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Malando é malandro. caro leitor por cristiano martinez
Morô?
Ele voltou. Depois de renegado nos últimos anos, o visual desleixado e meio ‘ogro’ conta novamente com a simpatia da sociedade. Agora, os homens podem usar sua barba espessa e desgrenhada. Ou melhor, meticulosamente mal-feita, já que a moda é essa. Assim como foi a do metrossexual com seus creminhos e rosto lisinho. Mesmo sob os olhares cruéis da ditadura da moda, o fato é que o estilo meio marginal voltou com tudo. “Marginal” no sentido de uma figura à margem da sociedade, que não segue muito os padrões. Claro que aí entra um contrassenso, pois se o marginal agora é aceito pela moda, como é que ele pode continuar sendo o que é? Simplesmente porque é só um visual, uma casca na qual o que vale é a aparência, e não a essência. Também não se está falando que o cara que adota a barba ou o cabelo cumprido seja vazio e sem ideias. Apenas talvez não se comporte como um ‘verdadeiro’ marginal, indo contra o sistema e vivendo de um jeito ‘errado’, para os padrões ‘normais’ e conservadores da sociedade.
quem experimentou Professor orientador: Anderson A. Costa Editor da edição: Cristiano Martinez Narradores: Cristiano Martinez Lays Pederssetti Maíra Machado Natacha Jordão Taysa Santos.
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O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma A do 4º ano do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade deste material é informativa, educacional e cultural, sendo expressamente proibida a comercialização. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste). Contato: jornalbebop@gmail.com Tiragem: 500 exemplares
A produção cultural brasileira sempre teve uma predileção especial pelos sujeitos outsiders, que não se enquadram num tipo de comportamento tradicional. Talvez o cinema dos anos de 1960/70 seja aquele que melhor levantou a bandeira do marginal, legando, inclusive, um movimento chamado de Cinema Marginal (ou udigrudi, na definição fanfarroneira). Filmes como O Bandido da Luz Vermelha (1968) mergulharam no universo da criminalidade para eleger o bandido como a figura por excelência da marginalidade. Com olhar meio romântico, no sentido de idealização e ingenuidade, o diretor Rogério Sganzerla tentou humanizar o sujeito que comete um crime, investigando os motivos que o levam a isso. Durante muito tempo, o cinema brasileiro se preocupou em fugir do cinema policial norte-americano, contestando a dualidade bandido/mal versus policial/ bem. Ou seja, o filme hollywoodiano apresentava o marginal como sendo sempre o cara que vem pra causar confusão; e o representante da lei como aquele que vai reestabelecer a ordem prendendo o bandidão. De certa maneira, era uma forma de criar um policial à brasileira, com a proposta de humanizar o personagem que não se prende aos padrões de ética e moral. À luz de um olhar conservador, é um tipo de cinema que faz apologia à criminalidade, justificando e “apoiando” a ilegalidade. Mas, já sob o olhar progressista, esse tipo de filme pode ser interpretado como transgressor e moderno, à frente de seu tempo. Outro modo de entender o marginal era também por meio da figura do malandro, que desce o morro carioca para destilar sua música e seu jogo de cintura. A “filosofia da malandragem” não é exatamente um elogio à transgressão completa, mas sim um “jeitinho” (sem a conotação pejorativa que tem hoje) de contornar os problemas. Trocando em miúdos, o malandro se vale, nos filmes brasileiros, de métodos menos convencionais para conseguir vencer seus obstáculos. Já dizia Bezerra da Silva, “mané é mané; malandro é malandro”. Nesse universo, certas contravenções são permitidas para se chegar a um objetivo maior. E se o malandro não fizer isso, ele é que se dá mal. Afinal, diante de uma sociedade imoral, é preciso usar métodos tão ou mais imorais para se conseguir o que quer ou ao menos não ser enganado. Infelizmente, filmes mais recentes, caso de Tropa de Elite (2007), se esqueceram disso. Sob os aplausos do politicamente correto e do lado conservador que todos têm, o bom selvagem Capitão Nascimento se tornou o símbolo do antimarginal, do herói reto e quadrado. Pra nossa sorte, ele percebe isso no segundo filme da franquia.
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Já dizia Bezerra da Silva, “mané é mané; malandro é malandro”. Nesse universo, certas contravenções são permitidas para se chegar a um objetivo maior. E se o malandro não fizer isso, ele é que se dá mal. Afinal, diante de uma sociedade imoral, é preciso usar métodos tão ou mais imorais para se conseguir o que quer ou ao menos não ser enganado.
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blues No dia 6 de agosto de 2013, completou-se um ano da morte do guitarrista Celso Blues Boy. Dono de um jeito virtuosístico, Celso foi apelido de ‘Mago da Guitarra’ pelo crítico musical Jamari França. Em entrevista para o bebop, Jama fala sobre a importância do guitarrista para a história do blues. Quem entrevista: Cristiano Martinez
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Considerado como um dos precursores do blues no Brasil, Celso Ricardo Furtado de Carvalho apareceu na cena roqueira do Rio de Janeiro ao final dos anos de 1970. Mais conhecido como Celso Blues Boy, tocou com o amigo Raul Seixas, fez parte da Legião Estrangeira, se apresentou centenas de vezes no mítico Circo Voador e foi referência para toda uma geração de roqueiros formada nos anos de 1980. Por sua virtuosidade na guitarra (que podia ser uma Stratocaster Fender preta ou vermelha), ganhou o apelido de “Mago da Guitarra”, cunhado pelo jornalista e crítico musical Jamari França (outra referência, mas no jornalismo brasileiro). Com 11 discos e um DVD na carreira, Celso Blues Boy legou clássicos como Aumenta que isso aí é Rock’n’Roll, Fumando na Escuridão, Sempre Brilhará, Marginal, Tempos Difíceis, Brilho da Noite e Por um monte de Cerveja. E tudo cantado no bom e velho português, uma raridade num país onde muitos músicos de blues repudiam as canções compostas nesse idioma. Padecendo de um câncer na garganta, os últimos anos do Mago foram tempos difíceis. Seu último disco de inéditas, Por um monte de Cerveja, foi lançado em 2011 e pode ser considerado seu “disco testamento”, já que o músico morreu no ano seguinte, no dia 6 de agosto, aos 56 anos de idade, em Joinville (SC), onde morava há anos. O último trabalho reúne os riffs rock bluseiros e os solos típicos de Celso. Em entrevista por e-mail, Jamari França, responsável pelo blog Jam Sessions (http:// oglobo.globo.com/blogs/jamari/), fala sobre a importância de Celso Blues Boy para a música brasileira.
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Para muitos, Celso Blues Boy é considerado o “pai do blues” no Brasil. Você concorda com essa avaliação? Qual é a importância de Celso para o desenvolvimento do blues no país? Não acho que seja o pai, nem sei se existe um pai, mas sem dúvida foi ele quem mostrou que era possível fazer blues em português, só isso é o bastante para colocar seu nome na história do rock brasileiro. Mas, além disso, era um instrumentista excepcional com uma qualidade rara: ele não repetia solos, não usava sempre o mesmo estilo de solo, isso poucos guitarristas do mundo conseguem fazer. Jeff Beck e Jimi Hendrix são dois deles. Ao contrário de muita gente, Celso compunha e cantava em português (salvo casos de versões de clássicos em inglês). Durante muito tempo, somente ele defendia essa proposta artística. Até hoje, muita gente ainda torce o nariz para o blues cantado no idioma de Camões. Por que esse fenômeno acontece no Brasil? E Celso foi mesmo o maior representante da vertente “blues cantado em português”? Isso acontece por parte dos músicos, não do público. Ver um show de blues em que o povo cantava a música junto com o artista só no caso
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do Celso, pela identificação que ele conseguia com seu público. No livro “Dias de Luta”, de Ricardo Alexandre, Celso é apontado como um cara que influenciou a geração do RockBR; mas também significava o “rabo de uma geração passada”, ou seja, alguém que já não provocava identificação com o jovem dos anos de 1980. Como você situaria a sonoridade do Celso? O Celso, como o Lulu Santos, o Lobão e o Ritchie, é uma herança do rock brasileiro dos anos 70, uma década em que o rock passou isolado do público, num nicho pequeno, mas esses artistas conseguiram reconhecimento e sucesso nos anos 80. O Celso manteve a sua linha musical, os demais se reformularam. Você acompanhou de perto a carreira do Celso, assistindo a shows e resenhando. Inclusive, o apelidou de “Mago da Guitarra”. Afinal, o que te chamava atenção na produção do mestre? A Geração 80 do Rock Brasil é muito rica. Havia um monte de tendências numa variedade que não tinha acontecido ainda na música brasileira. Na época, um amante do rock como eu, que sempre sonhei em ver o rock no mainstream, encontrou uma riqueza musical inédita. E, pessoalmente, eu gosto muito de blues, gosto do rock de raízes negras, daí minha identificação com o Celso pelos motivos explicados acima. Desde o primeiro disco, “Som na Guitarra”, Celso fundia blues com rock, não ficando apenas no estereótipo do bluseiro triste. Essa era a única qualidade de destaque na carreira do Celso? Sim, isso era muito importante porque fazia com que ele agradasse um público que era de rock, não es-
pecificamente de blues, e era atraído pelo rock e acabava se amarrando nos blues. Entre os discos do Celso, quais são aqueles que você poderia recomendar para conhecer? O “Som na Guitarra” é o que há de mais significativo? O “Som na Guitarra”, de 1984, contém uma produção dele de muitos anos, daí ser um excelente disco, com canções que o acompanhariam a vida inteira, como Fumando na Escuridão, Tempos Difíceis, Brilho da Noite, Rock fora da Lei, Blues Motel e o rock que se tornaria um hino e entraria para o vocabulário do rock Aumenta que isso aí é Rock’n’Roll. O Celso Blues Boy 3 também é um bom disco com A isso chamam Blues, Sempre Brilhará e Damas da Noite. Mas ele, como muitos músicos, tinha sua plenitude no palco, daí os discos ao vivo serem destaque, como o de 1991 e o CD e DVD Quem Foi Que Falou que Acabou o Rock’n’Roll, de 2008. O último [Por um monte de Cerveja] é um grande disco também. Boa parte da discografia do Celso está fora de catálogo ou nem foi lançada em CD. Por que o mercado fonográfico não se interessa mais pela música dele? Isso não acontece só com ele, muitas bandas consagradas não têm seus discos em catálogo, mas estão
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disponíveis para download. Isso é um fenômeno de mercado, o interesse pelo CD despencou. Saem eventualmente coletâneas dele, como acontece com praticamente todos os artistas. As gravadoras lançam sucessivas séries de coletâneas para faturar com o acervo. Inclusive, quando Celso morreu, pouco se falou dele. A que se deve esse ostracismo da fase final de sua carreira? Acho que o Celso teve um problema de administração de carreira. Ele não era bom letrista, devia ter procurado bons parceiros para fazer músicas que tivessem mais chance de fazer sucesso, pegar músicas de outras pessoas como acontece com outras bandas e cantores. Com a ênfase dada pelo mercado nesses ritmos populares de baixa qualidade, o rock foi praticamente banido das rádios, mesmo nomes conhecidos como Kid Abelha e Paralamas tiveram dificuldades, mas se sustentam em cima do sucesso do passado. Celso não tinha esse acervo para se manter no mercado. A forma como Celso viveu seus últimos dias, debilitado e avesso a tratamentos médicos, é uma encarnação do verdadeiro espírito do blues? Ou seja, de alguém que morreu fazendo aquilo que mais gostava: música? Não creio, o blues não tem a ver com isso. Ele estava muito desiludido, se achava injustiçado, não se adaptou
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aos novos tempos, não soube se reinventar e aí entrou numa viagem autodestrutiva que é mais comum no rock do que deveria ser. Muitas pessoas que gostavam dele, eu inclusive, fizemos esforços para que ele se tratasse em vão. Celso se deixou levar pela amargura. O último disco do Celso, “Por um monte de cerveja”, foi lançado no ano que antecedeu sua morte. Na sua avaliação, é um trabalho representativo na carreira do Mago? Inclusive, o disco revelava uma aproximação com a nova geração do rock, caso do Detonautas. Como aconteceu com o primeiro disco, é um álbum muito bom com excelentes músicas. Gostei muito e acho que foi um réquiem à altura dele. As letras são simples, mas bem estruturadas, muitas com um humor fino, bases e solos maravilhosos. Os Detonautas têm essa característica de estender a mão para seus ídolos, como fizeram com o Celso. Passado um ano de sua morte, já está na hora de reavaliar a produção musical do Celso? Celso criou o blues em português e deixou canções que podem ser classificadas como Standards do Blues Brasil. Citei vários acima. Ele é referência de guitarra, de rock e de blues, tem muitos seguidores e amigos. Um deles, o grande Big Gilson, que foi do Big Allanbik, acaba de lançar um disco inteiramente em português chamado Aqui Pra Você, o primeiro dele em nossa língua, com uma homenagem ao Celso com Fumando na Escuridão.
Parte desta entrevista foi publicada originalmente no site www.diariodeguarapuava.com.br.
Discografia de Celso Blues Boy 1984 - Som na Guitarra 1986 - Marginal Blues 1987 - Celso Blues Boy 3 1988 - Blues Forever 1989 - Quando a noite cai 1991 - Ao vivo - Celso Blues Boy 1996 - Indiana Blues 1998 - Nuvens Negras Choram 1999 - Vagabundo errante 2008 - Quem foi que falou que acabou o rock n' roll? (DVD ao vivo, Gravado no Circo Voador) 2011 - Por um monte de cerveja
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Perdendo o trem da história
Crônica: Cristiano Martinez
Perto do dia 6 de agosto, estava pesquisando sobre o Celso Blues Boy para matéria relativa ao aniversário de um ano de sua morte. Efemérides são efemérides. Mas, nesse caso, era mais do que oportuna, porque, infelizmente, a mídia anda meio esquecida do Mago da Guitarra. Acabei descobrindo o site de um camarada que colheu depoimento de um amigo de infância do Celso. Uma história muito boa. Quantos que não têm alguma passagem para contar sobre o Mago? Afinal, ele tocou em vários cantos do país e com muita gente boa. Até eu tenho um causo. No entanto, não me orgulha muito e serve mais como um aprendizado, duro, sobre a importância da preparação e do profissionalismo. O negócio ocorreu em 2010. Naquele ano, eu estava envolvido num programa de rádio sobre gêneros musicais produzidos no Brasil: frevo, arrocha, sertanejo, entre outros. O próximo tema seria o blues. Mesmo não sendo um ritmo tipicamente brasileiro, tem um apelo principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Pioneiro do blues made in Brazil, Celso Blues Boy era um nome certo como um dos entrevistados (ao lado de
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Nuno Mindelis, Nasi e Blues Etílicos). Ainda mais, porque era fã do cara. Pois bem. Entrei em contato com seu empresário e consegui o telefone da casa do Celso! Na empolgação, cometi o erro fatal de agir mais como admirador e menos como repórter. Na minha ignorância, achava que sabia tanto sobre o Mago (apelido dado pelo crítico musical Jamari França) que nem cogitei preparar uma pauta mínima que fosse. ‘Sei tudo de cabeça’, pensei cá com meus botões. E fui para a ligação. Lembro até hoje do malfadado episódio (na verdade, penso nisso todos os dias). Claro, só podia acabar mal. Disco o número do telefone. Lá, do outro lado da linha, uma voz rouca e cansada atende. Sem muita conversa, Celso espera pela primeira pergunta. Eu, não me contendo de empolgação, tento ser meio engraçadinho e mando na lata: ‘Afinal, Celso, quem foi que falou que acabou o rock’n’roll?’. Era uma referência a um disco que ele tinha lançado naquela época, Quem foi que falou que acabou o rock’n’roll?. Estava me achando o máximo. Em poucas palavras, Celso não deu muita bola e respondeu de maneira desleixada. Ele percebeu o absurdo da pergunta. Aquilo acabou comigo. A partir daí, perdi o rebolado e a entre-
vista foi de mal a pior. Por sorte, não desligou na minha cara. Ainda consegui terminar a entrevista e aproveitar parte do material, que foi ao ar no tal programa especial sobre blues. Porém, ficou uma sensação ruim, de um trabalho mal feito. Por outro lado, foi uma dura lição de como se preparar melhor para entrevistar gente do calibre do Mago. Passado um tempo, o guitarrista lançou um novo disco em 2011, o Por um monte de Cerveja. Novamente, surgiu a oportunidade de fazer nova entrevista com ele. Parece coisa de masoquista, mas a minha intenção era exorcizar o trauma de 2010. Uma segunda chance para fazer do jeito certo. O problema é que deixei o tempo passar e não marquei essa segunda entrevista. Até que chegou o fatídico 6 de agosto de 2012, data da morte do Mago. Mal sabia eu que ele não bem de saúde, sofrendo de um câncer na garganta. A segunda chance jamais chegará. Havia perdido o bonde, ou melhor, o trem da história, para ficar numa imagem comum ao blues. Como fã, ficou o vazio; como repórter, a frustração. No entanto, a dura lição aprendida na carne e no papel.
Patricinha Mauricinho Playboy
RicardĂŁo
O começo de tudo Quem narra e fotografa Lays Pederssetti
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“ **Apesar de ter minhas vaidades, elas certamente não correspondem às minhas prioridades**
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“- Olha só a roupa dela! Não consegue se vestir normal? Mas é muito patricinha mesmo!”
E lá vem ela, cabelo arrumado, unhas feitas, maquiagem impecável. Bolsa de marca, roupa de grife, óculos de sol extravagante e salto alto. Cor preferida? Tons de rosa do chá ao pink. Animal de estimação? Pode ser um poodle ou qualquer outro branco e bem fofinho. Sabe quem é ela? Bem, o nome talvez não se descubra, mas o pseudônimo sim: Patricinha. Dizem algumas pesquisas que o termo surgiu com o jornalista Sidney Garambone inspirado no significado do nome Patrícia, que quer dizer aristocrata, nobre. Até que a definição é boa, mas será que toda Patrícia tem esse perfil? Para tirar a dúvida, conversei com a Patrícia Grobe. Primeiro, percebi que a imagem de patricinha que ela tinha era a mesma que eu tinha: “mulher jovem, extremamente bem vestida e com uma preocupação excessiva, quase que única, com aparência externa: cabelos, unhas, maquiagem”. Mas, como a maioria das mulheres, a importância dada na hora de se vestir e se arrumar conta muito (e
demora o dobro). Patrícia também gosta de se arrumar, mas nada de exageros. “Apesar de ter minhas vaidades, elas certamente não correspondem às minhas prioridades. Acho bom gostar de si mesma e manter a feminilidade. Porém, a partir do momento que a necessidade de estar ‘impecável’ acaba limitando outras atividades da pessoa e muda sua maneira de ser já extrapola o que eu considero uma vaidade saudável”. Então vamos combinar que há lugares e momentos para uns gramas de pó, blush e sombra a mais, né? Mesmo se chamando Patrícia e afirmando que algumas vezes capricha no visual, ela acredita mesmo que o termo que melhor define esse perfil é Hiltonzinha. Nesse momento eu tive que concordar em gênero, número e grau. Vai dizer que a Paris Hilton não é a melhor definição? Basta jogar o nome dela no Google e ver aquele cabelo louro impecável, cílios postiços e, vez ou outra, um look todo rosa. Mas não são só as Patrícias que cederam seus belos nomes para termos que definem algum estilo ou perfil.
Mauricinho Playboy # Playboy, pra mim é o que significa tal termo!#
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Sujeito boa pinta, bem vestido, arrumado, geralmente com bom poder aquisitivo. Sim, estamos falando dele, Mauricinho.
Não há nenhuma explicação lógica para terem utilizado este nome, mas ele serve como o masculino de Patricinha. Exatamente, os dois são iguais, dão importância para as mesmas marcas, não abrem mão de ser o sujeito mais bonito da foto. Tênis de marca, chave do carro (do pai) aparecendo e camiseta, claro, de marca também. É dessa forma que os conhecidos como Mauricinho costumam aparecer nas festas. Diferente desse perfil, encontrei Maurício Copetti. Um jovem universitário com prioridades bem diferentes. Para ele, o melhor termo que descreve esse estilo é o bom e velho Playboy, não tinham nada é que pegar justo o nome Maurício para definir pessoas fúteis. Concordo, imagina o quanto todo Maurício deve sofrer bullying na infância por causa desse bendito - ou maldito - termo! Mas tudo bem, os pais do Maurício entrevistado não o fizeram por mal, “mania de gente mais velha de dar o nome dos filhos com a mesma letra”, no caso deles a letra era M. Mas eu ainda acredito que, destes dois termos que já vimos, o pior ainda está por vir. Ter o nome relacionado com um termo que significa ter uma vida boa financeiramente e gosto caro é muito melhor do que ter um nome associado a um termo que signifique amante, por exemplo.
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! { Essas brincadeiras com nome, a gente vai se acostumando }
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Ricardão. É isso mesmo. Calma, deixa eu explicar.
O nome verdadeiro é Celso Ricardo de Andrade, mas por possuir um metro e noventa e oito centímetros generosos, é assim que o farmacêutico é conhecido entre seus clientes. Imagina isso: “Amor, tô indo na farmácia do Ricardão!”, pois é, mas é assim mesmo e todo mundo entende o que realmente significa, inclusive o Ricardo, como também é chamado. Para ele não há problemas em ter esse apelido. “Com o tempo a gente vai se acostumando com as brincadeiras e se diverte junto também.” Se você é da década de 60, 70 ou início de 80 já deve ter ouvido falar do programa Balança Mas não Cai. Surgido na rádio, o programa humorístico passou para a TV e com ele surgiu o termo Ricardão. No quadro ‘Primo Rico, Primo Pobre’, o Primo Rico sempre se referia ao amante da mulher dele como Ricardão e aí já viu né, logo caiu no gosto do brasileiro e permanece até hoje, embora em algumas regiões do país também seja conhecido como ‘pé de pano’ o sujeito que...bem, vocês sabem.
Quem narra e fotografa Natacha Jordão
“Sticky shoes, sticky shoes, Always makes me smile” Phoebe Buffay
Histórias de um sapateiro bebop
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Me considero uma pessoa sortuda, bem, digo, no quesito de que sempre estive perto das grandes pessoas que me criaram e amigos queridos que nunca me abandonaram apesar da distância. Na vida estabelecemos relações que perpetuam ou simplesmente são esquecidas, compramos um objeto que achamos que necessitamos ou que vai nos fazer felizes, mas nem sempre nossas expectativas são atendidas; os abandonamos, como um calçado velho, ou nesse caso, exatamente um calçado velho.
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Seu Newton Martins de Oliveira tem 50 anos, é uma pessoa que nem de longe aparenta a idade que tem. Hoje, dono de uma sapataria e selaria que leva seu nome, o sapateiro carrega com orgulho o trabalho que começou a aprender ainda com 15 anos na cidade de Palmital/PR. O seleiro sempre simpático, divide seu tempo entre o trabalho e amigos que o vistam para conversar ou mesmo compartilhar um chimarrão. Moço, ele aprendeu a profissão com um vizinho na cidade natal enquanto ia à procura por couro para fabricar estilingues. O manuseio com o material despertou a carreira que hoje executa com tanto orgulho.”Eu tinha 15 anos e, de repente eu já estava fazendo uma bota” - diz sorrindo, se lembrando no que deu a brincadeira. Em busca de mais clientela, Newton chegou a Guarapuava aos 22 anos, período em que fez seminário e faculdade na antiga Fafig, mas em todos os períodos da sua vida, a sapataria esteve sempre presente. O gentil sapateiro guarda além de várias saudades e experiências nos seus 26 anos de serviço muitos calçados que foram deixados para trás. Encomendas de clientes que ele só viu uma vez ou duas na vida. Entre o abandono e o acolhimento
O gentil sapateiro guarda além de várias saudades e experiências nos seus 26 anos de serviço muitos calçados que foram deixados para trás.
Em uma manhã ensolarada de sexta-feira, elementos que me lembro bem, pois o sol refletia nas celas e calçados em couro em uma selaria rústica, onde os calçados abandonados encontravam na sua desordem um lugar de encaixe.
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- São tantas coisas que você tem aqui, tudo isso foi deixado para trás, sapatos, bolsas? - Entre poeira e formas, os calçados eram postos em uma grande estante de madeira já ruida, faltava espaço. Eram bolsas coloridas que contrastavam com a cor neutra de botas já concertadas. - Isso aí acontece todos os anos, fica saldo de calçados. Muitas empresas dão um prazo de 30, 60 dias e vende, eu não tenho o perfil de vender o produto do cliente, mas eu vou fazendo uma seleção, o que for deste ano, o ano que vem eu retiro daqui e coloco em um setor separado. Eu seguro por três anos os calçados aqui, quando dá três anos, eu junto os calçados e dou para entidades carentes, de outras cidades - Newton falava, enquanto passava a mão sobre algumas sacolas com calçados que não voltarão ao antigo dono. - Você sabe a razão para isso acontecer? -Tem situações curiosas da pessoa deixar o calçado por esquecimento, bem, essa é uma situação, mas as vezes não é bem isso, eu já constatei várias vezes da pessoa encomendar uma bota, deixar pago e nunca mais vir buscar. Newton também tentava entender, e tantas vezes sem resposta, resolveu criar suas próprias conclusões sobre os fatos curiosos. - Eu penso que talvez a pessoa teve um problema de saúde, que teve uma amnésia, alguma coisa, ou
que faleceu mesmo, ou teve que ir embora de repente e deixou aí. Pelo menos 20 por cento são condições extremas, nunca mais voltam pegar mesmo - São tantos poréns que poderiam acontecer com as pessoas que abandonaram os calçados que o sapateiro diz apressado as causas, talvez porque já repetisse várias vezes tentando entendê-las. - Agora eu tenho uma clientela, mas quando é começo de uma empresa, são quase 50% os calçados que ficam na loja. Eu quando comecei tive muito problema disso, vi uma vez a pessoa depois nunca mais. Entre fatos curiosos, o simples deixar de um sapato, o esquecimento, a falta de tempo de ir buscá-lo geram boas histórias. - Eu me lembro de um caso antigo, de um casal de motoqueiros que veio até aqui, deixou uma bota e uma jaqueta e disseram, “venho buscar semana que vem”, e não apareceram mais, passaram-se quase dois anos e chegou aquele casal novamente aqui na sapataria, conversamos e eles foram os únicos que foram honestos, falaram: “faz mais de um ano que nós deixamos uma bota e uma jaqueta e tivemos que ir embora em seguida e nunca mais voltamos. Estamos passando por aqui, você não é obrigado a ter os produtos, mas se por acaso você tivesse a bota, porque eu quero a bota, a jaqueta eu não quero mais. Eu disse “A sua bota está aqui, mas a sua jaqueta nesse inverno eu comecei a usar. E ele disse ‘É um presente para você”. Eu tenho orgulho do meu trabalho”.
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Barba, cabelo, bigode
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Barbudos Assumidos Quem narra: Taysa Santos
Depois da onda do metrossexual e da aparência bem comportada, a vaidade masculina pende para a volta de um visual marginal e ancestral: o rosto coberto de pelos meticulosamente desgrenhados. É a vitória da barba sobre a lâmina de barbear, que contagia principalmente o público jovem
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Há algum tempo, ela estava sendo esquecida, ou melhor, estava sendo retirada dos rostos masculinos. As campanhas publicitárias e a própria sociedade pregavam massivamente o uso de lâminas de barbear e principalmente a beleza de um rosto lisinho. Porém, o visual considerado mais marginal por muitos está voltando a fazer sucesso, e os homens estão cada vez mais adeptos de uma vida com barba. O cinema brasileiro sempre gostou de tipos desajustados, com visual barbado. Na música, tem o Raul Seixas, Los Hermanos, Engenheiros do Hawaii; e na literatura, gente como o Paulo Leminski, que ostentava um bigodão e vivia de maneira marginal (inclusive, fez parte de uma geração de poetas assim). Mas claro que os ‘novos barbudos’ não são tão radicais e politizados quanto os antigos. Não todos, claro. Geovane Fredecheski tem 20 anos e se considera um barbudo assumido. “A minha decisão de deixá-la [a barba] crescer foi muito natural. Simplesmente, a partir do momento em que ela surgiu em minha face pela primeira vez, gostei do que vi e daí pra frente nunca mais a abandonei”. Fã também de Raulzito, João Franz é mais um jovem que usa barba. “Acho que ela define um pouco o homem, mas não define nem altera o caráter. Em alguns casos, dá um charme e, em outros, disfarça a feiúra. Me sinto bem em não precisar acordar todo dia e passar a navalha, ficar com a pele irritada e todas aquelas coisas de barba feita”, conta dando risada. Estudante de Ciência da Computação, depois de um dia cansativo, Geovane costuma chegar em casa e tocar violão, se inspirando nos integrantes do Engenheiros do Hawaii e também no Raul Seixas, ambos cantores adeptos de um rosto com pelos. “A única interferência que imponho sobre a minha barba é enrolá-la entre os dedos como se os fios fossem manivelas. Acredito que esse cacoete ajuda o cérebro a pensar”.
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Pelas barbas da história A barba é sem dúvida uma via de expressão masculina, já que ela é responsável por mudar totalmente a aparência de um homem. Para o historiador Henrique Dias, os pelos do rosto contam muito sobre o mundo em que vivemos. “Se pararmos para refletir a barba diz muito sobre as mais variadas culturas, em cada parte do mundo ela representava alguma coisa, uma posição social, um status, ela tinha algum significado. Os homens não usavam apenas por moda, porque gostavam ou não”. No Egito Antigo, a barba era utilizada para diferenciar os membros da sociedade egípcia. Os membros mais nobres, por exemplo, cultivavam os pelos como um sinal de seu status. Já os sacerdotes optavam por uma total depilação de seus pelos, hábito que indicava o distanciamento do mundo e dos animais. Na cultura grega, o uso da barba era bastante comum. Prova disso é que muitas das imagens que representavam os famosos filósofos gregos eram sempre acompanhadas de barbas. Entretanto, durante a dominação macedônica essa tradição grega foi estritamente proibida pelo rei Alexandre, o Grande. “O rei proibiu seus soldados de serem barbudos, pois ele acreditava que a manutenção da barba trazia desvantagens em um confronto direto”, conta o historiador.
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Já na civilização romana, ela fazia parte de um importante ritual de passagem. Todos os homens, antes de alcançarem a puberdade, não poderiam cortar nenhum fio de cabelo ou barba. Quando atingiam o momento de passagem entre a infância e a juventude, raspavam todos os pelos do corpo e os ofereciam aos deuses. Durante a Idade Média, a barba sinalizou a separação ocorrida na Igreja Cristã com a realização do Cisma do Oriente. Muitos dos clérigos católicos eram aconselhados a fazerem a barba para que não parecessem com os integrantes da igreja ortodoxa ou até mesmo com os costumeiramente barbudos judeus ou muçulmanos. Com o passar dos anos, a barba começou a indicar traços de vaidade masculina. Durante o século XX, o rosto liso virou sinônimo de higiene e também civilidade, isso foi perceptível até mesmo em empresas que não admitiam funcionários barbudos. “Já fui chamado de Bin Laden, Lula, bode, terrorista e por aí vai. O pessoal do meu curso também já me comparou ao Steve Wozniak, co-fundador da Apple juntamente com o Steve Jobs. Além disso, olhares espantados de pessoas desconhecidas também já chegaram a fazer parte do meu cotidiano”, afirma Geovane. Apesar de já termos avançado um século, homens barbados continuam chamando a atenção das pessoas. “Para muita gente surge uma imagem de grosso ou rude, não acho que ser barbudo define caráter, muito menos um mau caráter. Barbudos também amam, sou uma prova disso”, ressalta João.
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Faz três anos que a página foi criada pelas amigas Juliana Gaião e Patrícia Propheta. Só no Facebook são mais de 280 mil curtidas. As administradoras recebem cerca de 250 fotos por dia de leitores que querem ver suas barbas publicadas. “Sempre gostei de homens barbudos, por isso resolvi criar essa página junto com a Patrícia. Barba é algo muito masculino. Sabe aquela coisa de homem das cavernas? Que te protege?”, conta Juliana. Segundo elas, a barba é um ótimo acessório de estética para os homens. Um item há mais para modificar o visual, mesmo porque hoje em dia não são todos os homens que
podem usar a barba, por causa do trabalho, então acaba sendo um diferencial. Com o sucesso da página elas criaram também um site com uma loja virtual, na qual são comercializadas camisetas com o conceito Faça amor, não faça a barba. “Acreditamos que o amor e a liberdade é algo que nunca sai de moda. Todos estamos sempre em busca deles, e a nossa causa é pelo amor e liberdade à barba e aos barbudos”, ressalta Juliana. Adminstração da página: Juliana Gaião e Patrícia Propheta, diretoras executivas Fanfab de São Paulo - SP
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Desenho do artista quando menino Quem entrevista: Anderson Costa e Cristiano Martinez
Oriundo de Rondônia, Ricardo Zolinger Zanin passou sua infância na serraria do avô dele, em acampamentos nos matos e brincadeiras nos cerradões abertos. Ele confessa que não gosta muito de viver na cidade, “mas ela é inevitável e estimulante”. Já estudou filosofia na Unicentro e hoje mora e trabalha em Londrina, no Norte do Paraná. Uma de suas grandes habilidades é com o desenho, que pode ser conferido em seu perfil mantido nas redes sociais (www.facebook.com/ricardo.zolingerzanin), uma verdadeira galeria de arte virtual. Influenciado pelas xilogravuras nordestinas, arte popular e os brasileiros Alfredo Volpi e Poty, Zanin explica que os temas de seus desenhos surgem a partir de memórias de infância: “os galos e galinhas da minha avó; a faca de matar porcos; os causos medonhos; as caçadas e pescarias do meu avô e seu ofício de madeireiro; o maquinário da serraria”. Nesta edição do Bebop, os leitores podem conhecer um pouco mais da vida e da obra de Zanin, em desenhos cedidos por ele. Ah, e o material está disponível para venda. Segundo o artista, um original pode sair por R$ 350, seguindo a média de valores do mercado de ilustrações.
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BEBOP: Sobre as técnicas utilizadas, poderia nos contar como as telas são produzidas e falar sobre seu ambiente ou momento criativo? Eu começo rabiscando em meus cadernos de rascunhos. Faço e refaço o mesmo desenho. Às vezes, desenho tudo de novo apenas para mudar uma linha, a posição de um braço, uma figura... Sou muito perfeccionista. Normalmente o trabalho fica pronto quando eu me rendo e desisto de mexer nele. Alguns trabalhos têm 5 ou 6 versões. Eu sou maluco (risos). Eu uso papel e aquarela por serem relativamente baratos.
BEBOP: Existe um contraste forte em algumas telas do azul com o vermelho, que são as cores predominantes no teu trabalho. De que forma você trabalha com a cor e teria algum motivo especial para a utilização dessas duas cores? O laranja e o azul são cores complementares, dão uma sensação de movimento às figuras. Fora isso, gosto de todas as cores quentes. Não sei o que fazer com o verde (risos). ‘ BEBOP: Você já fez exposições? Você já teve a oportunidade de verificar a repercussão do seu trabalho? Sim, fiz algumas exposições em Guarapuava na época em que estudava filosofia. Eram todos trabalhos em preto e branco. A cor entrou há pouco tempo em minha vida. Nada especial, romântico ou metafísico, apenas acesso a materiais artísticos. Acho que as pessoas gostam do meu trabalho... Meus amigos pelo menos (risos).
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BEBOP: Que tipo de reações você realmente recebe das pessoas em relação às tuas obras? Muita gente quer mistificar, acreditar que para desenhar certas coisas eu devo estar em transe ou sob efeito de alguma coisa. Não é o caso, meu trabalho é muito racional e meditado, feito e refeito, como já disse. Eu componho com memórias, sentimentos e narrativas que me agradam. Alguns trabalhos são exaltados e épicos. Mas depois que coloco tudo no papel é só trabalhar e trabalhar, ajeitar isso, ajeitar aquilo... É só um objeto. BEBOP: Por fim, gostaria que você falasse um pouco sobre tua trajetória enquanto artista, como começou, o que mudou com o tempo e, claro, suas pretensões enquanto artista. Sempre desenhei, desde criança e nunca parei. Com o tempo, fui absorvendo influências, estudando, vendo o que serve e o que não serve no confuso mundo da arte contemporânea. Gostaria que meu trabalho refletisse um "não sei o quê" de Brasil. Amo este país e sua gente. Gosto dos nossos mitos, da imagem equivocada que temos de nós mesmos. O fato de sermos endemicamente corruptos, cronicamente incompetentes e muito violentos, apesar de acharmos que somos pacíficos e que só os políticos são maus. Gosto dessa maluquice. Adoro os cheiros, as comidas, as mulheres (ah, as mulheres)... Se tivesse nascido em outro lugar já teria me mudado, mas como nasci aqui agradeço à paisagem a cor da terra, o sol, o céu, a voz das pessoas e o repique da viola.
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MADE IN BRAZIL
a d a h l i z u r c n a E n a c i r e m A l u S SDE CON O T E J O R ER DO P RA FEND FRENTE R A À IT E V E GU I EST NASÁRIA GIANNIN EIRA DA LEND E-AMERICANA, O A , 0 9 9 BRASIL A NORT OS DE 1 O SONH NOS AN E UMA VERSÃO ISÃO DA MARC U REALIDADE D LIDADE RV NO TRUÇÃO STER. SOB SUPE ROSS QUE TOR NO COM QUA NAS ICA PE CA NC STRATO JETO SOUTHER O-AMER UROU A RA D IN T A A L R U O NTO ENT S PA CIA O PR STRUME AL. MAS A AV M SUFICIENTE DO IN M U DE DES FORA ACION E UNIDA PAD INTERN S ANOS, QUE S E R A TRÊ IR MILH LES VEIO PRODUZ DUTO. UM DE APUAVA 32 bebop PRO GUAR RAR EM grafa rra e foto Quem na M A R T IN E Z O C R IS T IA N
Mesmo com idade avançada para seus padrões, ela continua sendo um objeto raro e de cobiça em todos os cantos do país. Mesmo com ofertas parecidas, seus admiradores a querem de qualquer jeito. Mesmo com arranhões e marcas do tempo, continua sendo a preferida de muitos. Mesmo às vezes cara e inacessível, é a busca preferida. Afinal, restaram poucas de sua espécie no mundo. Criada nos anos de 1990, a Fender Stratocaster modelo Southern Cross é um legítimo instrumento musical feito no Brasil, numa época em que a marca nacional Giannini ficou à frente do projeto de uma versão brasileira da famosa guitarra norte-americana. Foi o único caso, na história da Fender, de uma seis cordas fabricada na América do Sul (não por sinal, o nome “Cruzeiro do Sul”, em tradução livre). A quase sessentona guitarra cria-
da por Leo Fender, George Fullerton e Freddie Tavares é fabricada até hoje em países como México e, claro, Estados Unidos. Mas, no Brasil, a versão tupiniquim foi a primeira e única tentativa. Segundo dados da Giannini, por e-mail, o sonho durou de 1991 a 1994, com uma produção média de seis mil unidades do ano. Mas os custos de fabricação impediram a continuidade do projeto, conforme a assessoria da Giannini. “Elas [as guitarras Southern Cross] pararam de ser fabricados pela Giannini por causa do ‘custo Brasil’ que na época era muito alto, deixando outros mercados como Coreia, México etc., mais atraentes para a Fender sob o ponto de vista financeiro. Submetíamo-nos a auditorias permanentes da Fender e se não mantivéssemos o controle de qualidade não ficaríamos tantos anos produzindo-as, nem as mesmas
FICHA TÉCNICA DA FENDER STRATOCASTER SOUTHERN CROSS Fonte: Giannini Modelo GG2000 / Produto: Guitarra Fender Stratocaster Corpo: Cedro / Braço: Madeira Marfim Largura do braço na pestana: 42 mm Escala/Curvatura: Madeira Marfim ou Pau-ferro de 240 mm bebop Comprimento de escala: 648 mm / Nº de trastes: 21 importados Tarraxas: Cromadas (Importadas) Captadores: Fender STD 03 Single Controles: 01 volume e 02 tonalidades Ponte/Trêmolo: Stratocaster STD Chaveamento de captadores: Chave de 5 posições Cordas: Elétricas aço
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seriam tão bem vistas no mercado, amplamente discutidas nos fóruns da web e notoriamente melhores do que as feitas nesses outros países citados”. O projeto da guitarra sul-americana durou pouco, mas deixou milhares de unidades que se tornaram objeto de colecionador, com preços às vezes exorbitantes em sites de classificados online, como o Mercado Livre. Por incrível que pareça, uma dessas poucas sobreviventes veio parar em Guarapuava. A guitarra pertence, ou melhor, pertencia ao jogador de futsal Carlos Roberto Ferreira Ferreira, o Carlinhos. É que ele negociou seu
instrumento musical após a realização desta reportagem. Mas antes da transação comercial, um exemplar da Fender brasileira estava em suas mãos desde 2010, quando a comprou em São Paulo (SP). “Ela foi um verdadeiro ‘presentão’, pois fazia muito tempo que procurava uma Fender”, recorda-se. Naquela época, Carlinhos morava na capital paulista e tinha uma guitarra Ibanez. Porém, seu sonho era ter uma Stratocaster, modelo de guitarra preferido entre os músicos de jazz. “A partir de 2004, comecei a aprender o bebop, um dos estilos dentro do jazz.
DESMONTANDO A SOUTHERN CROSS
A convite do Bebop, o luthier guarapuavano Marcelo Valedio avaliou a qualidade da Fender Southern Cross azul que era de Carlinhos. Da madeira ao captador original, passando pelos trastes e escala, Valedio sentenciou: tratase de uma legítima versão brasileira da Fender. “A principal qualidade dessa guitarra feita no país nos anos de 1990 é a madeira nacional do shape, que é o corpo do instrumento. Por ser o cedro, é mais pesado e dá um som mais grave, encorpado a uma Stratocaster”. Nas fotos, o passo a passo da desmontagem e avaliação.
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as cordas T irando u mento do instr
S h ape , sem esc u o do e a fia ç ão
Quase todos os jazzistas usam Strato”. A dita guitarra apareceu por intermédio de um amigo, dono de loja de instrumentos, em São Paulo. Nesse local, Carlinhos encontrou uma Fender brasileira, posta à venda por um cara que precisava do dinheiro. “Quando a testei na loja, foi amor à primeira vista”. Comprou na hora, sob a condição de uma possível devolução ao dono da guitarra, quando este voltasse a ter melhores condições financeiras. “Ah, já era. Nunca mais voltou ao antigo proprietário”. Era o início de uma história entre o jogador e a Fender brasileira de cor azul. No entanto, em 2011, Carlinhos
. captadores g inal a os u e li g , toda ori q ão F ia ç Valedio ndo S eg u
foi contratado por um clube de futsal da Ucrânia e precisou se mudar para aquele país. Na viagem, precisou deixar todos seus equipamentos em São Paulo, incluindo a Southern Cross. Durante uma excursão à Sérvia, entrou numa loja de instrumentos musicais e encontrou outra Fender, mas fabricada no México e de cor laranja. “Fiquei louco!”. Não pensou duas vezes e adquiriu a nova guitarra, pois tinha um preço muito barato, e passou a usá-la na Ucrânia. De volta ao Brasil, em 2012, levou a aquisição mais recente para São Paulo, onde se juntou à Southern Cross. Mas a antiga guitarra brasileira,
Ú nico captador ori g inal captadores . O s são os responsáveis por “captar” o som q u e é vibrado nas cordas
Marca de série do escu do da fender Sout hern cross
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que tinha o primeiro lugar no coração de Carlinhos, perdeu espaço para a laranja. Carlinhos gostou tanto do som da nova Fender, que trocou os captadores da brasileira, deixando apenas um como original. Mesmo assim, a Fender nacional perdeu espaço. Diante disso, Carlinhos se viu obrigado a vender a antiga guitarra. Assim, ele a trouxe a Guarapuava, onde está desde o início de 2013, só para ser vendida; Diante dessa necessidade, doeu-lhe o coração fazer isso. “Ela era a principal guitarra de meu acervo”. Atualmente, Carlinhos tem três gui-
tarras: uma Fine de acrílico, uma Strinberg modelo Eddie Van Halen e a Fender mexicana. “Minha intenção é de aumentar a coleção, principalmente com uma Fender americana”. Cheia de histórias Segundo Carlinhos, sua Southern Cross tem muitas histórias. “Aprendi muito com ela”. “Quem toca uma Strato não quer saber de outra”, afirma um cara que começou na música com 11 anos de idade e tocando um instrumento que não tem nada a ver com o universo das guitarras: o trompete. Foi entre 1993 e 1994, quando
DESMONTANDO A SOUTHERN CROSS - PARTE 2
. Peda ço da madeira N a avalia ção de de Valedio, é a prova q u e é cedro 36 bebop
Bra ço da g u itarra . Valedio destaca q u e os trastes são mais finos q u e os Fender californianada
tinha 15 anos (hoje tem 34), que a paixão pela seis cordas entrou em sua vida. “Ouvi uma fita k7 do guitarrista sueco Yngwie Malmsteen e fiquei louco pelo rock e pela guitarra. Passei a fazer aulas nesse instrumento”. O interesse pela Fender foi bem depois. Mas o atleta não conhecia sobre a história da versão brasileira da Fender. O que ele sabia é que precisava de uma guitarra dessa marca. Depois da compra da Southern Cross, aí começou a saber mais sobre a história desse instrumento nacional. Segundo o luthier guarapuavano Marcelo Valedio, profissional especializado na construção e regulação
de instrumentos de corda, o início da produção de guitarras Fender no Brasil fez parte do plano de expansão da marca nos anos de 1980. “Japão, Coreia, México e Brasil eram os países contemplados pela empresa norte-americana”. Valedio afirma que o plano da marca californiana era baratear o custo de fabricação de seus produtos. “A Fender viu no Brasil um nicho de marcado para explorar, pois aqui não havia preocupação com a preservação ambiental”. Naquela época, o país latino-americano tinha madeiras de excelente qualidade cobiçadas no mercado internacional: cedro, marfim, marupá, pau ferro.
tro frisa o u também : os . Valedio to nacional , feito u desmontado prod o do B ra ç no bra ço u ma espec ífico u ir detal h e diretamente eram postosnecessidade de constr trastes , sem do one-piece marfim técnica u a de pa ó pria. É escala pr bebop
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Por isso, o projeto da Southern Cross contava com o uso de uma madeira muito nobre, o cedro, que era inclusive um diferencial em relação a outros modelos da marca. “As madeiras usadas pela Fender californiana são alder e ash no shape [o corpo]. O cedro dava um som mais encorpado e tornava a guitarra mais pesada”. A procedência da madeira era muito boa, pois passava por um rigoroso sistema de seleção. Inclusive, o projeto da Southern Cross surgiu de uma combinação entre Giannini e Fender. Valedio explica que, naquela época, a marca americana queria um fornecedor de madeira para violões acústicos. A Giannini fez a contraproposta de produzir as guitarras. Qualidade brasileira Com experiência de ter regulado e customizado pelo menos cinco exemplares da Southern Cross, Valedio afirma que esse modelo brasileiro era de ótima qualidade, principalmente pela madeira usada no shape. “E mantinha as principais características peculiares de uma Fender californiana: o raio da escala e o design do shape”. Valedio diz que muita gente gosta dessa versão brasileira. Mas, na época em que ela foi fabricada, era difícil
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concorrer com as feitas no México e na China, também autorizadas pela Fender. “O chamado ‘custo Brasil’ [impostos e taxas] era muito alto, fora os royalties pagos pelo uso da marca da Fender. Tudo isso inviabilizou a continuidade do projeto no país”. Anos atrás, o guarapuavano encontrou por acaso com um antigo luthier da Giannini numa feira da área, em São Paulo. Esse profissional trabalhou na linha de montagem da Southern Cross e confirmou que, uma vez por mês, um funcionário da Fender norte-americana vinha ao Brasil para fazer inspeção nas guitarras que eram fabricadas aqui. O instrumento somente chegava ao mercado nacional depois de aprovado por esse técnico estrangeiro. “Inclusive, esse cara me contou que os funcionários da linha Southern Cross foram até Corona, sede da Fender na Califórnia (EUA), para aprender a fazer uma guitarra idêntica. Em resumo, a Southern Cross é uma cópia da Fender Corona feita nos anos de 1990”. Só pra se ter uma ideia, Valedio diz que se a Southern Cross fosse fabricada hoje, do mesmo modo que no período de 91 a 94, custaria em torno de R$ 3,5 mil, R$ 4 mil, o que seria inviável para concorrer com as
mexicanas, por exemplo, que custam em média R$ 2,5 mil. O episódio da Giannini, que esteve à frente desse projeto da Fender brasileira, é só mais um entre tantos sobre o potencial construtivo de um país tupiniquim. “O Brasil tinha tudo para se tornar uma potência na produção industrial de instrumentos. Sempre teve as melhores madeiras,
que hoje são exportadas a preço de banana para marcas como a Gibson”, finaliza Valedio. Desse sonho brasileiro, ficaram apenas alguns milhares de Southern Cross cobiçadas em sites e nas mãos de alguns afortunados, como era o caso de Carlinhos.
C arlin h s ua anti os na despedida ga gu de S o u t h itarra F ender ern C ross
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A GUITARRA BRASILEIRA DO MAGO
Considerado como um dos pioneiros do blues no Brasil, o carioca Celso Blues Boy (1956-2012) era considerado também como o Mago da Guitarra, no apelido dado pelo jornalista e crítico musical Jamari França nos anos de 1980. Com riffs típicos do rock/ blues e solos incendiários, os dedos de Celso exibiam um estilo virtuosístico no modo de tocar sua guitarra. A propósito, o músico teve várias companheiras de seis cordas ao longo de sua carreira. Fotos e vídeos registram um gosto especial pelo modelo Fender Stratocaster, dividido entre uma guitarra preta e outra vermelha. Talvez pouca gente saiba, mas esta última era um protótipo da Southern Cross, a versão brasileira da Fender. Em um vídeo de 2010, gravado pelo celular, Celso conta durante um
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workshop como apareceu em sua vida a Fender Stratocaster vermelha. A explicação dada pelo músico é de que aquela guitarra era um modelo que estava sendo desenvolvido para ser a primeira Southern Cross, a “Fender Mercosul”. No entanto, os técnicos da Giannini, segundo Celso, enfrentaram problemas com os captadores da guitarra, que não timbravam. E os inspetores da Fender viajavam frequentemente até São Paulo para pesar e avaliar o novo produto. Naquela época, o Mago estava fazendo shows na capital paulista. Um dos caras envolvidos nesse projeto, muito amigo do guitarrista, o convidou para dar uma olhada no protótipo. “Eu não era luthier, mas consegui descobrir o problema. Os caras
ficaram tão contentes que me deram a guitarra”, diz Celso durante o vídeo, apontando para o instrumento que o acompanhou até o fim da vida. Segundo Celso, essa Fender brasileira ainda não era a Southern Cross; pode-se dizer que era o primeiro protótipo, ajustado pelo Mago. O problema na construção? Celso diz que era uma peça, do tamanho de um “fio de cabelo”, fora do lugar. Na avaliação do músico, nesse mesmo vídeo, o controle da qualidade dos inspetores norte-americanos era tão rigoroso que impediu a continuação do projeto da Southern Cross no Brasil. O vídeo completo, com duração de 13 minutos, pode ser assistido em: http://www.youtube.com/watch?v=am3ff0iATzA.
No lombo do meu cavalo Quem narra: Maíra Machado
Uma modalidade de hipismo western, a prova de rédeas prevê que o cavaleiro domine seu cavalo, fazendo com que o animal realize manobras dentro de um circuito de obstáculos. É uma prova que envolve velocidade, habilidade e cronometragem de tempo.
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Montaria bem colocada e mãos firmes sobre a rédea. No peito, o coração batendo quase no mesmo compasso que o galope. A prova começa e é hora de mostrar que mais do que guiar o cavalo, é preciso dominar cada um dos movimentos que ele irá realizar. Estamos falando da Prova de Rédeas, uma modalidade baseada nos fundamentos de um adestramento clássico de cavalos, porém com mais dinamismo. “Quando eu estava com 16 anos, participei pela primeira vez de uma prova de rédeas na Expogua, com um cavalo emprestado. A égua que eu tinha era muito fraca e velha, não tinha condições de participar. Depois disso eu comprei um cavalo meio sangue especialmente para a prova de rédea. Passado um tempo, eu comprei um cavalo crioulo, que foi com o qual eu mais participei de provas de rédea e de laço. Foi com ele que eu fui campeã paranaense e vice-campeã brasileira de rédeas”. Paula Zanette, hoje formada em medicina veterinária, descobriu o gosto pela montaria aos 13 anos, quando colocou na cabeça que queria que seu pai lhe presenteasse com um cavalo. Depois de algum tempo tendo contato com o animal, decidiu que entraria para o mundo das provas de rédeas, com Diamante Negro, seu primeiro companheiro de competição. “Eu acho que o gosto pelo cavalo já nasceu comigo. Sempre que via
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um cavalo na rua sentia vontade de ter um e montar. Quando eu completei 13 anos, eu pedi um cavalo de presente. Nessa idade você já tem tamanho para querer alguma coisa. Quando é muito pequeno, você não pode dizer ‘eu quero um cavalo’. Não e igual a um cachorro. O cavalo depende de mais espaço. Aí eu ganhei o cavalo e fui aprendendo tudo sozinha”. Durante mais ou menos seis anos, Paula se manteve no topo da seletiva de pontos das competições de rédeas. Por causa da faculdade, ela precisou deixar a atividade um pouco de lado. “Depois que eu terminei a faculdade, eu precisava trabalhar. Aí não tive mais tempo pra lidar com a parte de treinamento. Porque o rodeio é no final de semana, mas o cavalo é um atleta e da mesma forma precisa de um treinamento de pelo menos quatro ou cinco dias por semana, então não tive condições de tempo pra continuar”.
Das arenas, para o tatame Adepta de exercícios físicos, Paula frequenta a academia desde muito tempo, realizando atividades aeróbicas. Durante um período breve, praticou Muay Thai, mas acabou voltando ao que era de costume. Há cinco anos, resolveu voltar às artes marciais. Por influência do namorado, quis conhecer o Jiu-Jitsu, e gostou da modalidade. Hoje treina e participa de competições. De certa forma, a prática desse esporte substituiu a prática da montaria. “Tanto lutar como montar depende de dedicação e a gente sente o mesmo frio na barriga. Quando eu comecei a lutar, eu pude otimizar meu tempo e treinar mais. Diferente de montar, que dependia de mais tempo, de me deslocar até a fazenda e arrumar o cavalo”.
Um retorno que se aproxima Mesmo afastada da lida campeira, Paula carrega no peito a saudade da época em que o contato com seu cavalo companheiro era diário. Percebi o apego pelo animal no momento em que perguntei qual era a melhor lembrança que ela tinha dos tempos em que montava com frequência. A voz falhou um pouco. Uma lágrima discreta teimou em rolar pelo rosto. “Minha melhor lembrança é essa ideia de estar todo dia com o cavalo. Poder treinar e trabalhar suas habilidades. Mexendo com o que eu realmente gosto. Pra mim, estar com cavalos é um lazer. Mais que isso, é como se ele fosse um companheiro, porque o animal aprende a gostar de você também. Por isso, sempre que tenho um tempo livre treino um pouco o meu cavalo. Se ele continuar no ritmo em que está, acho que no ano que vem consigo voltar para as competições”.
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o
Bebop está numa cruzada cultural
Cruzadinha. Quem não teve vontade de pegar uma caneta e preencher seus espaços em branco, que atire a primeira pedra; ou melhor, a primeira borracha, já que muita gente prefere usar lápis (se errar, dá pra apagar). Das clássicas revistinhas do Coquetel (que ainda são best-sellers nas bancas de jornal) às páginas do jornal, as palavras cruzadas sempre atraem a atenção do leitor incauto, ávido por desvendar o enigma proposto. A literatura policial está aí para provar como gostamos de jogos de mistérios. Como a equipe do Bebop também gosta de um bom enigma, foi proposta essa cruzadinha meio diferente. Mesmo sabendo que esta edição talvez faça mais sucesso nos corredores da Unati (Universidade Aberta à Terceira Idade).
1 - Ator que viveu o personagem Jake Blues, no filme Os Irmãos Carade-Pau, de 1980; 2 - Abaporu, uma das mais importantes telas brasileiras, é uma obra de? 3 - Jornalista Gonzo interpretado por Johnny Depp nos filmes Diário de um Jornalista Bêbado e Medo e Delírio em Las Vegas; 4 - Filme de 1991, dirigido por Ridley Scott, com Susan Sarandon e Geena Davis; 5 - Marshall _________, teórico da comunicação que participou do filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1978), de Woody Allen; 6 - Importante jazzista do Bebop, conhecido como Bird; 7 - Festival de Música em que Jimmi Hendrix queimou a guitarra ao
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final da apresentação; 8 - Monstro de ________, última ameaça enfrentada pelos personagens principais do filme Os Caça-Fantasmas; 9 - Título em português para Ferris Bueller’s Day Off, clássico da Sessão da Tarde; 11 - Autor do texto publicado na capa da primeira edição do Bebop, conhecido como o Bandido que Sabia Latim; 12 - Autor de On The Road, livro que recentemente foi levado ao cinema pelo diretor brasileiro Walter Salles; 13 - A resposta, meu amigo, “Blowin’in the wind”; 14 - William Seward ___________, neto do inventor do mecanismo da calculadora e um dos mais radicais artistas norte-americanos dos anos
Fica a dica 9 - O filme, dirigido por John Hughes, foi lançado em 1986 e tem como protagonista Matthew Broderick. Na trama, um jovem finge estar doente para poder matar aulas e aproveitar a vida com sua namorada. 4 - Filme com temática feminista. O final é trágico e ao mesmo tempo libertador. As protagonistas dirigem um Ford Thunderbird conversível 1966; 13 - How does it feel How does it feel To be without a home Like a complete unknown Like a rolling stone?
50 e 60. Escreveu Almoço Nu, matou a própria mulher, e pintava com uma espingarda; 15 - Mario ______, autor de O Poderoso Chefão; 16 - Neil continua buscando um coração de ouro; 17 - Robert é um polêmico quadrinista underground. Começou com a Zap Comix, e lançou também Fritz, The Cat e Mr. Natural; 18 - A banda brasileira Teatro Mágico emprestou a famosa frase ‘Entrada para Raros’ do livro mais famoso desse escritor alemão, cujo primeiro nome é Herman; 19 - Sobrenome do excêntrico jornalista que teria se envolvido amorosamente com um assassino fonte de sua pesquisa. Autor de A Sangue Frio e Bonequinha de Luxo. No cinema, foi interpretado por Philip Seymour Hoffmann; 20 - Sobrenome do autor de um dos mais importantes romances da língua inglesa do século XX, cujo protagonista é um anti-herói que se tornou símbolo da rebeldia adolescente. Esse escritor recluso morreu em 2010, aos 91 anos, e teria deixado cinco livros publicáveis somente à partir de 2015; 21 - Criador do quadrinho adulto Sandman, lançado pela Vertigo em 1988 e sucesso de público e crítica desde então;
22 - Veículo da marca Volkswagen lançado no Brasil nos anos 50 e que neste ano de 2013 será aposentado; Comum no transporte de crianças e trabalhadores; 23 - Ele prefere ser chamado de “The Dude” (O Cara). Protagonista de uma comédia dirigida pelos irmãos Coen em 1998; 24 - Tudo se passa entre 15 e 16 de junho de 1904 na cabeça do agente de publicidade Leopold Bloom; 25 - Muito jogado até os anos 90. Após um tempo determinado, os jogadores deveriam inserir mais fichas para continuar jogando; 26 - Amácio é seu primeiro nome. Trabalhou em mais de 30 filmes brasileiros, entre eles “Fuzileiro do Amor” (1956), “Betão Ronca Ferro” (1971) e “No Paraíso das Solteironas” (1969). O filme “O Corintiano” (1956) bateu records de bilheteria; 27 - TERROR! Depois das gravações, a casa onde as cenas foram rodadas demorou 30 anos para ser alugada. Dizem que nove pessoas ligadas à produção morreram durante ou pouco tempo depois das filmagens. Entre os personagens estão o Padre Merrin e a menina Regan McNeil. 28 - No cinema é sempre uma versão russa do FBI; 29 - O primeiro nome deste ator é americano, mas seu sobrenome é chinês. Além de muitos filmes, gravou
Fica a dica Para descobrir o sobrenome do autor que preenche o campo 20, você pode chegar primeiro, no título do principal livro desse escritor. O asssassino de John Lenon, Mark David Chapman, carregava essa obra no dia em que cometeu o crime, e estava lendo ele minutos antes de tentar o suicídio. O atirador que tentou matar Ronald Reagan, em 1981, afirmou ter tirado a ideia deste mesmo livro. A música Who Wrote Holden Caulfield, do Green Day, também é inspirada neste romance. bebop
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três álbuns entre 1984 e 1986: Love Me, A Boy’s Life e Shangrila; 30 - David é canadense e faz premiados filmes estranhos como A Mosca e Videodrome. Sua última produção foi estrelada pelo vampiro Robert Pattinson; 31 -Último nome do escultor Jean-Baptiste (1714-1785). Também nomeia um dos distritos turísticos mais famosos de Paris. É o nome de uma lanchonete famosa em Guarapuava; 32 - Garotos de Liverpool que ficaram famosos atravessando uma rua na faixa; 33 - Um dos criadores da Bossa Nova e autor de uma das músicas brasileiras mais executadas no exterior; 34 - As canções Break on Through (To The Other Side), Light My Fire e Riders On The Storm são alguns dos hits dessa banda sessentista que foi lidada por um cara chamado Jim; 35 - Assassino de quatro rodas criados por Stephen King e que virou filme nos anos 80; 36 - Dizem que essa importante banda de rock começou a pintar os rostos por causa do grupo brasileiro Os Mutantes; 37 - Acabou ______, segundo álbum de estúdio dos Novos Baianos. A obra está no topo da lista da Rolling Stone dos 100 Melhores Discos Brasileiros de Todos os Tempos;
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38 - Estilo inspirado nos romances de suspense da Grande Depressão. O detetive, a femme fatale, as ruas molhadas e os becos escuros e cheios de fumaça sempre estão presentes; 39 - Artista plástica mexicana interpretada no cinema por Salma Hayek; 40 - Andy, um artista que gosta muito de latas de sopa Campbell; 41 - Um pobre animal que viveu no sertão brasileiro. Pensava e sonhava como gente. Ao encarar a morte, vislumbrou o céu de cachorros, cheio de préas; 42 - Os ______________, banda brasileira de rock psicodélico reconhecida internacionalmente. Entre seus membros já estiveram Rita Lee, Arnaldo Baptista e Zélia Duncan; 43 - Tudo começou com as chamadas worksongs, que eram as músicas que os negros cantavam durante os trabalhos forçados nos campos; 44 - Foi durante este Estado Socialiasta que a cadela Laika foi enviada para o espaço e se tornou o primeiro ser vivo a orbitar a Terra. Infelizmente, a cadela morreu devido ao estresse e ao superaquecimento da nave; 45 - Sitcom animada de ficção científica criada por Matt Groening, também responsável por Os Simpsons; 46 - Nos anos 90, ou você ouvia Guns N’ Roses ou ouvia essa banda de desarrumados; cheiravam a espírito adolescente;
47 - Para esse poeta, a pedra era apenas um obstáculo. Ele escreveu poemas como José e a Rosa do Povo; 48 - Dinastia de monarcas britânicos que reinou na Inglaterra após a Guerra das Rosas, entre 1485 e 1603. Dá nome a uma série de TV inspirada na história de Henrique VIII. Também titula um modelo de veículo Ford dos anos 30. 49 - Ave associada ao trabalho de Edgar Allan Poe; 50 - Um dos mais importantes quadrinistas brasileiros. Publicou em O Pasquim. Entre seus personagens mais conhecidos está Piratas do Tietê; 51 - Banda de rock alternativo formada em Boston em 1986. Os integrantes se separaram em 1993 e voltaram a se reunir em 2004. Se apresentaram no primeiro SWU em 2010. Lançaram um disco chamado Bossanova, e um dos seus hits é Here Comes Your Man; 52 - 1984 não foi um ano bom, segundo George; 53 - Primeiro automóvel de passeio fabricado pela General Motors no Brasil. Produzido entre 1968 e 1992 Atualmente, a versão de duas portas é muito procurada por colecionadores por seu estilo esportivo; 54 - Filme de ficção científica dirigido por Steven Spielberg, inspirado numa ideia de Stanley Kubrick; Jude Law interpreta um robô prostituto;
55 - “Pela união de seus poderes, eu sou o Capitão _________!” 56 - Um mister meio cegueta, baixinho e careca protagonista de um famoso desenho animado; 57 - Mistura do Rhythm and Blues com a música gospel na virada dos anos 50 para o 60; 58 - Revista satírica fundada em 1952. Chegou ao Brasil nos anos 70 e continua em circulação, por uma terceira editora; Alfred E. Neuman é o nome do personagem símbolo da publicação. Atualmente o Cartoon Network exibe uma versão animada; 59 - Tropicalista antes do Tropicalismo. Em seus discos, estudou o samba, o pagode e a bossa; 60 - Baiano que teve músicas regravadas pela Angélica e Paralamas do sucesso. Também é embaixador da ONU para a agricultura e alimentação; 61 - “Ó Pai!”, ele clama junto às Inriquetes; 62 - Banda brasileira cujonome tem outro significado na Irlanda do Norte; 63 - La _______, cidade argentina e hit do Jota Quest; 64 - Por meio desta medida, classificamos os países como: Desenvolvidos, Em Desenvolvimento ou Subdesenvolvidos; 65 - Coisa de mulher; 66 - Termo que designa a batida
rítmica do jazz. Gíria da boêmia Times Square. Dá nome a um dos movimentos literários mais importantes dos Estados Unidos; 67 - Gabriel Garcia Márquez enfrentou muitos anos de solidão; 68 - Série televisiva onde até ursos polares aparecem em uma ilha tropical; O final da série agradou à poucos; 69 - Agência especializada em saúde fundada em sete de abril de 1948, subordinada à Organização das Nações Unidas; 70 - Banda de rock dos anos 80 liderada por Michael Stipe. Entre seus hits estão: Losing My Religion, Daysleeper, Turn You Inside-Out e Drive; 71 - Para Sun-Tzu, é uma arte; 72 - Redução comum do nome de uma importante cidade do Rio Grande do Sul. Os gaúchos gostam muito dela, mas não ficam muito por lá; 73 - Dizem que um estudo psicológico provou que a maioria das pessoas que viram este filme lançado em 1990 desenvolveu um sentimento de raiva por palhaços, sendo alguns chegavam a experimentar terror aparentemente sem motivos cada vez que via um. O livro, de mais de 750 páginas, virou uma série de TV e um filme de mais de três horas. É uma “obra prima do medo” e de Stephen King; 74 - O século do Renascimento. Idade comemorada no México pelas garotas com nome de Quinzinera;
Fica a dica 45 - O protagonista é Fry, um entregador de pizza do final do século 20 que, após ser acidentalmente congelado por centenas de anos, consegue um emprego na Planet Express, uma empresa interplanetária de entregas no retrofuturístico século 31. 47 - E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? bebop
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Colaboração: Anderson A. Costa
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