávidas abandonam a escola por falta de maturidade e instrução.

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SOCIEDADE

A falta que você faz

A incerteza e a angústia de parentes e amigos que buscam desaparecidos no DF e entorno Alinne Castelo Branco Evelin Mendes

O que fazer quando alguém some? Parece uma pergunta óbvia, mas não para aqueles que possuem parentes e amigos queridos desaparecidos. No ranking nacional de desaparecimentos, o Distrito Federal ocupa o quarto lugar. De janeiro a dezembro de 2016, houve 2.910 ocorrências informando sobre 3.157 pessoas desaparecidas no DF, segundo a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF). A Cartilha de Enfrentamento ao Desaparecimento (São Paulo, 2016, p.7), conceitua desaparecimento como o “sumiço repentino de alguém, sem aviso prévio a familiares ou a terceiros”. Uma pessoa é considerada desaparecida quando não pode ser localizada nos lugares que costuma frequentar, nem encontrada de qualquer outra forma. Nos casos de desaparecimento involuntário - vítimas de crimes com restrição da liberdade, acidentes ou doenças mentais -, foram registradas 37 ocorrências no ano de 2016. Não há um dia sequer que a técnica de enfermagem Jussara Ferreira, 40 anos, não pense na filha que sumiu no dia 16 de fevereiro deste ano, por volta das 14h na cidade de Valparaíso (GO). A estudante Thayná Ferreira Alves, de

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21 anos, desapareceu após o padrasto deixá-la em um ponto de ônibus da cidade. Desde então, parentes e amigos continuam as buscas diárias pela jovem. “Já fui em bocas de fumo, prostíbulos, fazendas, lixão, em todos os matagais da região e até a cidade de João Pinheiro , em Minas Gerais”, contou Jussara. A mãe da jovem, em entrevista ao Artefato, afirmou que queria qualquer motivo para o sumiço. “De repente ela tivesse mudado de ideia, e fosse se prostituir, eu até queria qualquer situação, menos que ela estivesse morta.” A família de Thayná registrou o boletim de ocorrência na Polícia Civil da cidade de Valparaíso. De acordo com informações, as investigações apontam para uma possível solução do caso. A polícia alega que o fim do inquérito está próximo. O delegado responsável pela ocorrência, Rafael Abrão optou por não divulgar maiores informações sobre o caso. Para a família, predomina a certeza de que a estudante não fugiu de casa. “A gente fica preocupado porque ela não é assim. Sempre que saía, avisava. Estamos na torcida e ela vai aparecer se Deus quiser”, disse Felipe Ferreira, 17 anos, irmão da jovem. Aflita sobre

o andamento das investigações, e pela história contada do sumiço da filha, Jussara desabafa. “Minha cabeça dá um nó quando eu penso nos detalhes”. Thayná está desaparecida há 90 dias. Nos três primeiros deste ano, na região do entorno da capital – que reúne 48 cidades de Goiás e Minas Gerais – houve 253 ocorrências de desaparecimentos: 148 são adultos e 105 com menos de 18 anos. As cidades de Águas Lindas de Goiás, Luziânia e Valparaíso concentram o maior número de casos. No Distrito Federal, lideram os números Ceilândia, Samambaia e Planaltina. Mas os números mudam a cada momento. A Polícia Civil do Distrito Federal estima que, diariamente, desapareçam pelo menos seis pessoas. A estatística é assustadora e dá a dimensão do drama sofrido por inúmeras famílias que aqui vivem. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), a maioria dos casos de desaparecimento de crianças e adolescentes é por causa de conflitos familiares, violência doméstica, uso de drogas, perda por descuido e desorientação. A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado de Goiás


(SSPAP-GO) informou que é preciso considerar ainda outros crimes, como a sedução ou a exploração de jovens tanto homens como mulheres. Essas situações podem encobrir diversas formas de vulnerabilidade vivenciadas por crianças e adolescentes. Essa foi uma situação vivida em fevereiro deste ano pela família de Bianca*, de 12 anos. A adolescente, que mora em Taguatinga Norte, era assídua nas redes sociais e por meio do Facebook conheceu um rapaz morador da Samambaia. Na madrugada de 2 de fevereiro, a adolescente fugiu pela janela de casa, levando uma bolsa com alguns pertences. Vizinhos da família contaram ter ouvido conversas e barulho de carro naquela madrugada. A menina foi encontrada horas depois, com ajuda do compartilhamento de fotos na mesma rede social, com muitos arranhões e machucados. Entretanto, Bianca não se sente preparada para relatar o que aconteceu naquele dia, desde o ocorrido a jovem mudou de humor, afastou-se das redes sociais e faz acompanhamento psicológico. O caso segue em investigação na II Delegacia da Criança e Adolescente, em Taguatinga Norte. A cada ano, em média, desaparecem no Brasil 240 mil pessoas sem deixar rastros, sendo 40 mil crianças, segundo a International Centre for Missingand Exploited Children (ICMEC). A Organização atua na proteção de crianças contra a exploração trabalhista e abuso sexual. Outro agravante é a ausência de um cadastro único no país contendo os dados necessários para a localização das pessoas. O Ministério da Justiça e Cidadania, afirma que “não temos estatísticas nacionais (oficiais) acerca da ocorrência”. Porém em fevereiro de 2010, o órgão em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), criou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, a priori pretendia-se ampliar em âmbito nacional as buscas

e localização de crianças, adolescentes e adultos desaparecidos. Entretanto, o portal encontra-se abandonado, contando com menos de 400 cadastros. A pasta defende que “cada Unidade Federativa, autonomamente, cadastra as ocorrências registradas sobre desaparecidos, de acordo com os sistemas existente nas Secretarias de Estado de Segurança Pública, Polícias Civis, Militares ou congêneres”, por isso a desatualização. O aplicativo criado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) ainda está em fase de testes e só atende a três estados: Espírito Santo, Santa Catarina e Sergipe. Até lá, parentes e amigos dos desaparecidos contam com os instrumentos existentes, a boa vontade de informantes e a sorte.

Memória que dói Oito anos após terem enterrado seus filhos, as mães de Luziânia levam uma vida sombria e cheia de limitações. Ainda assim, há aquelas que conseguiram dar continuidade à rotina, trabalhando e dedicando tempo aos afazeres domésticos e aos outros filhos. Outras amargam problemas de saúde, como depressão. O desaparecimento de sete jovens de Luziânia começou em dezembro de 2009. Diego Alves Rodrigues, 13 anos, Márcio Luiz de Souza Lopes, 19, George Rabelo dos Santos, 17, Fábio Augusto dos Santos, 14, Divino Luiz Lopes da Silva, 16, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 e Eric dos Santos, 15, sumiram. Depois do caso chegar à imprensa e com o apoio da Polícia Federal, as investigações apontaram para o pedreiro Ademar de Jesus Silva, que confessou o assassinato de seis dos sete jovens mortos. Condenado por atentado violento ao pudor, ele foi encontrado morto na delegacia, em Goiânia, em 2010, sob a suspeita de suicídio.

CIDADES DO ENTORNO QUE REGISTRAM O MAIOR NÚMERO DE CORRÊNCIAS EM 2017 ÁGUAS LINDAS

54

LUZIÂNIA

40

VALPARAÍSO

34

FORMOSA

26

PLANALTINA DE GOIÁS

25

DESAPARECIDOS NO DF EM 2017

CEILÂNDIA

475

SAMAMBAIA

282

PLANALTINA

212

TAGUATINGA

209

BRASÍLIA

204

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SOCIEDADE

Sexo que rouba a infância Prostituição de crianças e adolescentes se espalha pelo DF Carolina Militão Maria Gabbriela Veras

Com aparência de, no máximo 16 anos, Isabela Silva* ainda está no ensino médio. A menina vaidosa mora em Goiânia e vem para o Distrito Federal a cada duas semanas. Ela conta que as noites da capital federal são agitadas e que compensa o esforço. “Ainda não me formei na escola. Quando eu concluir o ensino médio, quero fazer uma faculdade. É o meu sonho!”, contou a menina desconfiada e de meio sorriso. Nas ruas do Plano Piloto e de outras regiões do Distrito Federal lá estão elas: meninas de diversas idades que oferecem sexo pago. Elas dividem a atividade com mulheres adultas e travestis, pois em cada região tem uma segmentação e valor no mercado da prostituição. As meninas, que aparentam menos de 18 anos, não revelam a idade, mas o modo de conversar e agir demonstra que muitas ainda são adolescentes. No centro de Taguatinga, por exemplo, metade das mulheres que se prostituem, também trabalham para o tráfico de drogas, segundo policiais militares. O mercado da prostituição, de acordo com as profissionais do sexo, tem uma espécie de tabela estabelecida. Em Taguatinga, o valor do programa varia de R$ 50 a R$ 80. Se o programa envolve o

casal, o preço sobe, em geral, para R$ 150. O valor também é outro para programas em grupo ou trios. O preço, neste caso, é negociado com os clientes. Os valores aumentam no Plano Piloto: no centro de Brasília, o programa individual sai, no mínimo, por R$ 80. Para casal, é cobrado o valor de R$ 200. A jovem Thaís Costa*, relata que falta pouco para atingir a maioridade, mas que está nas ruas há pelo menos três anos, desde os 15. Expulsa de casa pela mãe por excesso de brigas e morando com a tia, a menina disse que se viu obrigada a trabalhar: as ruas e esquinas escuras a acolheram. Em busca de um emprego – o seu maior sonho – a jovem tem um relacionamento sério. “Ele não sabe o que faço para me sustentar. Quero um dia conseguir um emprego e sair daqui. Isso não é vida. Estou aqui porque não tenho opção”, desabafou. O que incomoda Thaís é que todos os pontos de prostituição de Taguatinga Sul, onde costuma trabalhar, têm donos. Ela contou que o ponto em que fica é “cobrado por uma mulher que se diz dona do trecho”. O valor, por noite, cerca de R$ 50 deve ser repassados para a proprietária do local. “Estou em uma rua pública, ninguém é dono disso aqui, mas tenho que pagar senão, sou ameaçada”, disse ela. As

Foto: Carolina Militão

“Quero um dia conseguir um emprego e sair daqui. Isso não é vida. Estou aqui porque não tenho opção”, disse a adolescente Thaís Costa, que passa as noites nas ruas de Taguatinga.

As jovens usam roupas e maquiagem para “ganhar” idade

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*Os nomes foram alterados para preservar a identidade das adolescentes


Justiça Pela legislação, o Estado e a família deveriam cuidar das crianças e adolescentes, mas a prática mostra uma realidade bem diferente. Ainda, de acordo com a lei de número 11.106/05, o ato de se prostituir não é crime, mas a exploração, sim. Mesmo que maquiada a realidade é que, na capital federal, existem pontos em que crianças e adolescentes se prostituem. Para a doutora em Comunicação, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) e integrante da ONU Mulheres, Isabel Clavelin, a não criminalização, a ausência de estatísticas e dados públicos são insuficientes para configurar o quadro real. “A prostituição é inadmissível, tendo em vista que elas não têm autonomia de decisão. Por sua vez, a exploração sexual de mulheres e meninas é crime. A cada hora, 228 meninos e principalmente meninas – são explorados sexualmente em países da América Latina e do Caribe”, observou a especialista. No Brasil, a violência sexual - que inclui, por exemplo, casos de abuso, exploração e turismo sexual - é a quarta violação contra crianças e adolescentes mais denunciada no Disque 100. Apenas em 2015, foram registradas 17.583 denúncias desse tipo, o que representa quase 50 casos por dia. “A exploração sexual de mulheres e meninas deve ser reprimida de todas as formas”, ressaltou Clavelin.

Em todo o Brasil existem Associações que representam as prostitutas. A Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig)éumadasrepresentativaspelas iniciativas e presença em ações públicas. Por meio de assessores, a associação informou que o objetivo é proteger as profissionais de sexo e assegurar o direito

Diário de Bordo

de mulheres, travestis e transexuais. “Lutamos constantemente pelo combate à discriminação, o preconceito e o estigma dirigido às prostitutas e, somos contra a consonância com a legislação brasileira, a exploração sexual e comercial de crianças e adolescentes”, informa em nota à imprensa. Passamos três semanas, acompanhadas pornossosnamoradosporquepercebemos que havia riscos e ameaças nas noites de Taguatinga e do Plano Piloto- nos vimos em situações desafiadoras. Tínhamos que pensar como seria a abordagem das pessoas antes mesmo de chegar às áreas destinadas à prostituição. Muitas não queriam falar quando percebiam que não queríamos seus serviços. Em determinadas situações, tivemos que sair porque estávamos “atrapalhando a movimentação”, como disse uma menina ao perceber que estava sendo observada. A impressão era que estávamos num reality show. O escuro parecia ter olhos e ore lhas atentos, sempre nos sentíamos vigiadas. A sensação é de medo, insegurança e incerteza. Definitivamente não são locais para se trabalhar nem viver, muitos menos crianças e adolescentes. É preciso lutar contra isso.

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Representação de um dos flagrantes comuns nas noites de Taguatinga e Plano Piloto

Foto: Larissa Lago

colegas de Thaís afirmam que os perigos não se limitam a apenas essas ameaças. “Somos constantemente assaltadas. O dinheiro que conseguimos numa noite e ou madrugada conquistando vai embora dentro de segundos”, disse uma das meninas, sem querer dar detalhes sobre si. A fiscalização não é feita, apesar de viaturas militares fazerem a ronda de forma frequente nos locais apontados como pontos de prostituição. Questionadas se alguém já averiguou a idade delas, as respostas foram muito parecidas e em tom de ironia, como disse uma delas: “Nunca pediram minha identidade”.

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COMPORTAMENTO

Poesia sem idade

Idosos publicam e-books em site literário e se reúnem nos sarais online

Usuários, com mais de 60 anos, são os principais frequentadores do Recanto das Letras, postando poemas, poesias, crônicas e pensamentos do dia

Beatriz Ribeiro

A poetisa dos becos de Goiás Cora Colina publicou seu livro de poemas pela primeira vez, aos 75 anos, numa época em que demoraria mais de 20 anos para a internet chegar ao Brasil. Com o Wi-fi e 3G, os idosos podem ver seus textos publicados na tela de um computador através da plataforma ‘Recanto das Letras’ (www.recantodasletras.com. br). O site literário reúne mais de 15 mil usuários acima de 60 anos, que são livres para publicar de simples frases a ensaios, canções e poesias que podem ser tocadas na rádio online. Os internautas são escritores que muito se orgulham de suas histórias, como a poetisa Eudália Martins, o trovador Solano Brum, a cronista romântica

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Walquíria Rocha e o escritor Djalma Pinheiro, que uniu mais de 100 mil autores dispersos pela rede. O servidor público fluminense Djalma Pinheiro, de 66 anos, faz questão de dizer que é filho de uma lavadeira e de um motorista, mas estudou nos melhores colégios do Rio de Janeiro. “A minha mãe lavava roupas para o diretor e ganhei bolsa de estudos desde o primário ao científico”, conta. Assim que ele entrou para a faculdade de direito, foi expulso por suas ações políticas, quando foi anistiado, não voltou para o curso de direito, mas decidiu seguir carreira de escritor. “Poetas não escrevem, e sim, psicografam o interior de si e do alheio”, disse.

Djalma acessou a internet pela primeira vez no ano de 2005 e digitou alguns de seus textos que estavam no papel. Em 2009, ele criou seu perfil no Recanto das Letras e ficou impressionado ao acessar as estatísticas fornecidas pelo site. “Fiquei pasmo ao receber relatórios que meus leitores estavam espalhados em mais de 90 países e idealizei uma academia que reunisse os amantes de arte e literatura perdidos na internet”, disse. Foi então que os sonhos do escritor de unir os poetas espalhados pelo mundo se tornaram realidade em 2016 com a criação da Academia Mundial de Cultura e Literatura (AMCL).


Talento Eudália Alves Martins, de 73 anos, estudou até o ensino fundamental e mexe com qualquer coração embrutecido quando recita uma poesia. Vinte e dois é o número de sua cadeira virtual na Academia Mundial de Cultura e Literatura (AMCL). Ela guarda certificados de sarais online e prêmios de melhor escritora do ano em uma pasta no computador. “Adoro gravar áudio. Muitos amigos me pedem para gravar as poesias deles e já tenho vários CDs”, afirmou a poetisa, que envia todos os dias um áudio de sua autoria para o namorado, entre os mais de mil textos e os quatro e-books publicados. “Apesar da minha idade, sou uma mulher muito romântica”, ensinou. O amor inspira poesia e a gerente de escritório Walquiria Rocha, de 66 anos, publicou mais de cem contos sobre seus casos de amor no pseudônimo de Regina Luíza. “São histórias de amores e desamores depois de quase cinco décadas que reencontrei meu primeiro namorado”, afirma ela. Em cartas,

crônicas e prosas poéticas, Regina escreve as desilusões de um amor que a deixou. “Vieram outros amores e eu continuei escrevendo textos que foram brotando em meu coração”, conta a eterna apaixonada.

Acessibilidade O Recanto das letras é uma rede de compartilhamento literário e de histórias de vida. A faixa etária predominante dos usuários é entre 35 e 59 anos, sendo apenas 10% deles, idosos. Apesar disso, a publicidade do site é um senhor da terceira idade usando o computador e os assinantes têm a opção de aumentar as letras e acrescentar imagens nos textos. “Acho o Recanto das letras um dos melhores sites para utilizar, tem alguns que eu me atrapalho”, disse o bancário aposentado Miguel Carqueija, de 68 anos. Ele está na rede há quatro anos e seu perfil tem mais de 1.400 textos, desde novelas e romances a ficção cientifica. O militar aposentado Solano Brum, de 75 anos, escreve poesias desde a

adolescência e mandava cartas para sua escritora predileta, Cecília Meireles. “Eu e meus amigos enviava cartas para ela, e gentilmente nos respondia chamando a gente de ‘meus netinhos’ lá pelos anos de 1958.” As cartas se perderam com o tempo e Solano só voltou a escrever quando conheceu o Recanto das Letras. “Meu primeiro Poema neste gracioso site foi em 2016. Fiquei fascinado quando o vi publicado e recebendo comentários.”, disse o poeta. O fundador do Recanto das Letras, Patrick Flemer, teve a ideia em 2004 de criar um site para o público postar poesias. “O ‘nossas poesias’ foi um site que era apenas uma brincadeira minha para possibilitar o compartilhamento de poemas de autores amadores e chegou a ter uns 300 usuários cadastrados.”, disse ele. Mas Patrick quis levar a brincadeira a sério e começou a se dedicar profissionalmente no site com a ajuda de colaboradores. “Hoje nós temos mais de dois milhões de poesias em nosso acervo e milhares de outros textos publicados”, acrescenta.

Reprodução de uma das páginas da rede Recanto das Letras, na qual a de Solano Brum, militar aposentado, é bastante visitada

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RELACIONAMENTO

Por segurança e confiança, jovens procuram nos amigos relação sem compromisso Tatiana Castro

Um amigo para chamar de seu. Não, um amigo para chamar quando precisar de sexo. Pode parecer estranho, mas a conhecida amizade colorida é mais normal do que se imagina. É o que afirma a pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Boise (EUA), em 2015, na qual a pesquisadora norte-americana Heidi Reeder ouviu 300 homens e mulheres sobre o assunto. Quando questionados se já “fizeram sexo com um amigo”, 20% dos participantes disseram que “sim” e 76% deles contaram que a amizade melhorou depois do envolvimento sexual. Os padrões de relacionamento têm mudado e o sexo casual tem se tornado cada vez mais comum, principalmente entre os jovens. Para a equatoriana Alessandra González, de 23 anos que mora na Argentina há seis, manter relações sexuais com amigos é uma das melhores experiências que ela já viveu.

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“Tenho um touchand go [expressão que caracteriza uma situação passageira] há 7 anos. Além de ser uma das minhas amizades mais antigas e duradouras, é um dos meus melhores amigos até hoje”, confidenciou a estudante de Direito. Segundo ela, o sexo casual a faz ver os amigos como amantes respeitosos. Ela não se espanta que a amizade tenha perdurado naturalmente. A estudante conta que não só apoia a amizade com benefícios, como esse foi um dos maiores motivos que a encorajou a perder a virgindade. Na época com 15 anos, Alessandra disse ter sentido mais segurança por ser com um amigo. “A primeira experiência me influenciou positivamente. Ao longo dos anos, desenvolvi relações parecidas. Nunca falamos em namoro e isso não me assustava. Muitas vezes o bom de ser amigo é que você pode ser autêntico sem dramas”, destacou.

Preferência Para alguns jovens, a questão da confiança no amigo pesa muito ao escolher esse tipo de prática. A estudante de Comunicação Social Gabrielle Barros, de 21 anos, afirma que o envolvimento com amigos virou preferência. “Tive meu primeiro relacionamento amoroso com meu melhor amigo. Depois que terminamos, eu continuei ficando e transando com outros amigos. Até hoje mantenho a maioria das amizades.” A psicóloga especializada em jovens e saúde Lyris Meruvia Pinto reafirma o ponto de vista de Gabrielle. “O fato de escolher amigos pode estar relacionado com a necessidade de uma confiança e um conhecimento prévio que não estão presentes em encontros casuais com desconhecidos”, pontuou. A letra que compõe a canção “Amor e Sexo”, de Rita Lee, traz um dos questionamentos que


envolvimento entre amigos, Rômulo é sucinto: “Essa barreira é socialmente construída. Sexo deveria ser levado menos a sério”.

Antiguidade Engana-se quem acredita que a prática é nova e só tem a ver com jovens. Se há uma figura que explique bem a “amizade colorida” é Alexandre – O Grande, imperador da Grécia Antiga, que viveu em meados dos anos 300 a.C. O macedônio manteve um relacionamento de décadas com seu melhor amigo, Heféstion, regado de batalhas, guerras e sexo - muito sexo. “As configurações das relações humanas na modernidade causam certo estranhamento entre as pessoas.

Mais importante é observar se essa forma de se relacionar ou vivenciar a sexualidade, traz algum sofrimento para o indivíduo ou para as pessoas com as quais ele se relaciona”, observou psicóloga LyrisMeruvia. Apesar de ainda ser um tabu, fazer sexo com amigos pode ser a porta de entrada para experiências de autoconhecimento. O que importa é ser consciente e não ultrapassar os limites de ninguém. E que no fim todos tenham a mesma intenção: relaxar e gozar. “Precisamos estar abertos a essas formas de relação, uma vez que elas refletem não só as necessidades e desejos de um grupo de pessoas, mas o momento histórico, político e social em que estes indivíduos estão inseridos”, completou Lyris.

Foto: Emanuelly Fernandes

alguns se fazem quando começam a se envolver com um amigo: sexo é escolha, amor é sorte? Para as pessoas que transformaram sexo casual em relacionamento sério, pode ser que a escolha e a sorte tenham caminhado juntas.Segundo a pesquisa da Universidade Estadual de Boise, metade dos entrevistados afirmou ter engatado relacionamentos sérios após a experiência com amigos. O gastrônomo Rômulo Fontani, de 22 anos, conta que se envolveu com um amigo por curiosidade, mas que a relação evoluiu. “Começamos na faculdade, tínhamos uma amizade forte e as brincadeiras viraram coisa séria”, afirmou ele, que manteve a relação por dois anos. Questionado se há barreiras que impeçamo

O sexo casual, mas com a segurança da confiança, leva muitos amigos se tornarem amantes.

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SAÚDE

Mente e corpo sãos, sem carne nem derivados Veganos, vegetarianos e macrobióticos: filosofia de vida

Germana Gabriella Brito Layla Andrade

46 anos, é vegetariana desde os 13. Segundo ela, a decisão foi tomada por uma razão bem específica: “Compaixão aos animais”. “Ser vegetariana é muito mais do que uma opção alimentar. É uma filosofia de vida”, disse Simonny, que detalha que tem uma dificuldade diária, a ausência de mais comércio voltado para a alimentação vegetariana e produtos veganos. O vegetarianismo se baseia no consumo de alimentos de origem vegetal, excluindo carne, peixes e seus derivados de seu cardápio. Entre os vegetarianos há, ainda, os que se autodenominam ovolactovegetariana – que seguem uma dieta composta

Foto: Emanuelly Fernandes

O número de adeptos de práticas alimentares que excluem a carne e todos os produtos de origem animal aumenta a cada dia no país. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2012, mostra que 8% da população brasileira não comem carne nem derivados animais – são cerca de 15 milhões de pessoas. O portal Mapa Veg informa que há mais de 22 mil pessoas cadastradas no site - 62,6% são vegetarianas e 28,8% veganas, outras 8,7% se denominam simpatizantes. Gaúcha, acostumada à cultura do churrasco e do galeto, a tradutora juramentada Simonny Soares, de

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Os vegetarianos, em geral, excluem apenas carne, peixes e aves de seu cardápio

por alimentos de origem vegetal, ovos, leite e derivados, mas não laticínios. Também existem os adeptos da dieta lactovegetariana, na qual entram somente alimentos de origem vegetal, leite e derivados. O vegetarianismo estrito é aquele em que não se consome nada de origem animal, além da carne, ovos, laticínios e mel, por exemplo.

Amor animal Volta e meia o vegano é confundido com um vegetariano estrito, mas existem diferenças, segundo os adeptos dos dois tipos de alimentação. O veganismo é uma ideologia em que as pessoas lutam pelo fim da exploração animal para qualquer tipo de atividade como consumo, abusos ou testes em animais. A antropóloga e funcionária pública Samira Correia Dias, de 29 anos, primeiro, abraçou a causa vegetariana, depois tornou-se vegana. “Eu parei de comer carne por achar que não preciso me alimentar às custas do sofrimento animal e, às vezes, da morte de outro ser”, afirmou ela, que disse que sua saúde melhorou após a mudança de hábitos alimentares: “Eu tinha crises de sinusite e quando cortei a carne e os laticínios, nunca mais sofri”. As pessoas que seguem a filosofia vegana além de uma alimentação restrita aos vegetais, legumes e frutas,


Foto: Layla Andrade

Principal restaurante vegan do DF, Villa Vegana, oferece um menu conforme a filosofia que prega o fim do consumo, abusos ou testes em animais.

não consomem absolutamente nada de origem animal por princípios filosóficos, como afirmam seus adeptos, inclusive no vestuário e produtos de higiene e beleza. “O veganismo pra mim é repensar não só o que a gente come, mas como a gente vive e que tipo de mundo a gente quer para humanos e não-humanos”, afirmou Samira.

Yin e Yang Na busca pelo equilíbrio interior e a cura de várias doenças, há a dieta macrobiótica baseada na filosofia chinesa Yin Yang – energias que se complementam entre o suave e intenso, o negativo e positivo. A filosofia se baseia em um estilo de vida em harmonia com a natureza. Os alimentos priorizados na dieta são os naturais, livre de agrotóxicos, não industrializados, sem conservantes, gorduras hidrogenadas e farináceos brancos, nada de gordura trans e sódio, além de não consumir também nenhum tipo de alimento

congelado ou enlatado. Nesta dieta são permitidos grãos, vegetais, feijões, soja fermentada, sopa, peixes, nozes, sementes e frutas. A lista de alimentos proibidos é bem extensa: carne, lácteos, açúcar, café, chá cafeinado, bebida estimulante, álcool, chocolate, farinha refinada, pimentas muito picantes, produtos químicos e conservantes, aves e batatas. A ativista Fátima Maria Gonçalves, de 51 anos, aderiu à dieta macrobiótica há um ano e lista uma série de mudanças que a dieta trouxe para vida dela. “Eu me sinto mais leve e mais disposta em minhas atividades diárias, a alimentação sem aditivos ou agrotóxicos me deixou equilibrada, não só fisicamente, mas emocionalmente”, disse ela.

Cuidados Essa alimentação cuja base é o consumo elevado de fibras pode contribuir na prevenção de algumas doenças e a redução de outras como

o colesterol alto, hipertensão arterial, obesidade, diabetes e prisão de ventre, segundo especialistas. Mas para alcançar a meta desejada, a dieta macrobiótica deve ser equilibrada e acompanhada por um profissional da área. A nutricionista Ester Santos disse que é importante que os interessados em mudar sua dieta procurem os especialistas, pois há uma série de cuidados que devem ser tomados antes da mudança. “Há o risco de perdas nutricionais. Não é aconselhado fazêla com o intuito de perda de peso devido à grande complexibilidade e ao alto grau de dedicação, o que levará a poucos resultados em relação ao emagrecimento. Se não for feita da forma correta, o risco de adotar uma alimentação que irá produzir complicações nutricionais, é de 90%”, afirmou ela.

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BOEMIA

O ‘filé mignon’ das cervejas Artesanais conquistam cada vez mais espaço no paladar do brasiliense

Lagos artificiais, prédios políticos de estrutura modernista, umidade abaixo de 20%... Brasília é ímpar. Tão ímpar que, às vezes, seus fins de semana começam muitas vezes às quartas-feiras. Na tentativa de apaziguar o ar desértico da capital, o brasiliense se rende à cerveja. Nas horas de lazer de muitos, a cervejinha é como aperitivo para as conversas e para os estreitamentos de laços. E se, essa cervejinha for artesanal, trazendo no rótulo e composição todo o apreço e cuidado que esse líquido merece, o papo muda e o aperitivo vira prato principal. Brasília não é uma produtora expressiva no cenário das cervejas artesanais. Aliás, o centro-oeste fica de fora dessa efervescência: 91% das cervejarias artesanais do Brasil se concentram nas regiões Sul e Sudeste, sendo São Paulo a que contém rótulos mais expressivos nacionalmente. Porém, o cerrado se destaca no consumo. Numa cidade repleta de bares informais a cada esquina, há 13 lojas catalogadas no mapa das cervejas gourmet se dedicam ao consumo e à cultura das artesanais. Só a Asa Norte reúne sete lojas. Matheus Costa, universitário de 21 anos, alia a vida corrida ao proveito do hobby – degustação de cervejas. “Procuro conhecer uma cerveja por mês”, disse ele. “Meu tipo preferido é Stout: gosto do sabor amargo com um pouco de torrado”, ensinou o estudante com ares de quem conhece

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Foto: Brenda Santos

Ello Romanin Rafael Procópio

Rótulos e títulos sobre a arte da cervejaria ocupam espaços privilegiados no Distrito Federal

o que consome. Jairo Lima, de 60 anos, leva o hobby a sério. “Tomo cervejas artesanais quatro vezes por semana”, disse o engenheiro. Fã do tipo Weiss (trigo) clara, ele fala da sua preferência: “As prefiro por serem mais saborosas. E também porque fabrico, ocasionalmente”. Ao que tudo indica essa moda não é passageira. Em 2005, foi realizado o primeiro levantamento feito sobre o “mundo das cervejas artesanais”. De lá para cá, o Brasil saltou de modestas

46 cervejarias artesanais espalhadas por todo o território nacional para impactantes 372 ainda em 2015. A taxa de crescimento anual, em média, foi de 50 cervejarias, o equivalente a uma inaugurada por semana, segundo o Instituto Cerveja Brasil. Somado a isso, temos só no ano passado, uma movimentação de R$ 74 bilhões – 1,6% do PIB nacional – no setor cervejeiro, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas.


O sonho Vitor Gonçalves é um apaixonado por cerveja. Consome, pesquisa, vende e produz. Dono do Macunaíma’s Pub, na Asa Norte, ele disse que as micro cervejarias e importadoras ocupam cada vez mais espaço no mercado nacional. “Tive a ideia de negócio para dar oportunidade aos brasilienses de conhecerem cervejas locais harmonizadas com pratos regionais”, contou ele. Bem longe da distante e privilegiada meca (santuário) da cerveja artesanal candanga, quem corre atrás do sonho de produzir sua própria cerveja é o pós-graduando em Química Forense, Higor de Lima e Silva, de 23 anos. Ainda na faculdade, ele conta que conheceu duas paixões: a namorada e a cerveja. “Acho que todo mundo tem ou já teve aquele sonho de um dia juntar uns amigos e abrir um bar”, reagiu Higor, informando que os planos são de se unir na produção e venda de cerveja com a namorada e os amigos. “Era um sonho entrar nessa cena de cervejeira e também de microeconomia local. Tem muita coisa bacana surgindo e a gente tem de tentar fugir só das grandes marcas internacionais.” “Beba menos, beba melhor” é o slogan repetido pelos apreciadores dessas cervejas. A sugestão de carpe diem – do latim, “aproveite o momento” - promove um convite aos interessados para diversos rótulos e tipos. Eu não sei você, mas nós não conseguimos recusar. Cheers!

“Garçom, uma tulipa com dois dedos de colarinho” O bordão já é clássico nos bares do Brasil afora. Mas você sabe a real importância do colarinho? Além da estética clássica, o colarinho ajuda a preservar a temperatura ideal da cerveja. Sem contar que, cerveja sem espuma pode indicar algum problema na carbonatação do líquido, ou até mesmo um prazo de validade estourado ou contaminação. Nem todas as cervejas devem ser bebidas “trincando”

BEBER

Isso é uma particularidade dos tipos mais consumidos aqui em nosso país, as “Lager”, erroneamente generalizadas como “Pilsen”. Cervejas do tipo Stout, Porter e tipos de trigo claras não necessitam estar entre 0 e 4º C, a temperatura ideal para ser considerada gelada.

EMPÓRIO SOARES & SOUZA

As cervejas Indian Pale Ale

ONDE

EM BRASÍLIA

Comércio Local Norte 212 B 3 - Asa Norte

CURRAL DA CORINA Setor de Oficinas Norte Quadra 1, Conjunto B, Lote 11.

STADT BIER Setor de Indústrias Gráficas 2190

O estilo de cerveja IPA (Indian Pale Ale) tem essa nomenclatura por terem sido produzidas especialmente para as grandes navegações entre o Império Britânico e a Índia, sua colônia em meados do século XIX. Esse estilo tem sua cor pálida (pale) e seu grande teor alcoólico justamente para suportar os desgastes de meses de viagens em barris e não perder seus atributos durante o processo.

CAMBERRA CERVEJAS ESPECIAIS

Avenida Araucárias Lote 1325 Loja 18 Águas Claras

Reinheitsgebot A cerveja é algo tão importante para a história alimentar que já no século XIV temos a primeira lei que regulamenta o que pode ou não ser considerado cerveja. A Reinheitsgebot, ou Lei de pureza da Baviera, decretava que uma cerveja de verdade deveria ser o líquido que continha em sua composição pura e somente água, malte e lúpulo.

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Gustavo Mamede

Tite para presidente!

O gaúcho Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, de 56 anos, técnico da seleção brasileira, está com moral em alta. Desde que assumiu a seleção Canarinho, foram oito vitórias em oito jogos pelas Eliminatórias Sul-Americanas. O feito classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 2018, levando o “título” de melhor ataque e de defesa menos vazada da competição - com 24 gols marcados e apenas dois sofridos. A admiração é tanta que ele é apontado como virtual candidato a presidente da República com apoio de um eleitorado fiel. Em uma pesquisa online feita com mais de 2.300 pessoas, em março deste ano, pelo Instituto Paraná, Tite conta com 14,8% das intenções de voto para a Presidência da República. O levantamento tem margem de erro de 2%, para mais ou para menos, e conta com 95% de precisão. Especialistas e fãs de futebol afirmam que uma série de fatores leva à admiração, a começar pelo novo estilo e filosofia de trabalho impostos por Tite. A base é a união da equipe, o que aumenta o nível e as condições de competição. Lealdade e merecimento são as palavras-chave do técnico. Em um de seus vários momentos de demonstração destas virtudes pregadas pelo técnico, durante a preparação para as Eliminatórias da Copa, ele chamou a atenção de todos que filmavam, assistiam e participavam do treino para dois jogadores que disputavam posição

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no time principal, Willian e Philippe Coutinho, saindo abraçados do campo. “Vocês disputam uma titularidade e saem abraçados. Uma coisa é competição. A outra é a lealdade. Eu estou falando alto pra todo mundo ouvir”, ressaltou Tite. Em nota, a assessoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) descreveu parte do trabalho do técnico da seleção. “Tite prefere dividir os méritos com sua comissão técnica. Como líder, ele faz questão de compartilhar a responsabilidade com todos da delegação. Dos seguranças ao chef de cozinha, para ele, cada um é responsável pelo que acontece dentro de campo”. Outro ponto positivo é a chamada liderança compartilhada. Com Dunga no comando da equipe, Miranda e Neymar eram os capitães incontestáveis quando estavam em campo. Com Tite, são escolhidos capitães diferentes a cada jogo. Assim, a braçadeira é compartilhada por todo o grupo, o que sugere a pluralidade de liderança e a divisão igualitária de peso em vitórias e derrotas.

A universitária Celise Duarte, fã de Tite desde a época do Corinthians, resume o perfil do técnico com um toque feminino. “É um homem justo. Dá chance e oportunidade para aqueles que todos acham que não merecem, passando confiança e incentivo. A liderança dele é inegável: consegue erguer um time aparentemente afundado, assim como fez com o Corinthians. Um momento marcante foi em novembro de 2016, no Mineirão, em Belo Horizonte - o maior clássico sulamericano contra o rival dos rivais da seleção brasileira: a Argentina. O Brasil goleava a Argentina por 3 a 0 pelas Eliminatórias da Copa – gols de Neymar, Coutinho e Paulinho. Aí não teve jeito, o torcedor tirou do fundo do peito a explosão de alegria, gritando aos quatro cantos do estádio, em coro: “Olê, olê, olê, olê! Tite, Tite!”. Era o apoio incontestável ao novo ídolo da seleção. As eleições presidenciais de 2018 são uma incógnita em meio às denúncias que mudam o cenário político a cada momento e diante da falta de credibilidade de políticos e partidos . Porém, está confirmada a presença da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Tite já tem seu lugar praticamente certo na área técnica. Se ele ocupará um cargo no executivo brasileiro, a partir de outubro do mesmo ano, só o tempo dirá. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

CRÔNICA


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