Coletivo sÓ 11ª

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13 de outubro, a partir das 22h00

concerto de música experimental Patife Band

http://www.myspace.com/patifeband

Eden Carrasco (Chile) Meretrio

http://www.myspace.com/edencio

http://www.myspace.com/meretrio

Pig Soul

http://www.myspace.com/pigsoul

Moria Duo

http://www.myspace.com/saunoflex

jornal coletivo sÓ 11ª edição, Agosto/Setembro http://coletivoso.net


publicação impressa Coletivo sÓ

Em março de 2008, o projeto editorial da foi retomado por André Mainardi, Lucas Rodrigues de Campos e Chuck Dedo Amarelo, passando por alterações fundamentais que garantiram sua continuidade e permanência. O Coletivo sÓ tomou a forma de um jornal tabloide, em preto e branco – diminuindo consideravelmente os custos de impressão. Entre maio de 2008 e novembro de 2009, foram impressas oito edições. A primeira iniciativa editorial do Coletivo foi registrar, de maneira inédita, a carreira do grupo paulistano Som Nosso de Cada Dia, que retomou suas atividades participando da Virada Cultural de 2008, com show no palco do Teatro Municipal. No show seguinte, no Centro Cultural São Paulo ocorreu o lançamento do segundo número da publicação Coletivo sÓ, a primeira em papel jornal, iniciando um trabalho de conservação da memória, e recuperação de histórias fundamentais da produção musical na cidade de São Paulo sob a perspectiva de uma produção cultural esquecida pela grandes massas. Consolidada uma cena de cultura independente, com bandas se apresentando regularmente e com uma mídia impressa a registrar periodicamente esses acontecimentos, o Coletivo sÓ acorda uma parceria com o Centro Cultural Popular Consolação, (CCPC), e imprime mais três jornais no espaço de três meses, realizando junto ao lançamento as festas Udigrudi. A parceria com a casa é retomada agora para anunciar a transição da casa, que agora funciona na rua General Jardim, 269, e o Concerto de Música Experimental. 3000 cópias blog http://so0jornal.wordpress.com versão digital http://www.issuu.com/jornalcoletivoso http://coletivoso.net CONTATO so.contato@gmail.com contato@coletivoso.com.br

EXPEDIENTE edição, reportagem e diagramação

- Lucas Rodrigues de Campos ilustrações e capa - Chuck Dedo Amarelo revisão de texto - Tatiane Klein colaborações

Pietro Ferrari e Cauã Ogushi

A associação Centro Cultural Popular Consolação apresenta projetos na área de produção e valorização cultural, músicas, artes plásticas, audiovisual e jornalismo impresso. Tais áreas estão amparadas em uma rede de grupos autônomos, que através de liberdade garantida somente pela condição de independência pode se entrelaçar, alinhar-se em rede. Buscamos entender a cidade de São Paulo. Pela localização privilegiada dos novos espaços do CCPC, tendemos a uma maior interatividade com o centro. Como isso acontece? O Centro Cultural tem um perfil que difere de uma simples casa noturna ou bar - o seu histórico apresenta iniciativas e esforços de cunho social e economia solidária.


Rock em oposição Irmão caçula do regente Arrigo, Paulo “Patife” Barnabé esteve na orquestra Sabor de Veneno. Quando o rock, no retrovisor, se afastava dos ouvidos mais pujantes, Paulo foi arranjador e baterista do grupo que triturou o rock enquanto processo estético estagnado, e, para evitar o enterro de um cadáver retrô, visto só em reflexão, passaram a encenar a canção, interpretá-la com oralidade e comunicação visual; tornando a música um ambiente vasculhável. Penetrável como quadrinhos, que trazem histórias controlados pelas mãos. Com o irmão e outros intérpretes talentosos, Paulo tramou os gritos cruzados da parainfernal Lira Paulistana com técnicas de serialismo e dodecafonia. É a narrativa de ruas, testemunhas da sórdida convivência entre a castidade pós-64 e a euforia tropicalista. Motivo crítico num enclave que destrambelhou num porão, num sótão onde a repressão passava longe. Desciam escadas pra cair gostoso com a cara no chão, desbocados, farejando sangue quente, de produções quentes. A vanguarda paulistana foi uma resposta pertinente ao momento de abertura política vivido num Brasil que tolerou a ditadura e sua distensão lenta. Resistência ao achaque da censura que perdurou por duas décadas. Bando de artistas, trupe desbocada traçada no bico dos sopristas e na garganta das coristas. O esgoto paulistano sendo visto e os bichos expostos em autópsia, hora da cirurgia. A orquestra troca os bisturis por metais e (d)enuncia a queda. O jorro da Sabor de Veneno foi seminal: Félix Wágner (Divina Increnca), Bocatto (Metalurgia) Regina Porto, Neuza Pinheiro, Tetê Espíndola, Itamar Assumpção. Paulo Patife acompanhou todos na apresentação da peça musical Clara Crocodilo, herança artística que auxilia o ouvinte a distinguir uma experiência musical da música forjada como massa sem sal.

A Patifaria Patifaria A

Paulo apresenta seu trabalho de composição junto com a Patife Band. São duas dezenas públicas de canções torpes, descrições cômicas da desgraça da vida, relato visual interpretado por música e sons - compostas pelo paranaense da Londrina dos festivais abertos. Compostas também pelo paranaense residente em São Paulo, enclubado nas redondezas, o enclave pequeno-burguês de “pulso criativo”, eixo Cidade Universitária-Vila Madalena, com os primeiros povos provos migrando e povoando o bairro de tradições boemias durante as décadas de 70 e 80. No lado Universitário destaque para os nomes que passaram por FAU, ECA, CRUSP. É de lá, da série de prédios enfileirados, a transpiração punk anarquista operária, princípios da autogestão, ocupação popular das moradias estudantis e cena categoricamente crítica, senhor, sem terno e gravata, da história. Talvez todos excomungados pela linha de montagem de talentos, mas compadecidos da Via Crucis do Operário. A Patife Band é banda de (con)fusão. Uns trinta anos depois as canções tem hoje mais Sabor de Veneno, gotejante lá de cima. Hoje, sacadas invencionistas permitem lembranças e devaneios que esbarram em Mothers of Invention. São os Patifes da Invenção daquela cena que apenas começou entre o fim de 70 e o começo de 80. Três décadas

de flashes organizados pela história, não a mesma repetida na boca de metidos críticos, uma obra condensada e talvez pronta, regida por baquetas e com esmero, respeito à canção – música feita por quem mantém distância correta da pretensão e do comodismo. Paulo Barnabé fica de frente para o público e atrás de uma bateria, acompanhado por músicos convidados a passear e explorar o ambiente sonoro que vai desde dum pique funk a um jazz espacial digno dos espiritualistas do gênero como Sun Ra, Art Ensemble of Chicago, e qualquer nome denso e sedimentado da seara Avant-Gard. Patife Band e Sabor de Veneno reinventaram as deliciosas sujeiras dum mundo desbocado, boca do lixo “Na Boca do Bode” [o livro com este nome, de Fábio Henriques Giorgio, narra os anos de protagonismo cultural da cidade de Londrina, quando ela abrigou festivais onde bailavam Itamar e Arrigo, em 1973]. Não é exagero dizer que a novidade musical desvirginada em Londrina e gozada em São Paulo manchou e transformou o panorama da música popular brasileira através da veste, travestida, meia vermelha e marginal, com navalha disfarçada na cinta. São delações comprometedoras da estirpe de um Pornógrafo, ou de um Bandido da Luz Vermelha, filmes respectivamente de João Calegaro e Rogério Sganzerla. Os dois, mais Ozualdo Candeias representam como diretores o cinema marginal, fusão da narrativa oral com frases frases refrão, compondo a película como canto. 1973, Na Boca do Bode, Teatro Filadélfia em Londrina, os Irmãos Barnabé mais Itamar Assumpção participavam da corruptelala musical que São Paulo arrogou, A Vanguarda Paulistana. Uma lembrançaem dois dos filmes fundamentais do movimento marginal são feitas referencias à cultura do quadrinho, em o Pornógrafo de João Calegaro, e em A Mulher de Todos, de Sganzerla.

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Agora importante

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urgente que se conheça o trabalho da Patife Band, do Paulo Barnabé, irmão do Arrigo, que mesmo sem ter uma ampla discografia, apenas dois LPs lançados em 20 anos, é o mais bem acabado exemplo da contundência estética do irmão mais conhecido. Segundo Arrigo, Paulinho, como é chamado, foi mentor do tipo de som que fez, nos anos 80, uma fusão entre a música popular urbana e a música erudita contemporânea. Em tempo, Paulo também foi parceiro de Itamar Assumpção desde Londrina, e integrante da primeira formação da banda Isca de Polícia." trecho do livro Na Boca do Bode, de Fábio Henriques Giorgios


ainda sÓ - para o conhecimento coletivo “Revolucionários que não esperam, dinossauros não estacionados, reciclados. Tentaremos reportar a você as histórias que construíram a nostalgia, que não negamos existir, mas que alicerçaram cabeças e formas de pensar o mundo. Buscamos a compreensão da “mocidade do nosso temporal”. Pertencemos a um não-tempo real. Acreditamos ainda construir e contribuir com “um novo amanhecer”. [Trecho do editorial da primeira edição em jornal] A partir da necessidade de agrupar iniciativas musicais e culturais, surgidas na Zona Norte de São Paulo em 2005, um grupo de artistas, entre eles o grupo musical Soul Barbeccue, organizou os seguintes eventos: - 1° Mercado das Pulgas - Soul Barbeccue - Lê Rock Bar - 16/04/2005. - 2° Mercado das Pulgas - Soul Barbeccue, Latuya e Neno Miranda - V2 - 17/06/2005. - Lançamento do Single de Clara Celofane, participação de Zé Brasil e Sílvia Helena e Amarilis Gibelli - V2 - 12/08/2005. - A Vez do Kabelo Crescer - V2 11/11/2005 - Soul Barbeccue, Perez Band, Hollowood Saints e O Bicho Falante. - O Lugar é Aqui - Soul Barbeccue e Poucas Trancas - Instituto Jovem, participação de Zé Brasil e Sílvia Helena, e Jaques Gersgorin - 11/03/2006. - O Bicho Falante e Soul Barbeccue - V2 13/04/2006. Com relevante sucesso de público e movimentação de músicos, cineastas, poetas, pintores, artesãos de rua e até mesmo ven-

dedores de livros e discos usados durante a realização desses eventos multimídia, tomou corpo a formação de uma nova cena cultural. Para a permanência dessa trajetória, que começava a ser traçada, atentou-se para o fato de que a produção de um veículo de mídia independente seria interessante. Tal veículo deveria dar conta de registrar acontecimentos contemporâneos relacionados à tradição musical brasileira, especialmente a tradição de influência paulistana. Em maio de 2006, Leonardo Aquiles, André Mainardi e Camila Antonelli concebem a Revista sÓ, material impresso de divulgação e reflexão contra-cultural. Ela visava a formação de uma cena musical frente à falência do mercado musical. O material, uma revista de 24 páginas e capa em papel couché brilhante, teve inspiração no revolucionário fanzine sessentista Oz (publicado em Sydney e Londres), e nas publicações do movimento libertário Provos (Holanda). Primeira edição em revista O lançamento da Revista sÓ, no V2 – extinto pólo de cultura underground da Zona Norte de São Paulo –, contou com apresentações das bandas Soul Barbeccue (Santana) e Massahara (Moóca). Essa edição em revista do Coletivo sÓ (já esgotada), deu atenção especial ao grupo Apokalypsis, banda de rock progressivo destacada na década de 70. A partir daí, sucederam-se eventos que desenvolveriam os conceitos do Coletivo sÓ: levar e integrar às novas gerações o trabalho de artistas que, por diferentes motivos ficaram e ficam afastados dos holofotes midiáticos.

Ações culturais e parcerias Em outubro de 2006, o Coletivo viu a cessão da atividade editorial, dada a falta de incentivos financeiros para sua continuidade. Porém a iniciativa continua através de shows que possibilitassem o surgimento e inserção de novas bandas no cenário independente. Houve então uma parceria com o Movimento "70 de novo” - que contou com o apoio do Coletivo, atuante através dos músicos André Mainardi e Camila Antonelli – marcante pela participação de músicos como César de Mercês (O Terço), Gérson Conrad (Secos e Molhados) e Diógenes Burani (O Bando, Moto Perpétuo, Walter Franco) teve também a participação de Percy Weiss (Made in Brazil e Patrulha do Espaço), Amador Bueno, (Jazzco), Ricardo Corte Real (Blues 4 Fun), Rodolfo Braga (Joelho de Porco e Terreno Baldio) e Edu Viola (Hair). Além dos músicos, o radialista Jaques Gersgorin, notório por apresentar o programa Kaleidoscópio em meados da década de 70, a organizadora do Festival Águas Claras de 1975, Amarilis Gibelli, a fotógrafa Grace Lagoa, ( Rolling Stone Brasil, Revista Música, Jornal da Música), os jornalistas Nico Pereira de Queirós e Joel Macedo (Rolling Stone Brasil e Revista da Música) o ator cineasta Paulo César Pereio e o cartunista Chico Caruso também estiveram envolvidos com o movimento em suas celebrações mensais.

- Celebrações do movimento 70 de novo no Saracura Barteatro Off Cena 03/2006 à 07/2007. - Soul Barbeccue no Saracura Barteatro Off Cena, participação de Zé Brasil e Gerson Conrad – 16/09/2006. - O Rock da Garoa (referência e homenagem ao festival setentista realizado na FGV) - Soul Barbeccue e Apokalypsis – 30/09/2006. - O Rock da Cantareira I - Soul Barbeccue e Mud Shark - V2 – 21/04/2007. - Mud Shark e Soul Barbeccue - Fofinho Rock Club – 20/05/2007. - Soul Barbeccue e Kalango Louco com a participação de Expresso Monofônico e Os Baratas Organolóides – 15/09/2007. - Soul Barbeccue e Zé Brasil e Silvia Helena no Teatro Studio Piollin 21/09/2007. - Soul Barbeccue, Kalango Louco e Expresso Monofônico no FFLCH/USP22/10/2007. - Rock da Cantareira II - Vila Teodoro - Soul Barbeccue e Cosmo Drah 15/03/2008.


papel que imprimimÒs, o jornal coletivo sÓ Frente à carência de publicações musicais especializadas, o jornal Coletivo sÓ desenvolve uma linha editorial que busca preencher essa lacuna através da produção de um material jornalístico impresso. O objetivo do jornal é difundir produções musicais e culturais da e na cidade de São Paulo. Ao traçar esse caminho, a publicação relata experiências culturais que estiveram, em sua maioria, à margem dos processos historicamente massificantes da indústria cultural. O que inspira o jornal é a necessidade de exposição da riqueza de trabalhos culturais que não sucumbiram ao tempo. Dessa forma, o Coletivo sÓ trabalha para impedir o sepultamento de parte relevante da história da cidade de São Paulo. Outro foco é a busca por conteúdo e projeto gráfico diferenciados. Há um cuidado em pensar as pautas, o que resulta em um trabalho dedicado aos gêneros da reportagem e do artigo, com atenção também a entrevistas. O projeto gráfico é apoiado em ilustrações feitas exclusivamente para o jornal. Remetendo aos padrões gráficos de publicações clássicas no jornalismo musical brasileiro, como a Rolling Stone Brasil e o Jornal de Música e Som, o coletivo Só estampa suas capas com o trabalho autoral de um artista [ver exemplos desse trabalho na edição especial sobre Eduardo Araújo]. O esforço combinado entre esse tipo de arte gráfica e o jornalismo que beira o literário – pouco afeito aos conteúdos simplesmente noticiosos – visa levar à reflexão sobre os processos decorrentes da formação da indústria cultural. Ciente de sua participação nessas redes ampliadas de reprodução cultural, o Coletivo atua como sujeito crítico, levando a cabo máximas como as do “jornalismo independente” e do “jornalismo underground” [Vide as ideias trabalhadas no editorial na quinta edição – jornal maio de 2009]. Além do caráter de salvaguarda da memória e da consequente produção de um acervo de caráter midiático – como aconteceu com o enfoque dado ao Lira Paulistana (matérias publicadas em maio e julho de 2008) –, o jornal repercute também novas expressões musicais, tais como o grupo de improviso oriundo da Escola de Comunicações e Artes da USP, Banda do Canil; a banda chilena de jazz Akineton Retard, que realizou apresentações na cidade de São Paulo e gravou disco ao vivo com músicas gravadas no Centro Cultural São Paulo; e o Movimento Psicodália, da região sul do país. As edições de setembro, outubro e novembro de 2009 foram publicadas em parceria com o Centro Cultural Popular da Consolação (CCPC), apoiador do projeto durantes esses meses e que retoma o caminho a partir desta edição. Tal parceria, que consite na publicação de materiais sobre o CCPC no jornal e na cessão de espaços no centro ao Coletivo sÓ, permitiu que a publicação ampliasse seus objetivos. Grupos musicais independentes de São Paulo tiveram a possibilidade de apresentar seus trabalhos em um palco, atenuando a carência de mecanismos que garantam uma carreira profissional e segura para esses artistas.

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CC CC PP CC

“Quem viveu a noite do bairro Butantã nos últimos 10 anos, ouviu falar da concentração de loucos presentes num jardim, de alta voltagem sonora. O nome remete ao quarto álbum dos Mutantes - no Jardim Elétrico comemorava-se a criação e o desbunde. Negão e Igor iniciaram a parada quando viviam na mundrugagem plena da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP”. Em 2004 Tiago Barbosa recebia por e-mail, lá da Bahia, notícias do bar Jardim Elétrico. No primeiro dia paulistano, depois de passar um ano baiano, Tiago foi conhecer o bar fundado pelos parceiros Igor e Emerson. Concluiu que o espaço precisava de maior organização. Tiago foi convidado e, segundo ele mesmo, cometeu a insanidade de aceitar a gerência do pico. Passadas “várias dificuldades, gerir um espaço é bem difícil e lidar com a cultura, algo tão nobre, sem apoio do estado é complicado”, Tiago passou a bola e a experiência da gerência para Jaime Soares, que ficou a frente da gestão do Jardim até a mudança - o equipamento de cultura alternativo migrava para as bandas do centro, na virada dos anos 2006 e 2007. O espaço cultural Jardim Elétrico existiu na Eiras Garcia próximo ao portão 3 da Universidade de São Paulo. Todas as noites varavam com música ao vivo - o coração da coisa - , esporadicamente, aos sábados e domingos, atividades culturais do bairro instalavam-se no Jardim - o organismo da coisa; Eram movimentos ligados

ao nordeste, especialmente ao Maranhão, representado pelo Morro do Querosene e as saudoções ao Boi. Cada vez mais ficava relevante a necessidade de oferecer ao público não só do bar, mas especialmente do bairro, novas oficinas e cursos. Na época Jaime trabalhava junto à Acepusp Cursinho Popular dos Estudantes da USP -, que tinha sede na Consolação. A limitação do espaço do Jardim foi crucial para as transformações de uma célula que pretendia mutar-se de bar para um equipamento cultural que aderisse a objetivos claros, como a transformação via produção coletiva e cultural. A Acepusp foi vizinha de um restaurante. Quando o comércio faliu bastou inventar uma porta e dar de cara com o espaço que veio a tornar-se o

Centro Cultural Popular Consolação

Em entrevista radiofônica cedida a Uirá Vital, Jaime conta como as coisas se desenrolaram: “Conseguimos uma invasão, porque a parede era germinada, e depois de alguns meses fizemos um acordo com o proprietário bancando o IPTU do prédio e daí forma-se a associação com formalidade jurídica e CNPJ, que possibilitou galgar outros andares de

2005: O Espaço Cultural Jardim Elétrico na ativa. Nesse ano ocorrem shows com Lanny Gordin e oficinas junto dos moradores do Morro do Querosene, como a Jamquerô


julho, 2007: festa de pré-in- julho, 2008: re-estrutuauguração do Centro Cul- ração, as semanas pastural Popular Consolação sam a ser cheias com jazz integração cultural, social e política.” O CCPC surgiu da demanda de vários grupos por um espaço. Era urgente uma casa para expressar diferentes realidades culturais, sociais e políticas. Passaram então a organizar-se os primeiros grupos para efetivar a construção do CCPC. “Organizar reunião aberta a todos que quisessem participar da empreitada, foi uma loucura... literalmente... porque um dos grupos ligados era da luta antimanicomial. Eles organizavam aqui o Bar Saci. Era gente oriunda do Bar Tantã e outros bares que trabalharam com seres humanos catalogados como loucos pelo estado, mas tão normais quanto qualquer outro trabalhador, moradores de rua. Havia também a presença do IVOZ, ligado ao hip hop, ajudando na montagem da estrutura”. Tiago recebe novo convite, o que mudaria a sua relação com o trabalho e a realização cultural. Chamado por Jaime para tocar a montagem de uma sala acústica, Tiago não sai mais dali, passando a habitar o meio/sótão do CCPC ao mesmo tempo em que exercia o papel burocrático de presidente da Associação Cultural, legalmente montada. Com a palavra Tiago Barbosa, o funcionário do mês vitalício relembra os divisores de água do CCPC: “A reunião era incrível, 12 cor-

denadores, tarefa: desenvolver a sustentabilidade do espaço. Graças à atuação do Jaime com parcerias e articulações, surge o projeto Espetáculo (patrocinado pela prefeitura) - sonorização, iluminação e cenografia no CCPC. Esse foi um momento áureo, onde os grupos foram colocados em cheque enquanto o desenvolvimento do trabalho, estruturação do espaço físico e da prestação de serviços.” Com o fim do projeto, houve a debandada dos grupos que viviam no entorno do CCPC. Havia nesse momento eventos de sextas e sábados, tocados pelos coletivos de cultura reggae, Reggaematic Control e You and Me and on a Jambore, com públicos estrondosos, chegando a 400 pessoas. Mas somente festas regulares dariam conta de equilibrar as contas da casa, que passou a ser além de centro de ações culturais, uma legítima casa da música. Solitários e com muito trabalho a fazer Tiago e o técnico de som Bodão, remanescentes da primeira era do CCPC decidem: “Vamos encarar? Vamos!”. “Levando o Bodão até o ponto, eu escutei um jazz maravilhoso, no Ibotirama”, logo Tiago recebia o baterista Jonatas Sansão que de pronto aceitou assumir as segundas com jazz. O pessoal do Reggaematic aparece com projeto de dub às terças e desde setembro de 2008 os eventos passam a ser diários.


Ocupe a cidade Um mês atrás. O amor pela construção civil e pelo gene paternal descrito através de lembranças sigilosas em ato noturno. “Cara, você gosta mesmo daqui. Sabe que vai ser demolido e mesmo assim investe esforço na manutenção da casa” - já são duas da manhã e o cara não desiste de ver aquele espaço útil, mesmo com a certeza de que virará entulho. A porta que precisa de reparo é vizinha do pedaço de parede que ressoa em tom de réquiem “Ocupe a Cidade”, mensagem grafada e erguida até o dia 15, escritório do Centro Cultural Popular Consolação. A marca de stencil não estava afixada apenas através de tinta na parede, mas também estampada nos rostos dos que trabalharam durante três anos nessa ocupação, mantendo picos de música que chegaram a durar de domingo a domingo, um rolo compressor cultural, com muito espaço e tempo leve. Agregamos à cidade de São Paulo. O direito de festejar é de todos, e por mais que o tema não tenha sido tratado como objetivo durante reuniões, hoje, bem no fundo, parece ser isso o mais importante. É no momento de festejo que o homem insiste em ser feliz, Hoje, um dia após mais uma apresentação de Paulo Barnabé e sua Patife Band, o CCPC ainda vive de forma vigorosa os últimos dias no assentamento da Consolação. Vendido, o prédio alugado para a associação capitaneada por Tiago Barbosa, será demolido e dará lugar a uma concessionária. Seria bom ver as falanges de som dos Sound System erguerem-se com objetivo de evitar essa demolição, mas o volume dos sounds prega a paz, e o alarde, com volume máximo é pra anunciar a mudança.

Jazz São Paulo viveu e viu durante a década bandas de música instrumental assumindo noites improváveis. Além das casas que se arriscam bem ao levar o jazz ao pé da letra como o “nos fundos”, em Pinheiros, e o Berlin que ocupou a vaguidão da terça com música de improviso, o Centro Cultural Popular Consolação consolidou um dos quadros mais imprevísiveis ao compor a agenda noturna de São Paulo com o jazz ao seu modo, finalizado em pizza e residência a músicos talentosos, espaço atingido a partir da parceria entre o CCPC e o quarteto do músico Jonatas Sansão. O jazz comandado pela Jonatas Jazz Quartet atraiu mais que o olhar dos curiosos que passavam por uma Consolação diferente: trouxe para o CCPC ouvidos pouco afeitos ou que desconheciam a força da música negra. Música instrumental de ponta às segundas com Jonatas e direito a diversas gigs com o guitarrista Michel Leme. 19 de julho e o que se vê às duas da manhã não será visto quando este jornal estiver sendo lido. Não há como deixar de lamentar. Despedir-se de um lar é realmente comovente. Só músicos e diretoria nos fundos do CCPC, a casa com o maior número de sofás antigos da cidade acomoda bem e consola a turma, ainda viva e já gestando o embrião do que é novo. O jazz há de continuar! Agora mais uma noite finada lá no CCPC. A porta de correr virada pra rua apresenta mais uma mudança no Centro. Pintados estão nome e número da casa de cultura, uma reforma que projeta o novo espaço do Centro. A porta de correr é item de decoração lá na General Jardim, 269.

antes, julho/agosto de 2009: início da parceria coletivo sÓ/CCPC. Lançamento da sétima edição, com capa homenageando o grupo Som Imaginário julho de 2010: Preparação para mais uma síntese. Logo o circo estará montado e com lona dupla - a partir de agosto, os endereços são estes, BordÔ Rosevelt e General Jardim CCPC. Retomada da parceria sÓ/CCPC

A

rede

Em julho de 2009, o jornal coletivo sÓ chegou às mãos de Cinthia, que fazia as honras da casa no começo de noite, sexta-feira - ainda em pauta a morte de Michael Jackson, homenageado pela casa naquele dia. Cinthia recepcionou o jornal com atenção e, após escutar meia dúzias de frases, dirigiuse rapidamente, e com boa vontade, a uma sala detrás do guitarrista e de sua guitarra que saltavam da parede [o painel ilustrava Lanny Gordin e sinalizava que aquele ambiente não era um meio qualquer]. A espera foi pouca e com resultado chocante. Despretensiosamente, o coletivo sÓ marcava reunião pra discutir um projeto de jornal:”O Tiago disse que quer marcar uma reunião. Ele disse que é isso que ele quer. Ele quer fazer um jornal pro CCPC”. O resumo da ópera seguiu novamente nosso discurso: amarrar a organização de grupos reorganizados pela possibilidade de criação de demandas culturais. Grupos que querem convergir os públicos pra fortalecer cada ação, aumentando os canais de comunicação e diminuindo o isolamento. Em agosto de 2009, narração de Tiago Barbosa, logo após chegada dos fardos do primeiro jornal conjunto sÓ/CCPC. (aurante festa com a Banda A Mosca na Sopa, madrugada do dia 21 para o 22): - “Tá na mão... Saía um pedido das

mesas que ficavam na rua de areia em frente ao restaurante em Velha Boipeba Bahia, o Boteco. O pedido pro garçom, ia pra copa e cozinha, em poucos minutos Cecília e Gabriel avisavam: Tá na mão! E o prato ia quentinho pra mesa, servido com muita alegria e bom humor. Bom galera, não estamos na Bahia e muito menos em Boipeba, mas TÁ NA MÃO! O Jornal Coletivo Só 7º edição, os malucos foram pegar na gráfica 00:40. E vieram pro CCPC em pleno toca Raul com os jornais. Sejam bem vindos à rede! Eu poderia passar o PDF pra vocês, podem pegar aqui no CCPC a 7º Edição do Coletivo Só com o encarte do CCPC que ficou animal. Parabéns às duas teias desta rede, e aos colaboradores, que foram pegar o jornal e estão juntos conosco agora. Vamo pra cima!” Na rede o dia não terminava. Quando lá em cima fechava uma porta que abria a possibilidade de sono, o último cliente ia embora dando mais um nó e contrastando com a limpeza que começava. Às duas da tarde mais um nó fechado e a porta voltada para a movimentada rua abria-se revelando a recepção a um novo dia confuso e poluído. No 1897 havia um canal aber-to que articulava o fôlego da sempre jovem ação cultural de São Paulo com a necessidade de novos ares. Ar novo pra circular em meio à amargura de um terreno confuso e poluído por mais uma concessionária.


Dos

guetos ao clube

Às terças, feiras evidencia-se o caráter popular do CCPC. Bastava descer a Consolação de ônibus pra notar a movimentação no começo das tardes. A calçada é tomada por jovens, com destaque paras as tranças rasta. O Dub soa a partir de vinis, é o encontro de DJs especializados na música jamaicana, é protesto resultante da celebração de valores mais alegres. Paredes de cai-xas de som são montadas. Nada mais propício para a reunião dos Sounds do que o alojamento no Centro que entalha cultura na cabeça dos que entram ali. É popular porque descentraliza a agenda normativa com gostos e gêneros distintos. E essa distinção não é o centro. A diversificação não se beneficia das gentilezas centrais.

Distinção Essa distinção está presente justamente nos bairros periféricos da cidade e do Brasil, como comprovam os grupos Haxixins da Zona Leste e Soul Barbeccue, da Zona Norte. Os cearenses do Fóssil chegaram através do projeto Conexões Musicais, que trouxe nomes conterrâneos da banda e de peso pra casa como O Sonso, O Jardim das Horas, Monophone, Projeto Noise 3D, além do grupo Malditas Ovelhas de São Carlos e dos mato-grossesnses da Macaco Bong. Não houve e nem vai existir norma ou conduta comportamental; contrária a isso o CCPC continuará a crer e ver todas as modas e contemplar todos os modos. A contradição é a estamparia do Centro Cutlural Popular Consolação, que migra para a General Jardim. Tudo em uma semana: jazz, dub, samba paulistano, alternativo e até o finado emo - emo que dá lugar aos coloridos, Strike, Restart e Cine, bandas que participaram do festival patrocinado pelo Clúb Sattva, e residente da casa desde a fundação (matinês de sábado e domingo).

CCPC

e a cultura dos

Sound Systens

A dança é uma mexida de cintura que existe desde o soul, aqui apresentada aos tratos jamaicanos do early reggae, passando pelo ragga com semelhanças sonoras que remetem aos guetos do Rio, de Kingston, São Paulo, Londres. Aqui resistiremos. Os principais agentes do reggae no CCPC são os combos Reggaematic, You and me on a Jambore, Muamba Sounds e Quilombo Hi-Fi. A cultura dos sound systems, aquelas caixas empilhadas que tocam reggae existe é realidade em São Paulo. São inúmeros os grupos e eles passaram a fazer parte dum mesmo espaço no centro. “O CCPC teve um papel importante na expansão e sedimentação de uma cena sound system em São Paulo. A cena já existia antes do CCPC, mas com a centralização de diversas festas de qualidade no mesmo lugar e o mais importante, com diversas propostas e estilos diferentes de som e público, ela se sedimentou e criou raízes. O público do CCPC sempre foi muito receptivo e abraçou as diferentes vertentes do reggae e as diferentes propostas de cada festa ou sound”. Essas palavras do professor Fepa, da Muamba Sounds, ajudam a compreender a popularização da música reggae tomando de assalto o CCPC, que viu a casa ficar cheia de populares, que sabiam e conheciam dessa música periférica. Na margem, nessa margem da avenida reunia-se gente a fim de dançar e curtir o dub entre 18 e 23 horas - a maior festa popular do centro com ingresos a 3, 4 reais (re)surge com uma média de 300, 400 pessoas, que podem voltar cedo pra casas não tão perto assim do centro, tendo acesso a um ponto de ônibus viscinal da cidade funcionando a ponto de bala.

Manifesta

o

Manifesto

Agosto de 2010, a continuidade: “O CCPC é importante pra cultura Sound System, não para o reggae. Para o reggae a importância é o Sound System. É uma corrente. O Sound System mantém o reggae na sua característica original. Diferente do cenário de bandas que vemos no brasil que alteraram todas as formas de fazer reggae. O reggae nacional não tem como ser ouvido da mesma forma que o reggae ORIGINAL de qualquer parte do mundo, o Brasil ainda está nas fraudas aprendendo a TOCAR reggae, CANTAR reggae, fazer o REGGAE. Existem produtores, quase todos digitais fazendo coisa boa e séria de reggae, vertente digital a qual não é tão favorecida e ouvida por aqui. O importante é parar de surgirem oportunistas, pessoas que julgam-se amantes do reggae, mas são oportunistas que querem forçar/criar um mercado que não existe ainda e acabam enganando pessoas que estão começando, e tirando a esperança de muitos que gostariam de começar, fazendo isso em troca de dinheiro. E olha, tem gente aí famosa fazendo isso e todo mundo babando ovo. Aí é que tá a diferença de quem faz por/pela cultura como os que citei e alguns que estão por ganância, cobiça e prazer.” Marcelo Rodrigues Gregório, Jah kNomoh Engenheiro de Som e Produtor Musical Quilombo Hi-fi


O espírito 1969 Uma das boas histórias que surgem na pesquisa sobre o que é denominado como early reggae, skinhead reggae - prato principal oferecido pelas paredes de som - é a descoberta do passo mais popular dos que dançam o som jamaicano os passos do homem sobre a lua, inspirados justamente na levada de baixo conhecida como “Moonstomp”, referência à chegada do homem ao satélite que movimenta as marés. Ano de 1969, a contracultura estava na ordem do dia dos jovens jamaicanos. No fim do sessenta os conflitos raciais e a violência eram a rítmica dum jovem ainda distante das transformações ligadas à religiosidade rastafari, assim eram dados os primeiros passos do reggae, da música jamaicana que atravessou o oceano pra aportar no solo da rainha, a Inglaterra, berço da “primitiva“ “subcultura” mod, caractere do jovem inglês que viveu em meio a transição entre o pós guerra e o início da política do Wellfare State, o estado de bem-estar social. Migrações em massa de jovens jamaicanos passaram a acontecer na mesma linha do tempo - em busca de melhores condições sociais os Rude Boys, jamaicanos que aderiram à violência

como protesto foram a Inglaterra buscar o que era deles. A cultura musical jamaicana vira contra na Inglaterra. Foi a união entre música jamaicana e canções dotadas de crítica social o motor responsável por atrair ouvidos de jovens trabalhadores da classe média inglesa. Mod mais reggae, skinhead reggae, fusão aparentemente estranha, a cadência astral de Jah, com as catarses apocalípticas da vida capitalista patrocinadas por anfetaminas. As descrições que dão conta do surgimento e da expansão da cultura reggae deixam claro como essa música nasceu no gueto e depois veio a ser escutada na inglaterra dos Mods, jovens que cultivavam as culturas de rua e tinham orgulho de circular num submundo envolto de música e última moda. Mods que eram fanáticos por música negra e gastavam em bares para ouví-las. A adoção do termo skinhead por quem tocava reggae como ganha pão na Inglaterra surge como estratégia comercial, para intensificar a ligação com a moda dos ingleses. e nada tem a ver com a degeneração sombria do termo.

ouça o podcast do combo You and me on a Jambore e saiba mais:

http:// youandmeonajamboree .blogspot.com/


Na praça, a vida se encena

CCPC

Música ao vivo Rua General Jardim, 269

2ª Jazz 3ª Dub 5ª Samba Sábados som

no volume máximo

com Dance Hall e Sound Systens confira o restante da programação em: http://www.ccpc.org.br/

Pegue um telefone, ligue para a pizzaria e imagine que a atendente trabalha no Centro de Valorização da Vida. Da vida, num flat do Centro, uma garota prepara seus programas a partir de coquetéis de anfetaprox. Em "Hipóteses para o amor e a verdade", peça dirigida por Rodolfo Garcia Vásquez, e escrita em parceria com Ivam Cabral, as cenas surgem como reflexos da vida de qualquer um que esteja acomodado na arquibancada do Teatro dos Satyros. A tela ora encobre o palco, ora recebe projeções. Coleção de diálogos prosaicos sobre vícios, depressões e alegrias singelas montam o espetáculo que reforça uma das intenções declaradas dos Satyros: propor um teatro que diminua as distâncias entre público e palco. A peça é um trabalho com as tensões, a metalinguagem teatral e a forma de agir dramatugicamente em cada palavra, pronunciada em vida breve. Na peça e na vida, o medo (do amor e da verdade) alivia-se com a voz da atendente da pizzaria, com Diasepan ou com uma boa conversa. Se na cidade de São Paulo é a desconfiança que rege o cruzamento dos olhares, a conversa alivia as tensões, relaxa o corpo, intera uma pessoa da outra. Adão parece um muleque metido em uma vida de prazeres de que não dá conta. É um malandro insuficiente, deslocado no tempo. Alicia os convidados da peça e oferece-lhes cocaína, "para se divertir a dez reais". É ele o

Hipóteses para o Amor e a Verdade Quando: sexta, sábado e domingo, às 21h30; até 25/7 Onde: Espaço dos Satyros Um – praça Franklin Roosevelt, 214, São Paulo, SP Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes, classe artística e terceira idade); R$ 5,00 (oficineiros dos Satyros e moradores da praça Roosevelt). Informações: 0/xx/11 3258-6345

excêntrico que, para gerar filhos, transforma a puta Madalena em boneca embalada no insulfilme. Na boca de uma guia turística, centenas dão conta de apresentar alguns números curiosos. Adão, do alto do prédio, aponta para a guia, em algum lugar do centro, e conta elegante moça à Madalena. Phedra de Córdoba, atriz do espetáculo, descreve o processo da criação das personagens, como as descritas acima. Em uma conversa informal, ela conta que os atores foram reunidos para assistir a entrevistas e depoimentos colhidos por Rodolfo pela cidade de São Paulo. Cada um dos atores teve que assimilar os depoimentos e escolher quais deles comporia bem a personagem em hipóteses. Criar uma personagem é tirá-lo de dentro de si mesmo e inseri-lo em um círculo social em que a dramaturgia é necessária, diante da triste perspectiva de aceitar a solidão e viver sem a expectativa da morte. As representações na peça, como todo o roteiro, são porções de realidade contidas na prosa mais simples, mais descomprometida. Prosa que vai sendo esvaziada enquanto experiência cênica, sendo encurralada no tempo e no espaço capitalista. Talvez seja dessa reflexão a escolha de

ligar o uso do celular e da comunicação rápida, digital, à realização das cenas. É a partir daí que o Satyros expõe a experiência do teatro expandido e oferece uma peça aberta aleatoriamente aos roteiros contidos nos aparelhos de celular - ambientes virtuais cada vez mais rebuscados, atendendo desejos a todo momento, dessacralizando a exposição e criando um ambiente onde a participação do público fica evidente. A personagem de Phedra é uma mãe, que vive em estado vegetativo, sob os cuidados de uma enfermeira. Ela é a primeira a entrar em cena. Causa espanto com a alma gélida, insossa. Phedra de Córdoba transforma-se a ponto de dispor seu corpo ao ledo engano de uma espectadora, que a cutucou cinco vezes até dizer "Nossa, é de verdade!". "Ela ainda tinha unhas compridas. Marcou toda a minha pele", lembra a dama dos Satyros. Phedra queixa-se orgulhosa desse teatro expandido, que transtorna como a vida. Uma peça em que celulares são permitidos, o toque parece ser tolerável, e os objetos de cena confundem-se com os corpos dos atores. Assim a peça acontece, através dessas interações bem colocadas num inventivo jogo de cena.



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