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Pelaí – páginas 2 e

Caso as mobilizações prometidas em número chegassem a Brasília, Bolsonaro faria da Paulista, à tarde, apenas seu palco de completo sucesso. O presidente contava com pelo menos um milhão de pessoas em Brasília. Com isso, a pressão sobre as outras polícias dos estados seria insustentável”.

“Percebendo a fúria com que os bolsonaristas progrediam destruindo as barreiras na Esplanada, seguidos da complacência inicial da PM, vários atores políticos passaram a ligar incessantemente para Ibaneis, e a usar as redes sociais para denunciar o estopim do golpe.

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“A ‘grita’ inicial chegou ao presidente do STF, Luiz Fux, que, com a Corte em uníssono, entrou em contato direto com a PM do DF exigindo providências. A resposta inicial da PM foi protocolar. O Supremo não é a autoridade imediata a quem a PM seria obrigada a responder. A Constituição, por sua vez, diz que as PMs estão subordinadas ao Exército.

GOLPE DE MESTRE – “Fux ligou direto para os comandantes militares, ainda durante a madrugada, avisando que caso as PMs seguissem o comportamento leniente, ele (Fux) chamaria a GLO e convocaria as Forças Armadas para deter os manifestantes.

O que o STF fez foi adiantar

O tom do golpe

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Na segunda-feira (6), bolsonaristas romperam barreiras e entraram na Esplanada sem resistência da polícia

uma tomada de decisão do Exército. As Forças Armadas esperavam primeiro a mobilização popular prometida, para então apoiarem o levante. Estavam, naquela madrugada, portanto, aguardando. O STF, contudo, exigiu uma posição imediata do Exército”.

“Na prática, tivessem os militares desobedecido Fux e no dia 7 as manifestações ‘flopassem’, os comandantes militares seriam processados por insubordinação e sairiam culpados de sedição. O preço era alto demais”.

No meio desse imbróglio, duas figuras trabalhavam. De um lado, Alexandre de Morais, de posse das informações de inteligência, mapeava o financiamento dos movimentos e bloqueava as contas certas e as chave-pix, asfixiando os financiadores de Bolsonaro. Muitas caravanas de locais perto de Brasília não puderam sair por conta da falta de dinheiro. O resultado foi o número reduzido de apoiadores.

“O outro ator que agia em silêncio era o vice-governador do DF, Paco Britto (Avante), que atuou diretamente com a PM. Na falta de Ibaneis, a desculpa da PM para a inação não seria mais possível. O comportamento ambíguo do GDF (ora apoiando Bolsonaro ora obedecendo ao STF) já tensionava o ambiente.”

“Britto, no entanto, compreendeu que recairia sobre ele toda a culpa de uma malfadada sedição que ocorresse na PM de Brasília. Novamente, o STF aumentava o custo da tomada de decisão e o vice precisou garantir a PM “na linha”.

A tensa madrugada do dia 6 de setembro, que virou com fogos de artifício o tempo todo, determinou o fracasso do golpe do dia 7. O STF subiu o custo das ações políticas dos outros agentes e diminuiu o acesso destes agentes às informações que precisavam para a tomada de decisão.

“As ações não foram coordenadas entre os atores políticos que saíram denunciando a posição claudicante da PM no dia 6 e o STF que colocou “a faca nos peitos” dos comandantes militares, mas, de alguma forma, elas foram complementares.

STF impediu manobra de Bolsonaro

De acordo com o que publicaram os jornalistas Fernando Horta e Gustavo Conde, os protestos convocados por Bolsonaro serviram para mobilizar a classe política para o impeachment. “Bolsonaro se expôs sem filtro ao País, dissipando qualquer dúvida sobre suas intenções golpistas e messiânicas”.

Mas, segundo a dupla, “os acontecimentos foram mais complexos do que isto. Houve uma tentativa clássica de golpe frustrada pela Suprema Corte em madrugada de altíssima tensão”. É consenso que o que ocorreu no dia 7 de setembro foi uma tentativa de golpe”.

Horta e Conde contam que, no dia 6, quase todos os hotéis mais baratos de Brasília estavam lotados. Esse movimento não passou despercebido pelo STF e pelo aparato de inteligência por ele montado - já que PF e a ABIN foram sequestradas por Bolsonaro.

A partir das 12h do dia 6, a PM do DF iniciou os planos de isolamento da Esplanada dos Ministérios, como parte do plano de segurança que é imposto compulsoriamente em dia de manifestações.

“Por volta das 18h, numa ação claramente planejada em moldes militares, bolsonaristas resolveram ‘testar a água’. Um grupo de cerca de 600 pessoas passou a retirar as barreiras e abrir espaço para que os grandes caminhões, que já estavam na cidade, rompessem o bloqueio”. A PM não ofereceu resistência.

“Do lado ‘de cima’, Ibaneis (...) convenientemente não estava presente no DF. Ou seja: estava tudo armado para uma "pequena" indisciplina da PM de Brasília, pretexto para que se incendiasse o país inteiro. Tudo passaria como uma azarada ‘falta de ordenamento’ em função da ausência do governador”.

JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Você sabe o que é caviar?

Júlio Miragaya (*)

AGÊNCIA BRASIL

“Nunca vi nem comi, eu só ouço falar”. Assim respondia Zeca Pagodinho na composição “Caviar”, de Barbeirinho, Diniz e Luiz Grande, de 2002. E adiante: “na mesa de poucos, fartura adoidado, mas se olhar pro lado, depara com a fome”.

Em seu estilo irreverente, Zeca retratou o que é a concentração da renda e da riqueza, fenômeno que não é exclusivo do Brasil, pois é marca registrada do sistema capitalista em seu atual estágio de senilidade, mas aqui agravado pelas reformas liberais promovidas por Temer/Bolsonaro.

No artigo anterior, informei que, segundo a Forbes, o País ganhou 42 novos bilionários em 2021, com patrimônio superior a R$ 1 bilhão. Agora são 315 os bilionários brasileiros, com Jorge Lemann no topo, com R$ 100 bilhões. Ao mesmo tempo, cresceu o desemprego, a miséria e a fome.

Na Biologia, chama-se amensalista a relação entre animais ou plantas que prosperam às custas da destruição de outras espécies, sendo parasitismo um termo mais apropriado. E retrata também a relação entre os muito ricos e os pobres e miseráveis, entre a burguesia e a classe trabalhadora.

É resultado da lógica capitalista e de políticas liberais que beneficiam uma minoria e prejudicam milhões. Para além da extração da mais-valia, são muitos os mecanismos de concentração da renda e da riqueza: sistema tributário regressivo; política cambial; política monetária; inflação; investimentos públicos em infraestrutura e C,T&I gerando externalidades positivas para o capital; política de arrocho salarial (apropriação da produtividade do trabalho pelo capital); etc.

Por exemplo, em 2002, com FHC, o salário mínimo era de R$ 200. Como resultado da instituição da política de aumentos reais por Lula/Dilma, passou para R$ 880 em 2016. Ganho real de 76% no período e redução da concentração da renda no Brasil.

Mas, uma das primeiras medidas pós-golpe foi o fim desta política. Desde então, o mínimo sequer acompanha a inflação. Bolsonaro reajustou o SM de 2021 em 5,26% enquanto a inflação dos alimentos (61% dos gastos das famílias com renda de até 2 SM) foi de 18,15%.

Para 2022, Bolsonaro anunciou SM de R$ 1.169. Reajuste de 6,27%, ignorando a alta de 9% do IPCA em 12 meses e o previsto aumento de 5% no PIB, que, com Lula, resultaria em reajuste de 14,5%. R$ 69 de aumento mal dão para comprar o ovo, a farofa e torresmo que o personagem interpretado por Zeca consome em sua casa.

GADO – O falastrão Bolsonaro tuitou que reuniria 2 milhões de apoiadores na Paulista e um milhão em Brasília. Mesmo rolando um “jabá”, não juntou um décimo ou vigésimo do previsto. Afinal, qual o tamanho do seu rebanho?

Pesquisa do Datafolha revelou que os ‘bolsonaristas convictos’ não passam de 12% do eleitorado – cerca de 16 milhões, muito distante dos 57 milhões que o elegeram. Seu estereótipo é de homem branco, meia idade, empresário, ruralista ou autônomo, renda média-alta e morador do Centro-Sul. São pró-ditadura, racistas, misóginos, homofóbicos, falsos patriotas e falsos cristãos. Embora muitos, são franca minoria.

O nó da questão são os outros 41 milhões que em 2018 votaram em Bolsonaro, não por convicção, mas seguindo a pregação antipetista da grande mídia. O que farão em 2022?

Enfim, após o circo bolsonarista, o Brasil volta à realidade de 600 mil mortos pela negligência de Bolsonaro no combate à covid, 20 milhões de desempregados e 40 milhões em situação de extrema pobreza.

Ah! E de 42 novos bilionários.

(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia

O que pretende Bolsonaro?

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J. B. Pontes (*)

Deses perado e acuado pela crescente perda de popularidade, de apoio e pela péssima avaliação de seu governo, comprovada por diversas pesquisas, Bolsonaro quer desviar o foco de seu fracasso como governante. Sabe que as suas chances de reeleição são cada vez menores e, por isso, quer “virar ma mesa” desde já.

Mas o que mais o preocupa é a real possibilidade de prisão de seus familiares. O Judiciário avança nas investigações das rachadinhas, das fake news e da promoção de atos contra a democracia. Por isso, tanto se empenha em paralisar o esforço do ministro Alexandre de Moraes para punir todos os culpados. Quer a garantia de que ele e seus familiares não sejam punidos. Bolsonaro tenta intimidar os demais Poderes a não avançarem nas investigações contra ele próprio e seus familiares. Para isso, foca toda sua ira contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, o que mais se empenha para barrar as falcatruas e investidas de Bolsonaro e sua família e aliados contra o Estado Democrático de Direito.

Esquece-se Bolsonaro de que o Moraes, ao decretar as prisões de seus aliados, tão somente atende aos pedidos feitos pela Procuradoria Geral da República. Além disso, seu ódio volta-se, em menor intensidade, contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, que ele considera o responsável pela não aprovação do voto impresso, como tanto desejava.

A alegação, não comprovada, é da possibilidade de fraude nas eleições por meio das urnas eletrônicas, o que também é um absurdo. As urnas eletrônicas vêm sendo empregadas no Brasil há vários anos, sem que nunca se tenha notícia de fraudes comprovadas, a exemplo do que ocorria antes com o voto impresso. A contradição é tão gritante se relembrarmos que ele, Bolsonaro, foi eleito pelo processo de urnas eletrônicas...

Ao arrepio da Constituição, quer que esses ministros sejam afastados. Já tentou instaurar, no Senado, um processo de impeachment de Alexandre de Moraes, rejeitado liminarmente pelo Presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, seu aliado, tão absurda era a pretensão dele. Da mesma forma, o voto impresso foi, por sua insistência, analisado pela Câmara dos Deputados que rejeitou a implantação de tal processo de votação.

Ao que tudo indica, Bolsonaro não quer mais eleição, mas sim se tornar ditador do Brasil. Sabendo que não conseguirá se reeleger, promove, com nossos recursos e com a compra de apoiadores por empresários que estão se dando bem, a exemplo daqueles do agronegócio, todo esse tumulto, com o claro objetivo de colocar em risco a nossa democracia. No entanto, os indicadores mostram que os desvarios alucinatórios de Bolsonaro de vir a se tornar ditador não têm respaldo na sociedade nem nas Forças Armadas, tampouco nas demais instituições, e seria rejeitado pela comunidade internacional.

As instituições têm agora que analisar esse cenário e as ameaças que ele faz e tomar as devidas providências, se quiserem salvar a nossa democracia. As opções são: salvar a democracia, agindo com firmeza contra as ameaças que Bolsonaro vem fazendo, ou ceder aos seus caprichos.

O que mais ele quer, repito, é que as instituições deixem impunes todos os crimes praticados por ele, seus familiares e apoiadores.

(*) Advogado

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