Bebop Sete 2014

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O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma B do 4º ano do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade deste material é informativa, educacional e cultural, sendo expressamente proibida a comercialização.

Contato: jornalbebop@gmail.com / Tiragem: 250 exemplares

Imagens da capa: Karin M. Detlinger (muros da Escola Estadual Newton Felipe Albach), Elis Oliveira (Comércio, Centro) e Beatriz Pimental (Lago Municipal).

Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste).

RACISMO

Professor orientador: Anderson A. Costa Editora da edição 7: Elis Oliveira Narradores: Elis Oliveira Jean Patrik Jéssica Lange Jasmine Horst Kamila Dussanoski Karin Milla Detlinger

QUEM EXPERIMENTOU

Algoz da alma

Caro leitor Por ELis Oliveira

Como editora desta edição, passaram-se vários assuntos pertinentes na minha cabeça para tratar aqui neste espaço. Até porque 2014 foi o ano das polêmicas, casos e descasos, na política, na educação, no futebol, etc.. São assuntos que ganharam repercussão nas redes sociais e alavancaram uma enxurrada de opiniões, panfletagens, ou outro nome que queira utilizar. Porém, de tantos assuntos, recordei-me de algo que não é novo e que há anos e anos gera discussão: o racismo.

Você deve lembrar que em abril deste ano o jogador brasileiro Daniel Alves comeu uma banana que foi arremessada no campo em gesto contra o racismo nos gramados, tornando-se um dos principais porta-vozes e defensores da causa no futebol naquele momento.

Sua imagem rodou o mundo, fazendo que a discussão sobre o problema ainda enfrentado no futebol tivesse grande repercussão.

Até deve lembrar que uma avalanche de ‘somos todos macacos’ se espalhou pelas redes sociais, televisão e afins. Muitas pessoas nem sabiam ao certo o que tinha acontecido e vestiram a camiseta mesmo assim. Mas isso logo caiu no esquecimento e voltamos todos a sermos “humanos”. Quem sabe se os macacos entendessem tudo, sentiriam vergonha e indignação de nós, seres

humanos, estarmos fazendo alusão a eles, indefesos mamíferos. Digo isso, porque nós, sereis racionais, somos ou deveríamos ser - dotados de maior inteligência.

Quatro meses após o caso de Daniel Alves, especificamente no dia 28 de agosto, outro episódio relacionado a cor de um jogador tomaria proporções ainda maiores e a discussão ganhou proporções gigantescas. Passou a envolver não apenas questões raciais, mas a conduta das pessoas, e desta vez não só nas redes sociais. Naquela noite, no final do jogo entre Grêmio e Santos, na Arena Grêmio (RS), alguns torcedores do time gaúcho começaram a hostilizar com insultos racistas o goleiro Aranha, do time adversário. Só que diferente do que aconteceu com Arouca num jogo contra o Santos, que lhe chamaram de macaco e que deveria procurar uma seleção africana para jogar; ou com o árbitro Márcio Chagas da Silva, que depois da partida encontrou seu carro danificado e com bananas no capô e no cano de descarga; ou com o jogador Tinga, Yaya Touré, ou tantos outros, desta vez as câmeras de televisão flagraram uma torcedora chamando claramente Aranha de macaco.

Lamentável a conduta da jovem.

Tanto é que ela foi indiciada e responde por injúria racial. E ainda sofreu uma série de outras retaliações, emprego, ataques a sua casa, ou seja, está pagando por ela e por todos aqueles que não foram pegos e que

também cometem crimes raciais, aquele que chama de preto, escravo, cabelo ruim, enfim, não gosto nem reproduzir tais xingamentos.

Recordemos o que aprendemos lá na escola: racismo é o conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças e etnias, ou ainda uma atitude de hostilidade em relação a determinadas categorias de pessoas, um fenômeno cultural, inseparável da história humana. E o que conduz a uma intolerância, é o preconceito racial, aquele que indica um sentimento, uma opinião, favorável ou não, que assume uma consequência de generalização.

No caso da torcedora do Grêmio, não demorou muito para ser identificada e logo começasse o seu linchamento público. Foi atacada de todas as formas. Isso é tão errado quanto chamar o goleiro de macaco.

Trata-se de um caso parecido com o daquela jovem que em 2010 disse que “nordestino não é gente”.

Ambas foram punidas, perderam seus empregos, foram insultadas... Não podemos achar que essas duas pessoas são as únicas a pensarem e agirem desta maneira, tampouco que é normal fazer contra elas o mesmo que fizeram.

O racismo, o preconceito, a intolerância racial, ou qualquer manifestação que agrida a outra pessoa é repugnante, todos nós precisamos respeitar mais as diferenças. Aliás, não somos todos diferentes?!

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Literatura por onde jå passei Conhecendo o mundo da escritora Terezinha Aguiar Vaz Quem narra, diagrama e fotografa: JÉSSICA LANGE

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PERFIL

Nome: Terezinha Aguiar Vaz Idade: 71 anos Profiss達o: escritora Hobby: viajar

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Sua história Entre, fique a vontade. Convidoume ela com um grande sorriso no rosto. A expressão de alegria com a minha presença era notável, transparecia.

Mal entrei na casa e já me chamou para sentar. A sala foi o destino escolhido para nossa conversa, que durou quase uma tarde toda. Entrei no ambiente com um olhar curioso, vi milhares de enfeites, objetos coloridos, lembranças de outros países e porta-retratos. Não poderia ser diferente, afinal, quem viaja muito sempre guarda alguma lembrancinha dos lugares onde já passou.

Sentamos em um sofá antigo, com almofadas estampadas. Ao lado, uma grande janela, da qual se podia avistar a rua tão movimentada, em meio à claridade dos raios do sol. Não precisei pedir nada, muito menos fazer perguntas, tudo fluiu com naturalidade.

Terezinha logo foi contando suas histórias, abrindo sua vida para mim. Pegou uma sacola de vime com vários livros dentro, tanto escritos por ela quanto suas participações em livros de outros escritores locais. “O primeiro livrinho que escrevi foi o de contos”, disse-me ela com o pequeno livro nas mãos. Então continuou, “a influência do que eu escrevo vem lá da minha infância, vou te explicar isso com um conto que fiz”.

Eu nasci ouvindo versos No colo da mãe Constância Versinhos sem importância

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Terezinha colocou a mão no meu ombro e me observou fixamente. Em clara emoção, senti que ela estava inquieta, talvez era ansiedade em me mostrar todos os livros, ou, talvez não. Ela prosseguiu o pensamento.

“Esse conto fala sobre a vida da minha família, minha mãe cantava para mim no berço. A gente morava em um ranchinho, no sítio no interior de Pitanga”, emendou ela com mais um verso: O pai tocava viola Os meninos cavaquinho, reco-reco ou violão Lá fora a passarada piava A mãe cabocla cantava Lá fora fazia eco No coração do sertão “Aos 12 anos fui estudar em colégio de freiras em Curitiba, depois me levaram para São Paulo. Aprendi muito com elas, mas fiquei oito anos longe da minha família. Nesse tempo participei de concursos, ganhei prêmios”. Fiquei em silêncio para ouvir o que ela tinha para me contar, seus olhos castanhos brilhavam ao falar sobre sua história.

“Fui professora de primário, de alfabetização durante 16 anos. Eu gostava muito de contar histórias para as crianças. Acontece que não tínhamos acesso a livros, não tinha naquele tempo. Como eu gostava de contos, resolvi começar a escrever livros”, falou Terezinha folheando uma de suas obras, indo e vindo pelas páginas com delicadeza, paciência.

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Olheis os livros e percebi que os temas dos contos sempre eram sobre o Paraná. Erva-mate, escravos, imigrantes, pinheiro, índios, entre outros.

Perguntei o porquê disso e Terezinha prontamente pôs de lado os livros que estavam no colo e me contou. “Sempre gostei de falar sobre isso. Adoro natureza, ela dá tudo pra nós. Fui criada ao lado de índios, gostava muito deles. Naquela época eles eram caçados, igual bicho. A gente tentava proteger eles, salvar as crianças que às vezes se escondiam nas tocas de imbuias. Isso me marcou muito. Escrevo sobre coisas que me marcam”.

Fiquei impressionada com o número de livros escritos por Terezinha, no total: 15. Indo desde poesias a teatrinhos. “Gosto muito de escrever contos e crônicas, contar algo que presenciei.

Como no tempo das terras, onde as pessoas compravam terra em Pitanga, mas sem registrar no papel. Aí outras pessoas compravam o mesmo terreno e registravam. Aí já viu, né? A gente se mudava, meus pais se mudaram mais de 30 vezes. Ele punha um cesto de cada lado do cavalo e fugíamos, sem levar nada. Se ficássemos lá, eles matavam todos”.

“Escrevo sobre coisas que me marcam” 8

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Prestei atenção na doçura, no jeito sutil que ela pegava os livros. Terezinha estava sorrindo para eles, como quem admira algo que fez, quem sabe, vendo-os como uma ‘obra de arte’. Olhei para a janela ao lado, vi o movimento da rua, ouvi o barulho dos carros passando. Então perguntei: onde você escreve? Aqui é tão barulhento, isso não atrapalha? Ela soltou o livro no sofá e sem demora respondeu “Para escre-

ver, eu preciso estar bem quentinha.

Vou para a cama, pego um cobertor ou fico até mesmo aqui na sala. Eu tenho que estar sozinha”.

Não satisfeita continuei: mas tem algum momento do dia que você escolhe para escrever? “Poesia eu gosto de escrever à noite, me dá mais vontade. Como sou casada, meu marido não gosta que eu saia da cama à noite.

Então, levanto um pouquinho, vou ao banheiro. Escrevo um pouco e volto deitar. Porque a poesia nasce à noite”, falou Terezinha. Ela ainda completou dizendo que quando está viajando, os textos nascem das coisas diferentes que vê, do povo, da cultura. Enquanto isso, eu tentava decifrar o que se passava na mente dela. O meu objetivo era tentar entender de onde vinha tanta inspiração, como os pensamentos iam se concretizando no papel e assim virando livro. Ficamos quietas por um momento, até ela encontrar uma página que procurava em um dos seus livros para me mostrar.

“Fiz contos, crônicas, poesias e teatrinhos. Tem coisa com uma página, olha. Têm com três páginas também.

Tem temas religiosos, sobre Guarapuava, tem até Monteiro Lobato”. Não me contive: mas a senhora tira inspiração de onde? O que te motiva a fazer isso?

“A gente não tinha isso, não achava, não tinha nada parecido na cidade. Às vezes eu queria fazer uma pecinha com meus aluninhos e não tinha de onde tirar. Por isso inventei, criei algo com o conhecimento que tinha, com o que eu sabia, com as minhas histórias”.

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Por onde andei... mais de 50 países!

Falando em histórias, Terezinha é quase um livro ambulante. Já visitou dezenas de países, entre eles: China, Índia, Japão, Canadá, Rússia, Escandinávia, Lapônia, Finlândia, Tailândia, México, Grécia, Egito e Dubai. Mas, a primeira viagem que fez, não foi lá muito planejada. Ela me contou que aos 45 anos, recebeu um convite para conhecer a Itália, faltando apenas um mês para conseguir aposentadoria. “A filha de uma prima do meu marido que mora lá me telefonou e me convidou para ir pra lá. Na agência de turismo me perguntaram: quanto dinheiro

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você tem? Eu tinha guardado dinheiro e sempre dizia: um dia vou para a Europa. Eu falei pra ela que queria conhecer três países: Espanha, Portugal e França. Quando cheguei a Portugal me perguntaram, na outra agência, quanto eu tinha, respondi, e a mulher falou: então a senhora vai poder conhecer dez países da Europa”.

“Me perdi, mas cheguei. Me empolguei, não tava nem aí se iam me exonerar do cargo. Fiquei lá 30 dias e não me arrependo. Fui para o céu. Ganhei tantos presentes da Europa, que tive que mandar eles de navio para

sair mais barato”. Interrompi um pouco para comentar sobre as milhares de lembrancinhas e objetos que observei na sala, uma decoração um tanto exótica. Ela me explicou que cada objeto é de um lugar diferente, que sempre gostou de guardar pedras, conchas do mar, sementes de plantas, coisas típicas de cada país. “Sabe, não sou do tipo que compra lembrancinhas, a maioria eu ganhei. Ganhei tanta coisa que, por fim, fiz uma exposição no colégio onde trabalhava mostrando tudo o que trouxe da Europa”.

Depois disso não parou mais, viajando sempre acompanhada de amigas ou parentes. Conheceu o Canadá de leste a oeste, foi várias vezes para os Estados Unidos estudar inglês. E viajou também por todo o Brasil, tanto que conheceu todas as colônias de imigrantes existentes por aqui. “Conheci o país e todas as suas regiões, dessa vez meu marido ia junto”. As viagens renderam o livro: O casamento da menina Europa com o Índio Brasil.

Perguntei o que ela mais gosta nas viagens e a resposta veio sucinta: “de gente”. Parou um pouco, olhou pela janela através da cortina de renda branca e continuou: “sempre vou à rua, con-

“Sabe, não sou do tipo que compra lembrancinhas, a maioria eu ganhei”

verso muito com as pessoas. Eu nunca encontrei pessoas ruins nas viagens.

Sempre sou bem recebida, tem lugares que me apresentam como escritora”.

O mais interessante é que em cada viagem, Terezinha escreve um conto, uma poesia sobre o que achou do lugar. Esse bonito costume rendeu um livro, intitulado Diário de Viagens – História e Aventura. Ela fez questão de me mostrar um dos seus poemas, onde se coloca como um anjo que está visitando o mundo e encontra satanás.

O anjo representa as coisas boas que viu, e satanás às coisas ruins.

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Alemanha Anjo: A Alemanha se orgulha por ter inventado a imprensa Através de Guttemberg o qual possibilitou globalizar a ciência, Satanás: essa invenção sempre foi muito importante pela impressão da Bíblia, que o ignorante interpreta do seu jeito, e briga em nome da fé por orgulho e preconceito.

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“Gosto de ir a museus, pois guardam a arte, que é algo divino, também as igrejas, mesquistas... A que mais me impressionou foi em Dubai, é a coisa mais linda do mundo: quando entrei em uma mesquita lá eu disse: se Salomão estivesse vivo e visse isso aqui, estaria se revirando no túmulo de tanta inveja. Vou sempre com um caderninho, anoto tudo que me interessa”.

Inclusive, ela me mostrou algumas pastas nas quais guarda folders, ingressos de visitas, cartões-postais dos lugares onde passou.

Também, curiosamente, ela marca todos os países por onde já passou em um mapa mundi. “Vou fazendo um risquinho ao lado do nome do país que já conheci. Meu objetivo é completar esse mapa. Quero conhecer todo esse mundo”, falou Terezinha. Então, senti vontade de saber quais os países que ela quer conhecer na próxima viagem e perguntei para ela. Antes de responder, a escritora pensou, pensou e pensou. “A próxima viagem quero ir para o Panamá, para Colômbia e Equador.

Quero ir para esses lugares porque tem gente que fala que não é tão bonito assim, mas tenho curiosidade”.

“A próxima viagem quero ir para o Panamá, ,para Colômbia e Equador”

Para finalizar, toquei no assunto: álbum de fotografia. Ela rapidamente me mostrou onde os guardava, mostrou também as fitas de filmagens das viagens. Com voz sutil, Terezinha fez o convite: “venha aqui, vou te mostrar as fotos”. Me senti quase como uma convidada de honra. Aproximei-me da poltrona colonial, com almofadas bordadas e apoiei um dos braços. Ela largou um dos álbuns em minhas mãos, segurei como se fosse uma preciosidade, pois, para ela significa isso mesmo. Passamos um bom tempo folheando os álbuns. Ela me contou tudo sobre cada local, o que fez neles e o que mais gostou.

- Vou embora, disse a ela. Relutante questionou “mas já? Está cedo ainda. Quer um cafezinho? Que tal um suco?. Sorri agradecendo. Tentei me justificar dizendo que tinha outros compromissos ainda naquele dia, mas nada a convenceu, então, Terezinha pegou um belo cacho de uvas e me deu. “Toma, leva isso para você ir comendo no caminho”. Aceitei a fruta e pedi para ela abrir o portão. Na despedida, senti que ela não queria que eu fosse embora, que ainda tinha histórias para me contar. A escritora me deu um abraço e disse: “volte sempre que quiser. Desejo que Deus te abençoe e que você consiga viajar o mundo inteiro, porque viajar é sair do seu mundo para conhecer outros mundos”.

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Eu faço

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por vocĂŞ Quem narra: Kamila Dussanoski

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Não confunda o título, essa não é mais uma carta de amor. É, talvez, o relato de algumas histórias, que podem ser consideradas de amor, de loucura, de fanatismo... de fãs. Confesso que me considerava fã de alguns por aí, mas depois de conhecer esses relatos, percebo que estou longe disso. Descobri que para ser uma fã não basta gostar, é preciso, no mínimo, ter muita dedicação, vontade, amor e esperança.

E nessa procura por alguém que preenchesse esses requisitos encontrei Vanessa Barbosa. Ela tem 19 anos, estuda publicidade e propaganda e é uma fanática por Luan Santana, o sertanejo de 23 anos que arrasta multidões por onde passa.

O cantor ainda não era o fenômeno que é hoje quando Vanessa foi em seu primeiro show. Tudo começou em 2008 quando o cantor se apresentou em sua cidade da época, Telêmaco Borba. “Eu queria muito ir, mas era muito novinha e não tinha companhia. No dia chovia muito, convenci uma amiga de última hora, me arrumei em cinco minutos e fui.

Quando cheguei lá eu fiquei encantada, era lindo.

Amei ele, as músicas e o show. Antes desse evento eu não tinha nem ouvido falar dele, mas amei”.

Depois desse foram outros 12 shows do cantor, a maioria deles em Ponta Grossa, mas também em Guarapuava, Francisco Beltrão e até em Santa Catarina. Para chegar até o local das apresentações,

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Vanessa se une com as demais integrantes do fã clube que participa: Família Luan Santana Guarapuava, sua atual cidade. Levadas por uma van e por muito amor, o que espanta não são os quilometros percorridos para chegar até o ídolo, e sim a rotina do dia até a hora do show. Já é um hábito chegar cedo e ir para o aeroporto da cidade esperar por Luan Santana, porém, depois que ele vai embora, elas ali continuam. “Nós não temos onde ficar, esperamos ele chegar e depois vamos nos arrumar para o show, ali mesmo no banheiro do aeroporto. Levamos roupa, maquiagem, chapinha e é aquela bagunça de mulher se arrumando. Se não deixam ficarmos lá, voltamos para a van e nos arrumamos na rua mesmo”. Com isso eu justifico a dedicação.

As dificuldades nem sempre foram enfrentadas em grupo. Antes disso, Vanessa, com a mochila nas costas e o cartaz na mão, entrava no ônibus e sozinha ia ao encontro de Luan. “Eu não tinha amigas que gostavam dele, mas eu falava pra minha mãe que iria com alguém ou ela não ia deixar.

Passava o dia esperando na rodoviária porque não conhecia nada, quando dava o horário eu ia pra fila e lá fazia amizades para não ficar perdida no show.

Foi só depois de mudar para Guarapuava que fiz amigas que também gostam”.

E foi aqui também que ela chegou perto do ídolo pela primeira vez, mesmo depois de diversas tentativas. A data é inesquecível para ela, soletrou e em seguida disse que 06 de dezembro de 2013 foi um dos melhores dias de sua vida. O cantor se apresentaria em Guarapuava e como de costume o fã clube foi até o aeroporto para recebê-lo. “Tinha muita gente lá e nós combinamos que quando ele desembarcasse iriamos nos comportar, sem escândalo. Quando ele chegou tão perto foi difícil, mas me controlei. O problema é que fui a única, todas as outras foram pra cima dele, eu não consegui tirar foto, porém, no meio da confusão puxei na mão dele e pedi um beijo, ele virou e deu a bochecha para eu beijar. Aquele dia eu fiquei muito feliz, me senti realizada, imaginei que seria o máximo possível, não esperava que um dia iria dançar com ele”.

Dançou! Mas antes uma observação: “Ainda no show em Guarapuava nós estavamos perto da van que ao final levaria o Luan para o aeroporto e o segurança que cuidava saiu e deixou uma janela aberta. O que eu fiz? Sim, entrei pela janela e fiquei abaixada atrás do banco esperando pelo Luan. As meninas começaram a gritar pra que eu saísse e fiquei com medo do que eles poderiam

fazer. Saí, só que me arrependo. Se tivesse outra oportunidade, eu ficaria”.

Vanessa não precisou pular outra janela para ter a oportunidade de ficar perto de Luan Santana. No show em Francisco Beltrão ela ganhou uma promoção e teve a chance de entrar no camarim tirar foto e no fim da noite foi surpreendida sendo chamada para dançar no palco com ele. “Todo show eu voltava feliz, mas decepcionada porque nunca conseguia chegar perto dele, mas a minha hora chegou e foi tudo perfeito, dia 13 de março de 2014. Quando subi no palco eu estava em outro mundo, eu não conseguia nem abraçar, eu não sabia o que tava acontecendo, se não tivesse fotos e vídeos eu mesma não iria acreditar que foi real, eu não sentia minhas pernas, eu não acreditava”.

Leia essa matéria até o final, porque está história não termina aqui.

Vanessa me contou tudo sorrindo, suspirando e traquila. Quando questionei como ela define o que sente por Luan Santana não tive uma resposta imediata. “Difícil falar. Eu sinto um amor platônico, eu sei que ele não sabe que eu existo, não vai me trazer retorno nenhum, mas eu amo ele. Não é um amor que meu namorado tenha que sentir ciúmes, é um amor de querer só que ele saiba que eu existo, que eu tivesse um momento da atenção dele”.

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Mudando de estilo Já conhecia o seu estilo e seus dreads, já sabia que ela faz questão de deixar claro que o cabelo não tem nada a ver com reggae, e , sinceramente, é bem perceptível.

Ela me recebeu em seu quarto. Antes de entrar sua mãe me perguntou: “você vai mesmo entrar nesse quarto?”. Eu entrei, tipo criança assustada quando entra pela primeira vez em algum lugar, não que lá tenha algo de assustador, mas meus olhos passaram por todas as paredes, pela aranha (de plástico) pendurada no teto, pelos grafites, pelos posters... Tive certeza de que aquele é um lugar só dela, do estilo dela.

Ela, Tabata Zarpellon, 17 anos e estudante. Fã de rock, da música e do estilo. Primeiro eu precisava tirar uma dúvida antiga: por que grande parte dos rockeiros se veste assim, todo de preto? Imediatamente ela me disse que é assim apenas porque se sente bem, é o estilo que ela optou e não é uma

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forma de provar nada pra ninguém.

Sua relação com o rock começou em 2011, quando influenciada por amigos começou a ouvir algumas bandas. Ainda nesse ano conheceu sua banda preferida, Lacrimosa, uma banda Alemã. “Comecei a ouvir e em pouco tempo já conheci o fã clube da banda no orkut, lá trocava informações e me aprofundei mais no trabalho deles. Mais tarde virei diretora do fã clube do Paraná”.

A função do fã clube é promover o encontro entre os fãs do Brasil todo. De tempo em tempo acontece em cada estado e a cidade é escolhida conforme a disponibilidade da maioria. “Durante os encontros acontecem trocas de discos, são gravados vídeos, escrevemos cartas para tentar mandar pra eles. Também tem muitas brincadeiras para ganhar prêmios que são fornecidos pelo próprio site da banda para o encontro”.

A banda vem ao Brasil, em média, em uma vez a cada três anos e em abril de 2013 Tabata viu sua oportunidade, isso porque eles anunciaram show em São Paulo e mesmo morando no interior do Paraná ela fez o possível e quase o impossível para

“

“

ir. “Só não fiz mais loucuras porque eu não tive oportunidade, mas essa chance eu não poderia perder, poderia ser única. Eu ainda acho que foi única”.

Tabata resume o show em uma palavra: Perfeito! E olhando para o braço disse: “olha como eu me arrepiei só de lembrar. Eu não consigo descrever o momento em que eles entraram no palco”. Além da banda, ela teve a oportunidade de encontrar com as primeiras pessoas que dividiu informações online, e até mesmo com outro ídolo. “De quebra, como se precisasse de mais alguma coisa, acabei conhecendo o Milho Wonka, um rockvloguer bastante popular na internet e eu sempre gostei muito do trabalho dele”.

Na cabeceira da cama ela guarda alguns objetos que eu não consegui decifrar, mas também um papel que engloba tudo que fez parte desse dia: ingresso, passagens, declaração e até um pacote de salgadinho, único alimento que ela comeu naquele dia.

Pra finalizar eu a questionei se aquilo poderia ser um vício e ela me disse: “não! Um vício nem sempre é bom, e o que eu sinto por eles é maravilhoso, é amor”.

Só não fiz mais loucuras por falta de oportunidade

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O dia em que tudo aconteceu “Em todo show do Luan Santana o site oficial faz uma promoção para fãs que querem entrar no camarim. Em todos eu tentei e nunca tinha conseguido. No show de Francisco Beltrão fui sorteada.

Cheguei, peguei minha pulserinha e esperei, tinha muita gente, acho que foi a promoção que mais sortearam entradas. O show já tava atrasado, o Luan já tava cansado, começaram a vaiar pelo atraso. Bem, quando entrei foi muito rápido. Entrei, tirei foto e me puxaram, o fotógrafo tirou uma foto cortando a cabeça e a outra tremida e foi só isso, não deu tempo de nada. O que aconteceu? Fiquei decepcionada, esperei a vida inteira por aquele momento e não deu nada certo, tentei voltar e me seguraram, sai chorando. Jurei nunca mais ir, fiquei revoltada”.

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“Superei e fui assitir o show, fiquei em frente ao palco e nós levamos um cartaz com os nomes das cidades, porque em todos os shows ele chama duas meninas pra dançar com ele, uma na música Donzela e outra na Lepo Lepo. E eu resolvi tentar. Uma amiga escreveu Donzela e eu escrevi Lepo Lepo comigo e fiquei segurando o cartaz. Ele viu porque eu estava na frente dele o show inteiro, mas não demonstrou nenhuma reação. No fim chegou a hora do Lepo Lepo, ai ele deu de dedo pra mim e disse: “você quer? Trouxe até um cartaz”, fiquei louca, gritei muito, mas o que aconteceu? A menina que estava do meu lado subiu no meu lugar. Fiquei muito brava, mais uma vez, eu nunca mais na vida teria uma oportunidade como aquela, comecei a gritar: ‘Luan, Luan, sou eu’, e ele confirmou e pediu para me levarem”. “Eu subi, dancei com ele, perguntou meu nome, mexeu no meu cabelo, dançou abraçadinho comigo. Foi perfeito”.

“Quando eu desci do palco fiquei sem reação, tinha muita gente, mais de 40 mil pessoas, e ele me escolheu a dedo. Quando eu voltei do show eu não conseguia mais viver, só ficava pensando nisso, ficava vendo fotos, videos, chorando, eu precisava ver pra saber que realmente tinha acontecido, ficava tentando pensar em algum jeito de chegar até ele de novo. E nesse dia também era aniversário dele e eu e uma amiga queriamos dar um presente.

Pensamos em algo que ele, possivelmente, fosse usar. Compramos uma camiseta. Daríamos um jeito de entregar porque isso foi antes de eu ser sorteada pra entrar no camarim, mas como fui sorteada ficaria mais fácil. Mas como no camarim foi aquela loucura e eu estava saindo sem entregar o presente, voltei e só entreguei na mão dele, ele nem chegou a ver. Depois passou um tempão e saiu uma matéria na TV sobre um show dele e eu reconheci a camiseta. Não acreditei. Depois saiu uma foto com qualidade bem ruim e ainda não dava pra ter certeza. Esperamos sair as fotos oficiais e quando saiu tivemos certeza que era ela, sem dúvidas. Ele estava usando nosso presente. Eu fiquei muito feliz”.

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Foto: Arquivo pessoal

Foto: Kamila Dussanoski

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Foto: Kam ila Dussan

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A oportunidade da minha vida “Eu sabia que era a oportunidade da minha vida, seria muito difícil eles voltarem e mais ainda eu poder ir, então, quando fiquei sabendo foi um misto de sensações. Senti que um sonho seria realizado. Fiz tudo para conseguir ir, convenci minha mãe, guardei dinheiro pro ingresso, pedi declaração no colégio, fiz tudo”.

“Então eu consegui e fui com mais duas amigas de Curitiba, foram oito horas de ônibus, chegamos em São Paulo as sete horas da manhã e já fomos pro local do show que só iria começar as oito da noite. Não fomos direto pro local só pra esperar na fila, mas porque não tinhamos onde ficar. Fomos sem dinheiro pra comer, imagina pra hotel. A única comida do dia foi um pacote de salgadinho, não tínhamos nem água”.

“Um tempo depois começaram a chegar outras pessoas, de vários lugares do Brasil, e também na mesma situação.

Conheci uma pessoa do Rio Grande do Sul e tomei chimarrão, eu não gostava, mas como fazia muito frio e ele me emprestou uma blusa, quis ser simpática também”.

“Quando começou o show eu senti que tudo aquilo valeu a pena e que eu faria quantas vezes fossem necessárias. Foi perfeito, não dá pra explicar a sensação. Foi o melhor dia da minha vida. Quando acabou nós ainda ficamos esperando o metrô abrir para poder voltar para a rodoviária. Valeu muito a pena”.

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O pa铆s da piada pronta Cr么nica de Elis Oliveira

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Não sei o porquê exatamente, mas vivemos em tempos em que a memória sobre fatos importantes é facilmente esquecida e que brincar com assuntos sérios como o processo eleitoral ficou corriqueiro. Nesse cenário, desfilam sem nenhum pudor os memes, palavra estranha que pode até não te dizer muita coisa, mas que se você navegar pela internet terá contato com algum. Meme corresponde àquele fenômeno da grande rede, conhecido geralmente por fotos, canções, desenhos e que popularizou-se de uma forma extremamente rápida e fez com que tirassem o foco das necessidades reais de se discutir sobre do futuro país.

Os debates entre os candidatos à presidência da República, por exemplo, nas redes de televisão, não foram espetáculos de audiência, mas provocaram verdadeiros estardalhaços na internet. Em sua maioria, as manifestações na rede destoaram do embate entre os candidatos e suas propostas apresentadas. Escândalos de corrupção no governo petista, como o mensalão, e no governo tucano, como o do metrô paulista e o mensalão mineiro, foram esquecidos, dando lugar a “quadrinhos”, com as caras e bocas dos políticos, com legendas genéricas, se tornando memes, ou seja, virando piada.

Candidatos nanicos, com pouca representatividade politica, ganharam

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destaques em redes sociais, entrando na lista de tópicos mais comentados do twitter no Brasil por causa desses mesmos memes.

Só sei que nestes momentos evito entrar nas redes sociais, mas e as propostas, os projetos de cada candidato? O que mesmo foi falado sobre a legalização das drogas e do aborto? Educação? Saúde?

Segurança? Muitas discussões de A com B e de B com C foram pertinentes sim. O calcanhar de Aquiles doeu em alguns momentos. E enquanto ríamos da fulana não querer que ciclano erguesse o dedo ao falar com ela, ou quando o assunto homofobia virou chacota, ou comparamos as roupas das candidatas com personagens, ou até eles próprios com desenhos animados, o nosso país chora, e não é de tanto rir, pois só quem tem o direito de mudar alguma coisa, somos nós mesmos, privilegiados votantes.

No entanto, não é só na politica que comentários jocosos, vídeos engraçadinhos, montagens de tudo que tipo tiram o foco do assunto.

Os memes estão presentes em todas as falácias do internauta. Pode ser na morte de uma celebridade, num fato interessante da mídia, numa gafe de um apresentador.

Porém, na política, a máxima ‘rir para não chorar’, nem sempre tem consequências positivas.

“

Nunca ninguém sabe Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar.

Pois o meu verso tem esse quase imperceptível tremor...

A vida é louca, o mundo é triste: vale a pena matarse por isso?

Nem por ninguém!

Só se deve morrer de puro amor!

”

Mario Quintana

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LICOES DE MENDIGO JA PENSOU EM PASSAR UNS DIAS COMO MENDIGO PARA SENTIR NA PELE COMO SE SENTE ALGUEM QUE NÃO TEM NADA E VIVE DE DOAÇÕES? Quem narra e diagrama: JEAN PATRIK

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Vamos viajar? Quer saber pra onde? De Curitiba a Guarapuava. O que acha? Mas só que tem que ser a pé. Parece loucura?

E mais, vestido como mendigo, sem dinheiro, sem cartão de crédito, sem celular ou quaisquer outros aparatos tecnológicos.

Agora sim parece loucura. Não para o Carlos Egler e Denílson Rossi. Eles realizaram essa viagem em dezembro de 1997 (Acompanhe o diário de bordo ao lado. com algumas das anotações de Denílson).

A ideia foi praticamente um casamento de duas vontades. Egler desejava fazer uma experiência como mendigo pelas ruas catando papéis, e Rossi pretendia viajar de Curitiba a Guarapuava como uma forma de preparação espiritual em vista de sua ordenação como padre. Os dois então resolveram se unir e partir em caminhada.

A viagem durou 8 dias e 7 noites, bem lembradas por Egler. “Eu recordo que conseguimos um lugar para dormir apenas duas noites, nas outras tivemos que improvisar”. No total, são 267 quilômetros, desde o Bairro Boqueirão em Curitiba, local de partida, até o Santuário da Divina Ternura na Vila Carli as margens da BR 277, em Guarapuava. Entretanto,

PRIMEIRO DIA - 06 DE DEZEMBRO

Antes de saírmos fomos até a capela do seminário, fizemos uma oração. Saímos às 5h da manhã, de Damasco (Boqueirão – Curitiba – PR), sem um centavo no bolso, apenas comendo uma maçã cada um“.

“Passando pela Cidade Industrial de Curitiba pedimos algo para o café da manhã. Um homem nos atendeu bem e ganhamos dois bons sanduíches, a sensação de humilhação foi inevitável”.

“Quando estávamos passando por Campo Largo fomos surpreendidos com uma forte chuva de pedra. Molhados e com muito frio chegamos em São Luís do Purunã por volta das 22h. Andamos por quase toda a vila e não conseguimos pouso. Outro andarilho nos sugeriu pedir jornal para enrolar no corpo”.

SEGUNDO DIA - 07 DE DEZEMBRO

“Depois de muito andar chegamos a um restaurante à beira da rodovia. Pedimos se tinha resto de comida para a gente almoçar. Ganhamos um prato para os dois. Fomos comer na área, a gerente se aproximou e disse que não era para ficarmos ali próximo. Tivemos que ir mais longe e comer debaixo das árvores”.

“Chegamos na cidade de Palmeira próxima às 16h. Deitamos para descansar, na praça da Igreja Imaculada Conceição. Mas como a grama estava um pouco molhada, decidimos entrar na igreja. Cansados, acabamos reclinando no banco e dormindo”.

“Tamanha fora nossa surpresa quando acordados fomos por um casal de ministros, pedindo para sairmos da igreja porque haveria uma missa solene. Era festa da padroeira. Dado a insistência do casal para saírmos, pedimos para ficar num canto, perto da porta de saída”.

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Imagem: Arquivo pessoal

ele afirma que devem ter andado uns 300 quilômetros, uma vez que quando chegavam nas cidades saiam da rodovia em direção às residências ou comércios para pedirem comida e/ou abrigo.

Carlos afirma que foi uma oportunidade incrível para toda a vida. “Foi uma experiência de muito sofrimento, mas para a vida foi fantástico. Por um lado a gente não tinha que se preocupar com nada, com estudos ou trabalhos, por outro, havia a carência da alimentação. A gente se preocupava

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com o momento, com o agora, nem pensávamos em questões políticas filosóficas ou religiosas, o importante era poder comer”.

Ambos eram seminaristas e moravam em Curitiba, estudavam para ser padre. Rossi (Foto ao lado) havia concluído a faculdade de teologia, etapa final dos estudos sacerdotais, e Egler, terminava a filosofia, preparando-se para os estudos de teologia. Com essa viagem, Carlos queria fazer uma experiência de como se sente e pensa um mendigo no dia-a-dia. “Não se faz uma viagem dessa somente por esporte, tem que ter um objetivo muito forte.

Eu queria sentir na pele como era estar com fome e ter que pedir uma comida.

Como era não ter nada”.

Como preparação, a dupla fez o trajeto de automóvel e foi marcando em um mapa quais seriam os possíveis locais de parada, que na prática acabou não dando muito certo. Fisicamente, a única preparação consistiu em algumas caminhadas que faziam durante a semana, além de jogarem futebol regularmente. Não levaram mala, nem roupas, ou cobertores. Vestiam roupas íntimas, calças, camisa, um boné e sandálias. No

bolso uma fotocópia do documento de identidade e mais nada.

O primeiro dia de viagem rendeu bastante, saíram cedo, cada um comendo uma maçã. Garantiram a primeira refeição em Campo Largo a aproximadamente 20 quilômetros de Curitiba, em uma casa de freiras. identificando-se simplesmente como mendigos. Aqui ainda com roupas limpas e uma boa aparência, o que definharia com o correr dos dias.

Bastante empolgados com a viagem fizeram mais de 60 km, chegando em São Luiz do Puranã, as 9 horas da noite, onde foram sentir pela primeira vez como era dormir longe de uma cama e de um teto. “O primeiro dia parecia uma brincadeira, por isso andamos tanto. Mas agora eu vejo que nós erramos, não deveríamos ter feito isso”. Egler reconhece que andaram demais, o que fez com que a fatiga fosse muito intensa. “Não conseguíamos dormir, pois doía o corpo todo. Quando eu começava a dormir, eu sonhava que estava me cobrindo”.

Cada noite eles tinham uma experiência diferente, e de todos esses dias conseguiram dormir apenas três noi-

tes, nas outras apenas descansavam mas não conseguiam dormir. “Comida a gente conseguia fácil, o mais difícil era achar um lugar para dormir. As pessoas tinham muito medo”. Em uma das noites em que conseguiram lugar para dormir, eles foram acolhidos por um senhor embriagado que, apesar do receio, ofereceu-lhes um lugar em uma estufa de fumo, e também a esposa dele lhes preparou comida. “Na verdade foi ele mesmo que nos ofereceu um pouso. Conseguimos comida e seguiríamos em frente, mas já estava anoitecendo e, mesmo muito inseguro, nos ofereceu um lugar para dormirmos”.

O segundo lugar que conseguiram dormir foi em Palmeira, na casa paroquial. “Chegamos na igreja e as pessoas olhavam estranhamente para a gente.

Eles nos mandaram para o fundo da igreja e nos indicaram como deveríamos nos comportar ali”. Palmeira foi a única cidade em que ninguém quis dar comida para os mendigos. “Ninguém deu comida pra nós.

Depois de batermos em várias casas, um senhor nos deu três reais, aí, com mais um pouco que já tínhamos conseguido, compramos dois cachorros quentes e um refrigerante. Nesse dia dormimos em um colchão na garagem da casa do padre”.

TERCEIRO DIA - 08 DE DEZEMBRO “Pelo caminho experimentamos o limite e a solidariedade. Em algumas casas o descaso, mas acabamos ganhando pão, água e duas maçãs, que serviram de alimento para toda a manhã”.

“Depois tivemos que andar um longo trecho sem encontrar casas... foi muito difícil. Mas, não desistimos e continuamos a caminhar, mesmo com sede e fome. Ah! A sede é muito mais difícil de suportar do que a fome”.

“Depois de muito caminhar (...), avistamos fumaça. Oba! Como diz o ditado: ‘Onde há fumaça há fogo’. (...) De fato, adentramos no mato, guiados pela fumaça. (...) Fui pedir água e, saiu uma mulher grávida a qual nos mandou pegar água na nascente. Quando estávamos saíndo (...) deparamos com o esposo dela e um capanga.

Eles estavam armados com uma espingarda. Ficamos como medo, mas não tínhamos opção. Após respondermos algumas perguntas ele entrou na casa e trouxe-nos ‘bolinhos de chuva’. Na sequência ganhamos janta e pouso... dormimos numa tulha sobre estopas sujas...”.

QUARTO DIA - 09 DE DEZEMBRO

“Depois de Irati, conseguimos ganhar mais pêssegos numa barraquinha à beira da estrada. Mais adiante fomos surpreendidos pela polícia rodoviária. Fomos retidos, interrogados, agredidos, mas depois nos soltaram”.

“Durante à noite não conseguimos pouso. Fomos conseguir algo pra comer (janta) depois das 22h30, num restaurante perto do posto, lá também nos negaram pouso”.

“Seguindo pelo caminho encontramos uma capela e paramos para dormir nas dependências externas. Mas o chão frio e a dor nos expulsaram para a estrada novamente”.

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Uma outra experiência que marcou significativamente suas vidas foi uma noite em que foram acolhidos por um vigia noturno de um posto de combustível. “Um guardião autorizou dormirmos em uma varanda, aí de madrugada ele nos chamou na guarita e nos cedeu o cobertor dele pra gente dormir. Três anos depois reconhecemos ele em uma missa e contamos a história pra todo mundo, foi emocionante”.

Apesar de todos os perigos eles sentiram medo em poucos momentos.”Eu tive um pouco de medo quando chegamos na Serra da Esperança, ficamos até umas horas ao pé da serra, esperamos chegar a noite. Como estava escuro, não enxergávamos nada, tinha medo de cair. Antes de subir paramos em um posto. Tomei um copão de café quente, eu estava com o corpo molhado e fiquei com o pescoço travado. Fiquei bem preocupado, com o pescoço duro para cima. E no Cido, endureceu a perna. Aí um andava com a perna dura e o outro com o pescoço pra cima [risos]”.

Outro momento tenso foi a abordagem feita pela polícia rodoviária.

“Fomos parados pela polícia uma única vez, nosso objetivo não era falar nada pra ninguém, mas para eles ti-

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vemos que nos identificar. A principio eles não acreditaram, mas a partir de um telefone que tinha em nosso documento eles ligaram para o santuário pra se certificar”.

Para Carlos o que mais marcou de tudo isso foi o fato de se sentirem verdadeiramente como mendigos. “Nós ouvíamos muito as pessoas nos dizendo: ‘Vocês são jovens, deviam estar

trabalhando’ coisas que a gente sempre fala pra eles. Para mim foi um momento de muito superação. Não só naquele momento, mas para toda a vida.

A gente precisa aprender a pisar no próprio calo, chega um momento que o calo fica duro. Tudo isso nos ajudou a compreender melhor as outras pessoas, principalmente os mendigos”.

Rossi sintetiza que esta experiência foi de profunda lição de vida. “Foi profundamente marcante na minha vida.

Depois desta experiência, passei a enxergar as pessoas e o mundo com um olhar diferente. Cresci muito enquanto pessoa e, sobretudo, como homem de fé”. Atualmente Carlos é padre em Guarapuava, e Denilson, foi padre durante um tempo, mas deixou o sacerdócio, hoje é professor universitário e reside em Curitiba.

DICAS DE SOBREVIVÊNCIA Aos poucos a dupla foi pegando o jeito e foram desenvolvendo técnicas de sobrevivência como mendigo.

1o. Bastão. Uma espécie de cajado, se tornou um companheiro inseparável, servindo de terceira perna.

2o. Evitar a fadiga. Eles nunca iam pedir comida juntos, uma vez que as casas eram longe da rodovia, assim evitavam o cansaço. Se um ganhasse algo trazia para o outro comer.

3o. Poupar-se do sol. Não caminhavam das 13h às 18h para evitar o sol forte.

4o. Jornal como cobertor. O jornal é um grande aliado contra o frio, eles colocavam por dentro da roupa, eles afirmam que esquenta bastante.

5o. Bom calçado. Mesmo que seja como mendigo, tenha um bom calçado para andar bastante.

6o. Soro caseiro. Eles sempre pediam nas casas água com sal e açúcar para se hidratarem.

QUINTO DIA - 10 DE DEZEMBRO

“Por volta das 5h chegamos em um posto, pedimos pouso até o amanhecer, mas não recebemos. Entramos no banheiro, onde ficamos dormindo até às 6h da manhã, horário em que fomos expulsos pelos caminhoneiros que queriam tomar banho”.

“Depois de caminhar quase 6 km procurando e tentando conseguir almoço, ganhamos. Em seguida descansamos um pouco debaixo das árvores à beira da rodovia. Chegamos no trevo do Relógio por volta das 19h30. Pedimos pouso em várias casas e postos de gasolina, mas nada conseguimos. Ganhamos um prato de arroz e feijão em uma churrascaria. Acabamos dormindo em uma mecânica abandonada, mas as 2h da manhã fomos expulsos da mecânica pelo frio e pela dor”.

SEXTO DIA - 11 DE DEZEMBRO

“Às 3h20 começamos a subir a Serra da Esperança. Às 5h30 superamos a serra. Cansados e molhados (chuva) chegamos a um posto.

Também não nos deram pouso. Ficamos fora na garoa e vento frio”. “Às 10h chegamos em Guará. Depois do almoço voltamos a caminhar. Paramos para descansar e ganhamos água. A mais ou menos 8km de Guarapuava pegamos uma forte chuva”. “Às 20h20 chegamos no Santuário Divina Ternura. Após banho e jantar, o Pe. João Rocha celebrou para nós em Ação de Graças.

Afinal, chegamos vivos, apesar de machucados...”.

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Deep Web: o lado obscuro da internet Quem narra: JASMINE HORST

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Ela é definida como o conjunto de conteúdos da internet não acessível diretamente por sites de busca. Isso inclui, por exemplo, documentos hospedados dentro de sites que exigem login e senha. Sua origem e sua proposta original são legítimas. Afinal, nem todo material deve ser acessado por qualquer usuário. Entretanto, o assunto gera bastante polêmica, e a maioria acredita que se trata de uma “terra sem lei” da internet (o que não é totalmente mentira)

Ao abrir a porta, a sala típica de um estudante, que se considera nerd, se revela. Em um canto, o vídeo game, com seus tantos jogos, perfilados em ordem alfabética, em outro canto, o notebook, que reina soberano na sala, com seus tantos acessórios.

Os pacotes de bolacha e as latas de refrigerante vazias, em cima do móvel, revelam que o estudante passa boa parte do dia em frente à tela do computador. “Não repara a bagunça, ando meio sem tempo para arrumar”.

Ao sentar no sofá, ao lado de um gato que dormia sem se importar com minha presença, revelei a ele o motivo da minha visita: saber um pouco mais sobre a deep web. Eis que ele me respondeu com uma cara de preocupado, e depois de alguns segundos falou: “Eu não sei o que posso falar tanto. Para ser sincero, até hoje eu não sei se isso é ou não uma atividade contra a lei.

Algumas pessoas falam que sim, outras dizem que não, de maneira que eu não costumo contar para muita gente sobre essas visitinhas a esses sites”.

Expliquei a ele que poderia ficar a vontade, que meu objetivo era descobrir o que, de fato, existia nessa internet não indexada, e que meu desejo era realizar, finalmente, a experiência de entrar nesse “submundo” e desmistificar (ou não) o que podemos encontrar por lá.

Ponteiros acertados, mediante a promessa de não revelar sua identidade completa, Marcelo começou a contar sobre quando ouviu falar em DW e sobre sua primeira vez por lá: “Eu estou com 21 anos agora, a primeira vez que me falaram sobre a Deep eu

tinha uns 15. Um primo mais velho disse que tinha entrado lá e estava muito surpreso com as coisas que encontrou. Como eu sempre gostei muito de computador, de tecnologia, de descobrir tudo o que tinha na internet, eu resolvi que entraria. Mas ele me alertou, disse que era perigoso e que se eu quisesse entrar, era para avisá -lo, que ele estaria comigo. Foi o que eu fiz, acordei num sábado decidido a entrar e avisei a ele. No mesmo dia, no fim da tarde, eu matei a minha vontade. Confesso que fiquei um pouco decepcionado, esperava que fosse algo muito diferente, mas não era. Depois disso, sempre que tenho um tempinho, eu entro lá para dar uma olhada”.

Nesse momento, ele já se arrumando na cadeira em frente ao notebook, perguntou se eu gostaria de ver como era. Confesso que fiquei um pouco receosa, embora a curiosidade fosse grande desde a primeira vez que ouvi falar sobre o assunto. Me veio à cabeça as tantas frases que ouvi, ou que li, cada vez que pesquisava sobre esse ‘submundo’, coisas como: “A deep web é o inferno na Terra!”; “Não aconselho ninguém a entrar lá, é muito perigoso!”; “Lá é um lugar para pessoas perturbadas. Se você não quiser ficar traumatizado pelo resto da vida, não entre de jeito nenhum!” “Entrei e me arrependo, nunca mais fui o mesmo. Até hoje tenho problemas para dormir.”; “Você só vai encontrar assassinos em série, pedófilos, psicopatas, etc.”. Mesmo com essas tantas vozes na minha cabeça, falei que estava preparada, embora, secretamen-

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Você pode encontrar de tudo aqui. De sites super comuns, redes sociais, bibliotecas online, que são muito boas por sinal, sites de jogos, até aquelas coisas que o pessoal sempre fala que existe na Deep Web 36 bebop

te eu sentisse um pequeno medo.

Ao me aproximar do computador para conseguir ver melhor, percebi que Marcelo estava abrindo um navegador diferente, chamado “Tor”, que ele logo me explicou que se tratava de um software livre e de código aberto, que servia para proteger o anonimato ao navegar na Internet. Navegador aberto e eis que ele me pergunta o que eu gostaria de ver. Respondi que não fazia ideia e questionei sobre o que tanto poderia encontrar por lá.

“Você pode encontrar de tudo aqui.

De sites super comuns, redes sociais, bibliotecas online, que são muito boas por sinal, sites de jogos, até aquelas coisas que o pessoal sempre fala que existe na deep web, tais como pornografia, violência, imagens extremamente perturbadoras. Depende do que você quer”. Pedi que entrasse em sites de costume, só para eu ter uma ideia de como era. Como bom viciado em jogos, ele entrou direto num link que disponibilizava milhares deles. Confesso que me decepcionei com a interface do site, não só daquele, mas da maioria, parecia que a internet tinha voltado no tempo e que estávamos em um site dos anos 90.

Passamos cerca de vinte minutos navegando, nesse tempo, o meu medo já havia desaparecido. Entramos apenas em sites comuns. Nada que fosse muito diferente do que encontramos no google diariamente. Fiz um rápido comentário a respeito das coisas que eu já tinha ouvido falar sobre a deep web e ele riu, respondendo que a maioria das pessoas que fazem esses comentários, nunca sequer entrou,

mas que tiram suas opiniões baseadas no que encontram em blogs e sites sensacionalistas: “É óbvio que existem coisas terríveis por lá, mas na internet comum também existe. Sofro bastante preconceito quando falo que às vezes entro na deep web, me chamam de doente mental. Mas acho que é uma ferramenta que pode ser bastante interessante, basta saber usar”.

Ao pesquisar na internet (a normal, dessa vez), sobre mais informações acerca do assunto, encontrei uma página no Facebook, chamada “Deep Web Brasil”, com mais de 130 mil curtidas. Resolvi entrar em contato com os criadores da página, com o objetivo de saber por que há tanto interesse e ao mesmo tempo tanto receio em torno desse assunto. Assim, conheci o analista de suporte Tobias Pandolfo, que afirmou que a página foi criada com o objetivo de mostrar o lado bom da deep

web, desmistificando as tantas lendas urbanas que existem sobre o tema.

“Existem tantas lendas sobre a deep web que eu poderia levar um dia inteiro falando, algumas são mais conhecidas e nós tentamos desmentir tudo isso. Falam que quando tu acessa a dw, milhares de links contendo pornografia infantil começam a abrir descontroladamente no teu navegador, isso é mentira das mais absurdas. Realmente existe isso na dw, porém, em momento algum esse assunto aparece do nada, assim como diversos outros assuntos (hitmans, blackmarket, download ilegal e etc), que só aparecem se forem alvo de pesquisas”, explicou.

Ao ser perguntado sobre a contribuição da deep web para sua vida, o analista destacou que, para sua profissão, entender sobre o assunto foi fundamental, mas que isso não faria tanta diferença na vida da maioria

Eu acho que se a pessoa tiver curiosidade, deve entrar, pelo menos uma vez na vida.

Não que isso vá fazer diferença, é só por conta da curiosidade mesmo das pessoas: “Eu acho que se a pessoa tiver curiosidade, deve entrar, pelo menos uma vez na vida. Não que isso vá fazer diferença, é só por conta da curiosidade mesmo, para ver que nada é tão terrível se ela não quiser ver coisas terríveis. É só tomar os cuidados básicos e navegar”.

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Algumas dicas para quem deseja entrar na deep web

TENHA SEMPRE UM OBJETIVO: a grande razão porque muitos acabam encontrando o que não procuram é porque entram na deep web sem terem uma meta bem definida sobre o que fazer por lá. Assim, acabam por se deixar levar um pouco também pela curiosidade e acabam vendo o que não querem. Por isso, sempre tenha em mente. Quando entrar na deep web, saiba o que quer pesquisar ou o que quer fazer; MANTENHA O ANTIVÍRUS E O FIREWALL ATUALIZADOS: Possuir um bom antivírus e uma boa firewall constantemente atualizados é mais do que essencial para que possa navegar com segurança pela deep web.

DÊ PREFERÊNCIA AO SISTEMA LINUX: Esta é a forma de segurança mais eficaz. O Linux - ou qualquer uma de suas distribuições (Ubuntu, BSD, Caixa mágica) - é considerado por muitos o sistema mais seguro de todos e com certeza não possui algumas das fragilidades que o Windows contém. Outra opção é colocar o nosso computador com dual boot (ou seja, instalar dois sistemas operativos no mesmo computador, por exemplo, Windows e Linux).

Assim, caso o sistema que estamos utilizando seja danificado, teremos o outro livre de perigo, e seus documentos permanecerão completamente a salvo.

CONTROLE SUA CURIOSIDADE: O que acontece é que o internauta, mesmo sabendo que o blog trata sobre assuntos nada agradáveis, não consegue aguentar a curiosidade e acaba por dar uma olhada. Jamais faça isso, porque poderá lhe custar varias noites de sono. Se controle e visite apenas aquilo que a deep web tem de bom. Assim evita qualquer possível visão desagradável…

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JORNAL NARRATIVO

EXPEDIÇÃO

ORIENTE

A terceira aventura da família Schürmann

Quem narra e diagrama: KARIN MILLA DETLINGER bebop

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Exatos 30 anos após a primeira aventura no mar a bordo de um veleiro, a família Schürmann encara um novo desafio. Irá em busca de indícios que comprovem a teoria de que os chineses teriam sido os primeiros aventureiros a circunavegar o planeta. A Expedição Oriente partiu do porto de Itajaí no dia 21 de setembro. Durante dois anos e três meses o veleiro KAT irá navegar, passando por quatro oceanos, cerca de 50 portos e 29 países. Em 29 de novembro de 2015, deverá estar de volta a Itajaí. O novo projeto foi planejado por cinco anos, e conta, além do casal Vilfredo e Heloísa, com o filho Wilhelm a bordo durante toda a viagem. David irá coordenar a expedição por terra. Ele e o irmão Pierre irão embarcar apenas em alguns trechos do percurso.

Tudo isso começou quando, em 1974, velejando, durante uma viagem de turismo pelas águas de St. Thomas, no Caribe, o casal Vilfredo e Heloísa Schürmann ficou fascinado com a experiência, e decidiu voltar à ilha em seu próprio veleiro.

Após planejarem por dez anos, o economista bem sucedido Vilfredo Schürmann e a graduada em inglês Heloísa, não hesitaram em largar tudo para realizar o seu grande sonho.

Navegando mundo afora com os três filhos, Wilhelm, David e Pierre – na época, com 7, 10 e 15 anos, respectivamente -, os dois anos inicialmente planejados acabaram virando dez de grandes aventuras e alegrias. As crianças foram igualmente tomadas pela paixão de velejar, e acompanharam os pais em um universo de descobertas. Saindo de Florianópolis em 1984, a família Schürmann iniciou sua aventura que ganhou o título de “10 anos no Mar”. Eles conheceram belíssimas paisagens, culturas e povos exóticos, lugares paradisíacos e comidas excêntricas.

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Do Caribe pelo canal do Panamá, Barbados, Galápagos, Bora Bora, Ilhas Fiji, Madagascar e Cidade do Cabo. Crescendo e estudando a bordo, os meninos fizeram de suas paradas, campo de pesquisa e exploração. Em alto mar, questões como geografia, astronomia e biologia viravam motivo de alegria e aprendizado.

Fazendo a rota dos navegadores, a família seguiu os ventos alísios, percorrendo riquíssimas paisagens entre os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Antes mesmo de retornar da expedição “10 Anos no Mar”, a família Schurmann já sabia qual seria sua próxima aventura.

A segunda expedição iria refazer a rota de 1519, do navegador português Fernão de Magalhães, considerada, na História, a primeira circum-navegação do globo. Partindo de Porto Belo (SC) em 23 de novembro de 1997, a bordo do veleiro Aysso, além de Vilfredo, Heloisa e David, com Pierre e Wilhelm em trechos da viagem, estava a mais jovem marinheira da família, Kat. Ela entrou para a expedição em 1994, e tornouse a mascote da família.

A pequena e frágil marinheira nasceu na Nova Zelândia e foi adotada pela família Schurmann aos 5 anos. Vítima de complicações decorrentes do vírus HIV, do qual era portadora desde seu nascimento, ela faleceu em 29 de maio de 2006, aos 13 anos, deixando muita saudade. No pouco tempo em que conviveu com a família, conheceu 19 países, várias culturas e tradições.

Kat mostrou-se corajosa e destemida, conquistando a todos com seu carisma e amor. Sempre alegre e brincalhona, mergulhava com os golfinhos, descia rios e subia montanhas como uma verdadeira aventureira. Como os irmãos, também ela estudou a distância. Fazia aula por correspondência pelo método americano de ensino da Calvert School.

Os Schurmann completaram sua segunda volta ao mundo no dia 22 de abril de 2000, quando chegaram a Porto Seguro (BA) partindo de Lisboa, em Portugal, e sendo recebidos pelos então presidentes do Brasil e de Portugal como parte das comemorações oficiais pelos 500 anos do Descobrimento do Brasil.

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No dia 21 de setembro de 2014, após longos anos de planejamento, estudo e execução , a família Schurmann, estava novamente pronta para zarpar. Desta vez o objetivo é fazer a rota chinesa e

encont r a r resquícios que comprovem a teoria de que foram estes navegadores, os primeiros a dar a volta ao mundo.

A teoria defendida pelo oficial da marinha britânica Gavin Menzies, no livro “1421: o ano em que a China descobriu o mundo” é polemica e desafiadora.

Mas desafios são palavras de ordem para a família Schurmann. Se-

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gundo a tese de Menzies, uma esquadra com gigantescos juncos de até 150 metros de comprimento zarpou da China usando “avançados instrumentos” com conhecimento de cálculo de latitude e longitude. Se comprovada esta teoria, os livros de história terão que mudar, pois, em sua jornada de dois anos, os navios chineses aportaram na América 70 anos antes de Cristóvão Colombo, descobriram a Antártica, chegaram à Austrália 320 anos antes dos europeus, e dominaram a medição de longitude 300 anos antes destes.

“Queremos fazer o mundo real e o virtual se comunicarem”, A “Expedição Oriente” espera encontrar alguma pista que ajude a comprovar esta tese. Para isso, a família construiu um novo veleiro, adaptado com o que há de mais moderno em tecnologia náutica. Batizou-o de KAT, nada mais justo, pois, se para os marinheiros a alma do barco é o nome, com certe-

za, a família e a tripulação estará muito bem acompanhada, pois, simbolicamente, Kat estará com todos eles. Este novo modelo tem cerca de 90m2 de área, com um moderno sistema de energia limpa.

Este foi implantado por meio de geradores eólicos, painéis solares, hidrogeradores e até, bicicletas ergométricas.

“A comunicação também esta garantida, com um amplo sistema via satélite, de 492 Kbps”, explica o filho, David Schürmann, coordenador da equipe em terra da “Expedição Oriente”. A tecnologia abordo apresentou-se tão efi-

caz q u e permitiu o lançamento de um game para que o internauta possa criar seu próprio barco e acompanhar os desafios encarados por eles no mar.

O jogo terá etapas para que os usuários entendam os desafios da expedição. Cada etapa terá um ganhador que receberá prêmios, como cartões postais e peças de artesanato. “Queremos fazer o mundo real e o virtual se comunicarem”, explica David.

O próprio David conta ainda que, para ele, está sendo muito difícil acompanhar os pais apenas por terra, mas explica, “esta foi uma decisão que tomei, ajudar no suporte de terra, apesar de estar sendo muito doloroso para mim. Afinal, foram seis anos planejando e buscando patrocínio. Mas, quem sabe, em uma próxima aventura eu não estarei presente junto com o meu filho?”

O KAT, têm, além de geradores de energia, uma série de outras tecnolo-

gias sustent á veis.

E m parceria com a empresa Solví, a família optou por um bioextrato para compostagem dos resíduos orgânicos. O objetivo é agilizar a decomposição dos materiais sólidos, produzindo adubo para a horta instalada na popa do veleiro. Todos os espaços a bordo foram cuidadosamente planejados e desenvolvidos para atender as neces-

“As ondas cobrem o veleiro e sair no cockpit somente com salva vidas e cinto de segurança” sidades dos tripulantes. A cozinha esta equipada com um fogão que se ajusta conforme o movimento do barco e sob o canto alemão, há compartimentos para guardar alimentos. Estes confortos, porém, não garantem que a tripu-

lação suporte os desafios em alto mar. Desenvolver o espírito de equipe, a c o n vivência e o relacionamento interpessoal e m um pequeno espaço é desafio constante do grupo. O diário de bordo da expedição, conta que, nos primeiros dias de viagem, os ventos chegaram a 48 nós, o que provocou ondas de qua-

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ILHA DE PÁSCOA (CHILE)

ILHA SANTA HELENA

PONTO DE PARTIDA

ITAJAÍ (SANTA CATARINA)

PORT (ÁFR

ANTÁRTICA 44 bebop

OKINAWA (JAPÃO) SAIPAM (MARIANAS S SETENTRIONAIS)

ALOTAU (PAPUA NOVA GUINÉ) MADAGASCAR

TO ELISABETH RICA DO SUL)

Rota “Expedição Oriente” da Família Schurmann bebop

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TRIPULAÇÃO DO KAT DA “EXPEDIÇÃO ORIENTE” . / FONTE: SITE “EXPEDIÇÃO ORIENTE”

tro a seis metros. “Alguns tripulantes que ainda estão na ‘enfermaria’ já testaram todos os remédios de enjôo. Outros descobriram músculos novos e, dizem ‘Engraçado, nunca senti doer aqui nesse lugar do braço, da perna…!’”, conta Heloísa.

Isto mostra as dificuldades e o quanto é difícil a adaptação para quem não está acostumado com o vai e vem das ondas no mar. Para a veterana, nada disso é novidade: “É uma aventura sentir o barco ser levantado pelas ondas como se fosse um brinquedo até a crista dela e depois descer surfando! As ondas cobrem o veleiro e sair no cockpit somente com salvavidas e cinto de segurança. Quem fica de

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turno não pode descuidar um minuto da rota, do GPS e do mar,” completa ela.

Para percorrer as cerca de 30 mil milhas, quase 50 mil quilômetros, a família Schurmann, passará por quatro oceanos, cerca de 50 portos em cinco continentes, totalizando 29 países! A rota da expedição sai da América do Sul para o continente Antártico - onde a família navega pela primeira vez - e segue para o Oceano Pacifico, passando pela Polinésia, Nova Zelândia e Austrália. Na seqüência, os Schurmann sobem para Papua-Nova Guiné, passam pelo Japão - também pela primeira vez - China, Vietnã, Indonésia e África do Sul, de onde retornam ao Brasil.

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