Ano 13
artefato
Nº 4
Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília
Distribuição gratuita
Brasília, junho de 2012
Foto: Luma Soares
HORA DE VOTAR Com a chegada das eleições no Entorno, partidos políticos se aliam para as futuras votações do DF Foto: Felipe Vieira
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Sexo no parque Casais marcam encontros amorosos em estacionamentos no centro da cidade Págs. 22 e 23 Foto: Michelle Brito
De carona para o trabalho Presídio Feminino do DF não oferece sequer transporte ou ponto de ônibus para as internas beneficiadas pelo semiaberto Págs. 11, 12 e 13 Foto:Nilson Carvalho
Nova promessa para o kart Garoto de 14 anos é a nova aposta do automobilismo do DF Pág. 16
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ombudsKVINNA
carta dos editores
opinião
Carolina Alves*
E a quarta edição do Artefato chegou. Para muitos, esta é a última edição produzida. Alguns levam consigo a sensação de dever cumprido e um grande aprendizado na bagagem. Outros ainda permanecem ingênuos, na melhor das hipóteses, ou preguiçosos, na pior das hipóteses. Cada um deve olhar para a sua trajetória até aqui e tirar suas próprias conclusões. O Artefato não é uma etapa fácil. Além de dar um trabalhão, os jornalistas têm que conciliá-lo com outras disciplinas e estágio. Enfim, dá um cansaço só de pensar. Todos merecem parabéns pelo esforço, pois ao longo do semestre vimos boas fotos, páginas bonitas e textos bem apurados. Surpreende a escolha de algumas pautas e a forma como elas foram tratadas. É o que acontece na matéria de capa. As jornalistas trouxeram uma realidade pouco vista na mídia em geral e trataram bem um assunto delicado. A reportagem mostra as dificuldades que as detentas do Presídio Feminino do Distrito Federal, beneficiadas pelo regime semiaberto, enfrentam no caminho para o trabalho. “Traçado Mágico” traz um bom texto e exemplifica um jornalismo esportivo bem feito. Os preços para a prática do esporte são “salgados” e, portanto, distante para muitos, mas sonhar não custa nada e sonhos podem se realizar. Já “Celeiro de Talentos” é um banho de água fria. O jornalista promete falar dos esportes aquáticos, traz foto de alunos praticando polo aquático, mas para por aí. O texto é baseado na vasta experiência do treinador Giovanni Casilo, cuja vida se confunde com a história dos saltos ornamentais em Brasília, mas apesar da notoriedade sente-se falta das vozes dos atletas. A matéria promete, mas não cumpre. É uma boa pauta que poderia ter ido além. O mesmo acontece com “Realeza do milho”. A única entrevistada é Vera Lúcia. O texto ganharia muito se a jornalista tivesse incluído mais olhares na história. E a parte mais gostosa do jornal voltou, mas não deu água na boca. O espaço não foi bem aproveitado. O modo de fazer poderia ser menor, dando chance para um texto mais completo e uma foto mais limpa. * Estudante do 7o semestre de Jornalismo.
expediente Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 13 nº 4, junho de 2012
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Reitor: Dr. Cicero Ivan Ferreira Gontijo Diretora do curso de Comunicação Social: Prof.ª Angélica Córdova Machado Miletto Editores-chefe: Mariana de Ávila e Rick Astley Editores de arte: Letícia Pires e Luma Soares Editores web: Gabriela Almeida e Tuane Dias Editores de fotografia: Augusto Dauster e Jônathas Oliveira Subeditores de fotografia: Gledstiane Laissia, Michelle Brito e Nayara de Andrade Editores de Texto: Ana Paula Freire, Augusto Soares, Iasmin Costa, Natália Oliveira e Yale Duarte Diagramadores: Aline Sales, Flávia Fonseca, Jussara Meireles e Mariana Alvarenga
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Chegamos ao fim! Mariana de Ávila e Rick Astley
Mais um semestre acabando, e outra turma passa pelo Artefato. Café e energéticos foram nossos companheiros durante os fechamentos do jornal. Apesar de dormir poucas horas e passar sábados, domingos e até feriados na redação, em função do jornal, estamos satisfeitos com a experiência. E é no clima de despedida que chegamos à quarta edição. Desde o final de março, as repórteres Aline Sales, Alessandra Santos e Luma Soares estavam trabalhando na produção da matéria de capa. Foram quase três meses para conseguir a liberação de entrada no presídio feminino e iniciar a apuração. Tudo isso em função do famoso jogo do “empurra” feito pelos órgãos públicos. Pela Lei 7.210, de 11 de julho de 1984, do regime semiaberto, as presidiárias podem trabalhar fora do presídio, após terem cumprido um terço da pena. No entanto, ao mesmo tempo em que ganham o benefício previsto na Constituição, não têm apoio do governo na hora de ir trabalhar. Sem esse suporte, as presidiárias do semiaberto precisam caminhar cerca de meia hora até a parada de ônibus mais próxima ou pedir carona para chegar ao trabalho. Por outro lado, não falta incentivo para o promissor piloto de kart Pedro Fortes, uma das novas promessas para o automobilismo. O garoto cresceu em um ambiente de oficina mecânica, e hoje treina no kartódromo do complexo do Cave, no Guará. Com o objetivo de um dia competir na Fórmula 1, Pedro está em busca de patrocínio. E para a alegria da nação e da nossa Ombuskivinna, retomamos nessa edição a parte mais gostosa do jornal: Sabores, que além de uma receita de feijoada, trouxe as histórias controversas do prato. Se, no início do semestre, prevalecia a expectativa do que faríamos no Artefato, agora, na última edição, fica a sensação de dever cumprido. Cumprido, às vezes, aos trancos e barrancos, mas cumprido. Checadores: Natália Oliveira e Rodrigo Gantois Repórteres: Alessandra Santos, Alessandro Alves, Allan Viríssimo, Dimitri Alexandre, Eric Zambon, Estela Monteiro, Gabriela Almeida, Kleyton Almeida, Lane Barreto, Maycon Fidalgo, Monalisa Santos, Nilson Carvalho, Paula Carvalho, Rafael Alves, Vanessa Melo e Vinicius Rocha Fotógrafos: Ana Carolina Alves, Anna Cléa Maduro, Bruno Santos, Felipe Vieira, Giovana Gomes, Jéssica Antunes, Júnior Assis, Jussara Rodrigues, Mariana Lima, Robson Abreu e Vinícius Remer Professoras Resposáveis: Karina Gomes Barbosa e Sofia Zanforlin Orientação Gráfica: Prof. Dilson Honório Oliveira - DiOliveira Orientação de Fotografia: Profs. Thiago Sabino e Bernadete Brasiliense Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA EPCT QS 07 LOTE 1 Águas Claras - DF CEP: 71966-700 Tel: 3356-9237 - artefato@ucb.br
artefato
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Cidades urbanização
Favela encara FALTA DE ATENÇÃO das autoridades Condomínio Sol Nascente, segunda maior comunidade do tipo no país, enfrenta violência e infraestrutura precária Mariana Alvarenga e Augusto Soares
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for atuar perante a lei ambiental, pouca coisa vai permanecer. É triste, porque as pessoas terão que pagar por um erro do governo lá atrás”, explica o prefeito.
Segurança De acordo com Francisco, a violência no condomínio se manifesta majoritariamente por assaltos e roubos. Edson acrescenta que o tráfico de drogas também está presente. “Temos apenas três postos policiais, mas a viatura não entra na maioria Ausência de saneamento básico e asfalto são alguns dos problemas da região dos locais. Por vários Origem energia, muitos fazem gambiar- motivos: por ser difícil o acesso Segundo o gerente de Con- ra, ou seja, ligações ilegais nos – ter ruas sem saídas, pela pródomínios da Administração de postes. O hidrômetro de água pria ineficiência da PM e pelos Ceilândia, Ronaldo Vinhal, o foi colocado há pouco tempo. riscos”, diz ele. Jociara Lins, 41 anos, tem uma Sol Nascente começou como No dia em que a reportagem do uma área rural. Ao longo da dé- Artefato foi ao local, o chão es- mercearia no local. Por medo cada passada, as terras foram tava com muita lama, devido à da violência e dos frequentes assaltos que já vendidas depois que perderam chuva do dia aconteceram a produtividade. “Eram cháca- anterior. com outros coras que deixaram de produzir. Edson Lopes Para nós não é vergonha merciantes, ela Então as pessoas parcelaram os informa que, [o nome favela], mas sim trabalha atrás lotes e todos foram compra- pelo projeto para as autoridades, de grades. Mesdos”, explica. urbanístico que não deram mo assim, há Morador do Sol Nascente há da cidade, atenção à cidade três anos nesse três anos, Francisco de Assis, de quase três mil comércio, Jocia55 anos, conta que morava de r e s i d ê n c i a s Edson Batista Lopes ra acredita que aluguel no Setor P Sul e, quan- p r e c i s a r ã o o Sol Nascente do soube de uma oferta de lote ser removipode se tornar no local por R$ 4 mil, comprou. das, pois não “Moro aqui porque é o jeito, é permitido o uso do solo. “É um lugar melhor: “Pretendo não gosto daqui não”, comenta, um processo bem difícil [a re- continuar vivendo aqui e colaao falar das carências da cidade. gularização], porque aqui tem borar para o desenvolvimento da Ele também diz que, para ter muitas nascentes e córregos. Se cidade”, diz, otimista.
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Quando se pensa em favela, imagina-se um morro com barracos ou casas simples e desordenadas, como as do Rio de Janeiro. Mas o Condomínio Sol Nascente, localizado na Região Administrativa de Ceilândia, a 30 quilômetros de Brasília , recebeu esse título no Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A assessoria do órgão informa, em nota, que o nome correto para este tipo de habitação é “aglomerado subnormal”, e que a mídia usa o termo favela para simplificar o entendimento do público. Para se enquadrar nessa nomenclatura, existem vários critérios. A localidade precisa ser constituída de, pelo menos 51 unidades habitacionais (barracos ou casas) carentes de serviços públicos essenciais, ocupando propriedade pública ou particular e dispostas de maneira desorganizada. O termo parece forte, mas é exatamente essa a situação do local. “Para nós não é vergonha, mas sim para as autoridades, que não deram atenção à cidade”, reclama o prefeito do Sol Nascente, Edson Batista Lopes. Segundo ele, a rede de esgoto e o saneamento básico começaram a ser implantados agora. As casas estão sendo regularizadas aos poucos. “Depois que recebemos essa denominação de favela o governo começou a tomar atitudes”, desabafa.
Foto: Júnior Assis
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Cidades habitação
Ocupação desordenada Movimento dos sem-teto reúne moradores das periferias de Brasília em busca de lotes Cerca de cinco mil pessoas ocupam o Pinheirinho. A nova invasão de Ceilândia tem esse nome, em referência ao maior assentamento de sem-tetos que existe em São Paulo. Cada vez mais famílias aderem ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em busca de moradia. Segundo levantamento realizado pelos militantes, a maioria dos invasores nasceu nas cidades de Ceilândia, Samambaia e Planaltina. Os militantes enxergam no movimento uma forma para pressionar o Governo do Distrito Federal (GDF) e conseguir um imóvel. Maria do Socorro, 41 anos, é uma das moradoras do Pinheirinho. Nascida em Ceilândia, a militante ainda não conseguiu a tão sonhada casa própria. Ela possui cadastro no programa
de habitação do GDF desde 1994, mas apesar de preencher todos os requisitos nunca foi contemplada. De acordo com a Secretaria de Habitação do DF, alguns dos critérios para se inscrever no programa são nunca ter possuído imóvel na capital, ter mais de 18 anos e renda abaixo de três salários mínimos. Hoje o cadastro possui mais de 300 mil inscritos, e a previsão é de que até 2014 o governo entregue 250 mil moradias populares. Especialista em ocupação urbana, o engenheiro Fernando Mario Cabral ressalta que os planejamentos urbanos não levam em consideração a condição socioeconômica da população. “O planejamento habitacional no DF e as ações para atendimento às pessoas de baixa renda não funcionam”, lamenta.
Foto: Robson Abreu
Ocupação Novo Pinheirinho chegou a ter cerca de 1000 famílias acampadas
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Se o próprio governo não ajuda a gente, temos que nos mobilizar pela nossa moradia. Maurício da Penha
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Kleyton Almeida
A invasão Com lonas e papelão, os barracos são erguidos sobre a terra batida. Com o aluguel atrasado há quatro meses, Maria do Socorro não teve alternativa a não ser participar do movimento. “Ninguém quer passar por isso, estou aqui porque preciso, é um direito meu. Nasci e vivo em Brasília, só quero um local para viver com meus filhos e só saio daqui com meu lote”, conta a militante. Vicente de Braga Silva, 62 anos, nasceu no interior do Piauí e chegou à capital em 1960 para tentar uma vida melhor. Busca conseguir um lote para a filha, enquanto a neta brinca em meio à terra e à poeira da invasão. Vicente já foi contemplado com um terreno em 1988 em Samambaia e fala orgulhoso da casa em que vive até hoje com a esposa, os filhos e netos. “Eu ajudei a construir Brasília. Se eu consegui meu lote, minha filha também pode conseguir, ela precisa”, diz. De acordo com a Se-
cretaria de Habitação do DF, existem mais de quinze invasões e cerca de 450 construções irregulares espalhadas em várias cidades do Distrito Federal. A especulação imobiliária na capital federal afasta a possibilidade de pessoas de baixa renda adquirirem a casa própria. Segundo pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil no DF (Sinduscon), uma casa em Ceilândia, com dois quartos custa, em média, R$ 150 mil, dependendo da região. Mauricio da Penha Souza, 33 anos, auxiliar de pedreiro, aderiu ao movimento do MTST há sete meses e diz que os requisitos exigidos eram: não possuir lote em Brasília e participar ativamente das manifestações (montando acampamento nas áreas a serem invadidas). “Se o próprio governo não ajuda a gente, temos que nos mobilizar pela nossa moradia”, afirma. Para aderir ao movimento não precisa pagar nenhuma taxa, só é necessário preencher um formulário atestando as informações prestadas como renda e o tempo que reside no DF.
SERVIÇO Para mais informações e cadastramento no novo programa de habitação acesse: www.morarbem.df.gov.br
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política municípios
Eleições no Entorno movimentam O DF
Foto: Felipe Vieira
Os maiores partidos do país consideram a região estratégica. Entenda por quê Letícia Pires
As eleições no Entorno do Distrito Federal já está movimentando partidos políticos. As articulações dos parlamentares de Brasília no Entorno podem ser explicadas pela proximidade da região com a capital federal. Ter um prefeito ou vereador aliado eleito em uma cidade das redondezas pode ajudar na eleição no Distrito Federal em 2014. A votação deste ano está marcada para 7 de outubro e vai eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de 22 municípios. Se necessário, o segundo turno será no dia 28 do mesmo mês. De acordo com o cientista político Cristiano Noronha, essa parceria entre DF e Entorno trata de interesses mútuos. “Ao ajudar na eleição de um aliado, o parlamentar está investindo no seu projeto político futuro, seja para disputar um cargo mais relevante ou a reeleição”, explica. Ele acrescentou que a eleição de um aliado pode fortalecer um político dentro de sua própria legenda ou de uma coligação. Segundo ele, os deputados federais se interessam pelas eleições nos municípios porque suas bases eleitorais estão lá. Se um aliado é eleito, a disputa na eleição nacional fica mais simples. Da mesma forma, é importante para um prefeito ter um
deputado na Câmara para liberar emendas com recursos para obras e votar projetos de interesse da cidade, da região e dos próprios políticos.“ Partidos existem para conquistar poder. Quanto mais políticos um partido consegue eleger, mais poder ele terá. É uma questão de sobrevivência partidária para qualquer legenda”, diz Noronha. Contudo, as eleições municipais não interessam apenas aos deputados federais. Interessam aos senadores, deputados estaduais e ao próprio partido. Dependendo do município, pode mobilizar até o presidente da República. Na eleição de 2010, a região foi decisiva para a vitória do atual governador de Goiás, Marconi Perillo, por exemplo. Os maiores partidos do país, como Partido dos Trabalhadores (PT), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Partido Social Democrático (PSD), entre outros, já estão se preparando para o pleito, priorizando os municípios mais populosos. Em Luziânia, o PSDB é hegemônico, mas enfrenta concorrência de PSB, PT e PMDB. O ex-deputado Marcelo Melo (PMDB), pré-candidato à Prefeitura, está consolidando seu nome como sucessor do prefeito Célio Silveira. O Partido Pro-
Em época pré-eleitoral, políticos se aliam aos do DF a fim de montar uma base forte próxima à capital
gressista (PP) se atenta a Águas Lindas. O atual prefeito, Geraldo Messias, é do partido e lidera as pesquisas de opinião. O prefeito David Leite (PR), de Santo Antônio do Descoberto, vai tentar a reeleição. O seu adversário é Padre Getúlio, do PMDB, apontado como favorito do município. Em Planaltina de Goiás, o prefeito José Neto (PSC) vai enfrentar a reeleição e terá Enílson Kuru (PT) e Elis Reis (PTC) como principais adversários. A liderança da base aliada é Dirceu Araújo (PSDB), ex-prefeito. Um dos partidos mais bem estruturados de Valparaíso é o PTB. O vereador José Maria Alves Filho, popularmente conhecido como Zeca (PTB), está apoiando a pré-candidata Lucimar Nascimento (PT), principal adversária da prefeita Lêda Borges (PSDB).
lia migrarem seus títulos para o Entorno. De acordo com levantamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), mais de 16 mil eleitores transferiram seus títulos. Os dados mostram que só para Valparaíso de Goiás foram 3.050 transferências. Em seguida, está Águas Lindas de Goiás, com 2.534 e Novo Gama, com 1.711 eleitores. Com isso, a disputa eleitoral nos municípios ganhou um reforço de 19,2 mil eleitores. O TRE-DF também informou que nas eleições gerais acontece o inverso, quando os eleitores do Entorno migram seus títulos para Brasília. Segundo Reinaldo Vieira, do TRE-DF, a transferência de títulos só pode ser feita com comprovação de residência fixa de no mínimo três meses para a cidade. “Não cabe ao TRE fiscalizar a verdade na comprovação feita pelo Transferência de títulos eleitor. Além disso,o cidadão não Em época de eleição munici- pode fazer migração de título pal, é comum eleitores de Brasí- com menos de um ano”, explica.
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política ping-pong
entrevista um dos Pedro Simon, a laranja Artefato senadores mais respeitados que não apodreceu do Congresso Há um velho ditado que afirma: “Uma laranja podre no mesmo saco estraga as laranjas boas”. Assim é avaliado muitas vezes o Congresso Nacional, onde novos parlamentares são submetidos ou persuadidos por antigos corruptos, mas nem todos são assim. Nesta edição do Artefato, entrevistamos o Senador Pedro Simon (PMDB RS), conhecido no Parlamento pela retórica inflamada e pelos gestos teatrais usados nos discursos. Foi reeleito em 2006, com 1,8 milhões de votos, para o quarto mandato consecutivo no Senado Federal. Nascido em uma família de libaneses católicos de Caxias do Sul, Simon foi vereador, deputado estadual, governador do Rio Grande do Sul e ministro da Agricultura no governo Sarney. A religiosidade de Simon tem raízes que se justificam por duas tragédias que marcaram sua vida: a morte do filho caçula, Mateus, em um acidente de carro em 1984, e a morte de sua mulher Tânia, um ano e meio depois. Da época que o senhor ingressou na política, para hoje, em sua opinião, o que mudou no Parlamento? Em certa ocasião, comentaram com Ulysses Guimarães sobre a má qualidade do Congresso da época. Sábio, respondeu com uma de suas grandes tiradas: “Aguarde o próximo.” De fato, muita coisa mudou no mundo nesses anos todos, e no âmbito dos partidos brasileiros e do Congresso também foi assim, talvez para pior. Creio que um aspecto que podemos destacar é a sensação de que pouco se debate as grandes
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questões nacionais. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, foi aprovada no Congresso sob a pressão do movimento popular. A influência do poder econômico é exagerada e distorce a eleição, dificultando o surgimento de idealistas e de políticos mais preocupados com a nação e o
Ilustração: DiOliveira
Vinicius Rocha
povo do que com projetos pessoais próprios. O governo, por seu turno, também não ajuda, bancando a aprovação de projetos de seu interesse por meio de liberação de recursos do orçamento, para emendas de interesse dos deputados e senadores. Qual o lado bom e o lado ruim de ser Senador da República? O senhor sempre foi um parlamentar que teve muita esperança na mudança do modelo político brasileiro, com uma política mais séria, honesta e ética. Ainda continua otimista ou acha que isso nunca vai mudar? Sou um otimista, embora também realista. Acredito nos jovens
e em seu espírito idealista, de inconformidade com essa situação que nos envergonha a cada manhã quando abrimos os jornais. As redes sociais constituem um dado novo que já provou ter uma capacidade enorme de mobilização. Já foram realizadas centenas de manifestações públicas contra a corrupção e a impunidade. Um movimento que deveria agora continuar. Espero que os jovens, com auxílio das redes sociais, possam pressionar os poderes por mudanças no sentido de maior transparência e ética na vida pública. Em seu livro “Sobre o país que queremos” o senhor diz que as CPIs são a concretização da impunidade... E a CPMI do Cachoeira? Vai ter resultado? A CPI do Cachoeira está andando, apesar de inicialmente parecer que seria abafada. Já foi quebrado o sigilo das contas da empreiteira Delta e governadores já foram convocados. Essa é uma CPI diferente, pois o trabalho principal, que é investigar e apontar suspeitos, já foi feito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Porém, resta ainda investigar as relações políticas e partidárias da empreiteira e do contraventor Carlos Cachoeira. No dia 5 de junho, saiu a notícia de que a ministra Rosa Weber, do STF, negou a suspensão
dos sigilos da Delta, o que é um ato de coragem que fortalece a CPI e os que desejam buscar a verdade. O PMDB tem integrantes como José Sarney e Renan Calheiros. Muitas informações noticiadas na imprensa os têm como políticos corruptos. Qual a sua relação com esses parlamentares? E o vice Michel Temer? Sou fundador do MDB e do seu sucessor, o PMDB, nascidos como berços e condutores da resistência democrática. O partido teve grandes nomes em sua história, homens que honraram a vida pública, como Ulysses, Teotônio (Vilela), Itamar Franco, Mário Covas e Tancredo, entre outros. Porém, eles se foram e no PMDB de hoje não se reconhece mais ninguém com essa estatura. O PMDB nacional hoje está em luta permanente por cargos e atendimento de projetos e interesses pessoais. Não me identifico com essa forma de fazer política. Qual será a importância do julgamento do mensalão para o Brasil? O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, um jurista brilhante e uma excepcional figura humana, considera esse o julgamento do século. Talvez seja, embora a Lei da Ficha Limpa também tenha mobilizado o país. Agora, o STF está diante da oportunidade de realmente mostrar que o Brasil, o país da impunidade, onde só ladrão de galinha vai para a cadeia, pode mudar no sentido positivo, da ética e da cidadania.
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Economia
dinheiro
A poupança rende menos, mas ainda é a melhor opção No início do mês de maio, o governo anunciou mudanças no cálculo da caderneta de poupança. Embora o rendimento seja menor, a poupança ainda é considerada um bom investimento para os poupadores. A nova regra só vale quando a taxa Selic estiver abaixo de 8,5%. Neste caso, o valor será calculado com base nos 70% da Selic mais a taxa de referência (TR). Para entender na prática o que isso significa, o Artefato desvenda essas siglas e mostra, quanto seu dinheiro vai render a partir de agora. A taxa Selic é divulgada pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Ela serve como referência nas transações econô-
micas que envolvem juros. Já a TR é calculada mensalmente pelo Banco Central (BC). Para fazer a conta, o BC pega uma amostra dos juros pagos pelos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs/RDBs) de 30 instituições financeiras.
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O crescimento das aplicações em poupança deve diminuir à medida que os juros se reduzem Rogério Lúcio
Na poupança antiga, o rendimento era fixo: 6% ao ano mais o valor da taxa de referência. Se fossem aplicados R$ 1000 no início do ano, no
Foto: Ana Carolina Alves
Poupança atrai brasileiros porque não tem incidência de imposto de renda
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Flávia Fonseca, Jussara Meireles e Mariana de Ávila
Novas regras não foram suficientes para afastar o brasileiro do investimento mais popular do país
final a poupança estaria com R$ 1061,68 (considerando uma situação hipotética em que a TR fosse igual a zero). Levando em conta a mesma situação, se a mesma quantia fosse aplicada seguindo as regras da nova poupança, ao final do ano, o montante seria de R$ 1059,50. Conclusão? A nova poupança rende menos. A dica, para quem quer continuar na caderneta, é manter a antiga e não fazer novos depósitos, pois eles já seguirão a nova regra. “Se você tem dinheiro na poupança e quiser continuar aplicando, não tira aquele dinheiro. Se você migrar para o modelo novo, seu dinheiro vai render menos”, aconselha Ivens Gasparotto, sócio da empresa DX Investimentos. Um dos interesses do governo, com a mudança na poupança, é incentivar a população a investir em outros lugares. O problema, para o governo, é que dinheiro na poupança é dinheiro parado, não dá para colocar em circulação. Se existissem mais investimentos em fundos de renda fixa, por exemplo, a economia movimentaria mais. A medida, no entanto, ainda não atingiu o objetivo. José Vicente da Silva, 72 anos, usa a poupança há 9 anos e não pretende deixá-la e partir para outro tipo de investimento. “Acho a poupança um tipo de investimento seguro. Não acredito nesses consórcios, título de capitalização. Além disso, já
Foto: Jéssica Antunes
Novas regras tentam fazer real circular
tenho a minha casa própria e outra que alugo em Ceilândia. Poupo pra minhas horas de lazer e em caso de necessidade”, explica. Um mês depois de se tornar menos vantajosa, o investimento mostrou sua força. No fim do mês passado, a caderneta de poupança teve captação líquida recorde de R$ 6,262 bilhões (a captação líquida é o resultado da diferença do montante depositado na poupança do que foi retirado). O professor de economia da Universidade Católica de Brasília Rogério Lúcio acredita que em longo prazo a poupança será vista de forma diferente: “Não ter caído o número de aplicações ou de abertura de contas é razoável. Porém, o crescimento das aplicações em poupança deve diminuir à medida que os juros se reduzem”, afirma.
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educação comunidade
Entre livros e natureza
Com solidariedade, luta e dedicação, professores e comunidade ressuscitam escola rural Laje das Jiboias
recebeu o cargo. “O nível de dedicação de toda a equipe que trabalha na escola, professores, limpeza, vigia, merendeira é e x t ra o rd i ná rio. Não é nada individual. É sempre um grupo trabalhando, para mudar a história de crianças”, comenta. Por reivindicação da equipe da escola, o Alunos do ensino infantil reunidos no colégio rural localizado próximo ao Santo Antônio do Descoberto Departamento de Estradas e Mariana Alvarenga, Kleyton Almeida ao novo local de trabalho, Rodagens (DER) construiu em e Letícia Pires se deparou com uma estru- 2010 uma estrada para chegar tura carente de condições e à Laje das Jiboias. O caminho, A Escola Classe Laje das Ji- nada atrativa. Naquela épo- que antes era propício a forboias pertence à Região Admi- ca, eram apenas três alunos. mações de lama no período de nistrativa de Taguatinga. Po“Quando fui nomeada chuva, ficou coberto por casrém, não é perto da Praça do para trabalhar aqui, logo Relógio nem de qualquer lugar pensei: ‘Se vou ter que vir movimentado de uma das ci- aqui todos os dias, é melhor Mesmo com o dades mais ricas do Distrito Fe- buscar estudantes’”, lemtransporte, tem criança deral. Próximo a Santo Antonio bra a professora. Ela correu que caminha uma hora do Descoberto e localizado no atrás dos pupilos e buscou para chegar ao local. quilômetro 9 da BR 060, o pe- ajuda para reforma. “Fui de Beatriz Quirino queno colégio de ensino infan- fazenda em fazenda atrás de til atende 113 alunos entre 6 e alunos, divulgamos a escola 11 anos. Quem vê a estrutura, a e isso fez toda a diferença”, estrada arrumada, as salas bem conta Giselly. A maioria dos equipadas, nem imagina como alunos é filha de caseiros das calhos. Ônibus também não tinha. A diretora entrou em conera há quatro anos. fazendas das redondezas. A diretora da escola, GiA coordenadora pedagógica tato com o então secretário de selly Nórcio, foi designada Beatriz Quirino acompanhou Educação do DF, José Valente, para administrar a escola o desenvolvimento da escola e conseguiu a liberação de duas em 2008. Quando chegou nos últimos três anos, quando conduções para buscar os aluFoto:Júnior Assis
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nos. “Mesmo com o transporte, tem criança que caminha uma hora para chegar ao local onde ele para. Outras atravessam rio”, conta ela. Envolvimento Beatriz Quirino ressalta que uma dificuldade é a relação entre pais e escola. Para ela, se houvesse mais diálogo entre as partes a escola seria ainda mais promissora. A pedagoga acredita que o envolvimento dos pais é pouco pela falta de tempo. “Não porque os pais não se interessam, mas por conta do tempo e a disponibilidade que eles não têm para vir à escola”, explica. A especialista em educação Helenir Shilder Cabral tem mais de trinta anos na docência e desenvolve projetos em escolas rurais em tempo integral. Ela comenta que para ter uma educação de qualidade deve-se ter o apoio do estado e o envolvimento dos pais e da comunidade. “Isso é que faz a diferença nas escolas rurais, o envolvimento da comunidade nas atividades da escola, e a participação ativa dos projetos pedagógicos oferecidos”, conta. Ela cita como exemplo os almoços comunitários que essas escolas às vezes promovem. “A presença da família ajuda na formação psico-social do aluno e reflete em resultados positivos, principalmente na sala de aula. A escola não precisa de tecnologia de ponta, mas sim que os pais levem sua contribuição”, diz a educadora.
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saúde cuidados
O inverno chegou Com o início da nova estação, os brasilienses sofrem com as doenças respiratórias Gabriela Almeida e Monalisa Santos
Responsáveis por diversas doenças, vírus e bactérias estão a nossa volta a todo o momento e podem ser transmitidos de pessoa para pessoa por meio de uma simples conversa. Com a chegada do inverno, as pessoas ficam mais propensas ao aumento dos casos de doenças respiratórias e alergias. A crença de que a seca de Brasília piora as doenças do frio é mito, segundo especialistas. A doutora Valéria Botan, mestre em imunologia pela Universidade de Brasília (UnB), explica que no inverno um dos fatores determinante para o aumento no número de doenças é o fato de as pessoas estarem juntas em ambientes fechados, o que as deixa mais expostas aos vírus que acabam ocasionando doenças como gripe, bronquite e sinusite. “Em geral, no frio, as pessoas tendem a se concentrar mais em recintos com pouca ventilação e se há alguma pessoa doente, a chance de contaminação aumenta”, explica. Para algumas pessoas, a exposição ao ar condicionado é capaz de ocasionar ou piorar a gripe, mas o pediatra do departamento médico da Câmara dos Deputados Carlos Roberto Rocha diz que isso não passa de um mito, pois as pessoas expostas ao ar condicionado só vão contrair a gripe se estiverem próximas a outras pessoas já contaminadas pelo vírus. Ainda de acordo com a doutora Valéria, crianças de zero a dois anos, as grávidas e os idosos possuem baixa imunidade e por isso são considerados grupo de risco.
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Fotos: Anna Cléa Maduro
Crianças estão mais vulneráveis a doenças respiratórias com a chegada do frio
“No clima frio, as principais doenças alérgicas são as respiratórias, como asma, rinite ou rinossinusite alérgica. Os extremos de idade, bebês e idosos estão mais propensos devido a alterações imunológicas própria da idade”, explica. “É importante manter a criança sempre bem hidratada e bem alimentada”, recomenda o
pediatra Carlos Roberto Rocha. Um bom hábito de prevenção que foi adquirido com a manifestação da Gripe H1N1 foi o uso do álcool em gel como forma de higienização. Esta prática é recomendada por diversos especialistas, uma vez que a maioria das bactérias entra em nosso organismo por meio de nossas mãos.
A dona de casa Maria Gonçalves, 41 anos, afirma que precisa tomar algumas precauções para enfrentar o frio na capital. “Tento de toda forma evitar a gripe. Eu e meu filho tomamos as vacinas antigripais, usamos sabonetes bactericidas, mas ainda assim algumas vezes não conseguimos escapar da gripe ou da sinusite.“
Dicas de prevenção - Vacina contra a Influenza (principalmente crianças e Idosos) - Higienização constante das mãos - Evitar ambientes aglomerados - Não varrer a casa em dias de frio, passar apenas um pano úmido - Retirar e evitar objetos que possam acumular ácaro e poeira nas épocas mais geladas
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O amor fala mais alto Apesar do preconceito vivido pelas famílias de pessoas com síndrome de Down, o respeito e admiração por eles se sobressai nos lares de Brasília Maycon Fidalgo e Tuane Dias
Quando fala, os sons balbuciados só são compreendidos por quem está há anos convivendo com ela. “Para cada irmão ela inventou uma maneira de chamar. Ela sabe diferenciar cada um de nós. Ela é um anjo”, suspira a tia. Apesar de não ter feito acompanhamento por muito tempo, Deda é completamente independente. Quando acorda mais cedo que o resto da família, por exemplo, vai direto para a cozinha e prepara alguma coisa para comer – um misto-quente ou leite com achocolatado. Mas, na maior parte do tempo, ela fica no quarto brincando com as sacolas e organizando tudo do jeitinho dela. Moema Arcoverde, pediatra do ambulatório de síndrome de Down da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica que o que torna a pessoa diferente é a constituição dos cromossomos, que leva à uma alteração numérica: “A maioria das pessoas tem dois cromossomos. O síndrome, por outro lado, tem três. Essa diferença leva a alterações físicas e intelectuais da pessoa”. Arcoverde comenta que a síndrome pode levar a um atraso intelectual, porém “não quer dizer que eles não tenham potencial. Todos têm. Mas, para ser desenvolvido corretamente, eles devem ser estimulados desde cedo”.
Denise Ateilson, 32 anos, adora brincar com sacolas plásticas. O brinquedo, inventado por ela, surgiu quando, sem pretensão alguma, ela pegou tampinhas jogadas pela casa, colocou em uma sacola de mercado e começou a rodar e balançar. Como se fosse uma extensão das mãos, para todo canto que vai, ela carrega o joguete consigo. Deda, como é chamada pela família, é uma das 300 mil pessoas com Síndrome de Down no país. Porém, ao contrário das 558 mil crianças e jovens com algum tipo de deficiência que frequentam escolas, ela ficou pouquíssimo tempo em uma. Quando Deda tinha 12 anos, foi matriculada em uma instituição de ensino e “era o destaque da turma”, como revela a tia Deborah Ateilson, que cuida dela “desde sempre”. Contudo, a sexualidade da moça começou a preocupar os irmãos: “Ela ficava no banheiro masculino e, muitas vezes, os orientadores me chamavam, pois não sabiam o que fazer”. Após o episódio, ela foi retirada da escola e nunca mais teve nenhum acompanhamento médico e pouquíssima interação com outros Downs. Deborah chegou a procurar uma escola especial, mas “recusaram ela por causa da idade”. Hoje, Nunca é tarde porém, ela vive em um mundo Eliana Silveira estimula a fipróprio. Os sinais feitos por ela remetem a significados que só lha Raphaela, 2 anos, desde os os mais próximos entendem. três meses de idade. A menina
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Foto:Maycon Fidalgo
Aos 32 anos, Denise quase não teve acompanhamento médico, mas inventou um mundo próprio
pratica natação, hidroginástica, fisioterapia, fonoaudiologia e já faz estimulação precoce, que trata da coordenação da criança e o desenvolvimento intelectual. “Ela é uma benção na minha vida. Viver com ela é só alegria e tenho o maior prazer em ouvi-la me chamar de mamãe. A Rapha superou todas as expectativas e devo isso às aulas de estimulação”, agradece a mãe, que parou de trabalhar para se dedicar aos cuidados da filha. Quando Eliana descobriu que a filha tinha síndrome de Down, ouviu dos médicos que ela não se movimentaria corretamente e seria dependente da mãe pelo resto da vida. Contudo, a menina provou o contrário: “Minha filha con-
segue andar sozinha e tem um futuro brilhante pela frente”, garante Eliana. Choque
Grasielle Carapiá fez o acompanhamento pré-natal com médicos de referência, exames necessários, porém, ao contrário de Eliana, não foi avisada durante a gravidez que o filho teria síndrome de Down. Na sala de parto, assim que Felipe nasceu, o médico já comentou: “Fiquei estática, entrei em choque, não tive reação, só chorei. Mas meu ‘luto’ durou até o momento em que subi para o quarto do hospital e me deparei com ele. Não consegui rejeitá-lo, o amor falou mais alto, tive muito apoio da minha família”.
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LONGO CAMINHO ATÉ O TRABALHO Presidiárias beneficiadas com o semiaberto enfrentam dificuldades com a falta de privacidade e transporte adequados para se ressocializarem Foto:Luma Soares
Depois de um terço da pena cumprido as detentas têm direito a trabalhar
Alessandra Santos, Aline Sales e Luma Soares
Eram 6h da manhã do dia 30 de maio quando o portão do Presídio Feminino do Distrito Federal, conhecido como Colmeia, liberava as 60 detentas para o trabalho externo. Com camisetas, calças, chinelos e cabelos presos, andam aproximadamente 40 metros até chegarem ao local onde trocam de roupa: o estacionamento da penitenciária. Elas ficam nuas e expostas a qualquer pessoa que passe naquele momento. “Assim que somos liberadas da cela, pegamos nossas roupas e objetos pessoais que estão em um armário, saímos e procuramos um cantinho aqui fora para nos arrumar. É muito constrangedor, porque a gente tem que trocar de roupa no meio da rua. É aquela loucura pra poder chegar na hora certa no trabalho, porque se nos atrasarmos somos punidas”, revela Marlene*, 38 anos, presa por tráfico de drogas. Há um ano e cinco meses ela foi beneficiada pelo regime semiaberto e trabalha como copeira em um órgão público. Apressadas, penteiam os cabelos, passam creme no corpo, colocam brincos, sandálias de salto alto e se maquiam discretamente. Nesse momento elas deixam o uniforme do presídio para trás e vão em busca de carona para o trabalho. As mulheres acenam e gritam
para os poucos carros que passam aquela hora da manhã. Às 6h30, uma van prata para. Dois homens que seguem para a entrada do Gama se ofereceram para levá-las. Três mulheres entram no carro. Marlene e Lúcia*, 28 anos, que vêm logo atrás, não conseguem chegar a tempo. Fomos com elas para saber como é o trajeto até o trabalho, que fica no Plano Piloto. Mais à frente vemos 15 mulheres subindo a pé até a parada. “Ficamos uns 20 minutos pedindo carona e, quando não conseguimos, temos que andar por meia hora para chegar ao ponto de ônibus mais próximo. Hoje elas não tiveram sorte, mas amanhã pode ser eu”, conta Marlene. Perguntamos a ela como é pedir carona todos os dias. “É humilhante”, responde com a cabeça baixa. “Toda vez que entro em um carro, torço para que a pessoa seja de confiança, porque você nunca sabe o que pode te acontecer”, revela a interna. Segundo o Núcleo de Trabalho externo e interno do Presídio Feminino, no primeiro semestre deste ano, 75 mulheres foram beneficiadas com o trabalho externo. Mas até hoje, o presídio não disponibiliza nenhum transporte para as detentas irem trabalhar, ou até mesmo para levá-las até as paradas de ônibus mais próximas. No caminho para o trabalho, Marlene nos conta como entrou na vida do tráfico e as dificuldades que enfrentou sem o apoio da família. “Não
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tive muita ajuda dos meus pais. Eles não tiveram estrutura para me criar, mas nunca me incentivaram a entrar no crime. Entrei nessa vida porque quis. Não terminei os estudos porque comecei a usar droga com 15 anos. Essa vida do tráfico vicia. O dinheiro vem fácil e você quer ter mais a cada dia”. Marlene recebia R$ 700 por semana para fazer o serviço de mula (levar droga) até Presídio Masculino do DF. Eram 8h15 quando passávamos na Rodovia DF-075. “Quando fui presa pela primeira vez, entrei na cadeia maloqueira e saí maloqueira, achando que o mundo do crime era legal. Mas nessa segunda vez, tudo está sendo diferente. Esse trabalho externo está me ajudando a ter mais responsabilidade e a dar mais valor às coisas”, declara Marlene, que hoje ganha R$ 550 por mês. Já em cima da hora, às 8h55, as internas chegam ao serviço. Descem do carro, atravessam a pista e correm para o prédio onde trabalham. Elas entram às 9h e saem às 17h. Fazem café, almoço e o lanche dos funcionários. No final do expediente, Marlene e Lúcia são liberadas e seguem para a Rodoviária do Plano Piloto. “Às vezes passamos na frente das pessoas na fila, porque se a gente perder o ônibus de 17h15, chegamos atrasadas no presídio e isso é ruim pra gente”, conta Lúcia. Às 18h10 chegam à entrada do Gama e descem na parada de ônibus perto de uma panificadora, apelidada por elas de “padaria das presas”. Todos os dias, dezenas de internas se reúnem para lanchar antes de voltarem ao presídio. Depois do lanche, elas correm novamente para um ponto de ônibus e, mais uma vez, pedem
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carona até a penitenciária. Às 18h40, Marlene e Lúcia conseguem um transporte e partem para o destino.
Foto: Samita Barbosa
Internas e celas
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) cerca de 33 mil mulheres estão encarceradas no Brasil. Essa população cresceu 33,72%, de 2009 para 2011, enquanto a masculina aumentou 15,37%, no mesmo período. Em Brasília, 800 internas ocupam as celas do Presídio Feminino. De acordo com o Depen, o governo investe por mês aproximadamente R$ 2 mil por interna. Mais de 80% das detentas cumprem pena por tráfico de drogas. A área das sentenciadas é a mais crítica do presídio. Em geral, as celas medem 24 m², tendo capacidade para receber 12 internas, mas acomodam mais de 40 presas. “Apesar de todos os esforços, ainda não conseguimos minimizar o número de internas. Nossa capacidade é para receber apenas 380, mas temos o dobro”, explica a delegada Deuselita Pereira Martins, diretora do Presídio Feminino. Eram 9h40 do dia 22 de maio, quando subimos para a Ala C da penitenciária, onde estão as mulheres do regime fechado. Estava no horário do “banho de sol”. O pátio estava lotado. Lá de cima dava para ver as peças de roupa (brancas e azuis) secando no chão. Enquanto passávamos pelo corredor, as internas gritavam “Vocês são do Serviço Social? Nossa situação está precária. Aqui é uma decadência”. Observando as celas de longe, era notável a superlotação. “Teve um tempo que tinham 55 presas em uma cela onde cabiam apenas 12. Tinha gente dormindo até dentro do banheiro”, conta
Presidiárias beneficiadas pelo semiaberto, trabalham em oficinas dentro da penitenciária
Lucia, relatando que a Ala C é o desespero de toda presa. Não fomos autorizadas a conhecer as celas do presídio. Lúcia, que está presa há quatro anos e cinco meses, descreve que os colchões são sujos e fedidos, e que parte das mulheres é moradora de rua e chega na cadeia com piolho, lêndea e sarna. “Na rua a gente cheira cocaína, na cadeia a gente cheira merda”, diz, em referência aos banheiros, conhecido como olho de boi. Não têm porta, são fechados apenas com lençóis. Outra área que sofre com a superlotação é a Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP), que deveria abrigar apenas 50 pacientes, mas possui 106 presos, em nove celas. Desse total, apenas três mulheres estão incluídas na medida de segurança. “Se comparado aos homens, é um número pequeno de internas, porque a maioria dos crimes cometidos pela população feminina é tráfico, e não crimes dolosos. Mas aqui elas têm o mesmo tratamento que damos para os homens”, afirma Nilton Santos, agente de Polícia da ATP.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) entrou este ano com pedido de liminar para que o governo crie imediatamente novas “alas” na penitenciária que separe os detentos com problemas mentais dos dependentes químicos, sob pena de possível fechamento da ATP. Trabalho interno
Às 10h10 seguimos para a primeira sala de artesanato. Encontramos nove internas produzindo materiais para pet shop, que são distribuídos em diversas lojas do DF e Entorno. Até abril deste ano, foram contabilizadas 118 mulheres realizando diversos tipos de trabalhos artesanais. Rosana*, 41 anos, é uma das presas que ministra as aulas de artesanato. Ela cumpre pena há um ano e quatro meses por tráfico internacional. “Das 60 unidades de gravatinhas para cachorro que produzimos, eles nos repassam apenas 60 centavos. É uma quantia pequena, mas o que vale é trabalhar e ficar longe da cela durante o dia”, conta. Por volta das 10h40, entra-
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a Barbosa
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mos na última oficina, onde as mulheres trabalhavam com costura. A oficina é para as internas de “cadeia alta”, com mais de 30 anos de condenação e que estão em regime fechado. “São 40 internas condenadas por latrocínio, homicídio e principalmente tráfico de drogas. Elas entraram aqui sem saber colocar uma agulha na máquina, e hoje costuram muito bem. Muitas delas sofrem de depressão, mas aqui conseguem esquecer por algumas horas que estão presas”, conta Erlane Martins, agente penitenciária do presídio. As internas produzem colchas que são vendidas na Feira da Torre de TV, no Plano Piloto e distribuídas em órgãos públicos para exposições. Con-
versamos com Carmem*, 23 anos, presa por tentativa de homicídio e que há quatro meses foi incluída na oficina. Ela recebe R$ 30 reais a cada 15 dias de trabalho e revela que a oficina é o maior passatempo dela na cadeia. É o que a faz pensar menos na filha, que vive com a avó. “Sempre tive o sonho de ser mãe. Fiz até tratamento para engravidar e foi aqui dentro que descobri que estava grávida. Não queria que minha vida tivesse tomado esse rumo”, relata. Passando pelos corredores, às 11h15, entramos em uma sala onde duas internas preparavam o “kit higiene” – que oferece às presas dois sabonetes, dois papéis higiênicos, dois pacotes de absorvente, escova de Foto: Giovana Gomes
Internas do Presídio Feminino separam o sabão em pó para o kit higiene das presas
PONTO PONTO DE DE VISTA VISTA Jussara Meireles*
De que forma é possível descrever humilhação em todos os sentidos? A rotina das presidiárias do DF está muito além do que a imprensa costuma divulgar. Normalmente o que se vê são informações minguadas sobre funcionários, visitações, greves e rebeliões em presídios. Mas o dia-
-a-dia delas e a busca pela reinserção social ainda é maquiada e escondida pela própria mídia. Não bastasse elas encontrarem resistência das pessoas ao saírem do presídio, nas tentativas de aprender uma profissão enfrentam desde a nudez até a incerteza das caronas, isso quando conseguem. A pergunta que devemos
dente, um creme dental e um pacote de sabão em pó, para passarem o mês. Gardênia*, 50 anos, presa por tráfico internacional, cumpre pena há um ano e dez meses. A interna separava o sabão em pó. Já tinha mãos desgastadas por conta do material. “Estou sofrendo muito aqui. Já tentei transferência para minha cidade, mas o juiz negou, alegando que na Itália o presídio é hotel cinco estrelas.” Promessas
aquela via. A proposta já foi aprovada na Câmara e espera sanção do governador Agnelo. A deputada federal Erika Kokay (PT-DF), de comissões de Direitos Humanos, defende a importância do acompanhamento psicológico, dos trabalhos internos e do acesso a esportes para as presas que não possuem benefícios. “A sociedade exige perfeição das mulheres enquanto esposas, mães, donas de casa, mas no presídio elas não conseguem exercer essas funções e acabam sentindo uma culpa muito grande, não apenas por ter cometido um delito, mas por não poderem exercer seu papel, e a melhor forma de amenizar tudo isso é acompanha-las de perto”, afirma.
O gerente de atividades da administração do presídio, Juvenal Alves Lima Neto, garante que ainda este ano será construído um vestiário para as internas que trabalham no semiaberto e trocam de roupa do lado de fora. “Vamos mudar toda estrutura da visita para que o vestiário seja implanta- *Os nomes foram trocados a pedido do. Estamos recebendo doa- das entrevistadas. ções de tijolos e cimento para concluirmos este projeto.” MINIDicionário da Para melhorar o transporte, Colmeia o deputado distrital Wellington Luiz sugeriu este ano na Biscoito = cobal Câmara Legislativa do DF a imfrango cru = mulher do plementação de linha regular guarda de ônibus passando por várias linguiça = pederastia localidades do Gama, inclusive pão = marrocos no presídio feminino. Segundo leite = chernobyl o deputado, trata-se de antiga comida = xepa reivindicação dos usuários e banheiro = olho de boi moradores do Gama, em esperelógio = bobo cial, os que passam pelo presítransporte = Bonde dio e não dispõem de uma linha de ônibus que trafegue por nos fazer é como queremos que essas mulheres se reabilitem em condições tão absurdamente precárias? A superlotação e falta de higiene são reclamações constantes dessas mulheres, mas há ainda a falta de transporte para as internas do semiaberto e pouca consideração com o trabalho interno feito por elas para passarem o tempo de
forma mais humana. Até quando persistirá essa vergonha, não se sabe. O que se passa a conhecer é que a luta das internas não se limita a cumprir a pena, mas a habituar-se a encarar o embaraçoso desprezo e a indiferença dos políticos. *Repórter do Artefato.
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esporte Serejão
À espera de cuidados Problemas administrativos prejudicam estádio, que receberá seleções na Copa de 2014. Mas em que condições? E o quesito administração é o que gera mais problemas ao estádio. Desde a criação do BrasiO Serejão, segundo maior esliense Futebol Clube, em 2000, o tádio do Distrito Federal será time passou a mandar os jogos uma das subsedes da Copa na Boca do Jacaré. No entanto, 2014, em Brasília. Mas, para a uma das jovens equipes do as seleções que vierem treinar DF, além de elevar novamente para o mundial, resta torcer o futebol candango à série A do para que o impasse judicial soCampeonato Brasileiro, tambre a administração do espaço bém trouxe diversas polêmicas se resolva e a tão sonhada repara o esporte em Brasília. forma saia do papel para que o Tudo isso porque o time do espetáculo continue. Brasiliense pertence ao grupo Inaugurado em 23 de abril de OK, do ex-senador Luiz Este1978, o estádio de Taguatinga já vão, denunciado pelo Ministério recebeu jogos importantes na Público Federal por lavagem de história do futebol. Na última dinheiro. O crime teria sido pradécada, uma das mais famosas ticado entre 2001 e 2005, usando partidas foi um jogo entre Bracontas do Brasiliense. Mas o sesiliense e Corinthians, pela final nador afirma que a denúnFoto:Rafael Alves cia é improcedente e que o clube foi fiscalizado pela Receita Federal. O Serejão ainda está envolvido em um processo de reintegração de posse do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por falta de pagamento por arrendamento junto à Administração de Taguatinga. Sobre o estádio ser uma das subsedes para a copa O estádio que antes recebia jogos importantes, sofre com o impasse entre o GDF e a atual administração do local 2014 e abrigar Rafael Alves
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da Copa do Brasil de 2002. Na ocasião o time paulista sagrou-se campeão após empate em 1 x 1 fora de casa. Atualmente, com a reforma do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, a arena de Taguatinga é palco das principais partidas de futebol no DF. Em 1979 o espaço recebeu o nome de estádio Elmo Serejo Farias, em homenagem ao então governador do Distrito Federal. Popularmente o local é conhecido como Serejão, e mais recentemente, como Boca do Jacaré, nome dado por causa da mascote do time do Brasiliense, atual responsável pela administração do local.
treinamentos de algumas seleções, Luiz Estevão é categórico: “Não precisamos de uma ampla reforma, o estádio atende bem ao que é preciso para o mundial.” Sobre o impasse administrativo, que se arrasta pelo TJDFT, o ex-senador afirma que isso não vai afetar o futebol de Brasília e acredita em uma solução pacífica para o problema. Para o comentarista esportivo da rádio Band News FM Brasília Adriano Oliveira, é uma pena um estádio com tanto potencial viver uma situação como essa. “O Serejão tem melhor estrutura que muito estádio de clubes grandes pelo Brasil, mas com esse impasse administrativo, quem perde é o público. A falta de uma gestão eficiente acaba deixando um ótimo espaço esportivo jogado às traças e com pouca visibilidade.” Por meio de nota, a Administração Regional de Taguatinga informou que juntamente com a Casa Civil do DF e a Procuradoria Geral do Distrito Federal estão num processo de retomada do estádio do Serejão, que hoje está cedido à Federação Brasiliense de Futebol. Segundo o órgão, assim que o estádio for devolvido ao Governo do Distrito Federal, será reformado e assim estará apto a receber as seleções de futebol que estarão em treinamento para a Copa do Mundo. Ainda não existe nenhum projeto de reforma para o espaço. Até o fechamento desta edição do Artefato, nenhum prazo foi estabelecido para o início das obras.
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esporte prancha
Ideologia sobre rodas
Fotos:Jussara Rodrigues
Gilberto Araújo pratica longboard há três anos Maycon Fidalgo
“Nada se compara à sensação de dropar uma ladeira e sentir a adrenalina tomar conta do corpo. Sentir que controla o skate a cada curva e dar o ritmo que quiser. Ao final, o prazer de um rolé irado e a vontade doida de subir a ladeira e descer tudo de novo. Mas para isso, brother, você tem que estar inteiro. Então se liga e use o equipamento adequado pra modalidade que pratica. Busque se superar, descobrir novos desafios com consciência, respeito pelos outros e pela ladeira. Vamos botar pra baixo!”. O aviso, publicado na maior rede social da internet, o Facebook, vem de uma associação chamada de Longbrothers, existente há quase quatro anos. A postagem se refere a um esporte que vem conquistando os brasilienses e já acumula 3 mil participantes: o longboard. A modalidade consiste em descer ladeiras executando manobras de slide (algo como escorregar), utilizando, é claro, um skate maior, apelidado de long. A “prancha” pode ter até 1,90m. “O esporte praticamente não existia há três anos. Antes ele era praticado como downslide [que consiste
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em descer ladeiras o mais rápido possível. Pode ser feito com skates menores]. Agora que o número de praticantes está crescendo novamente. Muitos brasilienses têm participado de etapas nacionais e, aos poucos, isso muda a visão de longboard na capital. Hoje conseguimos reunir de 600 a 1000 pessoas em um domingo”, destaca Tainã Brito, um dos três fundadores da Longbrothers. As reuniões são marcadas pelo clima acolhedor, que remete a uma ideologia de que todos os que praticam o esporte são irmãos. “Nós praticamos no domingo porque é o dia em que pais e filhos reservam para ficar juntos. Nesse ponto, os pais levam os filhos com um skate menor, a mãe leva um livro, fica tirando fotos ou até mesmo pratica. É nesse ambiente que somos irmãos. Nosso lema é skate, família e, acima de tudo, amizade”, sugere Tainã. Segurança Pela alta velocidade em que o long deve estar para fazer manobras – a prancha pode chegar a 130 km/h –, a importância dos equipamentos de segurança é difundida fortemente entre os praticantes. “Capacetes, luvas,
O longboard, espécie de surfe do asfalto, ganha adeptos em Brasília. A capital já conta com 3 mil participantes joelheiras e cotoveleiras fazem Onde praticar? parte dos equipamentos que nos protegem. É um esporte radi- Residencial Taquari, próximo cal e imprevisível. Você pode ter ao colorado muitas fraturas”, explica Gilberto -Lago Norte, atrás do ShoAraújo. “Antes de praticar eu era pping Iguatemim e do Deck muito ansioso e estressado. Hoje, Norte sou um cara bem melhor, acordo - Lago Sul, Ermida Dom Bosco feliz da vida”, completa. e na QI 9 Suellen Paiva faz parte de um grupo pequeno, porém em crescimento: o de mulheres adeptas do esporte. Quando morava na Austrália, há seis anos, Sula, como é apelidada, surfava. Ao mudar para Brasília, porém, sentiu falta de algum esporte parecido e começou a praticar o longboard. Hoje a moça é tricampeã da 9º Copa Centro-Oeste de Skate Longboard Downhill. “No começo minha mãe não gostava muito da ideia, ela se preocupava muito com minha segurança. Isso mudou completamente. Ela sabe que o esporte me traz felicidade e me apoia nos cam- Gilberto e o amigo Newton utilizam os equipamentos de segurança recomendados peonatos”, explica.
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esporte corrida
Traçado mágico
Foto: Nilson Carvalho
O kartódromo no complexo do Cave continua revelando pilotos para o mundo Nilson Carvalho
Fora do kart e sem capacete e macacão, Pedro Fortes, de 14 anos, parece um adolescente comum. Fones de ouvido, celular na mão, aparelho nos dentes e o jeito meio tímido de quem está entrando na adolescência. A mudança acontece quando Pedro veste o macacão e assume o assento de piloto no kart. O pai do jovem, Reginaldo Fortes, 48 anos, é técnico, mecânico e grande incentivador do garoto. Juntos, eles fazem os ajustes finais no carro antes de colocarem o kart na pista. Com tudo funcionando, Pedro assume o volante e demonstra pleno controle enquanto contorna os 875 metros do kartódromo no Guará. Da mureta dos boxes, Jacaré, como é conhecido o pai do piloto, observa com orgulho o desempenho do filho. Ele é dono de uma oficina mecânica em Taguatinga. Também foi piloto e correu em várias categorias do automobilismo em Brasília. Foi nesse ambiente de corridas e graxa que Pedro cresceu. E aos 6 anos o menino pediu ao pai para dar uma volta no kart. “Pedro entrou no carro, deu umas voltas e eu senti que ele tinha a mão para a coisa”, conta Jacaré. Prodígio
Pedro já foi campeão em várias categorias desde que começou na primeira fase do automobilismo, a categoria mirim do kart. O maior adversário do jovem é um xará com sobrenome de peso: Pedro Piquet, filho mais novo do tricampeão mundial de Fórmu-
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la 1 Nelson Piquet. Com respeito e sem arrogância, Pedro Fortes afirma que normalmente se dá bem em corridas contra Piquet. “Ele é meu grande adversário, já disputamos muitas provas e normalmente eu consigo bons resultados contra ele.” A preocupação de Jacaré é o futuro do filho no automobilismo. Pedro está em uma fase decisiva, quando o piloto sai do kart e segue para o próximo nível da carreira, em carros maiores, chamados de fórmula. Segundo José Argenta, administrador do kartódromo do Guará, é nessa etapa que muitos talentos desaparecem. “O piloto precisa concorrer com o futebol, por exemplo, para conseguir patrocínio.” Como patrocinar jogadores de futebol é mais barato do que colocar dinheiro em automobilismo, os empresários preferem investir na bola. Para Argenta, um dos diferenciais que existe quando uma empresa patrocina um piloto é a parceria que se forma por anos. “Rubens Barrichello, por exemplo, levou a marca de seu patrocinador desde a adolescência até a Fórmula 1”, afirma. Como convencer patrocinadores não é simples, Jacaré aproveita o espaço da oficina para construir o futuro carro de Pedro. “Comprei esse Fórmula Ford antigo e montei com o Pedro um carro para ele poder treinar.” A intenção de Jacaré é permitir que o filho treine o suficiente para evoluir tranquilamente na carreira. Os objetivos futuros para Pedro no automobilismo? Jacaré afirma sem medo: sair do Brasil. “Quero que ele corra fora, nos Estados Unidos ou na Euro-
Pedro Fortes, 14 anos, cresceu em meio aos carros da oficina do pai e hoje é uma das promessas do kart brasiliense
pa.” E, sem falsa modéstia, deixa claro que é na Fórmula 1 que os dois focam enquanto se esforçam em treinos e dentro da oficina.
importante no automobilismo nos Estados Unidos, vai ao kartódromo, todos param para assisti-lo. “O traçado do Guará é de longe o mais técnico do Brasil. Quem aprende a Grandes nomes pilotar aqui toca bem em qualquer Caso Pedro cumpra as metas e pista.” E, segundo ele, é bonito ver chegue à Fórmula 1, vai percor- Meira pilotando no Guará. rer um caminho já conhecido por quem frequenta do kartódromo Como começar do Guará. Vários garotos saíram Felipe Moraes é professor de dali para seguir carreira em ca- kart no Guará. De acordo com tegorias de alto nível em todo o ele, caso o pai perceba vontade mundo. Nelson Piquet Júnior foi e talento no filho, o melhor cao último brasileiro crescido no minho é tentar uma escolinha Guará que passou pela catego- de pilotos. “Na escolinha a gente ria principal do automobilismo percebe se o menino realmente mundial. Outros dois pilotos que tem talento e se vale a pena inaprenderam a pilotar no kartó- vestir na carreira”, explica. Uma dromo e que hoje estão em des- sessão de 10 aulas para crianças, taque na Europa são Luiz Razia e na categoria inicial, custa R$ 800. Felipe Nasr, ambos pilotando na Se o professor perceber o talento GP2, categoria de acesso à F1. A na criança, o pai pode começar a ligação desses pilotos com o kar- pensar em viabilizar a carreira do tódromo é tão forte que, até hoje, filho. Os custos iniciais da comalguns deles mantêm carros nos pra de um carro e equipamentos boxes. O kart preto de número 25 podem beirar os R$ 5 mil. de Felipe Nasr está estacionado lá, Apesar do alto custo, ao obserpronto para quando o brasiliense var a alegria de Jacaré vendo o vem à cidade. filho crescer no esporte, fica claJosé Argenta diz que quando o ro que cada real investido vale a brasiliense Vitor Meira, atualmen- pena. “Pode esperar, você vai ver te piloto da Stock Car e ex-piloto o Pedro subindo em muito pódio da Indy Car Series, categoria mais fora do Brasil”, garante o pai coruja.
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esporte saltos ornamentais
Celeiro de talentos Saiba como foi difícil dar o pontapé na cultura de esportes aquáticos de Brasília Rafael Alves
O Distrito Federal é referência em algumas modalidades esportivas. Nos últimos anos, o basquete – tricampeão do NBB – é o esporte com maior destaque nacional. Nos saltos ornamentais não é diferente. Ao longo da história, o treinador Giovanni Casilo se tornou um dos maiores especialistas do Brasil. Em quase cinquenta anos de trabalho no DF, Giovanni formou mais de dois mil atletas, sendo mais de cinquenta deles campeões olímpicos e sul-americanos na modalidade. Entre os mais famosos estão César Castro e Hugo Parisi. As dificuldades, no entanto, voltaram a aparecer. Giovanni sempre contava com a ajuda de pais de alguns atletas para manter os saltos em Brasília. “Nós conseguimos manter esse esporte graças a ajuda de vários pais de atletas, com material esportivo, viagens e muito apoio. Durante mais de vinte anos foi puro sacrifício.” De acordo com o técnico, por falta de patrocínio, muitos talentos da capital federal foram desperdiçados. Apesar das inúmeras dificuldades, ele agradece o fato de ter vindo para cá. “Além da paixão que tenho pelo esporte, tenho uma dívida de honra. Tudo que conquistei na minha vida foi Brasília que me deu. Se eu hoje tenho orgulho de dizer que eu conheço o mundo inteiro foi por causa do meu esporte e dessa cidade maravilhosa. Estou com setenta e dois anos e continuo
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trabalhando com muita alegria.” Em 2012, o único atleta classificado para as olimpíadas nos saltos ornamentais é o brasiliense Hugo Parisi, cria do treinador. No complexo aquático de Brasília, atualmente também treina um jovem de vinte e dois anos que é promessa para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. É o saltador Yan Mattos, que foi campeão no Rio de Janeiro, em abril, e campeão sul-americano no início do mês de maio. Hoje, 144 alunos participam das escolinhas de saltos ornamentais. O aluno mais novo tem seis anos e o mais velho setenta e dois. A servidora pública Valéria Bomtempo pretende matricular o filho Cauã na escolhinha de saltos no ano que vem. “Ele só tem cinco anos e gosta muito das aulas de natação. É bom saber
que temos toda essa história aqui em Brasília e a oportunidade de fazer, quem sabe, mais um campeão.” As escolhinhas de natação e saltos ornamentais podem ser frequentadas por qualquer pessoa. O valor semestral é de sessenta reais. Basta se inscrever e criar coragem para chegar até a plataforma de dez metros. Mudança de cidade
A vinda de Giovanni foi após a construção de Brasília. Técnicos de algumas modalidades foram convidados para criar equipes na nova cidade. Na época, ele treinava no Clube da Guanabara. Na capital não havia piscinas, trampolins nem plataformas de salto à disposição, por isso o técnico teve que improvisar e passou a trabalhar em uma área emprestada no Setor Militar Urbano, comandaFoto: Rafael Alves
da por militares. “Nós tínhamos dificuldade porque era uma área militar e normalmente os atletas eram apenas filhos de militares. O mais difícil foi convencer as pessoas de que poderiam praticar aquele novo esporte e quem sabe competir e se tornar um profissional da área”, relembra. Giovanni Casilo faz parte do quadro do antigo Defer, atual Secretaria de Esportes, desde 1973. Nesse período, os saltos ornamentais eram praticados no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, estados referência nos renomados Jogos Escolares Brasileiros da época. Em menos de um ano em Brasília, Casilo foi o coordenador de uma edição dos jogos e revelou uma atleta que se tornaria campeã sul-americana. “Comecei em Brasília no mês de setembro e não tinha nada por aqui. Em menos de um ano de trabalho eu já consegui que a atleta Lúcia Freitas da Silva se tornasse a primeira campeã sul-americana competindo pela cidade. Daí pra frente foi mais fácil, pois começaram a acreditar no trabalho e houve uma procura maior”, ressalta Giovanni. Saiba mAIS
Alunos praticam Polo Aquático na escola de saltos ornamentais em Brasília
Atualmente 144 alunos fazem parte da escolhinha de saltos ornamentais em Brasília O técnico Giovanni Casilo já formou mais de 2 mil atletas. Mais de 50 saltadores do complexo se tornaram campeões Olímpicos ou Sul-Americanos. Em 2012 o único atleta a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres será Hugo Parisi.
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esporte competição estudantil
Atleta se faz na escola Os Jogos Escolares do Distrito Federal movimentam aproximadamente 150 escolas públicas e particulares. Alunos lutam por vaga na etapa nacional Ana Paula Freire e Vanessa Melo
dos em consideração quesitos como instalações esportivas, acomodações, transportes, além dos legados que a competição deixará para a cidade sede”, afirma Hubner.
Foto: Bruno Santos
Dividido em duas etapas, a primeira com alunos de 12 a 14 anos e a segunda de 15 a 17 anos, os Jogos Escolares Brasileiros são a maior competição do desporto estudantil no país. A competição cresce a cada ano, assim como a quantidade de estudantes e escolas participantes, Etapas e mobiliza cerca de 3.500 aluMas antes de chenos/atletas a cada edição. gar à etapa nacional Edgar Hubner, diretor das e mundial, é preciOlimpíadas Escolares, fala que so passar pelas eso objetivo da competição é pro- taduais. Em 2011, mover a inclusão social a partir as etapas estaduais do esporte, sem deixar de lado contaram com mais a procura por novos talentos “E, de dois milhões de ainda, complementar a educa- alunos de cerca de ção pedagógica nas escolas da 40 mil instituições rede pública e privada de todo o de ensino. Em 2012, Competidor de salto à distância na preparação para os Jogos Escolares do Distrito Federal. país”, acrescenta. Segundo Hub- a 52ª edição dos Joner, ao longo dos últimos oito gos Escolares do Distrito Fede- realidades, porque os jogos têm A esperança não é em vão: anos, as Olimpíadas Escolares ral (GEJOESC) tem a participa- a participação tanto de esco- a seleção brasileira feminina se consolidaram como um dos ção de aproximadamente 150 las públicas como particulares, adulta de vôlei conta com uma cinco maiores eventos escola- escolas públicas e particulares. de várias regionais de ensino. ex-aluna, que pode até mesmo res do mundo. Devido à greve dos servidores Além da disputa, você tem a ên- disputar os Jogos Olímpicos O resultada educação, a fase do desporto, que é desco- de Londres. “A Tandara comedo disso gaçou conosco, foi a primeira primeira etapa brir novos talentos.” A organização vem nhará eco em precisou ser enFernando Poli Camille, trei- bolsista em 2002, a primeira do modelo olímpico, 2013, quancurtada. Come- nador da equipe feminina atleta do projeto e é nossa retotalmente voltado para um çou em 5 de ju- de vôlei da Escola Francisca- ferência na seleção brasileira”, do o Brasil padrão de excelência será, pela nho e o final está na Nossa Senhora de Fátima, completa o treinador. em termos de serviços. primeira vez, Ser jogadora de vôlei. Esse é programado para acredita que os Jogos Escolares sede dos Joantes das férias servem de vitrine para os alu- o sonho das atletas treinadas Edgar Hubner gos Mundias de julho. nos mostrarem o seu valor. “A por Fernando. Gabrielle VitóEscolares. A Carlos Ney, di- escola tem cinco meninas, en- ria, 14 anos, está no 9ª ano do competição retor dos GEJO- tre 15 e 16 anos, que fizeram a Ensino Fundamental. Capitã reúne os melhores atletas es- ESC, defende que os jogos têm última seletiva da seleção bra- da equipe, se apaixonou pelo tudantis do mundo. “A orga- uma importância não apenas sileira infantil e agora estão es- esporte influenciada pelos nização vem do modelo olím- no âmbito do esporte, mas tam- perando o resultado. Temos a pais. “Eles praticam vôlei, aí pico, totalmente voltado para bém por permitem aos estudan- expectativa de que pelo menos resolvi fazer. Nunca pensei que um padrão de excelência em tes descobrir outras realidades uma das delas esteja entre as ia gostar tanto. Quero ser jogatermos de serviços. São leva- da cidade. “Você conhece várias doze selecionadas.” dora profissional.”
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cultura lazer
À meia-luz, no cinema
Nada de cinema escurinho para as mamães do CineMaterna. Entre fraldas e chocalhos, elas assistem aos filmes e ainda amamentam seus filhos Estela Monteiro
Em Brasília desde 2010, o CineMaterna é um evento que reúne cerca de quarenta adultos e vinte e cinco bebês de até 18 meses para sessões de cinema que acontecem nos Shoppings Casa Park e Iguatemi, quinzenalmente, nas terças, às 14h, e no Pier 21, bimestralmente, nos sábados, às 11h. É importante que o evento aconteça na primeira sessão do dia, pois ainda não há grande circulação de pessoas, diminuindo as chances de os bebês se contaminarem com alguma doença. Os cinemas são previamente selecionados para uma sessão exclusiva às mamães com bebês. Papais, vovós e titias também são bem-vindos. A equipe cuida para que a sessão seja acolhedora para os pequenos. As salas têm as luzes ligeiramente acesas, o ar condicionado é reduzido, existem trocadores e tapete de atividades para os bebês. Do lado de fora, ficam ‘estacionados’ os carrinhos, para não atrapalharem a circulação em caso de emergência. Filme de adulto
Os filmes são escolhidos por enquetes pelo o site do projeto e na maioria das vezes são voltados para as mães. Esse é um dos motivos para o limite de idade dos bebês. “A partir dos dois anos as crianças compreendem fragmentos dos filmes, e, como a maioria dos que assistimos são voltados a adultos, foi mais um motivo para reforçar o limite”, explica Irene Nagashima, uma das fundadoras do projeto.
Foto: Divulgação/Guga Ferri
Uma missão
Presente em 19 cidades, o evento começou em 2008 em São Paulo, quando um grupo de mães que se conheciam pela internet decidiu ‘invadir’ uma sessão de cinema com os bebês, iniciando assim o evento CineMaterna. As sessões de cinema amigáveis para bebês foram transformadas em Associação CineMaterna, com o objetivo de promover o resgate social da mãe recente por meio da cultura e incentivar Diferente das outras salas de cinema, mamães levam seus filhos sem ouvir reclamações a troca de experiências entre muEla fala da importância de in- ela chorasse, fiquei bastante anilheres sobre as diversas questões cluir o lazer na rotina de quem mada, pois é uma forma de estar da maternidade, com atividades acabou de ser mãe: “O CineMa- com ela e ao mesmo tempo fazer após a sessão. terna busca reforçar o vínculo um programa diferente”, atesta. entre mãe e bebê. É um espaço Etiqueta durante onde ela pode se reintegrar soSegurança para os bebês a sessão cialmente, podendo conhecer Irene afirma que não existe outras pessoas no mesmo mo- idade mínima para o bebê freAlém de desligar o mento da vida para trocar ex- quentar a sessão. Assim que a celular e evitar falar, periências, compartilhar emo- mãe se sentir preparada para a mãe deve sair da ções e desabafar”. atender as necessidades do filho sala caso não esteja A psicóloga Luisa Barroca, da fora do ambiente doméstico, ela conseguindo acalmar maternidade do Hospital Uni- já pode ir ao CineMaterna. “Alguum bebê agitado ou versitário de Brasília, reforça mas mães já trouxeram bebês de chorão. Fotos durante essa importância: “Os primeiros quinze dias”, conta. o filme, somente sem meses são muito difíceis, pois O pediatra do Hospital Regioflash. brinquedos não geralmente a mãe fica em casa nal de Taguatinga Carlos Henridevem ter luzes e sons. sozinha com o bebê. É uma ro- que Roriz da Rocha é mais cuitina muito monótona.” Ela acre- dadoso. “Não recomendo ir com dita que um evento como esse recém-nascidos, ou seja, bebês Irene Nagashima conta que pode ajudar a minimizar um es- de até 28 dias, e nem com bebês tudo nasceu da paixão dela por tado emocional delicado. que nasceram prematuros, pois cinema e a falta que sentia de A publicitária Cristiny Rodri- mesmo a sessão sendo preparaassistir a um filme na telona gues, mãe de Sophia, de um ano da para eles, ainda é um ambienapós a chegada do bebê. Irene e um mês, foi ao evento pela te fechado com muitas pessoas.” viu no projeto uma oportuni- primeira vez quando a menina SERVIÇO dade de criar uma atividade de tinha apenas sete meses. “Quanlazer para as mães. “As poucas do percebi que poderia ter mais Mais informações no site atividades que existem são vol- esta diversão com a minha filha, www.cinematerna.org.br tadas para os bebês, como mu- sem me preocupar se estaria insicalização, natação e passeios.” comodando as outras pessoas se
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Sabores almoço
Um prato recheado de história Considerada comida típica brasileira, a feijoada é o sucesso dos fins de semana Gabriela Almeida
A feijoada agrada diversos paladares por todo o país e no exterior. A praticidade e o sabor característicos tornam o prato bastante procurado. Segundo a nutricionista Gisele Dias, a feijoada pode até afetar o humor das pessoas. “O feijão preto é um alimento rico em triptofano, um aminoácido precursor da serotonina, hormônio responsável pelo o bom humor, então é um bom motivo para se comer. Feijão preto deixa as pessoas mais felizes.” Porém, a feijoada não é indicada para se comer com frequência, segundo Gisele. O preparo do prato, de acordo com a preferência de algumas pessoas, pode torná-lo mais pesado e gorduroso, trazendo prejuízos à saúde. Para aqueles que não abrem mão da feijoada, a nutricionista aconselha cuidado, principalmente em relação às carnes, que são a parte mais gordurosa. Trocar os acompanhamentos pesados, como a couve com bacon, pela couve refogada com azeite e alho, já ajudam a tornar a comida mais saudável para o consumo.
do pelos escravos, que aparentemente uniram o feijão preto aos restos descartados do porco pelos senhores de engenho e cozinhavam a mistura, criando assim a típica feijoada brasileira. Porém há quem afirme que não foi exatamente assim. No livro Guia politicamente incorreto da história do Brasil, o jornalista Leandro Narloch desmente essa história contada nas salas de aula. Segundo ele, a feijoada é de origem europeia, assemelhando-se ao prato francês cassoulet, que consiste em feijão cozido com algumas peças de carne. Para Narloch, o feijão preto é oriundo do Brasil, sendo assim, os brasileiros nada mais fizeram do que adaptar o cassoulet europeu. Tradição dentro de casa
Não é preciso ser um chef para se preparar uma feijoada saborosa. Muitas vezes é em locais mais simples que se apreciam as melhores feijoadas. A agente de trânsito e dona de casa Magda Vieira, 50 anos, diz que aprendeu a receita com a mãe e pretende um dia passá-la à filha de 16 anos. “É um prato que ensinarei a minha filha com orgulho, afinal, que brasileira Controvérsias históricas Tradicionalmente, a feijoada é não sabe fazer feijoada?”, brinca conhecida por ser um prato cria- a dona de casa.
Feijoada
Foto: Gabriela Almeida
Ingredientes - 500 g de feijão preto - 200 g de carne seca - 200 g de linguiça calabresa - 200 g de costela de porco - 100 g de bacon - 1 cebola - 1 dente de alho - 1 folha de louro - 2 colheres de sopa de cheiro verde picado - 1 pitada de cominho - pimenta malagueta a gosto - sal e pimenta do reino a gosto Um dos pratos mais tradicionais brasileiros tem origem indefinida
Modo de fazer Deixe o feijão e a carne seca de molho por 12h, em recipientes separados. • Corte a costela e o bacon em pedaços generosos. • Ferva a carne seca e reserve-a. • Coloque o feijão na panela, cubra-o com água e em seguida ferva no fogo alto. • Após 30 minutos acrescente a carne seca. • Em seguida acrescente a linguiça calabresa e o bacon e ferva até que fiquem macios ou mais 30 minutos na panela de pressão. • Pique a cebola, o alho e o cheiro verde. Leve uma frigideira grande ao fogo baixo com um pouco de óleo. Acrescente o bacon e alguns pedaços da linguiça calabresa picados. Coloque a cebola e refogue por 2 minutos. Acrescente o alho e refogue por mais 1 minuto. Coloque o cheiro verde, o cominho, a pimenta picada e mexa bem. • Pegue o feijão da panela (somente os grãos) e coloque junto à frigideira, mexendo bastante e amassando se possível. Em seguida vá adicionando a água da panela para formar o caldo. Adicione a folha de louro e deixe ferver por alguns minutos. • Adicione sal a gosto, provando sempre. Sirva e delicie-se. •
Feijoada vai bem com Farofa Couve Pimenta
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comportamento festa
Realeza do milho Primeira rainha do milho eleita pelo voto popular, Vera Lucia Vinhal, representou a cidade de Patos de Minas durante o ano de 1968 Foto: Mariana Lima
Iasmim Costa
Nascida em Patos de Minas, moradora de Brasília há quase 40 anos, Vera Lucia Vinhal Franco, ou Vera Vinhal, como ficou conhecida, foi coroada a primeira rainha do milho eleita pelo voto popular em 1968. “Quando eu vim morar em Brasília, muitos moradores de Taguatinga Sul eram de Patos Minas, então eles sempre lembravam a minha coroação no concurso”, recorda Vera. Sem perder o sotaque e o jeito “mineirês”, ela lembra que aquele momento foi super glamouroso, “quase pop-star”, brinca. Com apenas 16 anos, ela conseguiu conquistar o posto de rainha da Festa Nacional do Milho (Fenamilho), que surgiu como forma de projetar o município de Patos como grande centro agrícola. Antes de ser eleita, Vera conta que fez uma campanha intensa para a candidatura. “Era como se fosse uma eleição para cargo de prefeito. Fazia cartazes para anunciar a candidatura, ia de casa em casa pedir voto, visitava outras cidades, gabinetes de prefeitos e governadores. Tinha até passeata em carros abertos pelas ruas da cidade”, conta a rainha. Durante a campanha, Vera sofreu um acidente de carro, voltando de uma cidade vizinha. “No dia do desfiles nos carros alegóricos, eu quase não me mexia porque estava com a perna machucada por causa do acidente.” Naquela época, antes
Vera Lúcia, rainha do milho de 1968, mostra seu troféu em forma de espiga
do anúncio de rainha, as candidatas desfilavam em carros alegóricos com temas infantis. Vera representou a chapeuzinho vermelho. Além disso, as candidatas a rainha do milho passavam por um curso de boas maneiras e tinha aula de passarela, tudo pago pelo sindicato ruralista. Ela recorda que no dia do anúncio da vencedora, a praça pública estava lotada de pessoas de cidades vizinhas. “No dia
da votação tinha muita gente de fora, a cidade lotou. Eu venci por uma diferença grande, por isso, uma das candidatas disse que meu pai tinha roubado e renunciou o posto de princesa. Eu recebi a coroa chorando” lembra. No ano de seu reinado, ela representou Patos de Minas em eventos como festas em cidades próximas, desfiles, bailes e até coquetéis políticos. “No ano que eu ganhei o concurso minha avó
morreu e então minha mãe não me deixava ir para os eventos, pois tinha que guardar o luto. Coisa de gente do interior” comenta. Em 2012 ela foi convidada para a comemoração de 50 anos da Festa do Milho. Junto com todas as antigas rainhas, Vera formou o júri que escolheu a rainha daquele ano. Vera ainda mantém o contato com as pessoas pelo lançamento oficial da Fenamilho, no Minas Tênis Clube. Hoje, ela recorda com saudade daqueles momentos de rainha do milho, e afirma que seus conterrâneos ainda lembram do momento da sua coroação. “Quando eu era diretora da Escola Classe 1 de Taguatinga, uma mãe de aluno chegou na minha sala com uma foto minha, da época em que fui rainha. Ela fez torcida para mim e guardou a foto como lembrança. Ela pediu um autógrafo, acredita? Eu morri de rir, dei o autógrafo e tirei fotos com ela”. Para Vera, a festa do milho ainda é uma tradição, no entanto deixou algumas coisas se perderem. Mas hoje, as rainhas estão se envolvendo muito mais na vida política e cultural da cidade. “As novas rainhas desenvolvem lindos trabalhos sociais para a população de Patos. Na minha época todo mundo era muito pobre, a gente que precisava de ação social. Para você ter uma ideia, no ano em que eu fui rainha o interurbano começou a ser usado. Tem tempo pra caramba né!”, ri Vera.
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comportamento sexo
o carro balança no centro da cidade O Parque da Cidade continua sendo um motel a céu aberto, mesmo com as aparentes providências tomadas pela administração do local De segunda à sexta 200 mil pessoas passam pelo Parque da Cidade. O local é utilizado pela população como ponto de lazer. Mas os estacionamentos são, há muitos anos, utilizados para outros fins. Basta caminhar pelo parque e perguntar quais são os pontos usados para fazer sexo. Todos sabem a resposta: estacionamentos 1 e 2, próximos ao Pavilhão de Exposições. Sem paredes
Por volta da meia-noite do dia 19 de maio, 25 carros andavam em círculos no estacionamento 1. Apenas homens estavam dentro de carros dos
mais variados modelos. Essa é a forma encontrada por homens à procura de um parceiro que não querem se expor. Depois de paquerarem pelos carros, eles estacionam e vão para um mesmo veículo. O sexo acontece ali, sem se preocuparem se tem alguém olhando. O administrador interino do parque, Pablo Durães, confirma ao Artefato que, para inibir a prática, os estacionamentos são fechados diariamente e que foram tomadas outras providências para melhorar a segurança lá dentro. “Fizemos o fechamento dos estacionamentos das 00h às 05h todos os dias e acabamos com as antigas festas noturnas, sem autorização do poder públi-
co, que aterrorizavam o parque há mais de 15 anos. O estacionamento 2, palco de problemas seríssimos no passado, está fechado 24 horas por dia e houve um aumento no efetivo de policiamento com o acréscimo de três policiais militares com moto, fazendo rondas em todo o Parque da Cidade”, enumera. Mas no dia em que a reportagem presenciou os encontros homossexuais, não apareceram policiais e o estacionamento 01 estava aberto. Já passava da meia noite. O ciclista Tiago Mendes, 28 anos, frequentador assíduo do local, conta que a prática sexual ali é antiga e acontece também durante o dia. Ele já passou por um casal
Os estacionamentos 01 e 02 do parque são os pontos mais frequentados pelos casais interessados em namorar
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Sou anticonvencional, então a ideia de sexo em local público com uma pessoa desconhecida aumenta minha adrenalina, além de deixar o momento mais prazeroso. Wendley Nunes
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Natália Oliveira e Rick Astley
no rala e rola por volta das 9h: “As pessoas perderam a vergonha. Antigamente a gente via isso durante a noite, mas agora é a qualquer hora”, conta. A Praça das Fontes e o bosque localizado atrás dela, chamado de “floresta dos sussurros” pelos frequentadores, são outros pontos escolhidos para a prática sexual. Nos banquinhos, escadas, balcões com jardins ou em qualquer árvore mais escondida: a pegação é em qualquer lugar. Frequentador do parque há 10 anos, Wendley Nunes, 27 anos, gosta de sair da rotina e geralmente vai ao local nos fins de semana em busca de aventuras ao ar livre. “Sou anticonvencional, então a ideia de sexo em local público com uma pessoa desconhecida aumenta minha adrenalina, além de deixar o momento mais prazeroso”, confessa. Segundo Wendley, nas áreas internas é raro ver um policial militar. Mesmo com a contratação de seguranças para fazerem rondas durante o dia e à noi-
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comportamento Fotos: Michelle Brito
Pessoas marcam encontros nos estacionamentos do local para fazer sexo no interior dos veículos. A Polícia Militar não costuma realizar abordagens nos carros
te, eles não fazem abordagens. veita o horário do almoço Muitas vezes as pessoas nem li- para realizar encontros amogam se eles estão por perto. rosos. De acordo com o sargento José Jorge, 45 anos, a Abordagens polícia só faz abordagens se Durante a semana, quem o ato estiver sendo praticado trabalha no Plano Piloto apro- ao ar livre, mas, segundo ele, esses casos são raros durante a semana. ”Geralmente os casais tenGeralmente os casais tam buscar mais privacidade e acabam fazendo sexo nos tentam buscar mais carros. A película dos vidros privacidade e acabam acaba ‘escondendo’ o casal e fazendo sexo nos dificulta o serviço de abordacarros. A película gem da polícia.” dos vidros acaba O número de abordagens ‘escondendo’ o casal e aumenta com a chegada do fim de semana. O sargento dificulta o serviço de conta que chegam a 75 aborabordagem da polícia. dagens por dia. A segurança José Jorge do parque é feita pela PM, que
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faz rondas a cavalo, com motos e também a pé. As ocorrências do local se concentram no posto policial que fica próximo ao parque Ana Lídia. Para o administrador do parque, a polícia tem cumprido seu papel para combater essa moda perigosa. “O 1° BPM, o BPTRAN, a Polícia Montada e a 1ª Delegacia de Polícia têm feito um excelente trabalho no Parque Dona Sarah Kubitschek. A Secretaria de Ordem Pública e a Agência de Fiscalização, por sua vez, têm realizado um persistente trabalho de fiscalização, o que redundou na sensível diminuição dos ambulantes irregulares, flanelinhas irregulares e demais atividades ilegais”, assegura.
Fique Ligado Por ser um espaço público e ter acesso liberado, o parque não é um local seguro para o sexo. Lá circulam usuários de drogas e assaltantes, que se misturam aos visitantes. O período da noite é ainda mais perigoso, especialmente diante do aumento dos sequestros-relâmpagos na capital.
SERVIÇO Posto Policial do Parque da Cidade Em frente ao parque Ana Lídia Telefone: (61) 3910- 1099
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saideira
Um vampiro no coração de Brasília Botas, cartolas, unhas longas e capas. Essa é a vestimenta diária do ator Renato Barcelos, 46 anos. Mais conhecido como Vlad, ele caminha diariamente pelo Conic, onde trabalha vestido com as roupas que caracterizam o grupo de artistas Vampiros – DF. O gosto pela época vitoriana, pelo questionamento e pelas causas sociais do século XIX, são os motivos que levam Vlad a agir de modo diferente. Como espírita, ele acredita em reencarnação e que as pessoas devem agir de acordo com o período histórico vivido mais intensamente. De acordo com Vlad ele, já nasceu vampiro e suas memórias de infância, por volta dos três ou quatro anos de idade, estão acompanhadas do per-
sonagem Zé Vampir, criado por Maurício de Souza . Com o passar dos anos ele amadureceu, e se apaixonou por novas histórias e personagens, como o Drácula de Bram Stoker e a dupla Louis e Lestat, do livro Entrevista com o Vampiro, da escritora americana Anne Rice. Junto com o gosto pelo cinema e pela literatura vampiresca, cada vez mais presente na vida do vampiro brasiliense, surgiu também o interesse por causas sociais. Hoje, ele luta para que o grupo cresça e tem dois projetos para divulgar a ações dos vampiros do Distrito Federal: o piquenique Vitoriano, reunião com traje obrigatório no Parque da Cidade, no próximo dia 30, que deve culminar com a distribuição de alimentos para moradores de rua no Setor Comercial Sul e ainda em fase de matura-
ção, o Dia do Vampiro, que convidará brasilienses a doar sangue no Hemocentro. O Dia do Vampiro foi criado em 2002 por Liz Marins, filha do cineasta e ator José Mojica Marins, o Zé do Caixão. O evento já é sagrado na cidade de São Paulo, comemorado em 13 de agosto. O dia foi criado para incentivar a doação de sangue, a luta contra a discriminação e o incentivo à diversidade artística. “O Piquenique Vitoriano é o primeiro passo para levar o pessoal a conhecer os vampirosDF. Acabar com o preconceito. Somos vampiros. Precisamos quebrar esse tabu”, explica. Monstruosidades
As reações causadas pela imagem de Vlad e dos amigos são diversas. Antes de conhecer o grupo, a namorada de um dos Foto: Vinícius Remer
Renato Barcelos, 46 anos, mais conhecido como Vlad, pretende criar o dia do vampiro na capital
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Quero que as pessoas gostem da minha atitude. Os monstros são menos perigosos que os engravatados. Vlad
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Paula Carvalho , Eric Zambon e Augusto Dauster
integrantes chegou a chorar de medo na primeira vez que os encontrou. Aproximou-se aos poucos até se entregar aos encantos vitorianos e se envolver romanticamente com um dos vampiros. Vlad recorda a história com bom humor. No entanto, também houve encontros emocionantes que tocaram o coração nada pulsante do vampiro. Certa vez, em frente ao Teatro Dulcina, enquanto Vlad esperava por um dos fundadores do grupo, e acenou timidamente para uma menina de apenas cinco anos que o encarava. Após o contato visual, a pequena cochichou algo no ouvido do pai, que a acompanhava. O homem se aproximou do vampiro e disse que a menina gostaria muito de falar com ele. “Estendi a mão. Ia segurar a mãozinha dela. Mas antes disso, ela abraçou minha perna com tanta força... Quase chorei.”. Para Vlad, as crianças são mais receptivas que os adultos. Têm a visão mais pura e se deixam guiar pelas fantasias com facilidade. Parafraseando um diálogo de Entrevista com o Vampiro, ele diz que é um deles, fingindo ser humano, fingindo novamente ser um vampiro. “Quero que as pessoas gostem da minha atitude. Os monstros são menos perigosos que os engravatados.”
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