Ano 18 - N° 7 - Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília - Distribuição Gratuita - Fev/Mar/Abr 2017
Uma nova chance
Esquecidos nos abrigos, animais mutilados encontram amor e carinho em lares adotivos Pág 12 e 13
POLÍTICA A descriminalização da maconha divide opiniões e gera polêmica __________________ Pág. 4 e 5
SAÚDE Como prevenir e tratar o HPV, doença que atinge metade dos homens do mundo _________________ Pág. 20 e 21
Foto: Aline Aline Brito
ESPORTE Muay Thai: mulheres que sobem no ringue para quebrar paradigmas _________________ Pág. 14
EDITORIAL O Artefato é feito de amor. Nessa edição, todos os envolvidos na construção deste jornal laboratório colocaram suas paixões, seus medos e deram tudo de si para que os olhos do leitor não se desprendam segundo algum dessas páginas. A nossa intenção é levar informação a você e fazer com que se sinta em casa. E, acima de tudo, aprender na prática sobre os desafios e prazeres que os caminhos do jornalismo nos levarão vida à fora. Como comunicadores, colocamos nossa criatividade na ponta da caneta para definir as pautas que estão na nossa primeira edição do jornal Artefato deste ano. Levar um conteúdo plural e com diversidade é nosso principal objetivo. No mês de março, marcado pelo Dia Internacional da Mulher, duas matérias derrubam mitos. Numa delas, mulheres que se destacam no Muay Thai e na outra as que amam engenharia automotiva. Ao final deste jornal, uma crônica sobre o poder da igualdade de gêneros te fará pensar sobre a posição da mulher no mundo e no futuro. Essa luta segue firme e o Artefato tem orgulho de trazer a evolução delas em todos os contextos. A sensibilidade é um dos nossos focos e virou a capa desta edição: animais, antes rejeitados e destinados à morte, ganham carinho e amor. Também não tivemos medo de mergulhar em temas que muitos consideram tabus, como a descriminalização da maconha, os profissionais de saúde pública que adoecem pela pressão e falta de estrutura, os mitos e verdades sobre o HPVírus e as agruras dos ambulantes no centro da Ceilândia. O esforço é buscar informar, de forma isenta e imparcial, permitindo que o leitor construa sua própria opinião. Além disso, você ainda terá oportunidade de ir de encontro com a rotina de pessoas desesperadas que procuram consolo nos pratos de comida. São os compulsivos alimentares, homens e mulheres que sofrem porque não conseguem parar de comer. A preocupação com alimentação adequada e equilibrada transformou uma microempresária de Sobradinho em exemplo no mercado de marmitas, que há anos mantém o mesmo preço e os clientes só aumentam. Nossa tradição é destacar a raiz brasiliense. Olhamos com atenção para o paradoxo que o Distrito Federal vive: um período de racionamento de água e ao mesmo tempo alagamentos por todos os lados. Ao mesmo tempo em que o governo se envolve numa polêmica sobre construir ou não a ciclovia da EPTG. A previsão é que em oito meses uma das vias mais movimentadas do Distrito Federal ganhe um espaço específico para os ciclistas. Este é apenas o primeiro ato da nossa empreitada que será longa e estimulante. A cada nova edição, buscaremos evidenciar o sentimento que nos impulsiona a evoluir cada vez mais: o amor pelo jornalismo. O que nos estimula a continuar procurando por acontecimentos que colaborem para a construção do pensamento e da visão do mundo em torno dos mais diferentes temas.
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Sinta-se bem-vindo ao nosso Artefato, ele foi feito para você!
EXPEDIENTE Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 18, nº 7, fevereiro/março/abril de 2017 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Chefe de Gabinete da Reitoria: Prof. Dr. Dilnei Lorenzi Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação: Prof. Drª. Christine Maria Soares de Carvalho Coordenador de Curso de Jornalsimo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Profa. Drª. Renata Giraldi Professor Auxiliar: Fernando Esteban Orientação de Fotografia: MsC. Bernadete Brasiliense Apoio: Larissa Nogueira e Pedro Grigori Apoio Técnico: Sued Vieira Monitora: Jéssica Luz Editores-chefes: Alinne Castelo Branco e Danilo Queiroz Editores de arte: Anthony Machado e Enoque Aguiar Editores de texto: Giovanna Ferreira e Tatiana Castro Diagramadores: Evelin Mendes, Germana Gabriella Brito, Karine Santos, Letícia Ziemann, Maria Gabbriela Veras, Patrícia Benevides, Rafael Procópio e Tatiana Castro Editores de fotografia: Alan Rios e Anna Paula Fernandes Editores de web: Ello Romanin e Layla Andrade Social mídia: Gustavo Mamede Repórteres: Anderson Miranda, Beatriz Ribeiro, Carolina Militão, Evelin Mendes, Douglas Ramalho, Germana Gabriella Brito, Guilherme Costa, Hellen Resende, Hudson Portella, Karine Santos, Layla Andrade, Letícia Viana, Leticia Ziemann, Maria Gabbriela Veras, Natália Martins, Patrícia Benevides, Virgínia Barbosa e Thiago Siqueira Checadores: Hudson Portella, Letícia Ziemann, Letícia Viana e Natália Martins Fotógrafos: Alan Rios, Beatriz Ribeiro, Carolina Militão, Evelin Mendes, Germana Gabriella Brito, Guilherme Costa, Leticia Ziemann, Layla Andrade, Maria Gabbriela Veras, Natália Martins, Patrícia Benevides e Virgínia Barbosa Ilustrações: Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPTC QS 7, Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefones: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Jornal online: issuu.com/jornalartefato Facebook: facebook.com/jornalartefato Site: artefatojornal.wordpress.com Snapchat: @artefato Instagram: @jornalartefato
ARTIGO
Façam as pazes, amigos!
Thiago Siqueira
Quem nunca brigou com um amigo ou parente por política? Nos últimos anos, os debates têm tomado uma proporção agressiva. Se nas cidades do interior as pessoas já brigavam pelas disputas eleitorais a ponto de não comprarem no mercado “x” por que é da família “inimiga”, nas grandes metrópoles essa realidade tem se tornado presente. As últimas movimentações da política nacional geram sentimentos de odeio e vingança. Com a crise econômica acirrada pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff – que deixou o poder no ano passado -, várias famílias se dividiram. Nem os encontros de domingo foram mais os mesmos... E qualquer ocasião – aniversário, batizado e encontro informal - acaba virando uma articulação política digna de uma disputa presidencial da Câmara: “Se fulano for, eu não vou”. No fim das contas, o clima chato fica para todo mundo. Mas na família até dá para relativizar, alternar as idas nos encontros, os parentes colocarem panos quentes e por aí vai. Mas e no trabalho? Se fulano for, eu não vou? Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não há referência a artigos
ou normas que aliviam rixas por questões políticas ou ideológicas para ninguém. Então imagine: um coxinha e um mortadela dividindo o mesmo espaço no trabalho? Vizinhos de baia ou mesa? Não dá para brigar. Afinal de contas, se foi impeachment ou golpe, a discussão não tem que virar uma preparação para um confronto armado. Mas é preciso ter tranquilidade em saber que é um debate, não uma rixa ideológica. Muito menos dar a ela um desfecho troiano. Toda essa agressividade toma proporções gigantescas na sociedade, basta olhar os “justiçamentos” e linchamentos. Do homem que invade um casamento para matar o assassino do pai, de populares que prendem um assaltante de celulares em uma parada de ônibus e o espanca. Embora seja totalmente diferente das brigas entre parentes e colegas de trabalho, seguem a mesma linha de raciocínio: incredulidade com o Estado e com a Justiça. Sim, nas discussões que de maneira simplista se resumem o “foi golpe” x “foi impeachment”. Ou colocando de maneira mais escancarada, direita contra esquerda. Algo meio ultrapassado há quase
três décadas – desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, quando a rivalidade do socialismo e o capitalismo passou a ruir – ou se retomamos o contexto da Guerra Fria: os americanos contra os russos, ou melhor, Deus, pátria e família contra o “demônio”. O contexto histórico nos mostra apenas uma coisa: o pacifismo é a melhor escolha. E toda essa disputa só leva às disputas desnecessárias e que não nada solucionam. Saúde, educação e segurança pública são básicas, mas o leque de questões fundamentais é muito maior. É preciso ir além do debate simples e sem conteúdo sobre questões ideológicas que sustentam a concepção de Estado e buscar discussões que gerem soluções que garantam à população – parentes, colegas de trabalho e até para as pessoas que não conhecemos nos vários cantos do país as necessidades que merecem e precisam, das metrópoles aos rincões. Divergir, incomodar, concordar e buscar consenso são essenciais para o engrandecimento da sociedade como um todo e do indivíduo como ser que colabora e faz para um país que visa o melhor para os seus.
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POLÍTICA
Descriminalizar a maconha, sim ou não?
Foto: Evelin Mendes
O debate divide opiniões sobre como enfrentar o tráfico e o consumo de drogas
Evelin Mendes
A descriminalização da maconha é tema de rodas de conversas entre amigos e também dos plenários do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Será que estamos preparados para legalizar a droga, assim como fez nosso vizinho Uruguai? No Brasil, comercializar e consumir maconha são considerados crimes cuja punição vai desde penas alternativas para usuários ou dependentes, no caso de reincidentes, a pena pode chegar até dez meses de reclusão. A punição é rigorosa para situações de tráfico, que consideram as circunstâncias e a quantidade envolvidas. A previsão é que ainda este ano o Supremo julgue a questão 4
da descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal. Dos 11 ministros da Suprema Corte, três já votaram a favor – Gilmar Mendes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, relator do caso. O julgamento que foi interrompido por Teori Zavascki, que solicitou mais tempo para a análise do processo. Com a morte de Zavascki, em janeiro deste ano, é aguardado o voto do novo ministro, Alexandre de Moraes, que se manifestou contrariamente à descriminalização.
Impactos
Para Ela Wiecko, especialista em políticas de drogas e professora de Direito Penal da Universidade de Brasília (UnB),
a eventual descriminalização da droga, causará impacto positivo na aplicação de penas menos severas aos pequenos traficantes. “Eles são, ao mesmo tempo, vítimas e usuários. As prisões podem ser convertidas em medidas cautelares não privativas de liberdade. O que pode contribuir para reduzir o pânico em relação às drogas expresso nas decisões judiciais de primeira e segunda instância”, afirmou ela. Segundo a especialista, as políticas públicas brasileiras que visam a redução do consumo de drogas têm eficácia zero. “Na prática todo o esforço estatal é direcionado à repressão. Paradoxalmente, a criminalização em nome da defesa da saúde pública afasta
os usuários dos serviços de saúde”, destacou. Wiecko afirma que o ideal é descriminalizar o porte para uso pessoal e fins medicinais, além de regular o mercado. “A regulação não interessa aos verdadeiros donos do tráfico, que dificilmente são identificados e processados. A descriminalização do porte da maconha favorece a implementação das políticas de redução de danos para usuários de drogas pesadas”, ressaltou. Já para Ana Cecília Marques, coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a descriminalização resultaria no aumento do consumo. Segundo ela, nos países onde a droga foi liberada, o tráfico cresceu. “Holanda, Uruguai e até mesmo a Inglaterra antes de
voltar atrás mostraram que o tráfico não acabou e não diminuiu. Então, não dá para ingenuamente achar que descriminalizar vai dar certo e irá controlar o consumo”, avaliou.
Dados
Uma pesquisa realizada a pedido do parlamentar Jean Wyllys (PSOL-RJ), em 2014, mostra que a movimentação do mercado da maconha pode chegar a R$5,6 bilhões por ano no Brasil e, se for legalizada, a arrecadação tributária renderia cerca de R$ 5 bilhões aos cofres públicos, considerando a mesma taxação de impostos incididos sobre o tabaco. O estudo considera, ainda, que o país teria condições de suprir a demanda do mercado interno de maconha que possui cerca de 2,7 milhões de usuários. A mesma pesquisa informa que 20%
Sem aceitação Em pesquisa de 2012, 75% dos brasileiros disseram ser contrários à legalização da maconha.
Perigo ao volante Em Washington, nos EUA, um em cada seis motoristas envolvidos em acidentes fatais em 2014 fez uso da maconha antes de pegar o volante. A alta nos acidentes passou de 8% para 17%
Menos dependência A maconha registrou menor índice de vício que o álcool: Usuários da droga tiveram 10% na taxa de dependência, enquanto os de álcool tiveram 15%. Ambos estão atrás da nicotina, heroína e cocaína.
da maconha consumida em território brasileiro é nacional, o restante vem do tráfico internacional de drogas. Os governos federais e estaduais gastaram em ações de repressão, combate e tratamento relacionado às drogas em cerca de R$ 4,8 bilhões em 2014. Do total, quase R$ 1 bi foi custeado com a prisão de traficantes de maconha. Desde 2013, o Uruguai adotou a regulamentação de todo o ciclo de consumo da substância. O Estado é responsável pelo controle da droga: jovens acima de 18 anos podem comprar, consumir e cultivar a droga, mediante cadastro. Já nos Estados Unidos, o estado de Oregon permite o uso da maconha recreativa desde 2014. Segundo pesquisas, o Oregon arrecadou R$25,5 milhões em impostos, nos primeiros sete meses de 2016.
Mercado
A compra e venda de maconha poderia movimentar R$ 6 bi por ano no Brasil. O país tem 2,7 milhões de usuários que consomem a droga vinda do tráfico internacional.
No Brasil A estimativa é que 2,5% da população adulta usaram cannabis nos últimos 12 meses, percentual que sobe para 3,5% entre os adolescentes - taxa que se assemelha a de outros países da América Latina.
Mais usada no mundo A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, com mais de 180 milhões de usuários.
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MOBILIDADE
Uber Escolar: nova opção para adolescentes Estudantes aderem pelo preço e charme – tudo compartilhado Maria Gabbriela Veras
Acorda, escova os dentes, toma banho e um café com o intuito que o sono vá para longe, afinal, logo a aula começa e é preciso atenção para acompanhar tudo. Em meio às tarefas rotineiras da manhã, algo incomum acontece: smartphones na mão, pedido feito e em questão de minutos, o veículo da empresa norteamericana Uber está na porta para ser o meio de transporte até a escola dos jovens clientes. O retorno para casa é semelhante. O soar do alarme indica não somente o fim das aulas do dia, mas
também que o requerimento do veículo precisa ser feito. A atitude se repete durante os seis dias da semana em que os adolescentes têm aula. A aluna do Ensino Médio Isabella Lopes, de 16 anos, que estuda a 10 quilômetros de casa, é só elogios aos serviços do Uber. “Antes o meu meio de transporte principal era o metrô, mas com o aumento da tarifa ficou pesado. Foi aí que decidimos fazer o teste com o Uber. Divido a conta com os amigos e fica, para cada, entre R$ 1,50 e R$ 2”,
relatou. Isabella não se cansa de listar os benefícios dos serviços do Uber. “Eu peço e em poucos minutos o motorista já está na frente do meu prédio ou na frente da escola. E ele vem me buscar e me deixar na porta de casa”, ressaltou ela, que conta com o apoio da família. “Como pais da Isabella, na maior parte do tempo fomos nós, os motoristas da nossa filha. Então deixá-la usar esse serviço é algo novo para nós”, afirmou a servidora pública Gilmara Bento, mãe
Foto: Maria Gabbriela Veras
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Amigos e colegas de escola, Jader, Isabella e Guilherme dividem o Uber para ir e vir de casa para o colégio e comemoram a economia e o conforto
serviços da empresa. “Os pais buscam uma alternativa cada vez mais cômoda, eles confiam demais no nosso serviço”, disse ela. “Eu adoro os adolescentes, tenho menos estresse com eles do que com os adultos. Já acordam animados, pedem para colocar música agitada e eu me divirto”, completou. A tendência citada pela motorista é confirmada pela empresa. Em nota à reportagem, o Uber destaca a qualidade dos serviços que presta. “Os nossos clientes começaram a perceber que Uber não é um simples serviço de transporte usado apenas em situações corriqueiras, mas sim em atividades do cotidiano, pois é algo que traz muita facilidade e agilidade nas ações do dia a dia.” Há três categorias de carros dentro do aplicativo: UberX, UberBAG e UberBLACK. A primeira categoria pertence a veículos populares, com o preço econômico – opção mais escolhida entre adolescentes es jovens. O UberBAG é para quem necessita de carros que possuam porta malas maior e o UberBLACK é para quem quer
viajar em grande estilo: os automóveis são sofisticados e possuem serviços especializados. As diferenças do preço das categorias variam de R$ 10,00 a R$ 30,00. O preço da versão mais sofisticada dos carros não caberia no bolso dos adolescentes e jovens, embora fãs de carro, estilo e bom gosto, quem tem ditado as regras é a economia. Rixa Nas cidades de médio e grande porte, o espaço passou a ser dividido com a chegada da empresa Uber no Brasil – local antes comandado apenas por um setor, o dos taxistas, e que teve de ser adaptado para que nenhuma das partes saísse no prejuízo. Os taxistas protestaram contra a empresa, alegando que sua chegada fez com que as pessoas aderissem ao tradicional com menor frequência. Os profissionais ainda criticam a forma não legalizada com que a empresa tomou conta das ruas. Agressões, brigas e palavras de baixo calão poderiam ser facilmente testemunhadas quando os contrários se encontravam. No Distrito Federal, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) regulamentou a atividade do Uber por meio da lei nº 5.691/2016.
Foto: Maria Gabbriela Veras
*Preços calculados de acordocom a rota dos entrevistados
da estudante. O pai da adolescente, o policial civil Dawson Lopes, diz se sentir seguro com os serviços da empresa de transportes. “O Uber tem nos conferido maior segurança ao buscá-la e deixála na porta de casa o que nos gera tranquilidade, pois os riscos de assaltos na rua diminuem.” Um dos companheiros de viagem de Isabella é Jader Antonele, de 15 anos. O garoto, que pretende ser jornalista, disse ter analisado as opções disponíveis de transporte para ir à escola. “Eu estou satisfeito com o serviço, os carros são cômodos e os motoristas pontuais e educados”, concluiu. O estudante Guilherme Neves, de 16 anos, compartilha o carro com a irmã. “Usar outro meio de transporte ficaria bem mais caro para os nossos pais, já que somos dois”, salientou. Guilherme ainda lembra que não tem demais preocupações com o transporte. “Os motoristas sempre chegam no horário previsto, não tenho preocupação em chegar atrasado na aula ou receio do ônibus não passar no dia”, afirmou. Para a pedagoga Valéria Marinho, que se transformou em motorista do Uber há três meses, a tendência é de mais adolescentes procurarem os
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SOCIEDADE
Garotas e a paixão sob quatro rodas Mulheres não só entendem como são fascinadas por carros Beatriz Ribeiro
Após conquistar espaço como motoristas, mulheres mostram que além de dirigir, podem também projetar automóveis. Agora, elas começam a conquistar um espaço antes destinado só para eles. Nos últimos 10 anos, mais de 300 mulheres ingressaram no curso de Engenharia Automotiva da Universidade de Brasília (UnB). Porém, elas ainda são minoria se comparada ao sexo oposto, ocupando apenas 11% das cadeiras do curso. Um desses lugares é ocupado por Brenda Kennedy, 19 anos, que decidiu no Ensino Médio que o futuro era projetando automóveis. O amor da futura engenheira começou pelo carrinho cor de rosa das bonecas, passou para as aulas de física, o que a levou a prêmios e a conquista de espaço em uma equipe, antes composta apenas por homens. Hoje, ao lado de 30 garotos, ela projeta o carro elétrico que irá representar a UnB na 14ª Competição Nacional da Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE), realizado em novembro, em São Paulo. (Ver box) Sonhos A estudante sonha com o momento de apresentar o carro na competição. “Estou muito ansiosa. Quando fiz a entrevista para entrar na equipe, o capitão me perguntou a quantidade de peças que um carro possui. Eu não fazia a mínima ideia disso, mas contei a ele tudo que eu sabia. 8
Ele respondeu que, na verdade, não procurava alguém que soubesse de números, o que ele realmente queria encontrar, era alguém com o conhecimento e a vontade de aprender que eu possuía.” Além de trabalhar na projeção do carro que vai representar a UnB, Brenda também integra a empresa júnior Engrena, na qual alunos voluntários apresentam propostas automotivas a pequenas companhias. A equipe é composta por 23 homens e duas mulheres. A única parceira feminina de Brenda é Karla Pereira, 20 anos, que aprendeu mecânica com o pai caminhoneiro. Ela é líder do grupo e já soma uma série de experiências. “Ser diretora é mostrar que mulheres também podem conseguir espaço na área mecânica, essa foi uma conquista muito grande na minha vida”, afirma Karla. Em Manaus, a recém-formada em Engenharia Mecânica Cherolee Ramos, 23 anos, conta que entrou no curso pela paixão por automóveis. “Na minha turma haviam apenas três mulheres, e meu pai era contra a filha fazer parte de uma área tão masculinizada, onde as mulheres possuem poucas oportunidades”, relembra. Porém, a pior situação ocorreu quando a jovem buscava o primeiro estágio. “Tentei vaga em uma multinacional, mas acabei rejeitada por ser mulher. A empresa afirmou que não aguentaríamos a pressão”, relata. Apesar das dificuldades, ela não desistiu, e garante que o próximo passo será uma pós-graduação na área automobilística.
14º Competição da Fórmula SAE A competição é organizada pela sociedade de engenheiros automotivos com o apoio da Mercedes Benz, Chevrolet e companhias que oferecem serviços automotivos às grandes montadoras, para que estudantes desenvolvam o projeto de um carro tipo fórmula com motor de combustão ou elétrico. Em três dias de prova, os carros também são avaliados pelas apresentações técnicas, de marketing e financiamento. As equipes de maior pontuação representam o Brasil em duas competições internacionais nos Estados Unidos. O evento chegou ao Brasil em 2004 e já envolveu mais de mil estudantes.
Foto: Alan Rios
Foto: Felipe Menezes
Apoio na web Cherolee administra o blog “Mulheres na Engenharia”, que reúne engenheiras e aspirantes de várias regiões do país em um grupo no WhatsApp. Por intermédio do grupo, elas decidem a pauta das postagens no blog e marcam encontros. O site divulga oportunidades de emprego, apostilas e histórias de mulheres que marcaram o mundo da engenharia. Acesse: http://www.mulheresnaengenharia.com/
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SOCIEDADE
Ciclovia na EPTG
Foto: Guilherme Costa
Sem cumprir o plano original, Rollemberg autoriza ciclovia que ligará Taguatinga à Octogonal
Guilherme Costa
Em meio a uma grave crise no orçamento no Distrito Federal, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) atendeu a uma antiga demanda brasiliense e autorizou a construção de uma ciclovia que ligará Taguatinga à Octogonal. A licitação ainda está em andamento, mas a previsão do Departamento de Estradas e Rodagens (DER-DF) é de que a obra seja entregue até o final do ano. De acordo com a Secretaria de Mobilidade (SEMOB-DF), a obra custará aproximadamente R$ 12 milhões e terá 25,7 quilômetros de extensão nas duas margens da Estrada Parque Taguatinga (EPTG). O planejamento do DER era encerrar a licitação até fevereiro, mês no qual estava previsto o início da construção. Contudo, as obras ainda não se iniciaram. O vendedor João Paulo Araújo, de 27 anos, adepto da bike e atleta federado de ciclismo de estrada, é um dos defensores da ciclovia. Ele relata ter passado por vários perigos em seus deslocamentos diários pela EPTG. “Todo dia a gente passa por vários sustos. Nós que compartilhamos a via com os carros ainda vemos que muitos motoristas acham que estamos ali só para atrapalhar, que não deveríamos estar ali. 10
Muita gente ainda pensa assim”, lamentou João Paulo. De acordo com o governo, o período de obras na EPTG será de oito meses. Um prazo tão adequado quanto o orçamento, para Paulo César da Silva, mestre em Engenharia de Transportes e professor da Universidade de Brasília (UnB). O engenheiro acredita que, mesmo não sendo feita no melhor momento, a execução da obra tem um viés positivo e é, acima do tudo, o pagamento de uma dívida. “A existência da ciclovia na EPTG era parte do projeto quando foi contratado o empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIDE). Quando se aportou recursos para a criação da EPTG, existia um projeto chamado de Linha Verde, um projeto de um corredor que ia priorizar o transporte não motorizado”, disse o mestre. O outro lado O fluxo intenso de ônibus que trafegam na via, além de engarrafamentos quilométricos nos horários de pico, também jogam um alerta sobre a ciclovia. Felipe Melo Marques, 22 anos, é dependente do transporte público para
ir e voltar do trabalho. Para descer perto de sua casa, pega um ônibus que trafega pela marginal da EPTG. O jovem conta que já enfrentou mais de duas horas de engarrafamento na via. Para o estudante, uma ciclovia no local só aumentará os congestionamentos e até o risco de acidentes. “O governo deveria, primeiro, concentrar-se em aumentar a frota de ônibus e atender uma demanda mais antiga ainda, que é o problema do transporte público no DF”, disse ele. Apesar das divergências, um aspecto todos concordam: o momento escolhido pelo governo para realizar esta obra não é o adequado. Por suas medidas governistas, Rollemberg travou embates com a Câmara Legislativa e com servidores públicos, que reivindicam aumentos salariais Na campanha política, o então candidato defendeu uma série de propostas para aperfeiçoar o sistema de mobilidade urbana, como o aumento da frota viária, a expansão do metrô e compra de novos trens e a implementação do Trem Leve Urbano da Ceilândia, medidas que até o momento não saíram do papel. Procurada pela reportagem do Artefato, a Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal (SEMOB-DF) não se pronunciou.
MEIO AMBIENTE
Água que ninguém quer Em pleno racionamento, o paradoxo: ruas alagadas e o desperdício da substância rara Letícia Viana
sujeira é um dos motivos. “Cada vez que um funcionário da Novacap entra numa boca de lobo para fazer a limpeza, nós ficamos surpresos com a quantidade de lixo”, disse. “Nós temos uma grande quantidade de alagamentos na cidade justamente por entupimento de lixo doméstico: acham-se bolsas, bolas, tudo o que você pensar, dentro de uma boca de lobo.” As histórias envolvendo alagamentos são muitas. O motorista Osvaldo Júnior lembra de um episódio recente que viveu: “Acabei desistindo de enfrentar a W3 Sul porque a via parecia mais com um rio do que com um local de passagem de carros”. A queixa se estende aos pedestres. “Um dia eu precisei ir até um comércio perto da minha casa, do outro lado da rua e assim que eu pisei na rua, tinha uma enxurrada que molhou até o meu joelho e ainda perdi o dinheiro que ia usar”, disse a pedestre Letícia Medeiros. Há regiões em que a situação se agrava, como Vicente Pires, Ceilândia,
Planaltina, Guará e Plano Piloto. Os alagamentos nas tesourinhas do Plano Piloto, por exemplo, viralizaram na internet depois que um motorista registrou uma verdadeira “cachoeira” formada em uma delas, após a chuva. Para o professor Oscar Neto, o governo do Distrito Federal deve adotar mecanismos para reaproveitar essa água parada para reduzir os riscos de racionamento. “É importante desenvolver sistemas como trincheira de infiltração ou fazer no próprio lote algum tipo de infiltração forçada, que facilitem esse processo de captação da água, sem que o local fique inundado e nem afete outras regiões”, indica. Em nota, a Companhia de Água e Esgoto de Brasília (Caesb) informou que não há projeto para captação da água da chuva. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) não se pronunciou sobre o assunto. caos causado pelo racionamento de água e os alagamentos.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Basta a chuva dar o ar da graça que as ruas de Brasília sofrem com os alagamentos. Inúmeros são os transtornos pela impossibilidade de ir e vir: os pedestres não conseguem circular, os ciclistas têm de fazer acrobacias e os motoristas têm prejuízos com os carros que ficam submersos. O paradoxo é que essa agonia ocorre no momento em que o Distrito Federal passa por um racionamento de água. Por que tantos alagamentos em uma cidade planejada? E por que toda essa água não é revertida para amenizar a situação da falta do recurso? Apesar de a cidade conter mais de 4 mil quilômetros de redes de águas pluviais e mais de 170 mil bocas de lobo na temporada de chuva, a cidade alaga. Independentemente da causa do problema, a população sempre é afetada. Oscar Neto, professor de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB), busca respostas para esses questionamentos. “Várias áreas da região foram pavimentadas, asfaltadas e urbanizadas e esses processos fazem com que tenha o aumento da água que escoa. A água, que antes infiltrava no terreno, hoje escoa rapidamente provocando os alagamentos”, explicou. Já a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), informa que diariamente os funcionários limpam e fazem os cuidados necessários com os bueiros para evitar alagamentos. Porém, o problema persiste. O Diretor Presidente da autarquia, Júlio Menegotto, afirmou que o excesso de
Agonia nos dias de chuva: motoristas enfrentam alagamento em tesourinha no Plano Piloto
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COMPORTAMENTO
Rejeitados, animais conquistam carinho e amor Abandonados nos abrigos, bichos vencem o preconceito e ganham um novo lar
Germana Gabriella Brito e Layla Andrade
Voluntária do Abrigo Flora e Fauna, Ana Correa disse que há vários casos de animais idosos e que precisam de medicação diária. “Temos o ‘abriguinho’: um lar temporário onde ficam mais ou menos 20 animais com necessidades especiais de cuidados”, afirmou. A voluntária se refere aos animais como se fossem pessoas próximas. “Temos o Pedro que não tem as patas traseiras e é cadeirante, mas muito esperto e ativo. O Aquiles que teve cinomose e ficou com uma sequela na perna, apesar disso ele corre, brinca e e tem muita energia”, descreveu ela, lembrando que o cachorro chegou a ser adotado, mas foi devolvido por não ser um ‘cão normal’. Vanessa Savatin, que também é voluntária no local, levou quatro cachorros especiais, que moravam no abrigo, para casa. “Uma é idosa e cega, outro só tem um olho e enxerga pouco, o terceiro é totalmente cego e tenho ainda uma cadelinha que foi atropelada e ficou com o quadril atrofiado como
sequela. Mas todos vivem bem, são felizes e os cães que são cegos já estão bem adaptados na minha casa”, disse ela. A história do gato Athos é a prova de que as restrições não atrapalham o bem-estar do animal. Há 10 meses, o felino foi resgatado pela protetora de animais Alda Arrais, 51 anos, com uma grave lesão na coluna, que acabou deixando-oparaplégico.Mesmocomalimitação, o animal não encontra nenhuma dificuldade para se locomover livremente pela casa da s er vidora pública.
Foto: Layla Andrade
Rejeitados na adoção, por terem problemas físicos e de saúde, muitos animais são aban-donados nas portas de abrigo, na rua ou encaminhados para a eutanásia. Aí entram em ação os protetores de animais, organizações não governamentais (ONGs) e abrigos, co-mo o Flora e Fauna, ProAnima e a Sociedade Humanitária Brasileira - SHB, que resgatam esses bichos. Nos lares temporários, passam por consultas, são vacinados, vermifu-gados, castrados e tratados quando doentes e, só depois, seguem para adoção. O que parecia impossível acontece em muitos casos: pessoas se apaixonam pelos animais, antes, indesejados e até destinados à morte. Fundadora do Abrigo Flora e Fauna, que funciona há 12 anos e tem um total de 500 animais, entre gatos e cachorros, dos quais 100 são idosos, deficientes ou doentes que são resgatados das ruas ou abandonados no abrigo, Orcilene Arruda reúne incontáveis histórias de amor. “Qualquer cuidado é retribuído pelos bichinhos em forma de amor”, derrete-se a ativista.
Foto: Layla Andrade
mutilada - as patas traseiras e seu rabo foram arrancados e es-tava abaixo do peso, desidratada e com ferimentos em carne viva. A estudante de me-dicina veterinária Isabela Simas, de 22 anos, achou a bichana dentro de um bueiro na rua. “Ela foi tratada em uma clínica maravilhosa, especializada em felinos, e que a recebeu com todo carinho e cuidados necessários”, afirmou a universitária. Agora com 1 ano e 1 mês, Monalisa vive em seu novo lar com Isabela, que conta, com alegria, a experiência de ter dado esperança a um animal, que antes “ninguém daria nada”. “Tenho a sorte grande de tê-la. Todo mundo merece saber a sorte e o privilégio que é receber um animal que precisa de ajuda”, concluiu Isabela Simas, demonstrando que o amor e a dedicação superam diferenças e preconceitos.
Foto: Arquivo Pessoal
A ativista acredita que o amor com que ela trata o bichano é essencial para que ele viva bem, porém, lembra que Athos precisa de cuidados, como troca de fraldas diárias, fisio-terapia e acupuntura duas vezes por semana. Alda ainda está à procura de um adotante para ele. “É necessário que a pessoa tenha tempo, paciência e amor para cuidar de um animal assim”, lembra. A dona de casa Nara Sousa, 28 anos, resgatou uma cachorra que se encontrava em condições desumanas em Samambaia Sul. “Quando encontrei a Mel ela estava passando fome, com uma pata deslocada e grávida. A levei ao veterinário e descobrimos que ela tinha a doença do carrapato, mas eu a amei desde o momento em que a resgatei”, frisa. Hellen Andrade, 35 anos, e a cadela Docinha, também têm uma bela história de amor. A biomédica resgatou o animal que estava abandonado em um matagal e com problemas de saúde. “Ela era apenas um bebê frágil, que mal se mantinha em pé e vomitava muito. Quando a levei ao veterinário foi confirmado um quadro de parvovirose”, lembra. “A Docinha lutou muito para sobreviver. Não sei como seria a minha vida sem ela. Hoje tenho três filhas caninas, duas delas resgatadas, uma filha humana e mais um bebê a caminho, são todos a alegria da minha casa”, completa. O veterinário Vitor Benigno atende animais deficientes e doentes que são resgatados por ativistas. Já passaram por seus cuidados, animais com FeLV (Vírus da Leucemia Felina), uma doença contagiosa que não tem cura e que dificulta a adoção de animais que possuem o vírus. Porém, o profissional, que presta serviços na Casa do Gato, na Asa Norte, diz que, se tratados corretamente, os animais levam uma vida normal. “Com os devidos cuidados, eles podem ter uma expectativa de vida maior, e viver bem como qualquer gato”, assegura. Monalisa, uma gatinha, também passou por momentos difíceis: foi abandonada aos quatro meses e bastante
Isabela Simas acalentando Monalisa
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ESPORTE
Muay Thai x Feminilidade As mulheres se inserem cada vez mais no mundo da luta, antes um universo masculino
Carolina Militão
Aumenta cada vez mais a preocupação das mulheres com a saúde, autocontrole, defesa pessoal e o condicionamento físico. Daí o crescimento da procura por uma modalidade de luta, de artes marciais, chamada Muay Thai. Essa modalidade tem atraído a atenção do público feminino no Distrito Federal. Segundo a Federação de MuayThaiTradicional do DF (FMT-DF), são mais de 800 praticantes credenciados. Porém, os números podem ser ainda superiores porque os iniciantes não tem o costume de se cadastrar. As mulheres se destacam nesses dados. “Em média, elas são 40% do total dos praticantes e a procura do público feminino cresceu desde 2010. Eu tenho mais de 200 alunas na minha academia de lutas”, afirmou o presidente da federação, Gilvan Rodrigues, 39 anos, e praticante da modalidade há 29 anos. O presidente da FMT-DF disse que a procura das mulheres pelo Muay Thai se justifica pelo desejo feminino de esculpir o corpo à necessidade de defesa pessoal. O esporte permite que as mulheres consigam aprender a auto-defesa e ao mesmo tempo preparar com elegância o corpo. Mas o objetivo da federação é ir além: organizar eventos para divulgar a luta, legalizar as academias e atrair a filiação de novos alunos. Um grande desafio que a mulher praticante da luta se depara é com o preconceito sobre sua feminilidade, uma vez que a comunidade põe em 14
dúvida o seu comportamento feminino. Porém, em geral, as mulheres adeptas à arte marcial não enxergam a luta como empecilho de tal característica. Praticante da modalidade há cinco anos, Jucifran Nascimento, de 34 anos, recebeu um convite para fazer uma aula experimental e desde, então, é adepta ao Muay Thai. Para ela, o esporte atua como superação e qualidade de vida. “Não me sinto menos mulher, jamais! Sinto uma sensualidade original e diferente. Uma mistura de elegância e domínio”, ressaltou aos risos. Segundo o profissional de educação física Clemilson Silva, 39 anos, o esporte desencadeia muitas funcionalidades no corpo feminino, como a melhora da estética corporal, o aumento da capacidade cardiovascular, o fortalecimento dos membros inferiores, superiores e do core (tronco) e auxilia uma mobilidade maior no quadril e ainda alivia o estresse. “É uma atividade que tem uma combinação de movimentos, exigindo muita preparação física, traduzindo em um gasto calórico alto e favorecendo o emagrecimento rápido”, destacou Clemilson Silva, que diz que não há restrições à idade para a prática do esporte. “É necessário apenas que o candidato tenha um atestado médico para comprovar aptidão física.” Letícia Rohod, de 12 anos, mesmo com pouca idade já possui uma graduação avançada. A estudante começou a lutar
com 10 anos na Academia de Lutas Gilvan Rodrigues e segundo ela, o Muay Thai é um esporte completo, que além de proporcionar um bom condicionamento físico reduz sua ansiedade, melhora sua auto-estima: “Faz-me sentir forte e autoconfiante”. Jezreel Oliveira, 33 anos, que pratica as lutas marciais - jiu-jitsu, boxe e Muay Thai – conta que há, ainda, a cumplicidade entre os alunos nas academias de lutas. Ele há alguns anos compartilha o tatame com a noiva. Segundo ele, há vantagem no treino em conjunto, já que ambos se motivam e procuram se ajudar. “Não vejo influência da luta na feminilidade das mulheres, inclusive minha noiva é bem feminina”, observou. O que é o Muay Thai? A luta também é conhecida como “boxe tailandês” e “a arte das oito armas”, pois faz o uso combinado de dois punhos, dos dois cotovelos, dos joelhos e dos pés e tornozelos. Do tailandês, significa arte livre. Na Tailândia, onde nasceu, passou a ser reconhecida como esporte nacional, no século XX. O esporte sofreu preconceitos na sociedade e rivalidade entre as academias, que observavam os praticantes como pessoas que não compreendiam a moral do esporte: disciplina, concentração, equilíbrio e autocontrole.
ECONOMIA
Criatividade e habilidade superam a crise Microempresária revela os segredos que evitam o reajuste do preço da marmita
Foto: Patrícia Moura
A cearense Glaucieda Araújo, de 41 anos, está na contramão da crise: aumentou em 30% as vendas, desde que abriu o “Tempero da Glau”, há dois anos e meio, na quadra 2 em Sobradinho. Trabalhando de segunda à sexta-feira, ela faz e vende marmitas a R$ 10,00. O curioso é que o preço nunca mudou. Outro aspecto incomum é que a Glaucieda não faz propaganda, mas mesmo assim, a clientela cresce diariamente. O segredo? Ao Artefato, a pequena empresária contou que a “alma do negócio” é correr atrás das promoções, garantir a qualidade dos produtos e diversificar os pratos. “O desafio é fornecer comida saudável com custo que seja acessível a todos. Eu saio para fazer compras todo dia, vou pegando as promoções e, se eu aumentar
Glaucieda Araújo faz marmitas há 2 anos e meio
Foto: Patrícia Moura
Patrícia Moura
Picadinho e estrogonofe preparados sem glúten e lactose e com produtos frescos e da estação
o preço, nesse período de crise, vai onerar muito e eu perco a clientela”, afirmou Glaucieda Araújo, que vende, em média, 60 marmitas por dia. A empresária tem uma série de estratégias para driblar os reajustes dos preços dos alimentos: ao encontrar o produto mais barato do que de costume, compra uma quantidade um pouco maior e faz estoque. Também sugere a negociação com os fornecedores e feirantes, pois quanto maior a quantidade de produtos comprados, maior é o desconto obtido. “Se eu aumento o meu número de vendas, consequentemente eu consigo reduzir o meu custo”, ensinou. Para garantir a fidelidade da clientela, Glau aceita vários tipos de cartão de crédito e débito. Na compra
da décima marmita, saem de graça a de número 11 e a taxa de entrega. O que chama atenção nas marmitas, além da qualidade, é o recipiente que pode ser levado ao freezer e também no micro-ondas. “É todo um processo, da pontualidade à entrega do produto, ou seja, da marmita. A gente não entrega de qualquer jeito. Se for assim, eu nem mando”, observou. Bem-humorada, Glau acredita que o temperamento dela também ajuda nos negócios: “Tem dia que não vende tanto. Faz parte. Quando você está na UTI, tem aquele aparelho ligado que diz se você está vivo. São os altos e baixos. Se você ficar naquele ritmo constante é porque sua vida parou. Com as oscilações que a gente aprende”. 15
ECONOMIA
‘Olha o rapa’, o pavor dos ambulantes
No centro de Ceilândia, ilegais driblam fiscalização com irreverência e criatividade Hudson Portella
Uma venda aqui outra ali, faça sol ou faça chuva, eles estão lá. Os vendedores ambulantes são marca registrada pelas calçadas do centro de Ceilândia – vendem de tudo e improvisam originalidade. As mercadorias são transportadas nos ombros, em sacolas, caixas, isopor ou simplesmente nas mãos. O chão é transformado em vitrine tudo para atrair clientes com preços tentadores. Apesar da irreverência e habilidade, não escapam dos problemas: são alvo da fiscalização de órgãos do governo que combatem a prática de ambulantes que comercializam produtos sem nota fiscal. Os ambulantes alegam que tiram seu sustento do comércio ilegal por causa da isenção de impostos, na tentativa de obter renda própria, evitar os encargos salariais para funcionários e o aluguel. “Eu não tenho outra renda a não ser essa de vender confecções aqui no centro de Ceilândia. Pago aluguel, tenho dois filhos e meu esposo está desempregado. Eu sei que é errado vender mercadorias sem nota fiscal, mas não tenho outra opção. Encontrar trabalho formal está difícil, porque não terminei meus estudos”, diz Maria dos Santos, vendedora de roupas do comércio ilegal no centro da região. As dificuldades, no entanto, não assustam Sônia Lopes, 38 anos, que saiu do interior do Maranhão, em 1998, rumo a Brasília, com três filhos e sem garantias de trabalho na capital. 16
Segundo ela, o começo foi difícil e chegou a pedir dinheiro emprestado. “Muitas vezes cheguei em casa e não havia dinheiro para comprar comida para os meus filhos”, conta a ambulante. Apesar das dificuldades Sonia não pensa em desistir, pois com o dinheiro que ganha sendo ambulante consegue seu sustento total, além de ter conseguido comprar sua casa própria. Já foram muitos prejuízos causados pela fiscalização da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) . Entre os ambulantes, os fiscais da Agefis são conhecidos como “rapa”, pois quando passam fazem uma limpeza geral, retirando os produtos e assustando os irregulares. Gritos e avisos, aos berros, são frequentes para informar que os fiscais estão por perto, a expressão de alerta é: “Olha o rapa” (Foto). Paulo Gomes, 36 anos, gerente de uma loja popular no centro de Ceilândia, disse que compreende a situação dos camelôs. O problema, aponta ele, é a diferença dos preços das mercadorias oferecidas pelos ambulantes, tirando a clientela dos comércios regulares. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista do
Distrito Federal, a isenção de impostos e os locais estratégicos utilizados pelos vendedores de rua formam uma concorrência desleal com os donos das lojas - que repassam para os produtos parte das despesas com
Foto: Pedro Ventura/ Agência Brasília O centro da Ceilândia, consumidores se misturam a ambulantes que oferecem produtos mais baratos
Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília
aluguel, impostos, tarifas e salários de funcionários. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivaresjista - DF) , Edson de Castro, afirmou que é preciso uma fiscalização ampla por parte da Agefis no combate à pirataria, principalmente, na Rodoviária do Plano Piloto, em Taguatinga e na Ceilândia. A Assessoria de Comunicação da Agefis, informou que não tem estimativa ou levantamento exato do número de ambulates em todo o Distrito Federal e na Ceilândia. Segundo a Agefis, a fiscalização é constante, não só na Ceilândia, mas também em todo o DF com equipes de plantão diariamente nas principais áreas, como Feira dos Goiânios, Centros de Ceilândia e Taguatinga, Setor Comercial Sul, Rodoviária do Plano Piloto e Touring. Em uma das maiores operações da história da Secretaria de Ordem Pública (SEOPS), em 2015, foram apreendidos mais de 1 milhão de produtos piratas comercializados por ambulantes no Distrito Federal. Segundo a secretaria, a maioria dos objetos comercializados tem procedência duvidosa como CDs, DVDs, aparelhos eletrônicos, brinquedos e perfumarias. De acordo com os fiscais, mesmo com as apreensões e a pressão, a maior parte dos ambulantes volta para a informalidade com novas mercadorias outras mercadorias.
A Secretaria de Ordem Pública informou ainda que o comércio irregular aumenta a cada ano, principalmente em datas comemorativas - as mais concorridas são Dia das Mães, das Crianças e o Natal. Daí, a necessidade de intensificar as operações nessas ocasiões. Pelo menos três vezes por semana, há uma fiscalização no centro de Ceilândia, na tentativa de combater ambulantes e camelôs. Para cada região do DF há um cronograma de ações fiscais para apreender mercadorias vendidas de forma ilegal. Uma vez apreendidos esses produtos ilegais, são levados para o depósito da Agefis, localizado no Setor de Indústria e Abastecimensto (SIA). Para retirar, o ambulante precisa apresentar nota fiscal dos produtos, pagar uma multa que varia de acordo com a quantidade de material apreendido e arcar com os custos de operação. Exigencias que, em geral, torna impossível a recuperação da mercadoria e faz com que muitos camelôs optem por abandonar os produtos. A Agefis informou que não dispõe de dados sobre os prejuízos causados pelo comércio ilegal no DF. O presidente da Associação Comercial do DF (ACDF), Cleber Pires, defendeu a criação de uma política pública para tirar essas pessoas que vivem na informalidade, acreditando que essa situação seja resolvida a longo prazo. Pires questionou a iniciativa de criar shoppings exclusivos para os
ambulantes. “O que faz muitos deles a voltar a vender seus produtos nas ruas das cidades do Distrito Federal é a construção de shoppings para acomodá-los sem movimentação e lucro”, disse. Em 2007, foi inaugurado o Shopping Popular de Ceilândia para acomodar comerciantes e ambulantes que trabalhavam nas calçadas e nas mediações na feira da cidade. O local tem espaço para 680 bancas que pretende dar mais dignidade e condições de trabalho para os feirantes. Porém, o novo projeto não foi suficiente para combater a venda de forma irregular de produtos nas ruas de uma das regiões mais antigas do DF. Para o professor especialista em Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias Pereira, a insatisfação por parte dos camelôs é ainda maior devido à contrução de shoppings populares bem distantes de onde estão os pedestres e o movimento, causando baixo lucro nas vendas. A situação é ainda mais grave quando observa-se a “Feira do Rolo”, ao lado do Restaurante Comunitário. Nela, há suspeiutas de que grande parte das mercadorias tem origem de furtos e roubos, daí o nome da feira. No local, é possível comprar, inclusive, peças de carros e armas. Não há nota fiscal nem garantias de qualidade dos produtos. “Ficarmos de olho na comercialização de mercadorias sem nota fiscal, também temos que acionar o Polícia Militar para fazer um ‘pente fino’ nessa feira onde grande parte dos objetos oferecidos para troca ou venda é de origem de roubo”, afirmou Ribamar Nunes, agente de fiscalização da Agefis. Em nota, a Agefis diz que a Secretaria das Cidades estuda novas estratégias para tratar o comércio ambulante e propor uma regulamentação para os cidadãos que vivem na irregularidade nas ruas do DF. No comunicado, não há detalhes sobre essas propostas nem perspectivas sobre o futuro. 17
TRABALHO
Desculpem, estou doente Médicos, enfermeiros e técnicos sofrem com a falta de estrutura e pressão
Virgínia Barbosa
Só no Distrito Federal, 48% dos profissionais de saúde – entre médicos, enfermeiros e técnicos – estão afastados do trabalho. A maior parte dos pedidos de licença está ligada a transtornos mentais. O levantamento é da Secretaria de Administração do Distrito Federal, realizado entre 2011 a 2012. É a segunda maior demanda de pedidos de afastamento, perdendo apenas para a Secretaria de Educação, que têm 58% dos profissionais afastados. Com 20 anos de profissão, a médica Cláudia Silva*, 42 anos, que atua na cirurgia geral do Hospital Regional do Gama (HRG), teve de se afastar do trabalho por 10 dias. O diagnóstico para licença médica: por ansiedade. A cirurgiã disse não suportar a pressão diária e a falta de materiais na unidade. Segundo ela, houve momentos que pensou em desistir da profissão. A gota d’água foi o dia em que não havia seringas no hospital. “O tempo que eu perdi indo a uma drogaria, daria para ter atendido mais dois pacientes. No HRG, não podemos perder tempo nem para tomar água”, contou a médica, que pediu para não identificar e relatou que não sabia que estava ansiosa, mesmo tendo alguns dos sintomas: aperto no peito, medo e insônia por causa da preocupação. “Quem me alertou foi uma colega de profissão. No primeiro momento achei que fosse apenas cansaço, depois percebi que os sintomas estavam ficando cada 18
vez mais frequentes, o medo que eu sentia estava mais intenso a ponto de eu ir para o hospital chorando, como uma criança que não quer ir para a escola, por medo do que eu pudesse encontrar”, afirmou Cláudia Silva*. O excesso de trabalho e as más condições do hospital levaram Ricardo Lopes*, 50 anos, clínico geral de um hospital da rede pública do DF, a pensar em tirar a própria vida. “As autoridades sabem que o sistema é precário e não funciona, mas não tem coragem de assumir e tentar mudar porque a mudança prejudica muita gente”, disse ele. “A população sofre e nós médicos também, eles [os pacientes] não entendem que nós não temos condições de trabalhar sem os equipamentos necessários.” Para a médica do trabalho, preceptora de Residência Médica e plantonista do HBDF, Irna Kaden, 42 anos, diversas profissões podem causar doenças e expor o trabalhador ao estresse, mas na medicina o problema é agravado pelo binômio: Vida-Morte - presentes diariamente. Irna acredita que é preciso dar mais atenção à saúde. “Os médicos precisam dar mais atenção a si próprios. Quem cuida precisa ser cuidado. Esta afirmação resume tudo”, afirmou ela. A sensação dos profissionais é de limitação, segundo Irna Kaden. “Muitas decisões e condutas tomadas não são as ideais, mas sim, as possíveis naquele momento, que venham a
auxiliar no tratamento dos pacientes e em seus cuidados”, afirmou preceptora de residentes no HBDF. Adriano Martins*, 38 anos, trabalha há mais de 15 anos como técnico de enfermagem e há nove, presta serviços no Hospital Regional de Samambaia (HRSam). Para ele, somado ao estresse há problemas técnicos do hospital, dificultando o exercício da profissão. “Nós trabalhamos com limitações de materiais e de profissionais. Para dar conta dos plantões, sempre tomei café, mas já não surtia efeito, então, passei a tomar anfetamina. A droga me deixava acordado além do que eu precisava”, revelou ele. Com a insônia mais presente no dia a dia e a notícia da gravidez da esposa, o técnico de enfermagem, que tomou o estimulante por dois meses, decidiu parar de consumir a pílula e da mais atenção a sua saúde. “ A ideia de ser pai e a ajuda de um amigo, psicólogo, estão me dando força para seguir em frente”. A enfermeira, Caroline Ribeiro*, 48 anos, lotada no Hospital de Base (HBDF), teve o diagnóstico de ansiedade, depois de ouvir pacientes pedirem para morrer porque não aguentavam mais sentir dor. “Um dos pacientes estava há três meses esperando por uma cirurgia para colocar seis pinos na coluna. Como não tem leito suficiente, ele ficou no corredor da emergência suplicando por atendimento. Eu não podia fazer nada, além de medicá-lo”, disse ela,
o governo não se preocupa com isso porque para o governo, nós somos apenas números.” *Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados.
Foto: Virgínia Barbosa
emocionando-se. Caroline, que toma remédio para a ansiedade, relatou que já comprou remédios para seus pacientes e pediu que ficassem se tratando em casa, evitando o hospital. “É horrível para mim, uma profissional da saúde, não poder fazer nada para ajudar esses pacientes. Eu me formei para curar e cuidar das pessoas, mas, infelizmente, eu só estou conseguindo cuidar, como uma mãe, porque curar está difícil”, afirmou. Para o vice-presidente do Sindicato do Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal, Sindate, e Presidente da Federação Brasileira de Profissionais de Enfermagem, Febrapem, Jorge Vianna, elenca uma série de fatores que influenciam na saúde psicológica dos profissionais, como a queda financeira, questões políticas e até assédio moral. Para Vianna, os problemas financeiros aliados à falta de estrutura no trabalho e mais a pressão causada pelo exercício da profissão levam muitas pessoas à doença, daí a cobrança do sindicato para uma política pública destinada especificamente a área de saúde. A Secretaria de Saúde do DF informou que não detalha os tipos de transtornos mentais e psicológicos que provocam o afastamento por doença dos servidores. A alegação é o sigilo médico. “Para o governo, é mais fácil falar que a gente está dando atestado. O servidor público não quer trabalhar, não. E a população, nossa esse pessoal é folgado. Só que eles [os funcionários do governo] não falam o porquê”, explicou Jorge Vianna. Em seguida, Vianna enfatizou: “Toda pauta de reivindicação a gente coloca em um dos itens a saúde do trabalhador. A gente sabe da deficiência que nós temos. O problema é que
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SAÚDE
HPV, um mal silencioso
Como identificar, prevenir e tratar a doença que atinge homens e mulheres Letícia Ziemann
estão infectadas no Brasil, nos países desenvolvidos, o número gira em torno de 30% a 40%. O HPV é transmitido principalmente pelo ato sexual com ou sem penetração, pois por meio do sexo oral também há contaminação. O que poucos sabem é que o preservativo - a camisinha - não protege de forma plena, pois varia de acordo com o tamanho e muitas vezes não cobre toda a área sexual. É importante estar alerta a alguns dos sinais da presença do HPV no organismo: verrugas não dolorosas, isoladas ou agrupadas, que aparecem nos órgãos genitais e que causam irritação ou
Foto: Letícia Ziemann
Não importa se você é homem ou mulher e orientação sexual, o HPV não faz distinção. A doença conhecida pela sigla que vem do inglês para Human Papiloma Virus, é sexualmente transmissível e manifesta-se na pele e nas mucosas do corpo humano. É responsável pelo surgimento de diversos tipos de câncer, ataca o sistema imunológico e não tem cura. Segundo estudo publicado na revista científica Lancet, cerca de 50% dos homens têm o vírus do papiloma humano e muitos não sabem. Especialistas estimam que pelo menos 25% das mulheres já
O SUS oferece, de graça, vacinas para meninos e meninas a partir de 9 anos em todo o país
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coceira. Elas podem aparecer no ânus, na vagina, no pênis, na vulva (genitália feminina), na garganta, na boca ou no colo do útero. A verruga não é permanente, mas mesmo que ela desapareça, o vírus não é eliminado do corpo. No caso das mulheres, a identificação do vírus é feita por intermédio de exames como o do Papanicolau, o PCR, que é mais apurado e indicado para situações mais especificas e, principalmente, por exame clínico. Na maioria dos casos, o HPV não se manifesta. Ele está presente, mas os sintomas nãoaparecem. Muitas pessoas o possuem e sequer têm conhecimento disso, o que torna mais perigoso o contágio. Uma vez que não há manifestação, o indivíduo imagina que não precisa prevenir-se. O que não aconteceu com Juliana. A estudante de Direito contaminouse com o HPV durante uma “ficada” sem compromisso. Numa noite, ao tomar banho, sentiu a presença de protuberâncias na área genital e no dia seguinte procurou uma ginecologista. Com um simples exame clínico, foi diagnosticada com um Condiloma, uma das formas como é conhecido o HPV. “Tive contato sexual sem camisinha apenas com um parceiro durante toda a minha vida, mas ele tinha relações com muitas outras garotas por aí e não se prevenia. Ele se recusou a fazer o exame para confirmar se era ou não portador de HPV, disse que não tinha nenhum sintoma”, contou a universitária.
Prevenção
Sem sinais O que houve com Juliana é tão frequente que assusta, como observa a infectologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Valéria Paes. “As pessoas têm muita vergonha da presença do vírus, isso acaba atrasando o tratamento, que deve ser feito o mais rápido possível”, afirmou. Segundo a médica, no caso do tratamento destinado aos homens, a rede básica de saúde é bem preparada, pois um profissional aplica a medicação diretamente no local da lesão. Porém, quando a paciente é mulher, o tratamento é mais complexo: ela deve se dirigir ao ginecologista, fazer uma avaliação, aplicar a medicação e seguir uma espécie de monitoramento da doença. “Não existe tratamento oral ou sistêmico. Bons hábitos de saúde contribuem com a melhora da imunidade e colaboram com a inativação do HPV”, esclareceu a infectologista.
Para Elisa, outra jovem infectada pelo vírus do HPV, é difícil conviver com a verdade da doença. “É difícil aceitar que vou passar a vida toda com uma doença por negligencia minhaIsso não tem cura, não tem volta”, lamenta. Em todos os casos, a vítima tem medo do julgamento das pessoas, que pouco sabem a respeito do assunto. Existe receio de nunca encontrar um companheiro que aceite a exposição à doença, que em muitos casos fica adormecida no organismo. Mas é preciso entender que o portador de HPV pode ter uma vida normal, embora com cuidados e atenção ao tratamento. “Doeu muito saber que eu tenho HPV, imaginar os riscos e o que o vírus podia tirar de mim. Mas decidi encarar isso com leveza e hoje eu brinco com a presença dele. Eu fiz amizade com meus demônios”, concluiu Elisa.
O principal método de prevenção é a vacina, que protege contra os sorotipos 6 e 11, causadores das verrugas, e os tipos 16 e 18, que podem desencadear diversos tipos de câncer. A vacina já é introduzida no SUS para meninas de 9 a 13 anos, desde janeiro deste ano, é ofertada a meninos de 12 a 13 anos. Existem, ainda, diversas modalidades de HPV que não são cobertas pela vacina e o ideal é que ela seja tomada antes do início da vida sexual. Não há contraindicação para quem já teve contato com o HPV anteriormente. A vacina desencadeia uma resposta imunológica no corpo, que torna o organismo capaz de combater o vírus, caso ocorra a exposição. *Os nomes dos personagens desta reportagem foram modificados a pedido dos entrevistados.
Prevenção, diagnóstico e tratamento Manifestação Surgimento de verrugas genitais no ânus, no pênis, na vulva ou em qualquer área de pele.
Diagnóstico É feito por intermédio de exames urológico (pênis), ginecológico (vulva) edermatológico (pele), além do chamado preventivo de Papanicolau. A confirmação da infecção pelo HPV pode ser feita também por exames laboratoriais de diagnóstico molecular como os testes de captura híbrida e PCR.
Tratamento Recorrer ao médico é a opção adequada. O uso de medicamentos sem indicação médica para as lesões provocadas pelo HPVírus pode levar ao risco de aparecimento de efeitos que podem trazer danos à saúde.
Prevenção O governo disponibiliza vacina para meninas e meninos, de 9 a 12 anos, gratuitamente. O uso da camisinha colabora na prevenção.
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SAÚDE
Dor no corpo e na alma O sofrimento dos que não conseguem parar de comer
Hellen Resende e Karine Santos
Ingerir quantidades anormais de alimentos e não manter controle sobre a comida caracterizam um comedor compulsivo, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria. Estudo feito pelo Instituto de Métrica e Avaliação para a Saúde (IHME), da Universidade de Washington, constatou que quase 30% da população mundial é obesa ou está com sobrepeso. Mas, diferentemente do que se possa imaginar nem todo obeso é um comedor compulsivo. O comportamento compulsivo inclui comer rapidamente, sem fome, até se sentir desconfortável, alimentar-se sozinho por vergonha e sentir-se deprimido ou muito culpado após as refeições. Da população mundial obesa, cerca de 6% das pessoas sofrem de Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA), termo descrito há 58 anos pelo psiquiatra Albert Stunkard. Marle Alvarenga, pós-doutora em Nutrição pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (Genta), esclarece que os fatores que podem desencadear o transtorno são variados, como genética, aspectos psicológicos, familiares e socioculturais. No que se refere aos fatores socioculturais, Marle ressalta que a oferta em demasia de alimentos rápidos associada
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aos ideais inalcançáveis de beleza e ao padrão de magreza agravam o comportamento doentio. Segundo ela, em geral, os adultos sofrem de transtorno compulsivo, sendo que mais mulheres procuram tratamento. Entre os jovens, o diagnóstico, geralmente, é de bulimia e/ ou anorexia. Compartilhamento Com grupos em vários países, os Comedores Compulsivos Anônimos (CCA), entidade criada nos Estados Unidos se define como uma espécie de irmandade. Baseando-se em tratamentos de livros de auto-ajuda e também nas orientações dos Alcoólicos Anônimos, o grupo recomenda 12 passos e 12 tradições. O CCA faz reuniões presenciais em diversos países e em cidades brasileiras. Há, ainda, encontros virtuais, opção para integrantes que vivem em locais onde não existem grupos físicos. A médica Dora Silva*, de 50 anos, frequenta o CCA há quase sete e conta que o maior desafio é dar esperança às pessoas para que saibam que a compulsão alimentar é uma doença, que ela julga “humilhante, degradante e fatal”: “Antes do CCA, eu pesava 115 quilos e tenho 1,68 metro, a minha saúde era péssima e sentia um medo grande de comer.” Além do CCA, nas redes sociais há grupos (sempre fechados) que reúnem
quem sofre de transtorno alimentar. Em sua maioria compostos por mulheres, que dividem as dores físicas e emocionais, compartilham os tratamentos e unemse pelo codinome que os identifica: compulsivos. Márcia Moraes faz parte de um desses grupos. Em 5 de fevereiro, ela publicou uma mensagem em que agradece por ter sido aceita no espaço virtual e contando a sua história: “Estou muita assustada. Deprimida. Com medo. Medo porque estou sem força alguma para me cuidar. Medo de disparar de peso. Medo de numa comilança dessas, meu fígado passar por nova crise e desta vez ser fatal.” Para a pós-doutora em Nutrição Marle Alvarenga, as estratégias do tratamento clínico devem envolver orientações sobre o consumo de alimentos e o comportamento social em relação aos hábitos alimentares. Segundo ela, quem sofre de transtornos de ordem alimentar, deve procurar especialistas – nutricionistas, psiquiatras e psicólogos. No caso dos alcoólatras, a recomendação é “evitar o primeiro gole”. Para os compulsivos alimentares, como evitar a primeira mordida? Para além da “dor de barriga”, típica de quem eventualmente come exagerado, a dor dos comedores compulsivos ultrapassa o físico, dói na alma. *O nome da pessoa foi substituído por um fictício para preservá-la.
Nilza Avelino, Machado (MG) “Sou compulsiva desde a infância: pegava alimentos escondido na geladeira e comia no banheiro. Acho que a sociedade não tem ideia do quanto sofre um comedor compulsivo.”
Marlucia de Oliveira, Caldas Novas (GO) “Descobri, recentemente, que estou com gordura no fígado e colesterol alto. Eu preciso me cuidar. Participei de uma reunião dos Narcóticos Anônimos e pude perceber que a minha dependência e sofrimento era o mesmo do deles. Sempre deixo de ir às festas, à igreja porque sei que vou passar vergonha quando comer.”
Alicia Sanchez, Los Angeles (EUA)* “Para mim foi muito duro reconhecer que eu era uma comedora compulsiva. Sempre pensei que fosse falta de vontade, de caráter ou preguiça. Um comedor compulsivo se afasta para comer só, a vergonha nos invade.” *Alícia preferiu não ter sua foto divulgada
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CRÔNICA
Poder e
igualdade
A definição que temos de feminismo é de um conjunto de movimentos políticos e sociais, de ideologias e filosofias que buscam alcançar a igualdade de direitos e trazer uma vivência por meio do chamado “empoderamento feminino” e da libertação de padrões opressores de gênero. Eu me pergunto: em que momento eu me vi uma feminista? Todos os dias somos atingidos com ofensas e estereótipos repletos de conteúdo machista e, às vezes, mal notamos. Estamos tão inseridos nessa sociedade medieval de certezas patriarcais, que nossos direitos e vontades são bloqueados ao mesmo tempo em que nossos olhos são blindados pelo ódio e a ideia de superioridade. E você se pergunta: por que ser feminista? Então eu vou te dar alguns dados alarmantes que presenciamos diariamente para responder à pergunta. É fato que mulheres pós-graduadas, em geral, recebem salários menores que os homens pelas mesmas funções exercidas por eles. E pasmem: uma em cada cinco mulheres já foi estuprada em algum momento da vida. Dá pra acreditar que, no Brasil, é normal achar que as roupas que uma mulher ao usa pode ser responsabilizada pelo assédio sexual que ela sofre? E que 16% dos jovens concordam que o homem pode agredir uma 24
mulher se ela se recusar a fazer sexo com ele? Para agravar a situação, a Lei Maria da Penha não reduziu a estatística que aponta cerca de 5 mil feminicídios por ano no país, acrescentado ao fato de que muitas mulheres não denunciam seus agressores por medo e continuam num relacionamento abusivo. Esses absurdos são só alguns dos que me fizeram abrir os olhos para o feminismo. Eu me tornei feminista porque anseio fortemente pelo dia em que as mulheres serão vistas como parte integrante de todos os sistemas e tenham suas conquistas devidamente reconhecidas. Busco valer a vida de todas as mulheres que morreram simplesmente por serem mulheres e que se calam diante do sofrimento. Espero um dia poder viver em um mundo onde mulheres e homens ocupam os mesmos espaços e que isso não seja estranho. Quero meu empoderamento, minha sororidade, meu lugar ao lado e, não atrás nem à frente. Eu me tornei feminista por mim e por todos, pois, sim, as mulheres não são as únicas que necessitam do feminismo. Meu amigo, o machismo não desaba apenas sobre nós. Quando você é obrigado a agir de certa forma para demonstrar masculinidade, você está sendo oprimido. Quando você se sente “menos homem” e tem
vergonha de assumir que às vezes não quer transar, você está se oprimindo. Você, assim como eu, está sendo oprimido o tempo todo. Eu acredito que feminismo não é só a busca pela igualdade dos gêneros, mas a luta pela quebra de qualquer opressão. Eu repudio o ódio gratuito porque sou a favor de qualquer forma de amor. Eu não odeio os homens, pelo contrário, eu os amo tanto que os quero adeptos à luta contra a repressão aqui do nosso lado. Eu não quero que o marido receba pena de morte por bater na esposa. Eu quero que ele não se sinta no direito de bater nela e ponto final. Não há vergonha nenhuma em ser mulher, amar seu corpo, desejar alguém hoje e querer estar sozinha amanhã. Deixar seus filhos na creche e sair para trabalhar. Estudar engenharia ou arbitrar uma partida de futebol. Isso não te torna nada além de dona da sua vida e das suas vontades. Ser feminista não faz de você um monstro! Se você ainda se pergunta: devo ser feminista? Olhe para todas as mulheres ao seu redor, leia sobre as que descobriram e fizeram coisas incríveis pelo mundo, lembre-se das bruxas queimadas, das mães enjauladas e das filhas abusadas. Não se esqueça delas. Lute por elas, por mim e por ti. Abrace o mundo inteiro. Você faz a diferença.
Ilustração: Lumi Mae/ Divulgação
Tatiana Castro