Jornal Brasília Capital 395

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JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL

Ou educa ou enxuga gelo

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Secretário afirma que a educação é o único caminho para fechar a torneira das desigualdades e da miséria na sociedade Ano IX - 395

Páginas 4 e 5

Brasília, 6 a 18 de janeiro de 2019

R$ 2 bi sonegados em IPTU e IPVA

ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

www.bsbcapital.com.br

ENTREVISTA RAFAEL PARENTE

Moradores do Lago Sul, bairro mais rico de Brasília, são os melhores pagadores de IPTU. Perto dali, no Park Way, está o maior índice de inadimplência do tributo na capital da República

Levantamento exclusivo do colunista Chico Sant’Anna aponta que, em 2017, de cada 100 imóveis no DF, 25 não haviam pago o IPTU. Em 2018, a inadimplência aumentou para 28%. A dívida com o tributo apenas nesses dois anos ultrapassa R$ 1,5 bilhão. Nesses cálculos também não está contabilizada a Taxa de Limpeza Urbana (TLP). Os piores pagadores estão no Park Way. Os melhores no Lago Sul. A sonegação também é grande quando o assunto é o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). No mesmo período, o rombo beira os R$ 300 milhões. Páginas 7, 8 e 9

Briga de foice na Fecomércio

ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

Bares abertos para crianças

Renúncia de Adelmir Santana abre disputa entre dirigentes sindicais pela presidência da entidade. Édson de Castro (foto), que comanda o Sindivarejista, está na disputa.

Estabelecimentos montam brinquedotecas para atrair pais em busca de um tempinho para comer, beber e conversar sosegados

Ricardo Ferrer fecha trilogia com “A Saga de Júlia”

Pelaí - Página 3

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Brasília Capital n Opinião n 2 n Brasília, 6 a 18 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

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ARTIGO

x p e d i e n t e

Onde residem as mudanças? Diretor de Redação Orlando Pontes ojpontes@gmail.com Diretor Comercial Júlio Pontes comercial.bsbcapital@gmail.com Pedro Fernandes (61) 98406-7869 Diagramação / Arte final Thiago Oliveira artefinal.mapadamidia@gmail.com (61) 9 9117-4707 Diretor de Arte Gabriel Pontes redação.bsbcapital@gmail.com Tiragem 10.000 exemplares Distribuição Plano Piloto (sede dos poderes Legislativo e Executivo, empresas estatais e privadas), Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Riacho Fundo, Vicente Pires, Águas Claras, Sobradinho, SIA, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Lago Oeste, Colorado/Taquari, Gama, Santa Maria, Alexânia / Olhos D’Água (GO), Abadiânia (GO), Águas lindas (GO), Valparaíso (GO), Jardim Ingá (GO), Luziânia (GO), Itajubá (MG), Piranguinho (MG), Piranguçu (MG), Wenceslau Braz (MG), Delfim Moreira (MG), Marmelópolis (MG), Pedralva (MG), São José do Alegre, Brazópolis (MG), Maria da Fé (MG) e Pouso Alegre (MG). C-8 LOTE 27 SALA 4B, TAGUATINGA-DF - CEP 72010-080 - Tel: (61) 3961-7550 - bsbcapital50@gmail.com - www.bsbcapital.com.br - www. brasiliacapital.net.br

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Maria Fátima de Sousa (*)

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urpreenderam-me as notícias acerca do estado de emergência na saúde pública do DF. Durante a campanha, o governador fez diversas promessas de resolver os problemas do setor, e todos nós sabemos a origem histórica da falta de atenção com a implantação do SUS na capital da República. Esse tipo de ação emergencial tem sido uma prática dos mais diferentes governos. Apresentamos propostas estruturantes à rede de atenção integral à saúde. Elas passam pela reestruturação dos hospitais, fortalecimento da Atenção Básica, interconexão das UPAs, criação de uma câmara de negociação permanente com os profissionais da área, entre outras iniciativas. As promessas eleitoreiras já passaram pelos governos de Roriz (que extinguiu o Saúde em Casa); a Secretaria foi abandonada por Arruda; negligenciada por Agnelo; e não foi prioridade para Rollemberg, cuja maior iniciativa foi privatizar o HBB, que em nada contribuiu para enfrentar a crise no setor. Agora, o novo governo repete a mesma receita para velhas doenças. A olhos vistos, faltam insumos mais simples, como gazes, soro, agulhas, lençois, medicamentos básicos, até o mais grave: a falta de humanidade. Tratam o bem supremo da nossa gente - a vida com saúde digna - como mercadoria.

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nHélio Doyle O governo Ibaneis já mostra muito serviço, mesmo antes de tomar posse. Será um governo comprometido com as verdadeiras demandas da população! Brasília será muito melhor! Fabiano Campos, via bsbcapita.com.br Ibaneis vai fazer bom go-

verno, embora esteja sentado num pau de galinheiro. Em seu primeiro ano muita gente vai rodar por ineficiência e problemas jurídicos. Vai cumprir sua obrigação partidária, ficar livre dela e a partir do segundo começará a dar certo. Alerto-o que ele deve criar a Secretaria de Custos, e que ele seja eficiente nas licitações, que causaram graves lesões

Novo governo, de paletó remendado, repete a mesma receita para velhas doenças Decretar estado de emergência indica adiar os problemas e criar elementos facilitadores às compras e contratações sem licitação, a exemplo da ampliação de carga horária de efetivo e contratações temporárias. E o governador, diferente do que falou na campanha, toma o Instituto Hospital de Base como “ilha de excelência”, a ser extensiva para toda a rede assistencial (palavras dele). No mínimo, esperávamos que instalasse uma auditoria em todos os setores da Secretaria de Saúde; que explicasse à população como são as despesas para manutenção do IHB-DF, lembrando que, além de não respeitarem o cronograma de pagamentos da Secretaria de Saúde, não é de domínio público quanto recebem os profissionais contratados, sem concurso, para gerir o Instituto. Esperava-se que fosse republicano e mostrasse à população que os contratos estão em dia, segundo relatório da SES. E, se as contas estão em dia, seguir comprando sem licitação, não se justifica. Quanto aos contratos, é de domínio público que eles foram feitos pela

gestão passada de forma enxuta porque durante todo o exercício do governo recém-passado o TCDF e o MP não deram trégua, o que inclusive gerou atrasos em alguns, como o do Home Care. O que mudou em poucos dias? Esperava-se, sobretudo, que o governador colocasse os cargos à disposição dos servidores de carreira, o que ouvimos dele nos diversos debates. Ao contrário, os distribuiu segundo seus compromissos de campanha, leia-se apadrinhados políticos. Os critérios? Valores altos dos cargos. Conhecimento, competência e qualificações técnicas para a função, perderam o sentido. São pessoas que não sabem nada do SUS, muito menos da estrutura organizacional da SES e dos processos de trabalho. Portanto, a SES foi leiloada, assim como a composição do secretariado, advinda do ex-governo Temer e de fora do DF. É preciso alertar a população que decretar emergência, outra vez, tem receita certa: adiar o problema, sucatear a rede assistencial e transferir mais e mais recursos públicos para entidades privadas, com a compra de serviços às entidades do complexo-médico-industrial. Esses atalhos às regras da administração pública o DF já conhece há décadas. Logo, cabe a pergunta: onde residem as mudanças prometidas?

(*) Professora da UnB e ex-candidata a governadora pelo PSol

a r t a s

aos cofres do DF. Marcos Pimenta Rocha, via Facebook Mais uma excelente entrevista do Brasília Capital, principalmente quando toca na questão: "Aí não foi um erro estratégico? Não foi aí que gerou a imagem que o governo não conseguiu desconstruir até o fim?". Concordo plenamente com o entrevistador. O sistema

de imprensa vigente no País não aceita que o Estado deixe de gastar com propaganda. O "toma-lá-dá-cá" não acontece apenas entre o Legislativo e o Executivo, mas de forma generalizada na sociedade. Joseph Santos, via Facebook Sobre entrevista com o responsável pela Comunicação nos primeiros seis meses de Rollemberg.

nNatal do Diabo O Natal é uma festa cristã, celebração do nascimento de Jesus. Isso é mais uma afronta aos cristãos. Se fala em tolerância, em respeito e diversidade. Então cadê o respeito à nossa fé? Amauri Silva, via Facebook Sobre exposição da Inframérica no aeroporto JK.


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DE OPOSIÇÃO A LÍDER – Mesmo derrotado por Rafael Prudente (MDB), que recebeu o apoio do governador Ibaneis Rocha (MDB) na eleição para a presidência da Câmara Legislativa, o deputado Cláudio Abrantes (PDT) aceitou o convite para ser o líder do governo na Casa. Já seu correligionário Reginaldo Veras continua reclamando de ser mal-tratado pelo Buriti.

Três perguntas para Rollemberg

Briga de foice na Fecomércio DIVULGAÇÃO

ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

De férias em Maceió, o ex-governador Rollemberg (PSB) respondeu a três perguntas do Brasília Capital na sexta-feira (11): Como avalia a redução de cargos e de contratos anunciada por Ibaneis? – Os gastos com servidores e com contratos estão bastante enxutos desde a gestão passada. A redução terá grande impacto na máquina pública. Isto me parece mais um subterfúgio para justificar a dificuldade que terá em cumprir compromissos, em especial com os servidores públicos. Considera necessária a convocação da Câmara Legislativa? – Parece mais uma forma de corrigir erros da própria equipe da transição de Ibaneis na aprovação do orçamento de 2019. Da forma como ficou, incidirão sobre itens da cesta básica, por exemplo, aumentos de 157% em impostos. Este impacto será absorvido pelas pessoas mais pobres. E a manutenção do IHB-DF, que será expandido para outras unidades, mostra que o candidato em campanha não é o mesmo governador que tomou posse. O ex-controlador do DF Henrique Ziller vai exercer a mesma função no governo Caiado, em Goiás. Como vê as nomeações de pessoas de sua gestão para outros governos? – Ziller fará companhia a Ismael Alexandrino, outro excelente nome, que dirigia o IHB-DF e será secretário de Saúde de Goiás. A exportação destes quadros é um reconhecimento pelas experiências de sucesso de nossa gestão.

Governador conhece projeto Marca Brasília em reunião com Francisco Maia (Fecomércio)

Líderes empresariais são recebidos pelo presidente da CNC, José Tadros (centro)

renúncia de Adelmir Santana, segunda-feira (7), transformou a disputa pela presidência da Fecomércio-DF numa guerra de foice no escuro. Três candidatos querem a cadeira que ele ocupou nos últimos 17 anos: o primeiro-vice, Francisco Maia, que assumiu interinamente; e os presidentes do Sindivarejista, Édson de Castro; e do Sindicato das Papelarias, José Aparecido Costa Freire. São 26 sindicatos aptos a votar.

neis Rocha (MDB), enquanto o presidente do Sindicato das Papelarias, José Aparecido Costa Freire, também se movimentou em busca de adesões à sua candidatura.

CONSELHO – Cumprindo o estatuto, Maia convocou para sexta-feira (18) uma reunião extraordinária do Conselho de Representantes da entidade para decidir a forma de substituição. Pelo artigo 49, em caso de afastamento definitivo do presidente assume automaticamente o primeiro-vice. No entanto, o mesmo texto admite que o Conselho pode decidir de forma diferente.

PDV DO SESC - Três dias antes de renunciar à presidência da Fecomércio, Adelmir Santana havia convocado o Conselho Regional Sesc para aprovar novas medidas do Plano de Demissão Voluntária (PDV) da entidade. José Roberto Sfair Macedo deixa a diretoria do Sesc e assume o lugar do professor Luís Otávio da Justa Neves no Senac. Este se aposentará.

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APOIO DA CNC – É nisso que se baseiam os outros postulantes. Édson de Castro, foi sexta-feira (11) ao Rio de Janeiro (foto) pedir apoio ao presidente da Confederação Nacional (CNC), José Roberto Tadros. Em Brasília, Maia teve uma audiência com o governador Iba-

ADELMIR FORA – Já o ex-presidente Adelmir Santana fez questão de esclarecer que não participará do processo. “Todos os candidatos são meus amigos e eram meus vices. Não farei nenhuma manifestação sobre o assunto. Deixem-me fora disso”, disse.

UM TERÇO – Macedo terá direito a todas as indenizações previstas na CLT, mais seis salários de R$ 60 mil e cobertura de plano de saúde por seis anos. Os mesmos benefícios serão concedidos a Justa Neves. Macedo comandará o Senac recebendo R$ 23 mil mensais, um terço do salário que tinha no Sesc.

O outro pizzaiolo Responsável pela indicação do novo administrador de Águas Claras, o deputado federal eleito Julio Cesar (PRB) promoveu uma grande trapalhada. Por recomendação do governador Ibaneis Rocha (MDB), deveria acertar os ponteiros com Ney Robsthon Otaviano de Almeida, dono da Quatro Pizzaria Mas acabou sondando o dono do restaurante do Rubinho, Rubens Costa (foto). Ou seja, o pizzaiolo de Ibaneis era o outro...

Escolas padrão Fifa A entrevista do secretário de Educação Rafael Parente ao Brasília Capital, quarta-feira (9) – leia nas páginas 4 e 5 –, foi interrompida por um telefonema do senador Cristovam Buarque (PPS). Ele queria falar de seu projeto de Escola Ideal, que o GDF deve iniciar por São Sebastião.

Saboreando ostras Num vídeo que circula no WhatsApp, o administrador do Itapoã Alessander Capalbo ostenta riqueza comendo ostras numa praia em Maceió. Ele classificou o blog que divulgou as imagens de “maldoso, sem credibilidade e que solta notícias tendenciosas para extorquir pessoas”. Ao Brasília Capital, o ex-padre afirmou que à época das filmagens não exercia nenhum cargo público e que foram suas primeiras férias em sete anos. “O governador Ibaneis já me ligou e disse que eu ficasse tranquilo e seguisse minha vida”. Ele tem fé de que o episódio não abalará sua nomeação.


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Que diagnóstico o senhor faz da Educação de Brasília? – Acredito que numa perspectiva nacional a gente está bem. No principal ranking, o do Ideb, o DF está na quarta ou quinta colocação, dependendo de qual etapa de escolarização se observe. Temos excelentes profissionais e uma proporção muito grande de mestres e doutores. E não é só isso. Temos gente muito bem formada aqui na nossa rede. Essas pessoas não estão subaproveitadas? – Acho que é mais uma questão de desmotivação, baixa autoestima. Pessoas não acreditando que podem fazer um bom trabalho. Seria uma consequência dos baixos salários? – Também. Mas é muito além disso. A gente precisa de um propósito, inclusive de um projeto político-pedagógico da rede. Precisamos entender que estamos fazendo um bom trabalho e que queremos virar referência em educação de novo. Houve uma época áurea da educação do DF, que era referência nacional e que todo mundo aplaudia. Anísio Teixeira é resgatável? – Eu acho que sim, de forma adaptada. Estamos vivendo uma quarta evolução industrial. A sociedade está muito diferente. A gente pode pegar as mesmas ideias, modernizá-las e implementar na rede de educação de Brasília. Por exemplo, o conceito das Escolas Parques, com educação integral e complementada? – Vários dos conceitos que estavam lá atrás são supermodernos. Mas, ao mesmo tempo, precisa-se integrá-los a coisas que avançaram muito. Hoje, por exemplo, a gente tem o uso de novas tecnologias, e isso não pode ser ignorado dentro de um contexto das escolas parque. A gente tem

avanços muito fortes nas neurociências. Seria uma escola parque virtual, a distância? – Não. Não tem como você fazer uma educação integral, promover um desenvolvimento de todas as dimensões humanas sem o olho no olho. Sem o toque, sem o contato físico entre pessoas. Nenhuma educação completamente a distância é uma educação integral, completa. Pra você desenvolver as dimensões humanas, é preciso uma interação humana real. Paulo Freire tem espaço na sua pedagogia? – Paulo Freire tem várias obras incríveis. É o patrono da educação no Brasil. Já li vários livros dele. Ele tem falas incríveis e outras que são voltadas para o Marxismo. Então, algumas coisas a gente pode aproveitar

“Professor hoje não é mais aquele que chega e manda todo mundo calar a boca, escreve no quadro e manda os alunos copiarem. Não é mais assim” na educação e outras são mais complicadas. Ele foi o criador da pedagogia do oprimido, da esperança, enfim. Não existe um filósofo da educação mais importante. Outra coisa é que existe muita interpretação errada em relação ao trabalho dele. As pessoas costumam casar muito a teoria dele com o construtivismo, mas ao mesmo tempo um construtivismo que não foi bem implementado no Brasil e na Argentina. Então, é um debate complexo. Tem muita coisa para falar de Paulo Freire que precisamos reconhecer e que pode ser implementado em nossas escolas. Agora, existem coisas mais complicadas, como eu disse.

ENTREVISTA RA

Ou educa ou Como está sua relação com o Sindicato dos Professores? – Estamos fazendo reunião com o Sinpro uma vez por semana. A pauta tem sido salarial ou pedagógica? – As duas coisas. Na verdade, várias coisas, como condições de trabalho, salariais, pauta pedagógica, plano distrital de educação... Uma das bandeiras do Sinpro é o pagamento da pecúnia dos aposentados. O GDF vai continuar pagando? – É uma questão complicada, porque não é só relacionado aos profissionais da educação. Está relacionado a todos os servidores. É uma dívida gigantesca. O ideal seria acelerar o pagamento das pecúnias e conceder as licenças-prêmio para não se contrair mais dívidas. Estamos estudando, enquanto governo, como diminuir o aumento da dívida e ao mesmo tempo aumentar o pagamento. Administrações passadas tiveram um embate com os professores, inclusive supondo que existia uma indústria de atestados médicos, que deixa muitos professores fora de sala de aula. Qual o seu diagnóstico? – Tem uma série de coisas. Primeiro: a nossa sociedade está cada vez mais doente, com síndrome do pânico, ansiedade, suicídio. O mundo hoje está adoecendo mais. Para os professores, é complicado. Professor hoje não é mais aquele que chega e manda todo mundo calar a boca, escreve no quadro e manda os alunos copiarem. Não é mais assim. Tem a vio-

“A Educação é o único caminho para fechar a torneira das desigualdades e da reprodução da miséria na sociedade”

Chico Sant’Anna e Orlando Pontes

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ascido e criado em Brasília, Rafael Parente, 41 anos, começou a dar aulas de inglês aos 17 em cursinhos e para amigos e familiares. Em seu primeiro vestibular, passou em primeiro lugar para Economia na UnB. Mas só cursou um semestre. Passou no vestibular do Ceub e formou-se em Publicidade. Ministrava suas aulas durante o dia e estudava à noite. A convite de uma amiga, em 1999 e 2000 participou, no Centro Comunitário do Varjão, de sua primeira experiência com comunidades carentes. “Aquilo me fez questionar e refletir muito sobre a minha vida. Foi o meu primeiro contato real com a pobreza”, emociona-se. “Comecei a ter relação de afeto com as crianças e os jovens, ao ponto de elas me chamarem de pai, o que me fez refletir sobre muitas coisas. Com 18 anos, eu achava que tinha problemas que na verdade eu não tinha. Eu tinha uma casa, comida, família”. Sua maior referência para o magistério foi sua mãe, Maria Lúcia, que era professora. “Eu a via na sua prática de educação, mas ela não queria que eu fosse para a área de educação. Mas eu gostava de vê-la planejando aulas e eventos, corrigindo provas e cadernos, e pedia para ajudá-la. Achava aquilo muito bom. Desde criança eu já queria ir para a área”. Após a experiência no Varjão, Parente avisou aos pais que realmente queria ficar na área de educação. Nunca atuou na Publicidade, em que se formou. “Eu via


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FAEL PARENTE

enxuga gelo JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL

uma desigualdade ali, e não conseguia mais ficar tranquilo. Não achava justo a gente ter crianças miseráveis, que não têm nada, enquanto eu tinha tudo de que precisava para uma vida confortável e de qualidade”. Nesta entrevista ao Brasília Capital, o secretário de Educação fala de seu ideal de “fechar a torneira das desigualdades, da reprodução da miséria na sociedade” por meio da promoção da educação de qualidade para todos. “Não há outra maneira. Por mais que a gente possa ter políticas de redistribuição de renda, se não resolvermos a educação, continuaremos enxugando gelo”. Após decidir dedicar sua vida à transformação da educação no Brasil, Parente matriculou-se como aluno especial na UnB e depois foi estudar fora do País. Fez mestrado de gestão de educação na Universidade de Pace, nos Estados Unidos. O curso era baseado em problemas que as escolas americanas enfrentavam. Já o doutorado PhD na NY University, que fez em seguida, olhava para a educação internacional e desenvolvimento, observando como diferentes áreas do mundo entendem a educação e que link existe entre educação e desenvolvimento sócioeconômico e cultural humano. Ao retornar ao Brasil, em 2008, Parente foi trabalhar como pesquisador da educação no Rio de Janeiro, onde reencontrou a amiga de seu pai, Pedro Parente (ex-presidente da Petrobras), Claudia Costin, então secretária municipal de Educação. Foi ela que, no final do ano passado, sugeriu seu nome à deputada federal eleita Paula Belmonte (PPS), que o indicou para a Secretaria de Educação de Ibaneis Rocha (MDB).

que invade a escola, porque ali é uma microssociedade. Como você não consegue blindar os professores disso, é óbvio que eles vão adoecer, estressar, etc. A porcentagem de atestado médico de professor no DF não é a maior. A gente está dentro da média nacional. O senador Cristovam Buarque apresentou várias sugestões para a sua área ao governador Ibaneis. Quais delas o senhor pretende encampar? É plausível a proposta de criar cidades-modelo para experiências educacionais? – Acho que é viável. Vai depender do quanto de recursos extras vamos conseguir com parcerias com MEC, FNDE, etc. A gente está pensando em pegar uma das coordenadorias regionais e fazer isso. Qual? – A primeira ideia seria em São Sebastião. Mas, isso são planos. Não tem nada fechado ainda. Por que São Sebastião? – Porque é o lugar que tem menos escolas e mais turmas superlotadas. O ambiente das escolas não desmotiva aluno e professores? Por que a escola do Plano Piloto pode ser bonitinha e a da periferia tem que ser parecida com uma penitenciária? – Primeiro tem o status socioeconômico de cada localidade. São realidades completamente diferentes. Mas o dinheiro do Estado é o mesmo... – Sim. Mas é uma questão de segurança do Plano Piloto, que é diferente.

Existe uma questão de gestão que precisa se resolver também. A escola da 302 Sul, por exemplo, é apadrinhada pela Câmara dos Deputados. Ou seja, vai mais recurso para lá. O senhor pretende aumentar a integração com as forças de segurança, principalmente com a PMDF? – Sim. Já tivemos conversas com eles. O batalhão escolar já chegou a ter mais de mil pessoas. Hoje não tem 300. O ideal é que a gente consiga melhorar. Tem outras coisas que podemos fazer para que haja no ambiente escolar relações de afeto entre as pessoas que estão ali. O senhor sofreu uma rejeição de setores conservadores da política local porque vinha mantendo uma posição firme em de-

“A partir do momento que eu aceitei o convite do governador para ser secretário de Educação, eu assumi também o que ele disse durante a campanha” fesa de uma escola que assegure a capacidade crítica dos alunos. Mas parece que recuou. Como vê a questão da ideologia de gênero? – O que eu falei foi que a partir do momento que eu aceitei o convite do governador para ser secretário de Educação, eu assumi também o que ele disse durante a campanha. Esses compromissos serão cumpridos. Eu não posso fingir que não existiu um pacto entre os eleitores e o então candidato, que se elegeu com esses votos. Eu não acho que a questão da ideologia de gênero cesse o senso crítico do aluno. Não vamos abrir mão de uma escola plural, que desenvolva o ra-

ciocínio crítico, que as pessoas pensem de forma autônoma e ao mesmo tempo fazer com que as pessoas sejam solidárias, autônomas, mas também competentes. As pessoas têm que sair do Ensino Médio lendo, escrevendo, interpretando, fazendo cálculos matemáticos, criando hipóteses e o tudo mais. O senhor acha que o ensino religioso deveria ficar a cargo de instituições religiosas? – Sim. Concordo. O Estado é laico, não tem religião. O senhor administra 672 escolas no DF, sem contar as creches conveniadas, dos quais 90%, de acordo com levantamento do TCDF, necessitam de reformas ou melhorias. Uma alternativa é o PDAF. O senhor pretende utilizar mais esse programa ou vai utilizar as licitações tradicionais? – As duas coisas. Porque uma hora ou outra vamos precisar de mais recursos para construir escolas. E o PDAF não dá recursos suficientes para isso. A gente quer melhorar a regulamentação do PDAF. Ele não vai deixar de existir. Queremos inclusive que os diretores recebam logo no começo do ano, sem atraso nas parcelas. Existe uma parcela de julho de 2018 que não pagaram e não vão pagar. Aí vamos ter que resolver os problemas com os diretores. As aulas começam na data prevista e com material escolar para todos? – Estamos fazendo tudo que podemos para começar o ano letivo muito bem. Se a gente vai conseguir, eu não consigo te garantir agora. Eu dependo de uma série de circunstâncias, pagamentos, licitações... Tem dinheiro no caixa? – Não. Inclusive, não fizemos o pagamento das férias no dia certo porque não tinha dinheiro. Mas isso já resolvemos.


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Que a atual emergência seja a última Na legislação federal a decretação de emergência na saúde pública ocorre por: necessidade de contenção e controle de riscos, surtos e epidemias que apresentem risco de disseminação, reintrodução de doença erradicada, situações de gravidade elevada, desastres e calamidades, incapacidade ou insuficiência de atendimento à demanda e que extrapolem a capacidade de resposta do SUS – e pode inclusive envolver as instituições privadas de saúde e outros organismos governamentais. O Regulamento Sanitário Internacional também lastreia a decretação de emergência de saúde pública com base na gravidade, na imprevisibilidade, na possibilidade de disseminação e no

risco que a situação represente em escala internacional. A decretação de estado de emergência na saúde é, por definição, uma medida de exceção, para ser adotada em período de tempo limitado e por motivos muito específicos e graves. Não é algo banal. Em Americana (SP) a decretação do estado de emergência foi usada, há poucos anos, foi feita para realização de auditoria nos contratos de institutos coligados à Saúde pública local. Em Teixeira Soares (PR), município com cerca de 10 mil habitantes, foi decretada emergência porque um único clínico geral do Mais Médicos, se desligou do programa subitamente. Antes da adoção dessa medida, aqui no Distrito Federal,

em 2011, quando assumiu o então governador Agnelo Queiroz, não se tinha notícia de que isso tivesse sido feito em outra unidade da Federação. Na gestão Rollemberg, a medida foi repetida de janeiro de 2015 a julho de 2017. Apesar disso, a mortalidade hospitalar em 2016 teve um aumento de 20%, o pior desempenho de que se tem notícia na história do DF. A reedição da medida pelo governador Ibaneis Rocha tem sentido diante da necessidade de ações rápidas para zerar as filas das cirurgias eletivas, exames e procedimentos nas diversas especialidades - nem se tem a informação exata do tamanho do problema. Mas ela só tem sentido até aí, para estabele-

cer um nível de normalidade, enquanto se organiza minimamente a rede assistencial da Saúde. Mas o estado de emergência não pode ser desculpa de que se lance mão para perpetuar as compras com dispensa de licitações e contratações sem concurso ou para justificar a ineficiência na gestão dos recursos do Sistema Único de Saúde. Tampouco pode ser o balizador para a proposição da política de saúde de médio e longo prazo. Os servidores da Saúde dão todo o apoio para que sejam zeradas as filas e para que seja estabelecida a normalidade no fluxo das cirurgias e demais procedimentos que estão represados. Mas anseiam pela regularização

Dr. Gutemberg, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e advogado

do abastecimento, adequação do quantitativo de recursos humanos necessários, pelo estabelecimento de fluxos adequados entre as diversas áreas e níveis assistenciais. Nosso desejo é que esta seja a última vez que ouvimos falar de estado de emergência na saúde do Distrito Federal.

Fernando Leite retorna à Caesb Engenheiro assume presidência da empresa pela quarta vez

ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

Orlando Pontes Há oito anos, o engenheiro Fernando Leite despediu-se da Companhia de Saneamento do DF (Caesb) entoando a música “Não aprendi dizer adeus”, de Leandro e Leonardo. A canção fala do fim da relação de um casal em que um dos dois resiste à separação, mas a aceita de forma dolorosa. Na manhã de terça-feira (8), diante de centenas de funcionários da estatal – a quem chama de colegas –, convidados, autoridades e familiares, Leite encerrou o discurso, após tomar posse pela quarta vez como presidente da empresa, cantando versos de “O Portão”, de Roberto Carlos: “Eu voltei, agora pra ficar / Porque aqui, aqui é meu lugar”. DESAFIOS - A plateia que superlotou o

O vice-governador Paco Britto (esq.) representou Ibaneis Rocha na posse de Fernando Leite

teatro da Caesb, em Águas Claras, vibrou. O espaço, que tem 440 assentos, recebeu um público com pelo menos o dobro de sua capacidade. Sem contar as pessoas que se aglomeravam na área externa. Somando suas passagens anteriores, Leite já acumula 12 anos como presidente da Caesb. Foi o responsável, entre outras obras, pela despoluição do Lago Paranoá e pela construção da barragem de Corumbá IV. E orgulha-se de

ter imprimido na empresa o conceito da preservação ambiental. Na gestão Ibaneis Rocha (MDB), assume com dois desafios: levar cem por cento de captação e tratamento de esgotos e de abastecimento de água para todas as localidades do Distrito Federal, e tornar a Caesb a melhor empresa pública de saneamento do Brasil. IMPRUDÊNCIA - A cerimônia foi coman-

dada pelo vice-governador Paco Britto (Avante), representando Ibaneis. Entre as autoridades, estavam o vice-presidente da Câmara Legislativa, Rodrigo Delmasso (PRB); o deputado distrital Cláudio Abrantes (PDT); os secretários de Comunicação, Weligton Moraes; de Obras, Izídio Santos; e de Agricultura, Dilson Resende. Após exaltar a imprudência de Juscelino Kubstchek para construir Brasília e de Joaquim Roriz para redimensionar a Capital, Leite exaltou a ousadia de Ibaneis, que promete um novo salto de desenvolvimento na cidade. E recorreu ao poema “Das Utopias”, de Mario Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... / Que tristes os caminhos, se não fora / A presença das estrelas”. E os braços abertos dos velhos amigos passaram a abraçá-lo como no passado. Leite estava, definitivamente, de volta às coisas que deixara. Afinal, amores vêm e vão, como aves de verão.


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Acompanhe também na internet o blog Brasília, por Chico Sant’Anna, em https://chicosantanna.wordpress. com Contatos: blogdochicosantanna@gmail.com

Por Chico Sant’Anna ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

O Lago Sul, com renda média domiciliar, em 2015 de R$ 21.695, é a quinta região administrativa a recolher IPTU e a primeira em termos de bom pagador. Assim mesmo, R$ 34 milhões deixaram de ser recolhidos

Brasilienses devem R$ 1,5 bi de IPTU Em 2017, de cada 100 imóveis 25 não pagaram o imposto. Inadimplência cresceu em 2018 O brasiliense tem por hábito cobrar, e bem alto, seus direitos. A cidade sempre foi conceituada pela qualidade dos serviços públicos, que, de uns tempos para cá, vêm causando insatisfação pela crescente queda de padrão. E aí, nossos cidadãos gritam,

vão às ruas, cobram retorno de seus impostos. No entanto, o mesmo o brasiliense que cobra o que lhe é de direito, vem pecando com as suas obrigações de contribuinte. Levantamento exclusivo da coluna aponta que, em 2017, de cada 100 imóveis

do DF, 25 não tinham pago o IPTU. Em 2018, a inadimplência aumentou para 28%. A dívida referente apenas a esses dois anos chega a R$ 1,5 bilhão, sem contar juros e multas. Metade desse valor é devido por proprietários de terrenos não edificados. Nesses cálculos também não está contabilizada a Taxa de Limpeza Urbana – TLP. O dinheiro que não entrou no caixa seria suficiente para fazer chegar o metrô até o final

da Asa Norte e, simultaneamente, construir a primeira etapa do VLT entre o Aeroporto e o início da Asa Sul. Transformando essas taxas de inadimplência em dinheiro, em recursos que deveriam ser recolhido, o resultado advém assustador. Em 2017, deveriam ter entrado nos cofres do GDF, a título de IPTU, R$ 1.308.194.406,28, mas o efetivamente recolhido foi R$ 749.257.459,37, ou seja,

uma quebra de caixa da ordem de 42,3%. Em 2018, o retrato ficou ainda pior. Previsão de arrecadação de R$ 1.415.942.192,65 e efetivo pagamento de R$ 765.826.952,03. Ou seja, 46% da receita prevista não se materializaram. O rombo na arrecadação, apenas nesses dois exercícios fiscais, foi de R$ 1.512.360.812,47, sem computar juros, multas e correção monetária. }


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Por Chico Sant’Anna

Park Way é o campeã Entre as dez regiões administrativas que potencialmente deveriam recolher mais IPTU, o Park Way aparece como o campeão de imposto não pago. Com uma renda média mensal domiciliar de R$ 15.671,92 e renda per capita de R$ 5.207,54, o bairro ocupa o segundo lugar na lista dos mais ricos e caros do DF. Entretanto, de cada dois imóveis registrados na Secretaria da Fazenda, apenas um pagou o IPTU em 2017 e 2018. A situação é mais ou menos a mesma no Guará. A cidade tem um padrão econômico mediano. A renda média domiciliar, em 2015, era de R$ 7.311,79 e a per capita de R$ 2.683,23. Em 2017 e 2018, a cidade foi, respectivamente, a 7ª e a 6ª maior geradora potencial de IPTU. Lá, o padrão de não pagamento, em 2018, chegou a 50%, bem acima do ano

anterior (38,4%), o que deve ser reflexo da crise salarial e do desemprego. O Plano Piloto (renda domiciliar média de R$ 13.489,93 e per capita de R$ 5.569,45) é o maior contribuinte de IPTU do DF. Em 2018, seus 167.631 imóveis deveriam ter gerado cerca de R$ 558 milhões em imposto predial. Mas a história foi outra. O caixa da Fazenda computou só R$ 298 milhões. Mais de 46% estão no vermelho e podem ser lançados na dívida ativa do DF. Nona maior potencial contribuinte em 2018, Ceilândia (renda domiciliar média de R$ 3.076,00 e renda per capita de R$ 915,81) trouxe graus de inadimplência semelhantes aos bairros citados anteriormente. Em 2017 e 2018, as taxas de não quitação atingiram 46% e 48,3%, respectivamente.

Lago Sul, o melhor pagador O Lago Sul está no topo da lista dos bairros mais ricos e caros do DF - renda média domiciliar, em 2015, em R$ 21.695 e per capita de R$ 8.117. Potencialmente, é a quinta região administrativa a recolher IPTU e a primeira em termos de bom pagador. Em média, nos dois anos pesquisados, 74% dos imóveis recolheram corretamente seus impostos. Assim mesmo, cerca de R$ 34 milhões deixaram de ser recolhidos. O Setor Sudoeste e o Octogonal, juntos, estão em segundo lugar dentre os melhores

pagadores de IPTU. São pouco mais de 31 mil imóveis e cerca de 29 mil pagaram direitinho o que deviam. A taxa média de inadimplência calculada nos dois anos sobre os valores devidos foi de 32,7%, que traduzidos em dinheiro representam também cerca de R$ 34 milhões. Regiões administrativas importantes em termos de arrecadação que apresentam padrão médio de efetivo recolhimento são Águas Claras, Taguatinga e Lago Norte. Mas os níveis de inadimplência variam de 34 a 40%.

Uma das áreas nobres do Distrito Federal, o Park Way está entre os setores que menos pagam o IPTU em dia, s

2017 __________________________________ – 946.998 imóveis cadastrados no IPTU – 714.279 pagaram IPTU = 24,6% de inadimplência • Renda total prevista do IPTU: R$ 1.308.406,28. • Efetivamente recolhido: R$ 749.257.459,37 = 57,27% do total • Quebra de caixa de R$ 747.949.053,09. 2018 __________________________________ – 961.147 imóveis cadastrados no IPTU – 692.971 pagaram IPTU = 27,9% de inadimplência • Renda total prevista do IPTU: R$ 1.415.192,65 • Efetivamente recolhido: R$ 765.826.952,03 = 54,09% do total. • Quebra de R$ 764.411.759,38

Maior inadimplência é O maior nível de inadimplência de IPTU se refere aos lotes residenciais e comerciais não edificados. Ainda existem muitos lotes vazios, inclusive projeções de edifícios. Em 2018, eram 85.384 lotes não construídos - mais de 25 mil em condomínios. Na Ceilândia, estão 9,3 mil terrenos; 8,1 mil em Samambaia; 2,5 mil no Plano Piloto; 2,4 mil no Lago Norte e 1,5 mil em Águas Claras. O imposto não recolhido dos terrenos não edificados em 2017 e 2018 foi de R$ 762 milhões. De cada R$ 100 que deveriam ser pagos, foram efetivamente depositados menos de R$ 25. Dos 2,4 mil lotes vazios no Plano Piloto, menos de 600 pagaram IPTU em 2017 e 2018. Um rombo de R$ 290 milhões. Muitos deles estão nas mãos de especuladores, que esperam a melhor hora para comercializar


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ão do calote ANTÔNIO SABINO / BSB CAPITAL

Sem dinheiro, a máquina emperra Governos não têm máquina de fazer dinheiro. Sua renda depende do contribuinte. Mas quando uma parcela da população deixa de pagar sua cota, prejudica duplamente a comunidade. Primeiro, porque a carga das despesas públicas recai sobre quem paga e, segundo, porque os serviços públicos não atingirão a qualidade esperada por aqueles que fizeram o dever de casa. Com essas verbas não recolhidas, certamente o GDF não estaria decretando estado de emergência na Saúde Pública, a qualidade da Educação poderia ser outra e as ruas e avenidas estariam com bem menos buracos. Não existe, contudo, um perfil sócio-geográfico e econômico que concentre maiores devedores. Há tanto imóveis localizados em áreas nobres do DF quanto em localidades carentes.

segundo dados da Secretaria de Fazenda

de lotes vazios os terrenos ou empreender. É nessa ocasião que negociam a quitação dos impostos com o futuro proprietário ou com o GDF. CONDOMÍNIOS - Outros maus pagadores de IPTU são os donos de lotes em condomínios. São cerca de 150 mil terrenos, casas e comércios que se multiplicaram desde a década de 1980 – muitos de forma irregular em áreas públicas. Nos dois anos pesquisados, a média de imóveis que recolheram suas obrigações foi de 80 mil unidades. Nos dois anos, deveriam ter pago R$ 161,7 milhões, mas recolheram apenas R$ 83,2 milhões.

EMBAIXADAS - Dos quase 1,5 milhão de imóveis registrados no DF em 2018, 734.948 eram residenciais e foram tributados com a menor taxa de IPTU: 0,30% sobre o valor venal. A segunda maior fatia, com 126.666 imóveis, é formada por unidades não residenciais edificadas. São estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços. Para esses, a alíquota é de 1%. Esses pagam a maior alíquota 3%. O governo federal, as embaixadas e representações de órgãos internacionais com status diplomático não recolhem IPTU. ROMBO TAMBÉM NO IPVA - A sonegação não se limita ao IPTU. Em 2018, o Detran apontou que mais de 315 mil contribuintes (pessoas físicas e jurídicas) proprietários de 367 mil veículos não pagaram uma única parcela do IPVA. O rombo somou R$ 269 milhões, sem contabilizar aqueles que pagaram uma ou mais parcela mas não quitaram totalmente. Em 2017, foram R$ 103 milhões não pagos. Em 2016, R$ 77 milhões. Esses contribuintes foram inscritos em dívida ativa, diz a Secretaria da Fazenda.

Perfil 10 RAs maiores contribuintes 2017 Região Administrativa

2018 % origem da renda do IPTU

Região Administrativa

% origem da renda do IPTU

1. Plano Piloto

41,31%

1. Plano Piloto

39,42%

2. Águas Claras

7,46%

2. Águas Claras

7,38%

3. Condomínios

6,03%

3. Taguatinga

6,16%

4. Taguatinga

5,76%

4. Condomínios

5,78%

5. Lago Sul

4,75%

5. Lago Sul

4,64%

6. Sudoeste/ Octogonal

4,06%

6. Guará

4,39%

7. Guará

3,65%

7. Sudoeste/ Octogonal

3,87%

8. Lago Norte

3,53%

8. Lago Norte

3,35%

9. Park Way

2,75%

9. Ceilândia

3,00%

10. Ceilândia

2,63%

10. Park Way

2,93%

Perfil 10 RAs maiores inadiplentes 2017 Região Administrativa

2018 % origem da renda do IPTU

Região Administrativa

% origem da renda do IPTU

1. Park Way

49,61%

1. Park Way

54,85%

2. Condomínios

47,16%

2. Guará

50,72%

3. Ceilândia

46,05%

3. Condomínios

49,36%

4. Plano Piloto

44,55%

4. Ceilândia

48,32%

5. Guará

38,39%

5. Plano Piloto

46,45%

6. Lago Norte

37,16%

6. Lago Norte

39,11%

7. Águas Claras

34,61%

7. Taguatinga

38,34%

8. Taguatinga

34,49%

8. Águas Claras

37,73%

9. Sudoeste/ Octogonal

30,51%

9. Sudoeste/ Octogonal

34,88%

10. Lago Sul

24,41%

10. Lago Sul

27,91%

Alíquotas de IPTU segundo a natureza do imóvel 3%

Imóveis não edificados

1%

Imóveis não residenciais edificados

0,30%

Imóveis edificados com fins exclusivamente residenciais

0,30%

Imóveis com destinação comercial cuja utilização é residencial


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INFLAÇÃO - O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do DF fechou o ano com uma variação de 3,06%, percentual menor do que o registrado no Brasil, que foi de 3,75%. A gasolina teve forte desaceleração nos últimos três meses. A queda foi motivada pelo preço internacional do petróleo. Em dezembro, o grupo que teve maior variação foi o de Alimentação e Bebidas, seguido do grupo Transportes. No primeiro caso, batata, cebola e feijão foram os principais responsáveis pela alta. No segundo, o destaque é a passagem aérea, devido às férias.

POR: JÚLIO PONTES {PLANO

PILOTO

“Preciso de um emprego”

{DISTRITO

FEDERAL

{VILA

Furiosa ensina percussão REPRODUÇÃO FACEBOOK

O técnico em informática Dário Sousa, de 30 anos, está há seis meses desempregado. Nos últimos dias, ele encontrou uma maneira criativa de buscar oportunidades no mercado de trabalho. Vestido de terno e gravata, Dário fica todos os dias em frente ao Brasília Shopping e abre uma faixa amarela com a frase “preciso de um emprego”. Na peça, também consta um breve currículo e o telefone de contato. Dário ganhou ajuda de Vanessa Costa. Sem que ele soubesse, a moradora de Águas Claras tirou uma foto e publicou no grupo do Facebook de moradores da cidade. Os vizinhos, sensibilizados, ofereceram publicamente empregos e solicitaram que Dário enviasse o currículo. “Ainda não fui contratado, mas recebi algumas ligações”, disse à reportagem. Dário mora em Águas Lindas-GO, e todo dia se desloca, de ônibus, até o centro da capital. “É uma viagem”, brinca. “A vestimenta é estratégia minha para causar impacto visual”, disse sobre estar sempre de terno e gravata.

O mestre Fio de Castro no ensaio com a Furiosa para o desfile no próximo carnaval

Há cinco anos, os tambores da Bateria Furiosa DF rufam nas manhãs do Parque da Cidade. Os ensaios começam sempre às 10h, no estacionamento 10. No repertório, os sambas-enredo que serão apresentados durante o carnaval no Bloco Fio Desencapado. Em 2018, o grupo desfilou no carnaval na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Os mestres Marcelo de Castro e Mário Nitre são cariocas, mas moram em Brasília desde a década de 1970 e ensinam gratuitamente percussão à comunidade. “Quem quiser aprender tem de levar seu instrumento”, conta

Marcelo, conhecido como Fio de Castro. “Somos independentes. Não temos espaço para guardar o material, tampouco patrocínio público”, explica. O bloco se sustenta com uma contribuição voluntária de R$ 20 mensais dos participantes. Este ano, a Furiosa sairá no pré-carnaval no Sudoeste. Serviço: Ensaio da Bateria Furiosa DF Valor: Gratuito Data: Todo domingo Horário: 10h Local: Estacionamento 10 do Parque da Cidade

TELEBRASÍLIA

Inscrições para oficinas culturais Está aberta a temporada de atividades do ponto de cultura Projeto Waldir Azevedo, na Vila Telebrasília. Conhecido por ser o berço da Orquestra de Cavaquinhos de Brasília, o projeto inicia as oficinas a partir de 1º de fevereiro, com aulas gratuitas para pessoas de todas as idades. Não há pré-requisito para participar. As inscrições devem ser feitas pessoalmente, enquanto houver vagas. Os interessados podem escolher entre os cursos de Musicalização Infantil para crianças de 1 a 6 anos, Cavaquinho, Circo e Coral para Deficientes Visuais. O projeto é uma parceria com o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV). As aulas são ministradas por Dudu Oliveira, maestro da Orquestra de Cavaquinhos, na sede do PWA. Informações com Thais: 61-99969-9877

{CEILÂNDIA

Ibaneis visita obras da Casa da Mulher

VANESSA COSTA - FACEBOOK

{TAGUATINGA

DSG é o campeão do 39º Arimateia A 39ª edição do Torneio Arimateia de Futsal acabou no domingo (6) com festa no Taguaparque. O DSG, de Ceilândia, foi o campeão da categoria principal, ao derrotar na final o Santos Bambina, de Ta-

guatinga, por 2 a 1, diante de um público de 7 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Nas categorias Master e Feminino, quem levou o título foi o Cresspom, time da PM.

Para resolver parte da demanda represada com a interdição da Casa da Mulher Brasileira, o governador Ibaneis prometeu instalar nas estações do metrô, em um mês, postos de atendimento a mulheres vítimas de violência. Estão previstas ainda a construção de mais quatro postos de atendimento, a começar por Ceilândia.


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Conheça os restaurantes e bares adaptados para crianças no DF Mãe organiza mapa de estabelecimentos que são opções para os pais com seus pequenos durante as férias FOTOS: THIAGO OLIVEIRA / BSB CAPITAL

Da Redação Sair com crianças pequenas pode ser um desafio, especialmente quando a meta é ter um momento de tranquilidade durante a refeição. As preocupações vão desde o menu infantil, passando pelos banheiros e fraldários adaptados, até a existência de espaços destinados ao lazer dos pequenos. Tudo isso para garantir que o programa seja o mais divertido e prazeroso possível. Para a jornalista e mãe de duas crianças Rayssa Tomaz, esses locais são essenciais para facilitar a vida de pessoas que precisam realizar atividades na companhia dos filhos. “Algumas vezes, preciso organizar reuniões e encontros de trabalho quando estou sozinha com as crianças. Lugares que disponibilizam para os pais este tipo de infraestrutura me permitem sair com elas e resolver minhas demandas enquanto elas se divertem. Hoje, uma das principais questões que eu levo em consideração ao sair de casa é se tem brinquedoteca no restaurante”, afirma. Para ajudar na organização do roteiro das famílias e aproveitar ao máximo as férias escolares, a mãe Isabelle Araújo organizou um mapa intitulado “Estabelecimentos baby e Kids Friendly do DF”. O projeto conta com mais de 50 restaurantes e bares catalogados em diversas no Plano Piloto e em cidades-satélites como Águas Claras e Taguatinga. Segundo Isabelle, a ideia se desenvolveu a partir da percepção de que há uma dificuldade de socialização de pais de crianças pequenas e das próprias crianças. “Antes de engravidar, gostava muito de sair, encontrar pessoas, tomar um café. E vi essa limitação em muitos lugares. Também desenvolvi o mapa pensando nos círculos sociais dessas famílias. Muitas

Em Samambaia Norte, restaurante Potiguar recebe diariamente famílias em busca de infraestrutura para os pequenos

vezes nos chamaram para lugares que não tinham nenhum tipo de estrutura, e em vez de termos uma experiência boa, voltávamos para casa mais cansados”, comenta. A iniciativa visa facilitar a organização de eventos e programações com as crianças pequenas, mas também valorizar os estabelecimentos que investem nesse segmento. “A sociedade precisa entender que todos necessitam conviver em comunidade, e sentir-se acolhido e bem-vindo em um lugar é muito importante para a percepção de mundo de um indivíduo desde cedo”. OPORTUNIDADE - Existem hoje no Distrito Federal, segundo dados da Pdad 2015 da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mais de 700 mil crianças e adolescentes. Este segmento representa quase 25% da população o que sugere um excelente cenário para investimentos econômicos e novas oportunidades de negócios.

Diversão e segurança; monitores cuidam das crianças enquanto pais também se divertem


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Sindicatos mostram otimismo com Ibaneis RENATO ALVES / AGÊNCIA BRASÍLIA

Servidores dão voto de confiança, mas vão cobrar promessas de reajustes salariais feitas por Ibaneis Da Redação O pedido de um voto de confiança à população, feito pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) durante visita ao Instituto Hospital de Base (IHBDF) na segunda-feira (7), onde decretou estado de emergência na Saúde pública do Distrito Federal pelos próximos seis meses, teve boa aceitação no meio sindical. No entanto, a desorganização fiscal em diversas pastas pode complicar a relação do governador com o funcionalismo. A Secretaria de Saúde identificou um rombo de cerca de R$ 1 bilhão, o que motivou a publicação de um decreto no Diário Oficial de terça-feira (8) solicitando a avaliação

Ibaneis assina decreto que declara estado de emergência no DF e lança o programa SOS Saúde

da situação das demais secretarias no prazo de dez dias. Saúde, Educação e Segurança são as áreas mais sensíveis. Todas aguardam reajustes salariais e a garantia de pagamento de algumas gratificações prometidas pelo chefe do Executivo durante a campanha. Segundo a presidente do Sindisaúde, Marli Rodrigues, o diálogo estratégico está sendo cons-

truído e, até o momento, não há sinalização de embate direto com o governo. O presidente do Sindmédico, Dr. Gutemberg Fialho, informa que ainda não há diálogo oficial com o Buriti, mas que tanto o rombo quanto o decreto de emergência eram esperados pela entidade. No entanto, ele acredita que a decisão do governador de estender a experiência do Instituto

Hospital de Base (IHB-DF) para outras unidades de saúde pública desagradará a categoria. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, o Gaúcho, que nos últimos anos fez oposição sistemática ao ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e apoiou abertamente a campanha de Ibaneis, não retornou as ligações da reportagem. A diretoria colegiada do Sindicato dos Professores (Sinpro) já iniciou tratativas com o secretário de Educação, Rafael Parente. Uma das principais reivindicações é a cobrança da pecúnia devida aos aposentados. Os últimos atendidos foram os aposentados no início de julho de 2016. Ao todo, 32 categorias aguardam a recomposição salarial prometida por Ibaneis durante a campanha. Mas o SindSaúde e o SindMédico estão otimistas quanto ao cumprimento das promessas. “Não tem como melhorar o atendimento ao público sem melhorar as condições de trabalho e salariais dos servidores”, afirma Dr. Gutemberg.

A campanha do Sinpro-DF intitulada “Quem bate na escola maltrata muita gente”, iniciada em 2008 para suscitar a reflexão sobre as causas e as consequências da violência na escola e para buscar soluções, traz o feminicídio para o X Concurso de Redação e Desenho com o tema “Feminicídio: ato final da violência doméstica”. Com 80% de sua base formada por professoras, a violência contra a mulher sempre foi central no sindicato. Tanto é que foi a primeira entidade sindical a criar uma secretaria de mulheres com luta específica para esse segmento. Uma dessas lutas colaborou com a materialização da Lei do Feminicídio, em 2015, e, 12 anos antes, com a Lei Maria da Penha. Na história do mundo, a mulher já foi considerada algo sem alma: um “não-ser”. Hoje, ainda que tenha conquistado espaços sociais e de poder, permanece vítima do patriarcado e do machismo. No DF, por exemplo, de janeiro a agosto de 2018, 20 mulheres sofreram feminicídio. Muitas são agredidas em casa e essa violência doméstica fica acobertada pela privacidade do lar. Inscrições a partir do dia 18 de fevereiro Mais informações no site: www.sinprodf.org.br


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Posse em Libras A língua de sinais não é “português traduzido para as mãos” (e é imaturidade compreendê-la assim) Garantidamente, um dos momentos mais marcantes da cerimônia de posse do presidente Jair Bolsonaro foi o discurso da primeira-dama, Michelle, feito em Língua Brasileira de Sinais (Libras). A comoção de muitos foi notória diante da grata surpresa (melhor do que chamar de "quebra de protocolo"), uma vez que o inédito discurso deu voz a uma significativa parcela da sociedade que luta por igualdade: os surdos.

Em seguida, a ministra da mulher, família e direitos humanos, Damares Alves, anunciou que os servidores do ministério terão de, em 6 meses, aprender Libras. Fica, portanto, evidente que essa deve uma das pautas do novo governo. Por esse motivo, que tal entender o que é Libras? Diferentemente do que muitos pensam, Libras não é "português traduzido para as mãos" (e é imatu-

Sílvio Santos: o camelô que ficou bilionário! Aos 88 anos, o empresário continua comandando o show dominical na sua empresa, o SBT, com uma fortuna avaliada em US$ 4 bilhões! O espetáculo era a céu aberto, geralmente pelas manhãs, e tinha como palco a praça da Cruz Vermelha,no centro do Rio de Janeiro, então Capital Federal. E os protagonistas eram dois rapazes, de boa aparência, pelo visto, irmãos. O mais alto, de aproximadamente 1,80m, comandava as vendas do princípio ao fim. Com sua voz tronitroante, ele induzia aos circunstantes comprar as suas bugigangas a preço "de graça",

que podia ser uma panela de alumínio ou uma carteira porta-documentos, de legítimo couro de crocodilo – "bastava ver e apalpar", conforme um dia aconteceu comigo, por volta de 1945. Aos 20 anos, eu ainda era estudante, uma época em que nem sempre sobrava dinheiro para comprar alguma coisa supérflua. Quanto aos dois camelôs, não passavam de ilustres desconhecidos, até que foram identificados em uma

O povo e o poder com Marcelo Ramos Repóter do povão

Rádio JK - AM 1.410 (segunda a sábado - 08h às 10h) Ligue e participe:

99981-3086 / www.opovoeopoder.com

ridade compreendê-la assim). Como o próprio nome diz, é uma língua legalmente reconhecida – assim como o português, o inglês e tantas outras – com aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos próprios. Por isso, não é uma mera transposição. Essa língua é tão complexa que apresenta níveis de formalidade e informalidade, regionalismo e até gírias! A Língua de Sinais usada em Brasília não é necessariamente idêntica à que se fala no Piauí, por exemplo. Sim, é possível afirmar que, em Libras, há sotaque! Tive a grande oportunidade de dividir sala, durante o meu mestrado, com muitos pós-graduandos de Letras-Libras de diversos lugares do Brasil – situação que normalmente só é vivenciada na universidade pública. Alguns deles possuíam surdez total; outros, parcial. Alguns faziam leitura labial ou falavam.

A comunidade surda é bastante heterogênea em relação à comunicação, e, por isso, o assunto é tão vasto. Apesar de não saber Libras, pude, por meio da minha linha de pesquisa – o Gerativismo – fazer alguns estudos acerca da Língua de sinais. Com todo esse panorama, veio-me um questionamento: será que a Língua Brasileira de Sinais pode se tornar assunto em provas de concursos públicos? Quero saber a sua opinião! Deixe-a nos comentários! Esperamos que a valorização dos surdos vá além do discurso de posse! A igualdade (um dos princípios iluministas) deve ser a base de nossa sociedade!

reportagem no Jornal do Brasil: eles eram filhos de imigrantes judeus e não faziam outra coisa na vida senão seguir a vocação de seus pais, comerciantes de corpo e alma. O dono da voz de trovão chamava-se Senor Abravanel. Seu irmão mais novo era Leon. Ambos começaram a trabalhar aos 14 anos, quando o mais velho passou a exibir sua voz, considerada poderosa. E assim o tempo foi passando, quando Senor resolveu trocar de nome, passando a usar pseudônimo. Adotou o prenome Sílvio porque era assim que sua mãe o chamava. E o sobrenome Santos, ao conquistar o primeiro lugar cantando no programa de calouros que tinha como apresentador o conhecido Jorge Cury. Desde então, prevaleceu o logotipo Sílvio Santos. As vitórias se sucediam em qualquer de suas atividades, até mesmo na carreira militar, como exímio paraquedista.

Como empresário, não parava de crescer, realizando sorteios de carros e eletrodomésticos. Comprou de seu amigo Manoel da Nóbrega o Baú da Felicidade, e resolveu vender baús de Natal para crianças, mediante o pagamento de suaves prestações, sucesso financeiro absoluto. Hoje, aos 88 anos, o camelô que conheci na praça da Cruz Vermelha não tem nada a ver com o empresário que continua comandando o show dominical no Programa Sílvio Santos, na sua empresa de televisão, o SBT, ainda com aquela voz envolvente de quem pode jogar cédulas de 20 reais ao público e desfrutar sono tranquilo com uma fortuna avaliada em torno de US$ 4 bilhões!

Elias Santana Professor de Língua Portuguesa e mestre em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB)

Fernando Pinto Jornalista e escritor


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Fracasso e superação O verdadeiro fracasso é julgar-se fracassado para toda a vida José Carlos de Lucca, conferencista bastante renomado, no seu excelente livro "Socorro e Solução", aborda uma das questões que mais preocupam os educadores, pais e psicólogos nos dias de hoje: a incapacidade de grande parte dos adolescentes e jovens de lidar com a frustração. Esses jovens, em geral, foram pessoas superprotegidas e não aprenderam a conviver com derrotas e fracassos. Não entendem que fracasso é ensinamento a ser aprendido para fortalecimento e sucesso futuro.

Quando o cientista Thomas Edson, buscando desenvolver a lâmpada elétrica – ele já tinha tentado 700 vezes – foi estimulado à desistência por um empregado, saiu-se com esta pérola: "não. Já aprendemos 700 maneiras de como não fazer". Quando a Seleção Brasileira de Vôlei foi disputar a Olimpíada que deu a primeira medalha de ouro ao Brasil, os jogadores combinaram: "se não ganharmos vamos treinar 10% a mais". Vejamos a análise e a solução que Lucca apresenta sobre este tema tão

Para começar o ano com o pé direito! Estudo mostra que a prática de exercícios físicos pode ser um remédio eficaz contra o mal de Alzheimer Na primeira semana de 2019, pesquisadores brasileiros publicaram na revista Nature, uma das de maior impacto no mundo, o resultado de um estudo mostrando que a prática de exercício físico pode ser um remédio eficaz contra o desenvolvimento do mal de Alzheimer e até

reverter alguns efeitos da doença. O estudo foi realizado em modelo animal. Porém, promete uma revolução no tratamento do Alzheimer. As metas de ano novo costumam incluir a prática de exercícios físicos na lista de muitas pessoas. Até porque, a maior parte da popu-

atual: "a palavra fracasso adquiriu um aspecto demasiadamente pesado em nossas vidas, mas ele não pode ser nosso coveiro, sepultar nossos sonhos. Ele deve ser o nosso professor. Se de um jeito não deu certo, tente de outro modo. Aprimore-se! O fracasso apenas sinaliza que, no momento, não deu certo. O verdadeiro fracasso é julgar-se fracassado para toda a vida. Foi uma experiência passada, não um decreto para o futuro. As maiores personalidades do mundo também experimentaram insucessos. A diferença é que não desistiram e recomeçaram com mais sabedoria e vontade. Ninguém chegará à vitória alimentando pensamentos de derrota. Quem se imagina como derrotado acaba agindo como tal. O orgulho é o maior inimigo diante das quedas, porque ele nos dá a ilusão de que somos infalíveis e de que sempre agimos acertadamente.

Milhares de pessoas não são vítimas do fracasso; são vítimas do próprio orgulho. Orgulho se cura com humildade. Humildade para reconhecer nossos limites e tentar superá-los com esforço constante. Estamos em fase de crescimento e aprendizagem. A humildade é a chave que nos leva à vitória. Admitir que somos seres em processo de evolução e que o erro faz parte desse processo é o caminho que fará do fracasso o tijolo do sucesso que a vida nos reserva. "Cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz...". Fique com Jesus: "no mundo tereis problemas, mas tendes bom ânimo. Eu venci o mundo. Estarei com vocês até o final dos tempos".

lação está sedentária, e teria benefícios inumeráveis fazendo exercícios regularmente. O exercício físico faz com que o músculo produza uma proteína com efeito hormonal, a Irisina, que fortalece as sinapses no cérebro, melhorando a função de memória. Além disso, já era sabido que a Irisina ajuda na “queima” de gordura corporal. Quer motivos melhores para começar hoje a se exercitar? Acho que essas notícias são suficientes, mas se quiser mais um motivo, vamos lá: muitos estudos sobre mudança de comportamento mostram que quando você está engajado em uma modalidade esportiva, fica

muito mais fácil a adesão a dietas. O padrão alimentar melhora naturalmente. Afinal, as pessoas se sentem mais motivadas a se alimentar com mais qualidade. O contrário também é verdadeiro. Pessoas sedentárias têm mais dificuldade em seguir um planejamento alimentar ou aderir a padrões alimentares mais saudáveis. Então, para começar o ano com o pé direito, exercícios e alimentação saudável têm que estar juntos nas metas para 2019!

José Matos Professor e palestrante

Caroline Romeiro Nutricionista e professora na Universidade Católica de Brasília (UCB)


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Cem anos de história

O escritor Ricardo Ferrer fecha a trilogia com “A Saga de Júlia”, contada com todos os rigores de uma “paixão sem limites”. FOTOS: REPRODUÇÃO FACEBOOK

Da Redação No primeiro livro “O Casarão Verde – paixão sem limites”, onde um recém-nascido faz a viagem do Titanic, costumes, cultura, política e fatos ligados aos personagens constituem o cerne do romance, de modo cru e objetivo. Sentimentos os mais diversos são uma constante, fazendo aflorar emoções fortes no leitor, que é envolvido pelo clima de suspense que perpassa toda a narrativa. Fatos ligados à música clássica, aos grandes compositores, aos ícones das canções populares da década de 1960, às mudanças comportamentais da juventude enriquecem o livro. É lírico, denso e muito oportuno, segundo o escritor João Carlos Taveira. E contém, segundo o respeitado poeta, várias histórias dentro da mesma história, e uma visão ampla das questões socioculturais permeando o seu desenrolar, embora se trate de uma obra de ficção. Suspenses são uma constante no desenrolar da história, culminando em três grandes ações que aguçam a imaginação do leitor. Uma organização criminosa impera nos detalhes que levam a ações intensas ao redor do mundo. Fria, insensível, move-se nas sombras, passando desapercebida, influindo em decisões cruciais para os governos dos países vitimados. Sua influência é tamanha que levou o autor ao segundo livro, de modo a desmistificá-la em suas ações nefastas. AL QAEDA - No segundo livro, “O Dossiê de Umbrícola – a organização”, duas mulheres se esforçam ao redor do mundo para resguardar o dossiê de mãos inimagináveis. Serviços secretos de vários países buscam incessantemente encontrar o dossiê, de forma a destruí-lo. Contrapondo a essa força, a organização terrorista Al Qaeda busca, também incessantemente, encontrar o dossiê para divulgá-lo para o mundo, sabendo que seu conteúdo poderá desestabilizar os países que querem destruí-lo.

A trilogia do escritor Ricardo Ferrer, que já publicou O Casarão Verde e O Dossiê de Umbrícola, se completa agora com A Herdeira - resgate de valores: lírico, denso e muito oportuno

Caminhos diversos são percorridos, onde o lúdico, os mistérios e a luta se entremeiam. O final é surpreendente, pelas relações estabelecidas em fatos históricos reais de povos e de nações que anseiam por verdades e pelas ligações que projetam a vida para o imprevisível. No terceiro livro “A Herdeira – resgate de valores”, cem anos após o pri-

meiro personagem ter feito a viagem do Titanic, a única personagem viva, uma jovem de 21 anos, fragilizada emocional e psicologicamente, busca na filosofia respostas do por que sua família tão brilhante culturalmente fora destruída por uma paixão sem limites. E, no Caminho de Compostela, tenta espiritualmente resgatar os valores de sua família.

Sem dúvida, os livros que compõem esta trilogia marcaram uma fase da literatura em que se poderia dar o nome de “romance atual”, pois o dia de hoje é fortemente conceituado na linha de tempo, com características da atualidade, em uma análise de relação de fatos e gentes que transitam num vai e vem e deixam um rastro na história de cada um que os lerem.


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Sancho e a Rainha – Capítulo III Mario Pontes (*) Bastaram-me duas semanas para entender que as reportagens especiais beneficiavam abertamente um dos secretários do Governo estadual. Não faziam menções pessoais nem se desmanchavam em elogios. E era nesse ponto que Sancho inovava. Suas matérias encomendadas não pareciam matérias encomendadas. E, como não tardamos a descobrir, as criações do Velho, como o chamavam os outros repórteres, traziam dinheiro suficiente para cobrir a folha da redação. O pagamento da redação era, para nós, o maior sinal do descalabro que afundava o jornal. Sábado sim, sábado não, o gerente declarava que não tinha dinheiro e apontava para o agiota de plantão, aliás sabidamente seu cúmplice. Não havia como escapar aos empréstimos

escorchantes do descarado usurário, tínhamos de levar comida pra casa. Mas quando teve certeza de que o dinheiro de suas primeiras reportagens já havia chegado à conta bancária do jornal, Sancho resolveu dar uma lição no gerente. Agarrou-o inesperadamente pelo pescoço, ameaçando-o com um vigor que ninguém supunha nele. Com o rosto arroxeando, o gerente apontou para o cofre, tentando dizer algo. Sancho o largou. Um momento depois o cofre estava aberto, o gerente contava as notas e do agiota não havia nem sinal. Não vou lhes dizer que a liberdade da qual Sancho gozava e o tipo de coisa que escrevia não me desagradassem um bocado. Mas, para surpresa minha, antes mesmo do episódio com o gerente eu já me havia descoberto um tanto compreensivo em relação aos expedientes do velho

repórter. Ele só estava tentando ganhar a vida. Ajudava o jornal a existir e nem sequer ganhava o quanto merecia. Nossa amizade começou de fato no dia em que ele me viu chegar com um livro de Emilio Salgari, aquele italiano contador de aventuras históricas ou simplesmente exóticas. O volume que eu levava comigo naquela tarde contava a história da invasão de Chipre pelos turcos e a defesa da capital por uma jovem que se disfarçava de capitão de espadachins venezianos. – Você tem outros? – ele me perguntou. – Tenho vários. Pronto. A partir de então, quando íamos à esquina beber alguma coisa, tínhamos sobre o que conversar. Ele era mais aficionado por livros de aventuras do que eu. – Qualquer dia desses vou

sair do buraco onde estou morando – anunciou, explicando que dormia no armazém da mercearia de um amigo, cercado de caixotes de mercadorias não perecíveis, sacos de arroz, pencas de banana e ratos. – Ratos como diabo! -- Desejei-lhe que logo encontrasse moradia mais confortável. Ele disse que já andava com algo em vista. Pouco depois, entre dois chopes, começou a falar de sua vida. E continuou, sem perder a coerência, nas outras noites em que as reportagens o obrigaram a sair tarde da redação. – Onde eu nasci? Aqui mesmo, quando isto ainda era um lugar muito pequeno, parecia uma cidade do interior. Meu pai ensinava no Liceu. Para uma pessoa de sua época pode se dizer que ele tinha uma boa biblioteca, e cedo, cedinho, tomei gosto pela leitura. Isso animou

o velho. Ele fez um grande sacrifício a fim de me mandar pro Rio de Janeiro quando eu tinha dezesseis anos. Queria me ver formado em direito, fazer de mim um novo Rui Barbosa. Pra tristeza dele, no segundo ano desisti do curso. Eu não gostava do blablablá dos advogados. Gostava de aventura! Fiquei sem mesada, passei o diabo, até que certo dia um amigo me levou pra fazer bicos num jornal. – E seu pai... - Morreu pouco depois, e todo mundo me responsabilizou pela morte dele. O infarto foi perdoado! Mas, como eu ia dizendo. Fui fazer bicos em um jornal, gostaram e semanas mais tarde fui aceito como repórter.

(*) Mario Pontes, ex-editor do Caderno Livro, do Jornal do Brasil, ficcionista e tradutor de obras de ficção e ensaio. Mora no Rio.


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