Jornal Contramão-Especial Praça Sete de Setembro

nº15

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Ano 4-2011 Distribuição Gratuita

JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA

ESPECIAL

A Praça Sete é um lugar de personagens

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Foto da capa

CRÔNICA

Tradição nas mesas de dama

Praça das memórias Naquela época, eu não tinha ideia de quais eram os marcos de Belo horizonte. Morava no alto da Avenida Afonso Pena e meu pai trabalhava no bairro Lagoinha. Em 1985, eu tinha sete anos e depois da escola papai costumava me levar pro trabalho dele, quando mamãe não estava em casa. Naquele dia, como qualquer criança curiosa, da janela do carro eu tentava decorar o nome das ruas e a localização dos edifícios. Eu ficava fascinada com um lugar repleto de gente apressada. Pessoas vestidas com placas de “Vendo Ouro”, pessoas sentadas jogando dama, outras vestidas de palhaço e outras com apitos barulhentos segurando cartazes e bandeiras.Mas o que mais despertava atenção era um monumento, era algo que, na época, eu chamava de ‘troço’.

- Não é troço, minha filha. É o Pirulito da Praça Sete – explicava meu pai.

- Isso não se parece em nada com um pirulito. Nem é colorido...

- Isto é um monumento.

- Por que ele fica no meio da rua? Quem fez? Por que ele chama pirulito? O que é Praça Sete? Cadê o sete?

- Chama-se obelisco. O povo chama de Pirulito de brincadeira. Ele marca o centro de Belo Horizonte, aquela região onde ele está chama-se Praça Sete de Setembro.

- Mas por que tem esse nome?

- Em homenagem ao dia da Independência do Brasil.

- Não, pai, “oblisco”!

- Obelisco. Não sei. Só sei que se alguém estiver perdido na cidade é só chegar na Praça Sete, onde está o Pirulito e pronto!

Não está mais perdido! Ali é o ponto inicial e o ponto final pra muita gente.

Por alguma razão, não sabia bem qual, eu gravei aquele lugar.

O tempo passou, continuei o meu caminho, ora com meu pai ora com minha mãe na habitual Praça Sete e seu característico Pirulito. Aos poucos, ver o lugar pela janela foi perdendo o seu encanto.

Aos dez anos, com os amigos da escola, resolvi perambular pelo centro da cidade. O auge da desobediência, para quem só ficava sob as asas dos pais. Naquela época eu estudava em um colégio no bairro Prado.

Pela primeira vez livre, parei em bancas de revistas, dedilhei os gibis e as revistas adultas. Próxima à estátua de Pio XII, vi um cachorro furando a terra como quem caça um osso perdido, mas terminou mesmo por abocanhar a perna de uma senhora. Segui pela longa avenida olhando as vitrines das lojas e admirando as pessoas que passavam. Vi um prédio enorme e quadrado, onde pessoas com crachás entravam. Vi casarões, engarrafamentos e guardas de trânsito. Andei até entrar por ruas e sair no mesmo lugar e sem meus amigos. Parei diante daquela longa avenida.

Sentia alegria seguida de solidão.

Eu estava cansada, com fome e arrependida da aventura.

Com os trocados que tinha no bolso peguei um ônibus.

- Você passa naquela Praça que tem o Pirulito?

- Não, paramos no Mercado Central, mas é só você subir a Amazonas direto.

Desci no mercado. Segui em frente, cruzei Paraná e Curitiba, vi ônibus descer a São Paulo, foi quando descobri que as ruas da cidade têm nomes de tribos indígenas e de estados e cidades brasileiros. Diante desta constatação, eureca! Avistei um movimento familiar. Os apitos, o “Foto na hora, foto!” e o “Dentiiiista!”. Finalmente, eu estava na Praça Sete, onde todos encontram o caminho de casa.

Por: Adriane Assis

O conteúdo dessa crônica não expressa a opinião do Contramão

Belo Horizonte é uma cidade onde os próximos passos são decididos em um tabuleiro Foto: Marcos Oliveira Praça Sete Belo Horizonte - MG Edição: Januária Vargas

Editorial No início dos anos 1960, o jornalista Gay Talese saiu pelas ruas de Nova York à caça de pessoas, anônimos, cujas histórias pudessem perfilar esta que é a cidade síntese do mundo.

A caça de Talese resultou numa série de reportagens, dentre as quais destacamos “Nova York é uma cidade onde as coisas passam despercebidas”, que pode ser lida na antologia Fama e anonimato (em inglês Fame and obscurity).

As pessoas capturadas pelo olhar de Talese ajudam a escrever o cotidiano da cidade e sempre estiveram ali pelas ruas. Mas não estavam visíveis a olho nu para os repórteres em sua busca constante.

Nova York está a 7.400 km de distância da Praça Sete, em Belo Horizonte. Será que aqui na capital mineira existem personagens ou situações que passam despercebidas?

Nas próximas páginas apresentamos o quarteirão dos hippies; vamos conhecer as histórias das pessoas que ganham a vida gritando: “Foto na Hora, Foto!”; vamos entrar no mundo mágico dos artistas de rua e na concentração impenetrável dos jogadores de dama. Depois de ler este especial, você vai se tornar íntimo desse grande personagem chamado Praça Sete de Setembro, lembre-se de cumprimentá-lo da próxima vez que o ver.

Boa leitura!

EXPEDIENTE Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira Vice-reitor: Átila Simões Diretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar Dias Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Tatiana Carvalho Contramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.br Coordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carvalho e Cândida Lemos Revisor: Reinaldo Maximiniano Repórteres: Adriane Assis, Débora Ferreira, Marcos Oliveira, Matheus de Azevedo Diagramação:Natália Zamboni Edição:Januária Vargas e Priscila Braga Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Sempre Editora

Por volta de 1970, jogar damas na Praça Sete era um hábito que ganhava poucos adeptos e acontecia de maneira muito mal organizada. Não havia peças, espaço, regulamento, uma terra de ninguém.

Apostas que terminavam em brigas eram constantes.

Até que o marceneiro aposentado, Antônio García estabeleceu as primeiras regras do jogo e aboliu de vez as apostas em dinheiro.

Seu Garcia como era chamado também estabeleceu um método que é usado até hoje, o de arrecadar dinheiro para comprar novas peças e tabuleiros.

Primeiro, os jogadores es-

colhem onde irão jogar, todos os tabuleiros possuem números de identificação.

O dono da banca de jogos anota o número do tabuleiro e o nome dos jogadores, na maioria da vezes, veteranos, já conhecidos. A partir daí, é anotada a hora do início da partida e a hora em que termina. Cada jogador paga, hoje, R$ 1,80 por hora.

O sucesso foi certeiro. O espaço ficou disputado e, por isso, foram abertas novas clareiras nos quarteirões Krenak, Xacriabá e Machacali.

As mesas foram administradas por Seu Garcia por 35 anos, até seu falecimento. Mas a Praça Sete não

perdeu os seus tabuleiros.

Há nove anos, Seu Antônio Garcia Filho organiza o local implantado pelo pai. Aposentado, Seu Antônio chega às 10 horas e sai às 18h.

“Na época eu já estava aposentado aí meu pai dizia: - Vou lá na Praça Sete, vem comigo? - eu ia e ficava ajudando”, lembra.

Certa vez, nos anos 1980, a Prefeitura transferiu os jogadores para o Parque Municipal. Não vingou, os aposentados jogadores de dama e xadrez logo retornaram à praça.

Seu Antônio, aos 72 anos, é o “dono das damas” e carrega cerca de 10 tabuleiros e mais de 2000 pe-

ças de segunda a sexta em um carrinho. Os jogadores mais assíduos passam o dia à espera de um oponente e as mesas, raramente, estão vazias. Mas jogador que é jogador não rende muito papo com repórter, são mesmo bons de jogo.

“Tem idoso que fica três, quatro horas sentado jogando, a gente fica até preocupado por causa da idade da pessoa”, afirma.

Chega um cliente para acertar as contas, Seu Antônio ergue um livro com espiral, grande, com uma “Word-art” de um tabuleiro. É lá que ele anota o nome do cliente, quantas horas ele ficou e quanto custou o jogo. “Foi o dono de uma loja que fez”, ele conta, e aponta para a Galeria do Rock à sua frente. O mesmo lojista que manda pra ele com certa freqüência café e broa à tarde.

“Esse cara era amigo do meu pai e teve uma vez que ele foi até Paris onde um francês falou do jogo de damas na Praça 7. Meu pai nunca imaginaria onde a fama do jogo de damas iria parar, hoje acho que aqui é reconhecido em todo o país e quem sabe no mundo”, confirma Garcia Filho.

Por: Débora Ferreira e Marcos Oliveira

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Belo Horizonte é uma cidade onde Foto|

é possível escrever seu nome em um arroz

“Foto na hora, foto!”

Cada um a seu modo, os ambulantes anunciam “foto”, “ouro”, “salão”, etc, todos os dias, na Praça Sete

Com os olhos na multidão de anônimos que cruzam a Praça Sete por todos os lados, Aparecida Silva Assunção, 54 anos, ergue a voz para dizer “Foto na hora!”. Ela está ali há apenas dois meses. Dona Aparecida trabalhava, como ela diz, “no ouro”, mas há uma semana foi, no dizer dela, “mexer com foto” “Lá pagava melhor, a gente ganhava por semana. Aqui eles pagam por dia”.

Dona Aparecida tem duas filhas “já criadas e casadas”.

“Eu moro com uma delas (a mais nova), e trabalho aqui para ajudar a pagar as despesas da casa.”

As pessoas que trabalham vendendo ouro não têm a obrigação de gritar, como os dos estúdios fotográficos. Eles usam coletes grandes e chamativos, amarelos ou verdes-limão. Dispersos pela Praça

Sete, alguns se arriscam a entoar: “Compro e vendo ouro!”, em um longo intervalo.

Em companhia de duas conhecidas, Dona Aparecida aproveita para conversar, descansar um pouco. Dona Dalva e Dona Silvani se conheceram na rotina e correria do dia-a-dia. Trabalham no mesmo local, dividem um mesmo espaço e estão ali para cumprir responsabilidades de chefes de família.

Dalva Silva de Oliveira, 51 anos, apoia-se num hidrante e reveza o lugar com sua conhecida Silvani Pereira da Silva, 33 anos, que trabalha para o salão de cabeleireiros, há menos de um mês. As duas também conhecem Dona Aparecida. Dona Dalva está na Praça, há dois anos, e sustenta duas filhas, uma de 11 e outra de 21 anos.

- E você quer continuar

trabalhando aqui, Dona Dalva? – eu pergunto.

- Não, eu queria arrumar um emprego fixo, de carteira assinada”, ela responde esperançosa.

Já Dona Silvani é, como ela se define “pãe”, ou seja, pai e mãe de dois filhos. Por R$20,00 ao dia, mais comissão, ela fica de segunda a sábado, com um “rabo de cavalo” na mão, angariando clientes para o salão que fica no segundo no prédio da pizzaria Só Pedaço. No salão, faz-se perucas, apliques, escova progressiva, compra-se cabelo,etc. Dona Silvani, antes de chegar ali, trabalhava como empregada doméstica. “Gostar eu não gosto de ficar aqui. Mas eu preciso né?”, fala em tom de conformada. Silvani só pensa em deixar esse “bico” se arrumar “um emprego bom, que pague bem”.

Foto: Marcos Oliveira

No quarteirão Krenak os vendedores uniformizados ganham a vida no grito: - Foto na hora, foto!

- Salãão!

- Compro e vendo ouro!

- Dentista! Dentista! Orçamento sem compromisso!

Durante a semana, em horários de pico, o local fica tão lotado que alguns chegam a atravessar as ruas e migrar para outros quarteirões. No caso das fotos instantâneas, os vendedores vestem camisas de cores diferentes, com estampas diversas, para diferenciar as lojas. Ganha quem grita mais alto. Muitos são jovens em busca de uma grana extra, mas há, ainda, mães que precisam complementar a renda, pois cumprem também a função de pai e pessoas maduras que “tiram uma ajuda” para os filhos já criados.

Por : Débora Ferreira

No quarteirão Xacriabá os hippies anunciam seus artesanatos e exibem o estilo de vida paz e amor – Ei moça, quer um pingente com seu nome? Eu escrevo seu nome no arroz.

– Ô irmão, chega aí!

Vamo ver uma pulseirinha na minha mão?

– Vai aí ó... um anelzinho de coco, uns colares, meu amigo?

Esta é a fala que todos os dias, durante seis horas, que Gil Mello entoa no quarteirão Xacriabá, na Praça Sete. Gil é o nosso guia nessa incursão ao mundo dos novos hippies.

O movimento hippie surgiu no rabo do cometa psicodélico da década de 60 ou para os mais incautos na época de Cristo numa comunidade dos apóstolos, vai saber?

Os anos passaram e os cabeludos, “papo de maconha” perderam espaço

para consumidores obesos de Mcdonalds, playboys-nikezados e mulheres-frutas. Mas parte da filosofia e estética ainda sobrevive nos guetos improvisados da cidade.

No final da década de 1970, o movimento hippie chegou definitivamente ao Brasil, enquanto no EUA já viviam uma fase decadente de bad trip. Artistas como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e toda a patota tropicalista aportaram no país com cores, luzes e som vindos dos States.

– Meu, esse papo de que nós somos hippies é puro estereótipo do sistema, conta Gil, o da Praça Sete.

Mesmo com discurso esquerdista, os novos-hippies de hoje preferem lutar

por um cafezinho na esquina do que lutar pelas mudanças sociais.

Entre um brinco feito com arame e outro, a vida passa feito fumaça para os novos-hippies. Na Praça Sete, cerca de 20 neo-hippies, fequentam o local.

Segundo Gil a maioria não tem casa e dorme ali mesmo, ou na Praça da Boa Viagem. Gil Mello dorme enrolado em um colchão, mas segundo ele, tem família e dois filhos que moram no Bairro Terezinha, região da Pampulha.

Todos os dias, inclusive domingo e feriado, um jato d’água de um caminhão pipa é jogado na bancada de pedra em frente ao Banco Mercantil do Brasil. Normalmente, esse é o local escolhido pelos neo-hippies

para expor o seu artesanato.

Gil Mello impediu que nossa reportagem tirasse fotos, nada que uma vista aérea não resolvesse (é eu sei essa é umas das artimanhas muito usadas pelo sistema).

Mesmo assim o neo-hippie caminha carregando seu conjunto de brincos de casca de árvore, pulseiras de feitas em macrame*, anéis de côco e uma dose de esperança e cachaça guardada na mochila.

*O Macramé é uma técnica de tecer fios que não utiliza nenhum tipo de maquinaria ou ferramenta Por: Marcos Oliveira

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A Praça e seus

pontos cardeais Fotos: Marcos Oliveira

Nomes, números, datas e marcos que compõem o epicentro de BH

Belo Horizonte tem 2.375.444 habitantes, desses, cerca de sete mil passam diariamente pela Praça Sete, segundo o Censo de 2010. De segunda a segunda, essas pessoas jogam três toneladas de lixo no chão, outras três toneladas de resíduos são provenientes das residências e dos estabelecimentos comerciais da região e são coletados pelos caminhões da SLU, no período noturno.

Segundo a prefeitura a segurança da Praça Sete sempre está garantida, vinte policiais fazem as rondas nos quarteirões, sendo que, de dois a cinco

desses agentes estão em cada um destes quarteirões. Para a limpeza da praça é necessário a presença de garis no local durante o período da manhã, da tarde e da noite. A praça é lavada dia sim e dia não, por volta das 16 horas, além dos domingos (em decorrência da Feira Hippie) e dos feriados.

Para essa limpeza a SLU usa água e sabão neutro, mas não informa o quanto de cada produto é gasto.

A Praça é a área e que convergem veículos e gente das mais diferentes procedências, vindas dos quatro cantos da cidade. Uma rosa dos ventos no coração de Belo Horizonte.

Como tudo começou...

Na planta do projeto de Belo Horizonte elaborado por Aarão Reis no final do século XIX, o traçado da cidade foi feito a partir de uma cruz formada por duas grandes vias que se cortam perpendicularmente formando um asterisco imaginário. O ponto de intersecção, onde haveria uma praça, marcaria o

centro da capital.

O nome originalmente escolhido para o local foi Praça Doze de Outubro, em homenagem ao dia 12 de outubro de 1492, data em que Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, momento histórico considerado o marco da descoberta da América. Em 1922, seu nome foi alterado para Praça Sete de Setembro, nas comemorações do centenário da Independência do Brasil.

A pedra fundamental do “Pirulito”, como é chamado obelisco idealizado partir do monumento existente em Washington, foi lançado em 1922 e construído na cidade mineira de Betim, mas só foi inaugurado na Praça em 7 de setembro de 1924.

Uma nova praça Em 1989, a Prefeitura de Belo Horizonte lançou, em parceria com a BHTrans, o concurso “BH Centro – Concurso Nacional para reestruturação do centro de Belo Horizonte” cujo objetivo era implantar intervenções arquitetônicas para melhorar a qualidade de vida da população. O resultado do concurso, divulgado um ano depois, premiou com o primeiro lugar três equipes de arquitetos, sendo uma de São Paulo e duas de Belo Horizonte que deveriam apresentar um pré-

-projeto unificado, adequado às solicitações da Prefeitura.

Divididos em trechos nomeados por A, B, C e D, que posteriormente foram batizados com nomes de tribos indígenas brasileiras, as empresas de arquitetura montaram quatro grupos, ficando cada um responsável pela execução do projeto de um quarteirão.

O trecho A, conhecido hoje como Xacriabá, foi projetado pela equipe de Gustavo Penna, que procurou traduzir três ambientes de convivência; um anfiteatro, um largo central e uma tribuna, representando o tradicional espaço para manifestações, jogos de dama e os happy hours dos freqüentadores mais jovens. Como peças arquitetônicas foram construídas uma espécie de palanque, traduzindo o lado cívico e político da Praça, obedecendo à topografia da rua (mais alto no início e menor no fim), vigas de iluminação e assentos feitos de pedra sob coberta de vidro. Hoje, o quarteirão escuta as principais reclamações dos ativistas políticos, além de dividir seu espaço com neo-hippies, pastores que pregam o Apocalipse e pequenos comerciantes.

Projetado pela equipe formada por Éolo Maia, Jô Vasconcelos e Flávio Grillo o trecho B, atual Pataxó, local onde

o fluxo de pedestres apressados é maior, aparece com mobiliário urbano de poucos assentos, banca de revistas, caixas de correios e telefones públicos. Como peça arquitetônica, um feixe de ligas metálicas de iluminação sobrepostas; indica referência ao centro da Praça, onde está localizado o Pirulito. No quarteirão, diariamente, são feitos pequenos negócios (lícitos ou não) e apresentações de artistas de rua que querem ganhar a vida honestamente. Este quarteirão abriga, ainda, o prédio art déco do Cine Brasil, antigo cinema de rua de Belo Horizonte inaugurado em 1932 e que fechou as portas em 1999.

O projeto de reforma do prédio estava previsto para ser concluído e aberto ao público em 2010.

Chamado, atualmente, de Krenak, o quarteirão do trecho C, projetado pela equipe de Álvaro Veveco Hardy e Mariza Coelho, teve sua criação baseada em uma sala de estar, servindo de local de descanso para os vendedores, artesãos e transeuntes. O projeto que mantém a mesma linha topográfica do local tem construído uma longa arquibancada, protegida e sustentada por uma cobertura metálica de iluminação. Os artesãos foram embora por causa das novas leis de ocupação da cidade desenvolvidas pela prefeitura. O antigo posto Psiu, no casarão central do quarteirão virou Posto Uai, mas a prestação de serviços a população continuou. Lá você pode tirar carteira de trabalho, carteira de identidade, atesta-

do de bons antecedentes e fotos na hora, mantra entoado exaustivamente por profissionais autônomos que trabalham na área. O quarteirão também é ocupado pelos jogadores de dama e xadrez, que se dividem por mais dois quarteirões da praça.

O trecho D, atual Machacali, é considerado o ‘quarteirão vazio’, pois respeita as delimitações do local que faz frente com prédios comerciais e um hotel. O projeto feito pela equipe de João Diniz, Graça Moura e Márcia Moreira tem como destaque sete peças luminárias segmentadas por assentos e terminando com uma coberta de aço em formato de meia lua. No quarteirão está situado os prédios mais antigos da praça e, também, a Praça 7 Calçados um dos mais antigos comércios da região, o lugar é ponto de encontro e de bate-papo de senhores, surdos e os pedestres afins. O lugar ainda serve de púlpito para pastores que pregam o fim do mundo e de palco para um pequeno grupo de músicos que tocam gaita peruana. Nesse quarteirão estão quadros com fotos que contam a história da Praça Sete.

Todo o material utilizado para a ambientação dos quatro quarteirões, como aço, metal e pedras, reflete as características das riquezas do Estado de Minas Gerais bem como sua geografia, os recursos naturais, o campo siderúrgico e industrial.

No ano de 1999, os projetos foram executados a partir do “Programa Centro Vivo”.

Os quarteirões ganharam nova vegetação, sinalização e iluminação, aumentando a sensação de amplitude, segurança e bem estar, além de obras arquitetônicas.

De acordo com a Coordenação de Mobilidade Urbana da Prefeitura, as obras beneficiaram cerca de 10 mil pedestres que passam, diariamente, pelo local e melhoraram o sistema de tráfego de veículos, limitado às duas principais vias (Avenida Afonso Pena e Amazonas), onde o fluxo é maior.

O movimento da vida na

Praça Sete começa e termina com o Sol que orienta o norte de cada cidadão que cruza as suas ruas e quarteirões. Muitos seguem em direção ao trabalho, outros em direção à casa, há quem more e trabalhe por ali mesmo. Do alto, o que se vê é uma multidão de anônimos cujo destino não sabemos, mas que por alguma razão passam pelo mesmo lugar.

Por: Adriane Assis, Marcos Oliveira e Matheus de Azevedo

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Belo Horizonte é uma cidade onde as pessoas sobrevivem por mágica

Mágicos encantam e distraem transeuntes que circulam por quarteirão fechado da Praça Sete

Mágico Vicente

Ele não usa smoking, nem capa, nem lenço para seus truques rápidos, muito menos cartola de onde seria possível tirar um coelho ou uma pomba. Seu palco não é em um cassino super iluminado de Las Vegas e ele não tem uma assistente gostosona para animar a platéia. Seu palco é o quarteirão entre as ruas Carijós e Espírito Santo, na Praça Sete.

Mesmo assim, Vicente Nunes, 38, dá seu show no quarteirão Pataxó, oito horas por dia. “Mágica não meu senhor, aqui é truque mesmo”. Dessa maneira honesta, Vicente explica aos espectadores passageiros, a arte do negocio. “É quem quiser aprender uns truque comigo é só chegar no meu escritório”, aponta para uma árvore ao lado do seu “palco” onde os truques são repassados a quem se interessar.

Vicente Nunes tinha nove anos quando saiu de Iguatu, interior do Ceará e foi para São Paulo atrás de novas oportunidades. Mas nem tudo era um passe de mágica na cidade grande.

Aos 11, começou a trabalhar como ajudante em uma loja de mágica, onde aprendeu todos os truques, que mais tarde ensinaria por R$ 10,00 em qualquer Praça do Brasil, “Eu ensino meus truque, mas se a pessoa não aprende, aí eu devolvo o dinheiro.

Mas é tudo uma questão de prática, a pessoa vem cá... aprende o truque , depois vai treina um pouquinho... e vira quase mágico”.

De segunda a sexta, se você passar pelo quarteirão fechado da Rua Carijós, entre a Praça Sete e a Rua Espírito Santo, você encontra uma roda de em média dez pessoas, na maioria homens, olhando intrigadas, as mágicas de Vicente Nunes. Vicente não tem nome artístico, mas tem uma pochete, item indispensável aos mágicos-de-praça em todo país. Nela estão a maior parte dos segredos dos truques, além do suado e nada mágico dinheirinho. A pochete é a cartola dos mágicos de rua.

“Fico olhando a mágica dos outro, mas gosto mesmo é dos meus truque, com eles que eu ganho meu ganha-pão”, explica o mágico. “Ô Nem, sua vez aqui ó”, desse modo Vicente interrompe sua mágica após o grand finale e dirige para seu escritório para esperar o próximo a aprender o úl-

timo truque, dando lugar ao seu companheiro de calçada.

Nem, mais conhecido como Mister Charles, mora em Contagem, e também tem uma pochete. De maneira sorridente e com brincadeiras, a roda de pessoas aumenta chegando de 12 a 15 espectadores. “Ô gente vamos chegando mais perto aqui, porque eu gosto de roda cheia e fechadinha. Se o senhor não quiser ficar pode ir embora, porque eu já sou patrocinado por Deus”.Mister Charles tira em media 200 reais por dia, “Ah isso depende do dia, tem dia que é 50, tem dia que é 100”, conta.

Mister Charles pede a platéia um pedaço de papel, curiosos, alguém doa um pedaço de jornal. O pedacinho de papel, depois de palavras mágicas como: “Abracadabra pé de cabra, se não tive jeito noís aperta que passa” ou “Água mansa, quando cai na pança, qualquer coisa balança na égua que cansa” Pluft!!! Transforma-se em

uma “onça” (nota de R$ 50).

A platéia ri...

“Ai, eu quero aprende essa mágica para pagar as conta lá de casa” diz alguém da platéia. “Agora me devolve esse papel aí” cobra umas das poucas moças que param para assistir. “Não minha filha agora esse papel é do papai aqui”, diz Mister Charles, enquanto coloca a onça na sua pochete.

Outra peça indumentária que não pode faltar ao mágicos-de-praça é o lenço.

O lenço além de peça clássica das mágicas, ainda serve como suporte aos outros acessórios para a mágica: uma moeda, um porta moeda, cartas de baralho (dois tipos diferentes, um mágico e especial e o outro apenas mágico), um DVD (“Aprenda 25 mágicas”), um copo lagoinha, uma garrafa de água e um copinho com água. O copinho com água serve para... (para saber desse segredo você precisa marcar hora no escritório do Por: Marcos Oliveira

Mister Charles em momento de pura inspiração