OJB EDIÇÃO 33 - ANO 2021

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PONTO DE VISTA

O JORNAL BATISTA Domingo, 15/08/21

Gênesis 39

Maraísa Lins

membro da diretoria da Juventude Batista de Pernambuco

Uma história que conhecemos bem é a de José: jovem, de apenas 17 anos, pastor de rebanhos, filho preferido de Jacó, odiado pelos irmãos e com sonhos que eram revelações concedidas pelo Senhor, mas que ainda não faziam sentido no contexto em que estava inserido. Após esses sonhos, José foi vendido como escravo e foi parar no Egito: sozinho, subjugado, num ambiente totalmente oposto do que ele estava acostumado.

Mas, por três vezes, ao longo desse capítulo e em momentos diferentes, é repetida uma frase que foi essencial para os processos de vida dele: “o Senhor estava com José” (v. 2, 3, 21). Foi necessário que José recomeçasse no Egito e, mesmo num momento de dor e sofrimento, o Senhor estava com ele. Mesmo que as circunstâncias em que ele se encontrava pudessem deixar sem sentido a sua confiança nessa certeza, o Senhor permanecia com ele - e essa presença era perceptível a todos os que estavam ao seu redor, inclusive a Potifar, seu senhor. Enquanto José permanecia seguindo

e confiando em Deus, mais um problema acontece: ele é tentado pela esposa de Potifar. Mesmo se recusando a todo custo, a ponto de fugir para não cometer uma perversidade e pecar contra seu Deus (v. 9), é acusado e preso injustamente, partindo para um outro momento de recomeço, marcado pela mesma frase: “o Senhor estava com ele”. De modo semelhante ao que aconteceu com José, nossa vida é marcada por processos e provações e, em cada um, um recomeço a ser vivido. A cada momento difícil devemos ter a certeza de que o Senhor está conosco! Ele prometeu que estaria com os Seus todos os

dias até a consumação dos séculos (Mateus 28.20), e essa relação de confiança nos ordena que entreguemos o senhorio das nossas vidas a Ele, da mesma forma que José deixou, ao servi-Lo em todos os momentos, quer estivesse ao redor de pessoas, quer estivesse sozinho. E, para cooperar com essa certeza, existe uma música dos Arrais chamada “Outono”, que nos relembra que os processos para recomeçar são repletos de dúvidas, dores, provações, tentações, cicatrizes, sofrimento, solidão. Mas, apesar de tudo isso, devemos ter a plena convicção de que “mesmo sem sentir Sua presença sei que estava aqui”. n

passou três anos na Arábia e, depois, foi para Jerusalém arriscar falar do Jesus da estrada de novo. Não funcionou. E ele voltou para o começo, Tarso. Ficou mais um tempo ali. Até Barnabé bater a sua porta e a primeira viagem missionária acontecer. Gálatas 2 revela que essa viagem aconteceu 14 anos depois da última tentativa em Jerusalém. Paulo precisou de tempo para recomeçar. Depois de matar o egípcio e fugir, Moisés precisou de 40 anos no deserto para recomeçar. E quem ler com calma vai conhecer uma Bíblia costurada por recomeços lentos. Mas a gente nem sempre lê com calma. A gente faz pouca coisa com calma. A gente é cobrado a bater meta, dar resultado, mostrar serviço. Cobrado

por alguém ou por nossas melhores intenções. A gente quer ser útil logo, afinal “pessoas estão indo pro inferno”. Mas, um dia a gente também erra feio como Moisés. Um dia a gente também beija a estrada como Paulo. Um dia a gente precisa recomeçar. E antes de sair correndo, é bom respirar. Sentar. Se cuidar. Orar. Com calma. Paciência. Cautela. Sabedoria. Tirar um tempo. Tempo para recomeçar. Talvez leve 14 anos. Ou 40. E tudo bem. Deus entendeu o tempo de Moisés. O de Paulo. Ele não despreza o tempo que um coração quebrantado e contrito precisa. Não somos máquinas. Homens é o que somos. Ele sabe. n

Não vendemos Ferrari gospel (Gálatas 2)

Geandre Moret

membro da Coordenadoria 29+ da Juventude Batista Brasileira

“Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. [...] Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. [...] Não sois máquina! Homens é que sois!” (Charlie Chaplin, O Grande Ditador, 1940). “Quatorze anos depois, eu voltei para Jerusalém...” (Gl. 2. 1a). A gente lê a Bíblia com pressa, às vezes. Parece bonito ler tudo em um ano. Mas toda pressa atropela alguma coisa. O livro de Atos tem 28 capítulos bem envolventes. Tem Jesus flutuan-

do pro Céu, apóstolo falando estranho, tradução simultânea espiritual, Paulo com escama, Paulo sem escama, gente dormindo no culto e caindo da janela e muito mais. Série digna de maratona. Mas, nem sempre maratonar é bom. Porque nem todo mundo nota que a jornada de Atos se passa durante 34 anos. É um detalhe que faz diferença quando olhamos para Paulo. Quando a gente lê sua história, Paulo pode parecer uma Ferrari gospel voando para lá e para cá e fazendo uma coisa incrível atrás da outra. Mas não. Depois de ser nocauteado por Jesus na estrada e curado da cegueira momentânea, Paulo quis logo falar de Jesus em Damasco, mesmo. Mas seu passado sinistro assustava as pessoas. Então, ele


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