Ano IX - 398
Brasília, 2 a 8 de fevereiro de 2019
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ADRIANO MACHADO/REUTERS-
Não vale a pena ver de novo Desastre em Brumadino (MG) deixa 350 mortos, numa reprise macabra de três anos antes, em Mariana, onde o rompimento de outra barragem da mineradora Vale fez 19 vítimas fatais. O mundo se recusa a assistir novos capítulos dessa novela de irresponsabilidades.
Páginas 6 a 9
Brasília Capital n Opnião n 2 n Brasília, 2 a 8 de fevereiro de 2019 - bsbcapital.com.br
E
x p e d i e n t e
ARTIGO
A inação é conivente
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Investir em sustentabilidade é rentável economicamente Rayssa Tomaz (*) Neste início de 2019, estamos acompanhando, consternados, as fortes imagens de Brumadinho com a sensação de que já vimos esse filme. Em 2015, o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, escancarou a precária situação de centenas de barragens de rejeitos em operação no Brasil. Pouco aprendemos com aquela tragédia. É inadmissível que, após o vazamento de 50 milhões de metros cúbicos de lama contaminada da Barragem do Fundão, não tenhamos sequer adotado políticas de fiscalização e de acompanhamento mais criteriosas. Difícil conceber uma política pública ambiental em que os investimentos em modalidades alternativas de armazenamento e
pouco empregado no Brasil. Após Mariana, estão sendo avaliados métodos de empilhamento drenado, pilha de rejeitos secos e a reciclagem desse material como alternativa às barragens. Ainda há muito o que avançar, mas a Universidade de Ouro Preto já transforma esses materiais em insumos para a construção civil. Resumindo esta ópera: a vontade política é fundamental para acelerar ou brecar uma eventual viabilidade destes processos, assim como a maior parte das questões ligados à sustentabilidade. Quando não aprendemos com as duras lições, precisamos assumir a responsabilidade. Na política, a inação é conivente.
(*) Secretária de comunicação do PV-DF
EDITORIAL Na sexta-feira (25), durante o fechamento da edição impressa nº 397 do Brasília Capital, fomos contatados por um assessor do GDF propondo a publicação de um “artigo inédito” do governador Ibaneis Rocha explicando seus projetos para melhorar a Saúde do DF. O texto ocupou a página 5 da edição. E foi publicado no portal bsbcapital.com.br como “Exclusivo”.
C
nSUS
SindMédico, Dr. Gutemberg.
Só se for como "seu último suspiro". Várias pessoas já morreram esperando serem chamadas para atendimento médico. Alinne Cristiane, via Facebook
nHospital de Base
Sobre artigo “O único modelo que já funcionou no DF foi o Sus”, do presidente do
tratamento desses resíduos não sejam imperativos. Existem, ao menos, 663 barragens em situação precária no País. Parece difícil compreender que nossa economia, baseada na venda de commodities, tem uma relação intrínseca com a manutenção dos nossos recursos naturais. Um exemplo instantâneo das implicações: as ações da Vale despencaram na Bolsa de Nova Iorque. Investir em sustentabilidade é rentável economicamente. Entre 2015 e 2019, pelo menos quatro eventos de grande impacto ambiental ocorreram no Brasil. Em 2018, o ex-presidente Temer assinou decretos para regulamentar o novo Código da Mineração. Um deles prevê que a ANS disciplinasse o aproveitamento de rejeitos, caminho já percorrido por outros países, mas
Não votei no Ibaneis porque não acredito no que ele fala. Mas, se ele tivesse dito que expanderia o IHB para todo o DF. eu teria votado nele. Parabéns pela iniciativa. Com certeza a Saúde vai melhorar. Webert Mou-
Pouco tempo depois, no entanto, fomos alertados de que o ineditismo vendido pelo assessor do governo não era verdadeiro. O artigo já havia sido publicado em outros veículos, sem que isto fosse do conhecimento da Redação do Brasília Capital. Ainda assim, mantivemos o artigo no site e asseguramos o espaço no impresso. Nossa opção foi por não desgas-
tar o assessor da forma como ele prejudicou o Brasília Capital. Não acreditamos no “olho por olho, dente por dente”, tampouco no “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Mas o episódio nos deixará mais atentos. E esperamos que o assessor, cujo nome preservaremos, repense sua forma de agradar seus superiores hierárquicos.
a r t a s
rão, via Facebook Há quem tenha ficado quatro anos e não fez quase nada. Em menos de um mês, Ibaneis já era pra ter feito milagre? Me poupe, viu! Luísa Batista, via Facebook Sobre artigo do governador Ibaneis Rocha publicado na edição 397.
nMobilidade Inexiste saída para a mobilidade, com transporte péssimo, liga nada a coisa alguma, com tarifa cara. Dificilmente vai ocorrer mudança de mentalidade. Sem contar que o Plano Piloto concentra 90% dos empregos. Agora, se houver investimentos privados maciços fora do Plano Piloto,
podem surgir efeitos a longo prazo. Mas no curto e médio prazos nada mudará. Fábio Almeida, via Instagram nErramos Na nota “Intervenção no Sesc e Senac” no Pelaí da edição 397, quem avocou a gestão das duas entidades foi a CNC, e não a Fecomércio.
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CONTRADITÓRIO? - Para o deputado Professor Israel (PV-DF), “renovação por si só é mais uma falácia dos políticos brasileiros”. Ele votou em Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Câmara, seguindo orientação do seu bloco partidário (PV, PDT e PCdoB).
Reputação em xeque
Justiça infringe a Lei REPRODUÇÃO
Rodrigo Rollemberg (PSB) estruturou seu discurso na campanha pela reeleição em dois eixos: o equilíbrio das contas públicas e a honestidade de sua gestão. No primeiro mês sem mandato, o ex-governador criticou decisões do sucessor, Ibaneis Rocha (MDB), como a polêmica em torno da Orla do Lago. ROMBO – Mas os dois principais argumentos de Rollemberg ruíram na última semana. Relatório do MPDFT aponta que Ibaneis recebeu um rombo de R$ 7,7 bilhões, puxado pelo não pagamento da terceira parcela do reajuste dos servidores do GDF, “pendura” deixada por Agnelo Queiroz (PT), em 2014. CORRUPÇÃO – A imagem de honesto sofreu duro golpe. O Ministério Público Federal investiga esquema de corrupção o que teria causado prejuízo milionário ao BRB. A operação Circus Máximus, deflagrada após delação de Lúcio Funaro, alcança nomes próximos ao socialista, inclusive Ricardo Leal, arrecadador de Rollemberg (foto abaixo) em campanhas eleitorais.
Dois juízes de instâncias inferiores proibiram Lula de ir ao velório do irmão. STF liberou o morto para visitar o preso
Duas instâncias inferiores da Justiça brasileira infringiram a Lei de Execuções Penais ao negarem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (foto) o direito de sair da prisão em Curitiba para participar do velório de seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá. MORTO VISITA PRESO – Como a defesa recorreu ao STF, o presidente da Corte, Dias Toffoli, permitiu que
Lula fosse a São Paulo, mas permanecesse em um quartel, para onde o corpo de Vavá deveria ser levado. Ou seja, Toffoli criou a figura absurda do morto visitar o preso. RECUSA – O ridículo só não foi maior porque a decisão foi tomada momentos antes de o caixão de Vavá descer à sepultura, no início da tarde de quarta-feira (30), e porque o próprio Lula se recusou a receber o tal “benefício”.
Privatizações no GDF
JÚLIO PONTES / BSB CAPITAL
Cachaça Lula livre Lula Livre Vidas Secas Envelhecida. Este é o nome da cachaça artesanal (foto) produzida pelo Movimento dos Trabalhados sem Terra (MST) do DF e Entorno produzida nos assentamentos de reforma agrária em Patos de Minas. Cada garrafa custa R$ 30.
Fecomércio Francisco Maia (foto) seráeleito, quarta-feira (6), presidente da Fecomércio-DF pelos próximos três anos. Ele é candidato único à sucessão de Adelmir Santana, que renunciou no início do mês.
Funpresp AGÊNCIA BRASIL
O governador Ibaneis Rocha começará, em breve, a receber pressões da área econômica do governo federal para apresentar a lista de empresas locais que podem ser privatizadas. A missão foi dada pelo ministro Paulo Guedes ao presidente do BNDES, Joaquim Levy (foto). EMBATE – Levy já avisou que os alvos são a CEB, a Caesb e o BRB. Os
sindicatos de trabalhadores das três empresas já começam a se mobilizar para o embate.
Mais de 55 mil servidores públicos federais participantes do Funpresp, o fundo de previdência complementar da categoria, estão aptos a votar nas eleições que ocorrem de segunda-feira (4) a 11 de fevereiro em todo o País. Serão eleitos dez conselheiros para mandatos de quatro anos. A Funpresp gerencia patrimônio de R$ 1,3 bilhão.
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O poder dos presidentes do Senado e da Câmara Eles determinam o que será votado em Plenário, se acatam questões de ordem e decidem sobre a abertura de CPIs Larissa Jales (*)
Rafael Prudente presidirá a Câmara Legislativa no biênio 2019/2020: renovação
Câmara volta renovada Apenas oito dos 24 distritais foram reeleitos Da Redação A Câmara Legislativa voltou a funcionar no primeiro dia de fevereiro. Na terça-feira (5), às 15h, os deputados distritais iniciam os trabalhos da oitava legislatura (20192022) com a realização da primeira sessão ordinária do ano, que terá caráter solene. A Casa teve uma renovação de mais de dois terços em comparação com a anterior. Os 24 distritais tomaram posse no primeiro dia do ano e já se reuniram, convocados extraordinariamente, no dia 24 de janeiro, para votar dois projetos de lei de autoria do Executivo: a criação do Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (IGESDF) e do serviço vo-
luntário vinculado à Polícia Civil do DF. A Mesa Diretora que conduzirá os trabalhos legislativos, eleita em 1º de janeiro para o biênio 2019/20, é composta pelos seguintes parlamentares: presidente: Rafael Prudente (MDB); vice-presidente: Delmasso (PRB); primeiro secretário: Iolando Almeida (PSC); suplente: Jorge Vianna (Podemos); segundo secretário: Robério Negreiros (PSD); suplente: Roosevelt Vilela (PSB); e terceiro secretário: João Cardoso (Avante); suplente: Jaqueline Silva (PTB). Também foram escolhidos os deputados José Gomes (PSB), Daniel Donizet (PRP) e Júlia Lucy (Novo), respectivamente, para os cargos de corregedor, ouvidor e procuradora especial da mulher.
A cada dois anos as Casas Legislativas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) articulam-se para eleger, cada uma, um novo presidente. A votação é secreta, e para que o candidato seja escolhido em primeiro turno precisa ter mais da metade dos votos – 257 votos na Câmara e 41no Senado. Assim, surgem as articulações dos candidatos e dos partidos, de forma a garantir um certo consenso entre os parlamentares em prol da eleição de determinado candidato. É o caso do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que costurou alianças com vários partidos buscando a reeleição. Os dirigentes das duas Casas detêm vastos poderes. São eles que determinam o que será votado em Plenário, se acatam ou não questionamentos dos demais parlamentares – as questões de ordem – ou até decidir sobre a abertura de comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Portanto, os presidentes da Câmara e do Senado têm grande influência na aprovação ou rejeição de propostas de lei. Também significa dizer que as pautas do governo, como, por exemplo, as reformas da Previdência e Tributária, flexibilização do porte de armas, entre outras, podem sofrer desgastes caso não haja um relacionamento pacífico e
harmônico entre os comandos do Legislativo e o Executivo. Os escolhidos para o comando das duas Casas Legislativas também ocupam lugar de destaque na linha sucessória da Presidência da República. Depois do vice-presidente da República, os próximos são os presidentes da Câmara e do Senado, nesta ordem. Há ainda atribuições específicas de cada presidente. Na Câmara, é competência exclusiva do dirigente da Casa a abertura ou não de processos de impeachment do presidente da República. Já o presidente do Senado é também o presidente do Congresso Nacional. Ou seja, é ele quem conduz as sessões conjuntas, onde Câmara e Senado se reúnem para deliberar sobre vetos presidenciais e outras propostas. Na sexta-feira (1°) todos os olhos se voltaram para Brasília. São muitos interesses em jogo e a oportunidade de mostrar para o eleitorado que a mudança chegou, e junto com ela o sepultamento da velha política. Além disso, é a brecha perfeita para que o Planalto consiga fazer presidentes comprometidos com a aprovação das pautas de governo. Do contrário, o Planalto tende a ser novamente engolido pelo poder do Legislativo. Aguardemos o que vem por aí!
(*) Cientista Política pela UnB
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Perseguimos o mesmo objetivo, cada um com sua visão A despeito das decisões que a categoria dos médicos, o Ministério Púbico Federal, do Trabalho e de Contas, os auditores do Tribunal de Contas da União o Conselho de Saúde do Distrito Federal consideram equivocadas na questão da privatização da saúde, ao se comprometer (na campanha e, agora, em exercício do cargo) com o pagamento dos reajustes que deveriam ter sido concedidos desde 2015, com a quitação das pecúnias dos aposentados que não usufruíram suas licenças prêmio ao longo de sua carreira, com a retomada dos concursos para remoção dos servidores e outros tópicos das reivindicações dos servidores da Saúde do Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha, como o bom advogado que é, demonstrou que sua disposição é pelo cumprimento das leis, pois todos esses tópicos são garantidos por lei. Deixar de fazê-lo seria violação de princípios administrativos e, assim sendo, improbidade. Portanto, merece reconhecimento. Quando garante a incorporação da Gratificação de Atividade Técnico-Ad-
ministrativa (GATA) a servidores que ainda não receberam o benefício, nosso governador novamente demonstra a observância a um dos mais caros princípios constitucionais de nosso país: o da isonomia. Pois, o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF) obteve a incorporação da Gratificação de Atividade Médica há exatos 10 anos, parcelada em três vezes. É injusto que outros servidores da Saúde sejam tratados de forma diferente. Aliás, a incorporação da Gratificação de Atividade Médica aos salários e a reestruturação da carreira médica, negociada pelo SindMédico-DF com o governo e transformada em lei em 2013, são o que possibilita a contratação de médicos anunciada esta semana pelo governador. Antes disso, não se conseguia mais contratar profissionais da área para o serviço público. E essas contratações são necessárias para recompor a força de trabalho reduzida por aposentadorias e pedidos de demissão. Do lado de cá, como é sua função, o
sindicato tem atuado para garantir o respeito a todo esse arcabouço legal que rege a relação contratual de trabalho entre o governo e seus servidores e para que disso resulte uma melhor prestação de serviço à população – o que é objetivo do Estado e norte da atuação do servidor. E, por isso, é indispensável ao sindicato permanecer firmemente vinculado àqueles que representa e independente em relação aos governos. Quando isso se inverte, todos perdem. No caso do Instituto Hospital de Base, por exemplo, entendemos que a proposta da expansão a outras unidades de saúde fere o princípio constitucional e a Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde de que a gestão privada só pode complementar, mas não pode substituir a prestação de assistência pelo Estado. Também entendemos que, ao fazer essa opção, outros princípios legais são colocados em xeque. Foi por isso que todos os sindicatos da Saúde se colocaram contra a criação do Instituto no governo Rollemberg. Com a mudança de governo, a rela-
Dr. Gutemberg, presidente do Sindicato dos Médicos do DF e advogado
ção entre sindicatos e o atual governo foi distensionada, mas não há acordo entre as partes sobre a melhor forma de perseguir o objetivo comum de recuperar a qualidade da assistência à saúde da população. Nós, do SindMédico-DF, mantemos nossa posição de dialogar sem desviar dos princípios constitutivos do SUS com independência. Por coerência, é de se esperar que outras entidades representativas que optaram por se colocar aninhadas ao governo possam usar da proximidade para influenciar as decisões do governo naquilo que, outrora, estivemos defendendo lado a lado.
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Acidente em Brumadin Da Redação
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a sexta-feira (25), o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, a 62 quilômetros de Belo Horizonte, operada pela mineradora Vale, deixou um rastro de dor e destruição. Por baixo do mar do um milhão de metros cúbicos da lama de rejeitos ficaram soterradas centenas de vidas e milhares de sonhos. Uma semana depois do desastre, 110 cadáveres estavam identificados, mas existiam ainda 238 pessoas desaparecidas. Outras 394 vítimas foram resgatadas com vida e seis continuavam internadas em várias unidades de saúde, recuperando-se dos traumas físicos e psicológicos. Era horário de almoço quando a fenda que havia sido localizada há meses na estrutura da barragem finalmente rompeu. O peso dos resíduos desceu a uma velocidade estimada em 70 Km/h. Não sobrou nada no seu caminho. Funcionários que estavam no refeitório da Vale não tiveram tempo de fugir, até porque o sistema de alarme de segurança, segundo testemunhas, não funcionou. Também foi destruída a sede administrativa da empresa, uma pousada e as casas de uma comunidade localizada a 2,3 Km. O material, altamente poluente, invadiu o rio Paraopeba, reeditando o drama ambiental do rio Doce, que ainda sofre com acidente semelhante ocorrido três anos e dois meses antes, quando estourou a barragem do Fundão, em Mariana, também em Minas Gerais. A comoção levou autoridades a anunciar mudanças nas leis que regem a construção desse tipo de depósito de material e à prisão de cinco engenheiros. Mas nada faz crer que o País, de fato, tenha aprendido a lição e esteja livre de voltar a assistir cenas tão dramáticas quanto as de Mariana e Brumadinho. Após os rompimentos das barragens nas duas localidades mineiras, governos federal, estaduais e municipais anunciam medidas e
Por todo o País, barragens ameaçam romper, preocupam governos e apavoram populações mudanças na legislação. Com isso, escancaram a situação precária das barragens, tanto de água quanto de rejeitos, por todo o País. Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), existem 24 mil barragens licenciadas, das quais menos de 10% cumprem todos os quesitos cobrados pelos órgãos de controle. Mas todas, paradoxalmente, ostentam licenças dos órgãos ambientais.
Minas Gerais Por ser a principal unidade federativa de mineração no Brasil, Minas Gerais apresenta um elevado número de barragens de rejeito contaminado por metais pesados. Além de Mariana, Brumadinho e Congonhas, a situação em Conceição do Mato Dentro e em Paracatu assusta os moradores. Na semana seguinte ao desastre em Brumadinho, manifestantes bloquearam rodovias em Conceição do Mato Dentro e em Alvorada pedindo o reassentamento dos moradores próximos das barragens de resíduos de Passa Sete, da empresa Anglo American. As pessoas que habitam essas localidades são classificadas como “au-
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ho revela caos no Brasil ADRIANO MACHADO/REUTERS
to-salvamento”, ou seja, não teriam condições de receber socorro em caso de rompimento. Em Paracatu, moradores convivem com o risco de contaminação por arsênio, além do perigo das barragens existentes no município. A extração de ouro, com utilização de metais pesados, da estrangeira Kinross Gold, é acusada de contaminar córregos e o lençol freático.
Pernambuco Em Pernambuco, de um total de 477 barragens reconhecidas, 63 apresentam situação precária. Três estão localizadas na Região Metropolitana do Recife e são consideradas de alto potencial de dano ambiental e social. Segundo a agência de fiscalização local, não há condições de emprego de maquinários e equipamentos para resgate, em caso de rompimento. A barragem de Jucazinho, no rio Capibaribe, no município de Surubim, tem capacidade máxima de 327 bilhões de litros.
RICARDO STUCKERT
Distrito Federal
Nos dias seguintes ao desastre, formou-se um grande mutirão em busca de sobreviventes. Depois, restou a tentativa de localizar os corpos das vítimas e a tristeza deixada pela destruição causada pelo mar de lama
Ainda que não seja uma barragem de rejeitos da mineração, no DF a Defesa Civil anunciou medidas para manutenção e segurança da barragem do Paranoá, localizada entre o Paranoá e o Lago Sul. Imediatamente, o GDF proibiu o trânsito de caminhões pela via que passa em cima do muro da barragem. Construída para o acesso apenas de carros para a manutenção hidráulica, com o adensamento populacional, a via recebe fluxo intenso de automóveis, que agora não poderão ultrapassar a velocidade de 40 Km/h. O governo adotou as medidas e, junto ao Crea, vai avaliar a situação da estrutura.
Piauí Duas barragens de água no es-
tado do Piauí apresentam fissuras e demandam atenção, segundo informações do Instituto de Desenvolvimento do Piauí. A barragem do Bezerro, em José de Freitas, e as do Emparedado e Campo Maior apresentam fissuras, mas a situação ainda não é emergencial. Segundo o governo local, foram avaliadas 11 barragens no estado. O Idepi informa que o maior problema é a falta de recursos para manutenção. Em 2009, na barragem de Algodões, no município de Cocal da Estação, a água atingiu 20 metros na cidade. Na ocasião, quatro pessoas morreram e duas mil ficaram desabrigadas.
Mato Grosso O risco de rompimento atinge 14 localidades do estado. Das 31 barragens, uma possui classificação de alto risco. Em Cuiabá, a barragem Casa de Pedra, que pertence à Maney Mineração Casa da Pedra tem volume de pouco mais de 15 milhões de m³ de minério de ouro primário. A categoria de risco é baixa. No entanto, o dano potencial é considerado alto, pela proximidade com a área urbana.
Saiba mais A Vale decidiu paralisar operações de exploração de minério e desativar dez barragens que usam método de armazenamento de rejeitos similar ao da mina Córrego do Feijão. A medida não é imediata e ainda depende de licenciamento ambiental. Para o presidente da mineradora, Fábio Schvartsman, os processos de interrupção e desativação já estão prontos e serão enviados para licenciamento dos órgãos ambientais nos próximos 45 dias. Se aprovados, devem durar de um a três anos, dependendo de cada caso.
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Medo de ser a próxima vítima Congonhas, a 82 Km de BH, teme repetir Mariana e Brumadinho. Cidade tem 23 barragens de rejeitos Da Redação Os desastres em Mariana e Brumadinho abalaram o Brasil e o mundo. E assustaram em especial Minas Gerais, onde a exploração de minérios é mais intensa e o uso de barragens de contenção de rejeitos e mais comum. O município de Congonhas, a 82 quilômetros de Belo Horizonte, abriga 23. Além da insegurança dos 55 mil habitantes, o centro histórico, Patrimônio da Humanidade, corre perigo na rota da lama num eventual rompimento. Uma das maiores barragens locais, a Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional, fica a 250 metros das residências de 1,5 mil habitantes. Em 2018, a CSN e o MP firmaram um acordo para adoção de medidas de segurança. Havia indicadores de que a represa apresentava infiltrações e corria risco de romper. A Casa de Pedra tem 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Para se ter um exemplo do potencial risco, o rompimento de Brumadinho derramou dez vezes menos lama e as casas atingidas ficavam a 2,3 Km de distância. Mesmo depois da adoção dessas medidas, a Prefeitura iniciou um plano de segurança para situações emergenciais. Dentre elas, o cadastramento de moradores, identificação de abrigos e rotas de fuga. Ainda há a previsão de treinamento a comunidades e instalação de sirenes e emergência. NEGLIGÊNCIA – Desde 2015, foram registrados outros dois acidentes, em Barcanera e Santo Antônio da Gama. Existem atualmente no Brasil mais de 24 mil barragens, sendo que 723 são de alto risco. Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), apenas 780 (3%) passaram por algum tipo de vistoria de órgãos de fiscalização em 2017. CPI - Em decorrência dos últimos acidentes, deve ser instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as causas do rompimento da barragem da empresa de mineração Vale e evitar novas catástrofes. As atividades devem ser iniciadas tão logo o Congresso volte do recesso em 1º de fevereiro.
Barragem Casa de Pedra, em Congonhas, está a menos de 250 metros do bairro do Cristo Rei, com 1,5 mil
ENTREVISTA NEYLOR AARÃO, SECRETÁRIO DE MEIO AMBIENTE (S emergências, pois os trabalhos de treinamentos e simulados de evacuação são ineficientes e sem nenhum efeito prático.
Quantas barragens existem no município e quantas impactariam a população? – 24 barragens podem afetar áreas urbanas em Congonhas, sendo 23 de rejeitos e uma de água. Existe alguma situação de alerta em vigor? – Há sirenes instaladas. Mas, na avaliação da Semma, não atendem a situações de
A barragem Casa de Pedra é dez vezes maior do que a que rompeu em Brumadinho. Quais as medidas adotadas pelo governo para evitar danos? – Dados da Semma indicam que a Casa de Pedra (50 milhões de m3) é pouco mais de quatro vezes maior que a do Córrego do Feijão, em Brumadinho. A prefeitura elaborou um Plano Municipal de Gestão de Barragens, pioneiro no Brasil, que deverá ser implementado como política pública, que menciona uma série de medidas complementares
às empresas que possuem barragens no município. No entanto, as empresas não apresentaram a adesão satisfatória, nem adotaram as medidas recomendadas, e a Secretaria de Meio Ambiente expediu multas superiores a R$ 2 milhões à CSN, à Vale S/A, à Gerdau e à FerrousRessouce do Brasil. A prefeitura e o governo do estado são responsáveis pelas licenças ambientais e pela fiscalização dessas licenças – O licenciamento deste porte compete à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e a fiscalização à Agencia Nacional de Mineração. O município criou a Semma em 2017 para acompanhar os processos de licen-
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ARTIGO
Eleições, desastres e fake news Adriano Mariano (*)
habitantes
SEMMA) ciamento e agir de forma supletiva ao estados e à União. As mineradoras cumprem as exigências? – Não. Mas o Plano de Gestão de Barragens prevê estudar medidas para salvaguarda e resgate do Patrimônio Histórico e Cultural, embora as empresas não cumpram. Quantas pessoas estão em áreas de risco? – Cerca de 1,5 mil nos bairros Cristo Rei, Residencial, Fonte dos Moinhos, Centro e Praia. Todos na rota de lama da barragem Casa de Pedra.
Após o último crime ambiental da Vale, em Brumadinho, e sua intensa repercussão nos meios de comunicação e redes sociais, um turbilhão de desinformação tomou plataformas como o Facebook e WhatsApp. Infelizmente isso não é novidade, e a facilidade da persuasão de milhões por estes canais escancara as deficiências educacionais e morais brasileiras em sua essência. Fotos de vítimas desesperadas abraçando bombeiros, mulheres grávidas mortas e sujas de lama, pessoas em meio ao lamaçal, como que se gritassem por socorro, guerra de prints sobre decretos presidenciais, áudios alertando perigo de novas barragens prestes a romper, vídeos de rompimento de barragens e avalanches de lama, teorias da conspiração de ações orquestradas por grupos políticos para desestabilizar o governo: todas fake news. Uma das intenções primárias dessas fake news é criar um ambiente pulverizado de sugestões de realidade, que por vezes trata-se de algo real no mundo, no tempo passado, mas irreal no contexto presente e no país de origem em que ocorreu. Mas qual o interesse na criação deste contexto de sugestões de realidade? A facilitação da persuasão pela massificação de novas fake news. Criar contextos sugestivos facilita o consumo e a eficiência de novas e posteriores notícias falsas ou descontextualizadas, que favorecem, sobretudo, discursos políticos, e nos dá a sensação de que a campanha eleitoral de 2018 ainda não acabou ou que a de 2020 começou no dia seguinte ao segundo turno do ano passado. Preocupado com o desemprego, com o aluguel e com os boletos vencidos, o brasileiro médio, esperançoso (ou não) com o novo governo quer se sentir minimamente relevante, e assim fazer prevalecer a visão de mundo que acredita ser sua. Assim, sem pestanejar, compartilha tudo o que, apenas pelo título, corrobora suas crenças, sem filtros mínimos de julgamento. Não querem saber se é verdade ou mentira. Querem apenas fazer parecer verdade a sua verdade, para ter o que impor, em voz alta,
nas discussões familiares ou no boteco. Para muitos, ter a quem culpar ou endeusar é a única prática atual de poder a qual possuem acesso. Para outros, escolarizados e bem-sucedidos, disseminar fake news é como brincar de Deus: regozijam-se da graça pela ignorância e persuasão alheias e reafirmam suas posições de poder, mantendo assim as situações negociais que garantem seus lucros e contratos ao final do mês. Advogados, engenheiros, empresários e congêneres passam vergonha nas redes, mas encontram ressonância ideológica entre os seus contratantes e, por isso, repassam, sem dó, as fake news diárias. Mas esta peste que se alastra pelos grupos de WhatsApp, e que certamente chegou em seu aplicativo durante a leitura deste texto como mais uma notificação de algo inverídico, é uma novidade dos tempos modernos? Não! Há muito se estuda o fenômeno dos discursos persuasivos que disseminam versões da realidade impostas por dadas comunidades interpretativas. Mas, aqui entre nós, há como definir verdade e mentira? Friedrich Nietzsche, famoso filósofo alemão falecido em 1900, e que entre outras coisas contribuiu com os estudos da psicanálise, dizia que o conhecimento é uma produção, invenção do homem. “Para Nietzsche, com os nossos instintos percebemos imagens e criamos formas expressas pela linguagem e pelo conceito. A possibilidade de conhecimento a que vivenciamos teria sido uma condição social, política e moral. O homem sentindo a necessidade de viver em sociedade tem a crença na verdade também como uma necessidade. Para não ocorrer uma guerra de todos contra todos, é necessário que haja um acordo, uma convenção. Fazendo uso da linguagem é designado o que é verdade e o que é mentira. A verdade seria um mecanismo, um desejo de preservação, uma forma de o homem continuar vivendo. Esse é um momento de escolhas arbitrárias, a verdade se torna uma designação válida de comum acordo, sendo mentiroso quem faz uso de forma não correspondente. Para Nietzsche a verdade é resultado de uma metáfora repetida por longos
períodos que passou a ser entendida como verdade canonizada. A verdade, para ele, se tratava de metáfora, criações em que os homens se esqueceram que elas assim o são. O homem não ama a verdade por si mesma, ama a possibilidade de conservação, o que há de agradável. Da mesma forma uma mentira que não traga consequências desagradáveis poderá ser bem recebida pelos homens. O que o homem não suporta é o prejuízo, seja com a verdade ou com a mentira. Isso reforça a ideia, surpreendente, para muitos, de que não vivemos no mundo real, mas numa realidade virtual criada por nossos próprios símbolos. Mas, após parafrasear Nietzsche e textos de seus estudiosos, no que suas afirmações do passado diferem dos dias de hoje? As plataformas e a capacidade da instantaneidade da disseminação de informações. Falam sobre pós-verdade e sobre o direito à opinião própria do indivíduo, da democracia da informação e do fim da verticalização hierárquica de grandes grupos de mídia tradicional, mas se esquecem que a verdade deveria ser definida por fatos e não por intenções particulares. Se esquecem que é preciso, no mínimo, estabelecer acordos sociais minimamente duradouros para que não voltemos aos tempos da barbárie. Para muitos que chegaram até aqui, apenas um aviso: os movimentos sociais são cíclicos e redundantes, e os tempos do politicamente correto, hoje em baixa, voltarão com força em alguns anos. Os prints de suas postagens em redes sociais de hoje cobrarão o preço na próxima década e sua reputação digital poderá ser motivo de escárnio público. Em tempos de reformas previdenciárias talvez seja bom pensar em manter-se com chances reais de conseguir emprego no futuro. Não deixe sua ignorância ou arrogância serem sua ruína em poucos anos. Deixe que seu tio, já aposentado, seja o editor chefe das Fake News no grupo do WhatsApp da família. O futuro dele já está garantido, o seu não.
(*) Consultor especialista em marketing político eleitoral
Brasília Capital n Cidades n 10 n Brasília, 2 a 8 de fevereiro de 2019 - bsbcapital.com.br
Brasília Por Chico Sant’Anna
Lixo, uma riqueza de meio bilhão no DF
É
inconcebível como Brasília, uma cidade moderna, não consegue cuidar do lixo urbano que produz. O sistema consome mais de meio bilhão de reais e é ineficiente. Não há coleta seletiva eficaz e os pontos de entrega voluntária (PEV) são inadequados e incapazes de dar vazão ao volume de rejeitos produzidos. De janeiro a setembro de 2018, foram coletadas pelo SLU 589,7 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares e de varrição. Desse total, 97,57% foram enterrados nos aterros sa-
nitários, sendo 540,5 mil toneladas no recém-inaugurado Aterro Sanitário de Brasília (ASB), em Samambaia. Sem contar com 991,6 mil toneladas de podas e galhadas aterradas no antigo lixão da Estrutural. Nesse período, a coleta seletiva recolheu apenas 22.391 toneladas de materiais recicláveis. Os dados estão no portal do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e demonstram a ineficiência ou mesmo a inexistência operacional da coleta seletiva. Ela cobre apenas 3,8% do lixo urbano produzido no Distrito Federal. Sem con-
tar com as cerca de 350 mil toneladas de entulho decorrentes de construções. No passado, a Novacap operou uma usina de reciclagem de entulho que se valia dos rejeitos para a produção de matéria-prima a ser utilizada em pavimentação e produção de pré-moldados. Hoje, tudo é jogado no velho lixão. O material é rico em metais e madeira, mas como não há triagem vira lixo. A coleta de podas e resíduos vegetais também poderia ser reciclada se fosse direcionada à compostagem, revertendo em adubo orgânico. Mas o destino tem sido o lixão.
Aterro terá vida útil reduzida Com esse perfil do tratamento dos resíduos sólidos, o novo aterro de Samambaia, que custou R$ 45 milhões na construção da sua primeira etapa, pode ter a vida útil reduzida em um terço. Previsto para durar 30 anos, ele deveria receber exclusivamente o material não reciclável. Entretanto, recebendo todo o tipo de rejeito, especialistas arriscam a dizer que em pouco mais de uma década ele estará saturado. As usinas de tratamento de lixo são insuficientes para processar todo
o resíduo sólido da Capital. A usina pioneira, na Avenida das Nações, está inoperante e se transformou mais em um pátio de transbordo de resíduos do que propriamente dito uma usina de tratamento. No passado, além da triagem de metais e plástico, ali se produzia adubo orgânico para os produtores rurais do DF. De janeiro a setembro de 2018, a usina da Ceilândia, processou 174,8 mil toneladas. PARTICIPAÇÃO POPULAR - Brasília não tem espaços para a
população fazer voluntariamente a triagem do lixo. Em países que já deram solução a esse problema, além da coleta seletiva doméstica, muitas cidades possuem pontos de entrega voluntária de lixo, os chamados Ecopontos. São locais onde os moradores encontram diferentes caixas de coleta, uma para cada tipo de rejeito. Na Alemanha, o sistema avançou tanto que, em algumas cidades, a coleta de vidro já se dá de forma triada pelas cores, cada um no seu lugar. Máquinas nos merca-
dos recebem de volta garrafas de vidro ou plástico e recompensam financeiramente quem devolve os vasilhames. Em Portugal, os Ecopontos possuem coletores específicos para pilhas e baterias, papel separado de papelão, metais e vidros. Em cidades espanholas, as prefeituras instalam containers para receber embalagens de aerossol, garrafas pet, separadas dos demais plásticos, e até para roupas e calçados usados. Assim, além de limpar a cidade, assistem aos mais carentes.
Containers semienterrados (acima) formam os papa-lixo e viram focos de insetos e roedores. O DF tem poucos Ecopontos, como os portugueses (ao lado), para a participação voluntária do cidadão na coleta seletiva
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Acompanhe também na internet o blog Brasília, por Chico Sant’Anna, em https://chicosantanna.wordpress. com Contatos: blogdochicosantanna@gmail.com
Papa-entulho e papa-lixo Mas em Brasília tudo é uma sujeirada só. O que se pergunta é a razão de o DF não adotar as tradicionais lixeiras coloridas, nas quais o cidadão deposita separadamente metal, vidro, papel, plástico e lixo orgânico. Aqui, a iniciativa do SLU, no governo passado, foi fixar pontos de coleta de lixo e de entulho: os papa-lixo e papa-entulho. Ao todo, existem 83 papas-lixo e dez papas-entulho espalhados no DF, notadamente nos locais de difícil aceso à coleta de lixo por caminhões. Os papas-lixo são containers semienterrados aos quais a população deve direcionar os resíduos. Mas a proposta parece não estar dando certo e tem resultado na proliferação de mini lixões. O sistema não faz triagem dos rejeitos, que poderia contribuir na coleta seletiva, e parece ter capacidade bem menor de acumular lixo do que é produ-
zido pela população. Moradores também não ajudam. Jogam lixo no chão e não separam os rejeitos. Transformam as áreas dos papas-lixo e entulho em locais de muita sujeira e focos para insetos, roedores, capazes de transmitir doenças. O SLU reconhece que falta conscientização da população, mas ressalta que de janeiro a setembro esses equipamentos foram responsáveis pela coleta de 5.068 toneladas de resíduos sólidos domiciliares. MEIO BILHÃO NO LIXO – Por trás dessa realidade corre muito dinheiro. Em 2018, o orçamento do SLU foi de R$ 556 milhões. Desse total, R$ 427,4 milhões foram destinados a remunerar as empresas terceirizadas que operam a limpeza pública. O lixo é uma mina de dinheiro. De 2011 a 2018, o orçamento do SLU cresceu 65% e até hoje o serviço não está a contento.
Psol sai em defesa de Jean Wyllys O departamento jurídico do Psol Nacional está abarrotado de serviço. O partido vai processar todos que difundiram fake news nas redes sociais associando o ex-deputado Jean Wyllys (RJ) ao esfaqueamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL), ano passado, em Juiz de Fora. O Psol já recebeu mais de 4 mil denúncias, consideradas ofensas e crimes contra a honra Wyllys. São postagens, vídeos, comentários compartilhados em redes sociais
e conteúdos publicados em blogs e vlogs. Tudo está sendo classificado como calúnia, injúria e difamação. Nas denuncias enviadas ao partido pelo e-mail denuncia. lidpsol@gmail.com tem muita gente de Brasília, inclusive blogueiros que não verificam a veracidade das informações e saem publicando e compartilhando o que ouviram dizer. A iniciativa do Psol pode fazer doer o bolso. Por isso, responsabilidade nas redes sociais é a palavra de ordem.
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VIA
Satélites Por Júlio Pontes
{BRASÍLIA
{ÁGUAS
Fim de semana no Mané
OBITUÁRIO - O arquiteto e pioneiro Ataliba Teixeira, fundador da Associação Comercial e Industrial de Águas Claras (ACIAC), faleceu na terça-feira (29), vítima de infarto fulminante. Ataliba deixou esposa, três filhos, duas enteadas e nove netos.
CLARAS
{DISTRITO
Patinetes elétricos e bicicletas
FEDERAL
Palestras sobre família acolhedora
DIVULGAÇÃO
O Estádio Nacional Mané Garrincha sediará jogo no final de semana. Sábado, às 19h, acontece o clássico Fluminense x Vasco, válido pela quinta rodada da Taça Guanabara do Campeonato Carioca. O jogo marca a disputa pela liderança do Grupo A. Ambos os times estão embalados e vêm de boa sequência de jogos. Os ingressos variam de R$ 60 (atrás dos gols) a R$ 400 no camarote. GRAMADO - Na segunda-feira (28), a Rede Globo mostrou imagens aéreas do gramado em mau estado de consevação (foto) devido ao show do cantor Roger Waters, realizado no dia 13 de outubro. Os organizadores do clássico carioca divulgaram vídeo na quarta-feira (30) com o gramado aparentemente perfeito para a prática do futebol. DIVULGAÇÃO
O grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária Aconchego fará duas palestras durante o mês de fevereiro sobre a guarda temporária de crianças afastadas de suas famílias de origem. A primeira será quarta-feira (6), às 19h, no Centro Educacional Leonardo da Vinci, na 703/903 Sul, no Plano Piloto. A outra, dia 16, às 10h, no Leonardo da Vinci de Taguatinga Sul, ao lado do supermercado Carrefour. As bicicletas têm peças únicas que diminuem a probabilidade de furto A empresa Yellow disponibiliza patinetes elétricos e bicicletas para quem quiser se locomover dentro de Águas Claras e no Plano Piloto. Os patinetes alcançam velocidade de até 20 Km/h, com autonomia para rodar 30 quilômetros e podem ser utilizados em dias de semana das 8h às 20h. Já as bicicletas têm peças únicas, para diminuir a possibilidade de furto, e estão disponíveis 24 horas por dia. VALORES - A liberação para uso é fei-
ta a partir do aplicativo de celular, com versões para Android e iOS. Para usar a bicicleta, a pessoa paga R$ 1,50 a cada 10 minutos. Já o patinete tem uma taxa de R$ 3,50 para o desbloqueio, mais R$ 0,50 a cada minuto de uso. NOVIDADES - O aplicativo mostra a distância percorrida, calcula quantas calorias foram perdidas e quanto foi economizado de gás carbônico ao trocar o carro e o ônibus pela bike.
Administrador visita o Parque
{CEILÂNDIA
Superação rumo à medicina George Luiz Neres, de 26 anos, ganhou as manchetes dos jornais após ser aprovado em terceiro lugar em medicina na UnB. O rapaz de origem humilde ganhou bolsa de estudos em um cursinho pré-vestibular na Asa Sul e se dedicou por um ano inteiro, com ajuda do professor Rogério Lacerda, até conseguir a nota 847 no Enem. REPRODUÇÃO FACEBOOK
{TAGUATINGA
Jacaré no Serejão No domingo, o Brasiliense encara o Real, às 16h30, no Serejão. O confronto é pela terceira rodada do Candangão. Os dois times estão invictos na competição.
O administrador Ney Robsthon visitou o Parque de Águas Claras para verificar as demandas. O agente de parques André Santos indicou as necessidades emergenciais do local. A visita pode ser interpretada como resposta da Administração Regional a lideranças comunitárias que criticam a indicação de
Robsthon para o cargo, e o acusam de ser morador do Sudoeste. Durante a semana, o administrador divulgou ações como poda de árvores e operação tapa-buracos. Os reparos, executados tanto na parte vertical quanto na horizontal da cidade, fazem parte do programa SOS-DF, do Governo de Brasília.
Professor Rogério Lacerda e George
REPRODUÇÃO
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Volta às aulas, volta à rotina Fernanda Polsin (*)
Na Casa Civil do GDF, Jaqueline (à esq.) e Belmonte reativaram o Cartão Material Escolar
Uma dobradinha do bem Júlio Pontes A articulação para a volta do Cartão Material Escolar capitaneada pelas deputadas Paula Belmonte (PPS/ federal) e Jaqueline Silva (PTB/distrital) surtiu efeito. Em reunião no Palácio do Buriti na segunda-feira (28) com o chefe da Casa Civil, Eumar Novacki, e o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, as parlamentares pediram que o benefício volte a ser oferecido às famílias e que o valor desembolsado seja maior. O Cartão é concedido para alunos de baixa renda da rede pública. Para receber o recurso é necessário estar cadastrado no Bolsa Família. Paula Belmonte argumenta que o cartão material escolar, além de movimentar a economia, oferece dignidade aos estudantes. “Quando eram fornecidos materiais iguais, as mães
reclamavam da qualidade dos produtos comprados pelo governo. Se a família pode escolher os produtos, existe um ganho na autoestima das crianças, além de garantir que sejam adquiridos no comércio local”, disse. A promessa do GDF é que os valores sejam depositados até o dia 11 de fevereiro. Em 2014, último ano da gestão Agnelo Queiroz (PT), o programa destinou R$ 27 milhões aos estudantes de baixa renda. Durante o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), o benefício não foi liberado em 2015 e 2018. Em 2017, os valores despencaram para apenas R$ 5,6 milhões. Nos primeiros dias de mandato, a distrital Jaqueline Silva protocolou um ofício junto à Secretaria de Educação pedindo que o benefício fosse retomado. Ambas as parlamentares têm forte discurso a favor das mulheres, da educação e da assistência social.
GDF contratará 561 aprovados na Saúde RENATO ALVES/GDF
A Secretaria de Saúde vai investir R$ 300 milhões este ano numa série de benefícios para o setor. Entre eles, a contratação de 561 servidores aprovados em concurso. O anúncio foi feito terça-feira (29) pelo secretário Osnei Okumoto (foto). As ações que vão contemplar os servidores serão detalhadas em fevereiro. Okumoto adiantou o acordo de reivindicações da categoria, como a ampliação da carga horária de servidores de 20 para 40 horas, e o pagamento de licenças-prêmio, con-
vertidas em pecúnia, no valor de R$ 140 milhões, em até 36 vezes. A ampliação do banco de horas,de 30 para 180 dias também será garantida aos profissionais da área.
Depois de algumas semanas de descanso, brincadeiras, divertimento e (provável) falta de rotina, o ano letivo começa. Você, mãe ou pai de criança, até pode deixar que seu filho fique de férias e sem rotina até o último dia, mas é provável que, assim, vocês encontrem alguma dificuldade na readaptação. Para que o processo de voltar para a rotina escolar seja mais tranquilo e sem mudanças muito bruscas que possam causar aversão e resistência, inicie algumas mudanças na sua casa. A ideia é que vocês voltem para a rotina de maneira sutil e sem que a criança entenda a escola como algo negativo. Isso não significa deixar de brincar e passear. Conversem em família e decidam quando irão começar a restabelecer os horários, principalmente os alimentares e de sono. É importante explicar os motivos pelos quais já precisam retomar a rotina mesmo antes do fim das férias, deixando claro que essas medidas facilitarão no momento de volta às aulas. Como ainda faltam alguns dias, a criança deve entender o sentido de começar esse processo com uma ou duas semanas de antecedência. Quanto menos a criança for pega de surpresa e se sentir mais ativa, mais ela colaborará. Então, incentive seu filho a dormir e acordar quinze minutos mais cedo a cada dia até chegar ao horário habitual. Se você tiver di-
ficuldade ou dúvidas, busque um consultor do sono para te auxiliar. Com as refeições, faça o mesmo. Para que ele vá se ambientando com a escola, leve-o para comprar os materiais e uniformes. Permita-o ajudar a preparar o material (levando em conta a idade). Assim, ele vai se sentir mais participativo e ativo em todo o processo de aprendizagem. Lembre-se de encorajá-lo para que entenda a vida acadêmica como positiva. Além disso, para muitos, o período gera expectativas positivas. Para outros, traz angústia e insegurança. Pais e educadores precisam estar atentos para ouvir o que a criança está dizendo mesmo quando ela não consegue se expressar claramente - para dar o suporte necessário. Frequentemente, crianças choram e não querem ficar na escola. Essa fase tende a passar quando ela é acolhida, ouvida e encorajada a se divertir e aprender, aproveitando esse momento. Mas, caso você perceba que seu filho apresenta sintomas como dores de cabeça e de barriga, vômito, diarreia, choro excessivo, sudorese - e esse período de adaptação já dura muito tempo, ele pode estar vivenciando um sofrimento e um adoecimento emocional. Assim, é importante buscar um psicólogo para um tratamento adequado. Ajude seu filho a sentir-se bem na escola.
(*) Psicóloga, CRP: 01/15739
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ESPÍRITO
José Matos Ministros religiosos em crise Pastores, padres e outros líderes, em geral, erram muito ao limitarem-se apenas ao conhecimento de suas seitas Mais um pastor comete suicídio no Distrito Federal. Foi o oitavo em um ano. Não basta abandonar uma vida de erros. É preciso análise psicológica para compreenderem-se e, depois ajudar, principalmente, aquele que está no mesmo erro. Pastores, padres e religiosos, em geral, erram muito ao limitarem-se apenas ao conheci-
mento de suas religiões. Não basta conhecimento da Bíblia. É necessário o conhecimento da psicologia e da Literatura espiritualista oriental que detalha o crescimento espiritual pelo relacionamento Mestre-Discípulo. À medida que eleva-se, surgem crises de dúvidas, desânimo, revolta. O líder espiritual deixa de ser a pessoa
CRÔNICA
Fernando Pinto Persistente Confíteor! Não possuo trunfos suficientes para ser perdoado pela generosidade de Jesus, mas ainda não perdi as esperanças Segundo axioma popular, velho que depende de bengala, quando cai não escapa: morre! Então, aos 93 anos e dois meses de idade, eu consegui sobreviver em duas quedas que poderiam ter sido fatais. Ou melhor: ressuscitei! E, nessa condição, não posso ficar isento da confissão geral e pública, que se recita no início da Missa e que se repete antes da distribuição da Comu-
nhão: o persistente Confiteor. Assim, diante de uma confissão “geral e pública”, é preciso avaliar se tenho méritos ou não para passar no exame de extrema-unção, sacramento que nos prepara para o Julgamento Final, quando estaremos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo para sermos julgados por atos praticados conscientemente, no transcurso de nossas vidas, desde quan-
O povo e o poder com Marcelo Ramos Repóter do povão
Rádio JK - AM 1.410 (segunda a sábado - 08h às 10h) Ligue e participe:
99981-3086 / www.opovoeopoder.com
que foi, e precisa de tempo e estudo para tornar-se a pessoa que gostaria de ser. A cada degrau que subir enfrentará uma crise. Necessitará de confiança e perseverança. Então, perceberá que a intensidade das crises diminuirá gradativamente e, simultaneamente, aumentarão a alegria, a compreensão e a compaixão. Lembrem-se do apóstolo Paulo e seu bom combate: “as coisas boas que quero fazer, não faço, mas pela graça de Deus não sou mais a pessoa que fui”. Crescimento e queda são processos sutis. É preciso atenção permanente com atitudes, pensamentos e sentimentos. Nunca se achar imune, salvo ou protegido. Sem humildade, o fracasso é uma questão de tempo. Quem se dedica a guiar seu próximo, precisa conhecer as bibliografias dos vencedores que passaram entre
nós. Não importa a religião. Para Deus não existem religiões. Existe apenas “A Religião”: o amor. Instigado por Jesus para condenar alguém que expulsava “demônios”, mas não era em nome Dele, Jesus os repreendeu e ensinou-os: “não o proibais. Quem não é contra nós é por nós”. Dalai Lama, Chico Xavier, Gandhi, Madre Tereza, Luther King, vencedores de diversas religiões, são amados e respeitados também por pessoas de religiões diferentes porque viveram a Religião de Deus: o amor. Abra sua mente. Aprenda com os vencedores da sua e de outras religiões. “Haverá um só rebanho e um só Pastor”. Deus está em tudo e em todos.
do começamos a nos relacionar com nossos semelhantes. Então, vejamos pela ordem preferencial alfabética: Avareza – Neste primeiro item, acho que estou bem acima: sou um mão aberta que sente o verdadeiro prazer em dar o que tem, principalmente para os mais pobres!/ Gula – Já fui daqueles que tinham os olhos maiores do que a barriga, mas hoje, ao contrário, estou até tomando remédio para abrir o apetite./ Inveja – Eis aí algo que jamais consigo lembrar de ter tido inveja de alguém./ Ira – Quanto a este pecado, que pode ser o consumo permanente ou eventual de raiva de alguém, como a que mantive por bastante tempo contra meu irmão mais velho que me espancava por qualquer motivo, conforme relatei em minha autobiografia O Menino que Tinha Medo de Gente, ao ficar órfão de pai e mãe,
mas, que, felizmente, hoje é assunto absolutamente superado./ Orgulho – Francamente, não acredito que o tenha dentro de mim, até porque jamais me adaptei ao jeito arrogante de fazer pose./ Luxúria – Idem de nunca ter cometido tal pecado, até porque se trata de devassidão sexual, sinônimo de cio, que é inerente à vida dos animais irracionais, algo que me dá nojo só em pensar!/ Preguiça – Confesso que tenho bastante dificuldade de levantar da cama todas as manhãs, graças a uma gostosa dose de preguicite! Resumindo: admito não possuir trunfos suficientes para ser perdoado pela generosidade do Cristo, mas ainda não perdi as esperanças!
José Matos Professor e palestrante
Fernando Pinto Jornalista e escritor
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PROFESSOR
Elias Santana Mas X Mais O vocábulo mas possui apenas uma classficação morfológica: conjunção O artigo da semana passada abordou a diferença entre eufemismo e ironia. Um dos leitores (Marcelo Marques) fez uma sugestão: “Elias, aborde a diferença entre mas e mais”! Portanto, vamos a ela! O vocábulo mas possui apenas uma classificação morfológica: conjunção. Isso significa dizer que tal palavra é usada, prioritariamente,
para conectar orações. Em boa parte dos casos, mas é usado com valor adversativo, equivalente a contudo, todavia, no entanto, entretanto. Vamos analisar alguns exemplos: (1) Ele chegou atrasado, mas conseguiu acompanhar o ritmo da reunião. (2) Eu quis você; mas você não me quis. Há também uma outra semânti-
NUTRIÇÃO
Caroline Romeiro O que comer antes do treino? Segundo o COI, uma dieta rica em carboidratos nos dias anteriores à competição pode melhorar o desempenho esportivo Esta é uma pergunta muito frequente em blogs relacionados à prática de atividade física e em conversas com alguém que sabe que somos nutricionistas. Esta é uma dúvida recorrente de quem faz exercício físico. Vejo muitos adeptos a dietas da moda
excluírem fontes de carboidratos da alimentação, especialmente antes dos treinos, argumentando que “queimará” a gordura corporal durante a atividade física. Será que isso faz sentido? Segundo o Comitê Olímpico Internacional, uma dieta rica em carboidra-
ca associada a esse conector: adição. Isso ocorre, sobretudo, quando ele vem antecedido de também. (3) Ela não só foi aprovada, mas também classificada! (Ela foi aprovada e classificada.) Em contrapartida, a palavra mais transita em diversas classes gramaticais. Vamos analisar as possibilidades: • Substantivo: (4) Cuide da tarefa. O mais é irrelevante. (=o resto) • Advérbio: 5) As crianças não brincam mais. (ideia de tempo). (6) Meu irmão estava mais alegre ontem. (ideia de intensidade). • Pronome indefinido: (7) Tenha mais cuidado ao descer as escadas! • Construções comparativas: (mais...do que): (8) Ele comeu mais do que você. • Conjunção aditiva na matemática. (9) Quatro mais quatro são oito. • Preposição ou conjunção aditi-
va em linguagem regional.(10) Ele saiu mais o filho, e devem demorar! (=saiu com). (11) José mais Joana vão se casar! (=José e Joana) E, para colocar fim nessa dúvida, ainda acrescento a palavra más, que funciona como um adjetivo! (12) As pessoas más não são felizes. (=que não são boas) Com certeza, meu amigo Marcelo sugeriu esse tema porque sabe como essa confusão é frequente em redes sociais ou conversas por WhatsApp – principalmente a troca do mas pelo mais. Acredito que a dúvida está sanada! Sempre que for possível, acatarei sugestões dos leitores! A dúvida de um costuma ser a de outros!
tos nos dias anteriores à competição pode auxiliar na melhora do desempenho esportivo, particularmente quando o exercício durar mais do que 60 minutos. Outra recomendação do COI e de especialistas do Colégio Americano de Medicina Esportiva, Associação Dietética Americana e da Associação Dietética Canadense é de que atletas devem atingir a ingestão de carboidratos visando atender a demanda energética dos programas de treinamento e repor adequadamente as reservas de glicogênio nos períodos de recuperação e entre as sessões de treinamento. Isso pode ser alcançado por meio do consumo de refeições com alimentos que são fonte de carboidratos, além de fornecer boas fontes de proteínas e demais nutrientes.
Portanto, a recomendação dos especialistas, de modo consensual, é que devemos ter alimentos fontes de carboidrato na dieta para melhorar o rendimento esportivo, mas isso pode e deve ser feito especialmente entre as sessões de treinamento e no pós-treino. Dependendo do tempo que você fez a última refeição com carboidrato e do quanto comeu de carboidrato, seu pré-treino não necessariamente precisa ser rico nesse nutriente. Ficou confuso? Procure um nutricionista que ele planeja a dieta pra você!
Elias Santana Professor de Língua Portuguesa e mestre em Linguistica pela Universidade de Brasília (UnB)
Caroline Romeiro Nutriocionista e professora na Universidade Católica de Brasília (UCB)
Brasília Capital n Literatura n 16 n Brasília, 2 a 8 de fevereiro de 2019 - bsbcapital.com.br
Sancho e a Rainha - Capítulo VI Mario Pontes (*) Vai cansar logo, pensei, e fui caminhando por cima de suas pegadas. Eram pegadas de um Cavaleiro metido no corpo do Escudeiro. Paramos no boteco, ele trocou umas frases com o proprietário e de repente começou a cantar: La donna è mobile... Já estava escuro quando voltamos para casa. Comemos mais peixe, desta vez feito com capricho pela cozinheira. Deitei-me no alpendre, em cima de uma esteira, a brisa me livrando da mosquitada. Dormi pouco, uns vinte minutos, menos do que necessitava pra livrar o corpo de metade do que havia bebido. Acordei, dirigi-me para a praia, e à luz da Lua vi o Sancho sentado em uma jangada. Curvado, os cotovelos apoiados nas coxas, as mãos tapando os olhos. Chorava. Era a negação do homem eufórico que duas horas antes desenovelava so-
nhos, cara de alguém rejuvenescido pela utopia. Eu não sabia que atitude tomar. Afastar-me silenciosamente? Ou ficar ao seu lado, esperando uma oportunidade para dizer-lhe alguma coisa que não fosse inteiramente convencional? Sentei-me numa jangada vizinha, rendido à fulguração prateada das ondas. Ele soltou um gemido e disse, descobrindo o rosto que luzia por causa da umidade: – Aquela mulher! Eu não posso mais viver sem aquela mulher... Fiquei quieto, olhando-o apenas com o canto do olho. Daí a pouco ele tentou desfiar suas confissões, mas a fala era cortada ao meio por repentinos surtos de silêncio. Entre as trevas da quarta e a aleluia do sábado, serenado por incontáveis, Sancho contou-me aos pedaços, sem ordem, sua vida com “aquela mulher”. Não era uma história muito original,
reconheço. Mas existe alguém com história realmente original pra contar? Depois de ter trocado o Rio por São Paulo, a fim de escapar de nova prisão, Sancho tornara-se “um simples homem de negócios”; e passados mais de dez anos ainda lembrava essa mudança com desgosto. Nenhum jornal, nem mesmo os de bairro, lhe abrira a porta. Estava prestes a ser despejado do quartinho onde morava quando o atropelaram e lhe quebraram uma dúzia de ossos. No hospital foi tratado pela enfermeira Dorotéia, por quem se apaixonou assim que saiu da anestesia. Ela gostou do enfermo que lhe fora confiado, mas agiu a seu modo e não exatamente como ele gostaria. Quando teve alta, ela disse: – Arranjei um trabalho pra você. Para tristeza dele não era nada parecido com fazer jor-
nal. Mas pelo menos não era coisa de ficar colado no chão. Teria de percorrer lugarejos do interior a fim de vender instrumentos agrícolas e produtos veterinários. -- Passei meio ano viajando com meu mostruário. Apesar da falta de jeito, sempre conseguia vender alguma coisa. Para impedir que Sancho desistisse e fosse embora de São Paulo (isso ela disse), deixou o hospital, raspou suas economias, alugou uma lojinha e se pôs atrás do balcão. O negócio prosperou. Ela era uma comerciante nata! – Sancho rememorou. – Sim. Mas... e além dos negócios? – Levei um tombo e aí fiquei com o pulso definitivamente torto. – Estou perguntando por ela... – Ah! Terminamos na mesma cama... Eu, apaixonado. Ela, não sei. Mas, se não estava, fazia tudo pra que me sentisse bem ao
lado dela. Ganhamos uns dinheiros. Compramos uma pequena casa e depois um carrinho inglês de segunda mão. Eu tinha dificuldade de entrar nele... Apesar dos pesares – pensei –, deve ter sido uma festa para um ex-garotão cansado de guerra. Um dia ele confessou que sentia saudade do Rio. Saudade de quê? – ela quis saber. – Das mulheres? Só das óperas, ele disse. – Mas aqui também tem ópera, meu bem! -- Foram ver uma. Ele chorou. Ela detestou. Ele passou a frequentar o teatro sozinho. E certa noite, por acaso, ela o encontrou, na saída do teatro, com uma jovem a quem ele tratava como só se trata uma namorada. Ele apresentou-a como uma jornalista que escrevia sobre música e com quem tinha se encontrado lá dentro.
(*) Ex-editor do Caderno Livro, do Jornal do Brasil, ficcionista e tradutor de obras de ficção e ensaio. Mora no Rio.