Jornal Brasília Capital 396

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Ano IX - 396

Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019

Masterplan: projeto do arquiteto Eron Danilo Costin, vencedor do concurso do plano urbanístico, propõe novo conceito de ocupação da Orla do Lago Paranoá

Paranoá: como democratizar e preservar Ibaneis reabre discussão sobre uso e ocupação da Orla do Lago

Grileiros agem sem cerimônia Do Park Way à Planaltina, passando pela Estrutural, novas ocupações surgem desde a campanha eleitoral Chico Sant’Anna - Páginas 10 e 11

ENTREVISTA ROSILENE CÔRREA

Sinpro combate a militarização

O principal cartão de visita de Brasília tem sido a menina dos olhos das plataformas políticas lançadas no DF. Rollemberg facilitou o acesso da população ao espelho d’água. Agora, Ibaneis cobra mais rigor ao cumprimento do Código Florestal, que estabelece regras para ocupação de áreas de preservação permanente

Proposta do GDF de levar militares para dentro de escolas do DF terá resistência dos professores

Páginas 7, 8 e 9

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Brasília Capital n Opnião n 2 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

E

x p e d i e n t e

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EDITORIAL

Menos marketing e mais ação Da Redação

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interesse público, missão maior de todo governo, deve ser o norte a ser perseguido pela administração. Ações afirmativas, neste sentido são sempre esperadas por aqueles que dedicam seus votos a um ou outro candidato. Mas, para além de saciar a ânsia pela garantia dos direitos compreendidos e defendidos pelo conjunto da sociedade, o papel de um bom gestor é identificar as reais necessidades desses grupos. É aí que habita o verdadeiro significado do “servir ao bem comum”. Iniciamos este editorial com a clareza de que, embora a sociedade tenha muita consciência do que, por direito, é seu, falta ainda alguma compreensão do que de fato é necessário em alguns aspectos. Na primeira quinzena da gestão Ibaneis Rocha, segmentos de Brasília ficaram em polvorosa com a possibilidade de encerramento do projeto Orla Livre. Vários veículos de comunicação exploraram declarações mal colocadas pelo governador de que a população suja o lago. É incontestável que o uso desordenado acaba nisso e, em consequência, em danos ao nosso reservatório-cartão-postal. Nessa fala espontânea, um tanto casual, Ibaneis teve a coragem de dizer o que poucos querem escutar: a grande

C

nChico Sant’Anna Deve ser porque quem paga os impostos certinho ganha 5% de desconto apenas, enquanto quem não paga tem mais vantagens no ano seguinte. Eu mesma já pensei várias vezes fazer isso. Infelizmente não se tem vantagens em ser bom pagador. Hilma Soares, via Facebook

Sobre manchete R$ 2 bi sonegados em IPTU e IPVA. nRafael Parente O secretário parece ser um quadro consciente dos desafios da gestão. Falar sobre gênero é importante num país que mata 13 mulheres por dia, vitimadas pela violência doméstica. Essa indicação me

maioria dos problemas ambientais é ocasionada por ações antropomórficas, ou seja, de origem humana. Talvez, o que o governador não tenha conseguido dizer, nas poucas palavras reproduzidas à exaustão pela imprensa, é que, acima do uso para o lazer, está a preservação do nosso reservatório de água. O que tem mais valor: o direito constitucional de garantir qualidade ambiental e acesso a água de qualidade ou o uso liberado de espaços que, na verdade, precisam ser preservados? A fala de Ibaneis, seguida das manifestações de outros entes do GDF, reforça que atitudes imperativas no sentido de preservar o meio ambiente como patrimônio e direito constitucional será o tom na resolução deste dilema. Os espaços destinados ao lazer, à contemplação e à prática de atividades diversas em harmonia com o meio ambiente serão defendidos pelos gestores. Mas de forma organizada, orientada e ordenada. Talvez, por mera suposição, Ibaneis esteja menos preocupado com o marketing advindo de ações de derrubadas que também criaram tensões na área de preservação ambiental. Afinal, goza do prestígio de quem foi eleito com 70% dos votos dos brasilienses, e está, de fato, preocupado com os impactos que se acumulam com o uso inadequado de áreas de proteção ambiental.

A agenda ambiental do DF ainda não parece clara. Se tivemos, nos últimos anos, intensos investimentos em recuperação de parques e implantação de novas unidades de conservação, desocupação irregular e combate à crise hídrica, ainda parece cedo para cobrar dos ex-ministros do meio ambiente Sarney Filho e Edson Duarte, à frente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e do Instituto Brasília Ambiental, respectivamente, uma posição mais assertiva sobre qual será o tratamento da pasta para questões históricas do DF. Vamos aguardar o avançar do tempo. O chefe do executivo parece ter dado uma centelha de luz para a questão da preservação dos recursos naturais. Ainda de forma prematura, a condução de Ibaneis, legalista por profissão, parece conduzir tais questões sob a luz da letra fria da lei, inclusive em se tratando de demandas ambientais. A sociedade precisa entender que direitos e obrigações devem ser equilibradas na balança da gestão. O caminho não é, de forma alguma, inviabilizar o acesso, mas construir, em parceria com a população, um trajeto diferente do que havia previsto Rollemberg. Liberdade sem ordem é prejudicial. E os danos ambientais, na maioria das vezes, não têm volta.

a r t a s

parece um acerto de Ibaneis. Rayssa Tomaz, via Facebook Não gosto da indicação, pois é a favor da ideologia de gênero. Rislane Sousa, via Facebook Sobre entrevista com o secretário de Educação. nPizzaiolo E qual o motivo para ele

ser o administrador da cidade? Qual a confiabilidade disso tudo? Desanimador querer acreditar que vai dar certo. Helena Sousa, via Facebook Águas Claras está com cara de que vai continuar com os mesmos problemas: escuridão no Parque, calçadas por fazer, posto de saúde talvez não existirá. Catarina Conrado, via Facebook

Enquanto isso, estou há 15 dias esperando uma autorização de viabilidade pendente na administração. Ligo em todos os telefones e ninguém atende. Até para gerar emprego neste país é difícil. Marivone Miola, via Facebook Sobre nota no Pelaí contando a trapalhada do deputado Julio Cesar na indicação do administrador de Águas Claras.


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SINAL AMARELO – O Sindicato dos Servidores do Detran criticou a nomeação de apadrinhados políticos para cargos de nível superior do órgão. A entidade alerta que a indicação de pessoas sem qualificação técnica fragiliza a estrutura de transparência e controle, e que o ideal seria valorizar servidores de carreira para as funções. “A prevenção é a forma mais eficaz e menos onerosa de combater a corrupção”, diz nota do Sindetran.

JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL

Sem palpite

REPRODUÇÃO FACEBOOK

O deputado Fábio Félix (PSOL) tem uma rotina diferente da maioria dos colegas. O primeiro distrital assumidamente gay recebe diariamente mensagens hostis, racistas e homofóbicas.

Único representante do PSD na Câmara Legislativa, Robério Negreiros não tem opinião formada sobre a proposta do GDF para estender o modelo do Instituto Hospital de Base para outras unidades da rede pública. DE OLHO NO D.O – Pelo menos até o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidir quem será o administrador de Sobradinho II, onde o distrital tenta

Cobertor curto

RESTITUIÇÃO – De férias no Ceará, Veras disse ao Brasília Capital que, na verdade, apenas repôs o recurso, uma vez que o projeto encaminhado pelo ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) havia remanejado os R$ 19 milhões do plano de saúde para a Comunicação. SUPLEMENTAÇÃO – O pedetista garante, no entanto, que ao longo do ano não se oporá a votar a favor de possíveis suplementações orçamentárias para a publicidade do governo. “Desde que não sejam valores exorbitantes e que haja justificativa plausível”, ponderou. AHH BOM! - O esclarecimento de Veras, em parte, acalma o mercado de Comunicação, que conta com essa verba para crescer no DF em 2019.

emplacar um aliado. A estratégia foi montada pelos caciques do Rogério Rosso e Renato Santana.

Sem endereço JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL

Na votação do Orçamento de 2019, a verba da Secretaria de Comunicação foi reduzida em R$ 19 milhões. A emenda foi apresentada pelo deputado Reginaldo Veras (PDT) para destinar o dinheiro ao pagamento do plano de saúde dos servidores do GDF. O acordo foi feito com o relator Agaciel Maia (PR).

A recém-criada Secretaria da Juventude ainda não tem CEP. O secretário Léo Bijus (foto) despacha no Palácio do Buriti, mas passa parte do expediente com agenda externa, vistoriando obras e visitando órgãos ligados à Secretaria. SEM EQUIPE - Filiado ao PDT, Bijus é o mais jovem secretário da história

Ofensas diárias

do GDF e até agora, além dele, foram nomeados apenas o adjunto Fabiano Cândido e o chefe de gabinete Geovani José, que trabalhava com a ex-deputada Luzia de Paula (PSB). HERANÇA - A nova estrutura deve absorver servidores da antiga Secretaria de Políticas para Criança, Adolescentes e Juventude. A ideia de Bijus é otimizar projetos como o “Bora Vencer” e o “Jovem Candango” e “criar condições reais de qualificação para emancipar este importante segmento da população”. Seu orçamento é de R$ 70 milhões.

Sem destino

MARIELLE - Presidente do PSOL, mesma legenda da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro, Félix tem redobrado os cuidados com segurança, a fim de resguadar sua integridade física e dos servidores de seu gabinete, além de criar estratégias para blindar seu mandado de ofensivas políticas com o avanço de agendas conservadoras e religiosas no país. SEGURANÇA - Com uma campanha baseada em discutir liberdades individuais e garantia de direitos, o deputado obteve quase 11 mil votos, sendo o primeiro distrital eleito pela legenda no DF. Recentemente, o coronel Ribas, ex-chefe da Casa Militar do DF, assumiu cargo de segurança parlamentar do gabinete 24 da CLDF com a missão de mapear os riscos e garantir a integridade física de Félix. As mensagens ofensivas e com potencial de ameaça estão sendo avaliadas juridicamente. REPRODUÇÃO FACEBOOK

Com a extinção da Secretaria de Políticas para Criança, Adolescente e Juventude, o Conselho da Criança e do Adolescente – CDCA, também não tem destino certo. Juntamente com um fundo de cerca de R$ 40 milhões, especulações sugerem que estrutura pode ser lotada na Secretaria de Justiça e Cidadania. FUNDO - O órgão é responsável pela

política de promoção dos direitos da criança e do adolescente. O decreto de criação trata ainda da vinculação do conselho à SECRIA. Com a extinção da pasta, a expectativa é de que o Conselho passe para a Sejus. Outra de suas principais atribuições, é a gestão de aplicação do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente – FDCA-DF, estimado em cerca de R$ 40 milhões


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ENTREVISTA ROSILENE CÔRREA JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL

Qual a posição do Sinpro em relação à proposta de militarizar escolas públicas? – A militarização das escolas não é algo novo, embora seja a primeira vez que um governo aqui no DF tem essa infeliz ousadia. Outros estados já estão com isso. O Sinpro foi bastante solidários ao estado de Goiás nessa questão. Os alunos resistiram bravamente, mas infelizmente não foi suficiente. Hoje Goiás tem este modelo de escolas. Para nossa surpresa, o primeiro anúncio relativo à educação do governador Ibaneis Rocha foi exatamente essa história, que eles insistem em dizer que não é militarização, mas eu tenho certeza que é. O GDF diz que é um projeto piloto em quatro escolas... – O grave nisso é que você tem uma sociedade, de modo geral, desejosa por segurança pública. Hoje, no Brasil, o ambiente é favorável a isso. O presidente da República pautou muito isso. Ele deu garantias de que iria mudar esse quadro. Na nossa avaliação, há uma inversão. Porque você não combate a violência facilitando a posse de armas, por exemplo. Como o Sinpro vai reagir? – Nossa primeira medida foi chamar ao sindicato os professores dessas quatro escolas. Não é um problema pontual. É um problema da rede e de toda a cidade. É importante ressaltar isso. Qual a educação queremos? Não é uma educação que caiba militares atuando dentro das escolas. Mesmo que esses militares sejam habilitados a desenvolver esse trabalho? – Não podemos cometer nenhum tipo de leviandade. A PM tem quadros muito bem formados e capacitados. Ago-

que é a última parcela do nosso reajuste conquistado em 2012, de 3,7%. Não se trata de pagar essa pendência e resolver. Vai zerar uma dívida que o GDF tem com a categoria. O que nós queremos debater é o cumprimento da Meta 17 do Plano Distrital de Educação, que estabelece equiparar com a média de outros servidores de nível superior.

“É desonesto mostrar a diferença de um colégio militar sem tratar das condições oferecidas a este colégio”

“Não queremos militares atuando dentro das escolas” Orlando Pontes

O

Sindicato dos Professoes iniciou, quinta-feira (17), os debates sobre a determinação do GDF de militarizar

ra, a formação militar é outro modelo de escola. Não é para as nossas escolas. Mas as escolas militares são tidas como referência... – Não são escolas-referências. São escolas de resultados. Quarteis. É nisso que nós descordamos drasticamente. Primeiro, que você não resolve o problema da violência militarizando as escolas. Se fosse assim, já teríamos muito mais colégios militares no Brasil. Ou você trata da coisa por meio de políticas públicas, que passam por investimentos efetivos na educação, ou é desonesto mostrar a diferença de um colégio militar sem tratar das condi-

quatro escolas da rede pública de Brasília. Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF, falou ao Brasília Capital sobre esta medida e as expectativas da categoria em relação a gestão Ibaneis Rocha.

ções oferecidas a este colégio. Quais são as principais diferenças? – Remuneração é maior. O investimento por aluno, é o dobro do de uma escola normal. A estrutura física do colégio militar não se compara com a maioria dos que a gente tem. E aí, é claro, a questão do ambiente seguro que todos querem. A localização é outro detalhe. São escolas bem localizadas. E tem outra coisa: o perfil dos alunos. São estudantes que passam por um processo seletivo. Aquele que não atinge o padrão exigido, sai. Sendo assim, seleciona-se uma clientela. Então passa a ser privilégio pago com recurso público. É

um processo excludente. Nós queremos discutir com o governo o que ele propõe para a educação, porque ainda não está claro.

Quais são as principais demandas da categoria? – São mais de 140 itens. A gente tem os eixos, e a partir disso vamos traçando as pautas. O salário é eixo mais importante? – O eixo financeiro passa pelo auxílio-alimentação, que está sem reajuste há quatro anos. O auxílio-saúde é o mesmo valor desde 2012 (R$ 200) e não temos plano de saúde. E temos uma pendência

O GDF lançou o SOS Educação. O Sinpro foi ouvido? – Não. Nada nos foi apresentado. Esperamos que o governador apresente algo que dialogue com a categoria. É claro que é urgente que melhore a estrutura das escolas. É interesse nosso. É bom trabalhar num ambiente agradável. Queremos tudo de melhor: melhor merenda, recursos para as escolas, PDAF em dia, reforma das escolas, nomeação de professores, de educadores pedagógicos, enfim... Agora, precisamos lembrar que também precisamos de salário. Se o governador insistir em discutir apenas com a área da Segurança deixará claro que o governo dele será da inversão: investir em segurança para ajudar na educação. Qual o deadline do Sinpro para iniciar uma negociação mais intensa, podendo chegar a uma greve, por exemplo? – Temos insistido no diálogo. Esse é o nosso perfil. Esperamos que o governo tenha capacidade de diálogo. Não queremos gerar desgaste para a categoria nem para os alunos. Uma greve é algo muito cruel. É chegar no limite. Chegar a este ponto é porque se está sendo desrespeitado. Governo não ganha, sindicato não ganha. Todo mundo tem a perder com uma greve. Mas a greve jamais será descartada.


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Organização Hospitalar: depressão e descrença Para resolver os problemas da gestão da Saúde do Distrito Federal, o governo local mirou no servidor, como se quem se desdobra para prestar assistência à população em condições completamente desfavoráveis fosse responsável pelo caos que subsequentes governos e gestões ineficazes deixaram se avolumar. É de conhecimento público que as condições deterioradas de trabalho têm provocado alto índice de absenteísmos por adoecimento. Transtornos mentais e comportamentais, leia-se ansiedade e depressão, fizeram quase 20% dos servidores ser afastados do trabalho. O reflexo na prestação de assistência à população é desastroso, tanto se o servidor é afastado quanto se trabalha doente. A piora desse quadro é, com certeza, o resultado imediato do encaminhamento do projeto de lei que propõe a entrega de toda a rede pública de saúde à gestão de uma pessoa jurídica de direito privado, e a extinção das carreiras dos servidores cedidos dos quadros da Secretaria de Estado de Saúde do DF.

Ansiedade e depressão por saber que, enquadrados em uma carreira em extinção, estão condenados a ter desvalorizados os salários com que sustentam suas famílias e porque, obviamente, a perspectiva de aposentadoria vai para o ralo. Não tem como dourar a pílula: o projeto de lei encaminhado pelo governador Ibaneis Rocha à Câmara Legislativa é estelionato eleitoral, fere a Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei no 8.080/1990) e, se adotado, traria uma série de outros problemas ao Distrito Federal como a probabilidade de quebra do Instituto de Previdência dos servidores do Distrito Federal. A Lei do SUS define que ele é constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. Mais que isso, ela define que a iniciativa privada (pessoas jurídicas de direito privado) pode participar do SUS apenas em caráter complemen-

tar. Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em Ações de Inconstitucionalidade sobre a participação de organizações privadas da sociedade civil na gestão da saúde reafirmam esse princípio constitutivo do SUS. Vamos frisar isso: a gestão privada só pode complementar a gestão pública naquilo que o Estado não pode prover – não pode substituí-lo. A entrega da gestão de unidades de saúde a organizações privadas da sociedade civil nem de longe é garantia de solução de problemas e teve efeitos desastrosos, como no Rio de Janeiro, onde houve aumento de custos e uma sequência de escândalos de desvios de recursos da Saúde e superfaturamento. Na Inglaterra, o modelo de participação da iniciativa privada na prestação de serviços públicos, que se estabeleceu a partir da década de 1970 e ganhou força 20 anos depois, em momento de crise, colocaram o Estado em situação de dependência e os custos se tornaram mais altos do que a prestação direta de serviços. Hoje o país faz o

Dr. Gutemberg, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e advogado

caminho inverso, estatizando o que foi privatizado, terceirizado ou compartilhado com a iniciativa privada. Entre os servidores, o PL de Ibaneis já está sendo chamado de “PL da Morte” e “PL da Extinção” e o medo se alastra como uma praga entre as demais categorias profissionais do serviço público. Diante da ameaça, profissionais que se animavam para participar de um processo de resgate da saúde pública do Distrito Federal agora encaram os pacientes se perguntando “o que será de nós?”

ARTIGO

PMs e Bombeiros também são pais e mães Antonio Ibañez Ruiz (*) Na hierarquia de poder da Secretaria de Educação, o Conselho Escolar - instrumento criado em 1996 pela lei da gestão democrática mas que por diversas circunstâncias foi esvalizado após período de intensa atividade - recorta um pouco o poder do diretor. Por sua vez, o diretor recorta um pouco o poder do secretário de Educação. Assim, entende-se porque não há tanta preocupação para que exista na escola um CE forte, participativo, aguerrido nas decisões, criativo e assumindo suas responsabilidades. As justificativas que concorrem para o esvaziamento são inúmeras

e, na maior parte das vezes, plenamente compreensíveis e justas. Se o CE entendesse que ele tem o poder de discutir e deliberar a respeito de prevenir, combater e contribuir com a eliminação da violência, a situação não teria chegado ao ponto em que se encontra hoje. A solução não é alguns policiais e bombeiros para dentro da escola e estabelecer uma rigorosa disciplina administrativa, pedagógica e financeira. Toda a comunidade escolar deseja uma escola disciplinada para que os professores possam dar tranquilamente suas aulas e os dirigentes e equipe administrativa exerçam suas funções. Os conflitos, quando surjam, que sejam resolvidos por pessoas capacitadas, com estratégias definidas pelo CE. Hoje, na grande maioria das escolas há pessoas preparadas para resolver os conflitos. Se não há, a

comunidade escolar e o CE saberão como achá-las em outras escolas, nas universidades, no sistema de saúde, na PM, no Corpo de Bombeiros e em outras instituições. Por falar em PM e Bombeiros, eles também são pais ou mães de alunos, e a melhor função para eles é a de se juntar aos outros pais para fortalecer a comunidade escolar. O fortalecimento social da escola se dá pela articulação com outras escolas vizinhas, com a formação de redes de pais, não só de alunos da escola em questão, com o Batalhão Escolar, com as polícias Militar e Civil, com os Bombeiros, com os programas federais e locais de combate às drogas, com o fortalecimento das atividades culturais (de exposições a brincadeiras, intercalando com palestras de cientistas, escritores, artesãos, artistas, por exemplo), esportivas e tantas outras mais.

Nada melhor para combater a violência do que ocupar as nossas escolas com essas atividades, organizadas e preparadas estrategicamente pelo CE. Se isso acontecer teremos vencido a violência e, então, teremos que cuidar para que ela não volte: devemos continuar com o CE funcionando ativamente. Sei que muitos argumentarão que não é possível o funcionamento do CE porque os pais trabalham, os professores têm que corrigir provas, o (a) diretor (a) tem uma reunião urgente na Secretaria... Tudo é compreensível, mas nada se compara com a responsabilidade que temos com o futuro de nossos filhos e netos. Façamos mais esse sacrifício por eles.

(*) Ex-reitor da UnB (1989-93) e ex-secretário de Educação do DF (1995-98)


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De pastel a caviar Agenda de Ibaneis inclui de visitas a feiras na periferia a banquetes nos palácios da Capital 12

Visita às feiras. No Guará, vendedor faz selfie com o governador, que saboreia pastel com caldo de cana. Na Torre, Ibaneis caiu no samba com o grupo Café com Samba.

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governador Ibaneis Rocha (MDB) implementou um novo ritmo de trabalho no Palácio do Buriti. Em suas duas primeiras semanas no comando do GDF, adotou estilo próprio de acompanhamento das ações governo. O Brasília Capital acompanhou a agenda do chefe do Executivo local, que incluiu compromissos desde visitas com lanches de pastel com caldo de cana em feiras populares até solenidades com autoridades e chefes de Estado estrangeiros nos palácios da Capital. FOTOS: RENATO ALVES / GDF

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Visita de cortesia ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A pauta foi a reforma da Previdência e o encontro de governadores, marcado para 20 de fevereiro. Depois, encontro com oito deputados distritais para debater pauta nos primeiros meses do Legislativo.

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15 Visita às obras de drenagem e recuperação de asfalto em Vicente Pires. Trabalhadores da Novacap estavam na Rua 8, avançando na conclusão do trabalho. Visita às obras nos viadutos da Galeria dos Estados e da ponte do Bragheto e anúncio da entrega de cinco novos viadutos no Riacho Fundo I, Sudoeste, Jardim Botânico, Itapoã e Recanto das Emas. GDF vai reformar dois viadutos na Avenida N2.

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18 Lançamento da força-tarefa para prevenção à dengue, no Buriti. Ação integrada contará com apoio do Corpo de Bombeiros e das administrações regionais. Drones serão utilizados para verificar casas abandonadas que podem significar riscos aos vizinhos.

Sanção da Lei do Uso e Ocupação do Solo (LUOS), que tramitou durante sete anos na Câmara Legislativa. Ato contou com a presença de deputados e lideranças empresarias de setores interessados, entre eles, Jamal Bittar, presidente da Federação da Indústria de Brasília (Fibra), que se disse “aliviado” com a aprovação.

Em reunião no Buriti, passou um recado para toda a equipe de governo. Quer prioridade zero no atendimento ao cidadão. Um só objetivo: “atender bem a comunidade”, afirmou.


Brasília Capital n Cidades n 7 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br REPRODUÇÃO: ORLA LIVRE

Quem ama preserva

Parque Ecológico Dom Bosco, uma das sete unidades de conservação localizadas no Lago Sul, oferece infraestrutura destinada ao lazer e acesso ao Lago Paranoá

C

riado com a finalidade de amenizar o microclima e garantir conforto térmico aos habitantes da Nova Capital, o Lago Paranoá tem sido a menina dos olhos das plataformas políticas lançadas no Distrito Federal nos últimos anos. Na recém-encerrada gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), a ordem era dar o maior acesso possível da população ao espelho d’água. Agora, o governador Ibaneis Ro-

cha (MDB) lança mão das premissas legais para os cuidados rigorosos ao cumprimento do que versa o Código Florestal sobre as áreas de preservação permanente. Resta a dúvida em forma de novo desafio para o Buriti: como harmonizar a preservação e a democratização do uso pela população? O Paranoá é um reservatório artificial e, por esse motivo, com a promulgação do novo Código Florestal, em

2012, houve questionamentos sobre a obrigatoriedade da aplicação dessa legislação na região. Iniciou-se, então, amplo processo de discussão sobre a condição de Área de Preservação Permanente (APA) da orla do lago. Por fim, o entendimento que prosperou, segundo o Tribunal de Justiça, era de que legislação anterior ao código, datada de 1965, já previa que as florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao redor das lagoas, lagos

ou reservatórios naturais ou artificiais constituíam áreas de preservação. Segundo o promotor Roberto Carlos Batista, da 1ª Promotoria de Defesa do Meio Ambiente (PRODEMA), as Áreas de preservação permanente (APPs), assim como as Unidades de Conservação, visam atender ao direito fundamental de todo brasileiro a um “meio ambiente ecologicamente equilibrado”, conforme assegurado no artigo 225 da Constituição. }


Brasília Capital n Cidades n 8 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

Paranoá: Como demo Da Redação A gestão de Rollemberg se empenhou para dar acesso livre da população a áreas que antes eram usufruídas apenas por quem havia invadido o limite de seus terrenos, em uma das áreas mais nobres da cidade. Por uma definição estratégica, o ex-governador empunhou a bandeira da legalidade e do combate à grilagem de terra e ocupação irregular – dois dos principais motivos de problemas ambientais registrados no DF. Após acordo firmado a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) e o Ministério Público (MPDFT), Rollemberg desobstruiu áreas em diversas localidades, sem distinção entre as mais vulneráreis socialmente e nas mais abastadas. Quis emplacar a marca do ordenamento em sua gestão. Mas pecou ao causar mais estresse ambiental nas áreas da orla do lago com o uso de tratores e escavadeiras. Com a derrubada das edificações irregulares, o entulho e os restos de obras se avolumaram nas proximidades do lago. Ou seja, a retirada das ocupações não mitigou os danos ambientais já causados. O governo percebeu, então, que a derrubada de muros de arrimo e píers assorearia ainda mais o espelho d’água. O uso dos espaços públicos lindeiros às residências ainda é precário. Não há banheiros, bolsões de estacionamento, duchas ou demais equipamentos públicos. Os

moradores ainda questionam a segurança nesses locais. As manifestações de Ibaneis demonstram um quadro mais ortodoxo no que diz respeito ao cumprimento da legislação ambiental. O acesso desordenado das pessoas é uma das principais preocupações do governo, uma vez que o uso sem infraestrutura resulta também em problemas ambientais. O acesso democrático ao Lago, patrimônio público do conjunto da sociedade, seria mantido em áreas destinadas ao uso, com os devidos cuidados para que, ao invés de agravar ainda mais o problema da preservação das águas do Paranoá, se tornasse, de fato, uma realidade. CAPTAÇÃO - Durante a crise hídrica que atingiu o DF em 2017, foi iniciada a captação de águas do Lago Paranoá para o consumo humano. Atualmente, o subsistema abastece o Lago Norte, Paranoá, Itapoã e Taquari, com vasão de 700 litros de água por segundo. À época, manifestantes se opuseram à operação, por acreditarem que o lago poderia sofrer com o desabastecimento, no longo prazo. Outras ponderações criticavam a captação ocorrer próxima ao local de descarte de esgoto tratado.“A instalação acendeu um alerta para a necessidade de garantir a melhor qualidade possível da água do manancial, resguardando a saúde da população”, afirma o administrador do Lago Sul, Rubens Santoro

Saiba mais: - Existem 72 parques ecológicos espalhados por todas as regiões administrativas do DF; - Estão disponíveis para uso da comunidade espaços com acesso ao lago, como a Ermida Dom Bosco, o Deck Sul, Parque da Península, Deck Norte, Parque das Garças e Parque de Uso Múltiplo do Lago Norte; - As unidades de conservação são espaços de uso público mas também áreas de preservação ambiental. Nesses locais existem regras que restringem fogueiras, churrasco, consumo de bebidas alcoólicas, tráfego de bicicletas e a presença de animais domésticos.

De acordo com o Código Florestal, apenas obras de baixo impacto ambiental são permitidas na faixa de

Masterplan, polêm O escritório Estúdio 41 foi o vencedor do Concurso Público do Masterplan da Orla do Lago Paranoá. A proposta previa a instalação de equipamentos de lazer, restaurantes, áreas de contemplação e até uma roda-gigante para os usuários nos 38 quilômetros da orla. Ao todo, foram 22 projetos avaliados. O contrato entre o GDF e o escritório foi assinado, mas as licitações para construção ficaram de herança para Ibaneis, que sinaliza uma mudança de rumo. Segundo publicado pelos antigos gestores, foram levados em conside-

ração os aspectos bucólicos, previstos pelo projeto piloto de Brasília, mas ainda as questões ambientais e de ordenamento territorial. Entretanto, a instalação de equipamentos públicos de maior impacto contraria a legislação ambiental e não será mais desenvolvida da maneira como previamente planejada. Para o urbanista e professor da UnB Frederico Flósculo (foto ao lado), o viés principal do projeto “mais parece uma proposta Empresarial isolada e descontextualizada tanto da crise hídrica e ambiental quanto da necessidade


Brasília Capital n Cidades n 9 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

ocratizar e preservar? DÊNIO SIMÕES / AGÊNCIA BRASÍLIA

e 30m entre a margem dos reservatórios de água artificiais, caso do Lago Paranoá, e as cercas

micas e ousadia

Implementação nas áreas com acesso ao lago Na quinta-feira (17), o administrador do Lago Sul, Rubens Santoro, vistoriou os parques ecológicos e vivenciais da região. Lixo, falta de estrutura e edificações irregulares são recorrentes nas sete unidades. Com exceção do Parque Ecológico Dom Bosco e do Parque da Asa Delta, que receberam nas últimas gestões massivos investimentos em recuperação e reformas nos equipamentos públicos, os demais ainda carecem de infraestrutura adequada para uso. “Nos últimos dias, visitamos as unidades. Identificamos, por exemplo, no Parque das Copaíbas, mais de 20 edificações irregulares. Encontramos até uma piscina dentro da área de preservação. É importante ressaltarmos que o uso controlado destas áreas é previsto pela legislação ambiental”, comenta. Segundo o administrador, os planos do governo são de controlar o acesso das pessoas aos locais que não possuem condições de uso, garantir a segurança dos moradores que agora sofrem com o aumento da população de rua nos fundos das casas, controlar o acesso ao lago nessas áreas e liberar em outras, com mais condição de receber o público.

“De forma alguma nosso intuito é proibir a população de usufruir de um bem comum. Mas, justamente por ser um bem de uso da sociedade, é preciso haver regramentos. O cuidado com o manancial, o qual já serve de fonte de abastecimento para consumo humano, é uma de nossas principais preocupações. A população tem direito de usar o lago, mas de forma sustentável, orientada e visando mitigar possíveis danos ambientais”, afirma. Ainda de acordo com o administrador, as vistorias e as visitas serão frequentes, e o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) já realizou licitação para criação de planos de manejo das unidades, o que deve apresentar um panorama melhor do uso desses espaços, bem como regramentos específicos levando em consideração as necessidades de cada um dos parques. “Vamos investir em áreas adequadas para o lazer e a população terá seu direito de uso do lago não só garantido, mas ampliado. É preciso ter acesso de transporte, banheiros e mobiliário urbano para que a passagem pelo local seja realmente uma boa experiência”.

REPRODUÇÃO FACEBOOK

de colocar as comunidades de moradores como responsáveis pela gestão de suas vizinhanças”. “O grande equívoco da proposta de Masterplan é o seu espetacularismo, sua influência na criação de margens usadas de forma exuberante, na transformação do Lago em um grande Balneário a céu aberto. Isso somente demonstrou a ignorância já revelada pelo governo Rollemberg com relação ao manejo ambiental, não só da bacia do Paranoá como de várias partes críticas do território do Distrito Federal”, critica Flósculo.

REPRODUÇÃO

Visitantes curtem espaço de convivência no Parque da Asa Delta, no Lago Sul


Brasília Capital n Cidades n 10 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

Brasília

Acompanhe também na internet o blog Brasília, por Chico Sant’Anna, em https://chicosantanna.wordpress. com Contatos: blogdochicosantanna@gmail.com

Por Chico Sant’Anna

Grilagem cresce n D

esde a campanha eleitoral, as invasões de áreas públicas proliferaram por todo o Distrito Federal. Do Park Way a Planaltina, passando pela Estrutural, os grileiros agem sem cerimônia. Escondida nas matas ciliares do Córrego do Mato Seco, começa a ser erguida uma comunidade. O local está inserido na APA Gama-Cabeça do Veado, mas pelo menos uns cinco barracos já foram erguidos. Aos poucos, vai desaparecendo a densa mata que protege o córrego – um dos principais afluentes do Ribeirão do Gama, tributário do Lago Paranoá. A invasão fere o Código Florestal, coloca em risco a capacidade hídrica do Mato Seco e fauna e a flora locais. Desde o início do governo Rollemberg, a comunidade do Park Way reivindica a transformação da calha do Mato Seco em Parque Ambiental. Suas nascentes, também agredidas pela grilagem, se localizam próximo ao Catetinho, entre as quadras 27 e 28. As autoridades ambientais do governo passado reconheceram a importância de se criar o Parque, mas de concreto, nada fizeram. PLANALTINA – Na Área de Proteção Ambiental São Bartolomeu, em Planaltina, uma das maiores invasões em curso já contabiliza 1,4 mil famílias. O São Bartolomeu ainda é uma das opções futuras de abastecimento d’água do DF. Corumbá 4 pode atender a demanda por uns 20 a 30 anos, segundo os técnicos. Nessa APA, as construções irregulares avançam sem timidez. Por lá, os tratores destroe a vegetação

FOTOS: CHICO SANT’ANNA

Na chácara Santa Luzia, na Estrutural, 300 famílias levantaram barracos em apenas um dia: ameaça ao Paarque da Água Mineral

original do cerrado. A Polícia autuou os tratoristas, mas não confiscou as máquinas. Ruas são abertas, energia é puxada e, atônitas, as autoridades não impedem o roubo do patrimônio público imobiliário do DF. ESTRUTURAL – No domingo (13), em apenas um dia ressurgiu uma nova invasão na chácara Santa Luzia. Pelo menos 300 famílias levanta-

ram barracos numa área onde a Justiça determinou ao GDF a desocupação, pois é muito próxima ao Parque Nacional de Brasília, onde se situa a Água Mineral. Empresários da Cidade dos Automóveis mostram-se apreensivos. Informações preliminares apontam que no comando dessa ação estaria um ex-candidato a deputado distrital que não teve êxito nas eleições passadas.

GDF ESTÁ CIENTE - A secretaria das Cidades, comandada pelo advogado Everardo Gueiros, está ciente do que está acontecendo. O próprio secretário esteve no local e informou ao Brasília Capital que entrou em contato com a Agefis e o Ibram para, em conjunto com as Polícias Civil e Militar montar uma força-tarefa para evitar a proliferação da invasão.


Brasília Capital n Cidades n 11 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

o Distrito Federal Militarização de escolas A decisão de militarizar quatro escolas da rede oficial do Distrito (leia matéria na página 12) provocou versões diversas no Buriti. Ora o GDF afirma que o projeto visa dotar escolas públicas com a mesma qualidade de ensino das militares, ora garante que os militares não atuarão no campo da pedagogia, mas sim na “imposição da ordem e da disciplina”. Na secretaria de Educação, a informação repassada ao Correio Braziliense é de que a proposta não faz parte do programa de Educação do governo, mas do SOS Segurança. Nas redes sociais, o secretário de Educação Rafael Parente escreveu que “é uma experiência, dentre várias outras que implementaremos e avaliaremos muito de perto para tentar resolver questões sérias, como a violência, a indisciplina, e a falta de respeito e de relacionamentos de afeto em nossas escolas”. PROJETO PEDAGÓGICO – O GDF, como o próprio secretário de Educação afirmou em entrevista ao Brasília Capital, ainda não possui um projeto pedagógico acabado. Na medida em que a poeira vai se assentando, percebe-se que o anúncio da militarização não é um projeto pedagógico, mas sim uma proposta de inserção de policiais nas instalações escolares. O Batalhão Escolar, que deveria atuar nos portões das escolas, vai entrar

siva, própria da cultura militar, possa trazer transtornos psicológicos. Chegam a alertar sobre a elevada taxa de suicídios entre os adolescentes no Brasil. Em 2016, foram 11,6 mil casos. Na maioria deles, a depressão e o sentimento de incompreensão são apontados como motivo. É aí que se questiona: haverá liberdade para o jovem expressar sua adolescência? Será livre o jeito de vestir e de se expressar socialmente? Ou prevalecerá o estilo Ordem Unida: Escola! Direita, volver! Ordinário, estude!

Ordem unida: pelo projeto do GDF, quatro escolas da rede oficial serão militarizadas

nos colégios com a missão de vigiar e disciplinar. Na prática, cada unidade vai ganhar cera de 20 militares da reserva, da PM e do Corpo de Bombeiros, a um custo mensal de 200 mil. “A atual direção permanece à frente e os militares entrarão para cuidar, basicamente, da disciplina, do controle de acesso à escola e da ordem unida, com formação de filas pelos alunos para entrada e saída de sala”, detalhou ao Correio Mauro Oliveira, assessor de gabinete do secretário de Educação. Já Rafael Parente, em seu Facebook, diz que com os militares, além de resolver problemas com indisciplina e violência, visam acelerar a implementação de educação integral com ações no contraturno.

“Serão oferecidas, entre outras, atividades de esportes, banda e musicalização”. Mauro Oliveira informou que a nova rotina incluirá um momento cívico diário, com canto do Hino Nacional antes das aulas. Na entrevista ao Brasília Capital, Parente disse que está se esforçando para que o ano letivo tenha início com tudo em cima, inclusive material didático, mas que temia a falta de recursos. LIBERDADE – O foco da militarização piloto em quatro escolas recairá sobre alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio. Nas redes sociais, docentes perguntam: como ficará a liberdade de expressão dessa juventude? E temem que uma postura repres-

BOLSONARO – Há quem veja na proposta de Ibaneis duas investidas de fundo político. De um lado, faz um agrado ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). Durante a campanha, ele prometeu espalhar pelo país escolas militares. Baixou, inclusive, o decreto 9.465/2019, criando a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares, vinculada à secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. Caberá ao novo órgão "promover, fomentar, acompanhar e avaliar, por meio de parcerias, a adoção por adesão do modelo de escolas cívico-militares nos sistemas de ensino municipais, estaduais e distrital, tendo como base a gestão administrativa, educacional e didático-pedagógica adotada por colégios militares do Exército, Polícias e Bombeiros Militares". Do outro lado, Ibaneis faz um afago financeiro a militares da reserva da PM e dos Bombeiros. Ao completar o seu projeto de 40 escolas, ele terá reforçado o orçamento doméstico de uma tropa de cerca de 1.000 militares reformados.


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VIA

Satélites Por Júlio Pontes

{EDUCAÇÃO

{DISTRITO DIVULGAÇÃO

UBEC e Prefeitura de Luziânia assinam carta de intenção para implantação de campus universitário

Católica implanta campus em Luziânia A União Brasileira de Educação Católica (UBEC) assinou protocolo de intenções para implantação do Campus Sul da Universidade Católica de Brasília (UCB) em Luziânia (GO). Inicialmente, os cursos ocuparão um espaço cedido pelo município, enquan-

to aguardam a implantação do Campus Sul, que será construído junto ao Power Center, às margens da BR-040. Para o professor Márcio Dias, diretor da UCB, a chegada da Católica a Luziânia é um divisor de águas na perspectiva de crescimento da UBEC.

“Vamos levar o padrão Católica de ensino para mais de 250 mil habitantes que até o momento não dispunham de educação superior presencial. Em breve, vamos oferecer também cursos Lato e Stricto Sensu, além do esperado curso de medicina”, afirma.

Unieuro lança curso de Medicina O Centro Universitário Unieuro traz a Brasília um novo curso de Medicina com avaliação máxima do Ministério da Educação nos segmentos de Organização Didático-Pedagógica, Corpo

BARBEARIA INAUGURA COM PROMOÇÃO - A Nine Barbearia inaugura neste sábado (19) e oferecendo serviço em dobro aos primeiros clientes. Quem cortar o cabelo e fizer a barba poderá retornar num prazo de trinta dias e fazer o mesmo procedimento de graça. Localizada na Rua 12 de Vicente Pires, a Nine surge com o conceito de barbearia gourmet, nova tendência no mercado. Por isso, oferece ao público masculino ambiente decorado com artigos esportivos, televisões e videogames, além de profissionais capacitados. Informações no Instagram: @ninebarbearia

Docente e Infraestrutura. Serão inicialmente oferecidas 100 vagas, turno integral e duração de seis anos. As aulas serão ministradas unidade da Asa Sul e atividades complementares estão previstas

em unidades conveniadas do SUS. As inscrições serão realizadas pelo site http:// www.unieuro.edu.br, até o dia 21 de janeiro. As provas acontecem no dia 27 de janeiro, às 14h.

FEDERAL

GDF adota ensino militar O governador Ibaneis Rocha anunciou implantação de quatro escolas militares no DF. Recanto das Emas, Estrutural, Ceilândia e Sobradinho receberão o projeto piloto a partir do início do ano letivo, em 11 de fevereiro. A iniciativa faz parte do programa SOS Segurança. Segundo Ibaneis, cada uma das unidades contará com a presença de cerca de 25 militares que farão o controle disciplinar, a coordenação de atividades patrióticas, de musicalização e esporte, no contraturno escolar. As unidades terão regras especiais, ao modelo das escolas militares. Estudantes terão uni-

formes diferenciados, rigor de horários e novas condutas ao transitar pela área coletiva dos colégios, sob a supervisão de PMs e Bombeiros da reserva. Os Centros Educacionais que adotarão o novo modelo estão localizados em áreas de vulnerabilidade social e concentram altos índices de criminalidade. O baixo desempenho dos estudantes também foi um dos fatores de seleção das unidades para implantação do projeto piloto. Confira unidades selecionadas: CED nº 7 – Ceilândia; CED nº 1 – Estrutural; CED nº 308 – Recanto das Emas; CED nº 3 – Sobradinho.

70 mil vagas em concursos no DF Os orçamentos aprovados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e pelo governador de Brasília Ibaneis Rocha (MDB) são animadores para os concurseiros. Ao todo, são quase 70 mil vagas para o

serviço público em 2019 - sendo 48.224 federais e 21.172 distritais, sem contar os processos seletivos de empresas estatais. A segurança pública deve ser responsável por mais certames.

Juizado Itinerante do TJDFT Com intuito de democratizar e ampliar o acesso à Justiça, o TJDFT vai até o cidadão com o Juizado Itinerante. Trata-se de um ônibus que visita cidades distantes do centro e dos tradicionais fóruns e leva grande número de pessoas, antes afastadas dos tribunais, ao Poder Judiciário.

O Juizado recebe causas no valor de até 40 salários mínimos e resolve questões como cobranças, despejos, indenização por inclusão do nome no SPC e no Serasa e outros prejuízos. As causas no valor de até 20 salários mínimos dispensam a presença de advogado.

21 e 28 de Janeiro

Rodoviária do Plano Piloto - Plataforma Superior

22, 24, 29 e 31 de Janeiro

Recanto das Emas - QD. 102 – Ao lado do posto de saúde

23 e 30 de Janeiro

Riacho Fundo II - Posto da Polícia Militar - QN 9A

25 de Janeiro

Taguatinga - Estacionamento da Administração Regional


BARBEARIA GOURMET DE SEGUNDA A SÁBADO - 9h às 20h SHVP Rua 12 Ch. 312 loja 21 Nine Barbearia

@ninebarbearia

Agende seu horário: 3526.1007


Brasília Capital n Geral n 14 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

NUTRIÇÃO

Caroline Romeiro Perca peso em dez dias! Dieta detox, da lua, do sol, da luz, ou do que for.... Se te prometer um resultado fechado, está te enganando Quem nunca leu uma chamada com o título acima nas capas de revistas de dieta ou moda? Todas as vezes que vejo algo parecido tenho vontade de gritar. Sim! Gritar. Porque parece que as pessoas querem ser enganadas. Vejo um monte de

gente pegando essas revistas para seguir a tal dieta que promete te emagrecer em sete ou dez dias. Ah... mas você vai dizer que não segue dieta de revista, você procura profissionais “renomados”, mas se esse profissional é do grupo que

CRÔNICA

Fernando Pinto As dádivas de meus três ídolos! A admiração por Ernest Hemingway, Ernesto Guevara e Juscelino Kubstchek Eles são apenas três: Ernest Hemingway, o médico argentino Ernesto Guevara e o estadista brasileiro Juscelino Kubitscheck. Mas Hemingway foi o único pincelado nas Letras, até porque sempre figurou como o meu ídolo literário, sobre o qual escrevi recentemente, lembrando que ele andava de braços dados com a morte, mas sem temê-la, tal qual quando colocou o cano de uma espingarda na boca e

acionou o gatilho com o dedo do pé, aos 61 anos de idade. De fato, em quase todas as obras do autor os epílogos são bastante parecidos, com o herói protagonista morrendo. Porém, sem demonstrar medo da morte, reagindo contra o inimigo de arma em punho, a exemplo do sensacional livro “Por quem os sinos dobram”, título inspirado nos versos do célebre poeta inglês John Donne.

O povo e o poder com Marcelo Ramos Repóter do povão

Rádio JK - AM 1.410 (segunda a sábado - 08h às 10h) Ligue e participe:

99981-3086 / www.opovoeopoder.com

promete esses mesmos resultados, você está sendo enganado por ele também. Nenhum profissional ou dieta pode te “prometer” um resultado assim tão “fechado” e com tanta certeza. Sabe por quê? Isso se chama propaganda enganosa. Afinal, você já deve ter ouvido falar em individualidade biológica? Isso faz com que cada organismo responda a uma estratégia nutricional de modo diferente. Portanto, nenhum profissional pode te prometer reduzir 8 Kg em uma semana, e muito menos te prometer a barriga “tanquinho” que você viu na modelo, porque aquela barriga depende de uma série de fatores, como hábitos de vida – incluindo dieta e exercício –, além dos fato-

res genéticos que envolvem esses resultados. Dieta detox, da lua, do sol, da luz, ou do que for.... Se te prometer um resultado fechado, está te enganando. E, mais uma vez: procure um nutricionista que possa te acompanhar e garantir os melhores resultados! Somos únicos, e cada um precisará de uma estratégia nutricional diferente e terá resultados também diferentes. Aproveite a sua exclusividade!

Este romance cita a realidade da guerra civil espanhola, sendo o protagonista um guerrilheiro americano que fazia parte da Brigada Internacional de voluntários que lutavam contra o general nazista Francisco Franco. O mesmo grand-final se repete na pele do pintor Thomas Hudson, idem obra-prima: “As Ihas da Corrente”. No que se refere aos outros dois, convém justificar que a escolha recaiu não por motivos de ideologia, mas, sobretudo pela seriedade de dedicar a sua vida de em favor de seus semelhantes, como foi o caso do médico argentino Ernesto Guevara, mais conhecido como “Tchê”, que virou herói lutando ao lado dos irmãos Raul e Fidel Castro para libertar Cuba do jugo do ditador Fulgêncio Batista. Além do mais, sacrificou o conforto físico para ir combater o inimigo em locais inóspitos, como nos pântanos da Bolívia, onde foi co-

vardemente assassinado. No caso de Juscelino, a dádiva foi exclusiva à sua Pátria, ao construir uma metrópole em pleno deserto do Planalto goiano em menos de quatro anos, enfrentando inimigos poderosos como Carlos Lacerda, líder da UDN; e o editor paraibano Assis Chateaubriand, que colocou a força de seus 34 órgãos de imprensa contra a inauguração da nova Capital, que tinha como principal objetivo ampliar a fronteira do Brasil, religando-o do Sul ao Norte. Felizmente, Chatô, como era conhecido o advogado da canadense Light and Power, não conseguiu concretizar a tentativa de vender o Brasil ao capital estrangeiro a troco de banana!

Caroline Romeiro Nutriocionista e professora na Universidade Católica de Brasília (UCB)

Fernando Pinto Jornalista e escritor


Brasília Capital n Geral n 15 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

ESPÍRITO

José Matos Brasil, mostra a tua cara! Descobriu-se entre os batedores de panelas médicos que batiam o ponto e não trabalhavam e empresários sonegadores de impostos As manifestações públicas de corruptos contra a corrupção, que tiraram a presidente Dilma do poder, aprofundaram a divisão entre os brasileiros. Os corruptos, com poucas exceções, vestidos de verde e amarelo, foram às ruas bater panelas. Com o tempo, descobriu-se entre os batedores de panelas médicos que batiam o ponto e não trabalhavam; empresários corruptos

e sonegadores de impostos; deputados corruptos que estão presos; membros do governo usurpador que, também estão presos; o próprio ex-presidente recém-saído do cargo respondendo a vários processos; e muitos representantes da classe média, massa de manobra da elite, e até, trabalhadores e estudantes iludidos. A verdade é que era quase tudo desculpas de uma elite racista e ex-

PROFESSOR

Elias Santana E o português, Bolsonaro, como vai? Vamos, novamente, cair no erro de avaliar competência por meio do modo de falar das pessoas? Fizemos isso com Lula e Dilma Desde 1º de janeiro de 2019, nosso país é dirigido por um novo presidente: Jair Messias Bolsonaro, ex-deputado federal e capitão reformado do Exército. Com o resultado das urnas, diversas análises são feitas, a fim de descrever cenários e traçar perspectivas. E, como eu já ouvi muito sobre o português do novo governante, resolvi falar sobre o assunto. Na noite de 28 de outubro, Bolsonaro fez dois discursos – um lido e outro espontâneo. O primeiro foi muito bem redigido, com uma mensagem otimista. Pouco importa quem linguisticamente elaborou o texto: qualquer pessoa notável está rodeada de assessores, e isso

é necessário! Ninguém sabe de tudo e, quando preciso, deve contar com o suporte de profissionais, para que a mensagem chegue ao receptor com clareza. No segundo – devido à espontaneidade –, não há o mesmo rigor gramatical. Todavia, isso acontece com qualquer pessoa, brasileira ou não! A velocidade entre o que se pensa e o que se fala é muito alta, e isso compromete o monitoramento linguístico. É notável também que o presidente possui alguns vícios de pronúncia, como, por exemplo, não pronunciar B quando este não é seguido de vogal (como em “obviamente”). Todavia, sobre a ortoépia

cludente, contrariada e apoiada por uma classe média que pensa que é rica, incomodadas que estavam com a ascensão de pobres e negros. A corrupção era apenas pano de fundo para os protestos, embora existisse, ainda existe e continuará existindo, seja em que governo for, porque falta consciência de Pátria, de família, de ser humano, de filhos de Deus em missão na Terra. Pobres mortais ignorantes que só vão pensar no valor de uma consciência limpa na hora da morte, quando não há mais tempo. André Luis, mestre de Chico Xavier, escreveu: “o dever bem cumprido é excelente travesseiro para a noite” O povo aborígene ensinou: “estamos só de passagem. Vivemos observar, aprender, amar e depois voltar pra casa”. Após as eleições, os intolerantes - muitos já decepcionados com o novo governo - mostraram a cara,

agredindo negros, gays, nordestinos. Vários publicam seus insultos pela internet. Espera-se que, com o novo governo e os casos de corrupção que advirão, aprendam, os bem intencionados, que corrupção é coisa de homens, e não de partidos, e que cada um olhe para si e veja se realmente é digno o suficiente para atirar pedras. No Além há muito se reúnem brasileiros patriotas em busca de soluções para o Brasil, num lugar que Luis Sérgio chama de “Colônia dos Velhos Patriotas”, e trazem suas ideias para influenciar positivamente, pela intuição, os brasileiros para um país melhor. Pense nisso!

e prosódia de Bolsonaro, deixo a você, leitor, um questionamento: vamos, novamente, cair no erro de avaliar competência por meio do modo de falar das pessoas? Fizemos isso com Lula e Dilma; chegamos a supervalorizar Temer e suas mesóclises e outros arcaísmos. Em um país do tamanho do nosso, com as dificuldades educacionais que temos e com uma história da língua atípica, considerar pronúncia um critério de valorização ou demérito significa colocar a nós mesmos nessa esteira avaliativa, uma vez que todos temos nossos vícios. Sempre que esse incauto pensamento povoar as suas ideias, lembre-se de Mateus 7,3: por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Pronúncia não mede educação; educação não mede competência. Vale também falar sobre as influências linguísticas advindas dessa circunstância. Para alguns, por metáfora, Mito; para outros, por paronomásia e trocadilho, Bozo. O processo de derivação sufixal anuncia que vivemos um novo período – o bolsonariano – ao passo que o pro-

cesso de derivação prefixal indica uma nova formação do poder executivo, com os superministérios (o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa recomenda essa grafia). As hashtags – que, muito em breve, devem ser analisadas em futuras pesquisas acadêmicas – invadiram as nossas discussões (tanto escritas quanto orais, uma vez que, quando necessário, fazemos # com os dedos): #BrasilAcimaDeTudo, #DeusAcimaDeTodos, #EleNão, #EleNunca. Independentemente disso tudo, cabe a nós, eleitores vencedores ou vencidos, fiscalizar as ações de Jair Bolsonaro. O nosso Brasil merece um futuro feliz! E, para fechar, quero relembrar os versos de Humberto Gessinger: Ao encontro de De encontro a Seja o que for O bom português Não vai nos salvar.

José Matos Professor e palestrante

Elias Santana Professor de Língua Portuguesa e mestre em Linguistica pela Universidade de Brasília (UnB)


Brasília Capital n Literatura n 16 n Brasília, 19 a 25 de janeiro de 2019 - bsbcapital.com.br

Sancho e a Rainha - Capítulo IV Mario Pontes (*) Tempo bom, aquele! Eu estava tão entusiasmado que não sentia necessidade de dormir, acredita? Guardo a impressão de que passei anos de vigília. De que não dormia nem quando estava adormecido. Meus sonhos eram tão concretos que pareciam estar acontecendo de fato. Não me lembro muito bem com que sonhava, a não ser com os voos por cima das águas da baía, e também com a ópera, que era a minha grande paixão. Trabalhasse o quanto trabalhasse, eu dava jeito de ir ao teatro pelo menos uma noite por semana. Depois do teatro farreava com os amigos ou saía com algum rabo de saia. Não era muito difícil, eu ainda não tinha esse punho quebrado... – E como foi que o quebrou? – perguntei, liberando afinal uma curiosidade de meses. – Ah, isso eu conto depois...

Mas como ia dizendo, não perdia uma única ópera, e algumas vezes cheguei até a entrevistar uma diva, uma daquelas deusas. Era a glória! Olhe pra isso. Tirou da pasta uma página amarelada de jornal. Parecia primeira página. Embaixo do cabeçalho, um título de quatro colunas, e embaixo do título uma fotografia de três. Sancho, muito jovem, muito elegante, apenas um ou dois passos atrás de uma soprano famosa no momento em que ela desembarcava do navio que a trouxera da Europa. – Dava pra dormir? Dava pra não se fazer sentinela na recepção e nos bares dos hotéis onde elas se hospedavam? De repente uma sombra baixou em seu rosto, e Sancho bebeu quase um copo inteiro de cerveja antes de mudar de conversa. – Mas, como você sabe, não há bem que sempre dure. Eu entendia de música e mulheres,

mas também sabia um bocado de coisas sobre certas pessoas importantes naquela época. Uma delas era o dono do jornal que me empregava. Um patife completo, e pra desgraça minha ele descobriu que eu estava a par de suas safadezas. -- Sim, e daí? -- Daí ele achou que mais dia menos dia eu iria chantageá-lo. Bobagem, isso nunca me havia passado pela cabeça. Certo dia, por pura brincadeira, eu disse numa roda de amigos que estava escrevendo um romance. Alguém soprou a história no ouvido dele, e de tão desconfiado que andava, achou que o romance só podia ser sobre ele. Então me demitiu, tendo o cuidado de me queimar com os donos dos outros jornais. O romance, como eu já disse, jamais tinha existido, mas por conta daquela brincadeira fiquei um tempão desempregado. Depois de vários meses consegui trabalho de novo, mas

o diabo era que agora se tratava de um jornal pequeno, que nunca tinha dinheiro pra rodar mais de mil e quinhentos ou dois mil exemplares por dia. Mas era com essa pouca pólvora que a gente ia alimentando a fogueira da oposição. O jornal se acabou em 1935, com o fracasso da Aliança Nacional Libertadora. – E você conseguiu se safar? – Quem dera!... Fui engaiolado. Fiquei mais de um ano atrás das grades. Quando saí, era claro que não havia lugar pra mim em redação nenhuma. Então resolvi me mudar pra São Paulo. – E lá encontrou uma redação para... – Não! – ele respondeu com um laconismo repentino e quase brusco. Pôs uma nota ao lado do copo que o garçom tinha acabado de trazer para a mesa, despediu-se com um gesto e me deixou a perguntar que bicho o teria mordido.

Durante uma porção de tempo ele não voltaria a me falar de sua vida pessoal. Isso, porém, não teve nenhum reflexo negativo no crescimento de nossa amizade. Ele era fora de esquadro, um tipo estranho de amigo. – Ainda não lhe contei uma coisa – disse uma noite, levantando os olhos do papel. – Aluguei uma casa. Coçou com o indicador torto a mancha que lhe escurecia a sobrancelha. – Ah! Onde? Esperei que me desse o nome de uma rua. Deu-me o de uma aldeia de pescadores, cerca oitenta quilômetros a oeste da cidade. Logo depois veio a Quaresma e Sancho me convidou para passar os grandes dias da Semana Santa com ele.

(*) Ex-editor do Caderno Livro, do Jornal do Brasil, ficcionista e tradutor de obras de ficção e ensaio. Mora no Rio.


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