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Irrigação por gotejamento em cana-de-açúcar, muito além da produtividade

Irrigação por gotejamento em cana-deaçúcar, muito além da produtividade

Medida pode aumentar a longevidade do canavial, com novo conceito de perenização

A irrigação teve origem junto ao desenvolvi− mento da agricultura e, desde sua criação, passou por várias evoluções.A primeira foi a por sulcos, onde a água dos rios era desviada até a plantação, evoluin− do para a aspersão, em 1947, com os primeiros pi− vôs e, mais recentemente, em 1960, a irrigação por gotejamento.

Contudo, o insumo água nunca foi priorida− de no cultivo da cana, pois grande parte do pátio sucroenergético, exceto na região Nordeste, si− tua−se em regiões onde, em teoria, há baixo dé− ficit hídrico.

Mas, a falta de áreas para produção e o aumen− to no consumo de etanol e açúcar, forçou setor a expandir para áreas com alto déficit hídrico e solos com baixa capacidade de armazenamento, forçando produtores e usinas a adotar a irrigação em, ao me− nos, parte da área.

As últimas safras foram marcadas por estiagens, incêndios e geadas, levando a quedas de produtivi− dade na ordem de 15%. Mas algumas usinas, mesmo passando pelas mesmas intempéries, não apresenta− ram queda de produtividade; pelo contrário, tiveram aumento, especialmente por serem áreas irrigadas.

Dentre os métodos de irrigação, o que mais cresce em procura e adoção é o gotejamento, que além de altas produtividades, fornece benefícios como:

Aumento da longevidade do canavial, com no− vo conceito de perenização.A exemplo de canaviais que na atual safra atingiram mais de 12 cortes sem necessidade de reforma;

Aumento no TAH, com a técnica de retirada gradual da água (drying off), o canavial irrigado mantém o mesmo padrão de ATR em uma área com maior TCH. E multiplicado o ATR por TCH leva a maior TAH;

Verticalização da produção e aumento na co− geração de energia, diminuindo arrendamento, custos de CTT e produção (R$/ton). Com au− mento de produtividade e biomassa, o hectare ir− rigado consegue gerar mais energia que uma área não irrigada.

Obteve também redução de custos de arrenda− mento, pois uma área irrigada pode suprir a indús− tria com matéria−prima, sem necessidade de adqui− rir áreas, com menores custos de produção, pois co− mo insumos são calculados em kg ou litros por hec− tare: se produzir mais por hectare, os custos caem.

Além disso, o gotejamento – devido a maior produção de etanol por hectare e a redução de in− sumos para produzir uma tonelada de cana – pode melhorar a pontuação no RenovaBio, questão tão importante na sustentabilidade prometida pelo go− verno brasileiro na COP−26.

A nova safra está aí e, com dificuldades que po− dem ocorrer, por que não assegurar benefícios em seu canavial que vão muito além da produtividade?

Daniel Pedroso, EspecialistaAgronômico da Netafim Brasil

Embrapa desenvolve primeira cana editada não-transgênica do mundo

variedade denominada Cana Flex II aumenta a eficiência na produção de bioetanol

As canas Flex respondem a desa− fios do setor e facilitam a fabricação de etanol (de primeira e segunda geração) e a extração de outros bioprodutos (Divulgação Embrapa)

Cientistas da Embrapa Agroener− gia (DF) desenvolveram as primeiras canas editadas consideradas não− transgênicas do mundo (DNA−Free). São as variedades Cana Flex I e a Ca− na Flex II, que apresentam, respecti− vamente, maior digestibilidade da pa− rede celular e maior concentração de sacarose nos tecidos vegetais.

A Cana Flex I é fruto do silencia− mento do gene responsável pela rigi− dez da parede celular da planta. Essa estrutura foi modificada e apresentou maior “digestibilidade ” , ou seja, maior acesso ao ataque de enzimas durante a etapa da hidrólise enzimática, proces− so químico que extrai os compostos da biomassa vegetal.

Já a segunda variedade foi gerada por meio do silenciamento de um ge− ne nos tecidos da planta, o que oca− sionou um incremento considerável na produção de sacarose nos colmos da planta modelo, a Setaria viridis.

“Uma vez identificada essa carac− terística de acúmulo de açúcar na planta−modelo, transferimos esse co− nhecimento para a cultura da cana− de−açúcar, alvo das nossas pesquisas. Novamente foi observado um incre− mento da ordem de 15% de sacarose no colmo da cana, bem como o au− mento de outros açúcares como gli− cose e frutose, também presentes na planta, tanto no caldo quanto no te− cido vegetal fresco ” , explica o pesqui− sador da Embrapa Hugo Molinari.

A equipe também observou in− crementos da ordem de 200% de açú− car nas folhas da cana. “Também fize− mos ensaios para ver se o gene tinha atuação na melhoria da sacarificação, que é a conversão da celulose em açúcar industrial, e observamos um incremento da ordem de 12%” , com− plementa o pesquisador.

Como vantagens da Cana Flex II, Molinari cita o aumento da eficiên− cia na produção de bioetanol, a des− coberta de uma variedade mais ade− quada ao processamento industrial, a obtenção de um bagaço com maior digestibilidade para uso na alimenta− ção animal e a agregação de valor à cadeia produtiva da cana−de−açúcar como um todo.

Ambas as pesquisas utilizaram a técnica da edição genômica CRISPR (do inglês Clustered Regularly Inters− paced Short Palindromic Repeats), técnica revolucionária de manipulação de genes descoberta em 2012.A tec− nologia utiliza a enzima Cas9 para cortar o DNA em pontos determina− dos, modificando regiões específicas. A descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Química em 2020 às pesquisadoras que publicaram o primeiro artigo so− bre o tema: Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna.

Na construção das Canas Flex I e II, não houve, portanto, modificação do DNA da planta, apenas o silencia− mento dos genes. Por esse motivo, a Comissão Técnica Nacional de Bios− segurança (CTNBio) classificou as novas variedades como não−transgê− nicas, de acordo com a Resolução Normativa n º 16 (RN n º 16) da Co− missão de 9/12/2021.

De acordo com o cientista, apesar de a transgenia continuar sendo uma estratégia importante para a solução de inúmeros problemas na agricultura e agregação de valor a espécies, a edição genômica feita com técnicas como o CRISPR permite a manipulação do DNA de forma mais precisa, rápida e econômica quando comparada à transgenia.

“A tecnologia CRISPR tem per− mitido uma democratização do uso da biotecnologia na agricultura, não so− mente do ponto de vista de mais em− presas e instituições participarem do desenvolvimento de produtos que chegam ao mercado, mas também permitindo que mais espécies de in− teresse sejam beneficiadas ” , explica Molinari. Segundo ele, o custo esti− mado para o desenvolvimento de uma planta transgênica é de cerca de US$ 136 milhões e entre 30% e 60% desse valor é destinado às etapas de desre− gulamentação.

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