Ano 17 - N° 8 - Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília - Distribuição Gratuita - Abril/Maio de 2017
Relacionamentos Sossegar ou dar o virote? Um dilema
Foto: Alinne Castelo Branco
Pág. 12 e 13
SAÚDE
BELEZA
CIDADANIA
Glaucoma: difícil diagnóstico e que impõe tratamento imediato
A moda é a bichectomia, que reduz bochechas e melhora a auto-estima
Para imigrantes haitianos, Brasília é a capital da (des) esperança
Pág 4 e 5
Pág 16 e 17
Pág 8 e 9
EDITORIAL Caro leitor, Você já parou para pensar no que se transformaram os relacionamentos na geração em que vivemos? O uso constante de redes sociais digitais e de aparelhos eletrônicos distancia a convivência e a comunicação entre as pessoas, principalmente os jovens. O contato é raso, os relacionamentos passaram de duradouros para simples “ficadas”. Quem procura um amor, que seja bom para si, como já dizia Frejat, é ser raro em meio a tantos amores instantâneos e relações complicadas. Mas por que as pessoas não procuram mais carinho a dois? O medo da decepção é um dos maiores agravantes que faz com que os amores se tornem cada vez mais efêmeros. A seleção é o principal nos relacionamentos modernos: uma curtida numa foto, uma biografia cheia de características, são pontos de partida para futuros rolos que no fim dão em nada. O “eu te amo” virou “bom dia” pela facilidade e banalidade com que é dito. Os “matchs” dos aplicativos valem mais do que namoros sólidos e encontros de verdade. Mas e as pessoas que namoram? É muito cínico pensar que seja apenas para não se sentirem sozinhas. Talvez. Em “Amor Liquido”, Zygmund Bauman tenta mostrar a dificuldade que sentimos em nos comunicar, já que todos querem se relacionar de alguma forma. Estão todos procurando alguma coisa, mas ninguém quer se apegar ao que vem. Quem troca a “vidinha de balada”, gosta, mas não influencia outros a substituírem as noitadas dos fins de semana pelas madrugadas de conversas profundas e programas a dois. Não percamos a esperança. É preciso se envolver e viver intensamente. Uma ode ao amor, que sempre vale a pena de qualquer forma, em qualquer lugar. Desejamos que sua leitura seja leve e apaixonante. Que as relações não se percam, que a empatia e a força de vontade sejam ponto de partida para uma caminhada rumo ao horizonte. Desejamos que você se delicie com cada pedaço desse jornal feito especialmente por quem ama o que faz. E como ama. A você, leitor, nós do Artefato desejamos muito amor.
EXPEDIENTE Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 18, nº 8, abril/maio de 2017 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Chefe de Gabinete da Reitoria: Prof. Dr. Dilnei Lorenzi Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação: Prof. Drª. Christine Maria Soares de Carvalho Coordenador de Curso de Jornalsimo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Profa. Drª. Renata Giraldi Professor Auxiliar: Fernando Esteban Orientação de Fotografia: MsC. Bernadete Brasiliense Apoio: Larissa Nogueira Apoio Técnico: Sued Vieira Monitora: Jéssica Luz Editores-chefes: Giovanna Ferreira e Tatiana Castro Editores de arte: Enoque Aguiar e Patrícia Moura Editores de texto: Danilo Queiroz e Evelin Mendes Diagramadores: Anthony Machado, Carolina Militão, Evelin Mendes, Germana Gabriella Brito, Guilherme Costa, Karine Santos, Letícia Ziemann, Maria Gabbriela Veras e Tatiana Castro Editores de fotografia: Alinne Catelo Branco e Anna Paula Fernandes Editores de web: Letícia Ziemann e Layla Andrade Social mídia: Ello Romanin e Layla Andrade Repórteres: Anderson Miranda, Anna Paula Fernandes, Anthony Machado, Beatriz Ribeiro, Carolina Militão, Douglas Ramalho, Germana Gabriella Brito, Guilherme Costa, Gustavo Mamede, Hellen Resende, Hudson Portella, Karine Santos, Layla Andrade, Letícia Viana, Leticia Ziemann, Maria Gabbriela Veras, Natália Martins, Péricles Lugos, Virgínia Barbosa e Thiago Siqueira Checadores: Hudson Portella, Letícia Ziemann, Letícia Viana e Natália Martins Fotógrafos: Alan Rios, Alinne Castelo Branco, Anna Paula Fernandes, Beatriz Ribeiro, Germana Gabriella Brito, Layla Andrade, Maria Gabbriela Veras, Natália Martins, Thiago S. Araújo e Virgínia Barbosa Agradecimento especial aos repórteres fotográficos Beto Barata, fotógrafo da Presidência da República, que cedeu fotos da Vila Amaury, e George Gianni, que autorizou o uso de fotografia do Palácio do Planalto Ilustrações: Pedro Corrêa e Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPTC QS 7, Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefones: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Jornal online: issuu.com/jornalartefato Facebook: facebook.com/jornalartefato Site: artefatojornal.wordpress.com Snapchat: @artefato Instagram: @jornalartefato
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ARTIGO
Lava Jato, o fantasma dos governos Do PT ao PMDB, ninguém escapa da fúria
Foto: George Gianni
Danilo Queiroz*
Deflagrada há três anos pela Polícia Federal, a Operação lava Jato que cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, prisões temporárias e preventivas, além de conduções coercitivas envolvendo suspeitos de desvios de cerca de R$ 20 bilhões aproxima-se do governo de Michel Temer. Assim como foi com a expresidente Dilma Rousseff, Temer vê, a cada desdobramento, novos nomes ligados a ele citados ou investigados. Nos 2.069 dias em que a petista esteve no poder, 21 ministros nomeados por ela foram investigados ou citados de forma direta na operação. A lista conta com nomes, como o do expresidente Lula, nomeado para a Casa Civil, supostamente para obter foro privilegiado e escapar do âmbito da investigação, Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante, ambos ex-ministros. Ao que tudo indica, a Lava Jato se apresenta como um provável tsunami para o governo do peemedebista. Nos
primeiros 190 dias da gestão Temer, oito ministros foram investigados ou citados. A lista conta com nomes, como Romero Jucá, ex-ministro de Planejamento que deixou o cargo por causa das denúncias, Mendonça Filho, da Educação e Eliseu Padilha, da Casa Civil - que ocupou a Secretaria de Aviação Civil na gestão Dilma. Não bastassem os ministros, as investigações se aproximam de aliados da base e não poupa também a oposição, portanto, a pergunta é: “Quem escapará?”. Há dados que indicam que seis partidos governistas têm nomes envolvidos de alguma forma na Lava Jato, incluindo o próprio Temer, citado na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado - que diz ter acertado com o presidente o pagamento de R$ 1,5 milhão em propina para 69 aliados. Na gestão Dilma Rousseff, foram arrolados 64 aliados. Para um presidente da República, essas citações podem provocar uma
série de consequências a curto e longo prazo. Dilma Rousseff pagou com o próprio mandato, alvo do processo do impeachment, e sem apoio no Congresso Nacional. Talvez, por falta de tempo hábil e por ter apoio considerável da Câmara e do Senado, Temer deve escapar de uma ação tão radical, mas o PMDB certamente sofrerá os efeitos. Sob as influências da Lava Jato, veio o mau desempenho do PT, partido de Dilma Rousseff, nas últimas eleições municipais em 2016. A legenda perdeu força na maior parte de seus redutos políticos: em 2012, foram 630 prefeituras conquistadas, já no ano passado, o número caiu para 254. O PMDB deu uma breve guinada subindo de 1.015 para 1.027 cidades. Porém, o futuro pode ser traiçoeiro, já que o reflexo dos desdobramentos atuais da operação pode vir com mais força nas eleições presidenciais de 2018. É aguardar as cenas dos próximos capítulos... * Imagens cedidas por George Gianni
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SAÚDE
Silencioso apagar das luzes Foto: Thiago S. Araújo
Assintomático, o glaucoma afeta 2,4 milhões de pessoas no Brasil a cada ano
Alan Rios
Dona de casa, Maria Ivone Gomes se recupera de cirurgia tendo cuidado ao levantar da cama e começar seu dia, pois não consegue ver bem a ponta dos móveis ao seu redor nem o copo em cima da cabeceira e o porta-retratos com a foto do filho. Com seus 48 anos, seria normal enxergar embaçado, mas isso se corrigiria facilmente com a prescrição de óculos, o que a doença que não permite. O glaucoma, diagnóstico que Maria Ivone recebeu há seis anos, não tem correção ou cura. Dado preocupante que atinge cerca de 2,4 milhões pessoas por ano no Brasil, segundo a Organização Mundial
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de Saúde (OMS). Assim, a principal causa de cegueira irreversível no mundo segue cercada pelas obscuridades, como a falta de informação, que pode levar a progressões graduais da doença. O glaucoma é uma doença que atinge o nervo óptico causando perda da visão periférica, geralmente associada ao aumento da pressão intraocular, mas sem apresentar sintomas. A doença possui diferentes tipos, os mais comuns são o glaucoma primário de ângulo aberto e o glaucoma de ângulo fechado, que podem ser diagnosticados em exames oftalmológicos completos. Apesar de
não ter cura, os pacientes devem manter um tratamento de controle indicado pelo médico, com colírios ou opções cirúrgicas, como a trabeculectomia, cirurgia que diminui a pressão intraocular, dependendo do caso. No imaginário popular não sentir nada significa estar bem e não precisar da recomendada visita periódica ao médico. Comportamento que, segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), faz com cerca de 70% das pessoas com essa doença no país sequer saibam do diagnóstico que possuem. A falta de informação também é um dos motivos
Maria Ivone Gomes atualmente enfrenta o glaucoma com superações diárias, sem cansar nem relaxar. “É uma doença que exige paciência e muita informação, a gente precisa de um tratamento com alguém capacitado que se importe com o paciente”, avaliou ela, antes de buscar um de seus seis frascos de colírio, parte do pós-operatório, depois da cirurgia de trabeculectomia. Já com a assistente de vendas Viviana Luzia Aparecida, 36 anos, o glaucoma apareceu no nascimento, necessitando uma operação com sete dias de vida. A falta de informação depois do procedimento fez com que o diagnóstico se desenvolvesse, causando perda silenciosa da visão. Ao consultar um especialista, era tarde para possibilidades de cura. Viviana convive hoje com 10% da visão no olho esquerdo e enxerga somente luzes no direito. Ainda não se prevê cura para o glaucoma. Quem tem a doença e segue acompanhamento médico vive normalmente, fazendo com que, na maioria dos casos, a vida antes e depois de descobrir a doença só mude em decorrência dos exames específicos e medicações. O tratamento mais utilizado é a aplicação de colírios para diminuir a pressão intraocular.
Olho normal Glaucoma de ângulo aberto
Após o diagnóstico
Glaucoma de ângulo fechado
Foto: Thiago S. Araújo
para o aumento relevante de casos, segundo especialistas. Além do desconhecimento, outra dificuldade é o atendimento com optometrista - o profissional que prescreve receitas de correção de grau sem realizar um exame do globo ocular. A oftalmologista Hanna Flávia Gomes, especialista em glaucoma do Hospital de Olhos Santa Lúcia e do Hospital de Olhos do Gama, esclarece que é preciso procurar um oftalmologista para realizar um exame minucioso. “Hoje existem profissionais que não são médicos, eles não medem a pressão do paciente nem verificam o fundo de olho, então a pessoa passa por esse tipo de consulta e não é diagnosticada de nada. Há casos de pacientes que chegam aqui com glaucoma em fase avançada”, relatou.
DEPOIMENTO Pelos olhos do autor A rotina de pingar os colírios pontualmente todo dia começou aos 18 anos, quando ouvi da médica especialista que eu tinha glaucoma. Na hora, desejei muito não ter conhecido essa doença, mas hoje consigo ver a sorte de descobrir isso sem ter perdido nenhum ponto da visão. Chego em casa cansado da rotina, mas não posso me jogar na cama e dormir depois de um dia cheio, tenho que lembrar da gota da medicação das 22 horas. Periodicamente, faço exames, que não provocam dor física, mas perturba psicologicamente ficar uma manhã inteira no hospital, ouvindo histórias de pacientes com glaucoma que perderam a visão. Mas tenho tido boas notícias ao receber os resultados. Já as ruins aparecem como fantasmas, quando penso nos três filhos que quero ter e podem herdar grandes chances de desenvolverem a doença. Isso me leva ao desânimo. (Alan Rios)
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CIDADES
Uma cidade debaixo d’água Fundada em 1959, Vila Amaury foi engolida pelo Lago Paranoá
Leticia Viana e Virgínia Barbosa*
Imagine uma cidade inteira de baixo d’água. É exatamente o que existe há cerca de 30 quilômetros de Sobradinho. Com 40 km² de extensão e profundidade de 48 metros, o Lago Paranoá esconde a história da Vila Amaury, o acampamento criado para abrigar os trabalhadores que vieram de vários locais do país com um único objetivo: construir Brasília. O bairro chegou a reunir cerca de quatro mil famílias, a partir da fundação em 1959, quando se chamava Vila Bananal e depois Vila Sacolândia - por causa dos barracos improvisados serem feitos com sacos vazios de cimento. Mas acabou conhecida como Vila Amaury. Amaury de Almeida, funcionário da Novacap, liderava os movimentos prómoradia e ganhou simpatia e respeito pelos novos brasilienses, tanto que o seu nome foi dado à Vila. As reivindicações
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tiveram respostas do governo e trouxeram benefícios, como a criação da segunda cidade, Sobradinho. Mais tarde, os moradores foram transferidos para a Vila Planalto e outras satélites em construção. O acampamento era formado por trabalhadores que usavam o local como cidade dormitório – apenas para dormir e descansar. “Esse acampamento tem uma história que, em parte, é romântica. Todos os acampamentos eram de operários e, majoritariamente, feitos de homens solteiros. Mas havia de ter mulheres. Mulheres que eram trazidas para a diversão dos homens. Isso pode parecer muito machista, mas foi real”, afirmou o professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). “Houve várias casas de diversão e muitas moças que foram atraídas
pela possibilidade de ganhar dinheiro dessa maneira, então a Vila Amaury, em especial, teve uma fama de boemia muito forte. E fazia parte da rotina daqueles operários terem a música, os bares e a cachaça, sempre que voltavam de suas jornadas de trabalho”, completou o professor. Nivalda Pereira, 66 anos, veio para Brasília em janeiro de 1960, aos 10 anos de idade. Depois de passar pelo Núcleo Bandeirante, chegou à Vila Amaury e conta como era a vida no acampamento. “Eu amei morar lá porque estava morando dentro de um parque de diversões. ” Meu tio fez um sobrado de dois quartos. Minha mãe trabalhava no restaurante do seu César, que ficava em volta do parque. Eu brincava e ajudava algumas pessoas desse parque”, diz. Antes mesmo de considerarem a Vila Amaury como um lar, os trabalhadores foram informados de que o Lago Paranoá atingiria o vilarejo. Seria a “morte” de uma cidade para dar vida ao lago, segundo disseram os engenheiros. Para aqueles que desejam conhecer um pouco mais da história da Vila Amaury, podem adquirir o livro Brasília Submersa, de Beto Barata. Na obra, o autor traz outras imagens de objetos da Vila, que estão submersos. E ainda podem ter acesso a uma história fantasiosa da Vila Amaury, produzida pelo professor da UnB, Frederico Flósculo, com o título Thalija. A história em quadrinhos fala de uma adolescente que queria conhecer Brasília e ser arquiteta e em um dos momentos ela vai à Vila Amaury.
*Imagens cedidas por Beto Barata, repórter fotográfico oficial da Presidência da República.
impacto ambiental, mas que ao longo dos 57 anos da cidade, praticamente não restou nada da Vila Amaury, o que não prejudicou tanto o Lago. “Como era um acampamento pioneiro, imagina só a higiene dessa turma? Você tinha que ter água para o pessoal banhar, latrinas para as necessidades. Todas essas latrinas foram deixadas para trás. O Lago, quando encheu, ocupou também as fossas, os excrementos foram eliminados com a renovação da água do lago. Muito material foi deixado e cumpriu o ciclo de degradação no interior do próprio lago”, ponderou Frederico.
A previsão se concretizou e a história da cidade que um dia abrigou aqueles que ajudaram a erguer Brasília está submersa no fundo do Lago. “Há uma lenda romântica da Vila Amaury no sentido de que alguns pioneiros teimaram em permanecer lá, mas verdadeiramente ninguém, em registro histórico, foi afogado ou foi ferido, durante a inundação da Vila Amaury”, afirmou Flósculo. Depois que a barragem do Paranoá foi aberta, o lago começou a encher aos poucos, ao longo de dois anos, e a Vila foi sendo inundada lentamente. “O lago foi chegando perto das casas, aí foram tirando as famílias. Meus tios resolveram mudar para a Vila Dimas. Tinha também a Vila Rabelo, onde as famílias dos empregados que vinham de fora moravam lá. Os outros já tinham seus barracos”, recorda Nivalda. Hoje em dia, a cidade submersa atrai a curiosidade de mergulhadores, para saber o que restou da Vila Amaury. “O que tem ali é muito resto das casas. Tem pisos, tubulações enormes de esgoto, estrutura de alvenaria, que devia ser algum vestiário na época, tem vaso sanitário intacto. Além dos restos das estruturas, você acha alguns utensílios usados pelos moradores como prato, filtro de barro, garrafas de alvejante, xícaras,
vidro de perfume e sapatos”, relatou o fotógrafo e mergulhador Beto Barata. “Pelo que eu mergulhei, eu suponho que os moradores reaproveitaram as estruturas de madeiras e levaram para montar suas novas casas nas cidades em que foram transferidos”, completou Barata. Quando questionado sobre os problemas ambientais que a cidade submersa poderia ter causado ao Lago Paranoá, o Professor Frederico afirmou que, atualmente, seria um gravíssimo
Por um ano, em 2009, o repórter fotográfico Beto Barata, que atualmente está na Presidência da República, mergulhou nas águas do Lago Paranoá, e fez imagens inacreditáveis das profundezas. Ele conseguiu registrar vestígios da antiga Vila Amaury: vasos sanitários, um ônibus, garrafas, além de animais que vivem nas águas mais profundas do lago. O trabalho dele virou um livro “Brasília Submersa” e várias fotografias, que ilustram a obra, foram expostas no Museu Nacional da República.
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CIDADANIA
Histórias paralelas
A realidade dos haitianos que moram em Brasília e sonham com a capital da esperança Hellen Resende*
De carona no avião da Força Aérea Brasileira (FAB), Auguste Fenel, 36 anos, desembarcou em Brasília em fevereiro de 2011. Diferentemente da maioria dos imigrantes do Haiti, não entrou no país pela concessão humanitária. Ele trabalhou na Missão de Paz da ONU em seu país e veio ao Brasil a convite de um coronel da FAB, que se tornou seu amigo. Contrariando a rota imigratória, na qual a maioria chegava pelo Norte e se dirigia a São Paulo, seguiu direito para a capital. Se no Brasil, a falta de acesso à educação superior é uma realidade em 2014, apenas 58,5% dos estudantes de 18 a 24 anos frequentaram o ensino superior -, o imigrante está na contramão dos números. Estudante do curso de jornalismo da Universidade Católica de Brasília (UCB), Fenel dá aulas particulares de inglês e francês e está empenhado em um sonho: abrir uma escola de idiomas. “As pessoas confundem muito, acham que todos os haitianos no Brasil são refugiados. Elas desconhecem as histórias que contrariam o que a TV fala do povo do Haiti”. Com a promessa de que conseguiria estudar e trabalhar, Wood Shearer, 24 anos, saiu do Haiti em 2013. Após passar pela Venezuela, tomou um ônibus para o Amazonas. Na chegada ao Brasil, cobraram quase R$ 500,00 para tirar a carteira de identidade - atualmente há a isenção das taxas de registro e de
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emissão da identidade para refugiados, segundo a Polícia Federal. A identidade custou caro, assim como ter acreditado em um país de vida fácil. Shearer ainda não consegue estudar nem trabalhar na área que gostaria, Letras. Ele é empregado de um supermercado e tem entre as tarefas atender aos clientes estrangeiros. Poliglota, Shearer fala crioulo, francês, português, inglês e espanhol, mas não compreende como o estereótipo de um Brasil que só tem alegria, pode iludir tanta gente. “A televisão só mostra lugares lindos, as belezas do Rio de Janeiro e o
Apoio e acolhimento No Varjão, foi criada a organização não governamental Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH). O IMDH atendeu, em 2015, 2.069 imigrantes, dos quais 25% são haitianos, que, em sua maioria buscam um local para viver em Samambaia. Para promover a integração dos imigrantes, o instituto oferece ensino de língua portuguesa, a regularização de documentos e apoio na busca por emprego. “A acolhida [aos imigrantes] é para ajudá-los com atitude fraterna, compreendê-los e darlhes esperança, a possibilidade de recuperar a auto-estima e a confiança”, disse Rosita Milesi, freira da Congregação Scalabriniana.
Doutora em Comunicação e Cultura, a professora de Comunicação da UCB Sofia Zanforlin é autora do livro “Etnopaisajes en las Metrópolis Brasileñas - migración, comunicación y sentimiento de pertenencia”. A pesquisadora analisa o papel da mídia na cobertura dos fluxos migratórios no Brasil. Para ela, há uma distinção de tratamentos quanto às questões econômicas e sociais dos imigrantes. O que pode explicar as sensações distintas dos dois haitianos, que vivem modos de vida tão diferentes. “Na verdade, há que se dividir os fluxos que vêm por condições econômicas e os refugiados que recebem um tratamento mais benevolente. Portanto, se complexificou também a maneira como os imigrantes em geral são retratados pela mídia”, afirmou.
organização das cidades é bem diferente. Brasília é muito fechada. Em Taguatinga, as pessoas são mais gentis e calorosas”. Intimamente, o haitiano confessou que o que o amedronta é o preconceito velado, que ele sente no lugar onde estuda. Shearer, quando perguntado sobre o lugar preferido no DF, ele se diz: “Conhecedor da realidade de onde vive”. Já Fenel, se refugia em um mundo à parte dedicado a sobreviver. “Para te dizer meu ponto turístico favorito eu tinha que andar mais, só saio se precisar resolver alguma coisa”, afirmou ele, sem rodeios. Para o futuro, os dois desejam o mesmo - voltar ao Haiti. Eles sonham aqui, mas querem concretizar os planos no seu país e talvez lá suas histórias se encontrem. *Pedro Corrêa cedeu as ilustrações. Ilustrações: Pedro Corrêa
Fluxos econômicos e sociais
progresso de São Paulo. Ninguém sabe da miséria, do salário mínimo que é tão pouco”, desabafou Shearer, que alega que o que o mantém aqui é não querer voltar para o Haiti sem perspectivas de melhorias. Lá, ele trabalhava no negócio da família. Fenel e Shearer têm em comum além da nacionalidade, o fato de ambos serem da classe média haitiana e a busca por uma vida melhor. Eles não deixaram o Haiti fugindo da fome, mas da falta de oportunidade. As suas histórias se encontram no Distrito Federal, pertinho de Brasília, conhecida pelo clichê de “capital da esperança” e pelo maior Índice do Desenvolvimento Humano por município (IDHM) do Brasil. Fenel mora em Taguatinga, a 24 quilômetros do centro da capital, enquanto Shearer vive a 30 quilômetros de Brasília, em Ceilândia. Eles estão separados por seis quilômetros e pela forma como enxergam o lugar onde vivem e suas realidades. Shearer tem medo de andar na rua por causa da violência urbana, pois o DF está em 13º no número nacional de homicídios, superando Rio e São Paulo. Teme ficar doente e não conseguir atendimento no hospital, assim ele se esconde todos os dias, depois de sair do trabalho. No barraco onde vive, dedica o tempo exclusivamente ao emprego no supermercado. Nas poucas horas vagas, visita alguns amigos haitianos e já namorou várias brasileiras, mas quer se casar mesmo é com uma haitiana. Ao contrário do conterrâneo, Fenel não demonstra medo em sua fala. Ele se mostra corajoso e sonhador. O universitário conhece bem o DF, inclusive as áreas mais carentes, e quer trabalhar em projetos sociais. Segundo ele, sua primeira impressão ao desembarcar em Brasília é bem diferente de outras cidades: “A
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MEIO AMBIENTE
Só com muita criatividade Em tempos de racionamento, métodos simples e baratos driblam a falta d’água
Natália Martins
Morador de Taguatinga, o bombeiro Augusto Cézar Rodrigues, de 39 anos, decidiu que ele e a família não sofreriam com o racionamento de água no Distrito Federal. E ele usou a criatividade para driblar esse problema: projetou e criou um coletor de água, utilizando apenas canos de PVC, mangueiras e uma piscina inflável. “Mesmo utilizando poucos materiais e parecendo ser um sistema que não apresenta resultados eu já consegui diminuir em um mês 20% da minha conta de água”, contou ele, detalhando que a água que é recolhida
“Em um mês economizei 20% do valor total da minha conta de luz”, disse Augusto Rodrigues passa a ser reutilizada para dar descarga e para limpeza da casa. A família do bombeiro adotou também novos hábitos no cotidiano: menos tempo de banho no chuveiro e durante a lavagem de roupas. Desde janeiro, a população do Distrito Federal passou a ser submetida ao primeiro racionamento de água da história, em decorrência
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da crise hídrica que o país enfrenta. As primeiras regiões afetadas foram Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e Águas Claras, que são abastecidas pelo reservatório de Santo Antônio do Descoberto. No mês seguinte, o nível de água do reservatório de Santa Maria que abastece as outras regiões do DF, diminuiu ao ponto de integrá-las no esquema de racionamento da capital. Atualmente, o reservatório do Descoberto apresenta um nível de 45,90% e o de Santa Maria em 47,95%, porém, este cenário já esteve pior. No começo do ano, a barragem do Descoberto atingiu 24,18% do seu nível, dado considerado alarmante. Níveis tão baixos de reserva levaram muitos dos que moram e trabalham no Distrito Federal ficarem sem água por mais de 24 horas. Para especialistas, os percentuais ainda são insuficientes e não há previsão para terminar a economia de água na região. O racionamento levou muita gente a mudar totalmente suas rotinas. Baldes e caixas d’água entraram no cotidiano das pessoas, mas com criatividade muitos conseguiram driblar a falta de água. Os estudantes de engenharia civil da Universidade Católica de Brasília (UCB) Jéssica Karoline da Silva, Luís Felippe Santa, Mário Fernando da Silva e Matheus Augusto dos Anjos encontraram na água da chuva uma forma de reaproveitamento. Eles criaram um projeto que recolhe a água da chuva para reservatórios que passam a ser utilizados para limpeza e irrigação de hortas. O projeto foi colocado em prática
obra. Segundo os futuros engenheiros, no mercado cada reservatório sairia em média a R$ 7 mil, o que faria o custo total do projeto sair em torno de R$ 21 mil. “Nós utilizamos canos PVC, que foram fixados na calha do telhado, assim que acontece a primeira chuva a água suja é descartada e logo após as demais são capturadas e levadas até os reservatórios. ” Explicou Matheus Augusto Oliveira, informando que os três reservatórios poderão abastecer a escola durante o período de economia de água. De acordo com a Diretora
Simone Rebouças o Centro Educacional 07, que funciona nos três turnos, possui atualmente 2600 alunos matriculados, entre 8º e 9º ano do ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos sendo a maior escola pública do Distrito Federal. Ao contrário do que muitos pensam o projeto não foi pensado somente para a economia de água. “A iniciativa serviu para que a gente pudesse conscientizar os alunos e seus familiares, mostrando que essa atitude pode ser feita em casa com um custo muito baixo”, disse Luís Felippe.
Foto: Natália Martins
na escola CED 07, em Ceilândia Norte. O local foi escolhido porque um dos colaboradores da inciativa estudou por muito tempo na instituição, colaborando assim para um melhor relacionamento entre os alunos e a escola. Os estudantes de engenharia civil da UCB construíram três reservatórios com capacidade para armazenar 20 mil litros de água cada um, somando um total de 60 mil litros, ao custo de R$ 9 mil. Eles conseguiram apoio financeiro do Governo do Distrito Federal e a ajuda da comunidade que apoiou na mão de
Escola da Ceilândia reaproveita água da chuva, graças a um projeto desenvolvido por estudantes da engenharia civil da UCB
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COMPORTAMENTO
E aí, vai sossegar?
Namoro e casamento são os fantasmas do século, expondo a nova geração a dilemas Letícia Ziemann
A regra que parece guiar a vida dos solteiros é de que o tempo é curto demais para não ser aproveitado. O que vale para jovens, independentemente, da idade, do sexo e da orientação sexual. É a sensação que vivem os universitários Wesley Chiaramonte, de 21 anos, e Murilo Aguiar, da mesma idade, e Ericka Sousa, de 20. Todos eles falam da liberdade, da busca pelo prazer e dos receios da decepção com o outro. “Muitas vezes, quando estava com alguém, achei que o sentimento era recíproco, mas não era”, disse Ericka Sousa, estudante de nutrição. “Não namoro porque nunca encontrei a
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pessoa certa e a vida de solteiro é boa demais”, completou Chiaramonte, que faz curso de agronomia. “Opto por ser solteiro principalmente pela liberdade”, acrescentou Aguiar, que está no curso de direito. As diferenças entre homens e mulheres estão nos mínimos detalhes, segundo obra recente de John Gray, em “Homens são de marte, mulheres são de Vênus”. Para o escritor, homens são de Marte e um dia encontram as belas venusianas e se apaixonam. Cientes de que são diferentes, as venusianas e os marcianos vivem em paz até que decidem vir à Terra e acabam sofrendo uma perda
de memória seletiva: não se lembram de que não pertencem ao mesmo planeta e nem agem e pensam da mesma forma. O conflito então começa. No momento em que uns parecem viver dando virote com Wesley Safadão, que confessa em uma das suas canções que quer aproveitar sem compromisso, outros preferem a tranqüilidade de um relacionamento sério, como cantam Jorge e Mateus, em “Eu sosseguei”. É o caso do estudante de engenharia civil William Junior, 20 anos, e do maquiador Mateus Caldeira, de 25. “Eu não sinto falta de balada, de ficar com outras pessoas, ter alguém ao meu
lado e me divertir com ele é muito melhor”, comentou William Junior. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no censo realizado em 2014, a união entre casais homoafetivos aumentou em 31,3% nos números dos registros civis. Entre os heterossexuais, o aumento foi de apenas 2,7%. Aproximadamente 400 quilômetros de distância entre as cidades de Formosa e Goiânia separam o casal de universitários Naize Motta, de 20 anos, e Samuel Desconzi, da mesma idade. Eles namoram há cinco anos, período que enfrentaram muito mais do que apenas o desafio de manter um relacionamento, pois tiveram de superar a distância e as inseguranças que vêm no pacote. “A distância dificulta bastante. Ao mesmo tempo em que abre mais espaço para que cada um mantenha sua liberdade, isso também pode nos afastar muito. Surge um certo medo de viver uma vida longe dele”, desabafou Naize, que faz biotecnologia. “Manter um relacionamento sério para mim é tranquilo. Penso que é melhor levar a vida dividindo e construindo ela com a ajuda
de quem tem os mesmos objetivos.” Há um ano namorando sério, o estudante Lucas Santos, de 23 anos, reúne mil “conselhos” sobre os aspectos negativos da opção que fez. “[Os meus amigos] me dizem que ir para festa acompanhado não tem graça, com o tanto de mulher que você pode ‘pegar’ para que ficar só com uma? ”, contou ele. Em “Amor líquido”, Zygmund Bauman fala do mosquito do desapego que parece ter picado essa geração: “Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água”.
Namorar ou ficar? Natural de Três de Maio, no interior do Rio Grande do Sul (RS), professora Lusiane Tolomini, de 40 anos, casou-se aos 27, e diverte-se ao contar que sua geração desconhecia a prática do famoso “ficar” e que tem a sensação que os jovens parecem fugir de compromissos. “Na minha época não tinha isso”, exclamou ela. “O que me impressiona é que ninguém busca mais criar vínculos. Tudo gira em torno
do prazer. As pessoas estão se tornando descartáveis: uma noite já basta.” No século XXI, o conceito de namoro como relacionamento sério tem sido ignorado por muitos homens e mulheres. Para o psicoterapeuta Flávio Gikovate, o individualismo, resultante do avanço da tecnologia dentro das relações humanas e afetivas, marcou o fim do amor romântico e da eterna procura por sua metade da laranja. “Essa mudança não é negativa, não significa que estamos fadados a viver sozinhos. Ao nos conscientizarmos de que somos inteiros e não metades, ampliamos muito a liberdade individual”, afirmou Gikovate. Arly Cravo, coach relacional, destaca que o ser humano se preocupa demais em atingir os parâmetros sociais em busca da perfeição, ou seja, quer agradar a todos e não causar decepções ou frustrações. “Fugimos do amor por medo de não ter a aprovação dos outros”, observou ele. “Queremos ser amados, mas com recursos para sermos desejados. A geração vive entre o amor e o desejo.”
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COMPORTAMENTO
uicide girls: garotas com estilo
Nus femininos de quem não se submete aos padrões e agrada por ser “natural”
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Fotos: Acervo pessoal
Anderson Miranda e Gustavo Mamede
responde se aceita ou não o material da modelo. A partir do número de curtidas e comentários positivos é decidido se a modelo se tornará uma suicide girl. Caso seja selecionada, o portal oferece um espaço destinado ela. É necessário ainda encaminhar documentação em que comprova ter acima 18 anos. Vitoria Grunwald, 25 anos, mora em São Paulo e conhece o site há mais de oito anos, desde a época do Orkut. Ela conta que acompanhava as notícias de uma das modelos, uma das principais referências de um estilo que ela se identifica e tinha modelos parecidas com as suicides, o Scene Kid. “Sempre quis fazer parte do site, mas era menor de idade, então, não pude na época. Mais tarde, voltei a ter contato com algumas modelos, e então, tentei entrar no site como modelo. Foi o meu primeiro contato”. Segundo Vitoria, os assinantes são bem respeitosos em sua maioria.
Ela relata que existem vários grupos e comunidades de pessoas que se conheceram no site com interesses em comum das coisas mais variadas, o que faz com que as pessoas interagissem sobre vários assuntos. “Conheci pessoas incríveis por causa do site, pessoas do mundo inteiro! Com certeza me trouxe muitas amizades”, completa. João da Silva*, estudante de fotografia, de 23 anos, se diz fascinado pelas suicide girls. “Quero trabalhar com fotografia sensual, então o site é uma ótima forma de conhecer, além de modelos e outros fotógrafos”, contou. José Maria*, 18 anos, técnico de informática, conta que sua primeira impressão das suicide girls foi de elas serem garotas acessíveis a garotos pouco populares entre as garotas, os ‘nerds’. “Me chamou a atenção a naturalidade e estilo das garotas. Elas são lindas sem deixarem de parecer possíveis aos garotos geeks - termo inglês que se refere aos nerds, em tradução livre -, por terem belezas peculiares”, pontuou. *Entrevistados pediram para não serem identificados. **Geeks = termo inglês que se refere aos nerds, em tradução livre.
Como participar
Fotos: Acervo pessoal
A modelo e fotógrafa portuguesa Einnis é uma das suicide girls mais famosas do momento. Aos 22 anos, mantém no Instagram (@sinnieh) uma conta com 44.500 seguidores, entre eles, vários brasileiros. “Eu me identifiquei por este estilo porque me identifico com a não padronização da beleza”, sintetiza ao falar sobre o estilo suicide girls: um site que valoriza a beleza natural das mulheres, sem photoshop ou intervenções cirúrgicas para agradar os padrões estéticos tradicionais. Assim, com 26 piercings e19 tatuagens espalhadas pelo corpo, Einnis está no site há cinco anos, mas reconhece que as novatas sofrem com os baixos cachês e a falta de compreensão do trabalho que fazem. Daí a determinação dela de fotografar as aspirantes a modelo. A portuguesa conta que as meninas costumam ter um estilo arrojado, mas sem fugir ao padrão das demais jovens. “Grande parte das suicide girls tem uma vida completamente normal”, garante. O site em que estão as fotos das suicide girls valoriza o nu artístico, mas permitindo que cada mulher seja o que é. Não há ensaios super produzidos nem uso de maquiagem pesada. Cabelo, pêlos, piercings e tatuagens ao natural são permitidos. Também há espaço para mulheres magras, gordinhas, com seios fartos, não malhadas e também as pouco adeptas aos esportes. No portal, há uma rede social com grupos, chats e blogs, nos quais os visitantes fazem postagens e visualizam os ensaios das modelos – chamados de sets. Existem duas formas de participação: como modelo ou membro da comunidade. Como modelo, a candidata precisa enviar seus sets para o site. Para ser membro, o interessado paga uma mensalidade de U$$ 12,00 por mês – cerca de R$ 37,50. As fotos não precisam ter nudez, porém, tem de mostrar estilo e personalidade. Depois de enviadas as fotografias, a coordenação do site
Para visualizar as fotografias, os visitantes têm que se tornar membros do site. O valor da mensalidade é de US$ 12 por mês – aproximadamente R$ 37,50 – ou US$ 48 anuais – cerca de R$ 150,72. No portal, há uma rede social com grupos, chats e blogs, nos quais os visitantes fazem postagens e visualizam os ensaios das modelos – chamados de sets. Existem duas formas de participação: como modelo ou membro da comunidade.
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BELEZA
Bichectomia, a moda da vez Em busca da beleza perfeita, vale passar por uma cirurgia para reduzir as bochechas
A universitária Bruna Faleiro (foto), de 21 anos, malha e cuida da alimentação, tem um corpo bonito e saudável, mas conta que só ficou completamente feliz, depois de realizar um sonho: reduzir as bochechas e ter um perfil mais delicado. “Eu costumo dizer que a bichectomia foi a melhor coisa que fiz na vida porque ela melhorou muito minha auto-estima e eu me sinto muito mais confortável quando vou tirar fotos e conversar com outras pessoas”, disse. Bruna Faleiro está entre as muitas brasileiras que recorrem à cirurgia de bichectomia todos os anos. Ainda não há dados oficiais sobre quantas pessoas procuram especialistas para realizar o que chamam de sonho. Mas médicos e dentistas afirmam que a procura aumenta a cada ano no país e no mundo. O recurso foi adotado por celebridades mundiais e provocou assim a “descoberta” da cirurgia. As atrizes Angelina Jolie, Megan Fox, Jennifer Lopez e a socialite Kim Kardashian admitem que recorreram à bichectomia para conseguir o rosto ideal. A palavra bichectomia ainda causa estranheza para muitas pessoas. O termo que se refere à bola de bichat - tecido adiposo localizado nas bochechas - tem esse nome em referência a Marie François Xavier Bichat (1771-1802), anatomista francês que no século XVIII marcou a história da anatomia patológica com seus estudos. O procedimento, apesar de novo no Brasil, é procurado por quem pretende afinar o rosto por questões estéticas. Apesar de ser um tecido gorduroso, a bola de bichat não perde sua massa com
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Foto: Anna Paula Fernandes
Anna Paula Fernandes e Douglas Ramalho
Foto: Anna Paula Fernandes
Um corte de 1 cm é feito por dentro na lateral da boca.
A incisão é realizada na direção do primeiro molar.
Aplica-se anestesia local no paciente.
Chaga-se a bola de Bichat e o excesso de gordura é retirado.
Informações Importantes
- A região da cirurgia possui muitos nervos (motores e sensoriais) por tanto, deve-se ter cuidado para não lesionar o paciente e prejudicar o dulto salivar e os vasos sanguíneos - Em média a bichectomia leva 40 minutos para sua realização - Os valores variam entre médicos (R$ 7 mil a R$ 15 mil) e dentistas (R$ 1,7 mil a R$ 4,5 mil) - Para a pré-operação exames como de sangue e cardiológicos poderão ser solicitados. Pode- se usar a tomografia para medir o tamanho da gordura.
facilidade. Assim, mesmo que a pessoa esteja no peso ideal, ainda mantém o rosto com aparência de gordinho, o que leva à procura da cirurgia por motivos estéticos, na maioria das vezes por mulheres. A cirurgia envolve uma polêmica entre médicos e dentistas para definir qual seria o profissional adequado para realizar a cirurgia. Os cirurgiões-plásticos, por exemplo, cobram de R$ 7 mil a R$ 15 mil por procedimento. Já os cirurgiões-dentistas
oferecerem o serviço por um preço menor: de R$ 1,7 mil a R$ 4,5 mil. Para o Conselho Regional de Odontologia (CRO) do Distrito Federal, não há dúvidas que a realização do procedimento pode ser realizado tanto por médicos como por dentistas. Por meio da assessoria de imprensa o CRODF informou que não há para a entidade implicação alguma que proíba a realização de procedimentos estéticos pelos dentistas.
Porém, no que depender dos médicos a polêmica promete não acabar tão cedo. Em nota conjunta, a Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM), Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) afirmam que se dizem preocupados com a saúde dos pacientes e estudam ingressar com uma ação na Justiça contra o Conselho Federal de Odontologia (CFO).
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SOCIEDADE
do mundo virtual Crianças dependentes da tecnologia deixam pais preocupados e especialistas em alerta
“Papai, você pode voltar com o carro só pra eu pegar um Pokémon ali atrás?”, disse Eduardo de Castro, 6 anos, com a certeza de quem pretendia capturar o bichinho virtual. O pedido foi feito quando a família retornava de um passeio ao shopping. Segundo pesquisa da consultoria empresarial norteamericana, A.T. Kearney, o Brasil é o país onde mais pessoas passam tempo na internet: em mil entrevistados, 51% afirmaram que permanecem o dia todo conectadas, dado que não se restringe apenas aos adultos. O uso exagerado de tecnologias entre crianças cresce cada vez mais, preocupando pais, que estão alarmados pelo tempo em que os pequenos passam conectados à internet, e especialistas, que alertam sobre os riscos em não variar as atividades das crianças para otimizar o tempo de forma criativa. Em outra pesquisa, feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2016, os hábitos de 21 crianças, de 8 a 12 anos, foram avaliados levando à conclusão de que 14 delas não praticavam nenhum tipo de atividade física. Ana Lúcia Meneghel, autora do trabalho, afirmou que quando questionados sobre o que gostam de fazer nos finais de semana, a maioria dos pequenos respondeu: brincar com jogos eletrônicos.
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(Foto: Arquivo Pessoal)
Anthony Machado
Eduardo de Castro, de 6 anos, faz tudo com tablet na mão
A dona de casa Glaucimar de Castro, 42 anos, moradora de Goiânia, sente na pele os efeitos do contato constante das crianças com o mundo virtual. Ela conta que seus filhos Guilherme, 10, e Eduardo, 6, muitas vezes preferem ficar na internet a fazer outras atividades. “Após fazerem os deveres de casa, eles querem passar o resto do dia usando o videogame e a internet. Às vezes, preciso dar bronca para que eles desçam e brinquem com os amiguinhos do prédio. Tenho que ficar controlando isso, mas é muito difícil”, lamentou.
(Foto: Arquivo pessoal)
Os irmãos Guilherme, 10 anos, e Eduardo, 6, não abandonam os eletrônicos um minuto sequer, ficam conectados todo o tempo
Como lidar? A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças com idade inferior a dois anos não tenham contato com celulares, computadores e tablets. Aquelas acima de 5 anos, não podem ficar mais de duas horas por dia fazendo uso desses aparelhos. Profissionais da área da saúde acreditam que a melhor forma de lidar com a situação é colocar à disposição das crianças outros tipos de atividades, como brincadeiras ao ar livre. Para a pedagoga Katya do Vale, os pais precisam impor limites. “O uso dessas tecnologias deve ser fiscalizado e ponderado. É importante que os responsáveis estabeleçam um horário e determinem uma rotina,
além de saber o tipo de conteúdo que o filho está acessando”, explicou. As várias horas utilizando aparelhos eletrônicos podem trazer tanto problemas físicos, como complicações no aprendizado. Katya, alerta sobre os riscos. “Algumas crianças podem apresentar dificuldade em se concentrar principalmente na leitura e na interpretação. Além disso, o uso excessivo de eletrônicos diminui a capacidade de memorização e bloqueia alguns sentimentos impulsivos, como a raiva”, pontuou. Para a psicóloga Alessandra Araújo, que tem especialização em orientação psicanalítica infantil, as crianças precisam de interação social e a moderação é o melhor jeito para se lidar com os possíveis problemas.
“Crianças que passam muito tempo à frente de aparelhos eletrônicos podem se privar de um desenvolvimento biopsicossocial. A infância consiste na elaboração da personalidade da criança, o juízo de valor ainda está em formação. As mídias sociais atuais apenas reproduzem jogos e filmes que nem sempre conseguem trazer a bagagem mais apropriada que elas precisam”, afirmou. Eduardo, garoto que foi citado no início desta reportagem, não conseguiu o capturar o Pokémon que havia aparecido no caminho da família de volta para a casa. A mãe contou que ele ficou enfurecido com o episódio, mas a piscina do prédio em que mora curou as dores infantis pelo bichinho virtual que foi perdido.
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ESPORTE
Games: de hobby a profissão A atividade é tão séria que há competição internacional e disputas que geram milhões Germana Gabriella Brito e Layla Andrade*
Quem nunca sonhou em ser um jogador profissional de videogame? O que parecia ser um desejo distante tornou-se realidade e tudo começou em 1970. A partida para o esporte eletrônico - o eSport – gerou as primeiras competições. Sem premiações, jogar era apenas pura diversão. De lá para cá, foram várias as mudanças: o mercado do esporte eletrônico movimenta milhões em receita. Só em 2016, foram contabilizados US$ 493 milhões com crescimento anual de 40%, segundo a Newzoo, líder global em pesquisa da indústria dos games. O eSport se tornou uma promissora área profissional para os gamers, que antes apenas se divertiam no mundo virtual, e agora participam de campeonatos e ligas que são transmitidas ao vivo em todo o mundo. Jogos como Counter-Strike: Global Offensive, DotA 2, League of Legends e Starcraft são games antigos, mas que tem seu crescimento em ascensão nos últimos anos. A previsão é de que a audiência mundial de pessoas que assistem tanto as transmissões onlines como as que comparecem aos campeonatos chegará a 385 milhões de pessoas até o fim deste ano, de acordo com a Newzoo. A América do Norte é o continente que registra o maior faturamento no esporte eletrônico: US$ 257 milhões anuais. Lá, estão as maiores ligas e
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os principais torneios do mundo, o que atrai patrocínios, investimentos de desenvolvedores de jogos e de organizações que promovem os eventos. O pernambucano Epitácio Pessoa de Melo Filho, o ‘Taco’, de 22 anos, é bicampeão mundial do jogo Counter Strike: Global Offensive pela SK Gaming. “Comecei jogando pela internet e fui me destacando, depois de um tempo me chamaram para jogar profissionalmente”, contou Taco, que mora em uma Gaming House (casa onde os jogadores de esportes eletrônicos moram e treinam seus respectivos jogos) na Califórnia, Estados Unidos, com outros 5 integrantes da equipe.
Onde tudo começou... Há quase 45 anos, foi realizada a primeira competição oficial. Em 19 de outubro de 1972, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, alunos disputaram o jogo Space War Logo, depois a competição foi nomeada de Intergalatic Spacewar Olympics (Olimpíadas Intergaláticas de SpaceWar), o marco do novo esporte que surgia. Depois, em 1980, a Atari, uma das principais responsáveis pela popularização de videogames no mundo, organizou o Space Invaders Championship, que foi a primeira competição de esporte eletrônico em grande quantidade e contou com a presença de 10 mil participantes. Em 2000, a modalidade passou por um grande crescimento – eram dez torneios por ano e, em 2010, foram 160 disputas – as principais competições eram World Cyber Games, Intel Extreme Masters e Major League Gaming. A partir de 2010, com a popularização do streaming (transmissão online de áudio e vídeo através de redes), o eSport cresceu em larga escala, tendo
“Eu Jogava CS e conciliava isso com universidade e treinos, mesmo assim, consegui algum destaque e comecei a jogar campeonatos nacionais online e presenciais.” Epitácio Pessoa de Melo Filho (Taco)
“A partir do momento que temos um time do cenário brasileiro disputando um campeonato mundial, outras organizações e investidores podem passar a olhar para nós como um mercado com força e potencial.” Danylo Nascimento (GRD)
“Midas Club é um projeto que visa fomentar o cenário nacional de dota 2 no Brasil. Ele envolve todo o 360 graus que uma comunidade precisa para crescer.” Filipe Astini
Foto: Divulgação
como fonte principal a Twitch.tv, um site especializado em transmissões de jogos eletrônicos que recebe cerca de 8 milhões de visualizações mensais. Com o aumento de espectadores em larga escala o nível de investimento também aumentou e as competições passaram a ter premiações cada vez mais altas. O prêmio mais alto registrado foi no campeonato mundial de Dota 2, em 2016, sendo o primeiro a ultrapassar US$ 20 milhões. O eSport conquistou seu espaço no Brasil sendo reconhecido como uma modalidade esportiva com peso social e financeiro, e alcança crescimento significativo, como terceiro maior público da modalidade no mundo. Há, inclusive, a Associação Brasileira de Clubes de eSport (ABCDE), organizada por times brasileiros com a intenção de impulsionar e profissionalizar o esporte eletrônico, negociando patrocínios e regulamentando os campeonatos e torneios. *Fotos de arquivo pessoal
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COMPORTAMENTO
Companheiros ou rivais?
Mãe, irmãos e namorados que vivem em harmonia apesar da paixão por times adversários Beatriz Ribeiro
Os estudantes Gabriel e Matheus Ventura (foto), de 22 anos, são gêmeos e têm uma paixão em comum: o futebol. Tanto é que costumam ir juntos ao estádio para assistir às partidas. Poucos conseguem identificá-los a não ser por um detalhe: Matheus torce pelo Botafogo, enquanto Gabriel, um minuto mais velho do que o irmão, é fanático pelo Flamengo. “Eu nasci pra ser rubro negro”, afirmou Gabriel, único da família que não é Botafoguense. A paixão por futebol foi estimulada pelo pai dos gêmeos que os inscrevia para entrar ao lado dos jogadores quando o Botafogo ou o Flamengo jogavam em Brasília. “Nós tínhamos por volta de seis anos e quando o Botafogo jogava, eu entrava em campo e o Gabriel ficava sozinho na arquibancada”, contou Matheus. Já quando o jogo era do Flamengo, Matheus, o botafoguense, ia para a arquibancada e Gabriel seguia para o campo. Até hoje, os irmãos acompanham um ao outro quando o time do coração vai jogar. “Eu vou com ele no estádio quando o Flamengo joga, mas eu torço contra”, brincou Matheus. “Quando é Flamengo e Botafogo, a gente não senta junto, e apesar de tirar sarro um do outro, nunca brigamos por um jogo”, ressaltou Gabriel. Os meninos se dizem mega
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supersticiosos. O Gabriel não usa a camisa do time quando o Flamengo entra em campo e o Matheus troca a dele quando começa a partida. No sofá de casa, cada um tem seu lugar da sorte e a cerveja é sempre a do mesmo rótulo para o time não ser derrotado. “Quando jogam os dois times ao mesmo tempo, a gente fica brigando para o outro não sentar no lugar da sorte”, brincou o flamenguista Gabriel. A ironia acompanha o destino dos gêmeos. O flamenguista Gabriel namora uma botafoguense e o irmão Matheus, torcedor fanático do Botafogo, tem uma namorada rubro-negro. Eles garantem que o amor supera as diferenças no campo e no campeonato brasileiro.
Do Galo à Grécia Na família da dona de casa Joana D’Arc dos Santos, de 62 anos, não é diferente. O amor pelo Atlético Mineiro não se estendeu aos filhos Daniel, 32 anos, e Marco Paulo, 30 anos, torcedores do São Paulo. Apesar de times opostos, a paixão pelo futebol é um só. A matriarca se encantou pelo Atlético ainda adolescente quando assistiu uma partida do time em Belo Horizonte. “A cidade virava uma
festa, quando o meu time jogava contra o Cruzeiro e o Atlético sempre ganhava”, contou Joana D’Arc. Anos depois, em 1979, ela foi para a Grécia em busca de oportunidades de emprego. Lá, o time campeão era o Panathinaikos. Nos sete anos que morou na Grécia, a dona de casa não abandonou o Atlético. Mas, por outro lado, não conseguiu transferir a paixão pelo Galo aos filhos Marco Paulo e Daniel, ambos nascidos na Grécia. “Quando chegamos a Brasília, só se falava no São Paulo, e eu o escolhi em 1993, quando foi o campeão da Libertadores da América”, contou Marco Paulo.
Torcida mista
Foto: Beatriz Ribeiro
é torcedor do São Paulo e o caçula Lucas torce pelo Cruzeiro. “Foi amor à primeira vista. E como a gente não manda no Na família dos três irmãos brasilienses Lucas Carneiro, de coração, mês que vem, vou me casar com uma flamenguista”, 19anos, e Natã, 26, e Kalleby, de 21, a casa também é dividida. O brincou Kalleby, que acha que a rivalidade no campo não afeta o irmão mais velho, Natã vibra pelo Corinthians, enquanto Kalleby amor que sente pela namorada.
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CRÔNICA
Futebol em terra de politicagem Karine Santos
Janeiro de 2017, começa mais uma edição do campeonato brasiliense. “Brasiliense”, entre aspas, além dos times do Distrito Federal, há equipes de Goiás, como o Luziânia, e de Minas, o Paracatu. E quem diria que em um lugar em que menos de 3% dos torcedores torcem para uma equipe local ainda tenha espaço para um torneio estadual. Engana-se quem pensa que essa história é nova. As primeiras bolas em solo brasiliense rolaram antes mesmo da inauguração da capital. Em meio à poeira, no ano de 1956, enquanto construíam Brasília, os operários deram os primeiros passos de um campeonato que é pouco reconhecido Brasil afora, mas que mantém viva a paixão pelo futebol de quem respira política. Lá na década de 50, quando houve pela primeira vez, nove clubes fizeram parte. Quase todos não existem mais, assim como o primeiro campeão, o Grêmio Brasiliense. O único que sobrevive desde essa época é o Clube de Regatas Guará. Atualmente 12 times compõem a elite do estadual. Após uma primeira fase em que todos se enfrentam, oito se classificam para as quartas de final e os dois últimos caem para a segunda divisão. Para o campeão e segundo colocado, ainda rende vaga na Copa do Brasil e espaço garantido na série D do Campeonato Brasileiro.
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Um campeonato de futebol é feito de várias peculiaridades, como a rivalidade entre os clubes. Há quem diga que - sem rivalidade - não existe futebol, o que talvez leve Brasília a não ser reconhecida como referência no futebol. Mas se lá em Minas, Atlético e Cruzeiro, e no Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio destacam-se nos clássicos regionais, aqui quem faz a festa do torcedor são o Gama e o Brasiliense com o verdeamarelo ou clássico-caçula... Por ser o clássico de futebol mais recente nos gramados do Brasil. Talvez essa rivalidade se dê porque o Gama é o que tem mais títulos ou pelo Brasiliense, que mesmo 25 anos mais jovem que o time gamense, seja um dos clubes que mais se sobressaíram em esfera nacional. Chegou à final da Copa do Brasil, também conquistou a série B do Campeonato Brasileiro, além de ganhar o estadual nove vezes. Mas só mesmo o torcedor sabe o motivo. Uma distinção peculiar do Candangão é ter o Paracatu, time mineiro e o Formosa e Luziânia, de Goiás, clubes de cidades do entorno que também participam do torneio brasiliense. Os três foram campeões da segunda divisão. Atual campeão brasiliense, o time de Luziânia, criado em 1926, conquistou em 2014, o
primeiro título do estado. É bicampeão invicto, após venwcer a final contra o Ceilândia, no ano passado. O Ceilândia também é um dos clubes que chegaram às competições nacionais: jogou a série B do brasileiro em 1989. Dos times que protagonizam o campeonato deste ano, está o Sobradinho que, no passado, era Botafogo Sobradinho Esporte Clube, quando fez uma parceria com o time carioca em 1996. O Real, time do Núcleo Bandeirante, jogou a série C do campeonato nacional. O Santa Maria e o Paranoá, criados na década de 2000, há, ainda, o Atlético Taguatinga que é o mais novo clube profissional do Distrito Federal, fundado em 2015. Do que é feito um campeonato de futebol? De jogadores, de torcida, de campo, de bola, de gente que acredita no esporte. Há quem diga que Brasília é uma cidade nova demais para ter espaço para futebol ou jamais vá existir. Na verdade, ele existe! Sempre existiu. Desde que a capital viu seus primeiros tijolos, teve bola rolando no chão. Se a pouca torcida, pouca estrutura e valorização fazem o futebol do DF não ser levado a sério. Esses 12 clubes e os operários que lá em 1956 criaram um campeonato estadual em uma cidade ainda inexistente fizeram e fazem o futebol brasiliense ser realidade.