SÓ - SÉTIMA EDIÇÃO, ANO 2, AGOSTO DE 2009 I PREÇO COL ABORATIVO R$1,00
O segundo ano dessa empreitada em papel jornal começa agora. Celebramos a insanidade de mantê-la impressa frente ao desinteresse, ao esvaziamento e à desconfiança. Ao menos São Paulo revela alguns momentos sublimes. Que sublimam as perspectivas de falência e desgraça. E na rua o jornal esbarrou na rede. A primeira certeza é expandir o eco das palavras e desenhos que vêm a seguir. Intensificar a produção. De mês em mês a sÓ dará as caras nas ruas, e em noites especiais reunir-se-á em coletivo: as últimas sextas-feiras de setembro, outubro e novembro acontecerão em simbióse com o Centro Cultural Popular da Consolação. Convidamos os leitores: frequentar um dos únicos espaços da cidade que mantém som ao vivo todos os dias. Valorizemos a “casa do músico”. Sublinhemos o caráter de resitência e memória pregados por trabalhos feitos à margem.
Os nomes são fácilmente recordáveis, assim como a locação: sÓ, CCPC, Consolação, 1897, SP
Sérgio Sampaio À imagem e semelhança por Tatiane Klein
Descoberto por Raul Seixas, o maldito Sérgio Sampaio foi pouco compreendido em sua época e hoje causa assombro. As pernas de Jards Macalé, “Velho Bandido”, tropicavam pelo palco e a platéria vibrava ao ouvir a rouquidão de sua voz iniciar o samba desconhecido. “Nas noites de 4 e 5 de julho, Jards entoou quatro canções de um compositor estranho aos espectadores: Sérgio Sampaio. Quinze anos depois de sua morte, Sampaio reviveu entre Zeca Baleiro, Luiz Melodia, Márcia de Castro e Jards Macalé. Cruel - Uma homenagem à obra e à vida de Sérgio Sampaio tomou corpo no Sesc Pinheiros, em São Paulo. A casa esteve cheia, mas a platéia silenciava quase que por completo, a despeito do samba. Vozes gritadas e murmuradas saíam emergiam na multidão de vez em quando; a maioria dos espectadores ainda estava se estranhando com o rosto assombroso de Sérgio Sampaio a ilustrar o show. O central é que as pessoas não conheciam o rosto magro de Sérgio Sampaio, seus dedos magros e suas magras canções. As fotografias do artista projetadas ao fundo do palco, pouco a pouco, amarravam-se às canções - entre melancólicas, alegres e amorosas - e teciam uma assemblàge da alma do poeta. Durante sua apresentação, Zeca Baleiro revelou a existência de uma entrevista concedida em 1988 à Revista Umdegrau, editada pelo músico e alguns amigos em São Luis do Maranhão. Segundo o relato displicente de Zeca, Sérgio Sampaio foi convidado a ceder uma entrevista à primeira edição da publicação independente, mas demorou tanto para responder que a revista foi lançada sem entrevista. O material, inédito, pode ser lido no endereço http://www.visualmusic. com/sergiosampaio/ . Zeca reservou para si parte das mais dramáticas músicas de Sérgio, como “Eu sou aquele” e “Tem que acontecer”. A voz potente de Márcia de Castro, que confessou ter sido iniciada em Sampaio pelo amigo Zeca, causou surpresa - tanto pela qualidade da técnica vocal, quanto pela expressividade de suas interpretações. “Odete” e “Cala a boca, Zebedeu” dançaram com a moça: foi no corpo de uma mulher que Sampaio pareceu mais incorporado, mais vivo e cheio de uma loucura muito particular. Em termos de loucura, no entanto, quem melhor emoldurou as canções de Sampaio foi Melodia, grande amigo do homenageado. O cantor herdou a companhia do violonista Renato Piau, parceiro musical de Sérgio, e fez uma primorosa interpretação de “Que loucura”, canção inspirada no suicídio do poeta Torquatto Neto. Sentado como uma criança no chão, Melodia emendou impressionantes improvisações vocais ao violão bluzeiro de Piau. Os momentos finais pareciam avessos ao espírito da apresentação: um coro fez o refrão “Eu quero é botar meu bloco na rua...” ecoar alto, enquanto braços dançavam no ar e os artistas no palco se embaraçavam com a letra carnavalesca e de resistência à ditadura do maior sucesso de Sampaio. No fundo, não eram: um samba de pernas cruzadas sob o violão, no dia mais triste do Carnaval. Sérgio Sampaio é quarta-feira de cinzas.
Expediente Edição, reportagem e diagramação - Lucas Rodrigues de Campos Ilustrações e diagramação - Chuck Dedo Amarelo Revisão de texto e reportagem - Tatiane Klein Colaboração - Elton Amorim e Rômulo Alexis Centro Cultural Popular Consolação Consolação, 1897, (11) 2592-3317 ccpc@ccpc.org.br 3000 cópias http://so0jornal.wordpress.com Contato http://www.ccpc.org.br so.contato@gmail.com
autoria de Rômulo Alexis
Endereço - Rua Navarro de Andrade, nº 20, ap. 22 05418-020, São Paulo, SP Telefones - (11) 7600-5699
LEITURA PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE
SEJAMOS BEM-VINDOS: TUSP OFERECE
Teatro da USP exalta a qualidade pública da universidade, propõe extensão direta e atrai olhos para as virtudes da leitura por Lucas Rodrigues de Campos
PROGRAMA TUSP DE LEITURAS PÚBLICAS II CICLO PEÇAS DE UM ATO DE ANTON P. TCHÉKHOV 17/9 A 29/10, QUI., 16H SALA EXPERIMENTAL DO TUSP – TEATRO DA USP, R. MARIA ANTÔNIA, 294 – CONSOLAÇÃO TEL. 3255 7182 R.4, WWW.USP.BR/TUSP ATIVIDADE GRATUITA
mastigando rosquinhas e polvilhos, produzia sonidos voluntários que demons-traram interesse prévio e constituíram o “A cada leitura é proposta uma forma de interpretação. Como a gente se aproxima do texto captados por um microfone sobre a mesa. Assim to- grupo responsável pelas leituras das peças radiofônicas, tema de uma maneira nossa?”. Na quinta-feira (16) a dos foram responsáveis pela cama sonora da peça, do primeiro módulo do programa, que já trabalhou Becket, Breparticipação do público reunido na sala expericriando não apenas sonoplastia, mas dando concre- cht, e Adolf Himmel. tude ao único espaço sensívO fim de Vozes Familiares provoca morbidez e impede aplaumental do Teatro da USP (TUSP) “VOZ 2: - Querido. Onde você está? Por que nunca me es- el da leitura e da própria sos à experimentação. O falecido está na mesa, e prova estar morto - O-tacílio Alapara o Programa creve? Ninguém sabe do seu paradeiro. Ninguém sabe se está dramaturgia: a mesa. cran, o leitor da voz 3, Em Vozes Familiares três de Leituras Públi- vivo ou morto. Ninguém pode acha-lo. Você mudou seu nome? “VOZ 2: - Talvez eu devesse confirma a única certeza cas foi através /- Se você está vivo você é um monstro. No seu leito de morte são as personagens ativas: esquecer tudo que diz res- oferecida pelo drama da produção de seu pai te amaldiçoou. Ele me amaldiçoou também, para dizer filho (voz1), mãe (voz2) e favorecida ruídos em uma re- a verdade. Ele amaldiçoou todos que estavam à sua vista. Com pai (voz3). “Filho e mãe” peito a você. Talvez eu de- narrado, pela “adequação de esunião “familiar”, exceção de você que não estava à vista. Eu não te culpo inteira- estavam em uma espécie de vesse amaldiçoá-lo como pacialidades” que o deum café da tarde. mente pelo mau humor do seu pai, mas tua ausência e silêncio cochia na sala de experiforam um grade fardo, um desgosto para ele, ele morreu se mentação. Uma breve hoteu pai te amaldiçoou. Eu ixou na mesa, de corpo Orientadora de lamentando e blasfemando. Era isso que você queria? Agora menagem a Harold Pin-ter, arte dramática, rezo, eu rezo para que sua presente. estou sozinha, e se não fosse Millie, que algumas vezes vem de O morto é o pai da Dedé Pacheco faz Denver. Ela me serve de algum consolo. Seus olhos se enchem brindado à brasileira - ao vida seja um tormento, personagem voz 1, rapaz o segundo convite: de lágrima quando ela fala de você, os olhos da sua querida irmã invés de chá, café. Junto ao espero uma carta tua me na flor da juventude que “fiquem a von- se enchem de lágrimas. Ela fez um casamento realmente feliz brinde a voz 3, uma personimplorando para ir te en- afasta-se da mãe, pertade pra comer, e tem um garotinho lindo. Quando ele cescer vai querer saber agem falecida e ressentida, escrever, desen- onde está seu tio. O que lhe diremos?/- Que talvez você chegue sentimento comum à todas contrar. Eu cuspirei nela.” sonagem lida por quatro vozes distintas e de conhar”, sobre os pa- aqui em um carrão último tipo, um dia de repente, num futuro vozes familiares. strução arquetípica. A O programa TUSP de péis distribuídos a não tão distante, em um belo terno novo e um abraço?” multiplicidade da mãe leituras públicas carrega cada participante caráter experimental. Apesar de estar dentro de um cria uma súplica uníssona: “Volte para mim!”, “Eu estou doente!”. do encontro. Além da comida e dos papéis desteatro os textos são trabalhados sem levar em conta Aqui a exploração do texto, surgimento de estratégias e sugestões tinados à comentários, anotações e desenhos, aspectos estritamente estéticos, o que poderia enri- possíveis dentro da trama. A súplica identifica-se com o veículo racada um dos 14 lugares da mesa oferecia ao jecer um entendimento aberto sobre o Vozes Famili- diofônico e apro-xima os ouvintes do drama. A mãe em desespero convidado o essencial: uma edição de Vozes sente a fuga da cria Fami-liares, de Harold Pinter (com tradução de ares. Em estado bruto “Voz 1:-Mais tarde, naquela noite, Riley e eu tomamos juntos uma xícara de e a intensidade do Beto Marcondes), texto originalmente veiculado esse entendimento chocolate em seus aposentos. Eu gosto de rapazes esbeltos, Riley disse. Esamor passa a acirna BBC Londrina em janeiro de 1981. vai sendo lapidado beltos mas fortes, eu nunca fiz segredo disso, mas eu tive que me conter, rar os ânimos devCarregada de certo ineditismo, a seleção a partir de uma coeu tive que manter minhas inclinações sob rédeas curtas. Isto porque a ido à sensação de desta peça permitiu aos presentes o contato letânea de diferenminha mais profunda vocação é a religião, eu sempre fui um homem properda. com uma obra de difícil acesso, e somou-se a tes apreensões. A fundamente religioso. Você pode imaginar a tensão espiritual, emocional, A voz 1 instala-se um breve movimento do teatro paulistano: a criação do campo de psicológica e física. É sufocante a disciplina a que sou obrigado a me imnuma cidade disvalorização do dramaturgo Harold Pinter. Está leitura revela o “depor. Minha luxúria é inconcebivelmente violenta mas vai contra os meus tante e maior do em cartaz na cidade a peça Celebração com sejo de estar junto”, melhores anseios, que são me conservar ao lado direito de Deus. Eu sou que a de sua natalidireção de Antônio Abujamra (Teatro Cultura expressado pelo conum homem grande, como você vê, eu poderia emagar um ratinho como dade, que por conInglesa) e no início do ano a casa Club Noir senso dos presentes: você até a morte, eu quero dizer a morte que é amor, a morte que entenseqüência oferece apresentou ao público a primeira montagem de faz-se então a leitura do com sendo o amor. Eu escondo estes desejos a 7 chaves. Eu sou bom mais perigos, mais Pinter, O quarto. Três anos antes de sua morte, pública e a extensão nesse tipo de coisa porque eu sou policial. Eu sou muito respeitado. Eu sou balburdia. Relações em 2005, o autor foi prêmio Nobel, sendo lauuniversitária encurta muito respeitado tanto na corporação como na igreja. O único lugar aonde triviais traçam o coreado pela Academia Sueca com o veredicto: a distância entre cieu não sou respeitado é aqui. Eu sou um monte de merda para eles.(..)” tidiano a partir da “em suas obras revela o precipício que se esdadão e arte. Leitu( in )comunicabiliconde sob a conversa fiada diária e força sua ras Públicas nadam entrada no âmbito fechado da opressão”. contra uma maré que tolhe parte da natureza do dade da troca de cartas entre filho e mãe. As únicas localidades A idéia do café, “o chá das 16h”, surgiu “afihomem, a capacidade de ficcionar. do drama são uma casa e uma pensão. Simples na montagem nal o autor é inglês” e também constituiu o méNão há roteiro definido no encontro, e sim uma e na proposição do drama cotidiano nota-se no texto de Pinter todo de participação do público que, comendo, montagem informal entre os leitores - as falas são certa miséria na adequação dos sonhos aos espaços. batendo a xícara no pires, servindo-se de café, ensaiadas e preparadas em dois ensaios - no caso publicada também em http://www.usp.br/prc/caminhos
Um incansável CHARLES por Elton Amorim
Dentro do panorama de artistas e profissionais da indústria fonográfica, poucos têm preocupação em resgatar, escancarar e encarar a labuta de remasterizar trabalhos do passado – incluem-se aí também clipes, shows etc. Até mesmo os próprios donos desses trabalhos não ligam muito para isso, ou, se ligam, enfrentam restrições impostoas pelas gravadoras, que hoje detêm poder sobre as fitas master (muitas já em estado putrefato ou desaparecidas). Diante desta novela burocrática e deste “muito trabalho para não ganhar nada”, há uma pessoa que se destaca; um amante do vinil e da música: Charles Gavin. Ele, que é o baterista dos Titãs, é o responsável pela maioria dos relançamentos em compact disc de diversos e importantes discos do cenário nacional dos anos 50, 60, 70 e 80. Charles começou essa saga com a já rara edição da Série dois momentos (dois álbuns em um CD), trazendo à luz novamente discos de Walter Franco, A Barca do Sol, Novos Baianos, Belchior, Tom Zé, A Cor do Som, entre outros, há pouco mais de dez anos. Desta série foram quatorze CDs, totalizando vinte e oito álbuns. Após os relançamentos, o único que permanece em catálogo é Secos e Molhados: o primeiro e o segundo disco do grupo, em pouco mais de um ano de relançamento, atingiu a marca de quarenta mil cópias vendidas. A próxima tacada foi com Arquivos Warner (antiga Continental), relançando discos do Moto Perpétuo, Bixo da Seda, Rosinha de Valença, entre títulos do samba e da geração rock 80. Desta vez foram trinta e cinco álbuns. Relançou também Eu quero é botar meu bloco na rua, primeiro disco de Sérgio Sampaio, Som, sangue e raça, de Dom Salvador & Abolição, e Som nosso segundo disco do Som Nosso de Cada Dia em projetos com diversas gravadoras. A investida mais recente foi na gravadora que Gavin mais cobiçava, a Som Livre. Batizados como Som Livre Masters, os relançamentos comemoram os trinta e cinco anos da gravadora. Ele participou da remasterização de vinte e cinco álbuns na primeira leva. Entre eles destacam-se Acabou Chorare, dos Novos Baianos, (em primeira edição “decente”), ... E deixa o relógio andar de Osmar Milito, Vila Sésamo, Molhado de Suor e Vivo, de Alceu Valença, e o raro disco de Sidney Miller
Línguas de Fogo, de 1974. A lista inclui também discos de bossa-jazz dos selos RGE, Fermata e Som Maior, dos quais a Som Livre detém os direitos. Deste trabalho saiu ainda uma segunda leva de dezenove álbuns! No total geral de seus projetos, Gavin relançou mais de 450 discos. Ele, que possui um acervo de 5 mil LPs e dez mil CDs, lançou um livro, curiosamente nas mesmas dimensões da capa de um long play. Publicado no final de 2008, 300 discos importantes da música brasileira é recheado de textos, fotos e capas de discos, e contou com a colaboração de Tárik de Souza, Carlos Calado, Arthur Dapieve, entre outros. O livro faz um panorama fonográfico do país de 1929 a 2007. Já não bastasse tudo isso, Gavin também apresenta um programa na Rádio Eldorado FM e outro no Canal Brasil, respectivamente “Quintessência” e “O Som do Vinil”, ambos relacionados à música e suas raridades.
Matança de Porco , disco do Som Imaginário de 1973, e Confusão Urbana, Suburbana e Rural, de Paulo Moura, 1976, constam no livro “300 discos Importantes da Música Brasileira”. O disco de Paulo Moura tem como músicos acompanhantes Wagner Tiso, Nivaldo Ornellas, Toninho Horta e Jamil Joanes - nessa época os músicos ainda pensavam na carreira de grupo com o Som Imaginário.
São João Del-Rey na zona de
HERMETO PASCHOAL
por Rick Unha Preta
Rota traçada, destino Ouro Preto. Tentando chegar a tempo de ver algum show dos integrantes do que foi o Clube da Esquina, ou seja, Milton, Lô Borges, Beto Guedes. Havia ainda um boato no ar: diziam, e dizia o além, que o fechamento da maratona cultural de inverno das cidades mineiras teria encerramento com a junção dos integrantes da Esquina em um mesmo palco. No meio da estrada, depois de passar por Três Corações, terra do Rei Pelé, e São Thomé das Letras, terra de reis insandecidos, o que seria uma passagem rápida pela cidade de São João Del-Rey transformou-se em porto seguro. Surgiu a programação das próximas dos shows que aconteceriam na cidade. A saber, o Inverno Cultural de Minas Gerais abrange, além de São João e Ouro Preto, a cidade de Mariana e diversas outras cidades históricas da região. A surpresa não foi pouca ao saber que o velho bruxo Hermeto Paschoal fecharia o Festival no palco montado na
avenida principal da cidade. Pitoresca pareceu a escolha do jovem de 72 anos para tal tarefa. Apesar do renome e de sua incontestável musicalidade, sempre parece estranho um show experimental ser aberto aos mais variados públicos. Houve, ainda na terra de reis, a participação da Orquestra Popular Livre de São João (OPL) formada por jovens músicos dessa cidade mineira. Antes do show com Hermeto, a orquestra apresentou seu repertório popular sinfônico de clara influência miltoniana – as derivações só são possíveis pois Milton representa a música popular brasileira moderna. Se fôssemos mineiros, bateríamos o pé dizendo que essa é nossa maior estrela: a Rua da Zona, antigo reduto dos cabarés da cidade que tem se convertido em Zona da Música. Após o concerto sem palco e com duração de quinze minutos, desce pela glote uma aguardente original de Salinas para dar seqüência à descida em direção à avenida. Avistavase, em meio às ladeiras, outro ritual musical. Cinco minutos e qualquer apreensão quanto a receptividade do público frente aos experimentos sonoros de Hermeto rolaram pelas ladeiras.
Na maior parte do show, o maestro esteve acompanhado apenas de sua esposa. Improvisando e brincando, o bruxo agiu como se estivesse entre amigos: fez cantar e vibrar uma platéia que não sabia bem o que esperar da apresentação. Tocou piano, sanfona, água, elogiou a qualidade sonora do palco e fez vibrar desde conhecedores de música até desavisados que ali passavam. Cada fraseado vinha acompanhado por um pedido, o cantarolar da platéia distribuída em vielas, barracas, casas e bares. Como em um jogo, a dificuldade harmônica aumentava. Hermeto levou todos ao ápice ao fazer uma avenida cantar contra-tempos e nonas. Encerrou a apresentação com um emblemático desabafo: “Quem for rico e burro, que vá pro inferno!”. É realmente revigorante ver a juventude tão antiga e incólume debaixo de tantos cabelos brancos. Ao término da apresentação, Hermeto Paschoal ainda passou pela Rua da Zona, simples e acessível. Falaria com o Coletivo, mas eram tantas pessoas que queriam fotos, ou simplesmente tocá-lo, que essas impressões do acontecido tornaram-se mais apropriadas. Enquanto isso, alguns integrantes da OPL ainda improvisavam ao meio da massa que ali se concentrava. Ao inenarrável e inexistente show do Clube da Esquina, sobram desculpas. A convergência das iniciativas e acasos mais toda a complexa simplicidade daquele moleque baixinho de cabelos brancos é em demasia sedutora. E a zona rolou até de manhã.
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PASSAM A COSTURAR DE FORMA CONJUNTA NOVAS FRENTES PARA SOMAR ÀS FORÇAS CRIATIVAS DO UDIGRUDI. CONFIRA NESSE ENCARTE UM SATÉLITE DO UNIVERSO MIDIÁTICO QUE SURGE AUTÔNOMO E INDEPENDETE.
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os textos deste encarte são de Lucas Rodrigues de Campos
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Além da extensa e contínua programação musical, som ao vivo todos os dias emendando semana a semana, o Centro Cultural possibilita tomar contato com diversas
Na região do Alto Tietê, um jovem artista fazia murais e rodava a cidade atrás de fachadas comerciais pobres no visual. Os moradores de Suzano, Mogi Das Cruzes, Itaquaquecetuba demonstravam alto interesse por carros, peças automotivas e motos, o que beneficiou o trabalho do
ocupando a cidade
artes plásticas
aratas organolóides mud shark a partir de 3/9 l qui., 19h30 lem 8 aulas os princípios básicos do instrumento com o músico Pedro Mendes
a partir de 3/9 l qui., 19h30 l seis aulas, duas horas de duração cada l inscrições até 23/8
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nal, as , que duram de um a três meses, transformam a experiência laboratorial em projetos concretos. Veja a descrição completa de cada atvidade em www.ccpc.org.br
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criações que mesclam capacitação na áera de produção cultural: Rádio, Documentário, Teatro, Orquestra de Escaletas. Ao fi-
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a partir de 23/9 l qua., 19h30 l seis aulas, duas horas de duração cada l inscrições até 18/9
americano”, venderam 2500 cópias no estado do Paraná. À época do lançamento do disco homônimo, conseguiram visibilidade nas filiais regionais da TV Cultura e TV Globo em matérias que tinham como manchete o novo som da região. Esses motivos tornaram São Paulo atrativa. Todo o grupo se mudou para o bairro da Moóca, acreditando na cidade cosmopolitana. Mais 500 CDs vendidos. O lançamento de 2007 esgotou-se. A situação é condizente
A banda Mandau está há cinco meses em São Paulo. Sair de Ponta Grossa só foi possível porque lá alcançaram reconhecimento como autores, mesmo atendendo ao status de banda independente. Perceberam um circuito musical no estado do Paraná,que os manteve longe do centro mais próximo (117km), Curitiba. Vendidos durante os shows, os CDs fluíram. A banda Mandau conseguiu produzir música pop com diversas experiências em uma cidade de tradição sertaneja. O vocalista e guitarrista Scilas, com experiência adquirida na noite, atende aos diversos pedidos em bilhetes das platéias: João Bosco, Djavan, Alceu Valença, Tim Maia. Ele uniu seu extenso repertório ao gosto pelo soul de Marvin Gaye, Stevie Wonder - “professor de canto” -, James Brown, Kool and The Gang. Influenciado pelo estilo Scilas, aderiu ao penteado black power. O grupo enveredou por um ramo musical em que teve de contornar o predomínio do gosto popular “regionalizado”. Tocando “música brasileira dançante” e reservando espaço nos shows para o “gostinho do soul
so.contato@gmail.com www.ccpc.org.br Mandau dedica o início de seus shows a um momento percussivo que conta com a atuação de todos os integrantes do grupo. Segundo Scilas, é “uma coisa bem terrerão”. Os feitos chamam a atenção e contrariam especulações depreciativas ou receosas do sucesso de músicos independentes: “a banda Mandau não desiste e vai em frente”, canta o refrão do samba-soul “Invés”. Encontraram em São Paulo novos espaços onde aprimoram, criam, trocam referências. Freqüentam o Clube Caiubi de Compositores e já vêem na cidade a possibilidade de retomar os estudos musicais teóricos. Antes de chegarem ao CCPC para conversar com a sÓ, o grupo orgulhava-se da passagem pelo conservatório Souza Lima - a convite do percussionista Dinho Gonçalves, lenda da percussão. No dia 14 de setembro eles participarão de workshop com o mestre Dinho, no Souza Lima. Dois dias antes passam pelo Centro Cultural Popular. Confira entrevista com Scilas, vocalista do Mandau, no site: www.ccpc.org.br.
com a agenda do grupo, que preenche toda a semana com ensaios e shows. É por isso que o grupo já prepara o segundo trabalho autoral (enquanto providencia reprensagem do primeiro), no qual pretendem enveredar pelo reggae e pela “música cubana”, estilo enfatizado quando Mandau descreve a mistura que chama de Black Soul Brazuca. O
Mandau experimenta São Paulo, dia 12/9
s bandas: cosmo drah
assista na íntegra o show de retorno d’Os Haxixins em http://www.vertentes.tv
A estética sessentista está nas roupas, nos cabelos, nos instrumentos. Foi inspirada pelo rock garage, espécie de precursor do rock pesado, e contemporâneo da explosão do rock britânico e da psicodelia. Haxixins é uma banda da Zona Leste paulistana com todas essas influências, cujos primeiros instrumentos, Gianinis Tremendões e Phelpas foram recebidos como herança familiar e comprados usados de Seu Edmundo, um senhor do bairro. Nos anos sessenta, tocar em garagens era privilégio de quem tinha um carro e acesso à música inicialmente internacional. O sentido de uma reunião de amigos empunhando instrumentos provou-se, com o tempo, significante para a reprodução característica de cada garagem, o que acabou estimulando produções mais nacionais. No Brasil de 1965/66 pipocaram grupos com influência rock’n’roll e que agradavam muito nos bailes. Mais que o rock como algo em comum, a sonoridade abafada e “suja” deixava clara condições precárias das gravações. O bairro e as garagens lembradas com mais facilidade pelos paulistanos são as da Pompéia, berço de Mutantes, Made In Brazil e outras. Mas é na Zona Leste que o rock primitivo estilo revive. Com 500 cópias de discos prensados e esgotados, a banda Haxixins passou a ficar mais conhecida no Brasil. O grupo, já com 8 anos de experiência underground, lançou mais um compacto pelo selo português Groovie Records - especializado em vinis e responsável por relançamentos de obscuridades dos 50 e 60 como Los Blue Caps, grupo paraguaio com registro em 65, e Joaquim Costa, artista português que conhecia rock desde 59 - emplacou vinhetas na MTV Brasil; e acaba de voltar de sua segunda turnê européia Na Europa, eles estiveram no cast da maior celebração de bandas garageiras do velho continente, o Primitive Festival, que aconteceu entre os dias 24 e 28 de junho, em Roterdã, na Holanda. Na terceira noite, os Haxixins subiram pela décima terceira vez a um palco europeu e encerraram sua excursão sinfônica, psicodélia e valvulada. Em 4 de junho, estreiaram turnê no Cabaret Maxime, em Lisboa, Portugal, em seqüência Porto, La Coruña, Madrid, Bilbao, Santander, Badajóz Badajoz, entre outras. A turnê terminou em São Paulo, no CCPC. A turma jovem da Leste, que engloba Os Farpas, Os Otávios e Fuzzfaces, ampliou sua área de influência psicodélica e tem o Centro Popular como quartel-general. No Centro Popular tiveram a pista de comemoração dos 40 anos do Woodstock, onde dançaram felizes a Jovem Guarda.
de zona
do coletivo sÓ no CCPC
artista plástico. Rômulo começou a pintar fachadas de estabelecimentos automotivos aos 16 anos e aprendeu de forma empírica as técnicas da aerografia. A moda do tunning de carros e acessórios ajudou o artista na evolução de suas técnicas. Quando passou a personalizar capacetes e capôs, Rômulo pôde trabalhar em casa e sair do sol que rachava sua cabeça das 8h às 17h. O artista carregava na bolsa duas novas aquisições: quadrinhos. Eles não eram apenas lembranças dos tempos em que começou a desenhar e ainda o influenciam. À época de sua gênese criativa, Rômulo, “pivete”, lia os quadrinhos do irmão e esboçava seus primeiros traços: personagens eróticas, envoltas em tramas influenciadas por ficção científica com “alguma dramaticidade”, em suas palavras. O espaço da conversa lembra um ateliê. Os tijolos – vividos em décadas – às claras são desenhos naturais do esfacelamento da falsa parede, que revela a real estrutura da antiga cozinha industrial. Eles completam uma obra inacabada que já reúne painéis, quadros e portas à espera de tinta. A mesma parede nua e outras também possuídas por uma variedade de mãos, carrega uma incontável porção de trabalhos de autorias diversas. O Centro Cultural Popular poderia ser uma galeria, mas suas paredes que cumprem um papel diferente da promoção comercial das artes plásticas. É um puro espaço de experimentação. Rômulo busca concretizar a arte também em domínios que não são físicos (citar endereços eletrônicos) e está com projeto inscrito em um edital do governo estadual de incentivo à cultura. O projeto retoma as poesias de Solano Trindade acompanhadas de ilustrações. Esse trabalho é o motivo de Rômulo para ter em mãos o farto portfólio – ilustrações, quadrinhos e uma técnica que chama atenção, a pintura com café. No mercado de trabalho, Rômulo chegou à indústria têxtil e aumentou sua renda mensal. Através do contato de uma amiga, ele passou a fazer silk screen em camisetas para grifes como a DOC-DOG. Hoje Rômulo engorda um pouco seu saco de vinténs vendendo, junto de sua companheira, camisetas estampadas por eles durante o verão. Personalizando fachadas de comércio e, mais tarde, fazendo estampas para camisetas, Rômulo aprendeu a sustentar as liberdades dos modos mais livres de pintar. Sua inspiração declarada é Jackson Pollock: “Pintar através do ar, pesquisa só com spray, gota d’água”, explica Rômulo. A partir dos respingos e sopros de tinta, esse pintor gostaa de enxergar as “figuras por detrás do papel” .
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(11) 2592-3317
por Lucas Rodrigues de Campos
Contar da tensão da época: Fredera descreveu a luta de classes reconhecida por ele, acompanhador de canários, quando Milton despencou em um show - aquele em que Zé Rodrix desgostou da falta de profissionalismo de um Milton Nascimento e deixou o Som Imaginário mesmo, tendo assumido o posto de principal compositor. A queda do Milton Negro é o episódio épico que engrandece o brado de Fredera. Tavito não quis dizer, não quis falar ou lembrar, não disse. Mas o primeiro capítulo revela tensão. Tavito saiu do palco do Opinião, brasa já rolando. Guitarras e hammond queimando em rima sórdida. Milton, um Milton Negro e sofrido no bar, bebendo. Só ele desenvolvia a opressão de classe. Fredera sabia e bradou. Bradou na queda do Milton, Milton Negro - assim, com nome próprio. Ele caiu na bateria do Roberto Silva, irmão Negro. Fredera. Mulato e comunista. Bradou. Bradou uma, duas, três vezes necessárias. Bradaria dez. Bradou cem. Bradou sem ranço. Bradou por amor. Amor a um país decadente. Amor a um Milton Negro e imaginário. Bradou pela luta de classes. Bradou em oposição ao racismo classificado. Bradou contra o racismo que derrubou um Milton Negro. Quero narrar essa história. Já narro no tempo do grito, um grito definido como Grito-Fredera. O herói negro caía. Despencava em lágrimas. Milágrimas dos peixes ele mentiu ser. As lágrimas, mentiu. Mil lágrimas sentiu. Leila, Milton bradou, ele também bradou. Bradou e odiou todos os que se deliciavam com o sangue-cor-de-revolução. A Ditadura Militar. Venha, Leila, venha, Leila, Venha-Leila-Venha-ser-feliz. Os que se deliciavam são os nossos generais. Inimigos claros, sob a luz do massacre. Generais que Milton e Fredera esmagaram com a canção, com a poesia da resistência. O Lixo ocidental foi esganido, exprimido. Alguns passos para trás e ele foi derrotado na breve peleja. Espanto dos jovens, um público. Espanto dos jovens, uma banda. Tese de um dos jovens, Fredera. Com guitarras, não fez a tropicália, retratou gritos miseráveis na figura de um grito já popular. Não temos a localização: o endereço é a ex-capital, cidade fluminense, imersa em nuvens de tensão. Um bar do centro dessa capital de poder, Rio de Janeiro. Milton foi deslocado nos braços de um amigo imaginário: Tavito. Ele, Tavito, ergueu-o, Milton. Evocou a força e carregou-o até o camarim. O fôlego de uma geração, a nossa geração. Chegou. Ainda sozinho e no palco, Milton chamou Lennon e McCartney. Lennon e Maca não apareceram. As preocupações eram diferentes das de Milton. Na valsa esquizofrênica Milton sambou, sapateou. Quebrou caixa e bumbo com tanta emoção. Mais uma vez o brado. Fredera berra: “Isso é o estado opressor, assassino. Desmancha a figura do negro. Eles querem o Milton. A silhueta desse Milton. Mas não terão. Eu cuspo também. Cuspo na indústria. O Milton está se lichando para toda essa miséria. Isso pra ele é lixo ocidental. Por isso é gênio. Eles, eles os milicos perseguidores, na verdade sabem que esse ‘negrinho’ é revolucionário. Não basta o conservadorismo assassino, eles também urram nas chicotadas. Nosso rock, nossa música não depende disso. O Milton não depende disso. O imaginário não é isso. Nossa resistência e a do Milton está nesse Som Imaginário”. Este texto é ficcional, mas baseado em fatos reais. A fala de Fredera é livremente inspirada em um depoimento de Tavito.
para dar gás às rixas (saudáveis) da música popular brasileira. Rodrix esteve em “Ponteio”, canção vencedora do Festival Internacional da Canção de 1967, o auge da peleja Tropicália versus MPB. Zé esteve junto de Edu Lobo e Marília Medaglia. O compositor marcado pelo ecletismo e talento propício à Broadway, já manjava de rock quando compunha o Momentoquatro. É nesse grupo vocal, base do futuro Boca Livre, que Rodrix desfila seu lado mais MPB. Já no Som Imaginário, ancorando o grupo, se afoga em lisergia.
FREDERA
O mercado musical, amparado por grandes golpes midiáticos, acompanhava o crescimento econômico desbundante da década de setenta e assim se tornava marca do “milagre brasileiro”. Lê-se golpe midiático o fantástico crescimento da TV Globo, que, como conta a história, sempre teve relacionamentos pouco explicados com o regime totalitário da época. Máquina de produzir sucessos para o mercado fonográfico, o Festival Internacional da Canção passou a ser produzido pela emissora carioca, que arcou com 4/5 dos custos da quinta edição do FIC, de 1970, ainda fresco o Ato Institucional nº5. Nessa época, intensifica-se a produção de trilhas sonoras para telenovelas. Tudo aconteceu numa articulação de domínios culturais, o que instaura o mercado fonográfico como símbolo de indústria cultural tupiniquim. As gravadoras cresceram. O consumo de música no Brasil chegou a níveis estratosféricos. Venda de Produtos da Indústria Fonográfica: Brasil - 1968-1980, (em milhões de unidades de compactos simples, duplos e LPs) Ano Unidades 1968 14.818 1970 17.102 1972 25.591 1974 31.098 1976 48.926 1978 59.106 1979 64.104 1980 57.066 Fonte: ABPD, In: DIAS (2000, p.55)
Mesmo o Som Imaginário figurando entre as atrações do V FIC, as vendas de discos do grupo não vingaram, assim como qualquer outra atração musical rockeira que esteve no festival da Globo. Isso aconteceu mesmo com os esforços para transformar o rock em marca da emissora - esse êxito só foi conquista em 74 e 75, quando o selo global, Som Livre, prensou grandes obras do rock nacional. “Feira Moderna”, composição de Lô Borges e Beto Guedes interpretada pelo Som Imaginário, posicionou-se entre as dez melhores do V FIC, foi ao ar nos programas Ensaio (ainda na TV Tupi). À época, o Som Imaginário acompanhava a jovem e lisérgica Gal Costa. Estiveram também no Som Livre Exportação, proposta global de alienação falha. Fredera, que aguardava os lançamentos do Jethro Tull, além de ser guitarrista excepcional, pouco laureado pela sujeira e pelo peso da mais
PROTESTO, GUITARRA. A PELEJA MUSICAL. IMAGINÁRIA É A QUESTÃO?
Em 1967, ocorreu o III Festival da Música Popular Brasileira, realizado no Teatro Paramount na cidade de São Paulo. Eis a colocação:
Wagner Tiso, Robertinho Silva, Luíz Alves e Tavito. Formação que esteve no disco Matança de Porco.
pura técnica, timbres de 1970, construtor da idéia que se tem de rock psicodélico, sempre esteve atento às questões trabalhistas de sua profissão. Nota do Jornal de Música e Som (provalmente de 1975): “Transando muito com o pessoal de Minas, entre os quais Milton Nascimento, Toninho Horta, Lô Borges e o pessoal que formaria em 1970 o Som Imaginário, ele assimilaria não só as influências de caráter estritamente musical, como também as idéias de renovação da imagem e postura do músico brasileiro”. Ele, Fredera, discutiu a situação profissional do músico. Questionou o sucesso financeiro do músico instrumental adquirido somente no acompanhamento de canários, os cantores croonners de baile ou ídolos tropicalistas como Gal Costa.
TAVITO, IMAGINAÇÃO
IMAGINÁRIO E JINGLES
Injuriado com os climas de estúdio, onde músicos faziam cara feia e não entendiam a música da mesma forma que ele, Tavito rumou a São Paulo para trabalhar na produção de jingles nos estúdios Prova – passou a ganhar “cinco vezes mais dinheiro” em relação ao que adquiria mensalmente como músico. O ano é 1973, o disco Matança de Porco é gravado e lançado. Clube da Esquina, o disco duplo que criou o paradigma
da música “mineira pop” já estava concluído, e Sá, Rodrix e Guarabyra (SR&G), amigos de Tavito já estavam com Passado, Presente e Futuro na praça. Os “rock’s rurais” compostos numa casa do campo, interiorana, leva os pensamentos musicais para o sertão que é Minas, tão louvada pelos regionalistas de Clube da Esquina. Os três álbuns contaram com participação de Tavito. Como membro do Som Imaginário, esteve em Matança e Clube. Com SR&G, arranjou a breve e bela “Jurity Butterfly”, transbordo da influência Beatles que transou rockeiros e jovens talentos das boates cariocas. Os rockeiros eram Beto, Lô Borges e Tavito. Belo Horizonte (BH), meio da década de 60, o sucesso instantâneo de Juscelino Kubischeck. BH passava por uma onda de progresso, o advento econômico dava caras à classe média. Os jovens mineiros sabiam e acompanhavam o nascimento do rock pesado. “Duas coisas realmente me tocaram: ‘Chega de Saudade’, em 58, e ‘I want hold your hand’ dos Beatles, em 64”, relembra Tavito.
ZÉ RODRIX, MAIS IMAGINAÇÃO, MAIS JINGLES, UM PENSADOR BRASILEIRO
Zé Rodrix fez música de protesto. Acompanhou Edu Lobo, o grande nome do gênero, inventado
1º lugar: “Ponteio” (Edu Lobo e Capinam), com Edu Lobo, Marília Medaglia e Quarteto Novo; 2º lugar: “Domingo no parque” (Gilberto Gil), com Gilberto Gil e Os Mutantes; 3º lugar: “Roda-viva” (Chico Buarque), com Chico Buarque e MPB-4; 4º lugar: “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), com Caetano Veloso e Beat Boys; 5º lugar: “Maria, carnaval e cinzas” (Luís Carlos Paraná), com Roberto Carlos e O Grupo; 6º lugar: “Gabriela” (Maranhão), com o MPB-4. Outras premiações: Melhor letra: Sidney Miller (“A estrada e o violeiro”) Melhor intérprete: Elis Regina (“O cantador”) Melhor arranjo: Rogério Duprat (“Domingo no parque”)
O Festival marcou a história ao propor os slogans Tropicália e Música de Protesto. No mesmo ano, “Margarida”, de Gutenberg Guarabyra, ficou em primeiro lugar no II Festival Internacional da Canção Popular, e “Travessia” e “Morro Velho”, de Milton Nascimento e Fernando Brant estiveram no pleito pelo título do mesmo festival. Os festivais eram os medidores mais fiéis do gosto do público, direcionavam o que estava na rádio e qual seria a tendência dos investidores, os mecenas da época: Shell e Rhodia são exemplos. A primeira, do petróleo, e a segunda, da área química, davam força aos músicos. Em contrapartida exploravam suas marcas. É bom lembrar que “Algo Mais”, canção propulsora dos Mutantes, foi tema do combustível da Shell, e Hermeto e Lanny Gordin gravavam em 1969, disco promocional para a Rhodia. O grupo formado pelos dois era o mítico Brazilian Octopus.
AH...E O SOM IMAGINÁRIO!
A cama musical, o grupo, conjunto musical do que se convencionou chamar de MPB durante a década de 70 foi o Som Imaginário. Fugindo de generalizações, o que tem de ser dito é que a sonoridade constituída por Wagner Tiso, Robertinho Silva, Luís Alves, Tavito, Zé Rodrix, Fredera, Milton Nascimento - célula inicial do Som Imaginário, e responsável pela gravação dos três discos oficiais do grupo, pelo selo Odeon -, mais Novelli, Paulo e Chiquito Braga, Toninho Horta, Nivaldo Ornellas (e todos os nomes achados nos discos oficiais de Milton até Minas, de 1975) respondem a uma maturidade das criações populares feitas até os anos de 1968 e 69, data em que os encontros aconteceram. Eles, todos os nomes, entenderam música como coisa do povo, como criatividade popular. A mistura de compassos dos mais variados ritmos brasileiros esteve em sintonia modal com as realizações jazzísticas e um encontro de rótulo seria inevitável. O rock, a guitarra, o 4/4 apenas somaram e ajudaram a construir o seio da musicalidade brasileira da década de 70, o Som Imaginário. Quando contada, a história do grupo vem como chave, elo que responde à transição musical entre a bossa nova, algo como a primeira marca popular “tipo exportação” - do fim da década de 50 - e a chegada do pop, gênero de consumo notadamente americano - de meados da década de 60. Parece nesse meio surgir a assimilação de uma cultura de consumo jovem, que permitiu a gravadoras como a Odeon “financiar a criação” dos músicos: mantê-los somente pela garantia de veicular seus hits e parcamente trabalhar a distribuição de seus discos, o que não garantia recursos financeiros durante processos de gravações em grupo – como no caso do Som Imaginário. Os músicos se dissipavam em diversos trabalhos (ganhar dinheiro com a música foi algo imaginário para a maioria daqueles citados nessa matéria).
NA BOEMIA,
À MARGEM DO SUCESSO
Consumia-se muita música na boemia carioca, e lá a ação dos músicos imaginários tomava contato com standards e atualizações do jazz fornecidas pelas execuções intrigantes da bossa-jazz, época da formação dos trios Tamba, Dom Salvador, Eumir Deodato, César Camargo Mariano, Luiz Eça - era dos pianis-
tas, e atualizações com Paulo Moura. Esse é o resumo do primeiro nicho musical habitado por Wagner Tiso. Novelli, Nivaldo e Jamil sempre primaram pela inovação, conhecimento musical sempre atual. Viram o Rio abrir espaços musicais pelo sucesso alcançado com o jeito bossa de se viver e depois passaram a habitar estúdios e cravar nomes em sulcos de vinil.
PAULO MOURA
MAESTRO MÃE MUSICAL
Ao acompanhar a carreira de Wagner Tiso, logo se nota a participação de uma pessoa essencial para que se tornasse música. O encontro desses músicos marcou a carreira de ambos. Paulo Moura maestro da boemia, distante dos louros da fama concedidos à figurões maestros (não menos especiais) como Duprat – ao provocar o jovem Wagner, incentivou o pianista do W–Boys a se meter na música como arranjador. A chapa dessa fôrma tem incisões de bedelho e percepção apurada, transa comum de Paulo e Wagner. No mês de maio, rememorou-se no, SESC Pinheiros, a amizade de músicos responsáveis pelo redirecionamento dado à música popular desse país. Paulo Moura não foi eleito para figurar na programação. Clube da Esquina extrapolou e muito o álbum duplo, já merecedor de atenção especial, e possuidor de contextualização ímpar sobre uma é-
mento integrava mineiros, cariocas, paulistanos. Enquanto a “turma do rock”, Lô Borges e Beto Guedes, representava adolescência e rebeldia, juventude imersa no espírito hippie, Novelli, Robertinho Silva, Tavito, Luís Alves, Toninho Horta e Wagner Tiso, e o próprio Milton Nascimento, já haviam passado por experiências profissionais em música, qualificação que os tornou músicos de competência reconhecida durante toda a carreira. Em 1968, o maestro Paulo Moura, também especialista nos sopros, contava em seu quarteto com Wagner Tiso. Nesse ano, lançou pelo selo Equipe, um LP que apresentava bossa já em mutação com rítmos universais. O jazz é claro: algo de Charlie Parker e Canonball Aderley adquirido por experiência internacional, incorporada anteriormente por Paulo quando esse trabalhava com outro maestro, Moacir Santos, em um trabalho que unia arranjos de sopros e swing. Em Quarteto e no álbum seguinte, é desenvolvida música que não permite diferenciar o tempero negro do samba e o tempero negro do jazz. Ainda em 68, Paulo Moura Hepteto é lançado; os sete: Wagner Tiso (piano), Paschoal Meirelles (bateria), Darcy Cruz e Cesário Constâncio Gomes (trombone), Luiz Alves (contrabaixo), Oberdan Magalhães (saxofone tenor) e Paulo Moura (saxofone alto). Nesse disco são interpretadas “Travessia”, “Das Tardes Mais Sóis”, “Nem Precisou de Mais um Sol”, “Três Pontas” e “Outubro”, todas instrumen-
Gal Costa em show da turnê do disco Índia de 1973, acompanhada de Dom Chacal, Robertinho Silva, Luís Alves, Toninho Horta e Dominguinhos.
poca política conturbada, amedrontadora. Neste trabalho está a transição da carreira de muitos músicos vindos de bailes, de festivais, músicos de jazz, de samba e rockeiros amantes dos Beatles, já presentes em incontáveis registros sonoros, antes e depois de 72, ano de lançamento do disco que dá ares nostálgicos a turma de Minas. O movi-
tais, de um Milton Nascimento até então com só um registro em 12 polegadas, indo à Eldorado Musical, nos EUA, e com canções na voz de Elis Regina. No site oficial de Paulo Moura, a página que apresenta sua cronologia traz no tópico “1971” a afirmação: “Estes trabalhos [Quar-
teto, Mensagem, Pilantocracia e Fibra] tinham intenção de dar seqüência a um som instrumental da bossa nova, inspirado na sonoridade dos Jazz Messengers e Horace Silver.”
“TEM UM AMIGO MEU QUE VOCÊS PRECISAM VER AS MÚSICAS”
José Mynssen, produtor de Som Imaginário e Milton, aparece como referência no livro de Márcio Borges. José uniu o Som Imaginário à Milton Nascimento e Márcio é idealizador do Museu Clube da Esquina. Márcio tem arquitetado sem pretensão a história desse movimento, ao sentir a necessidade de recolher as memórias de nomes artífices da música que brotou dessa esquina qualquer. Márcio foi peça dessa engenharia complexa. Tavito credita o brilhante legado do “movimento” Clube da Esquina/Som Imaginário ao carinho, a um tratamento humano fiel à amizade, envolto em uma solidariedade que é marca de eventos e criações contraculturais, desenho estético que parte da criação coletiva, de encontros de tribos, de turmas. Mesas de bar. É movimento pelo sentimento jovem, dado por determinados elementos guias da época, entre eles, o rock, os Beatles, e toda uma tradição pop que começava a ser digerida pela cultura tupiniquim, sempre antropofágica. Todo sentimento encontrado na família Borges, que acrescentou mais um sobrenome ao Milton, Nascimento Borges. Os elementos do que se convencionou conhecer por Tropicália foram desenvolvidos e constituem o produto cultural musical no Brasil. Fato de existência produtiva e experiência produtiva, conserva a criação laboratorial, próxima dos testes lisérgicos. Assim aconteciam as entradas do Som Imaginário em estúdio, a canção vinha sem ensaio, o improviso era o primeiro pulso, pois no final os discos de estúdio do grupo atingiram o alinhamento de canções. O primeiro pulso orientava “músicos confiantes”, em composições brilhantes. Todos buscavam um entendimento de mundo que fosse mais fácil e menos conturbado na confecção desse roteiro. Em Os Sonhos Não Envelhecem, de Márcio Borges, registra-se um documento básico para qualquer citação que envolva a leitura da música brasileira como fenômeno de destaque. Um desses responsáveis é o já distante Mynssen, que reaparece nas palavras dos componentes do Som Imaginário.
LUÍS ALVES, ROBERTINHO SILVA E ZÉ RODRIX:
UM BATE PAPO DE BAR IMAGINÁRIO
LUÍS Quando eu conheci o Wagner, ele tocava com o Paulo Moura. O Wagner me chamou pra tocar com o quarteto Paulo Moura. Éramos eu, o Pascoal Meireles, o Wagner e o Paulo Moura. Nós fomos tocar com a Maísa e depois que nós voltamos dessa temporada, nós fizemos com o Milton. Ele tinha feito o Festival da Canção e foi quando tudo começou. Foi o Wagner que nos introduziu nos mineiros.
ZÉ “Um dia nós [Zé e Tavito] estávamos na praia, era dezembro, se eu não me engano, dezembro de 1969, nós estávamos os dois deitados na praia, chega um cara chamado José Mynssen e diz assim: ‘Oh, Zé Rodrigues, era você que eu estava procurando aqui. Tavito, pô, que legal. Eu tenho que montar um conjunto para acompanhar o Milton Nascimento, eu já estou com o Teatro Opinião alugado, ele vai fazer um show no Teatro Opinião, vocês topam?’. Eu falei: “Para mim, fechado, vamos embora”. E nos juntamos. Ele falou: “Tem um cara aí que veio dos Estados Unidos, mas vai voltar e temos que aproveitar que ele está aí, que é o Laudir de Oliveira, ele está tocando e vai entrar naquela banda Chicago, e temos que aproveitar para ele ficar aqui, e o Milton mandou buscar o trio do Wagner”. ROBERTINHO “O primeiro Músico mineiro que eu conheci foi o Wagner Tiso. Foi em 1965, quando o Wagner chegou no Rio de Janeiro. Eu trabalhava numa boate do Cauby Peixoto, em Copacabana, chamada Boate Drink. E um dia apareceu um cidadão, que a gente até confundiu com o garçom novo. E era o Wagner Tiso. Aí nós ficamos muito amigos. O Wagner me ensinou muito o que era música mineira, as harmonias de Minas Gerais.” LUÍS “Aí, o José Mynsen chamou a gente, fim de 69, pra formar um grupo pra acompanhar o Milton. Ele já estava conhecido. Tinha feito sucesso com Travessia, mas ele ficou um pouco parado no tempo. Ele só fez aquele negócio e ficou meio indefinido. Aquela época era uma doideira danada, época da ditadura, uma barra. E foi o José Mynsen quem impulsionou o Milton, que já estava com aquela nova concepção de hippie, do movimento de paz e amor, essas coisas todas.
ROBERTINHO “Um dia apareceu um cidadão [José Miynssen] dizendo pra gente, num bar do Leme, que queria montar um trio, eu, o Wagner Tiso e o Luís Alves, pra tocar música instrumental e acompanhar algum cantor da bossa nova que a gente gostava. Era a música que a gente fazia. Tocava jazz e bossa nova. E esse cidadão chegou pra gente... Estavam montando uma banda pra acompanhar o Milton Nascimento. E a gente não acreditava nele. Ele falou no primeiro dia, falou no segundo, no terceiro. No quarto dia eu falei: “Wagner, acho que isso é verdade”. E foi assim que foi montado o Som Imaginário.
LUÍÍS “EoJoséMynsendeuaidéiadagentefazerumacoisamaisdescontraída,comtodomundosemcamisa,comcordão.
Aí ele nos apresentou o Tavito, que eu não conhecia. A gente não conhecia o Tavito e o Zé Rodrix, porque a gente era mais Músico de ficar tocando na boate, na noite, e o Zé Rodrix vinha de teatro, tinha uma outra concepção. Ele também tocava piano, tocava aquela ocarinazinha. Ele era muito talentoso. Foi uma fusão legal, que deu certo. Foi um som legal. Na época foi uma coisa até nova. Foi surpreendente. A gente tinha uma concepção pop, moderna, como o Gênesis.”
ZÉ “O Wagner tinha um trio de jazz, que era ele, Luiz Alves e Robertinho Silva, que tocavam no Drink, e disse: ‘Vamos juntar isso aqui e ver, quem sabe a gente faz um conjunto’. E quando juntou essas seis pessoas acabou virando o Som Imaginário, que se chamava Milton Nascimento e o Som Imaginário e esse show estreou na Sexta-feira Santa em 1970. Eu me lembro que foi um escândalo, as pessoas: ‘Meu Deus, como é que pode estrear um show no dia da Paixão de Cristo’. Em 1970 ainda tinha gente que se preocupava com essas coisas. Estreamos e o show foi um alumbramento, eu lembro de a gente ensaiar dezembro, janeiro, fevereiro, março, se eu não me engano, foi em março a Semana Santa nesse ano, mas é fácil checar depois, 1970.
ROBERTINHO “Eu, Robertinho Silva, Wagner Tiso, Luís Alves, Tavito, que era um guitarrista de Belo Horizonte, o Zé Rodrix, o Laudir de Oliveira, um percussionista, o Naná Vasconscelos também participou. E assim foi formado o Som Imaginário. A estréia foi numa Sexta-feira da Paixão, abril de 1970. Nasceu aí Milton Nascimento ah!e o Som Imaginário, que foi grande sucesso na época. Primeiro botaram uma fantasia na gente. A gente foi fantasiado de Riponga, vamos dizer assim. As irmãs dele, artistas plásticas e tal, figurinistas, tiraram a roupa da gente e colocaram uma calça colorida, colares. Arrepiaram o cabelo de todo mundo. Deixaram a gente descalço. Tinha uma coisa até engraçada na época. A gente, eu e o Luís Alves, contrabaixista, tocava com o Milton no Teatro Opinião, cuja estréia foi com esse figurino. Depois a gente ia pra boate Sucata, tocar com o Chico Buarque com um comportamento completamente diferente. Todo abotoado, sapato engraxado, calça vincada. Ai, que alívio, o pé quentinho! A CONVERSA ACIMA É UMA RECOMPOSIÇÃO DE DEPOIMENTOS SITUADOS EM HTTP://WWW.MUSEUDAPESSOA.NET/CLUBE/. A MONTAGEM NÃO ALTEROU NENHUM FATO, COMO PODE SER VISTO POR QUEM ACESSAR A PÁGINA, MUSEU VIRTUAL QUE TEM COMO METODOLOGIA DE PESQUISA A HISTÓRIA ORAL. DO SITE: “O RESULTADO DESTE REGISTRO ESTÁ DISPONIBILIZADO NAS SEÇÕES ARTISTAS E DISCOS, AMIGOS DO CLUBE E INTERNAUTAS, QUE REÚNEM AS HISTÓRIAS DOS PROTAGONISTAS DO CLUBE, DE SEUS AMIGOS E FAMILIARES, BEM COMO DE INTERNAUTAS QUE ENVIAREM SUAS MEMÓRIAS POR MEIO DESTE ENDEREÇO.”