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Brasília

Por Chico Sant’Anna

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Uma Brasília no deserto do Saara

Egito constrói nova capital diante da constatação de que a cidade do Cairo, com 25 milhões de habitantes, não tem mais jeito

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Ainda sem nome, cidade é chamada de Nova Capital, Novo Cairo ou capital administrativa

No universo das análises esotéricas sobre as origens de Brasília, uma delas relaciona nossa capital à cidade de Aquetáton – sítio arqueológico denominado Amarna –, construída pelo faraó Aquenatom, que há mais de 5 mil anos foi capital do Egito. Estudiosos apontam, inclusive, a semelhança do formato do Plano Piloto com uma expressão da deusa Iris com suas asas abertas. A proliferação em Brasília de edificações no formato piramidal, como a Ermida Dom Bosco, o Templo Boa Vontade e a antiga sede da CEB – já demolida – seriam outros indícios dessas ligações.

Passados cinco mil anos, as influências parecem ter se invertido. Hoje é Brasília que parece inspirar a nova capital egípcia, que está sendo erguida no deserto entre Cairo e o Canal do Suez. Com uma área de 25 mil Km² – cinco vezes maior do que o Distrito Federal - a cidade que nasce nas areias do Saara ainda não tem nome oficial. No Cairo, chamam-na de Nova Capital, Nova Cairo ou apenas capital administrativa.

A meta é que até o final do ano que vem, 52 mil funcionários públicos serão transferidos para as novas estruturas. Até 2050, a nova deverá abrigar uma população de 7 milhões de habitantes. Iniciada em 2015, a cidade é bastante futurística, embora com traços que lembrem raízes históricas do país.

Projeto de US$ 58 bilhões

O projeto urbanístico da empresa norte-americana Skidmore Owings & Merrill prevê a execução da cidade em três etapas. A primeira envolve o Executivo e o Legislativo, custará US$ 58 bilhões – financiado pela China e Emirados Árabes - e ficará pronta até 2030. A segunda envolve a fixação de cidadãos não funcionários públicos. E, por fim, o Judiciário.

Semelhanças urbanísticas

Não pode se afirmar que a cidade tenha sido inspirada em Brasília, mas é perceptível a semelhança. O projeto prevê a cidade dividida em setores, como o fez Lucio Costa há mais de 60 anos. São 21 distritos residenciais e 25 distritos dedicados.

Esses últimos equivalem aos setores que organizam o espaço urbano de Brasília. Lá haverá o governamental, o comercial e o denominado downtown (centro) district. Nesta última, espigões com mais de 80 andares – um prédio de 385 metros de altura promete ser o mais alto da África – formarão um núcleo para receber bancos e financeiras. Será a city egípcia.

Haverá ainda os distritos de hotéis e shoppings, o dedicado às artes e às ciências e os setores residenciais. Alguns desses setores se assemelham às superquadras de Brasília, porém em formato circular. Os prédios em seu interior terão dez andares, sem piloti.

Os bairros serão interconectados por um lago artificial, denominado Rio Verde. Quando completo, terá a extensão de 35 quilômetros. Um grande parque e estádio de futebol tornarão a vida menos árida na nova capital.

Outra semelhança é com a Esplanada dos Ministérios de Brasília. Na Nova Cairo, o prédio do parlamento, cuja construção envolve 6.400 operários, se impõe sobre uma grande esplanada no distrito governamental.

Ao contrário dos ministérios brasileiros, que têm forma de lâminas, os do Egito serão no formato de cubos. À frente do parlamento, a Praça do Povo faz lembrar a simbologia do espaço projetado para a Praça dos Três Poderes. À frente da praça, está prevista a instalação do “maior mastro de bandeira do mundo”, que reverenciará com a bandeira nacional os mártires do país.

SAIBA +

O que leva um país quebrado e se valendo do FMI a construir uma nova capital? Na prática, o Egito se rende à constatação de que Cairo, com 25 milhões de habitantes, não tem mais jeito e uma nova cidade se faz necessária para aliviar a sua superlotação.

Mas esse é o tema da próxima semana. Até lá.

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