Brasília Capital 531

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Brasília Capital n Política / Pelaí

n 3 n Brasília, 11 a 17 de setembro de 2021 - bsbcapital.com.br

O tom do golpe Caso as mobilizações prometidas em número chegassem a Brasília, Bolsonaro faria da Paulista, à tarde, apenas seu palco de completo sucesso. O presidente contava com pelo menos um milhão de pessoas em Brasília. Com isso, a pressão sobre as outras polícias dos estados seria insustentável”. “Percebendo a fúria com que os bolsonaristas progrediam destruindo as barreiras na Esplanada, seguidos da complacência inicial da PM, vários atores políticos passaram a ligar incessantemente para Ibaneis, e a usar as redes sociais para denunciar o estopim do golpe. “A ‘grita’ inicial chegou ao presidente do STF, Luiz Fux, que, com a Corte em uníssono, entrou em contato direto com a PM do DF exigindo providências. A resposta inicial da PM foi protocolar. O Supremo não é a autoridade imediata a quem a PM seria obrigada a responder. A Constituição, por sua vez, diz que as PMs estão subordinadas ao Exército. GOLPE DE MESTRE – “Fux ligou direto para os comandantes militares, ainda durante a madrugada, avisando que caso as PMs seguissem o comportamento leniente, ele (Fux) chamaria a GLO e convocaria as Forças Armadas para deter os manifestantes. O que o STF fez foi adiantar

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Na segunda-feira (6), bolsonaristas romperam barreiras e entraram na Esplanada sem resistência da polícia uma tomada de decisão do Exército. As Forças Armadas esperavam primeiro a mobilização popular prometida, para então apoiarem o levante. Estavam, naquela madrugada, portanto, aguardando. O STF, contudo, exigiu uma posição imediata do Exército”. “Na prática, tivessem os militares desobedecido Fux e no dia 7 as manifestações ‘flopassem’, os comandantes militares seriam processados por insubordinação e sairiam culpados de sedição. O preço era alto demais”. No meio desse imbróglio, duas figuras trabalhavam. De um lado, Alexandre de Morais, de posse das informações de inteligência, mapeava o financiamento dos movimentos e bloqueava

as contas certas e as chave-pix, asfixiando os financiadores de Bolsonaro. Muitas caravanas de locais perto de Brasília não puderam sair por conta da falta de dinheiro. O resultado foi o número reduzido de apoiadores. “O outro ator que agia em silêncio era o vice-governador do DF, Paco Britto (Avante), que atuou diretamente com a PM. Na falta de Ibaneis, a desculpa da PM para a inação não seria mais possível. O comportamento ambíguo do GDF (ora apoiando Bolsonaro ora obedecendo ao STF) já tensionava o ambiente.” “Britto, no entanto, compreendeu que recairia sobre ele toda a culpa de uma malfadada sedição que ocorresse na PM de

Brasília. Novamente, o STF aumentava o custo da tomada de decisão e o vice precisou garantir a PM “na linha”. A tensa madrugada do dia 6 de setembro, que virou com fogos de artifício o tempo todo, determinou o fracasso do golpe do dia 7. O STF subiu o custo das ações políticas dos outros agentes e diminuiu o acesso destes agentes às informações que precisavam para a tomada de decisão. “As ações não foram coordenadas entre os atores políticos que saíram denunciando a posição claudicante da PM no dia 6 e o STF que colocou “a faca nos peitos” dos comandantes militares, mas, de alguma forma, elas foram complementares.

STF impediu manobra de Bolsonaro De acordo com o que publicaram os jornalistas Fernando Horta e Gustavo Conde, os protestos convocados por Bolsonaro serviram para mobilizar a classe política para o impeachment. “Bolsonaro se expôs sem filtro ao País, dissipando qualquer dúvida sobre suas intenções golpistas e messiânicas”. Mas, segundo a dupla, “os acontecimentos foram mais complexos do que isto. Houve uma tentativa clássica de golpe frustrada pela Suprema Corte em madrugada de altíssima tensão”. É consenso que o que ocorreu no dia 7 de setembro foi uma tentativa de golpe”.

Horta e Conde contam que, no dia 6, quase todos os hotéis mais baratos de Brasília estavam lotados. Esse movimento não passou despercebido pelo STF e pelo aparato de inteligência por ele montado - já que PF e a ABIN foram sequestradas por Bolsonaro. A partir das 12h do dia 6, a PM do DF iniciou os planos de isolamento da Esplanada dos Ministérios, como parte do plano de segurança que é imposto compulsoriamente em dia de manifestações. “Por volta das 18h, numa ação claramente planejada em moldes militares, bolsonaristas resolve-

ram ‘testar a água’. Um grupo de cerca de 600 pessoas passou a retirar as barreiras e abrir espaço para que os grandes caminhões, que já estavam na cidade, rompessem o bloqueio”. A PM não ofereceu resistência. “Do lado ‘de cima’, Ibaneis (...) convenientemente não estava presente no DF. Ou seja: estava tudo armado para uma "pequena" indisciplina da PM de Brasília, pretexto para que se incendiasse o país inteiro. Tudo passaria como uma azarada ‘falta de ordenamento’ em função da ausência do governador”.

JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Sede do STF, em Brasília


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